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Revisão: Ricardo Henrique Pucinelli

1ª edição
Publicação digitalizada (2022)

Todos os direitos reservados.

A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos
direitos autorais (Lei nº 9.610).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


ESCAS/IPÊ

F664i Folharini, Saulo de Oliveira.


Introdução a Mercados de Carbono / Saulo de Oliveira Folharini -- São
Paulo, 2022.
e-pub (50 p.) : il. color.

ISBN
Link: https:// escas.instructure.com/login/canvas

1. Mercado de carbono. 2. Conceito de REDD+. 3. Conceito de AR. I.


Pucinelli, Ricardo Henrique. II. ESCAS/IPÊ. III. Título.

CDD 363.7

© ESCAS/IPÊ, 2022

Índices para catálogos sistemáticos:


1. Mercado de carbono 363.7
2. Conceito de REDD+ 363.7
Sumário
Introdução a mercados de carbono 4
1.1 Mudança climática e o setor privado 4
1.2 Histórico do mercado de carbono 9
1.3 Mercados regulados e voluntários 10
1.4 Tipo de projetos de carbono e suas qualidades 12
1.5 Referências Bibliográficas 15

Introdução ao conceito de REDD+ e AR 16


2.1 Padrões de certificação e metodologias 17
2.2 Linha de base 20
2.3 Regras de aplicabilidade 21
2.4 Adicionalidade 22
2.5 Consulta de stakeholders 22
2.6 Referências Bibliográficas 24

Métodos de Restauração 25
3.1 Métodos de restauração florestal e sua relação com carbono 25
3.2 Serviços ecossistêmicos das florestas 28
3.3 Referências Bibliográficas 33

Mensuração de Carbono 34
4.1 Métodos de mensuração de diferentes certificações 34
4.2 Inventário Florestal 35
4.3 Carbono no solo 36
4.4 Sensoriamento remoto para a mensuração de carbono 39
4.5 Exemplos de projetos 43
4.6 Referências Bibliográficas 44

Precificação e Mercado de carbono 45


5.1 Oferta e demanda de créditos 45
5.2 Plataforma de registro de créditos e entrega/aposentadoria 46
5.3 Evolução dos preços 47
5.4 Tendências de novos mercados de carbono 49
5.5 Referências Bibliográficas 50
Introdução a mercados de carbono
Serão abordados conceitos gerais que levaram à imprescindível discussão de mercados de car-
bono. Por exemplo: mudanças climáticas, ação antrópica na biodiversidade e suas consequências,
estrutura de um mercado e como a biodiversidade se insere em uma estrutura de mercado.
No âmbito da política dos mercados de carbono se insere a classificação de mercados regu-
lados, onde regras são estabelecidas por governos nacionais, estaduais, regionais e os mercados
voluntários onde empresas e indivíduos, de maneira voluntária, podem comercializar créditos de
carbono. Um Projeto de Créditos de Carbono pode ser estruturado com diferentes metodologias
para serem aprovados em mercados regulares (MDL) ou como voluntário (REDD).

1.1 Mudança climática e o setor privado


As mudanças climáticas são objeto de estudo de todas as áreas do conhecimento que investi-
gam causas, consequências e adaptações necessárias a este processo em curso no nosso planeta.
O principal ponto é a variação da temperatura, discussão que considera a influencia da ação
antrópica (ação do ser humano) no processo de aquecimento do planeta.
Há consenso científico no que tange a influência da atividade humana no aquecimento do pla-
neta.
Processo esse que tem início a partir da Primeira Revolução Industrial (figura 1) com o aumento
do consumo dos recursos naturais.
Neste contexto, a ação antrópica se insere como um novo elemento com grande capacidade de
alterar as condições ambientais, causando as mudanças climáticas de origem antropogénica.

Figura 1: Avanço da Primeira Revolução Industrial pela Europa no século XIX.


Fonte: https://cdn.britannica.com/90/198190-050-97332EE2/map-spread-Industrial-Revolution-Europe.jpg

4
Segundo o livro A terra transformada, escrito por Ruddiman (2015), a composição química da
atmosfera, mantida na ordem de 78,084% de nitrogênio, 20,947% de oxigênio, 0,934% de argônio,
0,038% de gás carbônico e outros gases com pequena proporção, se altera com a queima de com-
bustíveis fósseis resultantes do processo de industrialização que adiciona CO2 (dióxido de carbono)
e outros gases que potencializaram o processo de aquecimento do planeta.
Os efeitos e consequências das alterações sazonais do clima já são suficientes para causar de-
sequilíbrio no sistema natural, desencadeando diferentes processos geomorfológicos, geológicos,
hidrológicos e ecológicos que alteram a dinâmica natural da paisagem.
O CO2 retém o calor da radiação solar na atmosfera, acelerando o aumento da temperatura do
planeta. A presença do CO2 na atmosfera é decorrente, principalmente da queima de combustíveis
fósseis e das mudanças no uso da terra. São três, os principais reservatórios de carbono na Terra:

Atmosfera armazena o carbono inorgânico em gás (aproximadamente 600


1
bilhões de ton. de CO2),

Vegetação armazena o carbono orgânico (aproximadamente 610 bilhões


2
de ton. de CO2),

Dissolvidos nas camadas superiores dos oceanos, em sua maior parte


3
inorgânico (1.000 bilhões de ton. de CO2).

A troca de CO2 na superfície ocorre por dois processos principais: a fotossíntese, que converte
carbono inorgânico em orgânico e a oxidação que converte carbono orgânico em inorgânico.
Além destes três reservatórios, há outros dois, com pequena participação no ciclo de CO2 na
superfície:

Os solos continentais que armazenam, aproximadamente, 1.550 bilhões


1
de ton. de CO2 de carbono orgânico,

O oceano profundo que armazena, aproximadamente, 38.000 bilhões de


2
ton. de CO2.

O CO2 tem papel importante no efeito estufa natural e sua manutenção na atmosfera é mais
prolongada que o CH4 (metano), garantindo assim, a maior influência do CO2 nas mudanças climá-
ticas.
O CH4 também retém a radiação solar emitida pela superfície terrestre. Entretanto, sua maior
concentração ocorre em terras úmidas, sendo que sua concentração nos últimos 15.000 anos man-
teve uma tendência de aumento.
A concentração dos Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera em períodos glaciais diminuiu,
mas no atual período interglacial, últimos 5.000 anos aumentou. Esse aumento tem origem de fon-
tes não naturais e mantém o padrão oposto observado em períodos interglaciais anteriores.

5
Em períodos glaciais ou eventos climáticos frios a concentração diminuiu. Mas no período inter-
glacial atual, nos últimos 5.000 anos houve aumento das concentrações, originadas por fontes não
naturais e mantendo padrão oposto ao observado em períodos interglaciais anteriores (figura 2).

Figura 2: Influência humana no clima.


Fonte: 6º relatório IPCC, disponível em: https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg1/figures/summary-for-policymakers.

O sol é a principal fonte de calor que mantem o processo de aquecimento e resfriamento da


Terra e o aumento da concentração de CO2 se relaciona a este ciclo. Os raios solares são refletidos
(radiação) pela superfície em comprimentos de onda do infravermelho e interagem com a atmosfera
terrestre, onde parte é absorvido aumentando a temperatura do planeta e parte volta ao espaço. O
processo de aquecimento então é proporcionado pelo aumento da concentração de GEE provenien-
tes das atividades humanas que absorvem esse calor refletido pela terra.
Duas características do CO2 definem o seu maior impacto nas mudanças climáticas: sua manu-
tenção na atmosfera é mais prolongada que o CH4 (metano) e o CO2 tem importante papel no efeito
estufa natural.
O vapor d‘água é outro elemento que ajuda a regular a temperatura do planeta e sua existência
na atmosfera independe da ação humana, apenas da manutenção do ciclo natural da água. Ele tem
relação direta com a temperatura, quanto maior esta, maior a concentração de vapor.
Na figura 3 são apresentados os principais Gases do Efeito Estufa (GEE) e sua contribuição para
o aquecimento do planeta.

6
Figura 3: GEE.
Fonte: 6º relatório IPCC, disponível em: https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg1/figures/summary-for-policymakers.

A temperatura irá aumentar tanto pela atuação dos GEE quanto do vapor d’água. O que dife-
rencia a atuação do vapor d‘água dos GEE é sua distribuição que acontece predominantemente
próximo ao solo em uma escala de atuação local e regional. O CO2 tem a capacidade de se distribuir
uniformemente na atmosfera com influência global, sendo então o principal elemento que interfere
no fluxo da radiação solar.
O debate sobre as mudanças climáticas envolve questões económicas e políticas, para tanto,
diferentes encontros multilaterais já se realizaram para debater a questão das mudanças climáticas.
Entre esses acordos o Protocolo de Quioto estabeleceu metas rígidas de diminuição das emissões
de GEE até 2020, principalmente, para países desenvolvidos.
Com o argumento de grandes prejuízos econômicos possíveis com a assinatura do protocolo,
EUA o maior emissor de GEE na época, não ratificou o tratado. Na década de 2000 a China se fixa
como nova potência econômica e também o país com maior emissão de GEE, o que traz a necessi-
dade de novos acordos para redução das emissões.

7
Como as mudanças climáticas estão diretamente relacionadas a atividades econômicas, o setor
privado deve participar tanto da elaboração de políticas, quanto se comprometer com a redução
dos GEE.
Para estabilizar as concentrações de GEE foram estabelecidas metas na Convenção-Quatro da
UNFCCC (United Nations Framework Convention on Climate Change) tratado aprovado na Conferência
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) (figura 4).

Figura 4: Rio 92 – reunião onde foi aprovada a Convenção-Qua-


tro da UNFCCC.

