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EFEITOS DAS SAPONINAS ESTEROIDAIS DA Urochloa ruziziensis

SOBRE A PLANTA DANINHA Ipomoea grandifolia EM SUA FASE


JUVENIL DE CRESCIMENTO.

Maurício Tatsuo Emori (PIBIC/CNPq/Uem), Gislaine Cristiane Mantovanelli,


Márcio Shigueaki Mito, Lais Mercer Coblinski, Aneliz Bastos Andrade de
Alencar, Emy Luiza Ishii-Iwamoto (Orientador), e-mail: eliiwamoto@uem.br.

Universidade Estadual de Maringá/Departamento de Bioquímica/Maringá, PR.

Biotecnologia, Bioquímica.

Palavras-chave: Alelopatia, planta de cobertura, SPAD.

Resumo:

A forrageira Urochloa ruziziensis L. possui compostos fitotóxicos para plantas


daninhas, incluindo saponinas esteroidais. Neste trabalho foram avaliados os
efeitos da fração butanólica de U. ruzizensis (FBut) e da saponina padrão
protodioscina sobre os parâmetros de crescimento e índice SPAD de Ipomoea
grandifolia (Dammer) O’Donell) em sua fase juvenil de crescimento. Nas
plantas tratadas com protodioscina, as alterações causadas nos
comprimentos da raiz, do caule, biomassas frescas e secas, no número de
folhas e na área foliar e índice SPAD tiveram um comportamento sigmoidal:
inibição em doses menores, seguida de recuperação e acentuada inibição na
dose maior (500 µg mL-1). A FBut reduziu o comprimento das raízes, mas
estimulou o crescimento dos caules. A Fbut e a protodioscina exerceram
efeitos complexos na planta jovem de I. grandifolia, os quais são
aparentemente antagônicos na dependência da concentração. O estímulo no
crescimento causado pela protodioscina parece estar associado à melhoria no
aparato fotossintético.

Introdução

A forrageira Urochloa ruziziensis L. possui compostos potencialmente


fitotóxicos para plantas daninhas. Esses compostos foram identificados como
saponinas esteroidais do grupo das dioscinas e foi demonstrado que exercem
efeitos inibitórios sobre o crescimento inicial de plantas daninhas (Silva, 2012;
Mito, 2014). A partir do desenvolvimento das folhas, a fotossíntese passa a
operar modificando drasticamente a bioquímica da planta. O objetivo deste
estudo foi investigar os efeitos das saponinas existentes na fração butanólica
(FBut) da U. ruziziensis e da saponina padrão protodioscina sobre a planta
daninha Ipomoea grandifolia (Dammer) O’Donell) em sua fase juvenil de
crescimento. Foram avaliados parâmetros de crescimento de raiz e caule,
área foliar e número de folhas e biomassa fresca e seca, bem como o índice
SPAD das plantas tratadas por 30 dias.

Materiais e métodos

As sementes de I. grandifolia foram semeadas em vaso de 200 mL, contendo


perlita (12g/vaso). As plantas foram irrigadas diariamente com 5 mL de
solução nutritiva de Clark (1975) diluída duas vezes (controle), ou FBut (50 -
250 µg mL-1) ou protodioscina (100 - 500 µg mL-1). Os vasos foram mantidos
em câmara de germinação com fotoperíodo de 12 horas e temperatura de
30°C. Nos dias 20, 25 e 30 dias de crescimento foram avaliados o
crescimento das raízes e dos caules, o número de folhas verdadeiras, a área
foliar e a biomassa fresca e seca das plantas. O índice SPAD foi medido com
o aparelho SPAD-502. A avaliação foi feita calculando-se a média de duas
avaliações por folha e, em cada planta, a leitura foi realizada em 2 folhas. Os
resultados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e as curvas
dose-respostas foram analisadas por regressão polinomial usando o software
SISVAR® (UFLA, 2006). P < 0.05 foi adotado como critério mínimo de
significância.

Resultados e Discussão

Efeitos da FBut sobre a planta I. grandifollia

A FBut exerceu estímulo dose-dependente no comprimento das raízes


(Fig 1A) e, por outro lado, reduziu o comprimento do caule (Fig. 1B). A
biomassa fresca e seca das raízes apresentou um estímulo em relação ao
controle, seguido de tendência de inibição na maior dose testada (Fig. 1 C, E).
A biomassa fresca e seca dos caules foi reduzida, corroborando os efeitos
sobre o comprimento do caule (Fig. 1 D, F). A desproporcionalidade no
crescimento das raízes e caules causados pela FBut sugere distúrbios na
regulação hormonal do crescimento da planta.

