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RESUMO
Apresentamos o termo “cognição indumentária” para descrever a influência
sistemática que as roupas têm nos processos psicológicos de quem as veste.
Trazemos uma estrutura potencialmente unificadora para integrar descobertas
anteriores e captar a diversidade de impactos que as roupas podem ter no seu
usuário, propondo que a cognição indumentária envolve a ocorrência conjunta de
dois fatores independentes – o significado simbólico das roupas e a experiência
física de usá-las. No primeiro teste de nossa perspectiva da cognição indumentária,
exploramos os efeitos de usar um jaleco. Um pré-teste descobriu que um jaleco
geralmente é associado a atenção e cuidado. Portanto, previmos que o uso de um
jaleco aumentaria o desempenho em tarefas relacionadas com a atenção. No
Experimento 1, vestir um jaleco aumentou a atenção seletiva, em comparação com
não vestir. Nos Experimentos 2 e 3, vestir um jaleco referido como sendo um jaleco
de médico aumentou a atenção sustentada, em comparação com vestir um jaleco
descrito como sendo um jaleco de pintor, e com simplesmente ver ou mesmo
identificar um jaleco descrito como jaleco médico. Assim, a presente pesquisa sugere
um princípio básico da cognição indumentária – depende tanto do significado
simbólico das roupas quanto da experiência física de usá-las.
Cognição indumentária
Visão experimental
Medida dependente
Para mensurar a atenção seletiva, administramos uma tarefa de Stroop
(Stroop, 1935) e instruímos os participantes a indicarem, com a maior rapidez e
exatidão possíveis, se uma série de sequências de letras foi apresentada em
vermelho ou azul na tela de um computador. A tarefa consistia de 50 testes: 20 testes
incongruentes, em que o significado da sequência de letras interferia na tarefa de
dizer a cor (isto é, “VERMELHO” em letra azul ou “AZUL” em letra vermelha), e 30
testes não incongruentes, em que o significado da sequência de letras não interferia
na tarefa de nomear a cor (isto é, “XXXX” em letra vermelha ou azul, “VERMELHO”
em letra vermelha, ou “AZUL” em letra azul). A ordem dos testes era aleatória.
Mensuramos se os participantes indicaram a cor certa, bem como o tempo que
levaram para completar cada teste. A atenção seletiva foi avaliada contrastando-se
o desempenho em testes incongruentes (que testaram a habilidade de focar em
estímulos relevantes e ignorar estímulos irrelevantes) com o desempenho em testes
não-incongruentes (por exemplo, Smith, Jostmann, Galinsky & Van Dijk, 2008).
Resultados
Submetemos os índices de erro na tarefa de Stroop a uma ANOVA mista de
dois fatores (jaleco: com jaleco x sem jaleco; tipo de teste: incongruente x não
incongruente), com o segundo fator nos sujeitos. Indicando um efeito Stroop, os
participantes cometeram mais erros nos testes incongruentes do que nos testes
neutros, F(1, 57)= 19,75, p<.001; η2p= .26. Em conformidade com nossa hipótese,
esse efeito foi moderado por um significativo efeito de interação, F(1, 57)=5,42,
p=.02; η2p= .09 (Figura 1). Os participantes na condição com jaleco cometeram
aproximadamente a metade dos erros cometidos por participantes na condição sem
jaleco nos testes incongruentes, F(1, 57)= 4,33, p= .04; η2p= .07, mas tiveram o
mesmo número de erros nos testes não incongruentes, F<1,19, p> .28. O tempo que
os participantes levaram para completar cada teste não variou entre as condições,
Fs<0,32, ps>.57.
Fig. 1. Atenção seletiva (número de erros por teste na tarefa de Stroop) em função de
condição experimental e tipo de teste. As colunas de erro representam ±1 SEM.
