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A C A Ol IN A IE & MAE
SORBE
THESE
Ol'E FOI APRESENTADA A ' FACULDADE DE MEDICINA DO BIO DE JANEIRO
E SUSTENTADA EM 12 DB DEZEMBBO DB 18 U
roH
.
La santé est me ns lVflet d’ une bonne
constitution que la ré compense de la so
.
brié té
-
RIO DE JANEIRO .
TYPOGRAPHY IMPARCIAL DE FRANCISCO DE PAULA BRITO.
1MI .
FACULDADE DE MEDICINA
.
A DO ÎUO DE J /WEIHO
DIRECTOR
O SR. DR. JOSE’ MARTINS DA CRUZ JOBIM.
( Serve interinamente o Sr. Dr. Joaquim José cia Silva J.
..
2° ao 4° Manoel Feliciano P . deCartalho Clinica externa, e Anat. patholog. respective .
5 ao 6° l/. de Valladä o Pimentel
* .
Clinica interna , e Anat patholog respective . .
Lentes Substitutos.
Francisco Gabriel da Rocha Freire , Ex. Secção das Sciencias accessorial.
Antonio Maria de Miranda Castro
Jos é Hento da Roza Sec çã o Medica .
Antonio Felix Martins
D. Marinho de Azev." Americano
Luiz da Cunha Feijó
Secretario
I
Sec ção Cir ú rgica .
.
Dr . Luiz Carlos da Fonceca .
Em virtude de huma resoluçã o sua, a Faculdade n ão approva, nem reprova as
opiniões emittidas nas 'Theses, as quaes devem ser consideradas proprias de seus
autores .
ILL.“ 0 SR. CORONEL MANOEL RODRIGUES DA COSTA
Um filho, que de Deos recebeu a mercc de ter Paes, que o dirigissem na vereda
da virtude, c que se vô, á custa de seus desvelos, alistado sob as bandeiras da
mais nobro das scicncias, pela penetra çã o dos mysteri ös da qual so colloca o ho
mem na posi çã o de se prestar generoso ao seu similhante nos majores transes
-
- -
de sua preciosa exist ê ncia , limita sc à pedir vos, que benignamente vos digneis
de aceitar o primeiro fructo de suas fadigas, assignando-se com o mais profundo
—
respeito, e terna gratid ã o vosso filho obediente.
M. R. L. F. OITICICA .
AO ILL ” “ SR. JOSÉ JOAQUIM DOMINGUES DA CRUZ.
Á v ós, como aos meus, devo a posi çã o social , de cujo zelo hoje me
fa ço cargo : r05
meusderã o me o ser , removerã o as tormentas de minha infancia , cuidadosos vcla
-
rã o as hascs do minha educa çã o, c me lizerã o sentir os mysteri ös das sciencias ;
-
v ós firmasleis nossos intentos, concorresteis para o andamento destes, e finalmente
realizasteis nossas esperan ças, contribuindo dest arte para que n ã o desist íssemos da
empreza começada. Permitt í pois, que, me n ã o olvidando dos benefícios, de que
para vós me acho penhorado, possa eu considerar este meu primeiro trabalho scien -
-
tifico digno do vos ser ofierecido, perpetuando vos cm minhas recorda ções, c dan
do-vos assim uma pequena prova do meus respeitos, de minha sincera amizade,
-
e de minha eterna gratid ã o.
>1. R L E OITICICA .
DIMTACÏO ML. 9
PAUTE PRIMEIRA.
.
( 1 ) Gergelim d ’ Asia
( 2 ) Este molho eia feit ) de diversas maneiras ; umas rezes elles lan çav ï o mSo dos intestinos do peixe
garo, e o desfizi ã o na salmoura ; do que resultava um tempero lamacento entre elles muito usad > : «
-
outras vez ' s deitav ã o á apodrecer os intestinos do mesmo peixe no vinagre, no vinho, c no azeite ; e,
regundo o liquido, que era empregado , recebia o nome de oxynrum , hydrogarum , el írogarum , c a* no .
garum . Esta prepara çã o, com quanto exhalasse tun cheiro puliido, e nauseabundo, posta cm fuscos do
onix, ou de agata tinha o priuieiio lugar entie os perfurnes .
« , os antigos autoros do maioria
scu sabor amargo c extremomeiite repugnant
Romanos manjar
do »tenu* diaboli , Ia assafetidn
divino ; a mais estimada
Hh , diziamos
ia da Cyrena .
I I , era chamada
.
,
Persia , cujos habitantes parece que conservarã o a tradiçã o dos Itomanos quanto a
pelos
ra ; mas hoje ella vem da
pxcellencia deste condimento, com o qual os orientées temperã o todos os seus come -
res. 1'inalmenlc a assafelida servia mais, para os orientaes a esfregarem , nos dias de
grandes festas, nas beiras dos copos, coin o fim de darem mais gosto, c melhor cheiro
á suas bebidas.
Neste resumo, pois, temos dito quanto julgamos suflicicntc, paro se poder apreciar
qu ã o differentes, e variados erã o os costumes c os caprichos dos antigos entre si , e
em compara çã o com os nossos, tocante á alimentaçã o .
PARTE SEGUNDA .
.
Rousseau pretendia , que o homem tivesse sido primitivamente herbivoro;
Jlelvecio puiu contrario dizia , pie o homem fõ ra carn í voro.
Ou fosse porque estes
philosophe* encarassem a quest ã o pelo lado moral ; ou porque
desprezassem a anato -
—— 5
mia do corpo humano , ou á cila fossem estranhos, a quest ã o n ã o foi decidida.
Rroussonnct, f ü ndando so no exame dos dentes do gé nero humano, isto é , sabendo,
-
que de 32 dentes do um homem 12, o menor numero, crflo carn í voros, e 20, mayor
numero, erfio herb í voros, o collorava nesta classe. Grimaud divergindo da opiniflo
-
de Rroussonnct , c fundando se na for ça muscular, em que, relativamente o homem 6
inferior aos demais animaes, o collocava na ordem dos carn í voros. Entretanto estes
nao forá o melhor sueccdidos, do que aquelles.
