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O que todo jovem deve saber,


antes de servir ao Exército.

Eudes Leite Rodrigues


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Dedicatória

Dedico esta obra a todos os pracinhas da segunda guerra mundial, aos


combatentes valorosos da FEB, aos heróis de verdade, aqueles que tombaram no solo da
Itália, esquecidos da nação.

A ti, oh combatente, que viste a cor dos olhos do inimigo.


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Agradecimentos

Agradeço a Deus, todo poderoso, que me permitiu passar por todo este
aprendizado, através do qual pude alcançar melhor realização e crescimento pessoal.

À minha querida esposa que tem sido uma benção em minha vida e a quem
primeiramente submeti a apreciação e aprovação desta obra;

Ao meu amigo Thiago Franco Ribeiro que sugeriu o título deste livro,
possibilitando o nível de simplicidade e instigação de leitura que eu desejava incutir nos
jovens.
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Nota

Este livro não pode ser lançado na época que escrevi, devido a inúmeros
problemas, seja com publicação, opiniões contrárias, inclusive o momento político não
favorecia tal tema. Eram meados de 2012. Hoje, já em 2022, ao revisar todo o conteúdo,
intento novamente colocar à disposição do jovem algo a mais para que sirva de material de
apoio no seu intento de ser um soldado. Desta forma, o conteúdo do livro pode ter sofrido
alterações, o que recomendo é que se interessar por algum assunto, pesquise e se
informe. O meu desejo é de despertar em você a busca pelo seu desenvolvimento
profissional.

Esta obra representa apenas uma opinião de um cidadão, que foi militar e conta
aqui suas experiências, seus êxitos e fracassos, que não tem vínculo com as Forças
Armadas na atualidade, e se porventura alguma citação aqui, se parecer com algum militar
ou fato será casualidade. Não quero expor ninguém, só quero responder as perguntas que
eu mesmo tinha quando ingressei no exército.

Será disponibilizada gratuitamente a todos os leitores, na forma digital, e se


futuramente, vier algum ganho com esta obra, os valores serão revertidos para ação social.
Isto faz parte do meu projeto Viver para servir, servir para viver, o qual surgiu no fundo de
uma UTI, no ano de 2020, onde depois de ser desenganado por mais de três médicos,
recebi um verdadeiro milagre, onde prometi ajudar as pessoas que eu pudesse. Também
segue o link para meu canal e minhas redes.

Um forte abraço

Foz do Iguaçu, 10 de abril de 2022

Eudes,Leite Rodrigues

ex 2 Sargento de Infantaria

Ajude a divulgar o canal:

https://youtu.be/SWOqpORTH3M
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ÍNDICE

Prefácio...............................................................................................................07

Capítulo I
A Imagem do Exército.........................................................................................09

Capítulo II
O Sonho de Servir ao Exército............................................................................11

Capítulo III
O Processo do Alistamento.................................................................................13

Capítulo IV
Termos usuais e siglas militares, uma breve ambientação.................................16

Capítulo V
Cursos de Formação Militar................................................................................18
CFC.....................................................................................................................18
CFST...................................................................................................................20
CPOR e NPOR....................................................................................................22
EsSA....................................................................................................................23
Se não está contente, pede pra sair!...................................................................25
AMAN..................................................................................................................25
EsAEx..................................................................................................................26

Capítulo VI
O Ano de Instrução..............................................................................................28

Capítulo VII
A Disciplina no Exército.......................................................................................31
Expulsão do serviço militar..................................................................................31
Justiça Militar ......................................................................................................31
Honra ao Mérito...................................................................................................31

Capítulo VIII
Questão previdenciária........................................................................................32

Capítulo IX
O Concurso Público.............................................................................................33
Avaliação.............................................................................................................35
Concursados e comissionados............................................................................35

Capítulo X
Para que Exército................................................................................................37

Capítulo XI
Compensa servir ao exército?.............................................................................38
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Glossário.............................................................................................................40
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PREFÁCIO

Quero iniciar nossa conversa de modo simples, direto, um diálogo com você
jovem que anseia conhecer um pouco sobre o serviço militar, porém sei que haverá
leitores mais experientes, aos quais chamarei de veteranos, bem como leigos no assunto,
portanto será um tema difícil de falar, com tantas opiniões diferentes, entretanto meu foco
será você jovem, o futuro soldado deste país, se assim desejar. Peço desculpas de
antemão ao leitor culto pela redundância de assuntos e orientações, porque quero atingir
principalmente o público que ainda não lê. Confesso aos senhores que estou preocupado,
porque no decorrer da obra não pude incluir nenhum elemento que causa comichão nos
leitores em geral de hoje, nem lobisomem, vampiros, nada de tons de pornografia ou ainda
sequer ousarei em reinterpretar a bíblia à la Da Vinci, mas escrevi da realidade que vivi e
da experiência que tenho.

No final desta obra estará à disposição um glossário com as palavras próprias


dos militares, gírias e siglas muito usadas, as quais deixarei destacadas em itálico, de
modo que ao se deparar com alguma palavra estranha, vá ao final e procure por ela, para
um melhor entendimento do assunto.

Não quero fazer aqui um desabafo, uma campanha, ou algo similar, mas quero
falar com franqueza aquilo que vivenciei por dezessete anos de serviço militar dedicados
ao Exército Brasileiro. Muita coisa desejei entender durante o tempo em que estive na
ativa, entrei sem saber por onde andar, como engajar, como fazer cursos, poucos estavam
dispostos a explicar alguma coisa. Logo que cheguei ao batalhão me deparei com um
cartaz que até hoje tenho na minha mente: “Vá à luta, faça carreira militar” dizia a
inscrição, tinha um soldado atirando na posição de joelhos... Foi assim que cheguei para o
meu alistamento, cheio de dúvidas e com muita esperança. Todas as indagações que eu
tinha estou respondendo a você meu prezado amigo, estou fornecendo orientações,
explicações antes mesmo de entrar para o EB. A Bíblia Sagrada diz que aquele que sabe
fazer o bem e não faz comete pecado, Thiago 4,17. Portanto sinto-me na obrigação de
passar a você a minha experiência. O mestre da vida, Cristo Jesus, também disse que
devemos amar a Deus e ao próximo, tudo fazendo como gostaríamos que assim nos
fizesse. Então nada mais correto do que compartilhar meus conhecimentos. Espero assim,
atingir meu objetivo, pois aquele jovem leigo que adentrava os portões do exército há mais
de vinte anos, sem ter orientação alguma agora emite esta obra para que futuros soldados
tenham algo em mãos, antes de chegar ao quartel.

Vou separar por capítulos os temas mais necessários, inclusive com as etapas
do processo de alistamento para que você entenda melhor todo o processo, desde o
alistamento até a conclusão do serviço militar.

Espero que este livro seja de grande valia na sua decisão em servir ou não ao
exército, ou às Forças Armadas de uma forma geral. Pretendo ainda, juntamente com os
conselhos aqui passados prestar alguma ajuda, contando experiências, histórias, pois é
certo que você está com a sua vida inteira diante dos seus olhos e não quero que você
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desperdice sua vida e seu tempo também. Espero ser sucinto, isto é, rápido e preciso na
minha fala. Aos leitores veteranos e leigos venham comigo e boa conversa.
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Capítulo I

A Imagem do Exército

O exército procura, acima de tudo, manter uma boa imagem para a sociedade, e
se orgulha de ser uma das instituições mais confiáveis do país, pois no momento em que
instituições políticas falham grosseiramente, a nação confia no seu exército. Entretanto o
meu objetivo não é fazer uma propaganda a você da força, mas sim trazer prós e contras
da profissão. Você, prezado jovem, perceberá que discorrerei sobre vários assuntos, que
estão na verdade, interligados, procurando atender suas respostas de maneira sincera.

A mídia traz muitas propagandas de diversos setores e nelas se tem a visão que
querem passar a você, obviamente é assim, você deve desconfiar daquilo que é colocado
como verdade para você de uma forma geral. Se pode tranquilamente falar mal ou bem de
um determinado assunto e há uma gama enorme de empresas especialistas em
maquiagem, em enfeitar o pavão, e olha que ele fica muito mais bonito do que é
naturalmente. Vimos que no passado, até as eleições foram decididas pela propaganda,
via-se claramente que tal fulano estava com tal publicitário e isto seria decisivo para as
eleições... Então o negócio era aparência. Então para se ter uma boa base sobre um
assunto é necessário uma boa pesquisa, por isso peço a você que não fique somente com
minha opinião, mas vá atrás de outras sobre a força, pois posso errar também e não
passar aquilo que realmente representam os fatos, pode ser que minha visão seja míope, o
que preventivamente peço desculpas. Quanto mais pessoas você pesquisar, conversar,
maior será a probabilidade de sua opinião estar correta.

Há algum tempo o exército trouxe uma propaganda com o seguinte dizer:


”Exército Brasileiro, retrato de um povo”. Realmente eles estavam falando a verdade, pois
no EB você terá uma amostra da sociedade, bem como dos governos de uma forma geral.
O que você verá é aquilo que enfrentará praticamente na maioria das instituições onde
passar, onde se tem uma pirâmide com muitos na base e poucos no topo.

No meu tempo de instrutor o soldado recruta já tinha maior conhecimento em


relação a minha época, inclusive enfrentei situações em que fui testado por alguns
soldados. Lembro de uma instrução sobre a segunda guerra que ministrei, fiquei surpreso
com o nível das perguntas. Jovem, apresento a primeira lição: Um dia você poderá ser um
chefe, então procure desde cedo, desenvolver sua liderança, seja honesto, caso não saiba
algo não invente respostas, pois talvez seu subordinado saiba mais que você sobre aquilo
que está falando e aí adeus confiança. Trate a todos igualmente, sem privilegiar amigos e
sem perseguir inimigos. Eu procurei ser um líder, talvez não tenha conseguido, mas insisti.
Tenho orgulho em rever subordinados pelas ruas que agradecem insistentemente o meu
incentivo aos estudos e meu tratamento. Evidentemente que errei também, coisa que até
hoje repenso e vejo que poderia ter sido melhor. É deprimente ver um chefe aceitando
favores em troca de regalias, um toma lá dá cá. Outro com sorrisos falsos somente para
agradar, junto numa rodada, mas apenas por conveniência. Não sei qual sua opinião, mas
a minha é de que se uma amizade não compensa, se não posso aprender com tal pessoa,
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se nada me acrescenta e não posso contribuir para o seu crescimento, não faço questão.
Diga-me com quem andas e direi quem és, já diz o velho ditado, pois quem não combina
não anda junto. Então procure cercar-se de pessoas boas, estudiosas, de bons costumes e
serás assim também. O senhor, amigo leigo ou culto, que talvez já seja um chefe na sua
área, saiba que seus subordinados estão de olho em você, pode estar enganado, mas não
enganará a eles. Não é demérito algum reconhecer que errou, muito menos em aceitar
uma sugestão de um subalterno, muito pelo contrário, sua equipe ficará motivada se for
ouvida e o senhor ganhará mais liderança. O filósofo Heráclito disse que a pessoa que
entra no rio não é a mesma que sai, nem o rio é o mesmo, não porque sai com frio e
molhada, mas porque já sai pensando diferente. Talvez entre estressada, cansada e saia
aliviada. Assim somos nós, vamos formando o nosso caráter à medida que vamos
convivendo, conversando e interagindo com as pessoas ao nosso redor. Este livro pode
influenciá-lo e eu mesmo confesso que mudei alguns conceitos por estar incumbido desta
tarefa.
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Capítulo II

O Sonho de Servir ao Exército.

