Você está na página 1de 7

O fim do período “café com leite”

no trabalho remoto
Por Danilo Afonso e Rafael Zenato

A pandemia começa a dar sinais de que vai acabar (ainda bem!) e a vida vai
retomar algumas ações, tais como o trabalho presencial, além da
“oficialização” do modelo remoto de atuação.

E você, está atento e pronta para lidar com os desafios deste momento?

O trabalho 100% remoto “improvisado” está com os dias contados.


É o fim do período “café com leite” para algumas desculpas e justificativas
que foram aceitas durante o isolamento e o home office implementado às
pressas. Hora de mudar de fase!

PS: esse texto foi pensado especialmente para as pessoas que, durante a pandemia,
foram orientadas a trabalhar de casa – de repente – sem ter sequer a estrutura
adequada para isso e tiveram que “se virar”. Sabemos que muitas pessoas
continuaram trabalhando presencialmente (motoristas, operadores de máquinas
em fábricas, atendentes de supermercado, estoquistas, entre tantos outros); se esse
for o seu caso, encaminhe esse texto para alguém que tenha trabalhado de casa
durante os últimos 22 meses.

A pandemia trouxe muitas incertezas, muitas cobranças e, ao mesmo tempo, alguns


resultados melhores do que o esperado em diversos setores da economia e até
mesmo da sociedade. Em meio a tanta preocupação, medo e tristeza, de certa
forma aprendemos a nos virar no home office e no trabalho remoto.

A cada reunião por videochamada, fomos conhecendo mais sobre a vida privada de
nossos colegas, clientes, líderes e liderados. A generosidade apareceu e surgiu um
olhar mais apurado nas necessidades de cada indivíduo. Descobrimos que algumas
pessoas moram com avós, que outras têm filho pequeno, cães, gatos, iguanas...
percebemos aqueles que moram com familiares que tem alguma comorbidade ou
necessidade especial… enfim, as mais variadas configurações de vida.
Uma coisa é certa: a pandemia nos ensinou muito sobre adaptação e tolerância. E
nos mostrou, mais uma vez, que no geral o brasileiro sabe mesmo “se virar nos 30” e
fazer do limão uma limonada (dá uma olhada nesse vídeo):
https://www.youtube.com/watch?v=j2k-7wJOKu4

Foi um período em que tivemos, por diversas vezes, de “abrir mão” do


perfeccionismo e fazer do jeito que foi possível. O importante era tocar o barco e
não deixar a bola cair. E nessa hora muitas “desculpas” foram toleradas e
compreendidas pois estávamos vivendo um período atípico.

Apesar de todos os desafios e improvisações, tantas situações inusitadas e


inadequadas ao “bom trabalho” (internet ruim, energia que cai, vizinho que faz
barulho com reforma, cachorro latindo alto...) parece que a maioria das
organizações e de suas pessoas conseguiu manter a boa produtividade durante a
pandemia.

Porém, agora entraremos em uma nova fase.

A chegada de 2022 marca o fim da fase “café com leite” no trabalho remoto,
tais como falhas de estrutura física e digital, problemas com logística pessoal,
atitudes e comportamentos inadequados.

Depois de passar pelos isolamentos sociais, expediente e atividades virtuais, home


office e principalmente vacinas, viveremos o retorno gradativo ao trabalho
presencial, mesmo que em modelo híbrido (alguns dias na empresa, alguns dias em
casa). E, com isso, chegou a hora de organizarmos pra valer um modelo de trabalho
remoto eficiente e eficaz, ao menos para as pessoas que ainda não fizeram isso
durante a pandemia.

A imensa maioria das pessoas ofereceu o seu melhor nesse período tão complexo;
fizemos o máximo com as condições que tínhamos.

Até agora trabalhamos forte - muitos, inclusive, trabalharam muitíssimo na


pandemia mesmo em casa, às vezes até mais do que trabalhavam no escritório.
Ainda assim, houve tolerâncias a certas dificuldades e a necessidade de aceitar
certas questões, comportamentos e hábitos específicos por conta da
implementação súbita do isolamento e do trabalho remoto.

Internet ruim, ambientes desorganizados, ausência de feedback, comunicação


confusa…

No geral, estas questões não foram fruto de amadorismo ou da desatenção dos


líderes e liderados, mas sim da necessidade de adaptação brusca e da situação
atípica em que nos vimos repentinamente.

Contudo, agora chegou o momento de tornar o trabalho remoto mais estruturado e


próximo do que apresentamos quando estamos dentro das empresas.

Depois da fase “leve” em termos de exigências por posturas mais disciplinadas


durante a atuação 100% remota, a tendência – com o retorno do trabalho
presencial – é que aumente o nível de expectativa em relação ao profissionalismo
em todos os sentidos, mesmo nos períodos de atuação home office.

Se a internet de casa é muito lenta, é preciso contratar uma internet melhor.

Se o vizinho está fazendo muito barulho com a reforma, é necessário encontrar um


outro lugar mais silencioso para trabalhar e fazer as reuniões virtuais.

Se o cão não para de latir ou o gato passa toda hora na frente da câmera e pisa no
teclado, é recomendável retirá-los do local da casa onde se está atuando.

Se a criança está impaciente e interrompe a conversa com seu líder a cada 2


minutos, é mais sensato agendar essa conversa em outro horário ou pensar em uma
solução que entretenha a pequenina por mais tempo.

