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Archives of Veterinary Science , v 12, n.3. p.

9-20, 2007
Printed in Brazil ISSN 1517-784X

Patologia clínica em aves de produção – Uma ferramenta para


monitorar a sanidade AVÍCOLA – REVISÃO

(Clinical pathology in poultry – A tool to improve poultry health – a review)

SCHMIDT, E. M. S.1; LOCATELLI-DITTRICH, R.2; SANTIN, E.2; PAULILLO, A.C.3

1. Aluna do Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária – Patologia Animal, FCAV – UNESP, Campus
de Jaboticabal. Professora Faculdades Integradas “Espírita”, Curso de Zootecnia. Bolsista CNPq - Brasil
2. Departamento de Medicina Veterinária, UFPR. Curso de Pós-graduação em Ciências Veterinárias –
UFPR, Curitiba.
3. Departamento de Patologia Veterinária, FCAV – UNESP, campus de Jaboticabal

RESUMO – A patologia clínica é usada na medicina ABSTRACT – Clinical pathology has been used
veterinária há muitos anos para avaliar as altera- in veterinary medicine for many years to evaluate
ções metabólicas que possam indicar algum sinal metabolic changes that may indicate any sign of
de doença nos animais. Apesar do uso dos parâ- disease in animals. Even though the use of blood
metros laboratoriais ser rotina em animais de com- parameters is routine in companion animals, it is
panhia, não são comumente utilizados para avalia- not commonly used for avian clinical evaluation
ção clínica de aves selvagens ou de produção. A either wild or production birds. Among others, the
ausência de informações sobre valores sanguíneos lack of information of avian blood reference values
de referência limitou o uso destas ferramentas na has limited the use of this tool in avian medicine.
medicina de aves. Os parâmetros laboratoriais na The blood parameters in avian medicine are helpful
medicina de aves são úteis para avaliar aspectos to evaluate aspects related to animal health for
relacionados à saúde animal. Desta forma, assim wild and also production birds. Thus, this review
esta revisão apresenta formas de utilização da pa- paper presents some ways to use clinical pathology
tologia clínica (hematologia e bioquímica clínica) parameters to evaluate and to monitor the avian
para auxílio na avaliação e monitoramento da saú- health.
de das aves. Key–words: avian blood; hematology; clinical
Palavras-chave: aves; hematologia; bioquímica biochemistry; blood.
clínica; sangue.

1Elizabeth Moreira dos Santos Schmidt Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária – Patologia Animal, FCAV – UNESP, campus
de Jaboticabal. Professora Adjunta Faculdades Integradas “Espírita”, Curso de Zootecnia. Rua Eça de Queiroz, 1205/13A, 80540-140,
Curitiba, PR. (41) 3352-4996; (41) 9644-6994. schmidtbeth@uol.com.br
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SCHIMIDT, E.M.S. et al.

Introdução sobre os valores hematológicos e bioquímicos no


sangue das espécies animais, o que não permite
A clínica e a cirurgia de aves são reconhecida- adequada interpretação dos resultados obtidos
mente uma especialidade na medicina veterinária de (BIRGEL, 1982; KANEKO et al., 1997).
animais selvagens. Os sinais clínicos em aves são Nesta revisão serão abordados os exames hema-
geralmente inespecíficos e a informação obtida pelo tológicos e os exames bioquímicos, de acordo com
exame físico é limitada (LUMEIJ, 1997). o sistema ou órgão, indicações, causas e interpre-
As provas laboratoriais do sangue podem servir tações das alterações dos exames.
como ferramentas importantes para auxiliar no mo-
nitoramento da saúde das aves, no diagnóstico de
doenças e também para avaliação pré-operatória, tra- Colheita de sangue
tamento e das condições de saúde do organismo.
Além da possibilidade de se utilizar as provas Em aves sadias, a quantidade de sangue que
hematológicas e bioquímicas do sangue na clínica pode ser coletada é, em geral o equivalente a 1%
de aves selvagens, há possibilidade se intensificar do peso do animal. Em patos e pombos até 3% do
o uso destas ferramentas no auxílio diagnóstico de peso corporal, 2% em frangos e 1% em corvos e
enfermidades em avicultura, pois, paralelamente ao faisões. Em animais doentes, o máximo que se
crescimento da atividade avícola, ocorreu grande pode coletar, com segurança, é 1% do peso corporal
desenvolvimento dos métodos de diagnóstico e de (LUMEIJ, 1997). Os principais locais de coleta de
profilaxia das enfermidades aviárias. No entanto, as- sangue são: veia jugular, veia ulnar, veia metatársi-
pectos básicos relacionados à fisiologia e avaliações ca medial, seio venoso occipital e punção cardíaca
clínico-laboratoriais são pouco estudados. (LEWANDOSWSKI et al., 1986; FUDGE, 2000a).
O sangue é essencial para manutenção do
equilíbrio de eletrólitos e água, para o controle da
temperatura e para o funcionamento do sistema Hematologia
imunológico, que é o mecanismo de defesa do or-
ganismo (Voigt, 2003). Para o hemograma é necessário obter amostras
Os valores sangüíneos podem ser influenciados de sangue em tubos contendo ácido diaminote-
pelo estado nutricional, sexo, idade, habitat, estação tracético (EDTA) como anticoagulante. A heparina
do ano, estado reprodutivo, trauma, criação e estres- também pode ser utilizada para análises hematoló-
se ambiental (Campbell, 2004; Thrall, 2004). gicas. Visando prevenir a ocorrência de hemólise, a
Por isso é necessário conhecer essas variações no amostra de sangue deve ser homogeneizada e pode
momento de avaliar os parâmetros sanguíneos na ser refrigerada por um tempo máximo de 24 horas.
clínica de aves. Os esfregaços sanguíneos devem ser realizados
A aplicação mais usual da hematologia é para até uma hora após a colheita do sangue. Quando
monitorar a saúde geral do animal e avaliar sua se utiliza heparina, é fundamental que os esfregaços
capacidade para transportar oxigênio e defender- sanguíneos sejam confeccionados no momento da
se contra os agentes infecciosos (Voigt, 2003). A colheita, para evitar alterações na morfologia das
hematologia objetiva estabelecer um diagnóstico, células. (Zinkl, 1986; Kraft, 1998).
definir linhas de ação, orientar no prognóstico e tra- As provas laboratoriais que compõem o hemo-
tamento das doenças. O hemograma é um exame grama das aves são: contagem total de eritrócitos e
laboratorial de rotina que avalia a quantidade e qua- de leucócitos em hemocitômetro de Neubauer com
lidade das células sangüíneas e os trombócitos. Por diluição em azul de toluidina 0,01%, determinação
outro lado, a avaliação bioquímica de alterações dos do hematócrito, pela técnica do microhematócrito
metabólitos do sangue, tais como proteínas, ácido e dosagem da concentração de hemoglobina. A
úrico, colesterol e outros, podem indicar o estado de contagem diferencial de leucócitos é realizada em
funcionamento de órgãos como o fígado, os rins, os esfregaços sangüíneos corados com corante hema-
músculos, entre outros. tológico de Wright. Na contagem são diferenciados
O perfil hematológico e bioquímico do sangue os heterófilos, linfócitos, eosinófilos, monócitos e
é utilizado para acessar o estado fisiológico dos basófilos. Na lâmina do esfregaço deve ser obser-
pacientes (CAMPBELL, 2004). Os exames labora- vada a presença de parasitos intra-eritrocitários ou
toriais do sangue ajudam, muitas vezes, o médico intra-leucocitários, além de alterações tóxicas nos
veterinário a diagnosticar precocemente quadros de leucócitos e também respostas de anemias, como
sintomatologia subclínica. Alguns autores destacam a presença de eritrócitos jovens e policromatofilia,
que o seu pequeno uso na prática veterinária ocorre, e contagem de trombócitos. Os índices hematimé-
em muitos casos, por deficiência de observações tricos volume globular médio (VGM) e concentração