Pela boa imagem que o exército ostenta, sempre tive o sonho de servir as FA,
cresci vendo propaganda na televisão, vendo manobras, pois na cidade onde cresci, Ponta
Grossa PR, situa-se o 13º BIB, não sei se até hoje tem esse nome.

Quero descrever como foi no meu tempo, como diziam aqueles velhinhos da
Segunda Guerra, que compareciam no quartel para assinar seus documentos e não
paravam de contar histórias... Agora me vejo no lugar deles, ressalvadas as devidas
proporções evidentemente, pois enquanto aqueles viveram uma grande guerra, eu vivi
outra, administrativa e de exaustivos exercícios com muito suor. O lema dos nossos
treinamentos era: Suor poupa sangue! Depois descobri que papirar poupa suor e sangue!

Na minha adolescência, procurei trabalho, fiz curso de mecânica no SENAI, isto


com quatorze anos apenas, trabalhei como torneiro mecânico até os dezenove anos,
ocasião em que entrei no exército. Como o período em que eu trabalhei na mecânica foi
extremamente penoso, o exército não foi tão difícil assim, embora a parte física exigisse
muito, eu tinha alimentação, uma vez que no período anterior cheguei a passar
necessidade algum tempo, comia dia sim e dia não, pois o meu salário não dava para o
aluguel e despesas, mas insisti porque queria vencer na vida. Tenho orgulho de dizer isto,
sofri muito, além de necessidades básicas, muita humilhação. Lembro-me uma vez que
pedi aumento para meu patrão e ele me disse que não podia conceder o aumento porque
seu carro estava com mais de cem mil quilômetros rodados e precisava comprar um
novo...Outra vez avisei o chefe do meu setor que o teto estava prestes a desabar e sua
resposta foi pior que o patrão, disse que a indenização que pagaria pelo dano causado
seria menor do que o valor do conserto do teto... Sim, parece mentira, mas foi assim que
vivi sozinho numa cidade do interior do Paraná, trabalhando numa metalúrgica. Aprendi
duras lições, porém posso afirmar uma coisa com toda certeza: “A vida é dura pra quem é
mole” esta frase que ouvi de minha esposa, cuja história é linda, fez parte de minha vida,
lutei, pois queria vencer e emprego para menores não se acha em qualquer lugar...Aqui
quero passar a segunda lição meu caro jovem: Entenda que a vida não se parece com
nada na escola, nem na TV. Hoje vejo que os pais possuem uma qualidade de vida melhor
e lutam de todas as formas para que seus filhos não passem necessidade. Meus pais
foram exemplos para mim, me ajudavam com o que podiam, mas eu não comunicava
minhas necessidades com eles, pois sabia que não tinham condições de ajudar e mesmo
assim ajudavam. Doía-me o coração em ver meu pai trabalhando de servente de pedreiro
e minha mãe de faxineira, foi por isso que lutei desde cedo, para dar uma condição de vida
melhor para minha família e para mim, pois queria estudar, além de trabalhar.

Hoje, devido ao esforço grandioso dos pais, os filhos são mais sossegados,
poucos são os jovens que vejo lutando com vontade de vencer. A maioria está preocupada
com baladas, internet, redes sociais, shoppings, namoradas e etc. Muitos jovens sequer
sonham em sair de casa, em abandonar o ninho e voar com as próprias asas. É isso que
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eu proponho aqui caro amigo, que você vá à luta, corra atrás de seus sonhos, não espere
que sua família seja sempre responsável por você, até porque um dia seus pais não
existirão e você terá que caminhar com suas próprias pernas. A máxima, “pai rico, filho
nobre e neto pobre” é verdadeira. Se você recebeu uma boa ajuda de seus pais agradeça
a Deus e aproveite este empurrão para a vida que eles estão te dando, acaso seja igual a
mim, não tem outra escolha a não ser lutar ao invés de reclamar. Vejo hoje uma geração
de conformados, de desanimados, além de poucas serem as oportunidades oferecidas a
vocês meus caros. Não me interpretem mal, não estou julgando vocês como derrotados,
não é isso, o que vejo são pais superprotetores e outros que não estimulam vocês na
busca dos seus sonhos.

No exército a gente brincava que tinha três mentiras: Primeira: Vamos começar
cedo pra acabar cedo, nada!, ia até tarde mesmo: Segunda: Vamos fazer bem feito para
fazer uma vez só, nada!, fazia umas mil vezes... e a terceira: vou te anotar mas é só pra
controle... E assim eu também fui nessa, comecei cedo a trabalhar, pois me falaram
comece cedo que se aposenta cedo, agora vi que não é nada disso, já teve reforma da
previdência e outras poderão vir se voltar a ocorrer desvios como houveram no passado.
Essa questão, abordarei lá na frente amigo, para que você se planeje quanto a sua futura
aposentadoria, note bem, estamos falando de sua entrada, mas também da importância de
contribuir para a previdência para num futuro ter um apoio.

Mas se você está lendo este livro já é sinal de que tem interesse em lutar, em
ter conhecimento e conhecimento não ocupa espaço! Há um ditado que diz: Onde há
vontade há um caminho, mas onde há muita vontade há muitos caminhos. Aqui está mais
um deles, boa caminhada!

Então foi assim que surgiu a época do alistamento e lá fui eu, animado e cheio
de esperança, mas sem conhecer nada, sem saber o que me aguardava.
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Capítulo III

O Processo do Alistamento

No ano em que completar dezoito anos, você deve procurar a Junta Militar de
sua cidade... Com certeza você já ouviu esta frase numa propaganda de TV, é assim
mesmo, você se alista no ano em que faz dezoito e só serve com dezenove anos, passa,
portanto, um ano em processo de alistamento. Praticamente a cada três ou quatro meses
deverá se apresentar no local indicado no seu CAM, que é o seu Certificado de
Alistamento Militar, observando o carimbo com data e local. Neste ano você passará por
etapas como inspeção de saúde, testes teóricos, enfim, cada etapa é eliminatória, de modo
que aqueles chamados no ano seguinte, tem perto de oitenta por cento de chance de
servir. Então no próximo ano, quase sempre em janeiro tem nova apresentação, são
entrevistas, que vão eliminar mais candidatos. Aliás, nesta etapa são chamados de
conscritos, que são candidatos alistados ainda não incorporados. Os aprovados nesta
etapa são designados para apresentação em fevereiro ou março, aí sim para incorporação.

Muita atenção para os Refratários, fiz questão de destacar o termo que é aquele
jovem que não se apresenta na data correta e deixa para o ano seguinte, ou anos
posteriores... Estes são refratários e até a data em que eu estive na ativa, todos eles
tinham incorporação obrigatória, evidentemente que se não tivessem nada que indicasse o
contrário. Agora talvez pense o meu amigo leigo ou você jovem: Então é isso, vou ser
refratário e vou garantir que vou servir... Talvez não seja isto, na época, se tinha prioridade
em servir, mas, salvo engano, não se podia engajar, e aí você fica somente o ano
obrigatório e vai embora no ano seguinte. Evidentemente que cada caso fica sujeito à
autoridade competente, até porque as frias letras dos regulamentos não permitem
flexibilidade e não enxergam isoladamente cada caso.

Outra atenção especial deve ser dada ao Insubmisso. Que nada mais é do que
aquele jovem que cumpriu toda a etapa de alistamento, mas que não se apresentou para a
incorporação, que é a entrada propriamente dita no exército, marinha ou aeronáutica. Ele
podia incorrer em Crime Militar, previsto no CPM, na época. Alguns esqueciam e podiam
acabar respondendo na justiça militar durante anos. Só o transtorno que gerava já é
suficiente para sofrer, pois dificultava as demais etapas da vida civil, no que se refere a
emprego, faculdade, concurso e etc. Eu acompanhei um soldado que havia sido
enquadrado nesse crime, foi penoso, vi que o recruta nem sabia do que se tratava a
insubmissão, menos ainda crime. Pior ainda foi permanecer na audiência da Justiça Militar
ouvindo páginas e páginas intermináveis de teorias, sendo necessário voltar depois de
alguns meses ali, enquanto isso o coitado do soldado preso, à disposição da justiça.

Agora vamos ao filé mignon da história, você não quer servir, então me pergunta
o que responder, o que fazer para escapar, digamos assim. Primeiro recomendo que leia
esta obra inteira, pois nela vou detalhar todo o processo e talvez você que não seja
voluntário, acabe se tornando um e outro que deseja servir após o conhecimento da obra
não o queira mais.
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Há os municípios Tributários, que são aqueles que devem fornecer jovens para
o serviço militar, portanto se o seu é um deles você tem chances de servir, mas para você
saber se um município é ou não tributário você deve pesquisar, a internet está aí, bom uso!
Para ficar mais claro, pode contatar o quartel mais próximo e procurar informações. O que
eu digo é que se há na cidade quartel da força que você vai se alistar, pode ser tributário,
se há na cidade vizinha próxima há grande chance também. Acredito que a junta militar ou
um graduado mais experiente possa ajudá-lo nesta questão. Procure o delegado do
Serviço Militar, que é um tenente ou capitão, geralmente com trinta anos de serviço e tem
capacidade e conhecimento para ajudá-lo. Em resumo digo que na cidade da OM e nos
municípios arredores são tributários. Se a Junta diz que você vai se apresentar em tal
cidade, fique esperto. Mas agora o que fazer? Amigo, fique tranquilo, como afirmei, não é a
cidade que vai determinar se vai servir ou não, ela pode ajudar ou atrapalhar, no caso de
não ser voluntário e sua cidade não ser tributária tudo bem, mas e se você for voluntário,
então será o contrário. Aqui quero ressaltar algo importante: Você vai ter que apresentar
um comprovante de residência dessa cidade que pretende se alistar.