Nesse tratado foi definido o conceito de responsabilidade comum, mas diferenciada. Todos os
países, que assinaram o tratado, tem responsabilidade sobre as mudanças climáticas, entretanto,
essa responsabilidade se diferencia entre países de acordo com características econômicas, sociais,
ambientais e medidas para minimizar as emissões de GEE. Ainda nesse tratado foi definido que o
conceito de mudanças climáticas pode ser atribuído à ação antrópica direta ou indireta que modifi-
cam a composição da atmosfera e a variabilidade climática no tempo.
Com o lançamento do Quarto Relatório de Avaliação do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate
Change) em 2007, o tema mudanças climáticas recebe grande publicidade. Neste relatório o IPCC
defini mudanças climáticas como qualquer alteração no clima atmosférico, seja, por variabilidade
natural ou por ação antrópica.
No Brasil a Política Nacional sobre Mudanças Climáticas (PNMC, Lei 12.187/2009) tem entre seus
objetivos integrar o setor público, setor privado, academia e sociedade civil organizada no desenvol-
vimento de políticas e ações de combate as mudanças climáticas.
Ainda na PNMC (art. 8º) fica definido o acesso do setor privado a linhas de crédito e financia-
mento para desenvolver ações de mitigação às mudanças climáticas, “no âmbito de suas ações e
responsabilidades sociais”.
A PNMC estabelece obrigações ao setor privado que podem se tornar diferenciais competitivos
no mercado e não apenas novos custos. De outro modo, é fundamental que os países estabeleçam
regras com prazos para adaptação do setor produtivo, além de fomentar também por leis, os inves-
timentos em tecnologias inovadoras que auxiliem na mitigação e adaptação às mudanças climá-
ticas.
Os investimentos serão benéficos tanto para o setor privado quanto para a sociedade, assim o
setor privado dará sua contribuição para a minimização dos efeitos das mudanças climáticas.
Há duas abordagens possíveis para minimizar os efeitos da ação antrópica no ambiente: reduzir
as emissões de GEE, desacelerando as tendências de aquecimento global e/ou adaptação dos sis-
temas naturais e humanos, diminuindo os danos causados pela ação antrópica. Para tal adaptação,
é fundamental identificar benefícios provindos da natureza que atualmente não são utilizados pela
Humanidade, mas que seu consumo mantenha a sinergia entre os sistemas natural e humano.

8
1.2 Histórico do mercado de carbono
O Protocolo de Quioto em 1997, propôs o instrumento MDL, que entrou em vigor a partir de
2005. É um instrumento de mercado para auxiliar os países signatários a reduzirem suas emissões
de GEE. Esse mecanismo permite a participação de países em desenvolvimento (não Anexo I)5 HH
no mercado regulado de carbono com normas estabelecidas pela ONU. Os países do Anexo I são os
países que ratificaram o acordo e tem obrigações na diminuição de suas emissões.
Os projetos de MDL podem se basear em fontes alternativas e renováveis de energia ou reflo-
restamento. O país onde será implementado o projeto, através de sua Autoridade Nacional Desig-
nada (AND) e o governo que comprará os créditos de carbono gerados devem validar o projeto. A
metodologia adotada em cada projeto deve ser aprovada e validada por Entidades Operacionais De-
signadas (EODs). A AND no Brasil é a política sobre Mudança do Clima e Crescimento Verde (CIMV),
criada pelo decreto nº 10.845, de 25 de outubro de 2021.
O Conselho Executivo (CE) do MDL define os seguintes setores, onde os projetos podem ser de-
senvolvidos: energia que contempla a geração, distribuição e projetos de eficiência e conservação,
indústrias químicas e de produção, transportes, construção, mineração, emissões de gases fugitivos,
gestão e tratamento de resíduos, agricultura, reflorestamento e florestamento.
O acordo mais recente na busca que atualizou as obrigações de redução de emissões de GEE
com objetivo de combater as mudanças climáticas foi a 21a Conferência das Partes da Convenção –
Quadro das Nações Unidades sobre a Mudança do Clima (COP-21, Paris), a qual o Brasil é signatário.
A conferência reuniu 196 países que propuseram medidas paraw diminuir as emissões e a descar-
bonização da economia, desde países, 190 apresentaram metas para limitar as emissões até 2025
e/ou 2030.
Mais recente, o acordo de Glasgow (COP-26), em 2021, propôs que a sociedade civil estabeleça
um plano de ações para limitar as emissões de GEE, visto que as ações por parte dos governos estão
falhando ou estão muito abaixo das medidas necessárias para limitar o aumento da temperatura
em 1,5 ºC até 2100. Desta maneira, as ações por parte da sociedade civil, estabelecendo projetos de
diminuição das emissões GEE e metodologias para sua adoção, são fundamentais para combater as
mudanças climáticas.
A preservação das florestais tropicais e áreas úmidas é um mecanismo adotado pelos países
desenvolvidos para financiar a preservação de ecossistemas e mudanças climáticas, sem limitar seu
desenvolvimento industrial. Esse tipo de ação preserva ecossistemas longe da área core de poluição,
o que não altera o cenário de contínua degradação e desequilíbrio ecológico em países poluidores.
Os países em desenvolvimento ainda possuem grandes áreas preservadas de florestas tropicais
e outros ecossistemas com grande capacidade de estocar carbono. A América Latina, neste contex-
to, se coloca em posição de destaque com grande capacidade de contribuir com a diminuição de
emissões de GEE do planeta devido a sua grande área de floresta tropical (Figura 5), especialmente
o Brasil com a Amazônia.

5 Países “não Anexo I” é um termo utilizado para se referir aqueles países que não possuem metas de limitação ou redu-
ção de emissões de GEE estabelecidas no Protocolo de Quioto, já os países “Anexo I”, são os países que possuem metas
de limitação ou redução de emissões de GEE.

9
Figura 5: Área de desmatamento. Fonte - https://www.flickr.com/photos/125816678@N05/30372666222

Por outro lado, países em desenvolvimento como o Brasil contribuem com emissões de GEE
através das mudanças no uso e cobertura a terra, que correspondem à aproximadamente 46% das
emissões do país. Tal aspecto se relaciona a derrubada de florestas, principalmente para a expan-
são de atividades agropecuárias e exploração mineral. A expansão do desmatamento na Amazônia
contribui com a emissão de grande quantidade de carbono que estava aprisionado na vegetação. O
processo de grilagem, etapa seguinte ao desmatamento, contribui para a legalização daquela terra
que posteriormente pode ser negociada e se transforma em área agrícola. As consequências do
desmatamento, além do aumento das emissões de carbono está no aumento de processos erosivos
que resultam em aumento de assoreamento de rios, queda na fertilidade dos solos, fatores que di-
minuem drasticamente a biodiversidade.

1.3 Mercados regulados e voluntários


São três pontos do Protocolo de Quioto que fomentaram o surgimento do mercado de carbono
regulado: implementação conjunta, comércio de emissões – restritos aos países desenvolvidos - e o
MDL – que inclui os países em desenvolvimento, possibilitando a inserção destes no mercado mun-
dial de carbono.
Os países em desenvolvimento passam a receber créditos25de carbono dos países desenvol-
vidos através de transações com objetivo de preservar, principalmente áreas de floresta tropical,
importantes sumidouros de carbono.

2 crédito é igual a uma tonelada dwe CO2.


10
Entretanto, o mercado de carbono tem apresentado grande instabilidade de preço ao longo do
tempo, um dos motivos é que seu preço ter relação com a cotação do barril de petróleo, com grande
variação ao longo do tempo e também pelos efeitos da crise econômica de 2008.
Nos mercados de carbono ocorrem transações onde são negociados volumes de redução de
emissões de GEE. Esses mercados podem ser voluntários, com a atuação da sociedade civil ou incen-
tivados por políticas públicas.
Os mercados são divididos em dois tipos principais: cap-and-trade com comércio de licenças
para emissão e o MDL com projetos de redução de emissões. Ambos utilizam ferramentas econô-
micas para reduzir ou eliminar as emissões, com objetivo de combater as mudanças climáticas. O
mercado tem estrutura diferente das políticas fiscais, instituídas por governos para regular as emis-
sões de GEE.
O contraponto na implementação dos mercados de carbono são as variações do próprio merca-
do. Ao definir um valor financeiro ao carbono ou água, por exemplo, a partir do momento que estes
deixam de ser lucrativos, o mercado tende a não mais se interessar. Entretanto, o recurso natural e o
ecossistema que ele faz parte continuam tendo importância na regulação climática, no fornecimento
de água para abastecimento da população, na manutenção da biodiversidade e dos ciclos naturais,
sendo fundamental a continuidade de sua preservação.
Um mecanismo, além do mercado de carbono, são os tributos que podem captar recursos e
distribuir à população, por exemplo, através de incentivos fiscais, instituindo desta forma medidas
que buscam o bem-estar da população que necessita daquele ecossistema equilibrado.
Alguns países são instituíram mecanismos de arrecadação com fins de preservação ambiental.
Por exemplo, os EUA mantem fundos públicos constituídos por receita de impostos, geralmente
indiretos, como combustíveis e gases poluentes.
Outros países, como Dinamarca, Holanda, Alemanha, Finlândia e Grã-Bretanha mantem taxas
para gasolina com e sem chumbo, e diferenciação de preço dos automóveis de acordo com o poten-
cial de poluição do ar.
Tais medidas são previstas na Política Nacional sobre Mudanças Climáticas do Brasil, no seu
art. 6º “... medidas fiscais e tributárias destinadas a estimular a redução das emissões e remoção de
gases do efeito estufa, incluindo alíquotas diferencias, isenções, compensações e incentivos...”
Para a instituição de políticas de distribuição de recursos, são utilizados indicadores definidos
em legislações específicas de cada estado para distribuir recursos. Uma possibilidade já implemen-
tada em alguns estados é a utilização de parte dos repasses do ICMS aos municípios, que tem base
jurídica no inciso II, parágrafo único do artigo 158 da Constituição Federal.
Alguns estados que já utilizam o ICMS como forma de repasse são: Amapá, Pará, Acre, Rondô-
nia, Tocantins, Piauí, Ceará, Pernambuco, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São
Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul.