Com uso de jaleco
Sem uso de jaleco
Eixo vertical: Número de erros por teste
Eixo horizontal: Testes não incongruentes / Testes incongruentes
Medida dependente
Para mensurar a atenção sustentada, administramos quatro tarefas de busca
visual comparativa (por exemplo, Pomplun et al., 2001). Cada tarefa mostrava duas
imagens, uma ao lado da outra, na tela de um computador. As imagens eram
idênticas, exceto por quatro diferenças mínimas (ver Apêndice). Para cada par de
imagens, dizia-se aos participantes que havia quatro diferenças, e eles eram
instruídos a escrever, o mais rápido possível, todas as diferenças que conseguissem
encontrar. Mensuramos o número de diferenças que os participantes encontraram,
bem como o tempo que levaram para completar todas as tarefas. A atenção
sustentada foi avaliada adicionando-se o número de diferenças que os participantes
encontraram nas quatro tarefas.
Resultados
Submetemos o número de diferenças encontrado a uma ANOVA de um fator,
que produziu um efeito principal significativo para a condição experimental, F(1,
3)= 4,34, p=.02; η2p= .11 (Fig. 2). Coadunando-se com nossa hipótese, os
participantes na condição de uso de jaleco médico descobriram mais diferenças do
que os participantes na condição de uso de jaleco de pintor, F(1, 51)= 7,03, p=.01; η2p
=.12, e do que os participantes na condição de ver um jaleco médico, F(1, 46) = 6,65,
p= .01; η2p = .13. O número de diferenças encontradas não variou nas duas últimas
condições, F<,02, p> .91. O tempo que os participantes levaram para completar todas
as tarefas não variou entre condições, F<.47, p> .63, demonstrando que os efeitos
não eram devidos a uma mera persistência, mas resultantes de maior atenção
durante a tarefa.
Fig. 2. Atenção sustentada (número de diferenças encontradas nas tarefas de busca visual
comparativa) em função da condição experimental. As colunas de erro representam ±1 SEM.
Eixo vertical: Número de diferenças encontradas
Eixo horizontal: Usar um jaleco médico / Ver um jaleco médico / Usar um jaleco de pintor
Método
Design e participantes
Participaram do experimento 99 estudantes de graduação (62 mulheres, 37
homens; média de idade: 20,02 anos) de uma grande universidade do centro-oeste
dos Estados Unidos. Eles foram aleatoriamente destinados a uma destas três
condições: uso de um jaleco médico x uso de um jaleco de pintor x identificação com
um jaleco médico.
Medida dependente
A medida dependente foi a atenção sustentada, avaliada da mesma forma que
no Experimento 2.
Resultados
Submetemos o número de diferenças encontradas a uma ANOVA de um fator,
que produziu um efeito principal significativo para a condição experimental, F(1,
98)= 8,89, p<.001; η2p= .16 (Fig. 3). De maneira compatível com nossa hipótese, os
participantes na condição de uso de um jaleco médico descobriram mais diferenças
do que os participantes na condição de identificação com um jaleco médico, F(1, 67)=
4,60, p= .04; η2p= .07, que por sua vez encontraram mais diferenças do que os
participantes na condição de uso de um jaleco de pintor, F(1, 63)= 4,48, p= .04; η2p =
.07. Como no Experimento 2, o tempo que os participantes levaram para completar
todas as tarefas não variou entre condições, demonstrando que os efeitos não foram
devidos a uma mera persistência, resultando de maior atenção durante a tarefa.
Assim, identificar-se com o jaleco de médico aumentou o nível de atenção
sustentada, o que se mostra coerente com um tipo de efeito pré-ativação. Entretanto,
em conformidade com nossa perspectiva de cognição indumentária, usar o jaleco
quando descrito como jaleco médico teve um efeito maior do que simplesmente
estar exposto a ele e identificar-se com ele.
Fig. 3. Atenção sustentada (número de diferenças encontradas nas tarefas de busca visual
comparativa) em função da condição experimental. As colunas de erro representam ±1 SEM.
Eixo vertical: Número de diferenças encontradas
Eixo horizontal: Usar um jaleco médico / Identificação com um jaleco médico / Usar um jaleco de
pintor
Discussão