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RESUMO: O presente artigo tem o intuito de fazer uma breve análise da construção política
e, consequentemente, democrática do Brasil no decorrer da sua história, abordando momentos
que foram importantes para levar o país a sua atual conjuntura. De modo a equiparar esse
cenário com a teoria econômica da democracia de Schumpeter, que apresenta bases reforçadas
no elitismo, e fazer um esboço do que poderia vir a ser a democracia caso os preceitos da
teoria de Dahl fossem seguidos, de forma a se ter algo minimamente similar ao que ele preza,
atrelado ao conceito de poliarquia. Em síntese, foca-se em responder às seguintes perguntas
problema: como se deu o elitismo dentro da história da política brasileira? Como esse cenário
se encaixa na teoria Schumpeteriana?
ABSTRACT: This article has the intent to analyze the political and democratic construction
of Brazil throughout its history, addressing moments that were important to lead the country
to its current situation. To equate this scenario with Schumpeter's economic theory of
democracy, which presents bases reinforced in elitism, and to make an outline of what
democracy could become if the precepts of Dahl's theory were followed, in order to have
something minimally similar to what he values, linked to the concept of polyarchy. In
summary, it focuses on answering the following problem questions: How did elitism occur
within the history of Brazilian politics? How does this scenario fit into Schumpeterian theory?
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Ao contemplar a ideia de desenvolvimento é natural procurar por instituições bem
estabelecidas, assim tentar encontrar traços que garantam o bom funcionamento delas parece
o correto a se fazer. No entanto, entender se a democracia é garantida no século XXI não é um
pensamento corriqueiro, pois, paira sobre o imaginário de todos4, uma ideia de que já se
1
amanda.cunha@aluno.uepb.edu.br
2
raquel.timoteo@aluno.uepb.edu.br
3
andressa.carvalho@aluno.uepb.edu.br
4
“Em contraste com seus vizinhos do norte, a democracia é uma experiência ainda recente para eles.”
(ACEMOGLU; ROBINSON, 2012), acerca do contraste entre méxico e EUA, mostrando a diferença entre os
países desenvolvidos e os que ainda buscam o desenvolvimento.
1
evoluiu tanto ao ponto de parecer cômico pensar que seja uma preocupação real, mas ao
analisar melhor a realidade do planeta, percebe-se que essa é uma realidade de poucos países
desenvolvidos5, não algo global, e bem estabelecido.
Segundo Ha-Joon Chang6, no livro “Chutando a Escada, a estratégia do
desenvolvimento em perspectiva histórica”, as instituições são mais uma consequência da
industrialização (desenvolvimento) do que uma causa, de modo que ele trata da evolução da
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democracia como um processo que leva tempo para se adaptar e ser “absorvida” pela
população e até mesmo pelo Estado. Passando por processos tortuosos e até mesmo de
corrupção, para que possa, por fim, encontrar pleno funcionamento, legitimidade e respeito.
Tendo em vista que se precisa do aporte popular e estatal para se fazer valer e ser
estabelecida de forma satisfatória, “as democracias carecem de viabilidade se seus cidadãos
não a compreendem” diz Giovanni Sartori (1988), apud Amantino, faltando um elemento
importante, a consciência popular, que fica a cargo de monitorar e exigir, a democracia é
corrompida.
Assim, levando em conta todo o processo histórico pelo qual o Brasil passou desde seu
“descobrimento”, neste artigo nos propomos a analisar uma parcela dessa trajetória e explicar
como se dá a construção da política e mais especificamente da democracia em períodos chave
da história brasileira. Sendo eles: Colonização (Monarquia), Independência, República velha,
Estado novo (Era Vargas), Ditadura e novamente República. De modo que se possa trazer a
perspectiva de Joseph Schumpeter para essa análise, explicando como sua teoria se aplica aos
cenários propostos.
Dessarte, Schumpeter “provocou uma verdadeira revolução na teoria política e serviu
de ponto de partida para uma série de estudos e análises que passaram a desenvolver novos
enfoques sobre a democracia.” (AMANTINO, 1998). Assim, a escolha de sua teoria com
bases elitistas para explicar a política brasileira, que é arraigada pelo domínio das classes mais
ricas minoritárias, desde sua colonização, é uma escolha no mínimo óbvia já que se baseia em
uma concepção de que “seria necessário que todos soubessem precisamente o que desejam.”
