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TÉTANO EM EQUINOS: ESTUDO DE CINCO CASOS

ATENDIDOS PELO HOSPITAL VETERINÁRIO DA


UNILEÃO.

PEDRO ARAUJO MARCO1


1
Centro Universitário Dr. Leão Sampaio. E-mail:
pedroamarco.medvet@gmail.com
RÊNNYA MARIA MATOS LINS2
2
Centro Universitário Dr. Leão Sampaio. E-mail: mariarennya@gmail.com
ANTONIO GABRIEL LOURENÇO RODRIGUES3
3
Centro Universitário Dr. Leão Sampaio. E-mail:
gabrielrodrigue432@gmail.com
BRENO PINHEIRO CLEMENTINO BITU4
4
Centro Universitário Dr. Leão Sampaio. E-mail: brenobitu52@gmail.com
DAIANA DA SILVA SANTOS5
5
Centro Universitário Dr. Leão Sampaio. E-mail:
daianapetclinic@gmail.com
DANIELE FRUTUOSO LEAL DA COSTA6
6
Centro Universitário Dr. Leão Sampaio. E-mail:
Danielecosta@leaosampaio.edu.br

PALAVRAS-CHAVE: Clostridium tetani. Sinais clínicos. Letalidade.


Profilaxia.

INTRODUÇÃO
No Brasil, a equinocultura movimenta, anualmente, R$ 16,15 bilhões e
é responsável por três milhões de postos de trabalho, o que dimensiona a
importância econômica e social deste segmento no país. Essa criação ganha
enorme interesse, visto que o cavalo pode ser utilizado em diversas
atividades, como tração e transporte, em segurança pública e até no
tratamento de doenças humanas. Nesse cenário, há, inclusive, um programa
específico para prevenir, controlar ou erradicar doenças em equinos - o
Programa Nacional de Sanidade dos Equídeos - PNSE (MAPA, 2016).
Tétano é uma doença tóxico infecciosa, de caráter agudo, não-
contagiosa, que acomete os animais através de toxinas específicas
produzidas pelo Clostridium tetani, microrganismo de distribuição mundial,
gram-positivo, de origem telúrica, podendo ser observado sob a forma
vegetativa ou esporulada, dependendo das condições de tensão de oxigênio
(SANTOS et al., 2007), sendo de grande relevância na clínica veterinária
em decorrência da elevada taxa de letalidade e do longo período de
convalescença (PEREIRA et al., 2019).
O tétano é causado pela neurotoxina tetanoespasmina, produzida pela
forma vegetativa do Clostridium tetani, que se implanta em ferimentos com
condições anaeróbicas adequadas para sua multiplicação e, portanto, para a
elaboração da toxina responsável pelas manifestações clínicas da doença. Os
esporos do C. tetani são extremamente resistentes, permanecendo viáveis ao
sol por 12 dias e por muitos anos à sombra (SOUZA, 2021). A
tetanospasmina é a toxina neurogênica, que depois de produzida, difunde-se
pela circulação sanguínea até os nervos periféricos (LIMA et al., 2013).
Os surtos são relacionados com higiene precária de instalações e
utensílios utilizados no manejo dos animais (ZAPPA; FRANCISCO, 2013)
sendo que solos contaminados por matérias fecais e regiões mais quentes
são mais propícios aos esporos de C. tetani, e tal ocorrência também está
associada a algumas práticas de manejo, tais como castrações, colocação de
brincos ou vacinações (PEDROSO et al., 2012).
Produzem clinicamente sinais de hiperestesia, tetania, convulsões,
posição de cavalete com rigidez dos quatro membros, dilatação das narinas,
sialorréia e protusão da terceira pálpebra (THOMASSIAN, 2005).
O diagnóstico pode ser confirmado pela demonstração da toxina em
tecidos e líquidos animais, para tanto utiliza-se o soro de animais afetados
em estágios iniciais da doença. Tal prática não é muito utilizada
(RAYMUNDO, 2010). É baseado em sinais clínicos característicos, bem
como no histórico de trauma, tosquia, castração ou qualquer outro manejo
que sirva como porta de entrada para o agente, não havendo qualquer
dificuldade em diferenciá-la de outros estados tetaniformes (ZAPPA;
FRANCISCO, 2021).
A eficiência do tratamento consiste na eliminação da bactéria causadora
do tétano, neutralizar a toxina residual, controlar os espasmos musculares,
curativos de feridas se presente, manter a alimentação, hidratação e também
fornecer tratamento suporte como baias com cama alta, ausência de barulho,
e escura (REICHMANN et al., 2008).
Em equinos, a vacinação contra o tétano não é procedimento padrão, o
que eleva a mortalidade para 59% a 80% nos casos de animais acometidos
pela doença. Por essa razão, acredita-se que a profilaxia e a prevenção são
os métodos mais eficazes para se evitar a patologia estudada (PEDROSO et
al., 2012).
Este presente estudo teve como objetivo analisar cinco casos de tétano
em equinos que foram atendidos pelo hospital veterinário da UNILEÃO, no
período 2021 a 2023.

