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QUEBREI MEU VIOLÃO COM UM ABRAÇO VAZIO

Para Sérgio Ricardo e João Lufti

Me perdoe, João.
Não ajudei Zelão
Não namorei Joana
Me perdi fingindo ser bacana.

Te escutei mas não ouvi.


Amei mas não assumi.
Falei de ti mas reduzi.
Na ignorância abracei o conhecimento e deixei escapar a sabedoria que vinha de si.

Ia e não ia a lugar algum, nenhuma direção, ainda que caminhasse para um momento
futuristicamente ultrapassado.

Na parte da tarde
Surgiu um rumor de humor.
O país talvez mude
Mudo não aguenta mais e arde.

E a silvícola disse no documentário:


“A saliva deles é de ódio.
A nossa é de vida”.
Eu respirei e decidi escrever antes da saída.

Por dessas ironias da vida


João Lufti morreu antes de me dar um abraço.

Viveu Sérgio Ricardo e amou quase infinito


Discutindo a vida inteira consigo mesmo numa paixão religiosamente agnóstica por seus ideais
enquanto percebia seus pontos de vista divergentes e ainda assim os conciliava em uma arte que
era uma mínima antes do grito.

Deixou livros que falam, músicas que voam, filmes com raízes e até filhos.

E uma saudade em mim que não sei de onde vai nem para onde veio;
Na minha veia uma velha ideia pulsa:
Construir uma máquina do tempo para dar um beijo no pai do espantalho na noite de pé sem
chão.

Até já, querido talento paquidérmico.


Esse mundo é seu, é meu, é deles também.
Nos vemos amanhã, depois do elo que ela e o menino da calça branca deixaram como ponto de
partida do nosso laço literal dançante.

Irmão, encontre-me.

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