5
Isso torna-se claro ao analisar o mapa da democracia do site The Economist.
6
Economista sul coreano, formado na Universidade de Cambridge, ganhador de dois prêmios de economia por
seus trabalhos.
7
Uma das importantes instituições a qual ele aborda.
2
(AMANTINO, 1998) e persiste a crença de que “isso não ocorre,” (AMANTINO, 1998) com
a massa, que é “burra e guiada por suas paixões”.
Nesse sentido, seguindo as bases teóricas de Dahl “a democracia é um sistema
político cujos membros se consideram iguais uns aos outros, são coletivamente soberanos e
possuem todas as capacidades, recursos e instituições necessários para autogovernar-se”
(DAHL apud ULIANO, 2021.). Primordialmente, faz-se necessário entender e compreender
as esferas e pilares da democracia e o que torna um regime democrático ou não. Logo,
busca-se postular os principais de Dahl correlacionando com o dever ser da democracia
brasileira, com sua ideia de poliarquia, buscando entender a possibilidade de mudança de
cenário de uma constituição elitizada.
Dessa forma, pretendemos trabalhar a seguinte questão: a política brasileira em toda
sua construção, contribuiu para que chegasse na sua atual configuração elitista? As
proposições de Dahl poderiam contribuir com uma possível mudança de cenário?
2.1. MONARQUIA
Ao chegar à costa brasileira, os portugueses juravam estar descobrindo novas terras,
pensavam serem os primeiros a macularem a virgindade do território que acabavam de
encontrar. Entretanto, isso não era a verdade, mas mesmo após descobrirem que já viviam
aqui populações inteiras de indígenas, não se importaram ou respeitaram aquela população
nativa. Pela presunção e superioridade, decidiram que aqueles indivíduos não eram dignos de
respeito e não sabiam se governar. Por isso, os portugueses decidiram tomar para si as terras, e
como se “num ato de bondade”, “civilizar” todas aquelas pessoas, “inocentes demais e sem
consciência da riqueza que tinham”. “Porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece
que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve
lançar.” ressaltou Pero Vaz de Caminha em sua carta ao rei, tratando os indígenas com objetos
passíveis de serem utilizados em uma espécie de jogo de elites.
E dessa forma se inicia a história política do Brasil, com a usurpação de poder das
mãos daqueles que a princípio o tinham por direito. Começa com alguns poucos achando que
cabia para si tomar aquilo, sem se importar com mais nada, apenas com os benefícios que lhe
traria. Criando na origem da história brasileira um histórico de dominação de uma minoria
detentora de força e capaz de impor suas vontades em uma maioria desprovida de organização
3
e que acaba por ser explorada por não ter ganância suficiente, ou não conseguindo enxergar o
mal que a cercava.
2.2. INDEPENDÊNCIA
Durante o fim do século XVIII, o Brasil passou por diversos ensaios de
independência. Como por exemplo, as Conjurações Mineira de 1789 e Baiana de 1798,
apoiadas principalmente por uma elite local insatisfeita com os altos impostos e abusos da
coroa portuguesa, porém os movimentos foram duramente oprimidos e os membros mais
pobres foram mortos e usados como exemplo.
Um pouco mais tarde com a chegada família real portuguesa no Brasil, durante as
guerras napoleônicas, uma série de medidas administrativas e culturais foram tomadas a fim
de tornar a colônia apta a receber a corte europeia – como por exemplo, a elevação a Reino
Unido de Portugal, Brasil e Algarves, a criação da Casa da Moeda e do Banco do Brasil, a
abertura dos portos às nações amigas e o incentivo às artes. Contudo, essas mesmas medidas
foram cruciais para acelerar o seu processo emancipatório, visto que pouco tempo após isso,
em 1815 as monarquias voltaram a assumir o controle da Europa, gerando diversos conflitos
sobre a necessidade de rebaixar o Brasil novamente à categoria de colônia, todas essas
mudanças ocorrendo em função da vontade das elites.