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Patologia Clínica em Aves de Produção – Uma Ferramenta para Monitorar a Sanidade

hemoglobina globular média (CHGM) são obtidos 3.2. Leucograma


pelas fórmulas de Wintrobe (1932).
O número de leucócitos totais e a morfologia
3.1. Eritrograma destas células são estáveis no animal sadio, mas
pode variar de acordo com a idade e o sexo das aves
Os eritrócitos maduros são células ovais ou (SCHMIDT et al., 2006a; Schmidt et al., 2007). O
elípticas com um núcleo central que acompanha leucograma pode sofrer alterações drásticas nas
a forma da célula, coloração púrpura escuro com doenças, permitindo acessar a resposta imunológica
cromatina agrupada e uniforme. O citoplasma é dos animais.
abundante e de coloração róseo-alaranjado uni- Os leucócitos granulócitos são: heterófilos, eo-
forme, semelhante a dos mamíferos (Bounous e sinófilos e basófilos. Os linfócitos e monócitos são
Stedman, 2000). os leucócitos agranulócitos. O heterófilo apresenta
O hematócrito normal das aves varia de 35 a citoplasma sem coloração, com grânulos laranja-
55%. Valores inferiores a 35% indicam anemia e avermelhados ovais ou em forma de fuso e núcleo
superiores a 55% sugerem desidratação ou polici- violeta lobulado. O citoplasma dos eosinófilos é azul
temia (Bounous e Stedman, 2000). O hemató- e contêm grânulos vermelho-alaranjados e redondos,
crito também pode sofrer alterações em relação ao que se coram mais brilhantes ou diferentes dos grâ-
sexo e à idade das aves (Schmidt et al., 2007). nulos dos heterófilos. O núcleo do eosinófilo também
As fêmeas de faisão-de-coleira, papagaio-de-peito- é lobulado e violeta (Bounous e Stedman, 2000;
roxo e de cuiú-cuiú apresentam valores menores Thrall, 2004). O basófilo é levemente menor do
da série vermelha em relação aos machos, pois que o heterófilo e tem o citoplasma sem cor e com
os estrógenos tendem a deprimir a eritropoe- grânulos púrpura escuro. O núcleo do basófilo é
se e os andrógenos promovem o efeito inverso púrpuro e não-lobulado (Dein, 1986; Bounous e
(SCHMIDT et al., 2003; THRALL, 2004; SCHMIDT Stedman, 2000).
et al., 2006a; SCHMIDT et al., 2007). Nas mico- Os linfócitos são células redondas com núcleo
toxicoses, pode ocorrer aumento moderado nos não-lobulado e púrpura escuro com citoplasma
parâmetros eritrocitários devido a hemoconcen- homogêneo azul claro. Os monócitos são os maio-
tração causada pelo estado de desidratação (em res leucócitos encontrados no sangue periférico.
conseqüência da depleção de água do plasma pela Apresentam citoplasma delicadamente granular,
emese e ingestão hídrica insuficiente) (Perozo et abundante e azul-acinzentado, com núcleo púrpura
al., 2003). A anemia é evidenciada pela diminuição (Bounous e Stedman, 2000; Thrall, 2004).
na contagem total de eritrócitos, na diminuição do As causas do aumento do número total de leucó-
hematócrito e das concentrações de hemoglobina. citos (leucocitose), são: infecção geral ou localizada,
Anemias por deficiências já foram registradas em traumas, intoxicação, hemorragia em cavidade,
aves domésticas, mas raramente são reconhecidas neoplasias de crescimento rápido e leucemias. A
em aves selvagens/exóticas de cativeiro, pois o ferro heterofilia ocorre geralmente devido à inflamação. A
está presente nos produtos utilizados para alimen- leucocitose leve a moderada, com heterofilia e linfo-
tação destas aves (Fudge, 2000a). penia indica resposta ao estresse com excesso de
Na anemia severa, a forma do eritrócito pode glicocorticóide endógeno ou exógeno (Dein, 1986;
apresentar alterações, as células aparecendo re- Latimer e Bienzle, 2000; Thrall, 2004).
dondas e com núcleo oval. Isto é sugestivo de uma Os heterófilos segmentados são encontrados
maturação sem sincronia do núcleo da célula e do normalmente na maioria das extensões sanguíneas.
citoplasma, provavelmente devido a eritropoese Os heterófilos imaturos bastonetes são liberados da
acelerada (Dein, 1986; Zinkl, 1986). As principais medula óssea quando ocrre um processo inflama-
causas de anemia nas aves são: traumas, parasi- tório. O aumento no número de heterófilos imaturos
tismo, intoxicações (aflatoxicose, chumbo), sepsis caracteriza o desvio à esquerda O desvio à esquer-
bacteriana (salmonelose), neoplasias e parasitas da ocorre principalmente na infecção bacteriana
de eritrócitos (Plasmodium aegyptianella), imuno- severa, micobacteriose, aspergilose, clamidiose e
mediada, doenças crônicas (Dein, 1986; Fudge, necrose tecidual severa resultante de trauma ou
2000a). A exposição subclínica a aflatoxinas promo- neoplasia. A presença de heterófilos tóxicos sugere
ve perdas na indústria avícola devido à diminuição da toxemia. Quanto maior o grau de toxicidade, pior o
resposta imune e anemia (Perozo et al., 2003). prognóstico (Fudge e Joseph, 2000; Latimer e
Bienzle, 2000).