Se, desprezando as considera ções de Rousseau , de Ilelvecio, de Rroussonnct , c as
de Grimaud , procurarmos, para a solu çã o do nosso problema , o verdadeiro ponto
de partida nos caracteres anat ó micos do tubo digestivo , c nas funeçoes physiologicas
desta importante parte da organização, queremos dizer , se compararmos o canal di -
gestivo dosaniuiaespropriamente carn í voros com os dos verdadeiramente herb í voros ;
o destes com o do homem ; c se íinalmente tivermos em considera çã o as mudan ças,
por que passã o os alimentos nestes orgã os, veremos, que o canal alimentar do lobo,
do pyloro ao ano , é de 17 pés pouco mais, ou menos; que o do carneiro, nos mesmos
limites, tem 17 vezes o comprimento do corpo deste animal ; c que o do homem tem
de extensã o de ö á (i vezes o corpo do mesmo homem : veremos ainda , que o ali-
mento animal , devendo sofrer uma decomposiçã o rapida , n ã o sc poder á conservar
nos intestinos de um herbivoro, sem que essa decomposi çã o seja p ú trida ; assim como
nao poderá ter lugar a digest ã o, c a assimilaçã o do substancias vegctacs em um animal
carn í voro, por isso que essas substancias tê m necessidade de sc mais demorar em sua
passagem pelos intestinos para adquirirem a propriedade nutritiva : veremos final -
mente, que, n ã o sendo o homem , o que queri ã o Rousseau e Ilelvecio, e nem o que
pretendi ã o Rroussonnct , e Grimaud ; que nrto sendo elle dotado de um canal alimen -
tar, que tenha a mesma extensã o, que tem o do lobo, e o do carneiro ; que devendo
necessariamente ser o justo meyo, quem resolve a quest ã o, que tanto oceupou a philo -
sophos tã o transcendentes, masque a n ã o resolver ã o de uma maneira precisa ; vere -
mos íinalmente, diz íamos, que é o homem carnivoro, c ao mesmo tempo herbivoro.
2. ° Hippocrates pretendia , que o principio nutritivo era uniforme , c sempre o
mesmo, dilTerindo só mente em seusgrá os, c em suas proporções : esta opiniã o parti -
-
lliav ä o Stahl , Juncker, c Lorry , que, ampliando a , sustentava , que o principio mu -
cilaginoso, efermentavel era por si só capaz de nutrir , com tanto que clic passasse pelas
modificações convenientes para esse fini ; quer essa qualidade lhe fosse natural, quer
elle a adquirisse na economia por ineyo das dii ïcrentes combinações operadas por nos -
sos orgã os. N ã osc duvida hoje, que o principio nutritivo n ã o ò o que queria Hippo -
-
crates, nem també m o que pretendia Lorry ; porquanto sabe se, que nossos orgã os,
recebendo seu crescimento, c a repara çã o de suas perdas pela nutri çã o , n ã o s ã o for-
mados de uma mesma substancia ; que os suecos nutritivos cont ê m , cm um mesmo v é -
-
hicula , princ í pios muito diff é rentes entre si , os quacs sc n ã o sã o perfeitamente simi
1ban tes, pelo menos t ê m muita analogia com aquelles, que constituem nossos orgios \
ll
.
e que en summa os fluidos, que fazem
—— G
parto de nossa nutri çã o enccrr ã o part í
t ã o diversas, < juaoto differentes sã o os tecidos, que
.
culas
elles reparfio l » elo que, se conclue
çã o bem not á vel , a
que existe nas funcçòcs digestivas uma força organica de combina
qual póde produzir cm a natureza do um só producto immedialo das substancias or -
ganizadas mudan ças tacs, que obriguem esse producto a assimilar-sc ás proporções t ão
variadas das mat é rias, que compõem todas as partes dc nosso corpo ; c que alem da
mucilagem lia um grande numero do outros princ í pios, que gozã o a propriedade nu -
.
t ri ti va
3. ° A terceira , c ultima quest ã o , que ó mais o exame das metamorphoses, por que
passão os alimentos, ató que cheguem ao estado de mat é ria nutritiva , do que uma
questão propriamente dita , nosoccupará agora .
As substancias alimentares, de que nos servimos, cxperimentSo suas primeiras
mudan ças no estomago, c nos intestinos, pela mistura da saliva , e do ar , de que cilas
sã o impregnadas durante a mastiga çã o, c pela acçao dos suecos gástrico, e panclirea -
tico, e da bilis : o oxygcno do ar, achando-sc cm contacto com essas substancias, é
-
absorvido progressivamente, e substitu í do pelos gazes accido carbonico, e bydrogeno.
Com quanto se n ão saiba qual é a natureza das mudan ças, porque a saliva , os suecos
gástrico, e panchreatico fazem passar as massas alimentares, todavia , essas mudan ças
sao taes, que nos obrigã o á dar certa import â ncia ã esses suecos, que, dc mistura com
os alimentos, do tal sorte concorrem para a conserva çã o de nossa existê ncia. Reduzidos
a cbjlo, passados do estomago, e chegando aos vasos chyliferos, c aos ganglios Iym
phalicos, onde são misturados com a lympha, os alimentos sofrem novas altera ções ;
-
depois do que sao lan çados no sangue venoso, c immcdiatamentc caem nos vasos
pulmonares. I) o pulm ã o o principio nutritivo passa para o system a arterial , e é le
vado ã s ultimas ramifica ções deste systema, onde, pela proximidade, em que suas ra-
-
mificações sc acbão da pelle, deve elle experimentar a influencia do ar exterior, sem-
pre cm contacto com esto orgã o. L sem du \ ida depois das diversas vicissitudes, por que
passã o os alimentos na circula çã o, que, misturados com o sangue,
fornecem succes
sivamento a maté ria dc muitas secreçõ es mais animalisadas ; e que, quer tomando
-
o estado gelatinoso, quer passando da natureza caseosa para a de
nosa , e quer cmfim desta para a íebrina , se diffundem nas
substancia albumi
bainhas orgnnicas do te
-
-
cido cellular, as quaes lhes d ã o uma ló rma
cido differente de nossos orgaos.
diversamente organizada , segundo o te -
PAUTE TERCEIRA.
AUMENTOS ANIMA ES .
.
1. ® Boi Sem o boi , diz Buffon , seria a vida do homem muito penoso , a terra se
n ã o cultivaria , os campos, e mesmo os jardins pcrmaneceri á o seccos. Os Gregos
modernos sc n ão servião da carne do boi para sua alimenta çã o, pelo respeito, que
Iributav ã o ao animal trabalhador. Nas ald ôas Bramanes o que come a carne deste
.
animal sofre a pena do desprezo de seus compatriotas Segundo Plinio, e \ alerio M á -
ximo um cidad ão foi banido por ter morto um boi. Os Egypcios consullav ã o o boi
.
Apis , como seu orá culo Se conservássemos os costumes dos antigos, seria entre nós
um delicto, o que hoje nem chega á merecer a classifica ção de barbaridade, e ent ã o
- - -
far sc- nos hi ã o assás sensí veis taes costumes, attento o gr ã o, que na escala dos ma
teriaes, de que lan çamos m ã o para as nossas provisoes, occupa este animal.
A carne, de que ora nos occupamos, a mais rica cm tî brina , é geralmenlc a mais
empregada pelo homem em sua alimenta çã o : sua digest ão se effectua facilmente ;
ella nutre bem , quando é de boa qualidade, c fornecida do animal , que tem chegado
ao seu mais perfeito desenvolvimento ; que n ã o est á fatigado, e quando finalmentc
.
n ã o tem sofrido a mais leve decomposi çã o Ella n ã o é a mesma em todos os
paizes, e diffé ré ainda segundo os pastos, c segundo a maneira de a preparar .
