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SERVIÇO DE CARDIOLOGIA VETERINÁRIA: CASUÍSTICA DO

ECODOPPLERCARDIOGRAMA

BITTAR, Isabela Plazza1; JUNIOR, Marcelo Borges dos Santos2; MOTA,


Adelly Caroline3; BRASIL, Renata Carolina de Oliveira Lopes4; OLIVEIRA, Patrícia
Nunes5; SOUZA, Moisés Caetano6; NASCIUTTI, Priscilla Regina7; TORRES, Andréa
Cintra Bastos8; CARVALHO, Rosângela de Oliveira Alves9

Palavras chaves: ecocardiografia, cães, cardiopatia.

Justificativa

A ecodopplercardiografia é uma técnica ultrassonográfica cada vez mais utilizada na


medicina veterinária. Por meio dela o médico veterinário é capaz de realizar uma
avaliação morfofuncional do coração e estruturas adjacentes, de maneira dinâmica e
não invasiva (MUZZI et al.,2000; WARE, 2007; CASTRO et al., 2009).

As imagens são obtidas basicamente por três modos: o modo bidimensional; o modo
M ou Movimento; e modo Doppler, que permite avaliar a direção e velocidade do
fluxo sanguíneo (BOON, 2011).

A avaliação ecocardiográfica torna possível o diagnóstico mais preciso de várias


alterações cardíacas, como degenerações valvares, shunts cardíacos, massas
cardíacas ou torácicas, efusões pleurais e pericárdicas, doenças miocárdicas, lesões
estenóticas, bem como alterações hemodinâmicas. Portanto, fornece ao clínico
veterinário informações importantes quanto ao diagnóstico permitindo a instituição
da terapêutica mais adequada a cada paciente (BOON, 2011).

Em virtude destas características, o exame ecodopplercardiográfico foi instituído


como exame complementar na rotina de atendimentos do Serviço de Cardiologia
Veterinária da EVZ/UFG a fim de incrementar a qualidade do atendimento aos
pacientes do Hospital Veterinário.

* Resumo revisado por: Profª. Drª. Rosângela de Oliveira Alves Carvalho. Serviço de
Cardiologia Veterinária EV-39.
1 Universidade Federal de Goiás – e-mail: ipbittar@gmail.com
Objetivos

Este trabalho tem como escopo quantificar e apresentar a casuística dos exames
ecodopplercardiográficos realizados pelo Serviço de Cardiologia Veterinária do
Hospital Veterinário da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal
de Goiás (HV/EVZ/UFG), durante o ano de 2011, identificando os parâmetros
relacionados à raça, idade, sexo, motivo da solicitação do exame e diagnóstico.

Metodologia

Foram acessados laudos ecodopplercardiográficos do Serviço de Cardiologia do


HV/EVZ/UFG, realizados no ano de 2011. Foram analisados os seguintes dados:
número de animais atendidos, raça, sexo, idade, motivo da solicitação do exame e
diagnóstico. Os animais atendidos foram encaminhados pelos diversos setores de
atendimento do Hospital Veterinário e de clínicas particulares de Goiânia e cidades
circunvizinhas.

Para a obtenção do ecodopplercardiograma foi utilizado aparelho MyLab30Vet-Pie


Medical e trandutor phased array de 5,0-7,5 MHz. A avaliação qualitativa do coração
foi obtida pelo modo bidimensional, fornecendo informações quanto ao movimento,
anatomia cardíaca e relação espacial, bem como servindo de orientação para as
imagens em modo-M, por meio do qual foi realizada análise quantitativa, em sístole
e diástole, das dimensões das câmaras cardíacas, permitindo, assim, cálculos de
índices funcionais como a fração de encurtamento, fração de ejeção, índice cardíaco
e débito cardíaco. Por meio do modo Doppler, foram identificados os fluxos
sanguíneos no coração e nos grandes vasos quantificando-os quanto à direção,
velocidade e turbulência, estabelecendo a presença ou ausência de insuficiência
valvar decorrente de regurgitações.

Resultados e Discussão

No ano de 2011 foram realizados 129 ecodopplercardiogramas em pacientes


atendidos pelo Serviço de Cardiologia Veterinária do HV/UFG. Destes, apenas três
pertenciam ao Setor de Grandes Animais, sendo dois da espécie equina e um da
bovina.

Para este estudo, em virtude dos parâmetros a serem avaliados, foram selecionados
83 laudos provenientes de 80 pacientes da espécie canina, sendo 43 fêmeas
(53,75%) e 37 machos (46,25%), de 15 diferentes raças, além daqueles sem raça
definida (SRD); e três pacientes da espécie felina, sendo fêmeas de raças distintas.

Dos 80 cães estudados, 53 (66,25%) apresentaram alguma alteração cardíaca no


exame ecodopplercardiográfico, enquanto 27 (33,75%) foram considerados normais,
diferentemente da frequência de 12,2% normais e 87,8% alterados observada por
Castro et al. (2009). O mesmo autor, em estudo retrospectivo semelhante,
contabilizou uma prevalência maior de machos (54,3%) entre os pacientes caninos,
semelhante ao observado em nosso levantamento onde fêmeas caninas
representaram 48,07%, e machos 51,93%.

