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Contos do Mundo

África: O Filho do Vento  


Era temporada das ventanias, quando o vento zune e rodopia ao redor das montanhas e vales distantes
no interior da África. 
Há muito tempo, disse a mãe procurando distrair as duas crianças sentadas ao seu lado. O sol, a lua, as
estrelas, os animais e as plantas eram nossos irmãos. 
Até as arvores? – perguntou Dabé elevando a voz de modo que o zoar do vendaval não impedisse a
mulher de ouvi-lo. Sim, respondeu a mãe, plantas, homens, bichos e astros pertenciam a antiga raça.
Todos faziam parte da natureza e tinha direito de conviver em paz uns ao lado dos outros. E o vento?
Indagou Kaoru assustado com a força do temporal que balançava as frágeis paredes das cabanas onde se
abrigavam as fúrias dos elementos. 
Ele também sempre fez parte da nossa vida, explicou a mãe - os mais velhos dizem que quando alguém
morre o seu último suspiro, vai se reunir-se a um vento mais forte e poderoso para formar as nuvens do
céu. 
A mulher parou de falar um instante prestando atenção no silêncio que se instalara repentinamente.
Vejam, observou, o vento sossegou, notem seu sopro está tão calmo como se estivesse dormindo, mas
não se enganem, quando fica zangado assovia furioso igual a pouco, destruindo tudo que encontra pela
frente. O marido que permanecia calado num canto, ergueu-se e falou: Pronto a tempestade passou, já
posso continuar a cerca de proteção contra a areia que o vento levanta, resolveu abrir a estreita porta da
cabana, deixando entrar uma lufada de ar fresco. Assim que o pai saiu o menino voltou-se para a mãe e
pediu: Conte uma história? 
O nosso povo tem muitas lendas, disse a mulher, que passam de geração por geração, a que vão escutar
eu a ouvi quando era pequenina como vocês. Num dia semelhante ao de hoje, guardem bem essa história
que é sobre o filho do vento, assim quando vocês crescerem poderão contar para seus filhos e netos. 
Mãe vento e seu filho moravam numa cabana isolada no alto de uma grande montanha. O menino não
tinha nenhum amigo para brincar, por isso passava o dia tristonho e solitário. 
Quando o vento soprava devagar, a única distração do garoto era observar os antílopes que vinham pastar
nas encostas no entorno da casa. Então o filho do vento ficava bem quieto e assoviava baixinho para não
espantar os animais. 
Porém, quando o vento rugia forte os bichinhos fugiam aos saltos procurando abrigo entre os rochedos
mais distantes. 
Deixando novamente sozinho, sem ter com quem brincar. Um dia, o filho do vento avistou um menino de
sua idade subindo a montanha em busca de ovos de avestruz, assobiou cheio de alegria tentando chamar
atenção do rapazinho. 
Em seguida o filho do vento pegou sua bola e saiu correndo e vupt para jogar com alguém do seu
tamanho, como sempre desejara fazer. 
Ei Nakati, gritou: Segure! Avisou rolando a bola em direção ao surpreso menino. 
Nakati assustou-se e ao ver o estranho garoto de cabelos eriçados como crista de galo chamando pelo
nome. Não sabia que o desconhecido era o filho do vento aquele que sofra em todas as regiões
rodopiando pelos paredões e cavernas e repletas de muitos e elementares se enfiam pelas frestas das
portas e sibilam pelos montes e campinas insinuando-se por todos os lugares por onde passa e onde ele
entra escuta tudo atentamente jamais se esquecendo do que ouviu o vento sabe nossos segredos, sabe
tudo e conhece todas as pessoas. 
Quem é você? Perguntou Nakati assim que segurou a bola. Como é que adivinhou meu nome? 
Isso eu não posso revelar, respondeu o filho do vento todo contente por ter encontrado um parceiro para
se divertir. 
Jogue a bola! Pediu...Está bem, disse Nakati, atirando- a de volta, desconhecendo o fato que ninguém
deveria envolver se com o filho do vento, pois isso deve ser muito perigoso! 
Os dois meninos riam enquanto batiam palmas enquanto jogavam bola um para o outro, a bola deslizava
pela grama pela frente para trás sem cessar. Pegue disse o filho do vento. Segure! Respondeu Nakati, a