A acçã o do calor sobre a carne lan çada na agua , ou o cozinhar queahranda a rigidez
de seus tecidos, e que a faz mais tenra , n ã o deve ser muito prolongado, por isso
-
que a agua apodera se dos princí pios nutritivos, e saborosos, que ella contem , e
a fibrioa permanece sem esses suecos, c por isso capaz de lutar victoriosa com a
.
energia gastrica O caldo, que resulta desta maneira de cocçã o das carnes, é tanto
mais sobrecarregado de princí pios reparadores, quanto ella é mais prolongada Ora. .
ú medida que o osmasoma , e a gelatina se vao dissolvendo na agua, mais o caldo
vai sendo fá cil de ser elaborado pelo estomago, e mayor numero de mat é rias e \
.
-
crcmenticias se v ã o depositando A carne assim preparada tem pouco sabor , ó me
.
-
nos tónica , nutre menos, e excita pouco os orgã os digestivos
-
A estufada , pcnctrando se dos vapores quentes, diminue do cohesã o , sc entenrece
e cozinba -so perfeilaineutc bem , sem perder seus princí pios nutritivos, e sem se
.
desoccar ; cila ó a mais fá cil dc digest ão, e a mais nutritiva
,
A melhodica , c convenicnlemcnte assada conserva pouco mais ou menos, todas as
,
> uas parles sol ú veis por
— —8
isso que a acçã o dirocta do fogo sobre olla carboniza sua
superficie externa, e concentra osliquidos, que, retidosem seu
,
interior , communicâo --
he um gôsto particular, que a caracté risa. Ella
é muito nutriente, c tó nica ; seusa
j)0 r desafia o appetite, c por isso é preferida por muitos estomagos.
,
A carne frita é tã o bem mui tenra , com tanto que seja bem feita c que tenha a
crosta , que a envolve, extremamente delgada ; do contrario o empireuma, que os
oleos , e as gorduras lhe communicão, a faz extremamente nociva aos estomagos de -
licados.
Quando a carne se acha nas condi ções á cirna indicadas, convé m em geral á todo
o indiv íduo, maxime ao que tem bom estomago, que faz exerc ícios, e que tem neces
sidade de ser bem nutrido. O homem sedentá rio, o convalescente, e o dotado de
-
um estomago fraco n ã o deve fazer uso deste alimento, sem que tenha antes consultado
suas forças. A carne de vaca , e a do touro sao inferiores á do boi castrado em pequeno ;
a da vitella 6 a melhor neste gencro.
2.° C .VHNKIRO. A carne deste animal 6 mais saborosa, quando elle pasta nas monta -
nhas, nos lugares seccos, e salgados, e por terrenos abundantes de plantas aromati -
cas ; cila é suculenta , c muito nutritiva ; e, á excepçã o da precedente, õ a melhor,
de que usa o homem. Segundo Sanctorio a alimenta çã o desta carne augmenta a
transpira çã o cutanea.
O anho é um alimento muito delicado, e goza as mesmas qualidades alimentares,
que a vitella. A carne do carneiro conv é m em geral em todas as idades, e á todos os
temperamentos. Os jogadores do sòco na Inglaterra, para se fazerem fortes, e ageis,
nutrem-se exclusiva men te desta carne.
3.°CABRA. Pl í nio considerava a nutri çã o, feita pela cabra , como uma das causas da
febre. Hippocrates acreditava, que a epilepsia , t ã o frequente na Libya , tinha por
causa a alimenta ção desta carne, de que tã o frequentemente usavão os habitantes da
quello paiz. Os antigos Gregos faziao quasi uso exclusivo delia ; e entretanto os re
--
sultados nunca for ã o de accordo com o que pretendi á o Pl í nio, c Hippocrates. A carne
de cabra 6 dura , e pouco digestive!, mas a do cabrito 6 agradavel , c facil de digerir.
i.° PORCO. OsJudeos , e os Muhometanos , por sua seita , que os privava do
uso da carne deste animal , o reputav ã o immundo , e n ã o ousav ã o lan çar delle
m ão corno alimento : o mesmo se d á em certos selvagens, cuja repugn â ncia para
-
cila é invenc í vel , dando por « ausa , nutrir se este animal de immundicias ; os
Turcos lambem o aborrecem. Os Persas cncarã o a abstinê ncia da carne dc porco,
antes como um conselho, do que como um preceito , visto quo elles se louv á o
.
cegamente no gosto de seu soberano Os Chins, pelo contrario, preferem á qualquer
outra a carne deste animal. Hippocrates a tinha pela melhor, das de que o homem
se prov é m , com tanto que o animal n ã o estivesse nem muito gordo, c nem demasia
damente magro, que n ão fosse muito velho, e nem inteiramente pequeno, assim como
-
rpie tivesse sido criado, e convenienleinentc nutrido.
— \)
—
Sojào devidos OU á natureza do sua carne, ou provcnhfio os males, que lé m
dado
, o quo
motivo á sé rias observações, du <|iialidade dos alimentos, do quo so elle nutre
passa por observado é, quo no Brasil , os habitantes do certas prov í ncias, em que ella
tem bastante consumo , sofrem graves mol éstias, como soja por exemplo a elephantia -
sis dos Arabes, c mesmo a dos Gregos, cujas causas querem os pr á ticos altribuir em
. .
parto á alimenta çã o desta carne Nos nao oppomos á estas t ã o sé rias observa ções, e
-
nem ao fundamento de suas re ü exöes ; e dando-lhes ao contrario bastante pè so, acre
ditamos, que uma das causas dos (lagcllos, que poem esta capital em tamanha conster-
na çã o em certas é pocas de epidemias, é a nutriçã o da péssima carne de porco, que
em tanta abundanciaso aqui consome : dizemos péssima , porque, animacs, que tra -
.
zem de viagem 80, 100 , e mais legoas, vindo dos centros das prov í ncias de S Paulo,
-
c dc Minas, fatigados, c nutrindo se de carnes podres dos bois, e dos burros, que
mortos jun çã o toda essa longa estrada , n ã o podem fornecer uma carne de qualidade
para a alimenta çã o de homens, que se achão sujeitos ã diversas outras causas, que
.
os predispõem á enfermidades de tantos generös Ê para desejar , que a policia, á imi -
ta çã o da de Hespanha , tomando disso conhecimento, prohiba a extrucçã o « la carne
.
de porco , immediataniente depois « pie elle chegar, c no tempo quente Em nossa
prov í ncia , onde o cochino é muito vulgar ; onde elle nao é empregado como alimento,
sen ão depois de ser conservado cm possilgas, c sendo nutrido por muito tempo pelo
niillio, pela mandioca , pela abobora, e pelos restos de nossas provisoes, em nossa
proví ncia , diz íamos, a carne de porco é saborosíssima, qualquer que seja a maneira,
porque se prepare ; n ã o tem termo de comparaçã o com a insí pida , e ostopenta ,
*
que aqui se vende ; e nem se not ã o, sen ã o raramente, as elephantiasis, que qui çá
t ô m por causa principal o uso desta carne.