Efeitos da protodioscina sobre a planta I. grandifolia

As alterações causadas nos comprimentos da raiz e do caule tiveram


um comportamento sigmoidal, mostrando inibição nas doses menores (50 e
100 µg mL-1), um estímulo na dose intermediária (250 µg mL-1) e uma inibição
mais acentuada na dose maior (500 µg mL-1) (Fig. 2 A,B). Comportamento
similar foi observado nas biomassas frescas e secas das raízes e dos caules,
no número de folhas e na área foliar (Fig. 2 C-F; Fig. 3 B-D). O número de
folhas apresentou estímulo no tratamento com 250 µg mL-1 de protodioscina,
seguindo por uma inibição em 500 µg mL-1 (Fig. 3 A). O índice SPAD
aumentou nas concentrações de protodioscina de até 250 µg mL-1, mas na
maior dose testada, uma inibição foi observada (Fig. 4). Estes resultados
indicam um efeito benéfico da protodioscina em baixas concentrações que
pode estar relacionado com aumento da concentração de clorofila e, portanto,
a uma maior atividade da cadeia de transporte de elétrons fotossintética. Na
dose maior de 500 µg mL-1, entretanto, um efeito danoso passa a prevalecer.

30 y = 14,875 + 4,259x - 0,475x 2 25 y = 4,7725 + 1,1055x - 0,2825x 2 0.8 y = 0,3157 + 0,2031x - 0,0364x 2
Comprimento dos caules

R² = 0,8604 R² = 0,9021
A B C
Comprimento radicular

R² = 0,9387

Biomassa fresca
20
0.6

das raízes (g)


20
15
(cm)
(cm)

0.4
10
10
0.2
5

0 0 0.0

0 50 100 150 200 250 0 50 100 150 200 250 0 50 100 150 200 250
-1
Concentração de FBut [ µg mL ]
-1
Concentração de FBut [ µg mL ]
-1 Concentração de FBut [ µg mL ]

y = 0,2216 + 0,0271x - 0,0084x 2


Biomassa seca do caule (g)

0.3 0.08
D 0.08 E y =0,0205 + 0,0117x - 0,0017x 2 F
Biomassa seca da raiz (g)

R² = 0,9717 R² = 0,9892 y =0,0323 + 0,0075x - 0,0021x 2


R² = 0,957
Biomassa fresca

0.06
dos caules (g)

0.06
0.2

0.04 0.04
0.1
0.02 0.02

0.0 0.00 0.00

0 50 100 150 200 250 0 50 100 150 200 250 0 50 100 150 200 250
-1 -1
Concentração de FBut [ µg mL ] Concentração de FBut [ µg mL ] -1
Concentração de FBut [ µg mL ]

Figura 1. Efeitos da FBut sobre (A) comprimento radicular, (B) comprimento dos caules, (C)
biomassa fresca das raízes, (D) biomassa fresca dos caules, (E) biomassa seca das raízes e
(F) biomassa seca dos caules de I. grandifolia. Os valores são as médias ± EP (n=5).

A y =26,813 - 0,099x + 0,0005x 2 - 8 . 10 -07 x3


B C
30 25 y =14,732 - 0,131x + 0,0008x 2 - 1 . 10-06 x3 0.8
y = 0,3783 - 0,0013x + 6 . 10 -06 x2 - 9 . 10 -09 x3
Comprimento dos caules
Comprimento radicular

R² = 0,9851 R² = 0,9989
R² = 0,9958
Biomassa fresca

20
0.6
das raízes (g)

20
15
(cm)
(cm)

0.4
10
10
0.2
5

0 0 0.0

0 100 200 300 400 500 0 100 200 300 400 500 0 100 200 300 400 500
Concentração de protodioscina [ µg mL-1] Concentração de protodioscina [ µg mL-1] Concentração de protodioscina [ µg mL-1]

0.4
D y = 0,3217 - 0,0021x + 1 . 10 -05 x2 - 2 . 10-08 x3 E F
0.08 y = 0,0337 - 0,0001x + 4 . 10 -07 x2 - 5 . 10-10 x3 0.08 y = 0,0343 - 0,0002x + 1 . 10 -06 x2 - 2 . 10 -09 x3
R² = 0,9768 R² = 0,9636
R² = 0,8649
Biomassa fresca