O rebaixamento foi defendido pelas cortes portuguesas, mas extremamente criticado
pelo chamado “partido brasileiro”, formado pelos grandes donos de engenho, grandes e
médios comerciantes e intelectuais liberais que visavam uma independência brasileira com a
manutenção da monarquia e preservação dos privilégios deles, novamente reforçando um
elitismo.
Sendo assim, em 7 de setembro de 1822, D. Pedro I, com o apoio do partido brasileiro,
declarou a independência do Brasil. Em um processo único, que mantinha os mesmos
princípios escravocratas e elitistas com uma nova roupagem e fachada liberal.
Mais adiante, durante o governo Vargas, a política brasileira passou por várias
mudanças e reestruturações no período denominado “estado novo”, como por exemplo o
fechamento do congresso, além da limitação dos poderes legislativo e judiciário e
centralização do executivo. Essas mudanças foram possíveis, em grande parte, por conta do
conflito gerado entre as oligarquias de Minas Gerais e São Paulo, que possibilitaram a
abertura para a campanha de Getúlio Vargas como terceira via e, mais adiante, a revolução de
1930.
2.5 DITADURA
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Movimento de operários e comerciantes de São Paulo que pediam por aumento de salário e melhores condições
de trabalho.
9
Celso Furtado foi um economista brasileiro e um dos maiores intelectuais do século XX.
5
No início dos anos 60, o Brasil passava por uma complexa agitação política. Após a
renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961, assumiu o seu vice, João Goulart, um homem
que defendeu medidas consideradas de esquerda para a então política brasileira, como por
exemplo: as reformas bancárias, educacional e agrária, ampliações de votos aos analfabetos e
militares de baixas patentes.
Porém essas mudanças não passaram despercebidas pela elite da época, que ainda se
concentrava em latifundiários do sul e sudeste e nos militares e vinham ganhando força desde
o fim do Estado Novo e que eram representados pelo partido UDN e que vinha perdendo as
eleições presidenciais desde 1945. Resultando do no golpe de 1964, realizado pelas forças
armadas do Brasil e articulado em conjunto com forças americanas, que temiam a influência
da união soviética na política brasileira, além de parcelas do quadro civil pertencentes à
elite.Elite esta que era muitas vezes responsável por financiar e organizar eventos em diversas
partes do país (Principalmente no sul) como forma de reforçar o ideário do cidadão europeu
disciplinado e trabalhador.
2.6 REPÚBLICA
Durante a redemocratização, o Brasil passou por uma gradual mudança entre o estado
ditatorial e o governo popular, com medidas como a de não julgar os crimes contra os Direitos
Humanos, especialmente os de tortura, cometidos durante a ditadura e a Lei da Anistia,
promulgada em agosto de 1979 pelo presidente João Batista Figueiredo. Essas concessões
surgiram como forma de aplacar a impopularidade do governo militar, gerada principalmente
pelo contexto político extrangeiro e o aumento nos grupos de movimentos populares. Esse
período é denominado “transição negociada” pois precisa, ao mesmo tempo, atender os
pedidos da elite conservadora e os pedidos de uma população exasperada e insatisfeita com o
fim do “milagre econômico” da ditadura.
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Assim, tendo em vista como se deu a construção da política brasileira10 e entendendo
os aspectos principais de sua estruturação, nota-se que tal cenário é completamente abordado
por Schumpeter em seus estudos. Ao compreender sua abordagem no sentido de que há, por
parte da população, uma falta de consciência política, a qual corrobora com a perpetuação da
estrutura e favorece as elites consagradas há muito tempo, torna-se palpável a falta de uma
democracia aos moldes do que foi planejada para ser11. Já que, distanciar a configuração
política da realidade popular, faz com que o tema deixe de ser palpável e compreensível como
parte influente em suas vidas cotidianas, de forma a criar uma ideia, segundo Schumpeter, de
que “assim, o cidadão comum, no campo da política, argumenta e analisa de forma ‘infantil e
primitiva’ ” (AMANTINO, 1998) suas obrigações para com as tomadas de decisão do país.