11
1.4 Tipo de projetos de carbono e suas qualidades
Os projetos de carbono voluntário (MDL) são divididos em diferentes categorias:

1 Agricultura: são projetos que envolvem a gestão sustentável da terra agrícola, gestão das
pastagens e a redução de emissões de GEE provenientes do uso de fertilizantes e do metano
proveniente da criação de gado. Por exemplo com projetos de metano (Figura 6) evitado re-
sultante de compostagem de esterco suíno;

Figura 6: Fonte: https://www.flickr.com/photos/red_fomento_intercomunal/5547820058/in/photolist-9sf2BY-6X4yxP-9seVB5-6X4A4V-


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2 Agricultura, silvicultura e outros usos da terra (AFOLU): a mudança no uso da terra é a


principal contribuição nas emissões de GEE do Brasil. Sendo o setor agrícola o principal na
substituição de áreas naturais por agricultáveis. Para minimizar os efeitos desta mudança nas
emissões, projetos REDD+ devem ser desenvolvidos para evitar desmatamento, agroflorestas
e modelo SAF (Figura 7) devem ser priorizados na produção agrícola. Nas áreas urbanas po-
dem ser desenvolvidos projetos de restauração, arborização e silvicultura urbana;

Figura 7: Fonte – https://www.flickr.com/photos/canaldoprodutor/30605119918/in/photolist-NCteTm-281f8g5-djquQx-23DKo3c-FmWm-


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12
3 Manufatura industrial / processos químicos: a utilização de substâncias que com grande
impacto nas emissões de GEE na indústria (Figura 8) é histórica. Para tanto projetos para re-
dução destas emissões devem ser aplicados, por exemplo, ao ácido nítrico, substâncias que
esgotam o ozônio, captura e armazenamento de carbono e metano de mina de carvão;

Figura 8: Fonte – https://www.flickr.com/photos/juanjeorio/35302556291/in/photolist-VMyQ4D-2m4K4N1-2m8kp-


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4 Eficiência energética e energias renováveis: as emissões decorrentes da queima de com-


bustíveis fósseis é o principal responsável pelo aumento das emissões de GEE. Projetos ener-
géticos que buscam alternativas de substituição dos combustíveis fósseis devem ser con-
siderados. Por exemplo: a eficiência energética de comunidades e indústrias, recuperação
de calor desperdiçado. Energia proveniente de biogás, biomassa, geotérmica, solar e eólica
(Figura 9);

Figura 8: Fonte – https://www.flickr.com/photos/juanjeorio/35302556291/in/photolist-VMyQ4D-2m4K4N1-2m8kp-


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5 Descarte de resíduos: o consumo sustentável ainda é um patamar a ser buscado pela
sociedade contemporânea. O descarte de resíduos das cidades é um grave problema am-
biental devido às emissões de metano em aterros. Entretanto é possível através de projetos
de captura de gás metano em aterro, gerar energia elétrica, diminuindo as emissões de GEE
(Figura 10)

Figura 10: Fonte – https://www.flickr.com/photos/adonis_guerra/3387807158/in/photolist-6anp3f-5TEbS3-77kkwn-


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6 Transporte: os combustíveis fósseis estão aos poucos sendo substituídos por energia
limpa como elétrica e a hidrogênio. A troca em andamento, existe tanto para veículos par-
ticulares como carros e caminhões, quanto para transporte público como ônibus, além do
incentivo cada vez maior pelo transporte compartilhado como bicicletas e patinetes elétricos
(Figura 11).

Figura 11: Fonte – https://www.flickr.com/photos/30462765@N03/2851565151/in/photolist-5kZ1Yp-ooM6Pi-F4Z-


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14
1.5 Referências Bibliográficas
BRASIL. Terceira comunicação nacional do Brasil à Convenção-quadro das Nações Unidas sobre
mudança do clima. Volume III, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Brasília: Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação, 2016. Disponível em: https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-
-mcti/cgcl/clima/arquivos/destaques/terceira-comunicacao-nacional-do-brasil-a-unfccc-volume-iii.
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Introdução ao conceito de REDD+ e ARR

15
Introdução ao conceito de
REDD+ e ARR
Os projetos REDD+ e ARR se enquadram no contexto dos projetos de carbono denominados
AFOLU (Agricultura, Floresta e outros Usos do Solo). Tais projetos têm por objetivo viabilizar a remu-
neração dos proponentes por ações implementadas que garantem a conservação e/ou restauração
de florestas.
A viabilidade de remuneração nestes projetos é delimitada nos padrões de certificação de mer-
cado voluntário, possibilitando a geração de créditos de carbono.
Entre estes programas o Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation (REDD)
e o (+) se relaciona a conservação e aumento dos estoques de carbono e manejo sustentável de
floresta. O programa foi lançado em 2008 pela Organização das Nações Unidas (ONU) baseado no
conhecimento técnico da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNU-
MA).
O programa tem por objetivo fornecer incentivos econômicos a países em desenvolvimento
para reduzir as emissões de GEE, resultantes das mudanças do uso da terra. Por exemplo, desma-
tamento e degradação florestal que limitam e diminuem os serviços ecossistêmicos fornecidos pela
floresta, como regulação do clima local e conservação dos recursos hídricos.
O REDD+ busca consolidar soluções baseadas na floresta para combater as mudanças climáti-
cas, evitando emissões e potencializando o sequestro de carbono. Por exemplo, incentivo a práticas
de manejo e extração florestal do açaí de forma sustentável, restauração florestal de áreas degra-
dadas.
As compensações financeiras aos países em desenvolvimento para reduzirem as emissões de
GEE e incentivar práticas de baixo carbono para o uso da terra são oriundas de países desenvolvidos
(Anexo I), signatários da Convenção do Clima que determina a lógica de responsabilidade comum,
porém diferenciada. Os países desenvolvidos e em desenvolvimento assinaram a Convenção do Cli-
ma com objetivo de proteger o meio ambiente, entretanto, as condições econômicas, tecnológicas,
sociais de cada país são consideradas para determinar quanto e como cada um deve contribuir para
a preservação.
Um exemplo brasileiro de financiamento é o Fundo Amazônia que recebe doações e/ou paga-
mentos com objetivo de investir em ações para combater o desmatamento. O valor de doações é
aferido pelos resultados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por
Satélite / Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (PRODES/INPE). Esse modelo serviu de base para
discussões que levaram a criação do REDD+. O Fundo Amazônia tem a Noruega, Alemanha e Petro-
bras como seus principais financiadores.
De acordo com Silva, Cenamo e Chavéz (2016) entre 01/2009 e 09/2016 foram aplicados US$ 2,2
bilhões em atividades REDD+ no Brasil, sendo 88% desembolsados por doações ao país. Os autores
organizaram um gráfico mostrando a evolução de compromissos e desembolsos entre 2009 e 2016
(figura 12):

16
Figura 12: Doações para o Brasil com projetos REDD+. Fonte: Silva, Cenamo e Chavéz (2016)

É nítida a evolução dos valores empenhados em programas REDD+ entre 2009 e 2016, sendo
o maior crescimento entre 2012 e 2013 e certa estabilidade dos valores entre 2015 e 2016 quando
houve um crescimento de US$ 90,3 milhões.
Por sua vez, o conceito de Afforestation, Reforestation and Revegetation (ARR) é aplicado a projetos
de agricultura, silvicultura e uso da terra que quantificam a conversão direta induzida pelo homem
em uma área que naturalmente nunca foi floresta há pelo menos 50 anos. Neste âmbito, o reflores-
tamento é aplicado em áreas que sofreram desmatamento há pelo menos 10 anos.
Os projetos ARR ainda não possuem um histórico consolidado de projetos como os projetos
REDD+ no Brasil. São projetos menores e de pequena escala, difíceis de serem comparados.

2.1 Padrões de certificação e metodologias


Os padrões de certificação são uma ferramenta que fornece credibilidade a projetos de redu-
ção de GEE. Nestas ferramentas são desenvolvidas metodologias para os padrões de certificação,
atestando a contabilidade de carbono e/ou incluindo características ambientais e sociais que agre-
gam valor aos créditos gerados.
A certificação pode ser elaborada considerando as fases de: análise de viabilidade, concepção
do projeto, validação, aprovação e monitoramento. Na fase de validação, deve ocorrer obrigatoria-
mente a atuação de auditoria independente.
No mercado voluntário de carbono (MDL) as empresas têm a possibilidade de além de gerar
créditos de carbono, aproveitando as inovações, inserir uma visão ambientalmente correta para o
mercado que atenda a demanda de responsabilidade social corporativa.
Entre os padrões de certificação, o mais reconhecido é o VCS (figura 13)

17
Figura 13. Logotipo da metodologia VCS. Fonte: https://verra.org/

O padrão VCS foi lançado em 2006 e hoje é o maior programa voluntário de GEE do mundo. Ele
permite que projetos certificados transformem as remoções de GEE em créditos de carbono nego-
ciáveis.
Criado logo em seguida o padrão VERRA35(figura 14) é uma instituição global de desenvolvimen-
to e gerenciamento de padrões que auxiliam empresas, governos e sociedade civil a alcançar metas
de desenvolvimento sustentável e ação climática. É o principal padrão que determina os requisitos
técnicos para desenvolver um projeto de carbono, estabelecendo regras de desenvolvimento, quan-
tificação e monitoramento de carbono dentro de um projeto.

Figura 14: Logotipo Verra. Fonte: https://verra.org/

O padrão CCB (Climate, Community & Biodiversity Standards) (figura 15) é um programa que de-
monstra os co-benefícios dos projetos de carbono além da captura, demonstrando como às comu-
nidades locais e a biodiversidade são co-beneficiadas pelos projetos. Projetos que utilizam este pa-
drão demonstram eficiência na melhoria da qualidade de vida da comunidade, proteção de culturas
tradicionais e espécies da fauna e flora.

Figura 15: Logotipo do padrão CCB. Fonte: https://verra.org/

3 Verra. Lider global em desenvolvimento e gerenciamento de padrões para alcançar metas de mitigação das mudanças
climáticas. Alguns dos seus principais programas e iniciativas são o VCS e a Estrutura de REDD+ jurisdicional.

18
Já o padrão SDVista (figura 16) também demonstra co-benefícios, mas vinculados aos Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável (ODS), apresentando uma estrutura para avaliação e comunicação
baseadas nos ODS alcançados, com os benefícios gerados às pessoas e ao planeta.

Figura 16: Logotipo do padrão SDVista. Fonte: https://verra.org/

O CDM (Clean Development Mechanism) (figura 17) permite que projetos em países em desen-
volvimento gerem créditos de Redução Certificada de Emissões (CER), que são comercializadas com
países desenvolvidos para cumprir parte de suas metas de emissões do protocolo de Quioto.

Figura 17: Logotipo da metodologia CDM. Fonte: https://cdm.unfccc.int/methodologies/documenta-


tion/2203/CDM-Methodology-Booklet_fullversion.pdf

O Gold Standard (figura 18) criado pelo World Wide Fund for Nature (WWF) e outras ONGs em
2003, tem por princípio que os projetos devem oferecer benefícios além da redução das emissões,
garantindo altos níveis de integridade e contribuição para o desenvolvimento sustentável.

