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O Papagaio Encantado

Por: Darilava Torres


Adaptação: Nelson Torres

Uma senhora, que tinha uma casa no meio do mato no interior da região de
Capanema morreu, e sua casa ficou, por muito tempo abandonada, até que Seu Bernardo,
um conhecido caçador e pescador da região, homem tinhoso e teimoso, decidiu ir com
sua família morar na dita casa, já que ninguém à havia reclamado.
Dona Maria, esposa de seu Bernardo, já criava muitas aves no quintal imenso
dessa casa, já havia passado algum tempo que eles já moravam nela... patos, perus,
catraias, mas o forte mesmo eram as galinhas.
Certa noite Francisco, o filho do casal, que dormia numa rede no corredor da
casa de pau-a-pique, percebeu um vulto todo coberto de um manto preto, que parecia uma
burca, passando ao seu lado em direção ao quarto e à cozinha. Gelado de medo, fez o que
todos fazemos quando isso acontece: se cobriu dos pés à cabeça e ainda deu aquela girada
na rede, só para garantir a “proteção”. Francisco relatou o acontecido a sua mãe no dia
seguinte, mas ela achou que fosse um sonho ou coisa assim.
Na volta de uma das caçadas, e sabendo que dona Maria gostava de aves, seu
Bernardo lhe trouxe, de presente, um papagaio. O nome do loro era José, o santo
carpinteiro; o bicho ficou logo famoso na localidade; imitava todo mundo; falava pelos
cotovelos e cantava até o hino Nacional... era um verdadeiro “pop star” da região.
Mas então, numa noite de lua cheia, por volta das 9 horas, depois de um vento
forte, que parecia ser só no quintal, as galinhas do poleiro entraram em revoada e o
barulho acordou a casa toda, mas ninguém se levantou para ver o que era e, de repente,
ouve-se uma voz assombrosa numa melodia tenebrosa que dizia: “Labizim, labizone abra
a porta, que hoje eu vim te visitar...! ” Para espanto maior de todos, sem que ninguém o
mandasse, usando a mesma melodia, o papagaio loro começou a falar: “Lava o pé, lava a
mão, que já foi se deitar...”, na época, seu Bernardo passava muito tempo ausente nas
caçadas e pescarias que fazia para prover o sustento da família, por isso só sabia dos
acontecidos quando retornava das jornadas que fazia.
Por várias noites de lua cheia o fato voltou a acontecer e a voz assombrosa
ecoava a dizer numa tenebrosa melodia: “Labizim, labizone abra a porta, que hoje eu vim
te visitar...! O loro José respondia, na mesma melodia, até voz assombrosa parar de ecoar:
Lava o pé, lava a mão, que já foi se deitar...”
Seu Bernardo, curioso, resolveu que na próxima noite de lua cheia iria em casa
ficar, para ver se descobria, o que de fato acontecia por lá. Chegando o dia da noite de
lua, o homem passou esse dia todinho cuidando da roça, pois tinha feijão, tinha milho e
mandioca para colher e cuidar. O cansaço foi tanto que ele nem se lembrou do caso do
encanto; se deitou e desabou no sono do cansaço da lida, mas foi acordado uma, duas e
até dez vezes durante a noite pela voz assombrosa que dizia: “Labizim, labizone abra a
porta, que hoje eu vim te visitar...! Que era seguida, nitidamente pela voz do papagaio
que dizia: Lava o pé, lava a mão, que já foi se deitar...”!
Na manhã seguinte, o velho tinhoso, furioso pela noite de sono perdida, achou
que todas vozes era o papagaio que fazia pelo talento que tinha e disse, sem dó: Hoje eu
vou te almoçar”! Enquanto ele depenava o pescoço da ave para a faca passar, o papagaio
dizia “corta devagar que dói, dói, dói...” O cozido ficou gostoso e seu Bernardo deu o
caso por resolvido e durante os dias seguidos tudo ficou em paz até que na noite seguinte
de lua cheia, logo depois das nove, com seu Bernardo estando fora, caçando, dona Maria
e Chiquinho sozinhos na casa eles ouviram a voz assombrosa repetir a mesma cantoria:
“Labizim, labizone abra a porta, que hoje eu vim te visitar...! Sem o papagaio para
responder à melodia o silêncio foi de arrepiar. A voz assombrosa mais uma vez começou
a soar: “Labizim, labizone abra a porta, que hoje eu vim te visitar...! e novamente não
tinha o loro para retrucar e pela terceira vez a voz assombrosa se pôs a bradar: “Labizim,
labizone abra a porta, que hoje eu vim te visitar...! À essa altura, dona Maria já se
preparava para o pior, pegou o Chiquinho, um cordão de alho, todos os galhos de arruda
que tinha, querosene e a lamparina para tentar na vila chegar.
Sem o papagaio para responder à cantoria da visagem, a casa começou a tremer;
o vento, que era tremendo, fez o telhado de cavaco escorrer... as janelas se abriram e as
portas também... o vulto coberto de um manto preto refletia à luz do luar e sem pensar
meia vez, dona Maria, munida de Chiquinho e as suas mandingas se pôs a correr e, por
sorte, chegaram a vila pedindo ajuda para sobreviver. Seu Bernardo ficou, dessa vez,
muito assustado quando soube do caso e ninguém mais voltou à casa abandonada no meio
do mato!
Depois de um tempo, com o Chiquinho mais crescido, ele contou a sua mãe algo
que ele ainda não havia dito, que na noite do dia que ele vira o vulto coberto com um
manto, ele a ouviu falando: Urra! Que diabo! Tem uma galinha dentro do meu quarto!
Urra! Que diabo! O meu fogão tá todo esbandalhado”! E essa foi a estória do papagaio
encantado.

Nelson Torres

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