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Evento: XXIX Seminário de Iniciação Científica

AFECÇÕES CIRÚRGICAS EM MEMBROS DE CÃES - ESTUDO


RETROSPECTIVO NO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIJUÍ1
SURGICAL AFFECTIONS ON MEMBERS OF DOGS - RETROSPECTIVE STUDY AT THE UNIJUÍ
VETERINARY HOSPITAL

Thayná de Souza Martins2, Gabriele Maria Callegaro Serafini3, Thalia Chitolina4

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Projeto de pesquisa desenvolvido no curso de Medicina Veterinária da Unijuí
2
Bolsista PIBIC/UNIJUÍ; estudante do curso de Medicina Veterinária; thayna.martins@sou.unijui.edu.br
3
Professora orientadora; UNIJUÍ; gabriele.serafini@unijui.edu.br
4
Médica Veterinária aluna do programa de aprimoramento integrado em medicina veterinária; UNIJUÍ;
thalia_chitolina@hotmail.com

RESUMO
O objetivo deste estudo foi caracterizar as afecções cirúrgicas ortopédicas do esqueleto
apendicular de cães atendidos no Hospital Veterinário da Unijuí, em Ijuí (Rio Grande do Sul –
Brasil). Durante um período de oito anos, foram registradas 507 cirurgias ortopédicas em 401
cães. Dentre as enfermidades, 60% foram fraturas (n=304) e 21,7% luxações (n=110) como as
mais frequentes. Com menor prevalência observou-se, ruptura de ligamento cruzado (7,1%;
n=36), neoplasia (2%; n=10), necrose asséptica da cabeça do fêmur (1,4%; n=7), displasia
coxofemoral (0,6%; n=3), ruptura de tendão calcâneo (0,4%; n=2), avulsão do plexo braquial
(0,2%; n=1) e em 6,7% (n=34) dos registros não foram informados os dados necessários. As
fêmeas caninas (51%; n=206), sem raça definida (40,1%; n=161), com idade até três anos
(26,4%; n= 106), com peso até 20kg (82,3%; n=330), foram as mais acometidas e os
atropelamentos como causa mais prevalente (35,9%; n=144).

Palavras-chave: Afecções. Ortopedia. Cirurgia. Cães.

INTRODUÇÃO
Afecções ortopédicas em pequenos animais são frequentes, principalmente aquelas
causadas por lesões traumáticas (BEN ALI, 2013). Tais enfermidades podem ser constituídas
por fraturas, lesões em músculos e tendões, doenças articulares como displasias, luxações e
rupturas, alterações metabólicas e até mesmo doenças de origem infecciosa ou neoplásica

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(PIERMATTEI; FLO; DECAMP, 2009). Dessa forma, é indispensável o entendimento da
fisiologia das lesões ortopédicas e anatomia apendicular, para realização de diagnósticos e
emprego de condutas corretas, visando um prognóstico favorável ao paciente (KEMPER;
DIAMANTE, 2010).
Para constatar qual o perfil epidemiológico das afecções cirúrgicas de uma região é
importante a realização de estudos sobre a casuística de procedimentos em hospitais
veterinários, porém dados relacionados a espécie, raça, sexo e afecção, são pouco encontrados
(CRUZ-PINTO et al., 2015). Portanto, esse estudo tem como objetivo determinar a prevalência
de afecções cirúrgicas ortopédicas em membros que ocorreram em cães, no período de abril de
2013 a abril de 2021 no Hospital Veterinário da Unijuí.

METODOLOGIA
Avaliaram-se todos os registros de cirurgias ortopédicas do sistema apendicular
realizadas em cães no Hospital Veterinário da Unijuí no período entre abril de 2013 a abril de
2021. Dessa forma, foram contabilizadas quantas cirurgias ortopédicas foram realizadas nesse
período, qual enfermidade que levou ao procedimento, a localização (estrutura anatômica
afetada), etiologia e caracterização da população (raça, idade, sexo e peso).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em oito anos, no Hospital Veterinário da Unijuí, foram realizadas 507 cirurgias
ortopédicas do esqueleto apendicular em 401 cães. O fato de que alguns animais apresentaram
mais de uma enfermidade cirúrgica, justifica o número superior de procedimentos cirúrgicos
em comparação ao número de cães.
Entre os 401 cães, observou-se que 51% eram fêmeas (n=206), e 49% eram machos
(n=195). Diferindo do estudo de Souza et al. (2011), em que estatisticamente os machos (54,2%;
n=154) foram mais afetados que as fêmeas (45,8%; n=130).
Com relação à faixa etária, a idade dos cães variou entre dois dias de vida a 16 anos,
sendo que as maiores incidências foram entre os cães com um ano de idade (10,7%; n=43),
seguidos de 8,2% com dois anos (n=33) e 7,5% com três anos (n=30). Porém, a manifestação e
gravidade da doença determina a identificação da afecção e a percepção do tutor, assim como
o método diagnóstico, podendo variar de animal para animal (FOSSUM, 2014).