Figura 18: Logotipo da metodologia Gold Standard. Fonte: https://marketplace.goldstandard.org/collec-


tions/projects

19
O Social Carbon (figura 19) tem maior flexibilidade nos critérios e procedimentos nos co-benefí-
cios. Tem por objetivo comunicar que as reduções de emissões melhoram a qualidade de vida das
pessoas envolvidas, fortalecendo o seu bem-estar sem degradar recursos naturais.

Figura 19: Logotipo da metodologia Social Carbon. Fonte: https://www.socialcarbon.org/

Nos projetos ARR é utilizado, em sua maioria, a metodologia CDM que se divide em metodologia
de reflorestamento e florestamento em larga escala, com opção de desenvolvimento em habitats
úmidos (mangues e áreas úmidas) (AR-AM0014)45ou em terra firme (AR-ACM0003)5 e metodologia
de reflorestamento e florestamento em pequena escala, com opção de desenvolvimento em áreas
úmidas (AR-AMS003)6 e em terras que não sejam áreas úmidas (AR-AMS0007)7.
Está em desenvolvimento a metodologia VCS – Methodology for Afforestation, Reforestation, and
Revegetation, que deve substituir a metodologia CDM devido as modificações do mercado.

2.2 Linha de base


O mecanismo REDD+ requer medições dos resultados em termos de redução de emissões para
mensurar o desempenho da implementação do projeto. Uma informação fundamental para a ava-
liação de desempenho é o nível de emissões de referência, também chamado de linha de base, ou
seja, se o projeto REDD+ não existisse qual seria o volume de emissões.
Um cenário de linha de base é representado pelo crescimento normal dos estoques vegetativos,
validado com observações de uma área de controle representativa fora da área do projeto. A com-
patibilidade da área de controle com a área do projeto ocorre com a incorporação de parâmetros
biofísicos e demográficos correlacionados.
A avaliação dos benefícios de mitigação dos projetos REDD+ requer estimativas de GEE precisas,
resultantes de desmatamento, degradação florestal e aumento dos estoques de carbono. As estima-
tivas são importantes para garantir a integridade dos programas, cumprindo os compromissos de
redução vinculantes ou voluntários de mitigação das mudanças climáticas. A qualidade das estima-
tivas de referência é fundamental para garantir o acesso dos projetos aos fundos.

4 Metodologia que permite o reflorestamento e o florestamento de áreas úmidas que constituem habitat de mangue de-
gradado. Disponível em: https://cdm.unfccc.int/methodologies/DB/KMH6O8T6RL3P5XKNBQE2N359QG7KOE

5 Metodologia que permite a florestamento e reflorestação de qualquer terreno que não se enquadre na categoria de zona
húmida. Disponível em: https://cdm.unfccc.int/methodologies/DB/C9QS5G3CS8FW04MYYXDFOQDPXWM4OE

6 Metodologia que permite o florestamento e o reflorestamento de áreas úmidas por meio de atividades de projeto de
florestamento e reflorestamento de pequena escala (A/R) sob o mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL). Disponível
em: https://cdm.unfccc.int/methodologies/DB/808WOYH6FWAXP3CQR4PXOLORGZBVRG

7 Metodologia que permite a florestamento e reflorestação de qualquer terreno que não se enquadre na categoria de
zona húmida de pequena escala (A/R). Disponível em: https://cdm.unfccc.int/methodologies/DB/J6ZHLX1C3AEMSZ52PWII-
I6D2AOJZUB

20
2.3 Regras de aplicabilidade
As regras de aplicabilidade dependem da metodologia escolhida no projeto. Cada metodologia
tem seus critérios específicos de aplicabilidade. Por exemplo, a VM0015 - Methodology for Avoided
Unplanned Deforestation85para o padrão REDD+ define as seguintes regra:

1 A linha de base deve incluir desmatamento não planejado resultante da


coleta de lenha, carvão, atividade agrícola e pastagem;

2 A área do projeto pode incluir diferentes tipos de floresta, mas não se limi-
tando a floresta antiga, floresta degradada, florestas secundárias, florestas
plantadas e sistemas agroflorestais que atendem à definição de “floresta”;

3 A área do projeto deve incluir apenas terras qualificadas como “floresta”


por um mínimo de 10 anos antes da data de início do projeto;

4 A área do projeto pode incluir zonas úmidas florestais (tais como florestas
de terra firme, florestas de várzea, florestas de mangais), desde que não
cresçam em turfa.

Por sua vez, nos projetos ARR, como exemplo, a metodologia VCS – Methodology for Afforestation,
Reforestation, and Revegetation9 deve:

1 Demostrar que a área do projeto não contém floresta na data de início do


projeto;

2 Áreas degradadas que possam voltar ao estado de floresta de forma natu-


ral não são elegíveis;

3 Deve ser demonstrado que as áreas a serem restauradas não foram de-
gradadas ou desmatadas nos 10 anos que antecedem a data de início do
projeto.

8 Metodologia utilizada para estimar e monitorar as emissões de GEE das atividades do projeto que evitam o desmata-
mento não planejado. Disponível em: https://verra.org/wp-content/uploads/2018/03/VM0015-Methodology-for-Avoided-
-Unplanned-Deforestation-v1.1.pdf

9 Metodologia aplicável a todas as atividades de florestamento, reflorestamento e revegetação que não ocorram em solos
orgânicos ou pântanos, incluindo áreas de mangue. Disponível em: https://verra.org/wp-content/uploads/2021/12/VCS-
-ARR-Methodology.pdf

21
Uma etapa fundamental na aplicabilidade é comprovar o direito pelas reduções e remoções.
Segundo o VCS Standard o controle sobre a área do projeto deve ser demonstrado através do for-
necimento de provas de direito de utilização legalmente reconhecidas no país. Além disso, deve-se
demonstrar o direito legal de controlar e operar as atividades do projeto.

2.4 Adicionalidade
Consiste na catalogação e avaliação das ações implementadas nas áreas do projeto, que dire-
tamente contribuem para a preservação da floresta, fortalecem as cadeias produtivas sustentáveis
– como os Sistemas Agroflorestais - e reduzem as emissões de desmatamento.
Em uma comparação de cenários é preciso demostrar que as ações do projeto que geram re-
dução de emissão de GEE não ocorreria ou não seria economicamente atrativa sem a existência dos
incentivos adicionais proporcionados pelo mercado de carbono, ou seja, sem o projeto as emissões
(linha de base) seriam maiores que com o projeto ou as remoções não ocorreriam.
As empresas ao comprar créditos de carbono no mercado estão demostrando adicionalidade.
Do mesmo modo que uma moeda, todo crédito de carbono necessita de um lastro, portanto, com-
provar a adicionalidade é um dos principais aspectos para atribuir valor ao crédito.
Para demonstrar a adicionalidade existe o método VT001: Tool for the demonstration and asses-
sment of additionality in VCS agriculture, forestry and other land use (AFOLU) project activities105que se
divide em quatro passos:

1 Identificação dos cenários alternativos de uso do solo para a atividade do


projeto;

2 Análise de investimento para determinar que a atividade proposta não é


economicamente mais atrativa que os outros cenários;

3 Análise de barreira, demonstrando quais aspectos financeiros, tecnológi-


cos, institucionais, etc podem dificultar a execução;

4 Análise de prática comum, identificando e comparando atividades seme-


lhantes à proposta do projeto.

2.5 Consulta de stakeholders


As atividades do projeto não devem causar impactos negativos ao meio ambiente ou às co-
munidades locais. No caso de gerar impactos negativos é necessário identificar e engajar as partes
interessadas durante o desenvolvimento e implementação do projeto.

10 Metodologia aplicada as atividades AFOLU iguais ou semelhantes à atividade de projeto proposta no terreno dentro do
limite do projeto proposto. Disponível em: https://verra.org/wp-content/uploads/2017/11/VT0001v3.0.pdf

22
Na construção do projeto considerando a metodologia VCS Standard, é necessário que o propo-
nente conduza uma consulta às partes interessadas antes da validação do projeto, assegurando sua
participação na concepção do projeto.
Para tanto o proponente deve estabelecer mecanismos que permitam às partes levantar dúvi-
das e questionamentos sobre potenciais impactos negativos, avaliando as sugestões e realizando os
ajustes no desenho do projeto ou justificar porque determinada sugestão não foi incluída.
Em projetos REDD+ o engajamento é uma prioridade. Desde a concepção de projetos o engaja-
mento das partes interessadas tem sido solicitado por doadores, sociedade civil e países.
A implementação bem-sucedida de um projeto REDD+ depende da adesão de uma ampla gama
de órgãos governamentais, povos indígenas e comunidades locais, sociedade, empresas e institui-
ções para aprovar as reformas necessárias.
Os projetos REDD+ exigem a adesão e promoção dos princípios fundamentais de direitos huma-
nos, como participação, não discriminação, transparência e responsabilidade.
O envolvimento das partes interessadas não tem por objetivo único a integração de visões de
diferentes atores, mas também criar parcerias, consenso, política e processos inclusivos que tornam
o projeto REDD+ viável, duradouro e transformacional.

23
2.6 Referências Bibliográficas
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UNITED NATIONS (UN). UN-REDD Programme. 2022. Disponível em: https://www.un-redd.org/.


Acessado em 3 ago. 2022.

24
Métodos de Restauração
Os métodos de restauração florestal podem ser divididos em sem perspectiva de aproveita-
mento econômico e regeneração natural com objetivo de aproveitamento econômico. Desta forma,
é possível inserir os métodos de restauração em programas REDD+ considerando a capacidade do
processo de restauração para captação de carbono. Os métodos de restauração florestal se inserem
no contexto dos serviços ecossistêmicos que buscam equacionar o uso dado ao território pelo mo-
delo de ocupação e as características naturais, criando mecanismos de preservação ambiental com
vistas à sustentabilidade.