brincadeira só acabou quando a mãe vento saiu de casa e chamou mãe vento para entrar. 
Nakati ficou prestando a atenção para ver se descobria o nome do amiguinho. Mas ouviu apenas um som
igual ao barulho do vento das montanhas (som de vento) minha mãe está me chamando, disse o garoto do
cabelo eriçados. Venha brincar comigo amanhã. Convidou todo animado, combinado prometeu Nakati. 
O filho do vento subiu o morro alegre sacudindo a cabeleira depois zoom sumiu para porta adentro. 
Nakati correu o mais próximo que pode para casa sua mãe um misterioso encontro na montanha. Ela
sabia de tudo e devia conhecer a família do menino que adivinhara seu nome. 
Mamãe, Mamãe, gritou chispando para dentro da cabana, era preciso saber o nome de um garoto. 
A mulher antes de responder abraçou o menino carinhoso, primeiro acalma-se, recupere o fôlego, de
quem você está falando.  
- O menino que mora no alto da montanha, como ele sabe meu nome.  
- Vocês nunca tinham –se encontrados antes. Não foi a primeira vez, eu também queria saber quem é,
mas o menino de cabelos euriçados disse que não poderia me dizer. O rosto da mãe ficou sério de
repente, com um ar preocupado resmungou: Agora não lhe posso dar uma resposta, você tem que esperar
seu pai enquanto seu pai constrói um cercado do vento, só depois disso revelarei o segredo. 
Todas as manhãs Nakati saia para brincar com o amigo do cabelo arrepiado, os dois divertiam-se o tempo
inteiro, alegre e sorridentes. 
Ei Nakati, prepare-se jogava a bola para o filho do vento como das outras vezes. Nakati prestava atenção
para ver se descobria o nome do amigo, mas como sempre ouvia o menino doce e suave murmúrio(sopro)
porque só ouvia o barulho do vento, perguntava a si mesmo o decepcionado Nakati por mais atento que
escutava apenas o som do vento. 
Durante a tarde Nakati ajudava o pai a construir a cerca com paus e gravetos. 
O menino trabalhava duro torcendo para o tapume ficar pronto o mais rápido possível. Estamos quase
terminando, disse o pai suando sob o sol forte, depois podemos capturar alguns antílopes e prendê-los no
cercado. O tempo estava calmo, falou consultando o céu, e logo os animais estarão pastando perto de
nossa cabana. Satisfeito Nakati foi avisa a mãe. Veja o menino apontou para cerca. Já pode revelar o
nome do meu amigo. A mulher lançou um olhar para a cerca de proteção da casa, respondeu de voz
baixa. O seu colega de brincadeiras é o filho do vento. 
Sim, confirmou a mãe, você tem que prometer que não contará para ninguém o nome dele antes que o
cercado fique pronto. Prometo! Porr favor, Como é que ele se chama? Implorou Nakati não aguantando
mais a demora para decifrar o mistério. 
Você precisa prometer outra coisa também, disse ela retardando a resposta final. 
Assim que o segredo for desvendado o filho do vento ficará tão surpreso que talvez desabe e role no chão,
se ele cair o vento começa a soprar muito forte, então trate de fugir o mais rápido que puder, pois o vento
pode se rebelar, entendeu? 
Entendi! Preste bem atenção, sussurrou a mulher, olhando bem para os lados, observando se alguém
estivesse escutando. 
O menino tem dois nomes, o primeiro é Fuuuu (som de vento) e o segundo é Chiiiiiii. O nome completo do
cabelo arrepiado é Fuuuu Chiiiii, Exclamou Nakati, esse era o som que eu ouvia toda as vezes que a mãe
do meu amigo vinha chama-lo. 
Eu pensava que era só o barulho do vento, agora eu entendo o porquê os dois sempre saiam rodopiando
no meio do rodamoinho de pueira. O foi assim que o estranho menino de cabelos espetados igual a um
porco espinho se chamava, fuuu chiiii, filho do poderoso vento, senhor do ar e das tempestades. 
No outro dia, Nakati foi correndo brincar com o amigo, mal esperando a hora de revelar o segredo. 
O filho do vento tão logo avistou o garotinho se aproximando e zuniu para fora da cabana com o
insuperável brinquedo nas mãos. Hei Nakati, pegue! Avisou alegre como sempre. Nakati segurou a bola
antes de devolvê-la, pensou na promessa que havia feito para sua mãe. Ali do alto dava para ver sua