0.3
dos caules (g)

Biomassa seca

Biomassa seca

0.06 0.06
do caule (g)
da raiz (g)

0.2
0.04 0.04

0.1
0.02 0.02

0.0
0.00 0.00
0 100 200 300 400 500
0 100 200 300 400 500 0 100 200 300 400 500
Concentração de protodioscina [ µg mL-1] Concentração de protodioscina [ µg mL -1] Concentração de protodioscina [ µg mL-1]

Figura 2. Efeitos da protodioscina sobre (A) comprimento radicular, (B) comprimento dos
caules, (C) biomassa fresca das raízes, (D) biomassa fresca dos caules, (E) biomassa seca
das raízes e (F) biomassa seca dos caules de I. grandifolia. Os valores são as médias ± EP
(n=5).
A B C D y = 0,0853 - 0,0003x + 2 . 10 -06
8 50 y = 37,889 - 0,1274x + 0,0007x 2 -1 . 10-06 x3 1.0 y = 0,6353 - 0,0025x + 1 . 10 -05 x2 - 2 . 10 -08 x3 0.10 x2 - 2 . 10 -09 x3
y = 5,9165 - 0,015x + 0,0001x 2 - 2 . 10 -07 x3 R² = 0,8376
R² = 0,968 R² = 0,8653 R² = 0,9716
Número de folhas

Biomassa fresca
0.8 0.08

Área foliar (cm 3)


40

Biomassa seca
das folhas (g)
6

das folhas (g)


30 0.6 0.06
4
20 0.4 0.04
2
10 0.2 0.02

0 0 0.0 0.00

0 100 200 300 400 500 0 100 200 300 400 500 0 100 200 300 400 500 0 100 200 300 400 500
-1 -1
Concentração de protodioscina [ µg mL ] Concentração de protodioscina [ µg mL-1] Concentração de protodioscina [ µg mL ] Concentração de protodioscina [ µg mL-1]

Figura 3. Efeitos da protodioscina sobre (A) número de folhas (B) área foliar, (C) biomassa
fresca das folhas, (D) biomassa fresca das folhas de I. grandifolia. Os valores são as médias
± EP (n=5).
A B C
30 30 y = 24,393 + 0,029x - 7. 10 -05x2
y = 25,161+0,0069x - 3 . 10 -05x2 35 y = 24,389 + 0,036x - 8 . 10 -05 x2
R² = 0,9855
Índice SPAD 25 dias
Índice SPAD 20 dias

R² = 0,906

Índice SPAD 30 dias


R² = 0,9946
28
25 30
26

24
20 25
22

15 20 20

0 100 200 300 400 500 0 100 200 300 400 500 0 100 200 300 400 500
Concentração de protodioscina [ µg mL-1] Concentração de protodioscina [ µg mL -1] Concentração de protodioscina [ µg mL -1 ]

Figura 4. Efeitos da protodioscina sobre o índice SPAD (A) 20 dias (B) 25 dias e (C) 30 dias.
Os valores são as médias ± EP (n=5).
Conclusão

O conjunto dos dados revelaram que a FBut de U. ruziziensis e a saponina


protodioscina exercem efeitos complexos e antagônicos na planta jovem de I.
grandifolia, possivelmente por atuar em múltiplos sítios de ação.

Agradecimentos
Ao CNPq e Fundação Araucária do Estado do Paraná.

Referências

CLARK, R. B. Characterization of phosphatase of intact maize roots. J Agric


Food Chem, v.23, p.458-460, 1975.

SILVA, A.A. Avaliação dos efeitos alelopáticos e isolamento dos


constituintes das frações ativas das espécies Brachiaria ruziziensis e
Pennisetum glaucum (Poaceae). 2012. 114f. Tese de Doutorado em
Ciências (Química) - Universidade Estadual de Maringá.

MITO, M. S. Estudo do mecanismo de ação fitotóxica da saponina


esteroidal protodioscina, identificada na palhada de Brachiaria
ruziziensis, sobre a planta daninha Bidens pilosa L. 2014. 67f. Tese de
Doutorado em Ciências (Ciências Biológicas) - Universidade Estadual de
Maringá.

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