3.1 Métodos de restauração florestal e sua relação com


carbono
A restauração florestal envolve várias etapas que devem ser implementadas em sequência para
um bom resultado. O primeiro passo para implementar a restauração florestal é o isolamento da
área degradada (Figura 20), processo tradicionalmente realizado com a colocação de cercas. Em se-
guida, se inicia a restauração. Segundo o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) a regene-
ração natural é o principal método indicado por ser uma estratégia barata para áreas com pequena
alteração, visto que esta estes locais pode ser apenas cercada e deixar as espécies se recomporem
ou a recuperação ocorrer rapidamente utilizando espécies nativas de árvores, arbustos e ervas que
surgiram naturalmente na área foco da restauração. É importante nesta fase aplicar métodos quí-
micos ou mecânicos para controlar e/ou eliminar espécies que não fazem parte da área objeto de
restauração.

Figura 20: Cerca isolando a área a ser restaurada. Fonte: https://www.flickr.com/photos/wricidades/52109922336

25
A qualidade do solo (Figura 21) é ponto importante no processo de restauração florestal. Para
tanto são necessários estudos iniciais sobre a susceptibilidade a erosão e inundação, textura, decli-
vidade, aptidão agrícola com objetivo de caracterizar e identificar a necessidade de correção de na-
tureza física e/ou química do solo. Após esta etapa, é indicada a utilização de espécies de adubação
verde e em seguida espécies arbóreas, sempre considerando a diversidade das espécies adequadas
para a restauração.

Figura 21: Erosão dos solos em área degradada. Fonte: https://commons.wiki-


media.org/wiki/File:Eros%C3%A3o_em_solo_de_Piracicaba_SP.jpg

O segundo método é o plantio de mudas (Figura 22), que envolve etapas como produção e trans-
porte, treinamento de equipe, preparo do solo e plantio. Sempre deve-se considerar a escolha de
espécies que tem maior frequência na região. A forma de plantio pode ser em linhas, adequado para
recuperação de grandes áreas, esta forma recobre rapidamente o solo desmatado. Nesta forma de
plantio a distância entre linhas e mudas possui diferentes combinações, por exemplo, 2x3m, 3x2m
(primeiro número é a distância entre linhas e o segundo a distância entre mudas). A segunda forma
de plantio é em ilhas onde as mudas são plantadas em grupos isolados que com o tempo ajudam a
restaurar a conectividade entre os fragmentos na paisagem.

Figura 22: Método de plantio de mudas em linha. Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Situa%C3%A7%C3%A3o_


da_%C3%A1rea_na_implanta%C3%A7%C3%A3o._Plantio_de_mudas_intercaladas_em_linhas_com_esp%C3%A9cies_de_diver-
sidade_e_linhas_de_recobrimento_com_cercamento_da_%C3%A1rea.jpg

26
No plantio, sugere-se três mecanismos:

1 Plantio de adensamento: serão utilizadas espécies de sucessão em locais


não ocupados pela regeneração natural com objetivo de limitar a expan-
são de espécies invasoras. As mudas ou sementes são plantadas em es-
paços vazios de florestas secundárias e/ou degradadas, capoeira. É uma
técnica utilizada em locais onde espécies nativas não recobrem o solo;

2 Plantio de enriquecimento: são introduzidas espécies em estádio final de


sucessão em áreas-alvo da restauração florestal;

3 Plantio total: utilizado quando a regeneração natural é baixa na área de


restauração, neste caso, espécies em estágio final e inicial de sucessão são
combinadas, resultando em substituição gradual das espécies no processo
de sucessão.

O terceiro método é o plantio com sementes ou semeadura direta (Figura 23) onde as sementes
são diretamente depositadas no local a ser restaurado, as condições ambientais adequadas, como
solo, relevo, clima, são fundamentais para que o método tenha sucesso. O quarto método é o enri-
quecimento que reintroduz espécies de plantas que existiam originalmente, é um método recomen-
dado para áreas com poucas espécies.

Figura 23: Método de plantio por semeadura direta. Fonte: https://www.embrapa.br/codigo-florestal/semeadura-direta

27
O último método são os sistemas agroflorestais (SAFs) (Figura 24), consórcios de espécies arbó-
reo, arbustivas e culturas agrícolas que trazem a possibilidade de retorno financeiro em curto prazo
ao agricultor, por integrar diferentes espécies e culturas agrícolas.

Figura 24: Método SAF. Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sis-


tema_Agroflorestal_Alto_Para%C3%ADso_de_Goi%C3%A1s.jpg

Os diferentes métodos de restauração florestal têm por objetivo comum o reflorestamento


utilizando espécies nativas na área degradada. Desde o início da recomposição destas áreas a vege-
tação passa a capturar e estocar carbono, elemento necessário para seu crescimento.
Na fase de estabilidade de crescimento a vegetação continua a ter a capacidade de estocar
carbono, com isso essa vegetação recuperada passa a ser um reservatório de carbono a nível local,
colocando o produtor rural como um importante ator na mitigação dos efeitos das mudanças cli-
máticas.
É possível inserir os métodos de restauração em programas REDD+ ou MDL considerando a
capacidade do processo de restauração para captação de carbono.
Os métodos de restauração florestal se inserem no contexto dos serviços ecossistêmicos que
buscam equacionar o uso dado ao território pelo modelo de ocupação e as características naturais,
criando mecanismos de preservação ambiental com vistas à sustentabilidade.

3.2 Serviços ecossistêmicos das florestas


O conceito de serviços ecossistêmico foi uma resposta ecológica e econômica ao processo de
degradação dos ecossistemas mundiais. Esse conceito começa a se estruturar na década de 1970
nos EUA e tem sua importância confirmada no cenário internacional com sua utilização em meca-
nismos de preservação, principalmente após o lançamento da Millenium Ecosystem Assessment (MEA)
em 2005. Após o lançamento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) pela ONU, o con-
ceito também passa a ser utilizado no combate a redução da pobreza.
A Costa Rica é percursora na implementação do primeiro programa de Pagamento por Serviços
Ambientais (PSA) em 1997, aplicando o conceito de serviços ecossistêmicos na política de combate
ao desmatamento de suas florestas.

28
O PSA é um importante instrumento de gestão e captação de recursos econômico por deter-
minado serviço ecossistêmico e também pode ser um uso da terra que garanta a disponibilidade
do serviço ecossistêmico e garanta a integridade do ambiente. Em países da zona tropical, como o
Brasil, a utilização do conceito se relaciona a proteção das florestas tropicais e sua biodiversidade,
garantido a manutenção de serviços que apenas a floresta em pé tem capacidade de fornecer.
Na implementação de um programa de PSA, seu objetivo é recompensar financeiramente o ator
que mantêm o serviço ecossistêmico. A estrutura básica de um PSA é a existência de um comprador
e um provedor.
Em ambos os lados esse ator pode ser do setor privado ou público. Habitualmente, no setor
privado a compra é realizada como forma de compensação ambiental por alguma atividade que
degradou a biodiversidade. Quando a compra é realizada pelo poder público, geralmente o objetivo
é garantir a manutenção do serviço ecossistêmico para garantir o bem-estar da sociedade.
Os serviços ecossistêmicos incluem tanto os proporcionados por ecossistemas naturais, quanto
aqueles provindos por ecossistemas manejados pelo homem. Todos os serviços ecossistêmicos se
relacionam a dinâmica natural, portanto é importante considerar que os ciclos naturais, como da
água, carbono, etc que são impulsionados pela energia solar, sustentam a vida no planeta, porque
mantem a biodiversidade e a produção de alimentos. Alguns exemplos são: a biomassa, peixes, ma-
deira, produtos farmacêuticos e industrializados.
MEA (2005), estabeleceu quatro categorias para os serviços ecossistêmicos (Figura 25):

1 Serviços de provisão: responsáveis pela capacidade dos ecossistemas de prover alimen-


tos, matéria-prima, recursos genéticos, água, etc;

2 Serviços reguladores: são benefícios resultantes de processos naturais reguladores de


condições ambientais, por exemplo, regulação do clima, controle de enchentes e ero-
são, purificação do ar, etc;

3 Serviços culturais: relaciona-se a importância dos ecossistemas oferecerem proventos


recreacionais, educacionais, espirituais, estéticos;

4 Serviços de suporte: processos naturais fundamentais para a manutenção e existência


de outros serviços, por exemplo, ciclagem de nutrientes, formação de solos, poliniza-
ção, etc.

Figura 25: Categorias de Serviços Ecossistêmicos da MEA. Fonte:


https://etica-ambiental.com.br/o-que-sao-servicos-ecossistemicos/

29
De acordo com Campos (2009) as florestas têm um papel fundamental, fornecendo diferentes
serviços ecossistêmicos com importância singular:

1 Conservação da biodiversidade: mantendo o funcionamento de um ecossistema, conser-


vando suas espécies vegetais e animais (Figura 26).

Figura 26: Floresta conservada, mantém sua biodiversidade. Fonte:


https://pixnio.com/pt/paisagens/floresta/guatemala-maya-reserva-da-biosfera

2 Sequestro e estoque de carbono: frente a questão de mudanças climáticas, as florestas


tropicais, através da fotossíntese, tem um papel fundamental na absorção e estocagem de
carbono e liberação do oxigênio (Figura 27).

Figura 27: Dinâmica de absorção de carbono e liberação de oxigênio pela vegetação.


Fonte: https://rioantigomoveis.wordpress.com/2016/06/07/curiosidade-a-madeira-e-o-sequestro-de-carbono/

30
3 Ciclagem de nutrientes: as plantas precisam de nutrientes para seu desenvolvimento,
além de deixar o solo fértil. O transporte desses nutrientes da planta para o solo resulta em
sua fertilidade que possibilita o desenvolvimento da vegetação (Figura 28).

Figura 28: Dinâmica de ciclagem de nutrientes. Fonte:


http://www.centralflorestal.com.br/2019/11/a-importancia-da-ciclagem-de-nutrientes.html

4 Manutenção de chuvas e estabilidade climática: as árvores estão incluídas no ciclo da


água, recebendo e transportando para o solo a água da chuva, além de fornecer umidade
para o ambiente através da evapotranspiração. Esse processo é fundamental para manu-
tenção do ciclo hidrológico, as chuvas e consequentemente a manutenção da biodiversidade
(Figura 29).