Ella póde ser comida , sendo boa , no inverno ; entretanto que no verã o é nociva
á sa ú de ; n ã o conv é m ás pessoas delicadas, aos sedentá rios, e nem aos velhos: os bons
estomagos, as pessoas, que se entregã o aos exerc í cios, e os homens do campo d ã o se
. -
bem com um tal sustento O toucinho cozinhado é mui saboroso ; poré m , sendo co
-
mido demasiadamente por pessoas de um estomago fraco, pésa sobre este orgá o, di
minue o appetite, produz nauseas, o at é indigest ões. A carne do leil ã o é, como a
-
dos novos animacs, mucosa e laxativa por sua viscosidade ; faz carga ao estomago ,
e se digere com dilíiculdade.
5.° Entro as aves , de que fazemos mais geralmente uso, contio se a gallinha , o
-
per ú, o pato, e o pombo.
O gallo , quando se n ã o tem entregado aos appetites da carne, ao que 6 muito
clinado, tem uma carne de fá cil digest ã o, nutritiva , e pouco excitante
in -
A gallinha , antes de pô r , é dotada das mesmas qualidades ;
sua carne por é m 6
dura , e coriã ceo , depois que ella exercita esta funeçã o.
Os frangos menores de um anno são deliciosos ; o sc nesta é
poca se caslrao nao
perdem ent ã o a superioridade, tenrura , c delicadeza de suas carnes
.
c
— 10
—
A carne do per ú , posto que menos tenra , que a da galliulia , é mais nutritif .
ô um alimento sã o , e so digere facilmente, com tanto que se o n ã o coma em ’
'
excetio
os novos sã o de preferencia mais estimados .
Galleno reputava a carne de pato como um m á o alimento ; entretanto que Celso
a tinha em alta estima , c convindo, sobre tudo no inverno, aos moços, caos que
exercem suas íorças. Ella é pesada , de uma digest ã o laboriosa , c n ã o conv é m ao»
homens de letras.
O pombo, n ã o fazia parte, segundo Ilcrodoto, da alimenta çã o dos antigos.
Muitas pessoas tê m a carne do pombo por muito excadeccntc ; mas certo expe-
riente julga ser isto um ê rro, por isso que elle tem visto pessoas fracas, c irritá veis, a
comerem simples, c impunemente : ella 6 de facil digest ã o, mui nutritiva , e t ó nica.
t. ° Os peixes n ã o merecerã o menos, que d éliés se occupassent os antigos, relativa
í
.
mente a sua qualidade digestiva Diziã o elles, que era de facil digest ã o o peixe,
-
que habitava nas aguas l í mpidas, c frias ; assim como o que era coberto de escamas.
Hippocrates considerava mais pesado o peixe, que vive no lodo, c na lama ; c mais
leve, c mais saboroso o chamado saxalil , cujo tecido é branco, e tenro .
O peixe do mar é cm geral mais nutritivo, e mais salutar, do que o dagua doce :
deste, o que vive nas lagoas , c nos pantanos, é nocivo : o escamoso ò superior ao de
couro, porque seu tecido tenro, e fri á vel , 6 de fací lima digest ã o ; em quanto que este
ultimo, por mais gelatinoso, pésa sobre o estomago, impedindo desta sorte, que este
orgã o funccionc livremente. Na mesma escala se acli ã o os cartilaginosos, como por
exemplo a arraia , que ò extremamente excitante .
Esta substancia animal faz a base da alimenta çã o de muitos povos , comosojáo
por exemplo os Gregos mar í timos, os naturacs da Svria , etc. , e entre n ós, os habi -
tantes das praias .
-
Diz se, que a alimenta çã o fornecida por este animal d á lugar a muitas moléstias
de pelle, como sejão a sarna , os dartros, a lepra , a elephantiasis, &c. , e que até mes -
mo produz o scorbuto. Nã o nos penetr á mos bem do fundamento destas observa ções,
e mesmo somos inclinados á acreditar , que sua generalidade 6 falsa ; por quanto
-
vemos, que a mayor parte dos moradores dc nossas praias, nutrindo sc quasi q "*>
exclusivamente de peixe, n ã o sã o todavia a íTectados das enfermidades mencionada
acima. Entretanto lemos convicçã o, dc que o peixe tie tal , ou tal parte possa scr
nocivo á sa ú de, principalmente se elle for de pantanos, lagos, ou do certos rios ; no
que estamosde accò rdo com o Sr. Dr. J . J . da Silva , attento o que elle judiciosaroente
pondera relativamente ao da lagoa de Hodrigo dc Freitas, que, segundo este obser -
vador, produz a elephantiasis.
Outra qualidade n ã o menos importante derã o alguns autores no peixe ; c vem á
ser o aphrodisiasmo. Se o fundamento desta propriedade estivesse na procrea çã o,
-
como pajticularmcntc queria Chaussicr, seguir sc- hia , que os ichtyophagos sen ã o
os homens que maiscidaduosdcveri ã o dar ao estado ; mas os vastos desertos do noss* -
1
It
costas, quando nSo resol vã o n quest ão em sentido contr á rio, ao menos nos la / em per
manecer em um estado de duvida , de que qualquer sahir á , se por ventura , interes an
-
- --
do so pela decisã o da quest ã o, lizer a experiê ncia , cuja resolu çã o est á debaixo da al -
çada de cada um.
A innumcravel qualidade de peixes n ã o permitte, que tratemos dc cada um em
particular ; por isso da remos suas propriedades dc urna maneira geral.
O peixe, cujo tecido ó denso, e compacto , sendo muito nutritivo, 6 dc uma diges
tã o laboriosa : o que poré m é tenro, c delicado, se digere promptamente, e deve ser
-
escolhido de preferencia pelos estomagos fracos : o que tem um tecido compacto, e
unctuoso, com dilliculdade cede á acçã o do estomago. O peixe salgado 6 muito nocivo
ao homem pela qualidade excitante, que elle adquire por meyo do sal , e por conlra -
hir o ran ço , que lhe d á acrimonia , c o laz intolerá vel para os estomagos fracos : eis o
caso, em que a alimenta çao pelo peixe póde mais facilmente produzir as moléstias de
pelle. Em geral deve elle ser comido o mais fresco possí vel, á menos que n ã o seja car -
tilaginoso, ou de fibras muito densas, como a arraia , que faz excepçao á regra.