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Os heterófilos tóxicos com vacuolizações ci- e Bienzle, 2000; Schmidt et al., 2007). As cau-
toplasmática, picnose nuclear, cariólise, basofilia sas de eosinofilia são edema facial e parasitismo.
citoplasmática e alteração dos grânulos citoplas- A eosinopenia está associada a estresse severo e
máticos foram encontrados em casos de alterações administração de corticoesteróides (Bounous e
hepáticas por agente não-infeccioso em codornas Stedman, 2000; Latimer e Bienzle, 2000).
de criação industrial (Locatelli-Dittrich et al., O clínico deve interpretar os dados hematológicos
2000). Perozo et al. (2003) observaram linfopenia para avaliar as possíveis alterações patológicas no
com heterofilia e monocitose em frangos com mi- paciente. Estas alterações patológicas geralmente
cotoxicose. Podem ocorrer, nas aves, distúrbios na não definem o diagnóstico final ou a etiologia. Por
atividade fagocitária dos heterófilos e também inibi- exemplo, a inflamação pode ser confirmada pelos
ção da atividade fagocitária dos monócitos (Chang resultados do hemograma, porém, exames adicio-
e Hamilton, 1979). nais serão necessários para localizar a inflamação
A leucopenia (diminuição número total de leucó- e a sua causa.
citos) corre por depressão da leucopoiese ou por
diminuição dos leucócitos periféricos. A leucopenia 3.3. Trombócitos
com heteropenia ocorre em algumas doenças virais
e infecção bacteriana de grande extensão (septice- Apesar da contagem de trombócitos não ser re-
mia). Quando associada com heterófilos imaturos alizada como rotina, estas células podem participar
sugere exaustão do pool de reserva dos heterófilos de funções de defesa do organismo, além da par-
maduros, devido a grande necessidade (Dein, 1986; ticipação na coagulação sangüínea. São derivados
Bounous e Stedman, 2000; Fudge e Joseph, de uma linhagem distinta de células encontradas no
2000; Latimer e Bienzle, 2000). A vacinação tecido hematopoiético. Os trombócitos apresentam
contra a coccidiose em frangos de corte induz à o citoplasma sem coloração e com grânulos verme-
redução no número total de leucócitos por estimular lhos. O núcleo é púrpura escuro. Os valores normais
uma resposta inflamatória local. A vacinação induz variam entre 20.000 a 30.000/µL ou 10 a 15/1000
a migração dos leucócitos para a mucosa intestinal, eritrócitos (Bounous e Stedman, 2000)
que é o local da infecção vacinal (SCHMIDT et al., A trombocitopenia ocorre em formas pancito-
2006b). pênicas de doenças virais. Alterações no tempo
A heteropenia não é comum nas aves. A linfopenia de coagulação também podem ser observadas em
ocorre em certas doenças virais, mas é pouco docu- aves (Fudge, 2000a) e também quando há grande
mentada nas aves. Ocorre em infecções sistêmicas necessidade periférica de trombócitos ou uma de-
agudas ou estresse severo. A linfocitose aparece pressão da trombopoiese (Dein, 1986).
em condições de estímulo antigênico associado
com infecções crônicas (bacteriana, viral, fúngica 3.4. Hemoparasitos e inclusões celulares
ou parasitária) e também neoplasia linfóide (lin-
fossarcoma ou leucemia linfóide, com até 200.000 As inclusões em leucócitos de aves não são
linfócitos/µL). A presença de linfócitos reativos no comuns, mas quando encontradas fornecem um
esfregaço sangüíneo sugere estímulo antigênico. diagnóstico definitivo. Os exemplos de inclusões são:
A linfocitose fisiológica representa um fenômeno bactéria fagocitada em heterófilos de aves com septi-
transitório nas aves após excitação, medo ou “luta” cemia, Atoxoplasma sp. no citoplasma de monócitos,
durante o procedimento de retirada do sangue Leukocytozoon sp. no citoplasma de eritrócitos ou
(Latimer e Bienzle, 2000). A monocitose geral- leucócitos de aves de rapina e aves aquáticas. Os
mente está associada a doenças crônicas como corpúsculos elementares de Chlamydophilla psittaci
em lesões granulomatosas micóticas e bacterianas, podem ser encontrados no citoplasma dos leucócitos
necrose tecidual inespecífica, aspergilose, dermatite (Latimer e Bienzle, 2000; Fudge e Joseph,
bacteriana crônica, salmonelose, tuberculose, cla- 2000; THRALL, 2004).
midiose ativa ou crônica e por deficiência de zinco Os parasitos de eritrócitos mais comuns são:
na dieta (Dein, 1986; Fudge e Joseph, 2000; Plasmodium sp., que pode provocar mortalidade
Latimer e Bienzle, 2000). No entanto, a mono- principalmente em canários, falcões e pombos. O
citose também é observada nos distúrbios agudos, gênero Haemoproteus sp. tem ampla distribuição
em até 12 horas após a instalação da inflamação. A numa variedade de espécies de aves. A Aegyptianella
monocitopenia não tem importância clínica. sp, uma rickétsia, pode ser observada no interior de
A basofilia ocorre em doenças respiratórias e eritrócitos, no entanto, são poucos os registros da
em lesões teciduais severas. Está associada tam- doença clínica. Nos esfregaços de sangue periférico
bém com estresse e parasitismo interno e externo, podem ser encontradas microfilárias (Fudge,
geralmente acompanhada de eosinofilia (Latimer 2000a).