Vamos seguir com o processo discorrendo sobre o voluntário e do não


voluntário. Suponhamos que você se alistou e necessariamente passará por demais
exames, não esqueça, seja honesto e franco, pois muitos omitem informações importantes
e depois criam monstros para si mesmos, cito, por exemplo, jovens que são dependentes
químicos e que escondem essa prática, mas durante o ano que vão servir acaba por cair a
máscara e logicamente arcam com as consequências, outros escondem problemas de
saúde e durante treinamentos exaustivos acabam revelando cirurgias, cicatrizes, etc. Deixo
aqui um terceiro e importante ensinamento para você meu amigo, seja honesto, fale
sempre a verdade ainda que lhe seja desfavorável, você só tem a ganhar com isto. Vi
casos em que o soldado mentiu quanto ao seu estado civil, só revelando depois da
incorporação que era casado, ocasionando um grande transtorno...

Se já passou para o ano seguinte do seu alistamento, vai enfrentar a chamada


Seleção Complementar, só lembrando, você se alistou no ano anterior, cumpriu todas as
etapas e foi chamado para apresentação no início do ano. Nesta fase ocorre muita
alteração, pois como muda o ano, alguns passam no vestibular, outros conseguem um
emprego, casam, engravidam suas namoradas, etc. É nessa fase que você pode reverter a
seu favor o seu interesse, se quer servir aproveite as vagas daqueles que não podem
mais, se não quer, relate seu problema, leve comprovante de faculdade, resultado do
vestiba, exames de saúde, carteira de trabalho, certidão de casamento, raios “X”,
documentos de cirurgias, tudo que pode ajudá-lo. Abro um parêntese aqui quanto ao seu
emprego, isto se nada mudou na lei, mas caso venha a servir, pode ter o seu emprego de
volta, com tanto que você não peça demissão, evidentemente. Se você é arrimo de família,
ou seja, é responsável pelo sustento de sua casa, companheira, você deve relatar este
fato, também apresentado documentos, que poderão dispensá-lo.

Em muitos lugares você será direcionado para os chamados NPOR ou CPOR,


que são excelentes opções, preparei um capítulo para descrever sobre eles, bem como
explicar os termos militares usuais.
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Então após esta etapa vem à incorporação propriamente dita, inicia-se o ano de
instrução.
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Capítulo IV

Termos usuais e siglas militares, uma breve ambientação.

Recomendo que você veja os postos e graduações na internet, para que vá


entendendo melhor a hierarquia militar e que no decorrer da obra tenha completo
entendimento. De início, postos são para os oficiais, de Tenente para cima enquanto que
graduações são para os praças, abaixo dos oficiais. O Soldado Recruta, EV, depois de
engajado torna-se Soldado Antigo ou EP. Lembre-se, estes dados podem estar
desatualizados na época em que estiver lendo, se informe. Não se esqueça de consultar o
glossário com os termos destacados em Itálico para um bom entendimento. Um Pelotão
possui cerca de quarenta homens, que por sua vez compõe uma Companhia, que contém
três pelotões e esta é parte do Batalhão, composto por três companhias, isso basicamente
ok? Desta forma um Cabo comanda de dois, quatro até dez militares, um Sargento de dez
a quarenta militares, um Tenente de quarenta militares até uma companhia, uma vez que
estão aptos a substituir o comandante numa eventualidade, a companhia, que
normalmente é comandada por um Capitão e o Coronel, por sua vez, no comando do
batalhão. É isso que é necessário saber por hora. Não se preocupe, mais adiante segue
um capítulo falando onde são formados estes graduados. O Exército, força ao qual
pertenci, será estudado aqui, se o seu interesse é na Marinha ou Aeronáutica, não mudará
muita coisa, a não ser nos Postos e Graduações e cursos, como poderá confirmar na
internet. No caso do Exército, é composto pelas chamadas Armas, ou seja, tropas
especializadas numa tarefa. Há a Infantaria e Cavalaria, que são tropas que combatem
propriamente ditas, e as de apoio ao combate, como a Artilharia, Engenharia e
Comunicações. Há ainda serviços complementares tais como de Intendência, Saúde e
Material Bélico. Cito estas armas e serviços aqui porque na sua cidade poderá ter uma e
talvez desconheça o porquê do nome, ficando assim mais informado da área em que
atuará. O Exército possui muita abreviatura, tem até manual para isso, e não será o caso
passá-lo aqui. Tudo é escrito, a gente brincava que no exército, nada se cria, tudo se copia
em duas vias...

Praça compreende desde o Soldado até o Subtenente, que é um suboficial, já o


oficial vai do Tenente ao General. Aqui deixo mais uma importante dica: o Oficial planeja e
o Praça cumpre o seu planejamento através do Sargento que faz o meio de campo, ou
seja, ele é um elo de ligação entre o comando e a tropa. Quem coordena é o oficial, os
demais são cumpridores de ordens, que fazem as coisas chegar ao seu bom cumprimento.
Amigo, se não está disposto a obedecer não recomendo servir, pois o exército treina para
o combate e não pode haver questionamentos de ordens numa batalha, talvez em outra
instituição se aceite uma ponderação. É evidente ressaltar que eventuais abusos, se
houverem, podem ser enquadrados na lei, igualmente a qualquer repartição pública.

O que vi até agora é que as instituições funcionam parecidas, umas mais rígidas
que as demais cabendo a você saber se lhe é cabível permanecer nela ou não.
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O Soldado no exército é um fazedor de coisas, ele faz faxina nas instalações,


guarda, manutenção, toda mão de obra pesada fica a cargo dos recrutas, com fiscalização
de Soldados antigos, Cabos e Sargentos. São poucos os quartéis que dispõe de
servidores civis, vi poucas vezes, tal como em Curitiba no Paraná num batalhão logístico,
que opera no apoio ao combate, pra mim foi novidade. É assim mesmo, o Soldado lá é
enfermeiro, mecânico, motorista, faxineiro, guarda, auxiliar administrativo, pau pra toda
obra.

Os círculos militares são separados basicamente por oficiais e praças, sendo


que dentre os praças o menor círculo da hierarquia é o de Cabos e Soldados. À medida
que se sobe na hierarquia, vai diminuindo o número de militares, mas vai aumentando a
autoridade. É a história da velha pirâmide. Para se entender melhor, os Cabos e Soldados
em grande número são a base, depois os Subtenentes e Sargentos na intermediária e os
oficiais no topo. Os alojamentos também são dentro dos círculos da hierarquia, assim
como os refeitórios, de modo que se convive mais com os seus pares, aqueles de sua
graduação, basicamente.

Não sei se o leitor culto vai concordar comigo, ou meu colega militar, mas creio
em algo que aprendi durante minha: Você consegue enganar um superior, mas não
consegue enganar um subordinado, porque estes estão observando as suas palavras
conferem com suas atitudes, é aí que entra a questão da liderança. Portanto fazer com que
convivam juntos chefes e subordinados é uma oportunidade de testar o nível de
maturidade de um grupo em todos os seus níveis de responsabilidade.
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Capítulo V

Cursos de Formação Militar.

Vou descrever aqui os diversos círculos hierárquicos falando também de suas


respectivas formações para você se ambientar ainda mais. Vou do mais simples para o
mais complexo, do menor para o maior, do soldado para o general, sem deixar de falar da
questão da carreira e do militar temporário.

Assim que ocorre a incorporação o recruta enfrenta o ano obrigatório, cujo


assunto está mais adiante. Neste mesmo ano já pode realizar o CFC, que é o Curso de
Formação de Cabos. Isto depende de vários fatores, mas o principal é força de vontade e
disciplina, como qualquer coisa na vida. Eu incorporei em março de 1995 no então 13º BIB
na cidade de Ponta Grossa, interior do Paraná, fui voluntário, porque concorri para o
NPOR, que detalho adiante, não sendo selecionado, mas como era voluntário fui
designado para soldado, surgiu então a oportunidade de cursar o CFC, pois enfim me
explicaram que o detentor do curso poderia optar pela vaga na primeira baixa, ou a
possibilidade de ser cabo no ano de engajado. Pensei assim, se eu não me adaptar aqui,
eu garanto a saída logo, o negócio é ir até o talo, encarei o curso. Fiz as provas, que são
bem simples, fui aprovado. Foram longos meses de sofrimento. O curso iniciou em junho,
sendo minha promoção em 30 de agosto de 1995.

CFC

O CFC forma o Cabo do Exército. É realizado dentro do quartel, com instrutores


que são Oficiais, Sargentos e Cabos, voluntários ou designados para esta missão pelo
comandante. Os candidatos são selecionados dentre os soldados voluntários que fazem
testes teóricos e físicos, cujos aprovados cumprem curso de três meses de duração, com
intensa atividade prática e teórica. Os militares que concluem são ordenados numa escala
de acordo com a nota de conclusão e promovidos à graduação de Cabo, que é o auxiliar
do Sargento e seu substituto eventual. Não tem carreira, sendo permitido o seu
reengajamento até o limite de sete ou oito anos, findando este, é reintegrado à vida civil.
Há o chamado Cabo EV, que faz o curso e se desejar é promovido no mesmo ano do seu
serviço obrigatório, como citei, sendo incluído logo na primeira baixa, geralmente no mês
de novembro ou dezembro de cada ano. A vantagem de ser Cabo EV é de garantir que vai
sair na primeira baixa, aí o leitor pode perguntar: E isso é vantagem? Com certeza caro
amigo, como já disse, depois que incorporam os índices mudam, e há essa janela de
oportunidade de saída para aqueles que podem, os demais que não querem engajar terão
que aguardar a próxima turma do ano seguinte para ter sua baixa, na época eram mais
uns três meses de serviço, logo ainda no fim de ano, período de festas e de férias.

Me propuseram a vaga de cabo EV com promessa de engajamento, o que foi


melhor ainda, aceitei. Aqui vale uma observação caro amigo: Nem todos tem sucesso, pois
sucesso só vem antes do trabalho no dicionário, que eu me lembre, fiquei bem colocado,
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pois o curso tinha iniciado com cerca de noventa militares, sendo que vinte e quatro
concluíram e destes eu era o quarto colocado, graças a Deus. Comecei então a pensar em
engajar, pois o difícil já tinha passado. Então no mesmo ano de recruta fui promovido a
Cabo EV, que pela legislação deveria sair na primeira baixa, todavia o Capitão da minha
companhia, disse que iria garantir o engajamento caso quiséssemos ser promovidos, como
relatei, aceitamos eu e mais alguns militares, porém, alguns foram desligados após breve
tempo na promoção, porque é evidente que como graduado, você aparece e tem que
mostrar rendimento, isto vale para qualquer empresa.

