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6.ª Edição
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Índice de extratextos 12
Introdução 13
1. A Ciência Económica 17
1.1. A Economia 18
I) validade das leis económicas 24
II) valor ético das leis económicas 25
III) a «mão invisível» 26
IV) a política económica 29
V) a complexidade do sistema económico 31
VI) as soluções do problema 33
1.2. O Mercado 39
I) incentivos de mercado 40
II) a curva da procura 42
III) a curva da oferta 43
IV) o equilíbrio 45
V) valor e custo 54
2. A Economia Agregada 63
2.1. Equilíbrio Geral 64
I) problemas de agregação 66
3. A Política Económica 93
3.1. Orçamento 93
I) impostos 95
II) dívida pública 98
III) moeda 100
3.2. Moeda 104
I) a moeda e a economia 104
II) o negócio bancário 108
III) política monetária 111
IV) o sistema financeiro português 114
6. Desenvolvimento 197
6.1. Desenvolvimento Mundial 198
I) as fases da humanidade 198
II) a população e o produto 200
III) os indicadores sociais 208
6.2. Desenvolvimento Português 213
Bibliografia 217
Índice de extratextos
Nobel da diversidade 19
Adam Smith 27
Alfred Marshall 41
Não há almoços grátis 45
Bem-estar é a única finalidade 57
Os problemas e as empresas 60
Micro vs Macro 65
Joseph Schumpeter 84
Dinheiro grátis 94
David Ricardo 100
Medida do valor 106
Queimar moeda 129
«Salário justo?» 142
Remédio do desemprego? 144
Balança de pagamentos 155
Mercantilismo 156
A exportação é boa ou má? 165
Moeda forte ou fraca? 179
Pacto de Estabilidade 193
Desenvolvimento e felicidade 208
Flexibilidade da economia 214
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1.1. A ECONOMIA
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A História do Autocarro
O problema que será abordado é o de um autocarro, completamente cheio,
que chega ao término da carreira. Precisa de largar todos os passageiros
e, para isso, abre as duas portas que possui. Como podemos descrever o
comportamento do sistema? A compreensão do comportamento deste sis-
tema (o autocarro cheio de pessoas) é uma tarefa científica semelhante à
tarefa do economista que pretende entender o comportamento do sistema
económico. Não é um problema económico nem deixa de o ser. Mas é um
problema susceptível de tratamento económico.
Uma das hipóteses de abordagem possível ao problema consiste em
impor que os agentes que se encontram no autocarro são racionais. Trata-se
da aplicação do postulado da racionalidade. Neste caso, a racionalidade sig-
nifica que cada passageiro, no caso geral, vai procurar sair por aquela porta
que lhe está mais perto ou, em termos económicos, vai tentar minimizar o
espaço percorrido, o esforço e o tempo dispendido para obter o seu fim: sair
do autocarro. «Sair pela porta que está mais perto» é a regra de conduta
que cada um vai aplicar.
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Assim se viu como se constrói uma teoria económica. Mas este exem-
plo serve também para sublinhar alguns aspectos importantes da ciência
económica.
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«As leis da Economia devem ser comparadas com as leis das marés,
e não com com as leis simples e exactas da gravitação. Pois as acções
dos homens são tão variadas e incertas que a melhor afirmação de ten-
dências, que podemos fazer numa ciência da conduta humana, deve ser
inexacta e defeituosa», Marshall (1890), vol. , pág. 3.
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O nosso exemplo pode também ser usado para ilustrar uma outra ideia
que, além de importância teórica, tem também alto significado histó-
rico.
Repare-se que, embora cada um esteja dedicado apenas à resolução do
seu problema (o que, como vimos, nada tem a ver com egoísmo), consegue,
sem dar por isso, resolver o problema global da melhor maneira possível.
Não existe forma de esvaziar um autocarro com duas portas, naquela posi-
ção mais rápida, do que a que foi usada.
Este facto é surpreendente e tem muito mais consequências do que
parece. Numa sociedade, onde cada pessoa decide pela sua cabeça, o que
seria de esperar era o caos e a confusão permanente. E, no entanto, o que
vemos é uma ordenação quase natural. É verdade que observamos alguma
confusão na sociedade, mas isso seria de esperar. O que é surpreendente é
que haja tão pouca confusão. O que surpreende é a ordem.