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Patologia Clínica em Aves de Produção – Uma Ferramenta para Monitorar a Sanidade

Bioquímica Clínica das para provas enzimáticas porque este anticoagu-


lante é quelante de íons que podem ser necessários
para a atividade enzimática (Lumeij, 1997).
4.1. Amostras Apesar da lipemia interferir nas análises, a ob-
tenção de amostras de jejum é tarefa complicada
A maioria das análises bioquímicas é realizada nas aves, pois animais enfermos não devem ser
no plasma ou no soro. Como a coleta de soro das privados de alimentos. Além disso, considerando-
aves freqüentemente resulta numa amostra peque- se a natureza da anatomia e fisiologia digestiva
na, prefere-se o plasma para avaliações de provas destes animais, é difícil a obtenção de um estado
bioquímicas de rotina. A heparina é o anticoagulante de jejum seguro (Campbell, 2004). Os principais
de escolha (Campbell, 2004). Amostras com EDTA exames bioquímicos utilizados para as aves estão
(ácido etilenodiaminotetracético) não são apropria- na TABELA 1.
Tabela 1 – Principais provas bioquímicas empregadas para as aves e condições de
acondicionamento.

Amostras
Provas bioquímicas Plasma Estabilidade da amostra
Soro EDTA Heparina
0 a 4OC (8 dias);
Alanina aminotransferase (ALT) x x
congeladas (8 dias)
0 a 4OC (8 dias);
Aspartato aminotransferase (AST) x x x
congeladas (4 dias)
4 semanas a –20OC,
Gama-glutamiltransferase(GGT) x x x
12 dias de 2 a 8OC
0 a 4OC (8 dias); congeladas
Fosfatase alcalina (AP) x x x
30 dias a –10OC
0 a 4OC (4 dias); congeladas
Glutamato desidrogenase (GLDH) x
(8 dias)

Sorbitol desidrogenase (SDH) x Dosar imediatamente

Proteger da luz, e dosar o


Bilirrubinas x mais rápido possível, estável
até 3 dias entre 2 a 8OC

Ácidos biliares x

0 a 4OC (1 dia)
Creatina-quinase (CK) x x
congelada (8 dias)
2 a 8OC (2 dias); congelada
Lactato desidrogenase (LDH) x x x
(8 dias)
Dosar imediatamente no
Glicose* x soro; *plasma com fluoreto
de sódio
2 semanas entre 2 a 8OC;
Colesterol x x x
congelada (6 meses)
7 dias entre 2 a 8OC;
Uréia x x x congelada (-10oC) por 3
meses
2 a 8OC (3 dias);
Ácido úrico x x x
7 dias a –10oC

x x
**Somente **Somente 2 a 8OC (3 dias); congelada por muitos
Proteínas totais**, albumina x Proteínas Proteínas meses
plasmáticas plasmáticas
totais totais

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4.2. Função renal devido a redução da ingestão de alimentos e injúrias


no sistema digestório.
As aves possuem dois tipos de néfrons. O néfron A concentração da uréia sanguínea é influenciada
tipo “réptil” ou cortical superficial, que não apresenta pela ingestão de proteínas, pela taxa de excreção
as alças do néfron e recebe sangue do sistema porta renal (que podem aumentar a concentração sangüí-
renal. Os néfrons tipo “mamífero” ou medulares pro- nea da uréia) e pelo estado do fígado, que é o órgão
fundos apresentam alça do néfron e são envolvidos responsável pela sua síntese. As aves carnívoras
com o processo do gradiente osmótico de formação têm maiores concentrações de uréia do que aves
de urina. Os rins das aves recebem sangue do sis- granívoras (Campbell, 2004; Kaneko et al.,
tema porta renal, suprindo aproximadamente dois 1997). Como as aves são uricotélicas, pequenas
terços do sangue dos túbulos renais. Este sistema quantidades de uréia estão presentes no plasma. A
auxilia a secreção do ácido úrico pelos túbulos renais concentração normal de uréia de aves não carnívo-
(Campbell, 2004; Reece, 2006). ras é de 0 a 5 mg/dL (Campbell, 2004).
O ácido úrico e a uréia são as provas bioquímicas Considera-se que a uréia tem pouco valor diag-
utilizadas para avaliar a função renal das aves. O áci- nóstico para as aves quando comparada ao ácido
do úrico é o principal produto do metabolismo de ni- úrico (Amand, 1986; Campbell, 2004). Contudo,
trogênio nas aves, constituindo aproximadamente 60 a uréia pode ser um teste sensível para azotemia
a 80% do total de nitrogênio excretado pela urina da pré-renal em algumas espécies de aves, porque é
ave. É sintetizado no fígado e nos rins, sendo 90% do eliminada por filtração glomerular, que depende do
ácido úrico sangüíneo excretado primariamente por estado de hidratação do animal. Desta forma, é útil
secreção tubular, nos túbulos proximais dos néfrons para detectar uma diminuição da perfusão arterial
corticais. Este processo de secreção é independente renal (Campbell, 2004; Lumeij, 1997).
da reabsorção tubular de água (Campbell, 2004; A creatinina tem pouco valor diagnóstico nas aves
Lumeij, 1997). Assim, distúrbios na função renal porque a creatina é excretada pelos rins antes de ser
podem levar ao aumento na concentração sérica ou convertida em creatinina. Assim, o ideal seria dosar
plasmática do ácido úrico (Lumeij, 1997). as concentrações plasmáticas de creatina para de-
As concentrações sangüíneas de ácido úrico tectar uma diminuição na taxa de filtração glomerular.
superiores a 15mg/dL sugerem alterações da função No entanto, os laboratórios veterinários não possuem
renal, que podem ser causadas por diversos fatores, um método de rotina para a determinação deste
como nefrotoxinas, obstrução urinária, nefrite e ne- metabólito (Lierz, 2003; CampbeLL, 2004).
fropatias associadas à hipovitaminose A (Amand,
1986; Campbell, 2004). Diversos fatores podem 4.3. Função hepática
influenciar nas concentrações de ácido úrico, como
a espécie, idade e dieta. Animais jovens tendem a
apresentar maiores concentrações de ácido úrico do 4.3.1. Enzimas
que adultos. Aves carnívoras apresentam maiores
concentrações do que aves granívoras (Campbell, Nas aves, as provas de função hepática estão
2004) divididas em testes de enzimas hepáticas, que refle-
tem lesão hepatocelular: aspartato aminotransferase
O ácido úrico não é um teste renal sensível em
(AST), alanina aminotransferase (ALT), glutamato
aves, pois, 75% da função renal deve estar compro-
desidrogenase (GLDH), lactato desidrogenase (LD) e
metida para que seja possível detectar o aumento
sorbitol desidrogenase (SD) e aumento na produção
da concentração sangüínea. Além disso, as aves
enzimática conseqüente à colestase ou indução por
podem apresentar hiperuricemia após ingestão de
drogas: gama glutamiltransefase (GGT) e fosfatase
dietas com altos teores de proteínas, ou durante je- alcalina (AP), e metabólitos ou testes funcionais
jum prolongado e na necrose tecidual severa. Apesar do fígado (colesterol, ácidos biliares e bilirrubinas),
dessas limitações, o ácido úrico é útil para monitorar glicose e as proteínas.
o tratamento e a progressão da doença quando uti- São escassos os estudos experimentais sobre a
lizado em determinações seqüenciais (Gregory, sensibilidade e a especificidade das atividades das
2003; Lierz, 2003; Campbell, 2004). enzimas séricas ou plasmáticas de função hepáti-
O ácido úrico apresenta-se elevado em galinhas ca nas aves, sendo limitados a algumas espécies
inoculadas com várias cepas do vírus da doença de (Campbell, 2004). Da mesma forma que nos
Newcastle (Rivetz et al., 1977). Esta elevação pode mamíferos, as atividades das enzimas podem ser
ter ocorrido por danos renais, pela diminuição na taxa utilizadas para detectar distúrbios hepatocelulares
de eliminação, por alteração na condição nutricional ou aumento de produção.