Nesse ritmo, o autor critica a teoria clássica ao passo que ela presume a existência de
uma consciência e de um bem comum a ser seguido, pois esta, segundo ele, não existe.
“Essa concepção considera que o povo tem uma opinião definida e racional sobre
todas as questões e que ele objetiva essa opinião escolhendo representantes que
zelam para que essa opinião seja seguida, ou, em outras palavras, pressupõe a
existência de um bem ou interesse comum, cujos executores e guardiães são os
políticos.” (AMANTINO, 1998).
De forma que, sua teoria busca explicar o pensamento elitista que permeia todas as
camadas da sociedade brasileira, desde o topo da pirâmide social e de poder, até suas partes
mais baixas, enraizando ainda mais todos o pensamento de que o povo não tem consciência,
logo, não deveria governar ou ter poderio, consequentemente impossibilitando a democracia
plena12. Isso tudo influenciado pelo grande histórico de submissão popular forçada, agravada
pela manipulação das massas, devido a “técnicas semelhantes às adotadas pela publicidade
comercial, procura formar, manipular e condicionar a vontade do eleitor” (AMANTINO,
1998). Apesar de ser uma concepção omissa e nociva não é errada a sua análise de que
algumas democracias se transformaram13, principalmente quando incita que não existe essa
consciência de bem comum e que cada um se preocupa apenas com sua realidade, já que as
elites buscam perpetuar essa estrutura visando o benefício próprio.
10
Com seu alicerce repleto de elitismo e submissão da massa pelos ricos, que sempre detiveram o poder, e por
meio de uma alienação do povo de sua própria realidade e capacidade. Há uma busca por perpetuar uma estrutura
omissa e que não configura nem de longe o que se deveria primar como democracia.
11
Uma democracia inspirada na de Atenas, que contava com unidades parecidas com tribos, onde em cada uma
delas havia uma votação para selecionar um representante político no governo central, primando pela
participação de todos, para que expressassem suas vontades para com a política. (DIAS, 2021)
12
Se atendermos a sua etimologia, este termo é formado por dois elementos:a palavra demo equivale a povo, e
cracia que vem de kratos e significa poder. Consequentemente, esta forma de organização política está baseada
no poder ou vontade do povo. (VESCHI, 2019)
13
Tendo como exemplo a realidade do Brasil.
7
Dessarte, uma visão elitista e classicista se forma acerca da população, que está social
e economicamente distante da elite, criando o estigma de que “ ‘geralmente não se interessam
por política, são mais ou menos indiferentes à participação’, além de ‘mal-informados’ e
frequentemente ‘irracionais nas escolhas que fazem’.” (WANDERLEI (1982) apud
AMANTINO, 1998), criando esse preconceito e colocando o povo como inferior. Esse
pensamento expresso por Warndelei descreve a situação vivida há séculos no Brasil, na qual
os ricos controlam o país e impedem os pobres de qualquer participação expressiva, por não
os considerar capazes, de modo ao próprio povo internalizar tais preconceitos e possuir o
sentimento de incapacidade e de ser indigno de participação e expressão.
Dessa maneira, a teoria Schumpeteriana baseia os critérios de democracia quase que
inteiramente no voto14, situação que é similar ao que acontece na realidade brasileira, visto
que apenas o voto é algo cotado como importante para sua garantia. Dessarte, havendo
esquecimento de que as pessoas que compõem o congresso devem representar seus eleitores,
esse ponto acaba por ser esquecido e as pessoas que são eleitas pertencem a classe da elite,
criando uma falsa ilusão de representatividade. “Para Schumpeter, a democracia se caracteriza
muito mais pela concorrência organizada pelo voto do que pela soberania do povo, ou o
sufrágio universal, como afirma a teoria clássica.” (AMANTINO, 1998)
Isso incorre no esquecimento e negligência do real valor da democracia, as pessoas
acabam por esquecer que existiram muitas lutas para a garantia desse direito.
“a descoberta do valor da democracia na política brasileira ocorre no momento mais
escuro de nossa história, os anos de infâmia do período Médici”. Aliás, se é possível
buscar algum efeito positivo nas ditaduras que se espalharam pela América Latina, a
valorização da democracia certamente deve ser um deles.” (WEFFORT (1984) apud
AMANTINO).