Figura 29: Chuva na floresta tropical. Fonte: https://www.publicdomainpictures.net/pt/view-image.php?ima-


ge=93402&picture=selva-tropical-da-floresta-tropical

31
5 Beleza Cênica: a floresta guarda inúmeras belezas naturais que trazem satisfação e equi-
líbrio pessoal para quem convivem ou passa algumas horas caminhando em uma reserva
natural. Essa característica atrai turistas e atividades de lazer que podem ser atividades eco-
nômicas importantes para um local (Figura 30).

Figura 30: Beleza cênica.


Fonte: https://www.publicdomainpictures.net/pt/view-image.php?image=93402&picture=-
selva-tropical-da-floresta-tropical

6 Preservação Cultural: as florestas tropicais são habitadas a séculos por populações


com forte ligação cultural. Os povos indígenas e populações tradicionais conhecem as pos-
sibilidades medicinais de inúmeras plantas e as utilizam em seu dia a dia (Figura 31).

Figura 31: Povos tradicionais da floresta. Fonte: https://www.flickr.com/photos/ana_cotta/2224376054

O conjunto desses serviços é responsável por manter o equilíbrio ambiental das florestas em ní-
vel local, regional e mundial, regulando o funcionamento dos ecossistemas, valorados considerando
benefícios que podem trazer a Humanidade.
A valoração dos ecossistemas não se restringe ao sentido econômico, também é o sentido hu-
mano, valorizando a vida, formas resultantes dos ecossistemas e a estrutura da sociedade, respon-
sável pela relação entre Humanidade e natureza.

32
3.3 Referências Bibliográficas
CAMPOS, M. T. Aprendendo sobre Serviços Ambientais: Forest Trend. The Katoomba Group‘s, 2009.
Disponível em: https://www.forest-trends.org/wp-content/uploads/imported/Aprendendo_sobre_
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COSTANZA, R.; DAILY, H. Natural Capital and Sustainable Development. Conservation Biology, 6: 37–
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GRUNEWALD, K.; BASTIAN, O. Ecosystem Services – Concept, Methods and Case Studies. Berlin, Heidel-
berg: Springer Berlin Heidelberg, 2015. Disponível em: https://link.springer.com/book/10.1007/978-
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tura Divisão de Extensão, 2020. Disponível em: http://www.ecoagri.com.br/web/wp-content/uplo-
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em: https://acervo.socioambiental.org/sites/default/files/publications/T3L00018.pdf. Acessado em 4
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projetos de carbono e de serviços ambientais. Piracicaba, SP: Imaflora; São Paulo, SP: Biofílica, 2009.
Disponível em https://biofilica.com.br/web/downloads/guia.pdf. Acesso em 4 ago. 2022.

TEEB. A economia dos ecossistemas e da Biodiversidade: Integrando a economia da natureza. Uma


síntese da abordagem, conclusões e recomendações do TEEB. 2010. Disponível em https://www.te-
ebweb.org/wp-content/uploads/Study%20and%20Reports/Reports/Synthesis%20report/TEEB_Sin-
tese-Portugues.pdf. Acessado em 4 ago. 2022.

33
Mensuração de Carbono
Em projetos de carbono é necessário mensurar o carbono arbóreo acima do solo. Além de ser
possível contabilizar o carbono em serapilheira, carbono orgânico no solo, carbono árboreo abaixo
do solo e madeira morta.
Os métodos de mensuração de carbono podem ser divididos em métodos destrutivos (mensu-
rar medidas de altura, diâmetro a altura do peito (DAP) e densidade da madeira) e não destrutivos
(modelos empíricos e estatísticos). O avanço do sensoriamento remoto nesta área está em expan-
são e os dados oriundos do programa Global Ecosystem Dynamics Investigation (GEDI) tem grande
potencial para revolucionar a mensuração de carbono a curto prazo.

4.1 Métodos de mensuração de diferentes certificações


A metodologia VCS (Methodology for Afforestation, Reforestation and Revegetation Projects) é base-
ada na CDM AR-ACM0003 que incorpora abordagens com objetivo de padronizar a adicionalidade
e creditação da linha de base, além de contabilizar vazamentos e acomodar atividades de plantio
de árvores em pequena escala, está sendo revista e deve ser substituída por duas abordagens, a
primeira baseada em área e a segunda baseada em censo.
No quadro I são apresentadas as abordagens de quantificação e condições de aplicabilidade
da CDM AR-ACM0003:

Condições de aplicabilidade Linha de Base Adicionalidade

Baseado em área: usa a área do


Referência de Referência de
projeto como parâmetro de
desempenho desempenho
escala. Aplica amostragem
(benchmark) (benchmark)
baseada em plotagem

Método de Método do
projeto em projeto
que cenário de
linha de base =
ausência de
unidades de
plantio

Quadro I: Abordagens de quantificação e condições de aplicabilidade. Fonte: https://verra.org/wp-content/uploads/2021/12/VCS-ARR-Methodology.pdf

34
Na abordagem de área, são utilizados métodos tradicionais de amostragem baseada em par-
cela ou benchmark, onde a adicionalidade é definida por uma linha de base. Pela performance de
benchmark além de amostrar a área representada é necessário amostrar uma linha de base, consi-
derando uma área sem intervenção ao redor.
Por sua vez, na abordagem em censo o projeto não resulta em mudança no uso da terra, por
exemplo, arborização urbana e SAF. Nesta abordagem são amostradas todas as árvores.
Por último a metodologia sugere a abordagem de sensoriamento remoto, utilizando índice es-
pectral NDVI e sensor LIDAR que possibilitam gerar modelos que mensuram o estoque de carbono
na vegetação, podendo ser validados estatisticamente.
Em metodologias que utilizam dados de sensoriamento remoto também será necessário fazer
parcelas em campo para validar os resultados. Entretanto, a quantidade de parcelas em campo é
menor.

4.2 Inventário Florestal


Estimar a biomassa acima do solo é um processo desenvolvido em estudos fitossociológico,
onde se mede a altura e Diâmetro a Altura do Peito (DAP) das espécies, juntamente com a densidade
da madeira são os principais dados utilizados em estimativas de biomassa que podem ser realizadas
utilizando equações alométricas (Figura 32).

Figura 32: Rodrigues et al. (2017). Fonte: https://revistas.ufpr.br/biofix/article/view/56337

Para a região tropical Chave et al. (2005) elaboraram equações que utilizam os parâmetros DAP,
Densidade da Madeira e Altura para predição da biomassa.
Para levantar esses dados podem ser utilizados dois métodos:

35
Destrutivo: campos são realizados para mensurar as medidas de altura, DAP e densidade da
madeira através do corte, pesagem, secagem e medição das parcelas, este método se torna
oneroso em áreas de grande extensão territorial;

Não destrutivo: são utilizados modelos empíricos e estatísticos. São consideradas áreas
amostrais de estudos já realizados que são correlacionadas a imagens índices resultantes
de processamento em imagens orbitais. Esse tipo de abordagem possibilita a estimativa de
carbono de grandes áreas territoriais e atualmente é estimulada em pesquisas na temática
de clima e aquecimento global.

A proposta de Chave et al. (2005) já foi aplicada em diferentes florestas tropicais e utiliza a se-
guinte equação alométrica:

AGB = exp (−2.977 + ln(ρ×-


2
DAP ×H)

Onde:
ρ = Densidade da Madeira
DAP = Diâmetro a Altura do Peito
H = Altura

As equações alométricas são definidas através de medições das variáveis florestais coletadas
em inventários florestais – processo de recolha de dados a partir de imagens de satélite/fotografias
aéreas e medições no terreno, pelo qual são produzidos dados estatísticos e cartografia de base
sobre a quantidade e estado dos recursos florestais.
Como produtos, o inventário florestal determina o potencial produtivo da floresta, o custo de
produção e mapeia fatores bióticos e abióticos que influenciam na produção.
As estimativas de biomassa acima do solo possuem uma margem de erro em torno de 20%, por-
que o erro está associado a seleção da equação alométrica. Segundo Keller et al. (2001) a redução
deste erro é possível, considerando as condições físicas e climáticas locais.

4.3 Carbono no solo


O carbono é um dos elementos mais abundantes na natureza, sendo encontrado nos estados
sólido, sob a forma de carbonatos e hidrocarbonatos na estrutura geológica da Terra; líquido, sob a
forma de ácido carbônico nos oceanos; gasoso, sob a forma de dióxido de carbono na atmosfera.
Os ecossistemas do planeta são os mais importantes sumidouros de carbono do planeta. Por
exemplo, segundo Watson et al. (2000) os solos da floresta boreal concentram 471 Gt de carbono,
enquanto os solos das florestas e savanas tropicais, além dos campos temperados, concentram en-
tre 200 e 300 Gt de carbono, cada um.
Nas camadas superficiais dos solos o carbono ocorre nos microorganismos e materiais deposi-
tados dos seres vivos na forma orgânica. Em profundidade o carbono ocorre de maneira inorgânica

36
e tem origem geológica em compostos minerais. No solo o carbono pode ser encontrado no grafite
ou resto de material orgânico; inorgânico originado na rocha mãe ou colocado por atividade agrícola
e orgânico, de maneira particulada de origem de plantas e materiais decompostos ou dissolvida.
Denomina-se carbono orgânico no solo (COS) o carbono armazenado na matéria orgânica pre-
sente no solo. Ele tem extrema importância para a saúde e fertilidade do solo. Os solos com alto teor
de COS são mais produtivos e tem maior capacidade de filtrar a água.
A concentração de carbono no planeta Terra é a mesma desde sua formação. O que ocorre hoje
é que devido a queima dos combustíveis fósseis, a concentração de carbono na atmosfera aumen-
tou. Entretanto, de acordo com estimativas de Lal (2004), o carbono concentra-se no solo com 2.500
Gt, na atmosfera temos apenas 750 Gt, ou seja, o carbono no solo é mais que o triplo do encontrado
na atmosfera (Figura 33).

Figura 33: Mapa mundial de Carbono Orgânico no Solo. Fonte: https://www.fao.org/documents/card/en/c/I8891EN

Um segundo motivo para o aumento da concentração de carbono na atmosfera é a degradação


dos solos do planeta. Segundo a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) em
torno de um terço dos solos já foram degradados, liberando aproximadamente 78 Gt de carbono na
atmosfera (Figura 34).