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Patologia Clínica em Aves de Produção – Uma Ferramenta para Monitorar a Sanidade

O aumento significativo da AST sugere lesão A atividade da alanina aminotransferase (ALT)


hepática grave e difusa e também distúrbios muscu- tem valor limitado como teste para avaliar distúr-
lares, pois a AST não é hepato-específica (Kaneko, bios hepatocelulares em aves. Como em eqüinos e
et al., 1997). As aves apresentam alta atividade da ruminantes, a ALT é encontrada tanto no citosol do
AST no fígado, músculo esquelético e cardíaco, cé- hepatócito como no músculo e em outros tecidos
rebro e rins. No entanto, a distribuição desta enzima nas aves. A atividade da ALT na maioria das espé-
nos diferentes tecidos varia de acordo com a espécie cies de aves varia de 19 a 50 UI/L (Lumeij, 1997;
(Lumeij, 1997; Campbell, 2004). Campbell, 2004).
De maneira geral, valores de AST acima de A GGT (gama glutamiltransferase) é uma enzi-
275 UI/L sugerem aumento da sua atividade, que ma de membrana associada a vários tecidos. Sua
pode estar relacionado a distúrbios hepáticos ou atividade sérica ou plasmática elevada ocorre pelo
musculares. Os valores de AST acima de 800 UI/L aumento de produção e liberação pelo tecido hepa-
são altamente sugestivos de dano hepático severo, tobiliar (Meyer et al., 1995). No entanto, a atividade
principalmente na presença de biliverdinúria ou bili- plasmática da GGT não aumenta necessariamente
verdinemia (Campbell, 2004). Assim, atualmente, em aves com distúrbio hepatobiliar. As aves apresen-
a atividade da AST é considerada como um marcador tam atividade da GGT nos rins, cérebro e intestino,
sensível, mas não específico de distúrbio hepato- entretanto, distúrbios nesses órgãos não alteram os
celular na maioria das aves, e deve ser mensurada teores plasmáticos desta enzima.
juntamente com uma enzima músculo-específica, Teores elevados de GGT foram observados em pom-
creatina quinase (CK), para que seja possível dife- bos com doença hepática induzida experimentalmente
renciar dano hepático ou muscular. (Lumeij, 1997), indicando que a atividade plasmática
Os gansos, galinhas e perus apresentam maior pode aumentar em algumas espécies dependendo da
atividade da AST no coração, seguido pelo fígado e natureza do distúrbio hepático (Campbell, 2004). Os
músculo esquelético (perus – maior atividade nos patos apresentam alta atividade da GGT nos rins. O
rins e cérebro do que no músculo esquelético). Os aumento dos níveis da GGT sanguínea indica lesão
patos apresentam maior atividade da AST no mús- hepática ativa, porém, níveis normais não garantem
culo esquelético, coração, rins, cérebro e fígado o funcionamento normal do fígado (Fudge, 2000b).
(Lewandowski et al., 1986; Fudge,2000a). Os valores de GGT entre 0-10 U/L são considerados
A glutamato desidrogenase (GLDH) está presente “normais”. As diferentes metodologias para determina-
nas mitocôndrias dos hepatócitos e é considerada ção da GGT podem contribuir para as diferenças nos
como o marcador mais específico de distúrbios he- valores de referência (Lumeij, 1997).
patocelulares nas aves (Lumeij, 1997), apesar de A fosfatase alcalina (AP) plasmática nas aves
não ser rotina a dosagem desta enzima. Todavia, resulta primariamente de atividade osteoblástica.
não há disponível um método de rotina para a de- Assim, aumento nos teores desta enzima sugere
terminação da concentração desta enzima. Outros crescimento ósseo, reparação de fraturas, oste-
tecidos também apresentam atividade da GLDH, omielites, neoplasias e condição pré-ovulatória
como cérebro e rins de pombos, galinhas, patos, de galinhas. Apresenta baixa atividade no tecido
perus e periquitos. Teores maiores do que 10 UI/L hepatobiliar (Campbell, 2004), apesar de teores
indicam necrose hepática. A magnitude do aumento elevados já terem sido registrados em aves de ra-
é proporcional à severidade da injúria hepatocelular pina que apresentavam colestase (Amand, 1986).
(Lumeij, 1997; Campbell, 2004). As aves apresentam atividade da ALP em diversos
A atividade da enzima lactato desidrogenase tecidos, nos pulmões, músculo esquelético, testícu-
(LD) não é específica para distúrbio hepatocelular los, ossos, rins, músculo cardíaco e pouca atividade
nas aves (Campbell, 2004). No entanto, cinco no fígado. Perus têm maior atividade nos testículos
isoenzimas já foram demonstradas em tecidos das e os patos apresentam maior atividade no duodeno
aves (Amand, 1986).O aumento de seus teores e rins (Fudge, 2000b).
plasmáticos geralmente está associado a distúrbios As atividades das enzimas hepáticas alanina
hepatocelulares ou musculares. Os eritrócitos das aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase
aves têm alta atividade da LD, assim, a hemólise (AST) e fosfatase alcalina (FA) estão elevadas, assim
resulta em teores elevados de LD no plasma. Em como as concentrações séricas de bilirrubinas nos
relação à AST e ALT, a atividade plasmática da LD casos de aflatoxicose. As micotoxinas hepatotóxicas
aumenta e diminui mais rápido após danos hepáticos promovem o extravazamento das enzimas hepato-
ou musculares (Campbell, 2004). Galinhas têm biliares AST, ALT e gama glutamiltransferase (GGT)
maior atividade da LD na musculatura esquelética, para o sangue das ave, além da elevação dos ácidos
no miocárdio, fígado e pulmão (Fudge, 1997; biliares, que é um marcador sensível da função he-
LewandowskI et al., 1986). pática nesses animais (Lumeij, 1997).