O homem que, pela primeira vez, intuiu o potencial destas duas ideias
foi um professor de moral escocês, Adam Smith, que, por isso mesmo, se
tornou o «Pai da Economia». Ele observou que, do confronto de objectivos
diferentes e frequentemente antagónicos, saía a ordem social. Algumas das
observações de Smith tornaram-se célebres:
«Não é da bondade do homem do talho, do cervejeiro ou do padeiro
que podemos esperar o nosso jantar, mas da consideração em que eles
têm o seu próprio interesse», Smith (1776), vol. , pág. 95.
Smith expressou este resultado com a fórmula célebre de «teorema da
Mão Invisível». Ele afirmou:
«Cada indivíduo [...] não pretende, normalmente, promover o bem
público, nem sabe até que ponto o está a fazer. Ao preferir a indústria
interna em vez da externa só está a pensar na sua segurança; e, ao dirigir
essa indústria de modo que a sua produção adquira o máximo valor, só
está a pensar no seu próprio ganho, e neste, como em muitos outros casos,
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está a ser guiado por uma mão invisível a atingir um fim que não fazia
parte das suas intenções» (ibidem, , 757-8).
E patente o fascínio de Adam Smith por um sistema que, de forma
surpreendente, aparece ordenado naturalmente sem que ninguém directa-
mente se possa ocupar disso. Este fascínio fez nascer a Economia. Na verdade,
a «mão invisível», além de ser muito importante para os estudos económicos,
tem ainda o interesse de ser a motivação principal que deu origem à ciência
económica. O que os discípulos de Adam Smith procuram compreender é
como este fenómeno se verifica, e porquê. É esse o objectivo que deu origem
à ciência que Smith iniciou.
Tal como nos princípios citados atrás, esta ideia da «mão invisível»
refere-se apenas a preocupações com a eficiência na luta contra o princi-
pal inimigo da Economia, o desperdício. Também neste caso, o conceito
não apresenta qualquer conotação ética, e pode também ser ilustrado pelo
citado exemplo do autocarro.
Se na saída for respeitado o princípio da minimização do espaço
percorrido pelas pessoas, como impõe a hipótese do teorema, então
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Que fazer nestes casos em que os agentes livres (que adiante identificare-
mos com o mercado), deixados a si próprios, não resolvem por si a questão
de forma satisfatória? Esta questão nasce necessariamente da constatação
da existência de situações fora da alçada da «mão invisível», quer no sis-
tema económico quer no nosso autocarro. O nosso exemplo pode também
ajudar a perceber esta questão.
Se cada um dos agentes se preocupa apenas com a sua situação, não é
neles que poderemos encontrar a resposta para um problema que é global.
Mas na maioria dos casos (de certeza nos que nos interessa) existe um, mas
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A História do Casaco
«... Por exemplo, o casaco de lã que cobre um jornaleiro, por mais gros-
seiro e tosco que possa parecer, é o produto do labor combinado de grande
número de trabalhadores. O pastor, o classificador da lã, o cardador, o
tintureiro, o fiandeiro, o tecelão, o pisoeiro, o curtidor, e muitos outros,
têm de reunir as diferentes artes para que seja possível obter-se mesmo
este produto comezinho. E quantos mercadores e carreteiros hão-de,
além disso, ter sido empregados no transporte dos materiais de uns des-
ses trabalhadores para os outros, que, muitas vezes, vivem em regiões
do país muito distantes! Quanto comércio e quanta navegação especial-
mente, quantos construtores navais, marinheiros, fabricantes de velas
e de cordas terão sido precisos para reunir as diferentes drogas usadas
pelo tintureiro, que muitas vezes provêm dos mais remotos cantos do
mundo! E que variedade de trabalho é ainda necessária para produzir
as ferramentas do mais ínfimo desses trabalhadores! Para já não falar
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Esta história mostra bem o poder e o significado das forças com que
estamos a lidar na ciência económica. Foi a compreensão do facto de que
esta realidade, tão complexa e intrincada na aparência, funcionava de
forma tão regular e coordenada, sem que ninguém dela cuidasse, que deu
origem ao estudo da Economia.
Smith sublinhava não só que a complexidade do sistema não impedia
uma eficiência nos resultados, como também levava a que as suas diferen-
ças internas, embora importantes, fossem muito pequenas em comparação
com as diferenças que o separavam dos outros sistemas (a distância de nível
de vida entre o príncipe e o jornaleiro é muito menor que a que separa o
jornaleiro do rei indígena, na expressão datada de Smith). A harmonia do
sistema económico moderno não residia só na eficiência do seu funciona-
mento, mas também na redução das diferenças entre as pessoas, embora
ainda grandes.