-
7. ° Mo numero dos mariscos acha se a ostra , que, comida fresca , e crua , é, como
toda a substancia albuminosa , de facil digest ã o ; mas que, sendo coagulada por meyo
do calor do fogo, é refractaria aos esforços digestivos : rara 6 a pessoa , que usa da ostra ,
sem a fazer passar pela acçã o do calor , attenta a invencí vel repugn â ncia , que nos do -
mina para a crua.
As enfermidades, á que são sujeitas as ostras nas esta ções quentes, e a facilidade,
queellas t é m em se corromper pelo calor atmospherico, deve obstar á sua pesca em
tempos calmos. Sua corrupçã o se conhece pela flaccidez , c còr azul dc suas libras ; flac-
cidez, e cò r , que sã o acompanhadas, dentro da concha , de um sueco de còr , e consis -
-
t ê ncia deleite, e insí pido. Tem se attribuido a este marisco propriedades aphrodisiacas,
e lambem excitantes do apparelho dos tegumentos ; o que ainda esfá indeciso.
Os camarões gozã o as mesmas qualidades alimentares, quo as ostras ; salvas pe -
quenas modificações.
8. ° Uma das substancias alimentares, que geralmcntc por mais fraude passã o, para
nos ser apresentada no mercado, é sem duvida o leite. Enumerar os diversos meyos,
-
que cm abund â ncia té m seus falsificadores, dando lhe princí pios estranhos, que nada
menos íazem , que tirarem á um dos melhores alimentos, quando perfeito, seu sabor ,
c seus princ í pios nutritivos, é, para esses insidiosos, que, pelo estudo para enganarem
à seus semelhantes, se ach ã o perfeitamcnle habilitados para conseguirem seus repro -
-
vados fins, enumerar esses meyos é, diziamos, actuar lhes o espirito para a execução
de algum , do que talvez se n ã o recorde, ou que tenha por ventura escapado á sua
eavillosa perspicá cia. Para que o leite n ã o seja perfeito, e se n ã o ache nas melhores
condições para servir dc alimento no homem , accrescc á sua falsifica çã o o m ã o tra -
tamento, que nas grandes cidades d á -se á svaccas : ordinariamente as empregadas
para este ramo dc industria nenhum zòlo merecem com seu sustento , nem com
— — 12
D
mes do mercado, o pudim , o
— li -
.
pã o de ló , bolinbolo», &c , dc. , cuja import â ncia na
dusse dos alimentos so n ã o ignora. Entretanto pessoas ha , que os n ã o podem comer,
seja qual fó r sua prepara ção. (1 )
Por sua tondencia á putrcía çao, e pela facilidade, com que se dia effectua , na Es -
cossia , e em muitos departamentos da Fran ça , consen ã o-sc os ovos, c por muito tem-
po, perfeitos, fazendo-os ferver n’ogua logo depois de serem largados pelas gallinbas
no mesmo dia ) ; depois do que sã o envolvidos em sal, e collocados em um lugar fres -
co ; c quando querem fazer uso dcllcs, de novo os aquecem nagua bem quente :
desta sorte os ovos conserv ã o o mesmo sabor, que quando frescos.
PARTE QUARTA.
ALIMENTOS VEGETAES.
,
( I ) Cita. « o caso de « ma mulher idosa, que nã o podia comer ovo», quer em substancia , quer de mi»
-
tura com outros priucipio» , j í pelo j <SJO , que no cstoinsgo sentia , e já porque a melancolia , que ,
havia
muito tempo, sofria, te exacerbava depois da ingestã o desta substancia.
— tn —
Commummente nosso paladar embotado nos obriga a damnifical as, comcrtendo a * - -
de refrigerantes, que crao cm substancias cscandescentes pela naturoza dos temperos,
que para sua satisfa çã o exige ; o que succéd é frequentemente quando, nos querendo
refrigerar com uma salada de alface, por exemplo, lhe addimos pimenta, muito vina -
gre, &C. , â C.
Os vegetaes mucilaginosos sã o gcralmente pouco nutritivos : sua impressã o sobre o
estomago 6 doce, e moderada ; e sua elabora çã o facil : pelo que, os orgã os digesti -
vos, sendo pouco exercitados, perder ã o sua energia , c suas forças, se dclles í izcr sc -
--
um uso habitual , e exclusivo : a circulaçãofar se ba com mais lentid ã o, econsecuti -
vamente o pulso será menos forte, e inenos frequento ; a respira ção perderá sua acti -
vidade ; o finalinentc as funeçoes organicas se retardarã o de mais cm mais.
O uso moderado poró m destes alimentos conv é m á s pessoas plcthoricas , sujeitas á
hemorrhagias, c á in flam ma ções ; ú quellas, cujos movimentos \ itaes exigem certo grao
de retardamento, e cuja eflervescencia das paixões imperiosamente necessit ã o de mo-
dera çã o.
3.° ALIMENTOS FECULENTOS. O trigo , a cevada , o arroz , o milho ; a hervilha , o
feijã o, e a fava , ( scccos ' a batata , e a mandioca ; a castanha , a aletria , o macarrão,
&c., constituem o que se chama alimentos feculentos ; alimentos estes, que, sendo nos
vegetaes uns dos mais ricos cm princ í pios nutritivos , c dos quaes o estomago mais
partido tira para as necessidades da vida , sã o indispensáveis para a manuten çã o da
mesma vida.
Estes alimentos passã o, antes dc sua consumi ção, por certas prepara ções á cada um
relativas, para entrarem cm linha de aprecia çã o. Sua digestã o entretanto n ã o 6 muito
facil, quando n ão tôm sido fermentados : e para que os inatcriaes de nutrição, que
-
elles cnccrr á o , sejã o ext rabi dos, e tenh ão conveniente applicaçã o, faz se indispensá vel
uma vida activa , e um estomago são.
- .
4. c ALIMENTOS OLEAGINO FECULENTOS NO numero dos, de que ora tratamos, se
inclue o cacá o, de que se prepara o chocolate, alimento assás agradavel , e nutritivo ;
masque d á pouca energia ao estomago ; pelo que, se o corrige, ajuntando se um
principio excitante, e aromatico : neste caso o cacá o 6 excellente para os estomagos
-
irrit á veis ; para as pessoas de temperamento nervoso ; c para aquellas , cujos tra
balhos exigem poucos movimentos, e o emprego de pouca força muscular.
-
Da mesma natureza 6 a am ê ndoa doce , a n óz, o a avelã , a sapucava , o còco, o
amendoim , &c. , que tè m diversas applicações nos usos dom ésticos, fazendo as passar
por diffé rentes prepara ções ; sem o que cilas conv ô m pouco aos estomagos irritados
-
e dotados de limitada energia , o mesmo aos mais valentes. ( 1 ) Sua facilidade
--
em ran
-
cearcm sc as íaz demasiadamente irritantes, c neste caso ellas obrã o á maneira dos
ve
nenos acres.