Figura 34: Nível de degradação dos solos do mundo. Fonte:


https://earthbound.report/2017/02/01/a-map-of-global-soil-degradation/

37
Essa grande área degradada tem a capacidade de sequestrar, aproximadamente 50 a 66% do
carbono presente na atmosfera. A gestão ineficiente da terra interfere negativamente nos esforços
para limitar o aumento da temperatura global e consequentemente os eventos extremos em sua
decorrência, como exemplo, inundações e secas.
São necessários aprimoramentos nas práticas agrícolas para reduzir as emissões da agricultura
e armazenar carbono na biomassa vegetal e no solo. Um exemplo são os Sistemas de Integração
Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), com objetivo de otimizar o uso da terra, trazendo maior produtivi-
dade e minimizando as emissões de carbono em decorrência do uso da terra.
Com este sistema o carbono passa a ser captura novamente, por ser implementado um consór-
cio de área vegetada com a agrícola. Com a recomposição de áreas utilizando sistemas como o Inte-
gração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) os solos passam novamente a ter capacidade de armazenar
carbono.
O Brasil contribuiu muito com as emissões de carbono devido as mudanças de uso e cobertura
da terra em decorrência da expansão agrícola ocorrida no país durante o século XX, principalmente
áreas de monoculturas na Amazônia Legal (Figura 35).

Figura 35: Emissões de GEE do Brasil de 1990 a 2019 (MtCO2e). Fonte:


http://energiaeambiente.org.br/wp-content/uploads/2020/11/SEEG8_DOC_ANALITICO_SINTESE_1990-2019.pdf

Esta expansão resultou na constituição de grandes áreas degradadas que liberaram o carbono
aprisionado na vegetação e no solo. Por isso, a restauração da floresta é importante, com sua re-
composição os solos passam a armazenar carbono novamente, ajudando a mitigar os efeitos das
mudanças climáticas.

38
4.4 Sensoriamento remoto para a mensuração de
carbono
O sensoriamento remoto é o conjunto de técnicas e instrumentos utilizados para analisar alvos
a distância. Os satélites, aviões ou drones carregam sensores que captam informação proveniente
da Terra. Todo objeto na superfície da Terra possui o que chamamos de “assinatura espectral”, valor
de reflectância do objetivo em função do comprimento de onda, cada objeto tem uma assinatura
única que é identifica pelo sensor.
A vegetação é um dos principais objetos estudados por sensoriamento remoto. Para identifi-
car a atividade fotossintética os satélites captam imagens em diferentes cumprimentos de onda da
radiação eletromagnética (REM), chamamos de bandas cada imagem capta. A REM é a energia que
se move pelo espaço na velocidade da luz. O sol é a principal fonte de REM que ao se propagar pela
atmosfera, modifica sua intensidade e distribuição espectral. Ao interagir com a superfície terrestre
a REM pode ser absorvida, refletida ou transmitida. A REM refletida e/ou emitida pela superfície da
Terra, interage novamente com a atmosfera e é captada pelo sensor remoto a bordo do satélite,
avião ou drone (Figura 36).

Figura 36: Radiação Eletromagnética. Fonte:


https://commons.wikimedia.org/wiki/File:EM_Spectrum_Properties_edit.svg

As faixas do infra-vermelho próximo e vermelho são as regiões da REM com maior resposta es-
pectral da vegetação, ou seja, a reflectância da vegetação nestas faixas do espectro eletromagnético
é maior.
Com as bandas provenientes dos satélites ou drones é possível calcular índices espectrais como
o Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) e o Enhaced Vegetation Index (EVI) utilizados para ana-
lisar a atividade fotossintética da vegetação, são calculados utilizando a reflectância das bandas
infra-vermelho, vermelho e azul.

39
Já o índice Photochemical Reflectance Index (PRI) mensura a eficiência do uso da luz no processo
de fotossíntese e é calculado utilizando a reflectância das bandas verde e azul. Segundo Rahman et
al (2000) o sequestro de carbono pela vegetação depende da integração do NDVI com PRI gerando
um novo índice, o CO2flux, desenvolvido com objetivo de mensurar o estoque de carbono em vege-
tação natural.
O Soil Ajusted Vegetation Index (SAVI) foi desenvolvido como uma adaptação ao NDVI para mini-
mizar os efeitos do solo no sinal da vegetação, incorporando a constante L. Com o SAVI é possível
calcular o Índice de Área Foliar (IAF) que é um indicador de biomassa e pode ser utilizado para medir
o crescimento das plantas.
As fórmulas para calcular os índices são:

NDVI = (IV – V) / (IV + V)

EVI = 2.5 * ((IV - V) / (IV + 6 * V – 7.5 * A + 1))

PRI = A – Ve / A + Ve

sPRI = (PRI + 1) / 2

CO2flux = (NDVI x sPRI)

SAVI = (1 + Ls) (IV - V) / (Ls + IV + V)

IAF = ln(0,69 – SAVI / 0,59) / 0,91

Onde:
IV = Infravermelho próximo
V = Vermelho
A = Azul
Ve = Verde
Ls = constante de ajuste ao solo

Os índices espectrais são combinações lineares que realçam a vegetação possibilitando identi-
ficar parâmetros biofísicos da vegetação. Podem ser utilizados amplamente para analisar as condi-
ções de crescimento da vegetação, além de ter a possibilidade de correlacioná-los e medir a eficiên-
cia do processo de sequestro de carbono (CO2flux) e indicar a biomassa em cada pixel (IAF).
Com os avanços tecnológicos recentes relacionados ao sensoriamento remoto há um novo ins-
trumento para captar informações, o Light Detection and Ranging (LIDAR) que possui sua própria
fonte de energia (Figura 37). Com esta nova tecnologia é possível avançar muito nos estudos sobre a
estrutura da vegetação, como o cálculo de altura das árvores e biomassa, informações importantes
para mensurar o carbono presente na vegetação.

40
Figura 37: Cálculo de altura de árvores por sensor LIDAR. Fonte:
https://cbmjournal.biomedcentral.com/articles/10.1186/1750-0680-7-2

Uma fonte LIDAR com grande potencial para utilização devido a ampla disponibilidade de dados
é Global Ecosystem Dynamics Investigation (GEDI), programa desenvolvido pela NASA que gera dados
de alta resolução de florestas e topografia da Terra, utilizando um sensor embarcado na Estação
Espacial Internacional. O GEDI é um instrumento LIDAR que faz medições detalhadas da estrutura
3D da superfície da Terra.
Também devido aos avanços recentes na tecnologia a utilização de Unmanned Aerial Vehicle
(UAV), popularmente conhecidos como drones, são amplamente aplicados em pesquisas sobre a ve-
getação. A possibilidade de adaptação das plataformas UAV inserindo diferentes sensores remotos
favorece a sua utilização em estudos locais, como áreas agrícolas, desastres e desenvolvimento da
vegetação. Outro ponto que favorece a utilização dos UAV é a possibilidade de adequar a resolução
temporal as necessidades do estudo que está em curso com a utilização desta ferramenta (Figura
38).

41
Figura 38: UAV fazendo um mapeamento da vegetação. Fonte:
https://www.terziempresas.com.br/empresa-imagens-aereas-drone

Enquanto os satélites têm uma resolução temporal fixa, ou seja, o tempo que ele demorará para
passar pelo mesmo ponto novamente que depende de sua órbita. Nos UAV isso pode ser definido
de acordo com as necessidades do estudo, podendo o drone voar todos os dias, a cada 3 ou 7 dias,
por exemplo.
Grandes áreas como a Amazônia podem ser estudadas utilizando o sensoriamento remoto,
identificando por exemplo, a quantidade de biomassa presente na vegetação. As culturas agrícolas
também são amplamente monitoradas por sensores remotos. O Brasil por ser um grande produtor
agrícola, possui vastas áreas agrícolas, com empresas que demandam alta tecnologia para monito-
ramento e controle da produção. Neste ponto o sensoriamento remoto se coloca como importante
instrumento no auxílio de ações para monitorar a safra. A atividade fotossintética da vegetação é
analisada e pode auxiliar, por exemplo, a identificar áreas com ataques de pragas e uma análise tem-
poral possibilitar a identificação do desenvolvimento da plantação no período adequado.
O sensoriamento remoto tem sido utilizado na quantificação de carbono por ser um método
indireto e não destrutivo.

42
4.5 Exemplos de projetos

1 Recarbonizing global soils - A technical manu-


al of recommended management practices:
série de manuais técnicos da FAO que reuni
os dados existentes sobre impactos das prá-
ticas de manejo do solo no conteúdo de COS
em diferentes ambientes;

2 Global Carbon Project: projeto de pesquisa que


envolve a comunidade científica internacional
para estabelecer uma base de conhecimento
comum e acordada para apoiar o debate po-
lítico e ações para diminuir e, posteriormente,
interromper o aumento de GEE;

3 Inventário Florestal Nacional do Brasil: tem


por objetivo fornecer informações que pos-
sam subsidiar a formulação de políticas públi-
cas, gestão e planos de uso e conservação dos
recursos florestais;

4 Saltus: classificação e espacialização do esto-


que de carbono de florestas naturais e plan-
tadas por meio de sensoriamento remoto: de-
senvolvimento de processos e metodologias
de estimativa de estoque de carbono florestal
utilizando sensoriamento remoto.

5 EBA – Estimativa de biomassa na Amazônia:


projeto que tem por objetivo melhorar os
métodos de estimativa de biomassa através
de aerolevantamentos utilizando tecnologia
LIDAR na Amazônia brasileira.

43
4.6 Referências Bibliográficas
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44
Precificação e Mercado
de carbono
Os mercados podem ser incentivados por políticas públicas ou decisões privadas com objetivo
de reduzir as emissões de CO2. De acordo com Godoy e Saes (2015, p.144) mercados são “... conjunto
de várias transações, por meio do qual os volumes de redução de emissões de GEE são negocia-
dos...” e possuem dois tipos principais; cap-and-trade com o comércio de licenças para emissões e
o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) resultante de projetos com objetivo de redução de
emissões. Os dois tipos de mercado utilizam ferramentas econômicas como tentativa de resolver
problemas ambientais.
Em sentindo oposto estão as políticas fiscais para regular as emissões. Os tributos são uma
possibilidade de precificar o carbono e atingir objetivos de mitigação de emissões de forma mais efi-
ciente, onde o órgão público competente atribui o preço por tonelada emitida (tCO2). A implantação
de um tributo tem objetivos fiscais (arrecadatórios) podendo ser direcionados para fins específicos
como o financiamento de política de baixo carbono, para setores que poluem mais e baseia-se no
Princípio do Poluidor Pagador (PPP), estabelecido nos Princípios Relacionados aos Aspectos Econô-
micos Internacionais das Políticas Ambientais da Organização para a Cooperação e Desenvolvimen-
to Econômico (OCDE) publica em 1972, estabelecendo critérios como o uso racional dos recursos
naturais, diminuição das distorções do mercado e aproveitar da melhor maneira os custos de medi-
das de prevenção e poluição.