cabana, bem ao pé da montanha o pai cuidadoso, caprichava nos últimos retoques da cerca, por isso ele
tinha que aguardar mais um pouco. 
Hei amigo, ai vai a bola de novo, gritou rolando a bola de novo, a bola girava para cima e para baixo sem
parar, toda vez que Nakati olhava disfarçadamente por cima do ombro, via o pai trabalhando. 
Hei amigo, ande logo! Reclamou o filho do vento. Nakati sempre que pegava a bola demorava um pouco.
De modo que, pudesse ver o que estava acontecendo lá em baixo. 
Aí vai, repetia. Ao perceber que o pai ainda se esmerava nos acabamentos. A medida que o tempo
passava Nakati ficava cada vez mais nervoso, só sossegou quando observou que o pai havia sentado na
beira da cabana, como um trabalho que levará tantos dias para terminar. 
Nakati então, pegou a bola e devolveu ao companheiro de brincadeira, como havia feito tantas e tantas
vezes:  
Hei Fuuu chiiii, aí vai a bola, segure fuuuu chiiii! Berrou Nakati com todas as forças de seus pulmões, o
filho do vento levou um susto enorme quando ouviu Nakati pronunciar seu nome, no mesmo instante
começou a balançar para frente e para trás como uma árvore acoitada por uma tempestade. Nakati nem
esperou ver o que aconteceu, não tinha se esquecido dos conselhos da mãe, por isso tratou de fugir dali. 
A bola bateu no joelho do tremulo filho do vento desiquilibrando ele caiu no chão fazendo um barulho
apavorante, parecia que estava brincando de plantar bananeira com a cara enfiada na poeira,  ao mesmo
tempo que agitava as pernas, freneticamente Nakati, só parou de correr na hora que ouviu o estrondo,
olhando para trás percebeu o filho do vento debatendo -se de cabeça para baixo, quanto mais ele
esperneavam mais a natureza se rebelavam, ventos, ventanias e vendavais corriam ao ser chamado numa
zueira infernal Fuuuu, Chiiii. 
Emitiam uns sons assustadores estremecendo a terra e o ar, turbilhões, tornados e redemoinhos e
furações acudiam ao seu apelo, o filho do vento finalmente conseguiu ficar de joelhos agarrado a uma
grande quantidade de ar agarrou -a formando uma grande bola e muito agitado soprou em direção a
Nakati. 
Ei amigo, aí vai um novo brinquedo, gritou arremessando a imensa bola que acabou de fazer em
perseguição ao fugitivo, mas a gigantesca esfera transparente não parava de inflar enquanto descia aos
montes e colinas no ençalço do menino. Nakati sabia que não poderia deixar a bola alcança-lo, pois não
teria força para rebatê-lo. 
Horrorizado sentia o bolão se aproximando como se fosse um bafo quente de animal selvagem, então
Nakati correu de verdade como antes nunca tinha corrido em sua vida correu mais rápido que o vento em
direção a cabana dos pais esbaforido, ainda teve o cuidado de fechar a portinhola antes de refugiar-se no
interior da morada. 
A bola de vento jogou-se contra a cerca rodopiando-se em volta dela em busca de uma brecha. 
Enquanto isso, longe dali, Fuuuu Chiiii, continuou rolando no chão sem parar, sentia um prazer enorme em
ver o enorme vendaval que conseguiu desencadear, contente prosseguiu chutando o ar escuro e
divertindo-se com a violência dos tornados. 
Os ventos varriam as montanhas impiedosamente, redemoinhavam e avançavam pelas matas sacudindo
as cabanas e assustando os animais. Fuuuu Chiiiii, tentou se levantar, mas levou uma outra queda,
estremecendo o ar impregnado de poeira e a mãe vento alertada pela barulheira percebeu que o filho tinha
caído, desesperada saiu pela porta afora, gritando levante -se, Fuuu Chiii, levante-se. O Filho do vento
remechia-se no solo, uivava de alegria e a confusão era tanta que não conseguia ouvir nada. A mãe
aproximou-se do filho e agarrou e o levantou com força. 
Na mesma hora a fúria do vento cessou e aos poucos o céu foi ficando limpo novamente. 
Logo tudo voltou ao normal e os antílopes puderam pastar em paz. 
Agora já sabem, disse mulher as crianças assim que acabou a história; 
Vocês podem correr e brincar com o vento, mas nunca pronunciar o nome dele, isso deve ser guardado
como um segredo, advertiu enquanto enquanto observava uma brisa que murmurava ao redor da cabana. 