...Quero explicar melhor a questão da primeira baixa, é que aqueles


arrependidos, não voluntários, (que eram muitos na minha época), querem sair logo, mas
não podem, é aqui que entra a primeira baixa logo em novembro ou dezembro do ano
obrigatório. O restante sairá apenas em fevereiro ou até março... E como o bicho pega
porque saiu um grande grupo, cerca de metade ou mais do efetivo em novembro, ficaram
poucos para cumprir o serviço e quem ficou trabalha dobrado durante o fim de ano, ano
novo e carnaval.

Atesto aqui que foi o mais intenso curso que fiz, porque o instrutor dita o ritmo
do curso, lembro que tinha alguns focados na parte física e outros trabalhavam na base
mais teórica e técnica, porque pessoas são diferentes, caro amigo, embora tenham a
mesma hierarquia.

Permitam-me leitores, fazer uma observação aqui: O que aprendi foi que
pessoas capacitadas não tem medo de passar o conhecimento com medo de levar uma
rasteira de um subordinado, como aqueles que detém uma informação crucial, tem o
dever, inclusive moral, de passar adiante, para ajudar os demais. Lembro que eu estava
limpando a câmara fria do rancho quando um militar me perguntou se era eu que gostaria
de fazer o curso de Cabo, respondi prontamente e ele disse que o pessoal já estava lá na
fila para fazer a prova. Saí correndo, vesti a farda o mais rápido que pude, pois estava com
o “pega loco” que é um agasalho verdão, entrei na fila e já veio um Sargento perguntando
do meu atraso, cobrando caneta, que caneta que nada, não tinha nada, pronto já fiquei
punido ali. Assim começou o curso. Foram dias intermináveis de trabalho, estudo, sede e
sono.

No decorrer do curso tive uma infecção muito forte no ouvido, na ocasião, o


médico que acompanhava o curso viu de longe, devia estar feia e queria que eu baixasse,
isto seria perder o curso com certeza, disse não relutantemente e o convenci de continuar,
prossegui, o resultado foram onze furúnculos somente na face que surgiram depois que eu
acabei o curso. Durante o discorrer desta obra vou citar outros fatos e experiências
ocorridos nestes cursos.

Quem realizar este curso pode permanecer como Cabo por um período inferior
a dez anos. É lógico que o reengajamento é anual e depende de avaliação de seus
superiores. Da mesma forma o Soldado que não realizou o curso, mas quer permanecer
na força tem seu reengajamento anual deferido, de acordo com a vontade de seu
20

comandante. Aqui reitero a você que muitas coisas dependem de vaga, e assim a
concorrência pode ser maior ou menor, pois as formações são diversas. Lembro ainda que
o militar temporário, que é evidentemente aquele que não fez concurso, mas entrou como
soldado alistado, pode ficar um determinado tempo, não podendo atingir dez anos, (na
época). Agora você me pergunta, mas como faço para fazer concurso e para fazer
carreira? Adiante explico mais detalhes, fique tranquilo.

CFST

O Curso de Formação de Sargentos Temporários forma o Sargento Temporário.


O militar ingressa no curso mediante indicação, na época, de seus superiores, pois como
já é militar antigo, seus chefes tem um conhecimento sobre ele de sua capacidade e de
sua conduta.

Sempre observe que estes dados se referem aos anos de minha experiência,
atualmente existem uma série de cursos temporários, que adiante seguem comentados.

É necessário ter o curso de formação de Cabos para cursar o CFST. Não


necessariamente ser Cabo, mas possuir o curso e estar apto para promoção à Cabo. O
curso é realizado no interior dos quartéis, com um período de seis meses, sendo
geralmente três meses de curso intensivo operacional e o restante na forma de estágio na
tropa, já atuando como terceiro sargento integrado num pelotão de fuzileiros ou numa
seção administrativa, dependendo de sua formação, se é de combate ou de apoio.
Igualmente ao CFC, os instrutores são militares do próprio quartel, Oficiais e Sargentos,
além de Cabos e Soldados antigos, que auxiliarão os primeiros. Reafirmo que é um cargo
temporário, findo o qual o militar dá baixa e é incluído na Reserva não Remunerada do
Exército, como todos aqueles que não possuem carreira. Aproveito para lembrar que todo
o militar temporário que sair do exército tem direito a receber um salário bruto por ano
trabalhado, sem contar o ano de serviço obrigatório. Assim um Soldado que cursou o CFC,
depois fez o CFST, deu baixa depois de oito anos, faz jus a sete remunerações de Terceiro
Sargento, sua última graduação, esta nada mais é do que a Lei da Pecuniária, você
mesmo pode pesquisar, talvez tenha sofrido alterações, vale a pena ficar atento.

Mais recentemente surgiu o EBST, uma outra forma de curso de Sargento


Técnico Temporário. Esse, na minha época era o Estágio Básico de Sargento Temporário,
que findo o estágio o militar recém-ingresso estava declarado Sargento STT, Sargento
Técnico Temporário. Isto tem mudado muito, porque a necessidade técnica da força tem
aumentado, antes era um Sargento combatente que assumia estas funções, mas agora
são pessoas mais técnicas. Acredito que o EB só tem a ganhar com estes profissionais,
porque são pessoas mais qualificadas, o que exige sua função. São mecânicos,
enfermeiros, técnicos em contabilidade, administrativos, músicos, etc. Se você deseja uma
destas funções fique atento aos editais de seleção que são feitos dentro dos quartéis
mesmo, com a devida seleção externa e ampla concorrência, cada um dentro de suas
especificidades. Aí é que vem a vantagem, pois com três meses de curso aprendendo
21

basicamente o período básico de todo o militar, como eu já detalhei, acrescido das


necessidades especificas das funções de Sargento, tais como aprender a comandar
pequenas frações, ou grupos de Soldados, você vai poderá ir de civil a cabo ou Sargento,
salvo engano. A partir daí é o mesmo de todo o militar temporário, ou seja, engajamento,
reengajamento e baixa. Há ainda os Oficiais Técnicos Temporários, dos quais falarei mais
adiante.

Eu fiz o CFST em 1996, onde graças a Deus consegui o primeiro Lugar. Quero
abrir um parêntese aqui para dar glórias a Deus!, Porque sei que por minhas forças não
poderia conseguir tal feito... Tinham vários alunos com grande capacidade e no final saiu a
surpresa 01, assim mesmo, pois somos números no EB e eu era o (zero um) do curso.
Passo mais uma lição, caro amigo, não se estribe nos seus próprios conhecimentos, mas
procure colocar a sua vida no centro da vontade soberana de Deus, ele sabe o que é
melhor para nossas vidas. Respeito sua forma de crença ou até a ausência dela, uma vez
que existirão vários leitores. Não quero atacar ou desrespeitar ninguém aqui, porém não
posso furtar-me de agradecer ao Deus, Todo-Poderoso, que me tem guiado até o presente
momento.

Esse curso foi o melhor que fiz, porque graças a Deus foram Oficiais e
Sargentos extremamente técnicos, exemplares. Obtive grande ensinamento, porque como
já disse, você verá que muita coisa na vida é assim, se um professor é bom, seu
rendimento será proveitoso, assim como também a empatia de seus alunos. Tudo se torna
melhor. Lembro que no CFC sofri muito, inclusive devido aquela infecção que falei. Mais
uma vez a oração entrou em campo e Deus me curou. Foram dias terríveis. A atividade
militar, por si só, já é suficiente para desgastar, abusos não são admitidos.

Caro leitor, devemos sempre aprender que o exemplo é o melhor meio pelo qual
um líder pode se firmar, você que está à frente de qualquer empreendimento e você meu
caro jovem aprenda desde cedo a dar e seguir um bom exemplo. As palavras convencem,
mas o exemplo arrasta. Eu procurei paulatinamente a trabalhar procurando desenvolver a
liderança. Se era necessário que o Soldado fizesse cinco repetições na barra fixa eu fazia
dez e dizia: fiz o dobro do que você precisa fazer, agora faça sua parte. O bichinho virava
um leão e muitos até faziam até mais, porém devido à formação do Soldado que vai
aumentado aos poucos eu não permitia excessos. Mesmo depois de formado precisei
puxar firme junto com o Soldado para dar exemplo. Cheguei a revezar carregamento de
armamento como metralhadora de dez quilos, ou peças de grosso calibre, como morteiros
também. Não era minha obrigação de levá-los durante a longa marcha, mas o tempo todo
o subordinado está olhando para seu superior e vendo suas atitudes. Participei de
atividades com mais de cem quilômetros para percorrer em três dias de duração com todos
os apetrechos de combate. Isso fora desses cursos, depois de formado e com mais de dez
anos de serviço, pois há quartéis mais operacionais do que outros, além da visão do
comandante, que é quem manda no quartel, e lhe dá o ritmo.

Ainda no CFST, tive a felicidade de realizar o estágio, que é a segunda parte do


curso num pelotão onde todos os Sargentos e o comandante tinham saído para compor o
22

CFC daquele ano, ocasião em que fiquei sozinho e pude desenvolver meu trabalho e
mostrar serviço, fato que sem dúvida colaborou para a minha excelente classificação.
Aprendi uma coisa valiosa ali, quando você fica em cima de seu aluno, cobrando
excessivamente, limitando, você prejudica o aprendizado, porque cada um de nós somos
únicos, não devemos ministrar da mesma maneira que nos ensinaram, devemos ser um
facilitador, deixar o instruendo com liberdade de agir, elogiando com entusiasmo e
corrigido com bom senso.

Amigo, seja rápido nos seus planos, pois tempo é dinheiro, se você quer entrar
e fazer estes cursos, recomendo que tal como eu os faça logo, porque o tempo é limitado,
vi casos em que o Soldado já tinha três anos e fez o curso depois disso, logicamente terá
poucos anos para aproveitar a sua graduação e logicamente o salário.

CPOR e NPOR

São Centros Preparatório de Oficiais da Reserva e Núcleos Preparatório de


Oficiais da Reserva, respectivamente. Ambos são a mesma coisa, com diferença no
tamanho apenas, pois o núcleo é pequeno, geralmente no valor de pelotão, enquanto o
Centro forma praticamente todas as áreas, com efetivo bem maior. A grande jogada
desses órgãos é que formam o Oficial temporário, que é um militar também formado para
um período menor que dez anos, sendo após este tempo demitido e incluso novamente na
vida civil. Sua formação é muito rápida, apenas um ano e meio, se comparado ao Oficial
de Carreira como veremos adiante, porque se trata de um jovem, normalmente
universitário, que necessita concluir seus estudos e voltar para a sociedade. São
selecionados na fase de alistamento juntamente com os demais. Lembro que a mocinha da
Junta Militar, lá da cidade de Ponta Grossa me disse que eu concorreria para o NPOR, eu
nem sabia o que era isso, tinha apenas o ensino médio, mas em 1994 eram poucos
universitários. Perguntei se era bom e ela me disse que eu sairia Tenente, oba!, pensei,
estou dentro! Mas quando terminei a fase de alistamento alimentando essa esperança saiu
o resultado: Soldado de pelotão de fuzileiro... Eu não havia conquistado a vaga. Posso
afirmar hoje que não é fácil entrar nesse grupo, pois além de poucas vagas, a procura é
muito grande. Também meu nível intelectual, que ainda hoje é pequeno, imagine, na
época.