5.1 Oferta e demanda de créditos


O Protocolo de Quioto estabeleceu as bases para o mercado de crédito de carbono com três
mecanismos: comércio de emissões, implementação conjunta e MDL, sendo os dois primeiros ex-
clusivos de países com metas obrigatórias de redução, o que não é o caso do Brasil que se beneficia
do MDL recebendo recursos para fomentar o desenvolvimento sustentável. Ainda em 2000 foi lan-
çado o Fundo Protótipo de Carbono, convênio entre empresas e governos, gerenciado pelo Banco
Mundial, tinha por objetivo unir o dinheiro de participantes e projetos de MDL, criando um mercado
de carbono com uma commoditie definida e comercializável com objetivo de reduzir as emissões de
GEE.
A entrada de algumas empresas e governos que se interessaram por projetos de MDL trouxe
credibilidade ao mercado de carbono e potencializaram outras negociações.
As empresas que diminuem suas emissões de GEE recebem créditos que podem ser negociados
no mercado financeiro e geralmente são comprados por outras empresas no exterior que não con-
seguiram cumprir suas metas de redução de emissões de GEE.
O mercado de créditos de carbono se correlaciona ao Princípio do Poluidor Pagador (PPP). O
comércio mundial de compra e venda de créditos de carbono é baseado no mercado cap-and-trade,
que cria limites de emissões para determinado setor ou grupo. Por exemplo, um país permite às
empresas a emissão de determinada quantidade de GEE. Caso algumas das empresas emitirem GEE

45
abaixo ou no mesmo nível do que foi acordado, o país pode vender os créditos de carbono sobres-
salentes desta emissão.
De outro modo, caso o país não cumpra sua meta, ele pode comprar créditos de outros países.
Esse mecanismo foi adotado, por exemplo, pela Alemanha e Noruega, para financiar o Fundo Ama-
zônia no Brasil, um MDL realizado em país em desenvolvimento.
O setor de energia é o que mais emite carbono, seja através da indústria ou dos combustíveis
utilizados nos automóveis. Há concentração de consumo de energia nos países desenvolvidos, que
já possuem suas plantas industriais consolidadas e grande frota de automóveis, predominando,
desta forma, ainda, o transporte individual.
Países em desenvolvimento como China e Índia tem maior contribuição nas emissões do que o
Brasil, por exemplo, onde se concentra emissões provenientes da mudança no uso e cobertura da
terra. Neste ponto, o Brasil se coloca como um ator importante no cenário mundial, com biodiversi-
dade singular, o país tem potencial de captação de recursos provenientes do MDL. Enquanto países
desenvolvidos buscam, no cenário mundial, países e/ou governos para comprar carbono.

5.2 Plataforma de registro de créditos e entrega/apo-


sentadoria
A viabilidade financeira do mercado de carbono ainda é discutida, por ser relativamente novo.
Entretanto, devido às mudanças climáticas proporcionarem consequências ambientais e sociais, são
necessários mecanismos para mitigar sua ocorrência. Neste ponto, os mercados de carbono são
uma resposta econômica.
O Protocolo de Quioto estabeleceu que as Certificações de Emissões Reduzidas (CERs) serão uti-
lizadas pelos agentes econômicos de países desenvolvidos para atingir suas metas de emissões. As
CERs são emitidas por um conselho executivo e devem ser creditadas às empresas, após constata-
ção de que, efetivamente, reduziram suas emissões. Com os CERs, se estabeleceu um novo mercado
onde são comercializados créditos de carbono.
No Brasil é proposto o Mercado Brasileiro de Reduções de Emissões (MBRE) regulamentado
pelo projeto de lei (PL) 528/2021 que corresponde a regulamentos, sistema de registro de projetos
que tem por objetivo estimular o desenvolvimento de projetos de MDL, regular o comércio de cré-
ditos de carbono, viabilizando assim as negociações do mercado de carbono. O PL fornece as bases
jurídicas para um mercado voluntário de carbono, fomentando negociações de empresas e gover-
nos que não possuem metas obrigatórias de redução de GEE.
Entre os objetivos do MBRE está o aproveitamento do potencial do país em desenvolver projetos
para reduzir e remover emissões de GEE com credibilidade para atrair capital estrangeiro.
A Bolsa do Clima de Chicago (Chicago Climate Exchange - CCX) foi a primeira bolsa do mundo,
sendo um mercado voluntário de negociações de emissões de carbono. Fundada no início dos anos
2000 ela se constitui como um mercado privado de carbono até novembro de 2010, quando deixou
de comercializar créditos de carbono.
O primeiro sistema internacional de comércio foi criado pela União Europeia em 2005. O Sis-
tema de Comércio de Emissões da União Europeia (EU Emissions Trading System - EU ETS) integra a
política do bloco no combate às mudanças climáticas, sendo o principal instrumento para reduzir as
emissões de GEE de maneira rentável.
Diferente da CCX, o EU ETS é obrigatório para empresas de setores que emitem:

46
dióxido de carbono, como exemplo, indústrias das áreas de energia, petróleo, siderúrgia,
celulose, aviação comercial;

óxido nitroso resultante da produção de ácido nítrico;

perfuorocarbonos (PFCs) da produção de alumínio.

Após várias negociações, o EU ETS passou para a quarta fase (2021-2030), mantendo o alinha-
mento com os objetivos da política climática da UE. A revisão da EU ETS tem por objetivo aumentar
o padrão de redução de emissões de GEE para 2,2% a partir de 2021.
No âmbito privado a WCI Inc (Western Climate Initiative), criada em 2011, desenvolve soluções
que apoiam programas de comércio de emissões de GEE. Entre seus serviços estão o registro e mo-
nitoramento de mercado de emissões de GEE, com possibilidade de registro de créditos de carbono.
Aqui no Brasil, a empresa BlockC, concebeu uma plataforma de descarbonização para empre-
sas. Entre suas soluções está o financiamento sustentável, papéis que uma organização pública ou
privada pode emitir ao mercado para captar recursos que estão vinculados a atividade econômicas
que reduzem ou evitam emissões de GEE.

5.3 Evolução dos preços


A evolução dos preços no mercado de carbono pode ser consultada em diferentes empresas
que negociam os créditos no mercado. Há também o painel de precificação de carbono do Banco
Mundial115, uma plataforma interativa com informações atualizadas de iniciativas de precificação de
carbono existentes no mundo, baseada em dados dos relatórios State and Trends of Carbon Pricing.
Em 2022 há 68 iniciativas de mercado de carbono implementadas ao redor do mundo (Figura
39):

Figura 39: Iniciativas de mercados de carbono em 2022. Fonte: Painel de precificação do carbono do Banco Mundial.

11 https://carbonpricingdashboard.worldbank.org/map_data

47
Os mercados de carbono se concentram no Hemisfério Norte, 58 no total e apenas 10 locali-
zam-se no Hemisfério Sul, onde se concentram as florestas tropicais, amplamente conhecidas como
importantes sumidouros de carbono e também os mercados voluntários.
A iniciativa mais antiga é a Finland carbon tax de 1990. Na Figura 40 são apresentadas as inicia-
tivas criadas no período 1990-2022, divididas por períodos de 10 anos.

Figura 40: Iniciativas de mercados de carbono criados ao longo do tempo.


Fonte: Painel de precificação do carbono do Banco Mundial

O período 2010-2019 registrou o maior número de novos mercados de carbono ao redor do


mundo, com a criação de 39. Esse período marca os 20 anos da assinatura do Protocolo de Quioto,
onde compromissos assumidos pelas nações deveriam entrar em vigor no período de 2008 a 2012.
Já no período de 2013 a 2020 deveriam ser cumpridas as metas de redução de GEE em até 18% aos
níveis registrados em 1990.
O preço médio do carbono de 1990 a 2022 de acordo com dados do Banco Mundial, pode ser
conferido na Figura 41:

Figura 41: Preço médio do carbono.Fonte: Painel de precificação do carbono do Banco Mundial

Observa-se uma tendência de aumento do preço médio de US$20 no início da década de 1990
para US$28 em 2022.

48
5.4 Tendências de novos mercados de carbono
A sociedade está sentindo os efeitos das mudanças climáticas cada vez mais rápido. As nações
ainda precisam alcançar seus objetivos e metas de redução de GEE para limitar o aquecimento glo-
bal em 1,5 °C.
O preço do carbono é um mecanismos que pode auxiliar às promessas políticas de limitar o
aquecimento global, além de melhorar a eficiência energética, fornecer uma nova fonte de receita
para governos, favorecer a ocorrência de um ar mais limpo.
Ainda há muitos desafios para implementação de um mercado de carbono que favoreça a con-
cepção de ações governamentais que revertam os beneficios do mercado de carbono para a socie-
dade e política climática.
Para tanto diferentes abordagens devem ser utilizadas no futuro, com objetivo de integrar paí-
ses em ações mais efetivas no combate às mudanças climáticas. Por exemplo, a abordagem trans-
fronteiriça aproximando países na adoção de mercados comuns como a iniciativa Carbon Border
Adjustment Mechanism na União Europeia, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização
Mundial do Comércio (OMC) que defendem a adoção de uma política internacional de piso de preços
do carbono.
Os mercados de créditos de carbono estão em crescimento, movimentando o mercado volun-
tário que atingiu, pela primeira vez, US$1 bilhão em negociações impulsionadas por compromissos
corporativos. Neste contexto, novos serviços financeiros, tecnologias e governança tem grande po-
tencial para transformar o mercado de carbono, por exemplo, o uso de blockchain possibilitando a
descentralização da atividade financeira pela inovação tecnológica, novas estruturas de governança
que fornecem maior credibilidade sobre as instituições envolvidas nas negociações.

49
5.5 Referências Bibliográficas
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