Japão: O tecido Mágico -


Era uma vez um pescador que vivia sozinho e feliz em sua mísera casinha na praia. Passava seus dias a
pescar e a vender seus peixes nas cidadezinhas mais próximas. 
Nunca lhe acontecia nada de extraordinário, mas ele não se lamentava. Bastava-lhe observar as manhãs
claras e brilhantes, as águas espelhadas do mar ao amanhecer, os crepúsculos vermelhos e dourados, as
noites do céu salpicadas de estrelas e até mesmo as nuvens negras e baixam que anunciavam
tempestades. 
Um dia, como sempre, saiu para pescar, enquanto lançava o anzol na água pensava: “que lindo está o dia
hoje! 
O mar está tão azul e calmo, o céu lindo e reluzente, o verde dos pinheiros brilha como nunca!” 
Estava completamente absorvido por essa visão quando sentiu no ar um suave perfume. Pôs sua vara no
chão e saiu atrás do misterioso aroma. 
Não preciso ir muito longe, pois assim que chegou ao bosque que margeava a praia se deparou com um
lindíssimo véu preso nos galhos de um pinheiro. 
Oh, exclamou o pescador, que lindo quero leva-lo para casa como lembrança desse dia maravilhoso, vou
guarda-lo como um verdadeiro tesouro. 
Subiu rapidamente na árvore e pegou o véu. Desceu, e cuidadosamente, colocou-o sobre o capim para
examiná-lo com atenção. 
Era o véu mais bonito que um homem mortal jamais vira. Tecido com raios de lua entrelaçados com raios
de sol e todo salpicados de minúsculas estrelas reluzentes, era tão grande que o cobria inteiro, mas tão
leve e fino que se quisesse poderia guarda-lo na palma de sua mão. 
Não vendo a hora de guardar o seu tesouro, já tomava o caminho de casa quando, repentinamente, surge
da sombra de um pinheiro uma linda moça. 
Ei, meu bom homem! Este véu é meu, eles pertencem as ninfas celestes! Devolva-o por favor! 
Devolva o meu véu- suplicou. 
Sem olhar para trás o pescador respondeu: 
- Então eu tinha razão, esse véu é mesmo um tesouro! Seria um idiota se o devolvesse. E Depois... 
Mas, não resistindo a curiosidade, para ver quem pertencia aquela adorável voz tão gentil e viu-se diante
de uma ninfa celestial. Seus cabelos negros e compridos caíam até o ombro e o quimono que usava
parecia de prata. Duas grossas lágrimas rolavam por seu rosto. 
Por favor, devolva meu véu, senão não poderei voltar para junto de minhas irmãs, disse chorando e o
pranto a tornava ainda mais bonita. 
 O coração do pescador o enterneceu, sentia -se completamente apaixonado por aquela linda moça.
Respondeu: 
-Está bem, vou devolve-lo, mas em troca gostaria que você dançasse para mim. 
Oh sim, dançarei para você, mas antes devolva meu véu – insistia a moça. 
Não porque depois você não dançará e voará de volta para o céu. Não sou tão bobo quanto pensa,
protestou o humilde pescador. 
- As ninfas celestiais jamais mentem. Se disse que vou dançar para você é porque eu o farei. Mas sem o
véu não posso fazer nada. Não resistindo mais aos pedidos da moça, o pescador devolveu-lhe o véu.
Imediatamente ela pôs se a dançar. E dançava maravilhosamente. 
Seu corpo começou a flutuar lentamente, e ela ficou suspensa no ar com o véu voejando graciosamente a
seu redor: era como se mãos invisíveis a sustentassem. Do céu desceu uma chuva de flores. 
 O pescador sentou-se na raiz de uma árvore e ali ficou a admirar aquele lindo espetáculo, a certa altura
permaneceu apreensivo, que ela se distanciava lentamente em direção ao alto do monte fuji, a montanha
sagrada japonesa. 
Não acreditava no que estava vendo, mas pouco a pouco constatou, desesperado, que a ninfa estava
fugindo. 
Queria Chamá-la, mas não conseguia, seus membros foram invadidos por um estranho torpor. 
Enquanto isso a ninfa continuava a subir, passando pela névoa que envolve as encostas do Fuji até
ultrapassar o pico coberto de neve. E assim foi subindo até desaparecer completamente, deixando no
horizonte o magnífico panorama de sempre. 
“Que dia maravilhoso”, pensou, “Enquanto viver, jamais esquecerei essa linda moça”. 
E uma profunda paz foi se apoderando do jovem pescador. Parecia despertar de um belíssimo sonho, e,
lentamente, voltou para a vara de pescar que tinha abandonado sobre a areia. 
  