Meu objetivo aqui é que você jovem entenda que se fez o seu melhor em algo e
não deu certo, não desista, siga adiante, muitas coisas fogem à nossa compreensão, e que
diante de um obstáculo, ao invés de reclamar você deve lutar sem abrir mão da ética. Não
se deve esperar comportamento correto, você deverá tê-lo.

No final do curso, após estágio de alguns meses o agora declarado Aspirante


assume a função de Oficial Temporário de acordo com as vagas disponíveis. Geralmente
uma turma de NPOR tem entre vinte a trinta alunos e destes saem Oficial de três até cerca
de quinze, aproximadamente. E isto de acordo com as notas do curso, os últimos e os que
não querem ou desistiram do oficialato dão baixa do exército. Durante sua permanência o
23

Aspirante é promovido a Segundo-Tenente e Primeiro-Tenente, após sete, oito ou até nove


anos voltam à vida civil. Acredito que é o maior bizu do exército, porque você não investe
tanto tempo para sua formação e em contrapartida receberá o salário e demais benefícios
de Oficial, enquanto um Cabo ou Sargento possui ao menos o ano de recruta mais outro
para sua formação, de modo que serão pelo menos dois ou três anos para atingir sua
graduação máxima, isto com salário menor, pouco retorno financeiro, portanto, entendeu?
Sem contar que sua pecuniária, aquela lei que expliquei, será uma remuneração bruta por
ano trabalhado, lembra? Então você sairá com algum valor financeiro e provavelmente
formado numa área, já que é requisito obrigatório para o Oficial Temporário estar cursando
algum curso superior.

O conhecimento adquirido durante o curso, somado com a vivência, tanto na


esfera operacional como também na administrativa, dará uma grande bagagem para o
jovem Oficial, pois normalmente os primeiros anos o Tenente trabalha na tropa, mas
depois assume alguma função burocrática. Todos estes fatores como tempo, dinheiro e
experiência na minha pequena visão tornam o NPOR muito atraente para quem deseja
fazer faculdade, mas não tem como se manter financeiramente, ou mesmo para quem
deseja fazer um pequeno pé-de-meia para iniciar um negócio próprio.

Quanto ao Oficial Técnico Temporário também é recente, e sua seleção se


parece com a do EBST lá atrás, vi só um caso em que se procurava um Tenente contador,
porém saí antes que o batalhão concluísse recrutamento. O que posso orientar é que se
tiver interesse comece a procurar processos de seleção nesta área. A internet está aí para
ajudar, pena é que muitos só se utilizam dela para redes sociais e diversão, talvez porque
a água ainda não bateu na bunda e não precisou nadar ainda, mas um dia chega essa
necessidade e o pior é que pode ser tarde...

EsSA

A partir daqui começam as escolas de carreira para o exército, se você deseja


seguir na luta dê atenção para estas escolas, que possibilitarão a você permanecer por
trinta anos de serviço, (agora com a reforma da previdência serão mais), findos os quais
você receberá aposentadoria com graduação que pode chegar de Subtenente até Capitão.
Mais ao final desta obra encontrará conclusões sobre os diversos cursos, conselhos, vá
lendo com calma, tenho certeza que não perderá tempo. Coloquei a EsSA depois do
NPOR porque tal como a próxima, a AMAN, formam militares de carreira, isto não quer
dizer que o Oficial Temporário seja menor que o Sargento de Carreira, nada disso, tanto o
Oficial de Carreira quanto o Temporário tem as mesmas funções, direitos e deveres, a
diferença está no tempo de permanência de cada um.

A Escola de Formação de Sargentos fica no sul de Minas, em Três Corações-


MG. (futuramente será em Recife PE) Lá são formados os Sargentos de Carreira. O
candidato aprovado deve preencher os requisitos do edital, que pode mudar, se tiver
interesse meu caro, pesquise, pois geralmente as idades estão sofrendo grandes
24

alterações nestes últimos anos. O curso tem duração de cerca de dois anos
aproximadamente, findo os quais o militar é declarado Terceiro-Sargento e depois de oito
ou nove anos alcança a graduação de Segundo-Sargento, na qual eu saí, sendo
necessário outro tanto para ser Primeiro-Sargento. Com cerca de vinte e cinco anos a
trinta chega a Subtenente, e depois disso, aqueles que passarem cerca de cinco anos e
obtiverem boa avaliação por seus superiores, conseguem sair Tenente Administrativo,
podendo chegar até o limite de Capitão, sempre na área da administração militar. Poucos
alcançam o oficialato, e menos ainda o posto de Capitão. Assim como o Oficial depende de
avaliação subjetiva e até política para o generalato, assim o Praça também para ser Oficial.
É necessário curso prévio para habilitação e principalmente avaliação de toda sua carreira.
Assim, o ex-praça, agora oficial, assume funções burocráticas, o que é de grande valia
para a instituição, pois se trata de alguém que labutou mais de trinta anos e é detentor de
vasta experiência administrativa, uma vez que o Sargento fica na tropa cerca de dez anos,
período que participa de manobras e realiza a formação do Soldado. O restante trabalha
na administração das diversas seções dos quartéis por cerca de vinte anos ou mais. Então
ter alguém com esta carga de aprendizado é de grande valia para as organizações. Os
oficiais que trabalham com a parte operacional são os oficiais da AMAN, que será
estudado adiante.

A maioria chega a Subtenente. Desnecessário é dizer que quanto mais se


sobe, se melhoram os salários, e os benefícios também, como em qualquer instituição que
você trabalhar jovem. Você como estagiário não terá a vaga de garagem como do seu
gerente. Tudo tem seu tempo e seu grau de dedicação, estes profissionais tem uma vida
dedicada ao serviço da pátria, dos quais eu sei bem o nível de dureza.

Eu concluí esse curso no final de 1999, fui aprovado no concurso do ano de


1998, deixando de ser Sargento Temporário para seguir carreira militar. Se eu não fosse
aprovado ou não quisesse fazer o curso sairia em março de 2002, ocasião em que
completaria sete anos. De forma que é assim, se quiser fazer carreira, o negócio é
concurso público meu caro, militar temporário vai embora. Espero que tenha ficado claro
esta questão sobre carreira e temporário. Nos dois casos há Oficiais e Sargentos, com as
mesmas atribuições e salários, a diferença é esta, enquanto um prossegue na carreira o
outro vai embora. Vou providenciar um capítulo à parte sobre concurso público, que
acredito ser extremamente necessário.

A EsSA tem outras escolas em mais cidades do Brasil, que também formam
Sargentos, geralmente os combatentes saem de Três Corações-MG, mas os formandos da
área de apoio, mecânicos, enfermeiros, intendentes são formados no Rio de Janeiro- RJ,
na minha época chamada de EsIE, Escola de Instrução Especializada, hoje pode ter
mudado muita coisa, procure saber sobre o assunto de seu interesse. Você não pode
esperar que tudo aquilo que procura venha até você, pelo contrário, o interessado é que
deve correr atrás. Como dizíamos no EB: enquanto o mundo gira o Soldado se vira! Isto
vale para todas as áreas, amigo, muitas empresas observam estas características nos
seus empregados, aqueles que são proativos, isto é, que procuram estar bem informados
e se especializam na sua área, que apresentam soluções criativas e não esperam nem
25

ficam lamentando as coisas. Há um ditado que diz: O pessimista reclama do vento, o


otimista espere que ele mude de direção, mas o realista ajusta a vela. É assim que você
deve proceder, deve ajustar a sua vela ao invés de ficar reclamando ou esperando dos
outros uma ação que venha lhe beneficiar.

SE NÃO ESTÁ CONTENTE PEDE PRA SAIR!

Permitam-me senhores, que explane sobre o título acima um pouco, pois como
foi nesta fase em que eu dei baixa, gostaria de falar um pouco sobre isto.

Por muito tempo, na minha ignorância e na falta de experiência, também pelo


desgaste que os governos anteriores deram para as forças armadas, eu comecei a
reclamar no quartel muita coisa, do salário, dos benefícios, dos serviços de escala, das
poucas moradias, da lenta promoção, mas não fazia nada além de reclamar. Eu amava
minha profissão, mas isto com certeza, fez meu rendimento cair, e assim lá se vai também
sua avaliação, porque com certeza isto transparece. E eu sempre ouvia aquela frase: Não
está contente, pede pra ir embora. Eu ficava triste, puxa, tinha sugestões, ideias, e ainda
creio que quando uma pessoa esta desanimada com seu trabalho ela deve ser ouvida,
porque talvez tenha uma solução ou algo a dizer. De acordo com dados da administração,
grande parte dos problemas de qualquer organização estão na base e é o chão de fábrica
que conhece de perto os problemas. Eu não agia para mudar isto, o problema estava em
mim. Ficava esperando nos chefes, no governo e nada mudou até que eu procurei mudar.
Estudei e consegui, graças a Deus, aprovação em concurso e saí do quartel, hoje estou
mais satisfeito no meu novo emprego, com mais qualidade de vida.

Hoje entendo e concordo com essa frase: Se não está contente, pede pra sair!
Sim, saia e vá ser feliz em outro lugar, e se lá também ficar ruim, faça tudo de novo! Saiba
que você não poderá mudar o mundo, mas poderá mudar a si mesmo! E foi isto que fiz,
reiniciei novamente e deu certo, graças a Deus!

AMAN

A AMAN forma o Oficial de Carreira do Exército. Lá o jovem é admitido por meio


de concurso público para a ExPCEx, que é muito concorrido, assim como os demais. O
aprovado deve também observar as mudanças recentes, pois na época era necessário
estar concluindo o ensino médio, com idade entre quinze e vinte e três anos. É necessário
um período de cinco anos para a formação do Oficial, sendo necessário cumprir o primeiro
ano na EsPCEx, na cidade de Campinas em São Paulo e após mais quatro anos na
AMAN, já como cadete, em Resende, no Rio de Janeiro. É um curso que tem habilitação
de nível superior em Ciências Militares. Os formados nessa escola são Oficiais
combatentes, isto é, são os que vão comandar tropas no Brasil inteiro. Lá são formados
ainda os Oficiais de apoio, intendentes e comunicantes. Dentre estes sairão futuros
26

Generais, Ainda há demais escolas formadoras de Oficiais, cito dentre elas a escola que
fica em Salvador-BA, chamada de EsAEx, descrita a seguir.