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SCHIMIDT, E.M.S. et al.

4.3.2. Metabólitos diminuição do trânsito gastrintestinal ou estase. E,


por outro lado, o aumento da motilidade intestinal
As bilirrubinas não são indicadores de distúrbios interfere com a liberação dos ácidos biliares pelo
hepatobiliares nas aves, pois estas possuem pe- fígado e a absorção pelo intestino. A concentração
quena quantidade da biliverdina redutase, assim, o plasmática de ácidos biliares nas aves é maior do
pigmento biliar primário é a biliverdina. Desta forma, que nos mamíferos. Em araras, pombos e cacatuas,
a icterícia é rara. Entretanto, já foi diagnosticada o valor de referência varia de 18 a 71 µmol/L. Para
icterícia (clínica) em patos e araras. Neste caso, papagaios, os valores variam de 19 a 144 µmol/L
provavelmente, houve a redução de biliverdina (Campbell, 2004) e para avestruzes de 8 a 30
para bilirrubina por enzimas hepáticas inespecífi- µmol/L (Lumeij, 1997).
cas ou por bactérias (Lewandowski et al., 1986; O colesterol é um precursor importante dos éste-
Campbell, 2004). res de colesterol, dos ácidos biliares e dos hormônios
A presença de biliverdinemia é observada quando esteróides. Pode ser sintetizado por vários tecidos
o soro ou o plasma apresentam coloração esverde- do organismo, mas o fígado é o órgão principal de
ada, que reflete doença hepatobiliar severa. Não síntese endógena de colesterol. A hipercolestero-
se faz a dosagem de biliverdina porque é um pig- lemia pode ser causada pela dieta ou também por
mento instável e muito sensível à degradação pela insuficiência hepática (Kaneko et al., 1997). Como
luz. A coloração amarelada do plasma ou soro das o colesterol é eliminado na forma de ácidos biliares,
aves está associada com pigmentos carotenóides o aumento da sua concentração no plasma pode
provenientes da dieta e não deve ser confundido estar associado com obstrução biliar extra-hepática,
como bilirrubinemia (Lumeij, 1997; Campbell, fibrose hepática e hiperplasia de ductos biliares nas
2004). Como as enzimas séricas ou plasmáticas aves (Amand, 1986; Campbell, 2004). As concen-
não apresentam sensibilidade e nem especificida- trações plasmáticas para a maioria das espécies de
de para detectar doenças hepáticas e também não aves variam de 100 a 250 mg/dL (Lumeij, 1997).
refletem o grau de comprometimento do fígado, são
necessários outros testes bioquímicos sangüíneos 4.3.3. Glicose
para avaliar o metabolismo do fígado nas aves. Além
disso, como há dificuldade para dosagem de biliver- A concentração sangüínea de glicose de aves
dina, a determinação dos ácidos biliares pode ser sadias varia de 200 a 500 mg/dL e varia de acordo
uma ferramenta útil para avaliar a função hepática com o ritmo circadiano, até 800 mg/dL em colibris.
em algumas espécies de aves (Campbell, 2004). Os teores normais de glicose são mantidos por glico-
No entanto, o kit comercial para dosagem desse genólise hepática durante períodos curtos de jejum.
metabólito não se encontra disponível no mercado Períodos prolongados de jejum em aves sadias (até
nacional. oito dias) não diminuem a utilização de glicose, como
Os ácidos biliares são sintetizados no fígado a nos mamíferos. Durante o jejum, a perda de energia
partir do colesterol, excretados na bile e reabsorvidos está relacionada com a depleção de gorduras e mo-
pelo intestino para a circulação portal e removidos bilização de proteínas, resultando em perda de peso,
do sangue pelos hepatócitos (Kaneko et al., 1997). que pode ser observada pela redução da massa
Aves sadias apresentam pequena quantidade de muscular peitoral (Campbell, 2004).
ácidos biliares no sangue periférico. No entanto, Como nos mamíferos, o metabolismo da glicose
os ácidos biliares primários das aves são o ácido nas aves é regulado pela insulina e pelo glucagon.
quenodesoxicólico, ácido cólico e ácido alocólico. Todavia, o glucagon parece interferir de forma
As concentrações de ácidos biliares no jejum são significativa nesse metabolismo, o que pode ser
mais baixas do que nas condições pós-prandiais. explicado pelo fato de que aves granívoras apresen-
A concentração de ácidos biliares pós-prandial tam abundância de células alfa no pâncreas e uma
não varia entre as espécies de aves com ou sem menor proporção insulina:glucagon em relação aos
vesícula biliar (Campbell, 2004). O aumento da mamíferos. A distribuição das células pancreáticas
concentração de ácidos biliares no jejum sugere de aves carnívoras é semelhante à dos mamíferos,
alterações hepáticas, no seu armazenamento, ex- assim, o metabolismo da glicose difere entre aves
creção ou na perfusão do fígado (Fudge, 1997; granívoras e carnívoras (Lumeij, 1997). A hipoglice-
Lumeij, 1997). Recomenda-se jejum de 12 horas mia é observada quando os teores de glicose caem
para a dosagem de ácidos biliares, mas em algumas para menos do que 200 mg/dL e resulta de jejum
espécies a variação do tempo de esvaziamento do prolongado, doença hepática severa, septicemia ou
papo torna a amostragem pós-prandial difícil. Para distúrbios endócrinos (Campbell, 2004). A demora
aves carnívoras, o jejum deve ser de 24 horas. Além na separação do soro ou plasma das células não
deste fator, aves enfermas geralmente apresentam diminui de forma significativa a concentração de