  
 
China: O Imperador e o Falcão 
Conta a lenda que certa manhã o Imperador Mongol Gengis Khan e sua corte saíram para caçar.
Enquanto seus companheiros levavam flechas e arcos, Gengis Khan carregava sua águia favorita no
braço, que era melhor e mais precisa que qualquer flecha, pois podia subir aos céus e ver tudo aquilo que
o ser humano não conseguia ver. 
Entretanto, apesar de todo o entusiasmo do grupo, não conseguiram encontrar nada. 
Decepcionado, Gengis Khan voltou para seu acampamento. Mas, para não descarregar sua frustração em
seus companheiros, separou-se da comitiva e resolveu caminhar sozinho. 
Tinham permanecido na floresta mais tempo que o esperado e Gengis Khan estava cansado e com sede.
Por causa do calor do verão, os riachos estavam secos. Não conseguia encontrar nada para beber até
que, enfim, avistou um fio de água descendo de um rochedo à sua frente. 
Na mesma hora, retirou a águia do seu braço, pegou o pequeno cálice de prata que sempre carregava
consigo, demorou um longo tempo para enchê-lo e, quando estava prestes a levá-lo aos lábios, a águia
levantou vôo e arrancou o copo de suas mãos, atirando-o longe. 
Gengis Khan ficou furioso, mas era seu animal favorito, e talvez estivesse também com sede. Apanhou o
cálice, limpou a poeira e tornou a enchê-lo. Após outro tanto de tempo, com a sede apertando cada vez
mais e com o cálice já pela metade, a águia de novo atacou-o, derramando o líquido. 
Gengis Khan adorava seu animal, mas sabia que não podia deixar-se desrespeitar em nenhuma
circunstância, já que alguém podia estar assistindo à cena de longe e mais tarde contaria aos seus
guerreiros que o grande conquistador era incapaz de domar uma simples ave. 
Desta vez, tirou a espada da cintura, pegou o cálice, recomeçou a enchê-lo. Manteve um olho na fonte e
outro na águia. Assim que viu ter água suficiente e quando estava pronto para beber, a águia de novo
levantou vôo e veio em sua direção. Gengis Khan, em um golpe certeiro, atravessou o peito da águia,
ferindo-a mortalmente. 
 Retomou o trabalho de encher o cálice. Mas o fio de água havia secado. 
Decidido a beber de qualquer maneira, subiu o rochedo em busca da fonte. Para sua surpresa, havia
realmente uma poça de água e, no meio dela, morta, uma das serpentes mais venenosas da região. 
Se tivesse bebido a água, já não estaria mais no mundo dos vivos. 
Com os olhos cheios de lágrimas, o imperador desceu da rocha a tempo de ver sua águia dar os últimos
suspiros de vida. Pegou sua ave cuidadosamente e levou-a para seu palácio enterrando-a nos Jardins
Imperiais. Ele tirou uma conclusão de todo esse acontecimento: sempre que sentisse raiva novamente, a
primeira coisa a fazer seria parar. Depois pensar e finalmente, agir. 

Espanha: (Ilhas canárias) O lenhador e a Criação das Histórias 


Há muito, muito tempo, existiu um lenhador tão bruto que, todo dia, ao retornar da floresta, assim que
entrava na casa batia em sua esposa. E aí dela se reagisse... Quando reagia, apanhava mais ainda. 
A vida dessa mulher era um sofrimento só. Mas tudo mudou no dia em que descobriu que estava grávida.
Agora, não estaria mais sozinha no mundo. No dia em que ela soube que esperava seu primeiro filho,
como sempre, o marido chegou da floresta, largou suas ferramentas de trabalho e levantou a mão para lhe
dar aquela surra. Mas, pela primeira vez, a mulher gritou: 
Pará! 
O lenhador ficou assustado: nunca tinha ouvido falar tão alto. Nem chegou a pensar em bater nela, pois a
esposa imediatamente começou a inventar uma história: 
Era uma vez... 
O homem foi ouvindo, ouvindo e ouvindo e, ao mesmo tempo, relaxando, relaxando e relaxando. Depois
de alguns minutos, adormeceu. Ao abrir os olhos, o dia já tinha raiado. Tomou café e saiu para a floresta. 
No final da tarde, o lenhador entrou em casa, largou as ferramentas, levantou a mão para bater na mulher,
mas: 
Pára! Era uma vez... A cena do dia anterior se repetiu. 
Os antigos relatam que essa mulher contou histórias, todos os dias da semana; a cada dia uma narrativa
diferente. Os ancestrais também dizem que, passado os nove meses, ela teve um lindo bebê. Com o
bebê, nasceram também todas as histórias da humanidade. 

