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noite e ninguém acendia o fogo. Tendo policia passa ao lado da criança e se volta, para
apalpado o rosto de sua mãe, admirou-se fingir que não a vê.
Eis uma rua ainda: como é larga! Vão esmagá- tilintar sonoro: ele não pôde fechar os dedinhos
lo, certamente; como todo para segurá-la.
mundo grita, vai, vem e corre, e como está O menino apertou o passo para ir mais longe —
claro, como é claro! Que é aquilo ali? nem ele mesmo sabe
Ah! uma grande vidraça, e atrás dessa vidraça aonde. Tem vontade de chorar; mas dessa vez
um quarto, com uma árvore que tem medo e corre. Corre soprando
sobe até o teto; é um pinheiro, uma árvore de os dedos. Uma angústia o domina, por se sentir
Natal onde há muitas luzes, muitos tão só e abandonado, quando, de
objetos pequenos, frutas douradas, e em torno repente: Senhor! Que poderá ser ainda? Uma
bonecas e cavalinhos. No quarto multidão que se detém, que olha
há crianças que correm; estão bem vestidas e com curiosidade. Em uma janela, através da
muito limpas, riem e brincam, vidraça, há três grandes bonecos
comem e bebem alguma coisa. Ali uma menina vestidos com roupas vermelhas e verdes e que
que se pôs a dançar com um parecem vivos! Um velho sentado
rapazinho. Que bonita menina! Ouve-se música parece tocar violino, dois outros estão em pé
através da vidraça. A criança junto de e tocam violinos menores,
olha, surpresa; logo sorri, enquanto os dedos e todos maneiam em cadência as delicadas
dos seus pobres pezinhos doem e os cabeças, olham uns para os outros,
das mãos se tornaram tão roxos que não enquanto seus lábios se mexem; falam, devem
podem se dobrar, nem mesmo se falar — de verdade — e, se não
De repente o menino se lembrou de que seus O menino julgou, a princípio, que eram pessoas
dedos doem muito; põe-se a vivas, e, quando
chorar, corre para mais longe, e, através de finalmente compreendeu que eram bonecos,
uma vidraça, avista ainda um quarto, pôs-se de súbito a rir. Nunca tinha
e neste outra árvore, mas sobre as mesas há visto bonecos assim, nem mesmo suspeitava
bolos de todas as qualidades, bolos que existissem! Certamente,
de amêndoa, vermelhos, amarelos, e sentadas desejaria chorar, mas era tão cômico, tão
estão quatro formosas damas que engraçado ver esses bonecos! De
distribuem bolos a todos os que se apresentem. repente pareceu-lhe que alguém o puxava por
A cada instante, a porta se abre trás. Um moleque grande,
para um senhor que entra. Na ponta dos pés, o malvado, que estava ao lado dele, deu-lhe de
menino se aproximou, abriu a repente um tapa na cabeça,
porta da rua. Como ele teve medo! Mas a depressa e correu com quantas pernas tinha,
moeda rolou pelos degraus com um sem saber para onde. Atravessou o
portão de uma cocheira, penetrou num pátio e — Mamãe! mamãe! Como é bom aqui, mamãe!
sentou-se atrás de um monte de — exclamava a
lenha. "Aqui, pelo menos", refletiu ele, "não me criança. De novo abraça seus companheiros, e
acharão: está muito escuro." gostaria de lhes contar bem
Sentou-se e encolheu-se, sem poder retomar depressa a história dos bonecos da vidraça...
fôlego, de tanto medo, e
— Quem são vocês então, meninos? E vocês,
bruscamente, pois foi muito rápido, sentiu um meninas, quem são? —
grande bem-estar, as mãos e os
pergunta ele, sorrindo e mandando-lhes beijos.
pés tinham deixado de doer, e sentia calor,
— Isto... é a árvore de Natal de Cristo —
muito calor, como perto de uma
respondem-lhe. — Todos os
estufa. Subitamente se mexeu: um pouco mais
anos, neste dia, há, na casa de Cristo, uma
e dormiria! Como seria bom
árvore de Natal, para os meninos que
dormir nesse lugar! "Mais um instante e vou
não tiveram sua árvore na terra...
ver outra vez os bonecos", pensou o
E soube assim que todos aqueles meninos e
menino, que sorriu à lembrança: "Podia jurar
meninas tinham sido outrora
que eram vivos!"
crianças como ele, mas alguns tinham morrido,
... E de repente pareceu-lhe que a mãe lhe
gelados nos cestos, onde tinham
cantava uma canção. "Mamãe,
sido abandonados nos degraus das escadas dos
vou dormir; ah! como é bom dormir aqui!"
palácios de Petersburgo; outros
— Venha comigo, vamos ver a árvore de Natal,
tinham morrido junto às amas, em algum
meu menino —
dispensário finlandês; uns sobre o seio
murmurou repentinamente uma voz cheia de
exaurido de suas mães, no tempo em que
doçura.
grassava, cruel, a fome de Samara;
Ele ainda pensava que era a mãe, mas não, não
outros, ainda, sufocados pelo ar mefítico de um
era ela. Quem então
vagão de terceira classe. Mas
acabava de chamá-lo? Não vê quem, mas
todos estão ali nesse momento, todos são
alguém está inclinado sobre ele e o
agora como anjos, todos juntos a Cristo,
abraça no escuro, estende-lhe os braços e...
e Ele, no meio das crianças, estende as mãos
logo... Que claridade! Amaravilhosa
para abençoá-las e às pobres
árvore de Natal! E agora não é um pinheiro,
mães... E as mães dessas crianças estão ali,
nunca tinha visto árvores
todas, num lugar separado, e
semelhantes! Onde se encontra então nesse
choram; cada uma reconhece seu filhinho ou
momento? Tudo brilha, tudo
filhinha que acorrem voando para
resplandece, e em torno, por toda parte,
elas, abraçam-nas, e com suas mãozinhas
bonecos — mas não, são meninos e
enxugam-lhes as lágrimas,
meninas, só que muito luminosos! Todos o
cercam, como nas brincadeiras de
recomendando-lhes que não chorem mais, que
roda, abraçam-no em seu voo, tomam-no,
eles estão muito bem ali...
levam-no com eles, e ele mesmo voa
E nesse lugar, pela manhã, os porteiros
e vê: distingue sua mãe e lhe sorrir com ar feliz.
descobriram o cadaverzinho de
uma criança gelada junto de um monte de
lenha. Procurou-se a mãe... Estava