Se ligar a câmera durante uma videochamada – e aparecer na tela para que todos
os participantes te vejam – gera algum desconforto (por vergonha, preguiça ou
porque não deu tempo de pentear os cabelos), é parte do desenvolvimento
profissional superar essa questão e “mostrar a cara”, demonstrando empatia e
simpatia com os interlocutores.
Com a chegada de 2022 e o retorno gradativo aos escritórios, o período de
permissibilidade a alguns comportamentos e argumentos excêntricos está
acabando, especialmente aqueles relacionados a desculpas por falta de estrutura
adequada ou tempo para buscar uma solução. Os clientes, as empresas e os líderes
ficarão mais exigentes.

O nível de cobrança por resultados provavelmente irá continuar crescendo. Cada


vez menos justificativas serão aceitas, tais como “não entreguei porque não entendi
o que deveria ser feito, minha conexão durante a reunião estava horrível – ontem,
anteontem, semana passada...” ou “antes das 10h da manhã não posso falar com
você, meu vizinho fica tocando guitarra a madrugada toda e não me deixa dormir,
por isso acordo mais tarde”.
Chega da fase “café com leite”.

Pandemia: os aprendizados que podemos levar para 2022


Aprendemos muito do início de 2020 até agora.
Que guardemos dessa fase um olhar mais acolhedor e uma atitude mais generosa;
mas que recuperemos as discussões firmes que nos levam a soluções eficientes.
Que mantenhamos a flexibilidade; mas que resgatemos o esforço pela entrega de
resultados sempre extraordinários, com alta qualidade e atitude de protagonista,
sem desculpas ou lamentações.
Que preservemos os direitos adquiridos; mas que pratiquemos com a mesma
veemência os deveres por vezes deixados para depois com as mais variadas
justificativas, tais como:

...“agora preciso jogar um pouco de videogame para espairecer dessa reunião


estressante do início da manhã, depois mando o relatório...”;

...“vou desligar a câmera e só ficar ouvindo a apresentação pois preciso fazer, antes do
pôr-do-sol, meu suco de frutas colhidas em noites de lua cheia...”;

...“preciso tomar meu café das 15h15 conversando com minha amiga que mora na
Tailândia, é uma tradição que começamos na pandemia mas favor me aguardem antes
de discutir qualquer coisa importante pois não quero deixar de participar das reuniões
senão me sinto excluído/excluída e fico triste, posso até ficar deprimida/deprimido...”.
Não devemos resgatar as brutalidades e atitudes por vezes agressivas; mas
precisamos sim reforçar a dedicação e a capacidade de fazer escolhas e tomar
decisões difíceis.

Vamos abandonar um pouco da infantilidade derivada da incerteza, do medo e das


mudanças implementadas repentinamente, e resgatar a maturidade, o
enfrentamento, as conversas corajosas “olho no olho”.

Os professores, por exemplo, tiveram que fazer isso com alunos que
desaprenderam a pedir para ir ao banheiro ou esqueceram de aguardar o intervalo
para mexer no celular.

Chegou a vez dos adultos.

Ou seja, o fim do período “café com leite” estará decretado nas empresas e em
todos os ambientes produtivos onde retornar o trabalho presencial e onde o
trabalho remoto for formalizado.

E os líderes serão fundamentais nessa hora.

Como os líderes devem agir em 2022?

Dica básica: pratique muito a oferta de feedbacks!

Melhor ainda, ofereça fatobacks.

Apresente o mais rápido possível os fatos derivados de algum comportamento que


implique em inadequação, perda de produtividade ou dano ao bom andamento da
prática coletiva (organizações são feitas de pessoas, no plural).

Reconheça também as boas atitudes: parabéns e elogios reforçam a confiança, a


autoestima e indicam o que deve ser mantido.

Sugestão: baixe o ebook do método A7 (www.vertigo16.com.br – área restrita –


senha: FATOBACK) e assista ao vídeo no Youtube
(https://www.youtube.com/watch?v=1CW92OXZ5wA).
Vamos retomar palestras, workshops e debates sobre a prática de bons feedbacks:
os líderes também precisam ser resgatados, e junto as boas práticas de gestão.

Feedback/fatoback é uma ferramenta prática, gratuita e muito eficaz para ajudar as


pessoas a perceberem mudanças que precisam ser feitas para corrigir alguma
atitude e melhorar os resultados.

Lembre-se: a era da tolerância a algumas justificativas (e principalmente desculpas)


decorrentes da pandemia vai acabar junto com a diminuição dessa praga e seus
efeitos, junto com o retorno ao cotidiano de trabalho presencial, híbrido ou não.

Vai acabar a fase “café com leite” no trabalho remoto.

Vamos precisar ainda mais dos profissionais de alto desempenho, com foco na
qualidade das entregas e comprometidos com a busca constante de soluções,
estejam eles onde estiverem, em casa ou nas organizações.

Você, líder ou profissional, está atenta(o) aos desafios dessa nova fase?

Danilo Afonso é diretor técnico da Vertigo 16 Desenvolvimento de Pessoas, atua


como psicanalista, coach e consultor organizacional. Trabalha com processos de
autoconhecimento e aceleração da performance pessoal, capacitação de lideranças
e gestão de talentos. Autor do livro Arqueológos do Futuro em Tempo de Crises e
do método UniverSelf Journey, para clarificação de propósito na vida.
danilo@vertigo16.com.br

Rafael Zenato é cofundador da Gênese Treinamentos, atua como treinador


comportamental, mentor e palestrante. Pós-graduado em Psicologia Positiva,
Ciência do Bem-Estar e Autorrealização pela PUC-RS, certificado como Líder e
Treinador de Alta Performance pela Pandora Treinamentos e Bacharelado em
Comunicação Social pela UFRGS. É autor do livro Tudo É Perfeito Como É.
rafael@genesetreinamentos.com

Você também pode gostar