14
Somente em 1988, com a nova constituição, analfabetos foram incluídos, por fim tipificando o sufrágio no
Brasil como universal. Assim, demonstra como essa instituição se ratificou de forma atrasada no país.
8
4. A TEORIA DE DAHL E O DEVER SER DA DEMOCRACIA BRASILEIRA
“The experience of the democratic countries with the most advanced economies also
tells us that no single pattern, or even a dominant one, has emerged; and what has
emerged is a product of the special characteristics and the unique history of each
country.“ — Robert A. Dahl15
Robert Dahl nasceu em 1915 na pequena cidade de Inwood, Iowa, EUA. Ele passou
quase toda a sua carreira acadêmica na Universidade de Yale, na qual se tornou professor de
teoria política logo após receber seu doutorado na década de 40. Dahl escreveu prolificamente
e se tornou um dos principais pensadores da teoria democrática do século XX – durante um
longo período publicou diversos livros e artigos. Ao decorrer da sua carreira como
pesquisador na área da ciência política, o autor desenvolveu e aprimorou seu conhecimento no
espectro da teoria democrática, trazendo pontos demasiadamente importantes para os estudos
atuais. "Dahl contribuiu decisivamente para definir os contornos do que se hoje entende por
democracia." (LIMONGI apud DAHL, 1972)16.
O cientista político formula uma dessemelhança entre “democracia ideal”17 e
“democracia real”,18 além de desenvolver um conceito importante, que influenciou diversas
03-22 teorias, nomeado como "poliarquia" (em tradução literal, “governo de muitos”). Assim,
o escritor expressa que o vocábulo "democracia" – que advém de um cenário grego de
participação direta dos cidadãos no regime político, não se encaixa na classificação dos
regimes representativos atuais. Pois, as democracias contemporâneas se afastam de toda a
ideia de regime sublime estipulado pelos pensadores gregos.
Desse modo, Robert Dahl estipula uma nova concepção dentro da Ciência Política
chamada poliarquia. Ele formulou esse conceito que tende a compreender quais são as
circunstâncias convenientes ou desfavoráveis à transição de um regime não plural, não
poliárquico para um regime poliárquico – pois, em seu julgamento, nenhum regime conseguiu
atingir a democracia plena. Seguindo os pressupostos de Dahl, são necessários dois pontos:
oposição ao governo e participação plena pública. Sendo a primeira, eficiência e autonomia
que grupos opositores dispõem para questionar, se opor e debater as medidas advindas dos
"soberanos" do governo e ganhar espaço com a finalidade de defender suas vontades e
direitos e angariar eleições íntegras e idôneas. Ademais, a cooperação alude a fração da
população que compreende e se envolve nas deliberações políticas, de modo participativo
15
After the Revolution? (1970; 1990), Ch. 3 : Democracy and Markets
16
DAHL, Robert. Poliarquia.
17
Ideal de democracia postulada pelos gregos de vasta participação política pelos cidadãos.
18
Tentativa de plena democracia almejada pelos regimes atuais.
9
usufruindo do sufrágio universal ou em cargos governamentais. Ou seja, participação ativa
dentro do regime político.
"Poliarquias são regimes relativamente (mas incompletamente) democratizados, ou,
em outros termos, as poliarquias são regimes que foram substancialmente
popularizados e liberalizados, isto é, fortemente inclusivos e amplamente abertos à
contestação pública”. (DAHL, 1972)
"Em seguida, suponho que para essas três oportunidades existirem para um grande
número de pessoas, tal como o número de pessoas abarcado pela maioria dos
Estados-nações existentes, as instituições da sociedade devem fornecer garantias."
(DAHL, 1972).
19
Como afirma Jean-Jacques Rousseau em seu conceito de vontade geral, uma vez que implica na consideração
da aspiração de todos.