< \ ) Muitas vezes qualquer quo seja a preparado, por que passem estas substancias ,
pre s à o prejudices aos estema ß os os mais robustos. seus effcitos sem
-
5.
* As frutas ,
— IG
—
por seus princ í pios , e por sua acção solire a economia , quasi que
li So diflerein das substancias mucilaginosas, do que acima trat á mos, o das quaes ellas
fazem uma grande parte. As frutas sã o tanto mais nutritivas, quanto seu poroncbyma
tem mais consist ê ncia , c quanto mais assucar, mucilagem , e alguma fécula ellas en -
ccrr ã o : ordinariamente delias nos servimos tacs, quaes a natureza nos apresenta , logo
que tOch chegado ao seu perfeito estado de madureza ; antes do qual as mais doces, c
as mais agradaveis ao gosto sã o acerbas, acres, e indigestas. Frutas lia , que , ainda
mesmo tendo tocado o seu perfeito estado de madureza , sã o de mui dillicil digest ã o ;
outras se encontrão, cujos tecidos sã o t ã o consistentes, e oiTcrecem tal acrimonia, que
de nenhuma fó rma agrad á o, o que n ã o poderã o ser assimiladas sen ã o depois de sua
cocçã o ; outras n ã o podem ser comidas sem experimentarem uma cspccie de decom-
posi çã o , ou de amollecimcnto espont â neo , ou linalmciitc sem uma prepara çã o par-
ticular.
-
As frutas sã o cm geral facilmente digeridas, e favorecem a digest ã o das outras subs
tancias alimentares, com que sã o ingeridas. Seu uso é dc muita vantagem nas esta ções
quentes, por isso que ellas geralmenlo sã o refrigerantes, e diluentes, cujo efleito é re-
tardar os movimentos do cora çã o, modificar a actividode dos orgã os da respira çã o, o
em summa calmar a excita çã o geral da economia. Ellas d ã o pouco material para a
nutri çã o ; e ainda que tomadas cm grande quantidade de uma maneira habitual , o
.
exclusiva , n ão poder ã o reparar as perdas organicas
PARTE QUINTA.
A abstin ê ncia pôde ser completa , ou incompleta : no primeiro caso cila n ã o poderá
durar por muito tempo, sem que seus eflei tos sejão dc graves consequê ncias á quem
a cila sesubmetter : c no segundo, com quanto os resultados n ã o sejã o
t ão fataes,
como na absoluta , elles n ã o deixâ o todavia de ser apreciados de uma maneira not
vel , em razã o da influencia , quo sobre o organismo cila cxcrcc.
á -
A absorpç ao cutanea , c pulmonar n ão podendo reparar as perdas da
economia ani -
brio , que necessariamente deve do
— — 17
mal , claro est á , que se torna indispens á vel um ineyo para o complemento ' ' ' I
existir entro essas perdas, e sua repara
1 * , m|1
çã o : e» t < *
mevo » • pois a alimenta çao.
Só pela alimenta çã o se poderá obter a prompta repara çã o das perdas occasionndas
lera < s,
pela perspira ção cutanea , e pulmonar , pela excreçã o das urinas, das mat é rias
e do esperma , pelo esgoto dos agentes nervosos determinado pelos trabalhos
de ga -
binete, &c. , &c. Esta necessidade se faz sentir tanto mais promptamento, quanto
as
secreções, e excreções sã o mais activas. O desfalque do organismo pois esta na razã o
directa da actividadc, e do exerc ício deste : pelo < iue, segue-se, que um indiv íduo en -
tregue á um exercício violento, e continuo , dado aos prazeres do amor , aos trabalhos
do corpo , e do espirito, tem necessidade de um regimen mais abundante, e mais re-
parador. O adolescente, em cuja idade todas as luneçoes se cxccut ã o com mais cncr -
gia , tem a imperiosa obriga çã o de seguir estes preceitos.
-
Do quo íica dito concebe se facilmente , que oselleitos da abstin ê ncia absoluta se -
rã o tanto mais promptes, c mais perigosos, quanto o indiv íduo for mais robusto, e
inais juvenil.
A abstin ê ncia incompleta , ou relativa , isto é, aquclla, que se limita á tal , ou á tal
natureza de alimentos, n ã o dando, como a absoluta , com tanta rapidez o tumulo para
descan ço ao m ísero mortal á ella condemnado , influo singularmente sobre o physico,
e sobro o moral do homem.
Lm regimen animal exclusivo, o uso continuado das bebidas fermentadas, alcoho-
lisadas, e excitantes, e a abstin ê ncia de vegetaes, augmenta a força pkysica , e a vehe -
mencia das paixões: é sem duvida fundados nestes princí pios, quo os chefes de certas
seitas impõem o jejum , e a abstinê ncia de algumas substancias ã seus proselvtos, fazen -
- .
do os, pelo enfraquecimento de seu organismo, mais accessiveis mais indulgentes, e
mais humanos. Ningu é m duvida , que uma abstin ê ncia mediocremente prolongada ,
que uma dieta vegetal , e lactea , c que a priva çã o de excitantes, c dos licores fermen -
tados enfraquecem , e acalm ã o o incentivo das paixões humanas.
As priva ções favoroccm a animalisa çao do nossos lluidos ; d ã o aos orgã os digestivos
mais energia ; forlilicao, e aclivão todas as nossas v ísceras, e todas as nossas funeções ;
e, auxiliando a absorpçã o intersticial , só bast ã o para a resolu çã o das moléstias e
sobre tudo das moléstias agudas.
—
Galleno, tratando da conserva çã o da saude do bornera, diz Eu peço á quem
quer que 1er este meu tratado, que se n ã o rebaixe á condi çã o dos brutos, ou á do
-
homem depravado, entregando se inconsiderada , c indisdinctamcnte 6 toda a comida
-
o á toda a bebida , que fero seus sentidos, abandonando so sem reserva á todo o <
ncro de appetite, que o atormenta ; pouco importa quo elle seja , ou n ão
em Medicina : consulto sua razã o ; observe o quo lho convé m , c o q u e n ã entendido
e --
. „
o quo sua experi ê ncia ,
lhe tem demonstrado ser nocivo, quo eu lho asseguro
cxacta observa ção destas regras bastará para o fazer gozar uma perfeita
.
o ; e evite
me i
sa úde o
que rar íssimas vezes ( orá
— — 1s
necessidade da Medicina , c nem tfio pouco de rne -
.
dicos
Porphyrio , escrevendo sobre a abstin ê ncia dos alimentos animaes, c querendo
converter , o chamar para a sua seita pytagoriana Firmo Castricio, dedicou héseu
1
-
trabalho, no qual procurou elle mostrar as vantagens de seu regimen , c quanto este
.