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Patologia Clínica em Aves de Produção – Uma Ferramenta para Monitorar a Sanidade

glicose como nos mamíferos, pois os eritrócitos das em frangos, perus e patos, revelaram uma boa cor-
aves utilizam ácidos graxos e não glicose para seu relação entre o método do refratômetro e do biureto
metabolismo (Amand, 1986; Campbell, 2004). A (Anderson, 1989), apresentando essas espécies
hiperglicemia é caracterizada por concentrações de menores teores de glicose sangüínea em relação aos
glicose acima de 500 mg/dL e ocorre em diabetes psitacídeos e às aves de pequeno porte.
mellitus, aparentemente associado com excesso de As concentrações de proteínas plasmáticas obti-
glucagon por tumores pancreáticos e pancreatites das pelo método do biureto combinadas com a sepa-
(Lumeij, 1997; Campbell, 2004), liberação de ração das suas frações por eletroforese representam
catecolaminas e excesso de glicocorticóides por uma informação acurada das suas concentrações
estresse ou administração de corticoesteróides plasmáticas totais (Campbell, 2004). O padrão da
(Amand, 1986; Campbell, 2004). Em tucanos, separação inclui uma fração de pré-albumina em al-
a ocorrência de diabetes mellitus é significativa e gumas espécies (como nos psittacídeos), albumina,
está, aparentemente, relacionada com frutas da dieta alfa-globulina, beta-globulina e gama-globulina e são
(Campbell, 2004; Fudge, 2000b). importantes no diagnóstico em bioquímica clínica
O perfil de frangos de corte acometidos por para avaliar as respostas inflamatórias (KANEKO,
sinais compatíveis com síndrome ascítica mostrou et al., 1997; Kerr, 2003).
depressão do metabolismo energético (depressão Outras anormalidades que podem sugerir dis-
das fontes de energia, pois o animal vai perdendo o túrbios hepáticos incluem hipoalbuminemia, hipo-
apetite gradativamente, devido à pressão causada glicemia, hiperamonemia e diminuição dos fatores
pelo edema abdominal), evidenciado pela diminuição da coagulação, mas raramente são observados nas
da glicose, colesterol e triglicerídeos (González aves (Campbell, 2004). Alterações significativas
et al., 2001). nas proteínas séricas foram observadas em aves
inoculadas com cepa virulenta do vírus da doença de
4.3.4. Proteínas Newcastle. Com diminuição nos níveis de albumina
e, conseqüentemente, diminuindo a concentração
As concentrações das proteínas plasmáticas de proteínas totais. Não foi observada nenhuma
totais nas aves são menores do que nos mamíferos, alteração no nível das globulinas (Rivetz et al.,
variando de 2,5 a 4,5 g/dL. A albumina representa 1977). Isto pode demonstrar lesões hepáticas,
de 40 a 50% da proteína plasmática total das aves pois o fígado é o órgão que sintetiza as proteínas,
(teores normais variam de 0,8 a 2,0 g/dL) e é sinte- principalmente a albumina. Outra possível causa
tizada no fígado. Importante lembrar que a albumina para a diminuição da albumina seriam as lesões
se liga e transporta ânions, cátions, ácidos graxos, em vísceras, principalmente do sistema digestório,
hormônios (KANEKO et al. 1997). Assim, a hipoal- com ulcerações intestinais e hemorragias. Estas
buminemia também afeta as concentrações desses lesões promovem perda de sangue e de albumina. A
compostos. De forma geral, os principais fatores que concentração sérica de albumina também pode ser
afetam as concentrações das proteínas totais nas reduzida por diminuição na ingestão de alimentos
aves são: idade, sazonalidade, condições de criação devido à anorexia (KANEKO et al., 1997).
(manejo) e doenças (LUMEIJ, 1997). Na insuficiência hepática há diminuição signi-
As imunoglobulinas produzidas por linfócitos B ficativa dos valores das proteínas totais concomi-
e plasmócitos representam um componente signi- tantemente à diminuição da proporção albumina/
ficativo na concentração das proteínas plasmáticas globulinas. Distúrbios gastrintestinais e renais, além
totais (Campbell, 2004). de deficiências nutricionais também podem levar a
A produção de ovos pode afetar as concentrações hipoproteinemia severa. (Lewandowski et al.,
das proteínas totais (albumina e globulinas). As prote- 1986; Lumeij, 1997). Em condições inflamatórias
ínas são precursores da gema (vitelogenina e lipopro- agudas ou crônicas, pode ocorrer um aumento na
teínas), sintetizadas no fígado e transportadas para quantidade de proteínas totais, pela elevação das
o ovário onde são incorporadas ao oócito no ovário. globulinas e diminuição da albumina. A diminuição
As fêmeas antes da postura podem apresentar hiper- da proporção albumina/globulinas pode ocorrer na
proteinemia induzida por estrógenos (Campbell, inflamação, nas peritonites, aspergilose, psitacose
2004; Lumeij, 1997), fato já observado em fêmeas e tuberculose, nefropatias e insuficiência hepática
adultas de faisão-de-coleira em estação reprodutiva (Lumeij, 1997; Jones, 1999).
(SCHMIDT et al., 2006a; Schmidt et al., 2007).
Em relação ao método de dosagem das pro- 4.4. Função muscular
teínas plasmáticas, há discordância na literatura.
Para alguns autores o método do biureto é o ideal A creatina quinase (CK) é uma enzima músculo
(Campbell, 2004); no entanto, estudos realizados específica utilizada para avaliar a função muscular

