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- Como você está?

- Ahn? – resmungo tirando os olhos da janela molhada pela chuva.


- Como você esta?

Eu lhe dou um sorriso pequeno que mostra minhas covinhas e diminui meus
olhos. Decido finalmente sair de meu mundo e dar uma olhada no local. Estou
sentada no mesmo local de sempre, de frente para ela. Não entendo por que faço
questão de sempre sentar ali se nunca consigo de fato encará-la. Mexo meus olhos
e me deparo com um novo quadro. Eu me levanto para vê-lo de perto. É uma
fotografia preta e branca de um local que não conheço. Então, decido perguntar:

- Onde é? – pergunto sem lhe dirigir o olhar


- Um parquinho perto de minha casa. – ela responde sem se importar muito.

Fico encarando por mais um tempinho até que vou caminhando de volta para a
poltrona azul. Talvez eu goste de sentar aí pela cor. Me sento e volto meu olhar
para a janela.

- Você gosta de dias chuvosos? – eu pergunto me virando e encontrando seus


olhos rapidamente antes de volta-los para a chuva.
- Sim, e você? – ela pergunta na expectativa de que eu finalmente lhe de uma
resposta direta no dia. Mas eu simplesmente ignoro e lhe faço outra pergunta.
- Por que?
- Eu gosto do cheiro da terra molhada. - quando ela responde isso, me vem
varias memorias minhas olhando a chuva cair e sentindo o cheiro. Isso me faz sorrir
genuinamente.
- Eu também.

Ficamos um tempo em silêncio. Não é desconfortável de nenhuma maneira. Eu


gosto dela pois ela não me força a falar.

- Você acha que o tempo do dia influencia seu humor ou como você vai agir? –
eu pergunto quebrando o silêncio. Eu simplesmente lhe pergunto isso pois estava
pensando sobre isso tem um tempo e as respostas dela sempre me surpreendem e
me fazem pensar nisso por semanas. Eu gosto disso.
- Sim. – fico esperando ela elaborar um pouco mais, mas quando ela não o faz,
me decepciono um pouco. Abaixo minha cabeça e começo a brincar com meus
dedos, decidindo continuar a conversa mesmo assim.
- Eu gosto da melancolia que o dia chuvoso me faz sentir... Eu sinto... como se
pudesse deitar no chão... e sentir a água caindo em mim pelo resto dos tempos. –
Enquanto vou falando eu olho para o nada e mexo minhas mãos, eu falo bem
pausadamente, pensando quais são as palavras certas para usar - Eu gosto... como
a minha cabeça fica vazia quando eu olho para o céu e vejo ele cinza... parece que
ele é tão igual a minha mente. Mas o barulho... o barulho é tão reconfortante... é
como uma paz na minha mente perturbada...não deixa ela vazia como o céu, deixa
ela calma. Eu gosto da calmaria... meus pensamentos... não me deixam livre.
Eu solto o ar que não sabia que estava prendendo. Parece que eu falei por
horas. Toda vez que eu falo essas coisas, não são como só falar, é como se eu
olhasse dentro da minha mente, eu procuro as palavras para expressar o que passa
na minha cabeça, apesar de achar que nunca consigo. Acho que é por isso que eu
pauso muito antes de falar, além de que, ao mesmo tempo que eu falo pro outro
absorver, eu falo para mim mesma absorver, parece que elas se tornam reais
quando faladas, e eu me impacto com elas, consequentemente, demorando muito
mais o processo da minha fala. Acho que algumas pessoas se irritam com essa
demora, não sei. Eu saio do meu devaneio quando ouço sua voz.

- Porque você acha que sua mente é cinza? Quais tipos de pensamento
fazem ela ser assim?

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