contribue para o desenvolvimento do corpo, c para n perfeiçã o d'alma Elle funda -
mentou sua em prèza cm duas proposi ções : na primeira demonstrou , que o impé rio
adquirido sobre os alTectos, o sobre os desejos contribue de uma maneira miraculosa
para a conserva çã o da saude ; c na segunda tratou de provar, que o regimen vege
tal , consistindo no uso de alimentos, cuja aequisiçã o 6 commoda, c cuja digest ã o 6
-
-
facil, toma se um movo assàs vantajoso para contrabirmos esse impé rio sobre n ós
inesmos. Porphyrio cita muitos exemplos de amigos seus, que, sofrendo por muito
tempo de gota assim nos pés, como nas m ã os, o percorrendo, no espaço de seis, e
oito an nos, diversos paizes, sem com tudo pod é rem obter a cura de seus invetera -
-
dos c tormentosos males, ach á rã o se perfeilamente curados, desde que, renuncian
do a ambi çã o, c n sòde de riquezas, c sendo perseverantes numa dieta vegetal , se
-
vir ã o desembara çados dos sofrimentos do corpo, c dos tormentos do espirito, aban -
-
donando sc ás medita ções scientificas, c filosophicas : e depois, pergunta se um re -
gimen animal, succulenlo , e sumptuoso n ã o exige majores despezas, e sc ao mesmo
tempo n ã o excita mais as paixões, c os desejos, do que um regimen vegetal ?
Quando se ingere uma demasiada quantidade de alimentos, um sem numero de
.
phenomenos desfavorá veis 6 o resultado dc tal imprud ê ncia Assim , ou esses pheno -
menos t é m lugar immediatamenle depois das comidas, ou se manifestã o com o cor-
.
rer dos tempos pela repeti çã o constante de tacs inconsidera ções : so no primeiro caso
o indiv í duo experimenta todas as apparencias dc uma indigest ã o , ou asile uma di -
gest ã o diflicil , c laboriosa , como sejfio nauseas , e mesmo vomitos , gastralgias ,
. .
diarreya , &c , &c : sc no segundo, como é possí vel , que parte do alimento ingerido,
sendo assimilado, sirva para a nutri çã o, e que a superabund â ncia sejn cxpellida com
as malcrias fecaes, permanece elle magro ; suas evacua ções alvinas sc fazem abun --
dantemente ; seus intestinos far-sc- h ã o a sédo de uma chronica irrita çao, a qual o le
vará á sepultura ; sua constituiçã o se deteriorar á , c tomar á um caractcr particular ;
e íinalmentc o homem , por um reprovado procedimento da ordem deste, abre as
portas á toda a natureza do enfermidades. N ã o basta pois, que se tome uma grande
quantidade de alimentos, para so merecer uma perfeita nutriçã o ; è mister, queocs -
tomago , o duodeno , e os demais intestinos estejã o nas condições de os bem elaborar ; é
preciso ainda , que os vasos absorventes preeneh ã o livremcnto suas funeçoes ; e que a
íinol o organismo se ache nas circunstancias de os a si assemelhar, visto que a nutri ção
.
o se n ã o póde effectuar sem o concurso da digestã o, da absorpçá n , e da assimila çã o
-.
Eis nos chegados á um dos pontos cnpitaes, o quiçá o niais importante de nosso
-
-
trabalho Eallcce nos a esperan ça de tratarmos deste artigo de uma maneira conve
niente, convincente e precisa , ao pensar, que um ohjecto de tamanha transcend ê n -
cia , nã o estando debaixo da orbita de nossas forças, deveria atrahir outra penna, que
n à o a nossa , cujo bico rombo n ã o poderá imprimir no cora çã o do leitor benevolo u m
incentivo constante, que o guie no uso de taes comidas ; mas o desejo, que nutrimos
de ver removidas as funestas consequê ncias, que inapercebidamcnte causa no bem -
estar do homem o desvario do mesmo homem por sua adopçã o, nos impede a tomar -
mos a ousadia de um pouco dizer acerca de seus inconvenientes.
E’ de lastimar , quo o homem ignore, ou mal conheça os eITeitos da m á alimenta-
çã o ; que elle se n ão compenetre da importâ ncia deste objecto ; que elle despreze as
coisas, que lhe sã o mais vulgares, e que, pela perman ê ncia de sua utilidade, dellc sega
mentese apoderem , c o subtrai à o á um exame rellcctido a respeito do que no mundo ha
-
de mais importante.
O habil cosinheiro, com o fim natural de agradar , põe em acçã o toda a sua arte,
dando- nos assim diversas, c bem feitas iguarias, as quacs, pelo bem manipulado jogo
dos temperos, que em si enccrrã o, n ã o só se torn ã o extremamente excitantes, sen ã o
-
até nos forçao á lomal as demasiadamente mais, do que a compat í vel com a capacida -
de, e com as forças digestivas do estomago.
Quando na preparaçã o dos alimentos se applicã o as diversas substancias, que tanto
abundao na escala dos temperos, com o fim do se lhes dar gosto, « leX‘ os tornar mais
suaves, de corrigir, c de metigar o sabor «los que sã o acres, e muito fortes, nada se
tem em vista senã o preencher as leis bygienicas : neste caso a necessidade de taes
correctives é imperiosamente reclamada pela natureza ; csua utilidade n ã o póde ser con -
testada, por isso que pela experiencia está sanccionado, que aquilloque nos agrada , e
que se come com prazer, augmenlando a secreçã o da saliva , seu a (luxo na boca, e sua
impregna çã o nos alimentos ( fenomenos estes, que como que se fazem precursores da
boa disposiçã o do estomago para esta , ou para aquelia substancia é melhormente di -
gerido ; mas quando as substancias, de que tratamos, longe de terem estas benelicas
applicaçoes, sã o empregadas com o reprovado, e detest á vel fim de, dando diversos
gostos á um alimento, cujo sabor é ra o simples, o mais doce, eo mais natural , excitar os
-
sentidos «la gusta çã o, c da olfa çã o, forçando nos d'est ’ nrtc a ingest ã o dc uma tnavor
quantidade de alimentos, do que a necessá ria para o livre exercício do orgao digestivo,
—
— 20
— .
ou , o (pie é peyor , produzindo cm DóS uni appelite ficticio, nos impellent 'i ingestã o
.
substancias alimentares, do que n ã o temos precisã o , e para rujo fim nao nos vlia -
mos nas condições apropriadas, estes sentidos se pervertem, c nada lhes appctece, que
.
n «lo seja mui temperado Ora , o estomago, que nao é um vaso inerte, onde se accu
mule impunemente toda a qualidade de produ ções, se irrita ; sua irrita çã o se propaga
-
à todo o tubo digestivo, aos demais apparelhos, e linalmentc ú toda a economia; disto
seguem-se as gastrites, a melena , o scirrho, e o cancro do estomago, a obslrucçü o do
pvloro, diversas lesões do ligado, c dos intestinos, o muitas outras , que, entretendo
uma vida penosa , e muitas vezes nao desejada , d ã o ao homem um lim prematuro, e
.