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Os cães mais afetados não possuíam raça indefinida (40,1%; n=161), seguidos por cães
da raça Pinscher (8,5%; n=34), Poodle (7,0%; n=28), Yorkshire (5,7%; n=23) e Collie (5,0%;
n=20). As demais raças somaram 33,7% (n=135). No estudo retrospectivo de Libardoni et al.
(2014) a maioria dos cães analisados também não tinha raça definida (46,76%; n=130).
A maioria das enfermidades ortopédicas foram decorrentes de atropelamentos (35,9%;
n=144), seguidas de quedas (10,5%; n=42), traumas (6,7%; n=27), assim como interação animal
(6,7%; n=27), neoplasias ósseas (1,5%; n=6), causas congênitas (5,0%; n=20), armas de fogo
(0,5%; n=2) e 33,2% não tinham causa informada (n=133). Dados que tem relação a grande
casuística de cães errantes, que são mais predispostos a traumas, pois perambulam pelas ruas
(SOUZA et al., 2011; LIBARDONI et al., 2014).
No que diz respeito ao peso, sabe-se que cães quando pequenos e com baixa cobertura
muscular nos membros, têm mais predisposição a fraturas apendiculares (PIERMATTEI; FLO;
DECAMP, 2009). Nesse estudo os cães foram agrupados em até 20kg e superior a 20 kg, sendo
a maior prevalência nos cães com até 20kg (82,3%; n=330).
Referente às afecções, 60% foram fraturas (n=304) e 21,7% luxações (n=110), assim
como no estudo de Libardoni et al. (2016), que dentre as afecções ortopédicas nos cães
avaliados, as fraturas também foram prevalentes (79,58%; n=955). Com menor prevalência,
observou-se a ruptura de ligamento cruzado (7,1%; n=36), neoplasia (2%; n=10), necrose
asséptica da cabeça do fêmur (1,4%; n=7), displasia coxofemoral (0,6%; n=3), ruptura de
tendão calcâneo (0,4%; n=2), avulsão do plexo braquial (0,2%; n=1) e em 6,7% (n=34) dos
registros, não foram informados os dados necessários.
Com relação às fraturas, nos membros pélvicos destacaram-se as fraturas de fêmur
(29,6%; n=90), seguidas das fraturas de tíbia e fíbula (21,4%; n=65), assim como Vidane et al.
(2014) afirmam em seus estudos, que o fêmur é o osso mais afetado, seguido por tíbia e fíbula.
Já nos membros torácicos, as fraturas de rádio e ulna foram prevalentes (18,4%; n=56), pois
são ossos predispostos por serem longos e com baixa cobertura muscular (PIERMATTEI; FLO;
DECAMP, 2009), seguidas das fraturas de úmero (11,2%; n=34), osso considerado menos
predisposto pois localiza-se próximo ao tronco (LIBARDONI et al, 2016).
As fraturas de escápula são incomuns, devido a proteção proporcionada pela
musculatura que envolve o osso, no caso de lesões diretas (FOSSUM, 2014), ao contrário dos
ossos longos que possuem baixa cobertura muscular, assim como os ossos distais de membros

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que são menos predispostos, pois são pequenos e compactos (PIERMATTEI; FLO; DECAMP,
2009). Tais afirmações condizem com os resultados obtidos neste estudo, em que dentre as
fraturas menos frequentes, estão as de metacarpo e metatarso (5,3%; n= 16), de escápula (1%;
n=3), de carpo e tarso (1%; n=3), de falange distal (0,3%; n=1) e de pelve (11,8%; n=36).
As luxações ou subluxações podem ocorrer a partir de traumatismos, processos
degenerativos ou desenvolvimento anormal de estruturas anatômicas (FOSSUM, 2014). Dentre
as luxações, a mais prevalente foi a de patela (42%; n=46), seguida por luxação coxofemoral
(37%; n=41), luxação de carpo e tarso (11%; n=12), luxação sacro-ilíaca (6%; n=7), luxação de
cotovelo (3%; n=3) e luxação de processo ungueal (1%; n=1).
Sabe-se que uma articulação estável e saudável está diretamente ligada a vários órgãos
e estruturas, como tendões, músculos e ossos, sendo que o suporte do membro é obtido através
dos tendões e ligamentos envolvidos. Portanto, a realização de cirurgias para tratamento de
certas afecções ortopédicas é fundamental (FOSSUM, 2014).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluiu-se que na população de cães estudada, as fraturas foram as afecções
ortopédicas que mais ocorreram, sendo que o fêmur foi o osso com registro de maior
prevalência. As fêmeas, sem raça definida, com idade igual ou inferior a três anos, com peso
igual ou inferior a 20kg, foram as mais acometidas e atropelamentos foram as causas mais
prevalentes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Retropective Study (2005-2010). International Scholarly and Scientific Research &
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4
KEMPER, B.; DIAMANTE, G. A. C. Estudo Retrospectivo das Fraturas do Esqueleto
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LIBARDONI, R. N.; SERAFINI, G. M. C.; OLIVEIRA, C.; SCHIMITES, P. I.; CHAVES, R.


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LIBARDONI, R. N.; SERAFINI, G. M. C.; SCHIMITES, P.; GRANJA, B. M.; BAUMER, S.;
CORADINI, G. P.; CORRÊA, L. F. D.; RAISER, A. G.; SOARES, A.V. Doenças ortopédicas
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