Brasil: O Nascimento do Mundo  


Lenda Maori recontada por Maria da Luz 
No início só havia Kore, a energia, vagando na escuridão do espaço infinito. Então, veio a luz e surgiram
Ranginui, o Pai Céu, e Papatuanuku, a Mãe Terra. Rangi e Papa tiveram muitos filhos: Tangaroa, deus
das águas; Tane, deus das florestas; Tawhirmatea, deus dos ventos; Tumatauenga, deus da guerra, que
deu origem aos seres humanos; e Uru, que não era deus de nada. 
Rangi e Papa viviam num perpétuo abraço de amantes. Acontece que esse enlace apaixonado não
deixava a luz penetrar entre seus corpos, onde ficavam os filhos. Obrigados a viver apertados e sempre no
escuro, os jovens resolveram dar um basta na situação. 
– Vamos matar Rangi e Papa e ficar livres deles! – disse Tumatauenga. 
– Não! – disse Tane. – Vamos apenas separálos, empurrando um para cima e deixando o outro embaixo.
Assim sobrará espaço para nós e a luz vai poder entrar. 
Todos acharam a ideia excelente. 
Tane, que era o mais forte de todos, firmou bem os pés em Papa, encaixou os ombros no corpo de Rangi
e o empurrou para cima com toda a força. 
Os pais se separaram, mas – oh, decepção! – só um pouco de luz chegou ao mundo dos filhos. Além
disso, Rangi e Papa estavam nus e, longe um do outro, sentiam muito frio. 
Comovido com a situação, Tane abrigou o pai com o negro manto da noite. 
Para a mãe fez um vestido com as mais verdes e tenras folhas e as flores mais coloridas. Em torno dela
fez ondular as águas azuis dos mares e rios de Tangaroa. Os ventos de Tawhirmatea sopravam
suavemente seus cabelos. Os filhos de Tumatauenga já começavam a povoar o mundo recém-criado. 
Olhando lá de cima os lindos trajes da mulher e sua participação no novo mundo, Ranginui ficou doente de
inveja. Sua dor cobriu o mundo com uma névoa úmida e cinzenta. 
Refugiado em uma dobra do manto paterno, Uru chorava e chorava por não ter sido útil em nada aos pais
e aos irmãos. Para que ninguém percebesse suas lágrimas, escondia-as em cestas e mais cestas. Mas
Tane tudo percebera: 
-Uru, meu irmão, preciso de sua ajuda! 
– Nada tenho para dar, você bem sabe! 
– Ora, Uru, você tem tantas cestas… 
Surpreso e com medo de ser descoberto em sua fraqueza, Uru abaixou a cabeça: – Não tem nada dentro
delas, irmão. 
Tane avançou e destampou uma das cestas. Dela voaram luzes faiscantes e risonhas para todos os lados.
As lágrimas de Uru haviam se transformado em crianças-luz (para nós, estrelas)! 
– Uru, será que você podia me ceder duas de suas cestas? Seus filhos poderiam enfeitar e iluminar a
morada de nosso pai… Uru concordou. As duas cestas foram passadas para Te Waka o Tamareriti, uma
canoa muito especial. Tane conduziu a canoa até o céu, espalhando sobre o manto de Rangi milhares de
estrelinhas que riam e piscavam umas para as outras o tempo todo. 
Quando Tane ia pegar a segunda cesta, esta tombou e se abriu, deixando as estrelas se espalharem
numa grande faixa chamada Ikaroa, que cruzou o céu de lado a lado (para nós, a Via Láctea). Tane deixou
Ikaroa e Waka o Tamareriti (que é a “cauda” da nossa constelação do Escorpião) no espaço celeste, onde
se tornaram os guardiões das estrelas. 

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