10
ter oportunidades iguais e efetivas para expressarem e fazerem valer suas opiniões. Também
se faz presente o requisito de sufrágio universal e igualitário – no qual já se abrange a
inclusividade que também é um pilar no regime democrático – pois implica na oportunidade
de expressar e tomar decisões, assim se articula paralelamente ao controle da pauta política –
um dos elementos essenciais para a democracia. Esse tópico implica diretamente em impedir
que a elite preze apenas por tópicos que lhes seja conveniente, suprimindo assim, vontade de
outros cidadãos. "A características chave da democracia é a contínua responsividade do
governo às preferências dos seus cidadãos, considerados como politicamente iguais" (DAHL,
1972.).
Como expressado anteriormente, os três pilares não se fazem suficientes a fim de
assegurar uma democracia. Logo, são necessárias instituições para tal feito. Sendo elas,
eleições livres, seguras e idôneas; liberdade de expressão; liberdade de formar e aderir a
organizações; direito de voto; elegibilidade para cargos públicos; fontes alternativas de
informação; direito de líderes políticos disputarem apoio/votos; instituições para fazer com
que as políticas governamentais dependam de eleições; Assim, em um modelo bidimensional
– que garanta participação e oposição – caminha em direção a um regime que garanta plena
participação popular. De modo que, ao seguir esses princípios estipulados por Dahl, tentando
ao máximo alcançá-los, ter-se-ia uma melhora no quadro brasileiro de política e de
democracia.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, a conclusão a que se chega parece ser a mesma que Ha-Joon Chang
chegou em “Chutando a Escada”: “Nesse sentido, os PADs20 estão “chutando a escada" não só
na área das políticas, como também na das instituições.”. Enquanto os países “chutam as
escadas” do desenvolvimento no cenário internacional para evitar a repartição do poder, as
elites tentam realizar os mesmos feitos no cenário nacional, perpetuando sua dominação por
achar o povo indigno de governar juntamente a eles, reforçando o julgamento de que as
massas não têm capacidades por serem irracionais, assim como aponta Schumpeter em sua
teoria explicitada acima.
Esse cenário aparenta ter sido premeditado desde o princípio, já que após a
“descoberta” do Brasil, essa é a realidade constante, não há outra forma de organização
política que não a citada, essa falsa democracia acaba por apenas criar uma ilusão de que o
povo realmente detém o poder. Desde sempre, a realidade é essa, uma construção que levou
20
Países Atualmente Desenvolvidos
11
anos e culminou no que existe atualmente, um país comandado por elites que não chegam a
10% da população. Assim sendo, se Schumpeter acredita que a massa não consegue separar
suas paixões para tomar decisões, porque acreditaria que a elite conseguiria fazer isso? Qual
seria essa crucial diferença que os separa tanto? Ele afirma que o povo “tenderá a ceder a
preconceitos e impulsos extra racionais ou irracionais” (Schumpeter, apud Amantino).
“Sendo assim, conclui Schumpeter, a vontade do povo não é o motor do processo político,
senão o seu produto (vontade manufaturada). Decorre daí a importância cada vez maior da
publicidade política que, por meio de técnicas semelhantes às adotadas pela publicidade
comercial, procura formar, manipular e condicionar a vontade do eleitor.”
(AMANTINO, 1998)
6. REFERÊNCIAS
CHANG, Ha-Joon. Economist & Author. [S. l.], 28 nov. 2022. Documento eletrônico.
Disponível em: <https://hajoonchang.net/>. Acesso em: 25 nov. 2022.
DE CAMINHA, Pero Vaz. A carta de Pero Vaz de Caminha. [S. l.: s. n.], 1500. Documento
eletrônico. Disponível em:
12
<http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/carta.pdf.> Acesso em: 30 nov.
2022.
DIAS, Letícia. Democracia Ateniense, o que foi? Origem, características e influência. [S.
l.], 2021. Documento eletrônico. Disponível em:
,https://conhecimentocientifico.com/democracia-ateniense/>. Acesso em: 30 nov. 2022.
GLOBAL democracy has a very bad year. [S. l.], 02 de fevereiro de 2021. Documento
eletrônico. Disponível em:
https://www.economist.com/graphic-detail/2021/02/02/global-democracy-has-a-very-bad-yea.
Acesso em: 30 nov. 2022.
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