Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

Faculdade de Educação (FACED)

Curso: Pedagogia
Disciplina: Sociedade, Trabalho e Educação
Docente: Profa. Dra. Joelma L. V. Pires

A pedagogia de Gramsci e o Brasil

SOARES, Rosemary. A pedagogia de Gramsci e o Brasil. Disponível em:

https://www.acessa.com/gramsci/texto_impressão.php?id=168 Acesso em: 14 set. 2020.

- A tentativa de compreensão da concepção gramsciana da escola, no Brasil, é

relativamente recente;

- Por conseguinte, o debate sobre os elementos que fundamentam uma visão socialista
da educação é relativamente recente;

- Alguns textos de Gramsci foram divulgados no Brasil desde o final dos anos sessenta;

- No entanto, somente nos anos oitenta, com o fortalecimento do processo de

redemocratização do país, é que a contribuição teórica de Gramsci começa a despertar a
atenção dos intelectuais de esquerda;

- Desde então, alguns educadores buscaram apresentar propostas que se

contrapusessem, ou mesmo de antecipassem, às iniciativas reformistas de setores
conservadores e tradicionais, dando início à pesquisa sobre a concepção socialista da
educação, de Marx e Gramsci;

- Com esse movimento intelectual, foi estabelecido um estreito vínculo entre a

investigação do conceito socialista da educação, o estudo das origens da escola
capitalista e a formulação de propostas para democratizar o acesso à educação no Brasil;

- A ausência de um projeto escolar do campo das forças populares e democráticas

contribuiu para o seu apoio a uma proposta burguesa como defesa da escola pública nos
anos trinta, cinquenta e sessenta. Tal proposta é a “escola nova”, surgida na Europa e
nos Estados Unidos, no início do século XIX;

- Nos anos setenta, o processo de redemocratização do país inaugurou uma leitura que
sustentava que o sistema escolar não teria outro papel senão o de reproduzir a sociedade
capitalista, reafirmando ideias de Althusser;

- A partir dos anos oitenta procurou-se romper com a visão de que a escola está a
reboque das grandes transformações sociais, atribuindo-lhe grande importância no plano
da luta ideológica que se realiza na sociedade civil, sob a influência do pensamento
gramsciano;

- As dificuldades que cercam o debate sobre o pensamento pedagógico de Gramsci

relaciona-se ao fato de que grande parte das propostas elaboradas no campo
democrático e popular fundamentam-se na expectativa de uma revolução social,
derrubando as instituições do capitalismo, eliminando a possibilidade de começar a
construir uma escola democrática no contexto do capitalismo, negando a escola
existente;

- Gramsci considera a luta pela hegemonia dos movimentos populares por meio da
ampliação dos seus espaços dentro da sociedade civil, desse modo, dentro da escola
existente;

- A noção da escola unitária, pressupondo o desenvolvimento da sociedade civil,

confere à escola uma dimensão estratégica na disputa pela hegemonia;

- No que diz respeito à organização da escola média, nas políticas educacionais da

década de noventa, a conversão de toda a escola em ensino de formação geral e a
transformação do ensino técnico numa suposta opção para quem queria se inserir no
mercado de trabalho não resolveu o problema da dualidade. Ao contrário, contribuiu
para manter a separação entre a formação geral e a formação técnica e tecnológica;

- O que é formação geral? O que significa formar para o mundo do trabalho e não
simplesmente para o mercado de trabalho?

- Se na formação dos trabalhadores, hoje, não se deve perder de vista o avanço

científico e tecnológico que é incorporado às mudanças no mundo do trabalho, isso
implica também, por outro lado, manter a autonomia da escola em relação a demandas
pontuais do setor produtivo, pois o seu papel não é o de estar dependente atrelada e
subordinada aos ditames do mundo empresarial;

- Entretanto, quais são, teórica e praticamente, as diferenças entre formação para o

mundo do trabalho e para a formação profissional? Como esta última poderia ser
organizada, no sentido de incorporar avanços científicos e tecnológicos e,
consequentemente, responder as demandas do setor produtivo, empresarial (mercado de
trabalho)?

- A busca de respostas para essas questões contribuiria para o esclarecimento do que

poderia ser entendido, hoje, como “escola unitária”;

- A ideia de escola unitária apresentada por Gramsci, tem como horizonte a luta pela
igualdade social: daí a ideia de “unitária”, que significa superar as divisões classistas
que separam a sociedade em governantes e governados;

- Essa luta não é proposta como uma revolução imediata, que desmente toda a estrutura
social capitalista de um só golpe. Ela requer um trabalho paciente de identificação de
espaços para ampliar conquistas democráticas, particularmente no campo cultural.
Envolve, sim, uma elevação cultural dos trabalhadores, preocupando-se com os métodos
para que estes sejam capazes de formular conceitos, de compreender o mundo em que
vivem, de saber se orientar, elaborar críticas e participar do governo da sociedade;
- Esse tipo de formação não minimiza a importância da aquisição de habilidades
técnicas para a inserção no mundo produtivo. Trata-se da exigência de converter essa
perspectiva de formação, a escola unitária, numa diretiva para a organização da escola
na sociedade capitalista, sob a hegemonia das classes subalternas;

- Gramsci nunca restringiu o problema da dualidade escolar aos métodos de ensino. Para
ele, a marca social da escola não está nos seus métodos de ensino e sim no fato de
existir um tipo de escola para cada grupo social.