É evidente que os requisitos mudam de ano pra outro, é importante estar atento,
se tiver interesse meu caro. O que dou ênfase aqui, amigo, é que o formando dessa escola
vai comandar, ele vai de Tenente a Coronel, isto mesmo, digo que é o lado liso da
prancheta, o filé do boi, porque uma vez formado fará parte do grupo pensante da força,
daqueles que decidem as coisas. Os Oficiais planejam, comandam, por ser o topo dessa
pirâmide, como em qualquer outra instituição, obviamente. Saem de lá Aspirantes, e com
cerca de um ano são declarados Tenentes. Só lembro que o Aspirante é chamado de
Praça Especial, ou seja, ele não é um praça e nem um oficial propriamente dito, mas divide
os universos de oficiais e praças. Após cerca de seis anos vão de Aspirantes a Capitães,
daí com mais uns oito anos já são Majores e finalmente com alguns anos a mais Coronéis.
Quanto à indicação para General, trata-se de cargo político, sendo de responsabilidade do
Presidente da República. Aí é outra história..., agora você compreende quando vê um
Capitão com cerca de vinte e sete anos, um Tenente com vinte e um anos e um Sargento
com quarenta anos, tudo depende de seu esforço e de seu nível hierárquico. Enquanto um
jovem sargento chega a subtenente após toda a sua vida militar, por quase trinta anos
aproximadamente, um mesmo jovem vindo da AMAN já é superior a este militar, basta ver
a tabela de postos e graduações na internet. Tudo é fruto de estudo, se desejar vá à luta,
estude e você conseguirá.

EsAEx

A Escola de Administração do Exército forma oficial do Quadro Complementar, o


chamado QCO, Quadro Complementar de Oficiais, que são oficiais da área do direito,
magistério, administração, contabilidade, veterinária e etc. Até pouco tempo havia a EsEx,
a Escola de Saúde do Exército, mas recentemente estão centralizando a formação
também do oficial médico, farmacêutico, dentista para a EsAEx. De forma que até os
oficiais capelães católicos e evangélicos sejam formados numa mesma escola. Como
venho alertando confira as mudanças, porque o mundo está dinâmico.

Para ingressar nesta escola deve-se ter formação acadêmica na sua respectiva
área para a qual prestará concurso. Vamos exemplificar. Suponhamos que você é formado
em Administração, poderá então fazer concurso para Oficial Administrador do EB, desde
que seu curso esteja concluído e reconhecido pelo Ministério da Educação, evidentemente.
Você terá que ter no máximo trinta e sete anos de idade e passará por um ano de
formação militar, findo o qual será declarado Primeiro-Tenente, da mesma forma que os
demais oficiais. Sua carreira se encerrará como Tenente-Coronel, (ao menos, na época).
Não irá trabalhar na tropa com a parte operacional, pois seu cargo é técnico e voltado para
as atividades rotineiras da OM. Será uma espécie de oficial burocrático e irá trabalhar em
Órgãos de Fiscalização e cargos de chefia dentro das unidades da força.
27

Portanto se você quiser ser oficial, mas não gosta de atividade operacional, está
aí uma boa opção.
28

Capítulo VI

O Ano de Instrução

O Ano em que o cidadão serve é formado por três períodos basicamente,


chamados de Básico, Qualificação e Adestramento, onde logicamente se aplica as fases
de instrução que o próprio nome já deduz, ou seja, no primeiro o recruta aprende as
tarefas básicas que são pertinentes a todo o militar, no segundo aprende uma função
específica e no último coloca em prática seu aprendizado.

No Período de Instrução Básico, o militar aprende desde instruções de como se


portar a mesa, higiene pessoal, fardamento, até o manuseio do armamento e realização do
tiro. Participa de sua primeira jornada de acampamento, enfim, tudo o que é necessário
para portar-se como bom militar. É nessa fase que o recruta enfrenta o período mais
agitado.

São em média três longos meses. É evidente que o choque é grande. É a


época de tirar o verniz da moçada, da ralação, dos acampamentos, de aprender a carregar
o pesado fuzil e a mochila por longas marchas. É nessa fase que se conhece os recrutas
também, afinal de contas você não só aprenderá ali, mas mostrará aquilo que trouxe de
casa, isto é, mostrará o seu caráter. Todos terão igual tratamento, mas uma coisa que
aprendi é que devemos tratar desigualmente os desiguais na medida de sua desigualdade.

Na segunda fase, cada macaco vai para o seu galho, digo, o cozinheiro para a
cozinha, o enfermeiro para a enfermaria, o mecânico para a garagem, e o Soldado fuzileiro
para o pelotão. Cada um aprende uma função específica.

Agora todos deixam de ter a mesma instrução comum, pois aprenderam o


básico pertinente a todo militar. Já sabem manusear o armamento, realizaram o tiro com
armas leves, sabem as normas e regulamento, conhecem a hierarquia e o modo de se
portar dentro e fora dos quartéis. Também estão amaciados com as duras jornadas de
acampamento, já ralaram um bocado. Aí vem esta fase, onde é dividido o pessoal de
acordo com o processo de seleção. Desde a seleção já é direcionado o Soldado para a
área que ele atuará, assim, aquele cozinheiro, que nem sabia que tinha sido designado
para o rancho segue para a cozinha aprender. Da mesma forma todos para a sua função,
o pessoal da garagem para trabalhar com viaturas e nesses locais se inicia outro processo
mais específico, pois cada função é detalhada e restrita, havendo necessidade de se
especializar na área. O pessoal da infantaria segue também se especializando, pois alguns
serão atiradores de armas específicas, outros municiadores, etc.

Cada uma dessas fases é avaliada por uma equipe que vem de fora, de um
órgão superior, com Oficiais Superiores para verificar o aprendizado. Inclusive no período
básico também há inspeção.

Depois desta fase todos participam de exercícios de adestramento, já com cada


um na sua função exercendo aquilo que aprendeu, se aperfeiçoando.
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Agora, todos podem realizar exercícios, com sua formação completa, é hora da
simulação de combate. Aí vem os TRL, Teste e Reação de Líder, ou com nomes mais
modernos, EDL, Exercícios de Desenvolvimento de Liderança, que em tese serve para os
Oficiais mais novos e Sargentos de todas as idades desenvolverem suas capacidades de
liderar os pelotões, lembro que eram exercícios extremamente extenuantes, havia um tipo
de farofa para alimentação, que eu chamava de jatapô, porque a dificuldade maior vinha
no final do processo digestivo. Carregamento de peso, longa distância para percorrer
devidamente equipado com mochila, capacete e armamento.

Terminado este período o recruta está pronto para voltar à vida civil. O Soldado
faz uma vez este exercício e depois vai embora, de modo que o recruta sempre terá
dezenove anos, mas o graduado que realiza todo ano, vai envelhecendo...

Lembro de uma situação muito engraçada que aconteceu quando realizávamos


o adestramento do batalhão. Meu grupo estava seguindo num exercício chamado de
Marcha para o combate, em que encontrávamos pequenos grupos de inimigos pelo
caminho e seguíamos no seu encalço. Eu tinha acabado de atacar uma posição de uma
metralhadora inimiga, na ocasião liquidamos o inimigo, mas um Capitão, que era um dos
árbitros do exercício e estava bem ali naquele obstáculo, disse que havia avistado um
blindado inimigo chegando. Isto significa manobrar mais uma vez, porém meu grupo já
estava cansado pela ação e o normal seria ser substituído, abrigar, ficar na posição e
aguardar o pessoal que vem atrás descansado para ser o próximo a enfrentar o contato
com o inimigo. Pensei rápido, um blindado não se enfrenta assim, o correto é fugir para
uma região montanhosa ou mata, onde não entre o carro, e se abrigar do fogo. É de difícil
abate, não se você dispuser de uma arma anticarro. E é previsto cada grupo ter duas
dessas, aí eu gritei:

- Granadeiro! Fogo no blindado do Capitão!

-BUM, gritou o Soldado!

-Pronto Capitão, seu blindado já foi abatido. Ficou louco, mas eu relutei:

-Ainda tenho mais um AT-4 aqui Capitão, pois é previsto dois, o senhor inventou
um blindado eu inventei um canhão.

Gritei imediatamente:

-Prossegue! Nem esperei resposta...

Em resumo, a principal função do exército é esta, de formar a reserva


mobilizável, quero dizer, de formar uma classe de reservistas que se um dia a nação
precisar ela vai chamar para formar um destacamento e enviar para alguma missão real ou
mesmo de treinamento. E se assim suceder, cada um é chamado na função que se
especializou, geralmente com uma graduação ou posto acima daquele que possuía
quando estava na ativa, se cumpriu todas as etapas do processo, logicamente. Estes são
os reservistas de primeira categoria, os de segunda são aqueles que não serviram, mas da
30

mesma maneira juram à bandeira e se convocados um dia, passam primeiro pelo devido
treinamento intensivo e após isso recebem a missão de combate. Recomendo o filme
Nascido para Matar, é antigo, mas dá pra se ter uma noção do recrutamento e depois o
ambiente de combate ok? Bom filme.
31

Capítulo VII

A Disciplina no Exército

Os praças no exército tem comportamento que vai do mau até o excepcional, o


soldado já entra no bom e poderá cair ou melhorar, dependendo do como se portar, os
oficiais não tem comportamento. Não vou aprofundar neste tema, porque como há muito
estou fora da força, evidentemente, não terei informações precisas, tudo o que terá que
saber é que como em qualquer instituição, você será observado e suas ações serão
anotadas, o que determinará o seu sucesso ou potencial fracasso.

Expulsão do serviço militar.

Cada Soldado tem uma ficha disciplinar onde são registradas todas as suas
punições e elogios. Cada punição tem seu grau de severidade que pode levar a prisões e
colocar o Soldado no comportamento “mau”, pois como já disse, ele entra já no “bom”
podendo cair para “insuficiente” e “mau”, depois disso, só resta à expulsão à bem da
disciplina, tal como é registrada. O problema de ser expulso é que você poderá enfrentar
problemas futuros. Na minha época, chamava-se popularmente de terceira, ou seja,
aqueles que saíam expulsos, ficavam com uma anotação no seu certificado.

Justiça Militar.

A Justiça Militar julga naturalmente os crimes militares, incluídos os desertores,


aqueles que abandonam o serviço militar por vários dias sem justificativa e insubmissos,
mas o que quero destacar aqui é que hoje já há amparo de que um militar que cometa um
crime comum seja julgado pela justiça comum, o mesmo acontece com crimes militares
cujos enquadrados podem ser civis, não é a minha intenção detalhar os crimes aqui. Só
quero destacar que uma vez na condição de militar estará sujeito à justiça militar e também
a comum, e se cometer algum crime vai ser julgado por uma delas, podendo responder na
justiça comum, como qualquer cidadão.