Esta maravilha fascinou Adam Smith, e justificou um estudo que ele
iniciou: a Teoria Económica.
Assim vimos o significado dos princípios da racionalidade e do equilí-
brio, que a ciência económica usa para analisar a realidade. Essa realidade é
bem complexa e fascinante, uma vez que as pessoas no dia-a-dia se combi-
nam, pela «mão invisível», para conseguirem formar o sistema económico,
que é tão importante à nossa vida.
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A História do Táxi
A questão económica fundamental que se levanta a quem conhece os dois
postulados fundamentais da Economia e ande de táxi é a seguinte: dado que
o cliente do táxi é racional, por que razão, uma vez chegado ao seu destino,
deve pagar a corrida? Se ele já foi servido, porque deve pagar?
Esta questão aparece naturalmente após o que vimos. Dissemos que a
racionalidade nada tinha a ver com a moral. Se o cliente procurar apenas o
seu bem-estar e não levar em conta os escrúpulos morais, a conduta mais
racional poderá ser para muitos, uma vez no destino, sair sem pagar a cor-
rida. É claro que se o cliente é uma pessoa bem formada, por razões morais,
paga o que deve. Mas haverá razões estritamente económicas?
Há sim. Em primeiro lugar, o cliente sabe que, se não pagar, aquele
taxista não o tornará a servir, e dirá aos amigos que não sirvam um calo-
teiro. Ou seja, o mercado tem autodefesas, para se proteger deste tipo de
pessoas.
Mas é claro que estas defesas são frágeis. Se o táxi trabalhasse numa
pequena cidade em que todos se conhecem, estas defesas funcionariam.
Mas se o caso se passasse numa grande cidade, numa zona onde o cliente
seja desconhecido, e onde não espere voltar tão cedo, a situação era bem
diferente. Por que razão nesse caso um agente racional deve pagar a via-
gem?
A resposta, neste caso, seria certamente que o taxista poderia chamar a
polícia e forçar o cliente a pagar. O cliente, com medo dessa ameaça, paga-
ria. Este é uma realização do papel do Estado no mercado. As autodefesas
do mercado são fracas, e o Estado é chamado a intervir. A forma de solução
do problema continua a ser o mercado, mas para o mercado funcionar é
necessária a presença do Estado.
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Mas se for à noite, num sítio ermo, onde não há polícia? Se o cliente
procurar apenas o seu bem-estar, a conduta mais racional será, uma vez
no destino, sair sem pagar a corrida? Sendo desconhecido do motorista e
não havendo presença de testemunhas, sem a possibilidade portanto de
vir a sofrer consequências futuras, e uma vez obtido o serviço contratado,
pagá-lo será racional?
Pode ainda haver uma razão racional para pagar. Isso passa-se no caso
em que o condutor possa exercer sevícias, de forma aliás algo justificada,
sobre o passageiro pouco cumpridor, de forma a obrigá-lo a pagar. Este
seria um custo directo do mau funcionamento do mercado. O taxista teria
de andar armado, para impor que lhe pagassem o que devem.
Mas nesse caso, e invertendo o problema, que impede o referido moto-
rista de, depois do pagamento, exercer ainda as referidas sevícias, para ser
pago de novo? Este último ponto põe finalmente em destaque a questão
central: trata-se de uma falha de mercado. Devido ao facto de a transacção
não se verificar num mesmo momento do tempo, mas desenrolar-se ao
longo de um período, o mercado funciona mal.
Em qualquer caso, a realização normal e correcta do contrato parece
não ter, neste caso, qualquer carácter racional. Seria de esperar que, neste
como em muitos outros tipos de transacções comuns (barbeiros, restauran-
tes, bancos, etc.) logicamente se multiplicassem os casos de rompimento do
contrato. Assim a própria racionalidade causaria a destruição do mercado,
impedindo-lhe o funcionamento normal, com as evidentes consequências
caóticas para a vida social.
No entanto, nas sociedades civilizadas estes casos são raros, o que faz
com que taxistas, barbeiros, restaurantes exerçam a sua actividade sem
perigo de serem constantemente confrontados com caloteiros racionais.
Embora se encontre por vezes agentes completamente «racionais» neste
sentido, existe corrente respeito pelas regras da civilidade, e por isso o
mercado e os outros mecanismos económicos funcionam normalmente.
Qual a razão? O motivo é, simplesmente, o papel da tradição no mercado.
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1.2. O MERCADO
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