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SCHIMIDT, E.M.S. et al.

das aves (Lumeij, 1997; Campbell, 2004). Os teo- tica em todas as espécies animais. Este mineral é
res normais variam de 100 a 500 UI/L. O aumento na importante na manutenção da atividade elétrica e
sua concentração plasmática indica distúrbio muscu- também é um elemento estrutural importante nos
lar, intoxicação por chumbo, clamidiose, septicemias ossos. Cerca de metade do cálcio plasmático está
e miopatias por deficiência de vitamina E/selênio. O livre e esta é a porção ativa de cálcio (cálcio iônico),
aumento marcante está relacionado com miopatia enquanto a outra metade encontra-se inativa, ligada
de contenção, nesta condição a atividade da AST à albumina (Kerr, 2003), que é a forma geralmente
não aumenta significativamente (Campbell, 2004). mensurada. Nas aves os valores de cálcio variam
Deve-se ter cuidado com injeções intramusculares entre 8 a 12 mg/dL, mas aves em postura apresen-
com substâncias irritantes (doxiciclina, oxitetraci- tam valores de 20 a 40 mg/dL, possivelmente pelo
clina que deviam ser administradas via EV), pois aumento da demanda de cálcio para a formação da
aumentam as concentrações da creatina quinase casca do ovo (Ross et al., 1978). O cálcio para a
(CK) (Lumeij, 1997; Fudge, 2000a). formação da casca do ovo é derivado da absorção
As micotoxinas neurotóxicas podem causar eleva- intestinal e da mobilização óssea. O nível de cál-
ção das atividades séricas das enzimas musculares cio ionizado, nestes casos, permanece inalterado
creatina quinase (CK), AST e lactato desidrogenase (Campbell, 2004). O aumento das concentrações
(LD). Estas alterações ocorrem pela atividade mus- de cálcio iônico ocorre em respostas vacinais, pois
cular intensa causada por tremores musculares e o reconhecimento do antígeno feito pelas células T
convulsões (Puschner, 2002). receptoras é mediado pela ativação da calcioneu-
rina. Este efeito foi observado em frangos de corte
4.4. Eletrólitos vacinados contra a coccidiose (ABBAS et al., 2000;
SCHMIDT et al., 2006b). O aumento das concen-
Concentrações normais de eletrólitos no plasma, trações de cálcio no soro também é observado em
líquido intersticial e linfa são necessárias para o dietas com excesso de vitamina D3 e em condições
funcionamento normal do potencial eletroquímico neoplásicas que provocam lesões ósseas. Os níveis
das membranas celulares e para a manutenção do de cálcio inferiores a 6 mg/dL resultam em tetania,
compartimento hídrico do organismo em volumes principalmente em aves submetidas a estresse. Os
corretos. Estes íons também estão relacionados distúrbios renais causam diminuição do cálcio sérico
com a regulação da pressão osmótica, equilíbrio pela perda de proteínas, que leva a hipoalbumine-
hidro-eletrolítico, manutenção dos potenciais de mia ou pela diminuição da reabsorção do cálcio
membrana, transmissão dos impulsos nervosos e (Lewandoswki et al., 1986).
contração muscular, exercendo assim importantís- Apesar da relação do metabolismo do cálcio e do
simo papel na homeostase do organismo (Kaneko fósforo no organismo, o valor diagnóstico do fósforo
et al., 1997; Kerr, 2003). sérico nas aves é inconsistente (Lewandoswki et
Sódio e potássio são os eletrólitos mais comu- al., 1986). Aves jovens, em crescimento tendem a
mente avaliados em medicina veterinária. No caso apresentar valores mais elevados de fósforo quando
das aves, o papel desses eletrólitos para diagnóstico comparadas com aves adultas. A hipofosfatemia é
precisa ser melhor investigado (Lewandoswki indicada por níveis sangüíneos inferiores a 5 mg/
et al., 1986). O sódio é filtrado pelo glomérulo e, dL, que pode ocorrer pela deficiência de vitamina
dependendo da necessidade osmótica, pode ser re- D3, terapia de longa duração com corticoesteróides
absorvido para o plasma ou secretado pelos túbulos e períodos prolongados de jejum. A hiperfosfatemia
renais para sua eliminação (Campbell, 2004). O é indicada por concentração de fósforo superior a 7
potássio é filtrado ativamente e excretado pelos rins. mg/dL e resulta de distúrbio renal severo pela dimi-
Na doença renal em aves, foram observadas hiper- nuição da filtração glomerular, excesso de vitamina
calemia e hiperfosfatemia, porém, hipofosfatemia e D3 que leva ao aumento da absorção intestinal de
hipocalemia também foram reportados. E aves com fósforo e pelo excesso de fósforo na dieta (Lumeij,
doença renal crônica perdem a habilidade de reter 1997; Campbell, 2004).
sódio, resultando em hiponatremia. Anormalidades
que afetam as concentrações de aldosterona e o es-
tado de hidratação do organismo (privação de água Considerações finais
ou diarréia), também alteram os valores de sódio
e potássio. As concentrações séricas de sódio nas Nos últimos anos houve um aumento no aten-
aves variam entre 130 a 170 mEq/L e de potássio de dimento na clínica médica de aves de companhia,
2,5 a 6 mEq/L (Ross et al., 1978; Lewandoswki e conseqüentemente, uma maior necessidade na
et al., 1986; Campbell, 2004) qualidade dos serviços. Para isso, é necessário o
O cálcio é um mineral de importância diagnós- conhecimento básico da anatomia e da fisiologia

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