Honra ao Mérito.

Todo militar que cumpre o seu ano obrigatório de forma exemplar recebe um
certificado, cuja importância muitas empresas reconhecem e muito contribui para o retorno
do jovem à vida civil. É uma lembrança que ficará para a vida toda, além de trazer
benefícios financeiros, uma vez que enriquece o currículo do jovem e traz um atestado de
sua dedicação ao serviço e de sua conduta exemplar.
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Capítulo VIII

Questão previdenciária

Caros amigos, como falei no início, faço questão de destacar este capítulo, que
à primeira vista nada tem a ver com o ano de recrutamento, mas penso que está
intimamente ligado, porque para começar será um ano contado para sua aposentadoria, e
vejo que pouquíssima gente se preocupa com seu futuro nesta área, até porque é costume
do brasileiro deixar tudo para última hora, quanto mais a aposentadoria que está longe.
Mas se você começar a se preocupar hoje, certamente terá um futuro mais tranquilo.

No exército você precisará de mais de trinta anos de serviço para se aposentar,


já fora das FA, serão necessários uma série de exigências devido à última reforma, com
um sistema complexo de pontuação. Então nesta área, ser militar, é uma grande
vantagem, pois você se aposenta mais cedo. No meu caso, dei baixa do EB com
dezessete anos de serviço, tinha mais três anos trabalhado fora com carteira assinada, de
forma que trouxe para meu novo emprego vinte anos de serviço. Você já imaginou se eu
tivesse trabalhado sem registro antes do exército? Certamente perderia esses três anos.
Daí vai este conselho querido jovem: trabalhe sempre com carteira assinada. Além de
provar no futuro que trabalhou esse ano, você está seguro caso sofra algum acidente,
possibilidade esta que ninguém está livre, infelizmente. Tenho visto muitos casos em que
pessoas, na época da sua aposentadoria, estão debilitadas e se obrigam a continuar
trabalhando porque não possuem o tempo necessário para seu descanso remunerado. Por
isso se planeje. Mas então você me pergunta: Se é bom ficar no EB, pelo menos para a
aposentadoria, por que você saiu? Creio que já respondi, mas acrescento, sem problemas,
que são vários os motivos amigos, este livro está cheio deles. Quanto ao tempo para eu
me aposentar realmente seria bem mais rápido, se eu ficasse, garantiria aposentadoria
como Subtenente, antes dos cinquenta anos, talvez.

Ocorre prezado que as coisas mudam, e eu costumo olhar para frente,


principalmente quando se trata de aposentadoria. A atual política das reformas tem sido só
no sentido de subtrair benefícios, enfim, foi melhor estudar e sair do que ficar lamentando o
leite derramado. E agora você deve estar perguntado ainda, mas valeu a pena no sentido
da aposentadoria, pelo menos? Pois você disse que vai precisar de mais anos para se
aposentar. É verdade, amigo, precisarei de mais anos sim, mas vou explicar melhor. Antes
eu aposentaria com quase cinquenta anos, se nada mudasse, o que eu duvido, agora me
aposento mais tarde, ainda incerto, também se nada mudar. Ocorre que hoje pago um
plano complementar de aposentadoria. Aqui está mais um pulo do gato, procure um
trabalho que lhe permita contribuir para um plano complementar de previdência, será este
benefício que irá lhe garantir uma boa aposentadoria ok? Agora consigo manter o mesmo
valor do salário com o da aposentadoria. Vou trabalhar mais anos, sem dúvida, mas hoje
tenho mais qualidade de vida no meu trabalho, que me dá maiores benefícios também,
então o conjunto da obra compensa. Espero ter explicado.
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Ressalto mais uma vez prezado amigo, pense na sua aposentadoria agora, até
porque futuramente não será só você, provavelmente terá uma família, e na sua ausência
eles terão um amparo financeiro, pois como disse o famoso pastor Claudio Duarte, todos
estamos numa fila invisível da morte onde a qualquer momento alguém poderá gritar
dezoito! E aí pode ser a sua ou minha senha, poderá chegar a nossa vez!

Capítulo IX

O Concurso Público.

Acrescento este capítulo porque é fundamental sua importância. Se dedicou


tempo para ler esta obra, então está interessado em ser alguém na vida, e o concurso
garantirá o sucesso que deseja.

Emprego não está fácil para ninguém, e na esfera privada seu patrão visará
acima de tudo o lucro para sua empresa, o que é normal. Poucos são os que tratam seus
empregados como o bem mais valioso da empresa.

Lógico que há exceções, mas o nome já fala, são exceções. Nesse meio não há
estabilidade no emprego, poucas são as empresas que tem plano de carreira, em muitas
delas a rotação de funcionários é alta, as ameaças de demissões existem, chamados de
fação...Contudo há aqueles que são felizes e desenvolvem um excelente trabalho nessas
empresas, quer ser um deles? Então seja um excelente funcionário com uma excelente
formação, pois seu patrão não encontrará alguém à sua altura e pagará melhor salário
para mantê-lo. Esse é o segredo! Fazer a diferença e não ser apenas mais um. Observe o
jogo de xadrez amigo, se você for um peão haverá muitos iguais a você, ambos com pouca
importância, diferentemente de um cavalo ou dama, que são especializados e importantes
no jogo. Vejo muitas pessoas reclamando de seus salários, mas em contrapartida poucas
estudando ou se especializando na sua área, mão de obra sem formação é barata. Mas o
que fazer então para trabalhar no serviço público? Resposta simples, concurso público. O
concurso lhe abrirá portas na esfera pública.

A principal diferença entre essas esferas é a garantia de emprego, pois o


concurso lhe proporciona estabilidade depois de um tempo mínimo chamado de estágio
probatório. A regra do serviço público é de que se pode fazer somente aquilo que a lei
permite, enquanto que a máxima no setor privado é de que pode fazer tudo àquilo que a lei
não proíbe, entendeu?

Se você está trabalhando numa empresa que não te dá valor, estude e saia, vá
atrás de seu sonho, você não nasceu derrotado, aliás já foi um vencedor desde o ventre de
sua mãe, pois concorreu com milhões de espermatozoides e venceu. Não deixe as
pessoas o rotularem, nunca diga: -Não vou ser nada, pois na minha família ninguém é
nada... Não é assim, eu fui o primeiro de minha família a ter curso superior, realizei à duras
penas enquanto trabalhava no quartel, foi difícil, aliás, resumo faculdade numa palavra:
sacrifício.
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Muitas pessoas são derrotadas aqui, nesta fase do eu não consigo, concurso é
difícil e muitos exigem formação superior... e eu só com o Mobral..., poucos passam
adiante. Dentre esses poucos, menos ainda estudam o suficiente e o correto para passar
num concurso. A estatística aponta que apenas dez por cento estudam para passar. O
restante são aventureiros, ou seja, são aqueles que são pressionados pelos pais para
estudar, são esposas e maridos, cujos cônjuges incentivam, muitos mesmo nem a
inscrição fariam se não fosse pelos seus familiares. O negócio é estar entre a décima
parte, a que realmente estuda sem estar se enganando. Agora como saber se estou
estudando o que é certo para o concurso que farei? Digo que você deve olhar com cuidado
o edital do seu concurso, é nele que está contido todas as informações necessárias para a
realização da prova, de modo que se cair no teste alguma questão cujo assunto não
constava do referido edital, esta questão pode ser anulada. Vai ter teste físico no seu
concurso? Comece treinando cedo, pois marmelada na hora da morte mata! Una o útil ao
agradável, isto é, treine para o teste físico, e resolva o estresse para se preparar para a
prova escrita. Cuidado com lesões, pois como fará a prova machucado? Jogar bola
então... Já era amigo, bola é um jogo para se jogar depois de formado e trabalhando na
área, acredite, sempre vai ter um cabeça de bagre que não sabe brincar. Já imaginou você
aprovado num concurso difícil, vai comemorar com uma pelada as vésperas da prova
física? Só se for maluco, bebedeira com a galera ainda? Deixe esses amigos, que são
amigos sim é da onça!

Como eu disse, comecei minha vida profissional na empresa privada,


trabalhando em metalúrgicas, fiquei três longos anos experimentando dificuldades e
sofrimentos. Vivenciei muitas coisas terríveis, inclusive teve uma ocasião em que meu
amigo, um colega de turno, simplesmente faleceu num acidente com a máquina em que
trabalhávamos, eu dividia meu turno com mais dois, de modo que cada um cumpria oito
horas cada, a máquina não parava. Passei meu turno a ele, fui embora viajar na sexta-feira
e quando voltei ele já tinha sido sepultado... Imagine como foi, deixou uma esposa grávida
ainda. Outra ocasião o chefe do meu setor foi bater na porta do banheiro, dizendo que eu
estava demorando muito..., em outra metalúrgica em Ponta Grossa PR, havia um
funcionário que ficava com um cronômetro e uma prancheta, sua tarefa era todo dia
conferir o tempo que cada funcionário levava para fazer as peças. Se você ainda não
assistiu ao filme Tempos Modernos com Chaplin, recomendo que faça, vai compreender
melhor o que vivi e que muitos brasileiros vivem.

Foi essa luta que me fez estudar para alcançar um emprego na vida pública.
Lutei até que consegui fazer carreira militar, porém depois de alguns anos, vi que o
exército já não me oferecia o que queria, estudei de novo, passei em outro concurso e pedi
baixa. O negócio é este, lembre-se da frase: o realista ajusta a vela! Não adianta ficar
reclamando, o negócio é correr atrás do prejuízo, não esperar pelos outros, pelo governo,
é por isso que as pessoas de sucesso são poucas, reclamar é fácil, mas agir é difícil.
Durante meus longos anos no exército ouvi falar muito que nossos chefes estavam lutando
por nós, de que em breve sairiam aumentos de salário, melhores condições surgiriam, mas
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na prática pouca coisa mudava, até que lutei e Graças a Deus, consegui melhorar a minha
vida.

Fique atento, carreira é concurso público, pesquise, leia! pois já com quinze
anos você pode ingressar na escola de piloto de caça, por exemplo. Eu lembro que tomei
conhecimento já no meu último ano para fazer concurso para a EsPCEx, que era com 19
anos, era evidente que não passaria, não tinha preparação, nem dinheiro para a inscrição,
já para sargento, na época, era até 23 anos, ocasião em que tive tempo de me preparar.
Conhecimento é tudo.