MATERIAIS E MÉTODOS
Os dados utilizados no trabalho foram coletados a partir de registros
referentes aos equinos atendidos com tétano no período entre 2021 e 2023.
Para isso foram analisados cinco prontuários de animais que foram
encaminhados para atendimento no hospital veterinário da
UNILEÃO/Juazeiro do Norte, CE.
Foi realizada uma análise clinico-epidemiológica, buscando avaliar as
formas de contágio, período de incubação, principais sinais clínicos,
evolução da doença durante internamento e mortalidade dos animais
acometidos com tal enfermidade.
Finalizada a coleta, procedeu-se à tabulação dos dados coletados e à
respectiva análise dos mesmos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O período entre o início dos sinais clínicos até o atendimento variou entre
um e oito dias, com maior frequência entre o primeiro e segundo dia após o
aparecimento dos sinais. O período de internação variou de 11 a 35 dias,
com uma média de 22 dias entre internamento e alta ou óbito. Foi observado
que quando o animal é levado ao hospital ao início dos sinais clínicos, o seu
prognóstico se torna mais favorável.
Em 40% dos animais foi observada lesões ambientais pregressas ao
início do aparecimento dos sinais clínicos, com período de incubação
variando de 20 a 25 dias. Os equinos apresentaram como principais
alterações clínicas a rigidez muscular, protrusão da terceira pálpebra, cauda
em bandeira, hipersensibilidade a estímulos externos, sudorese, excitação e
dificuldade de movimentação. Ambos sofreram traumas na região de casco.
Ambos obtiveram cura clínica. Receberam alta médica num período que
variou entre 11 e 22 dias.
Entre os casos, um dos animais atendidos adquiriu a doença
posteriormente a um procedimento cirúrgico (castração), o período entre a
exposição e o aparecimento dos sinais clínicos foi de 16 dias. O animal
apresentou espasticidade dos quatro membros, calda em bandeira, posição
de cavalete, tremores musculares, protrusão de terceira pálpebra,
hipersensibilidade a estímulos externos, excitação, sudorese, aumento de
volume de pescoço e edema na região do saco escrotal como principais
alterações clínicas observadas durante seu tratamento. Animal permaneceu
em internamento durante 35 dias e foi eutanasiado.
Em 40% dos casos não foi observado lesão aparente e os animais não
haviam passado por nenhum procedimento cirúrgico. Um deles havia sido
utilizado para realização de trabalhos dentro da propriedade, porém, sem
nenhum acidente sofrido. O período entre aparecimento dos sinais clínicos
variou de 1 a 3 dias. As principais manifestações clínicas foram posição de
cavalete, dificuldade de locomoção, protrusão de terceira pálpebra, calda em
bandeira, rigidez muscular, excitação, tremores musculares e sudorese.
A variabilidade no período de incubação está intimamente relacionada à
carga infectante bacteriana, ao tempo necessário para o estabelecimento de
anaerobiose e a capacidade toxigênica das linhagens de C. tetani (QUINN et
al., 2005).
A infecção e o surgimento dos sinais clínicos da doença dependem se
uma porta de entrada, como um ferimento, ou contato direto com secreções
de outros animais já infectados (PEREIRA et al., 2019).
A severidade dos sinais clínicos está diretamente relacionada ao tempo
de incubação, sendo assim, quanto menor o período de incubação da
doença, maiores as taxas de letalidade (MEGID et al., 2015).
Dentre os casos estudados, as manifestações clínicas com maior
predominância foram: rigidez muscular em membros (100%), protrusão da
terceira pálpebra (100%), cauda em bandeira (100%), excitação (80,0%),
hipersensibilidade a estímulos externos (60%), tremores musculares (60%) e
sudorese (60%).
Em relação ao sinal clínico de rigidez muscular, Zappa e Francisco
(2021) explicam que a absorção da toxina provoca rigidez muscular
localizada, começando próxima à região da ferida e nos músculos de maior
atividade como o masseter e pescoço; já a rigidez generalizada ocorre
tardiamente, a partir de evidentes espasmos tônicos e hiperestesia.
Embora o prognóstico seja considerado reservado, há variação
conforme o tempo de evolução e intensidade dos sinais clínicos, podendo
levar o animal a óbito em poucos dias devido à paralisia dos músculos
respiratórios (AVANTE et al., 2016).
Em relação ao tratamento, este foi realizado base nos preceitos
fundamentais de terapia da doença, que utiliza soro antitetânico, relaxantes
musculares, antimicrobianos e tratamento suporte (reestabelecer o equilíbrio
hidroeletrolítico e energético). Além disso, foi disponibilizado ambiente
calmo, com pouca luminosidade e com acesso restrito de pessoas, para
evitar qualquer tipo de estresse e garantir condições propícias para a
estabilização do quadro clínico.
A taxa de letalidade dentre os animais utilizados no atual estudo foi de
20%, não foi observado diferença entre a probabilidade de estabilização do
quadro clínico entre fêmeas e machos. No Brasil, letalidade similar de
76,3% foi evidenciada em 76 casos de tétano em equídeos atendidos no
estado do Paraná (REICHMANN et al., 2008).
Métodos de controle e medidas profiláticas tendem a reduzir
significativamente o número de casos clínicos e óbitos, sendo, portanto,
recomendada a adoção de cuidados especiais nas práticas de manejo desses
animais, bem como assistência veterinária e correta imunização (SOUZA,
2021).

CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Os equinos estão dentre as principais espécies acometidas pelo tétano, foi
possível verificar que um rápido atendimento após o início dos sinais
clínicos é de extrema importância para que se consiga a estabilização do
quadro, diminuindo assim, a taxa de mortalidade da doença.
Foi observado um padrão de alguns dos sinais clínicos, independente da
forma de contaminação do animal.
Apesar de ser uma doença imunoprevenível, o tétano ainda é
relativamente comum. Sendo assim, torna-se necessário a adoção de
medidas higiênicas durante o manejo dos animais, bem como a adequação
das instalações, evitando possíveis acidentes sendo de extrema importância
para diminuição dos casos da doença, reduzindo assim, as perdas
econômicas dos produtores, causadas pelo elevado custo de tratamento e
letalidade da doença.

REFERÊNCIAS.
ALMEIDA, A. C. S., RIBEIRO, M. G., PAES, A. C., MEGID, J.,
OLIVEIRA, V. B., & FRANCO, M. M. J. Tétano em pequenos ruminantes:
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1064, 2012.

CDC - Centers for Disease Control and Prevention. Epidemiologia e


Prevenção de Doenças Preveníveis por Vacinas. 2022.

LIMA, J.T.B., PATRÍCIO, L.A.M.M., AMORIM , F.A.F., SANTOS, S.G.,


BAPTISTA FILHO, L.C.F.B., 2013. Tétano em equino - relato de caso,
In: Recife, U.F.d. (Ed.), Jornada de ensino, pesquisa e extensão, Recife.
MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Revisão do
Estudo do Complexo do Agronegócio do Cavalo. Secretaria de
Mobilidade Social, do Produtor Rural e do Cooperativismo. Brasília - DF,
2016.

MEGID, J.; RIBEIRO, M. G.; PAES, A. C. Doenças infecciosas em


animais de produção e de companhia.1 ed. Rio de Janeiro: Roca, 2015.

PAES, A. C. Mormo. In: MEGID, J.; RIBEIRO, M. G.; PAES, A. C. (Eds).


Doenças infecciosas em animais de produção e de companhia. 1.ed. Rio
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PEDROSO, A. C. B. R.; SOUSA, G. C.; NEVES, M. D. Tétano em potro


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cirúrgico de cavalos carroceiros – Hospital Veterinário.

QUINN, P. J., MARKEY, B.K., CARTER, M. E., DONNELLY, W.J. &


LEONARD, F.C. 2005. Microbiologia Veterinária e Doenças Infecciosas.
2ª ed. Artmed, Porto Alegre. 512p

RAYMUNDO, D. L. Estudo comparativo das clostridioses


diagnosticadas no Setor de Patologia da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. 2010.

REICHMANN, P., LISBOA, J. A. N. & ARAÚJO, R. G. 2008. Tetanus in


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SANTOS, J. P; NASCIMENTO, C. R. A; ROLIM, M. B. Q; CAMARGO,


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SOUZA, R. A. P. R. Tétano em equinos: uma revisão narrativa. PhD


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THOMASSIAN, A. Enfermidade dos Cavalos. 4. ed. São Paulo: Livraria


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Revista FAEF.2019.

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