A fim de categorizar a faixa etária dos pacientes atendidos, foi calculada a média de
idade destes animais sendo 9,45 anos para a espécie canina e 7,66 anos para
espécie felina. Este levantamento possibilitou a observação de que a maioria dos
animais encaminhados para o exame ecodopplercardiográfico eram idosos, e isso
pode ser explicado pelo fato de que a maioria das cardiopatias diagnosticadas por
meio deste exame é de caráter degenerativo e acometem, portanto, cães de idades
mais avançadas, como já relatado por CHAMAS et al., (2011) e CHETBOUL &
TISSIER (2012).

Dentre as 15 diferentes raças de cães atendidas, a Poodle foi a mais presente,


representando aproximadamente 28,75% do total de exames realizados, seguida por
cães SRD (16,25%) e pacientes da raça Pinscher (8,75%). Todos os cães da raça
Poodle apresentaram cardiopatia valvar adquirida, o que assemelha-se ao relatado
por YAMATO et al. (2006) que afirmam que os cães da raça poodle são
frequentemente acometidos por cardiopatias, principalmente as degenerativas,
sendo a endocardiose valvar a principal delas.

Dentre os motivos de solicitação do exame ecodopplercardiográfico estão: avaliação


cardíaca de rotina (39,75%), sopro cardíaco identificado à auscultação (26,61%),
avaliação pré-anestésica (20,48%), tosse (4,82%), síncope (3,62%), dispnéia (2,4%)
e efusão pleural e pericárdica (2,4%). Castro et al. (2009) encontraram uma
porcentagem semelhante em seu estudo, contudo observou apenas 4% de animais
cujo motivo de realização do exame era a avaliação pré-anestésica.

Os diagnósticos encontrados foram: endocardiose valvar mitral e tricúspide


(25,30%), endocardiose valvar mitral (14,46%), cardiopatias congênitas (9,64%),
cardiomiopatia dilatada (4,82%), efusão pleural/ pericárdica (4,82%), insuficiência
valvar fisiológica, em virtude de anemia (3,61%), insuficiência aórtica (2,4%),
neoplasia (1,21%) e hipertensão pulmonar (1,21%). Além destes, 32,53% não
apresentaram alterações dignas de nota. É importante relatar que alguns animais
apresentaram mais de uma alteração cardíaca ao exame.

A endocardiose valvar mitral é a doença cardíaca adquirida mais comum entre os


cães, acometendo principalmente cães de pequeno porte, sua prevalência é de 14-
40% e chega até 80% quando se trata de cães idosos, como observado no presente
levantamento (CASTRO et al., 2009; CHAMAS et al., 2011; CHETBOUL & TISSIER,
2012). Já as cardiopatias congênitas são raras, com prevalência em torno de 0,8%,
sendo as enfermidades mais diagnosticadas nos animais com menos de um ano de
idade (SILVA FILHO et al., 2011). Essas informações foram semelhantes às
encontradas em nosso levantamento.

Os três felinos foram representados pelas raças Siamês, Persa e SRD, todos com
suspeita de Cardiomiopatia Hipertrófica Felina (CMH). Dentre estes pacientes, dois
apresentaram confirmação diagnóstica para a doença (66,66%). A CMH é a doença
cardíaca de ocorrência mais comum nos felinos e geralmente acometem animais de
meia-idade (NELSON & COUTO, 2010). os dois pacientes apresentavam 9 e 10
anos.

Conclusões

A realização deste levantamento permitiu concluir que o exame


ecodopplercardiográfico é uma importante ferramenta para o diagnóstico definitivo
em pacientes com suspeita de cardiopatia, auxiliando o clínico quanto ao diagnóstico
diferencial entre as cardiopatias e outras doenças, alicerçando a escolha do
tratamento mais adequado a cada paciente.
Além disso, deve-se destacar que a demanda pela realização deste exame tem
aumentado, tornando-o parte essencial da rotina do Serviço de Cardiologia
Veterinária, permitindo oferecer à comunidade que procura os serviços do Hospital
Veterinário da UFG, atendimento de melhor qualidade a seus animais de estimação,
contribuindo para a longevidade e qualidade de vida dos mesmos.

Referências bibliográficas

BOON, J. A. Veterinary echocardiography. 2nd ed. West Sussex: Wiley Blackwell, 2011.
632p.
CASTRO, M. G.; VEADO, J. C. C.; SILVA, E. F.; ARAÚJO, R. B. Estudo retrospectivo
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CHAMAS, P. P. C.; SALDANHA, I. R. R.; COSTA, R. L. O. Prevalência da doença
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YAMATO, Y. J.; LARSSON, M. H. M. A.; MIRANDOLA, R. M. S.; PEREIRA, G. G.; YAMAKI,
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WARE, W. A. Cardiovascular disease in small animal medicine. London: Manson
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