Avaliação

Não quero que você se frustre mais tarde ao ser aprovado num concurso, ter
uma bela carreira, mas não atingir o topo dela, ou ver um colega seu, com menor mérito
intelectual subir vertiginosamente a escala hierárquica, ou saltar à frente dos demais,
mesmo sem aprovação de seus pares ou iguais. O que acontece na esfera pública em
geral é que todos sofrerão avaliação que poderão ser as mais diversas, inclusive subjetiva
de seu chefe, o nome já diz tudo, é o que ele acha de você. Você deve se preocupar é em
fazer um bom trabalho, ser pontual, cumpridor de suas obrigações e um bom colega para
com os seus pares. O restante será consequência disto.

Concursados e comissionados

Os cargos comissionados são aqueles que a alta administração preenche, de


acordo com sua necessidade, mas não necessariamente com concursados, no passado,
muitos eram na prática, políticos e simpatizantes do partido que estava no poder. Tanto é
que se entra a oposição, certamente ocorre a “dança das cadeiras” no Brasil inteiro.

Qualquer concurso está cobrando nível médio ou superior, experiência


comprovada, teste de aptidão física, o chamado TAF e demais exigências, tais como teste
psicológico, enquanto que em cargo de comissão os critérios são técnicos ou mesmo
políticos. No passado, esses cargos enriqueciam os amigos do rei, mas no atual governo,
vemos como foi eficiente ter um corpo de técnicos nestas funções. Esta, em geral, é a
diferença básica entre essas duas classes.

Amigo jovem, nós que não temos padrinhos, não estamos destinados a
morrermos pagãos. Mais uma vez digo: Quem luta consegue. E o concurso, na minha
visão, é a forma mais democrática de contratação, pois ali, o que conta é a capacidade
intelectual de cada um. O que quero é despertar em você a vontade de estudar, que
deixemos todos nós de sermos aqueles brasileiros conformados, que só querem saber do
futebol das quartas e domingos, do pão e circo, e formemos uma nova mentalidade. Basta
estudar, insistir que venceremos.
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O importante é que ao chegarmos com esforço e dedicação numa posição


qualquer, saibamos reconhecer com humildade que foi Deus e o nosso estudo que nos
colocou ali, que não devemos nada a políticos ou favores a terceiros e sejamos gratos por
isso.
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Capítulo X

Para que exército?

Eu mesmo confesso que já ouvi muito essa frase e penso que você que deseja
servir também se pergunta. As Forças Armadas em geral são destinadas ao combate
externo, ou seja, guerra ente países. Quanto à luta interna, a ordem pública fica nas mãos
das policias militares e civis. Pode acontecer um conflito interno ainda, do tipo que ocorre
na Colômbia, onde as FARC lutavam para dominar o país. Nesse caso cabem as Forças
Armadas o combate desse tipo de guerrilha, também.

Depois dos combates ocorridos na Ucrânia, no ano de 2022, creio que muitas
dessas dúvidas caíram por terra, bem como aquela velha opinião de que armas matam e
não precisamos de uma força armada, etc, tudo quando vimos um presidente
desarmamentista, querendo às pressas, armar o povo com coquetéis incendiários para
combater.

Aqui na América Latina já houveram grandes batalhas, como a de Tuiuti, sem


falar dos inúmeros conflitos internos que tivemos na nossa história, que se não fosse pela
atuação das FA, nosso destino seria outro, com certeza. Todo exército pode passar cem
anos sem ser empregado, mas nenhum minuto sem estar preparado! É isso que deve
acontecer. Há um provérbio Português que diz: “Se queres a paz prepare-se para a
guerra!”.
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Capítulo XI

Compensa servir ao exército?

Aqui resumo este livro amigo: depende do que você quer! Como assim deve
estar perguntando, digo o seguinte: deseja fazer carreira militar? Sente pendor para as
armas, nesse caso recomendo que sirva para saber como é, e se caso se identificar com o
que viveu nesse ano pode decidir em fazer os concursos dos quais falei, desistiu da ideia
ao passar por essa experiência? Menos mal do que eu que investi dezessete anos, realizei
cursos temporários e de carreira para depois disso dar baixa, concorda?

Você terá que ter em mente que, no início, o salário pago ao recruta é baixo,
não terá uma carreira, aos menos que você faça concurso e seja obviamente aprovado. Se
vier a engajar, todos os anos você passará por uma avaliação subjetiva dos seus
superiores, isto quer dizer, haverá reuniões das quais ouvi muito: “O pessoal temporário
não está mostrando serviço, iremos mandar embora alguns...” No ano obrigatório ficará
difícil para você se manter nos estudos porque ficará muito tempo dentro do quartel, de
início a quarentena, duas semanas, no mínimo, de internato, com jornada das seis horas
até perto da meia noite... O tratamento será bastante enérgico, tudo o que fará será
correndo, com gritos e muita pressão. O sono fará parte constante de sua rotina, devido ao
desgaste intenso.

Em contrapartida a vantagem que vejo em servir é de adquirir experiência de


vida, amadurecimento, pois no meu caso, nem sabia me portar à mesa, e graças a tudo
que aprendi, é que pude chegar até aqui e entregar este material para você, sem falar que,
um dos requisitos, inclusive do meu concurso, era ter certificado de reservista de primeira
categoria, ou seja, já ter servido. Muitos dos meus colegas são policiais e demais
integrantes dos ramos da segurança. Todo o treinamento e conhecimento não ocupam
espaço, quanto mais, melhor. Então, recomendo que se houver interesse por este ramo,
viva esta experiência. O sofrimento gerado o fará amadurecer e serão muito úteis por toda
a sua existência, quer seja na área profissional ou particular.

Como fechamento desta obra, digo que se quer mesmo ser militar, que lute pela
carreira, melhor ainda se for oficial, pois vai desfrutar de muitos benefícios que como
sargento poderá ser menor.

O importante é você tomar uma decisão e seguir adiante, mesmo que depois
tenha que reiniciar o processo. Eu entendi que temos a tendência de sermos cômodos,
que a mudança gera transtorno, mas às vezes, o que nos faz mudar são os obstáculos,
aprendi que eles foram feitos para serem transpostos, a necessidade ensinou a lebre a
correr bem.

Hoje agradeço a Deus por ter chegado até aqui, podendo responder às minhas
indagações da juventude, de ter alcançado meus principais objetivos. Muitas pessoas que
me tiraram da zona de conforto, as quais imensamente, agradeço, foram catapultas que
me fizeram projetar-me adiante para o próximo passo.
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Certa vez alguém viu um cachorro sentado na ponta de um prego ganindo,


então perguntou:

-Por que ele não levanta?

Outro respondeu:

-Talvez não esteja doendo o bastante!

Você já pensou que às vezes nós podemos ser este cachorro? Que estamos
reclamando, mas não fazemos nada para mudar a situação? Você também já deve ter
ouvido uma estória de uma menina que conversava com um coelho assim:

- Que caminho eu devo seguir?

-Depende para onde quer ir!

-Eu quero ir para qualquer lugar!

-Então siga qualquer caminho!

-Mas se eu pegar qualquer caminho vou chegar a algum lugar?

- Se caminhar bastante!

Amigo, solicito que você reflita sobre esse trecho acima, pois sem planejamento
somente por acaso chegaremos a algum lugar. O grande Marechal Rondon, desbravador
do interior do Brasil, disse que por mais opostas que sejam as direções, um dia todos os
homens virão a se encontrar, então um sincero e forte abraço, até breve!
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GLOSSÁRIO

AMAN: Academia Militar das Agulhas Negras. (forma o oficial de carreira)

Amarrava: que continha, inclui, contém.

AT-4: Armamento para destruir carros de combate. (é descartável)

Ativa: Quer dizer que o militar está ativo, está prestando o serviço, quem se
aposenta passa para a inatividade.

Artilharia: Tropa de apoio que atira à longas distâncias.

Baixasse: baixar na enfermaria, ser internado.

BIB: Batalhão de Infantaria Blindado.

Bisonho: inexperiente.

Bizú: macete, dica, orientação.

Bolufas: não sabe nada.

Buia: barulho, agitação.

CAM: Certificado de Alistamento Militar.

CFC: Curso de Formação de Cabos.

CFST: Curso de Formação de Sargentos Temporários.

Cavalaria: Tropa que combate com carros blindados.

Conscrito: indivíduo em fase de alistamento, ainda não incorporado.

Comunicações: Tropa de apoio que permite, opera e protege as comunicações.

CPM: Código Penal Militar.

Deferido: Concedido.

Engajar: é quando o militar quer ficar por mais um ano prestando o serviço, no
qual deixa de ser recruta e passa a ser soldado antigo, engajado.

Engenharia: Tropa de Apoio que facilita o avanço da Infantaria e dificulta o


movimento do inimigo. Essa é a engenharia militar.

EB: Exército Brasileiro.

EP: Efetivo Profissional. Engajado.


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EsPCEx: Escola Preparatória de Cadetes do Exército, situada em Campinas-


SP.

EsSA: Escola de Sargentos das Armas. (forma o sargento de carreira)

EV: Efetivo Variável. Que troca todo ano.

FA: Força Armada, que são três, Marinha, Exército e Aeronáutica.

FARC: Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.

Gandola: jaqueta do uniforme militar.

Incorporação: é a entrada no jovem na força propriamente dita.

Infantaria: Tropa que combate a pé. É o combatente propriamente dito.

INSS: Instituto Nacional da Seguridade Social.

INSUBMISSO: o conscrito que deixa de se apresentar para ser incorporado,


após concluir toda a etapa do alistamento. A Insubmissão é crime militar.

Intendência: Serviço responsável pela Administração Militar, no que se refere à


alimentação e fardamento em geral.

Material Bélico: Serviço responsável pelo fornecimento e manutenção de


material para o combate.

Morteiro: Armamento que dá apoio ao combate. É muito pesado, mesmo


desmontado. Chega a atirar até 5 quilômetros de distância.

OM: Organização Militar. É o quartel propriamente dito.

Pagar: Sofrer, gíria militar. Ex: paguei trinta flexões, tive que fazer trinta flexões.

Papirar: Estudar.

Pelotão: composto por cerca de 40 soldados, incluindo comandante e


subordinados.

PF: Polícia Federal.

PRF: Polícia Rodoviária Federal.

Rancho: refeitório.

Refratário: aquele que não se alista no ano devido e deixa pra fazê-lo no ano
seguinte ou posterior.

Safo: esperto; Inteligente.

Saúde: Serviço responsável pela Saúde.


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SENAI: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.

Sindicância: Processo feito para apurar um fato, inclui inquérito, provas e se


destina a auxiliar futuras decisões da autoridade competente.

Valor: aqui empregado como tamanho, quantidade.

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