uma morte lenta , e dolorosa O abuso pois das nossas comidas temperadas 6 infinita -
mente mais prejudicial, do que vantajoso á conservação de nossa exist ê ncia , visto que
-
n ã o é possí vel fazcl as passar por modifica ções em suas qualidades apropriodas, e nem
preservar os tecidos organisados, com que se ellas poem em contacto, de seus efleitos
delecterios, cujo resultado vem á ser o de que acima fal í amos. Por que o homem , que
ama sua preciosa exist ê ncia , e que tem de lutar contra um sem numero de agentes,
que tendem a destruir suas forças, se nfio compenetra de sua utilidade ? porque se n ã o
cont é m elle nos justos limites de uma boa alimenta çã o, c n ã o restringe seus gostos, e
-
seus desejos ? porque n ã o ha dc elle refrear seus caprichos ? Convirá por ventura ,
que o homem se constitua o proprio agente de sua destruiçã o ? acreditamos que n ã o ;
poré m desgra çadamente vemos a arte culinaria fazer seus detestá veis progressos ; o
.
mais interessado por sua saude, c por sua exist ê ncia n ã o trepidar diante do abvsmo que
.
-
lhe preparuo seus desejos ; c, o que mais é, at é estudar satisfazel os, quando mesmo
ten h ão deixado de ser naturaes So por um lado os recursos, do que se acha hoje bas-
tantemente enriquecida a arte de cosinha , augment ã o a somma de nossa frui çã o, nfio
sabemos n ós, que por outro cresce a de nossos males, e a de nossa destruiçã o ? N ã o
temos noticia da maneira simples, c frugal, que imperava nas mesas de nossos ante -
passados, cuja parcim ó nia por sem duvida concorria poderosamente para a sanidade
-
de seu corpo, e de seu espirito , fazendo se credores por isso de uma vida secular , sendo
desprezado, e mesmo desconhecido esse manejo excitativo dos desejos, c das necessi
dades fict í cias ? Do que utilidade, e do quantas vantagens nao seriamos possuidores,
-
se ignorássemos a variedade das misturas, e da associa çã o dos sabores, esc nos fosse in -
comprchensivol todo, o qualquer artificio, e luxo de cosinha , que, perturbando, ou
excitando nosso appetite natural , muda , ou corrompe nossos gostos, arruina nossos es
t ô magos, c finalmente abrevia nossas vidas !
-
Os progressos da civilisa çfio entre os modernos t é m penetrado at é ás cosinlias ; t é m
reformado, infelizmente para peyor , os costumes dieté ticos de nossos paes ; e nos im-
pellido finalmente, pela provoca çã o à multiplicidade de nossas car ê ncias, pela frequ ê n
cia dos excessos , que enfraquecem , ou depravao a sensibilidade do estomago , pela
-
mudan ça , ou perversã o da expressã o physiologica de suas necessidades, pela perturba
çã o da harmonia , ou pela rctarda çã o da actividade das fuocções digestivas, tOm nos
-
— 21
—
impcUido íf nalmcnte, diziamos, 6 julgarmos essencial , para a manuten ção de nossa
exist ê ncia , a addiçflo do prodigioso numero de sul >stancias excitantes, cuja impressã o
sobre o estomago communica se á todo o organismo, e com predilecçã o ao cerebro, aos
-
rins, ú pelle, aos orgã os da respira çã o, e aos da rcproducção, e cujo elleito 6 quasi
sempre funesto.
PARTE SÉTIMA.
Verdade 6 que uma alimenta çã o estimulante desenvolve toda a energia das forças
gástricos, c assimilativas; mas, ou esta energia é passageira , e ent ã o n ã o se põe em re
-
-
la çã o com as necessidades, que delia lé m os agentes da nutri çã o, para elaborarem os
princí pios reparadores contidos no demasiado alimento, que um tal regimen força á to
mar, ou sua impulsã o é tao forte, que, por um estado de irrita ção, e de erethismo des
-
-
ses agentes, suas funeçõesse perturbã o. Neste estado de coisas, sendo raro, que uma
alimenta çã o estimulante satisfa ça as exigê ncias naturnes, o homem intempé rante per
manece dcíinhado, por isso que a grande quantidade de alimentos, que elle ingere, su
-
pracxcita , e distende seu estomago al é m dos limites convenientes, ( o que sempre é des
-
favor á vel a uma boa digest ã o) n ã o podendo conseguintemente este orgá o
-
elaborar de
uma maneira aprovoilavcl os materiaesde uma perfeita nutriçã o.
G
— — 20
Quasi gcmpro após a ingest ã o clos guisados apparccem eructa ções, que, tendo o gos --
to das especiarias empregadas, rcvelfiosua desconvonicncia. Se se prodigalisa a addi
ç jo destes ingredientes, a digest ã o 6 seguida dc azedumes, de pyrosis, de calor, c dc
-
peso no epigastro, de uma indisposição, e agita çã o geraes, assemelhando se a uma es -
pecic de febre mais, ou menos duradoura , segundo que a digestã o è mais ou menos
prompta. Sc um tal desconcerto permanece, apparece o cretliismo; a sa ú de se preju-
dica ; c ent ã o temos a Medicina lutando com o nosso imprudente, que clamará contra
sua potê ncia, se por ventura o Medico, por demais se can çando, o n ã o cura , quando
tarde seus sofrimentos o convencem de seu infeliz estado.
Ê ccrtamcntc á influencia de uma alimenta çã o estimulante, c cxcandecente , que se
pôde em grande parte attribuir a irritabilidade, e a sensibilidade geraes, a celeridade
dos movimentos, a mobilidade das affecções, e a actividade dos sentidos, quede uma
maneira not á vel destinguc o habitante da cidade , do agricultor : este, alimenlando-se
de leite , dc alimentos farin á ceos, e mucilaginosos, e alguma vez dc carne cozinhada ,
ignorando a prejudicial arte de guisar , c bebendo simplesmente agua , passa uma vida
tranquilla , e doce: simples em seus gostos, moderado em suas affecções, lemitando
suas necessidades ás de que se deve prover , e segundo o exige sua economia , vive fe -
lice, e contente. O homem , entregue pelo contrario aos deleites, embotado para as
coisas as mais naturaes, multiplica suas necessidades por seus desejos, c procura aug -
mentar suas sensa ções; vivendo para gozar , n ã o experimenta uma verdadeira fruiçã o;
seu appetite domina mais seu gosto, do que est á em seu estomago, e ent ão diz, que
perdoa o mal , que lhe faz a comida , pelo bem que lhe sabe; nada o satisfaz , porque
constantemente est á procurando novos sabores; deseja outras impressões; quer o que
lhe possa produzir sensa ções diversas, das que tem experimentado; e finalmente nada o
sacia , porque uma vez exaltado, e depravado seu gosto , c seus desejos, tudo lhe parece
-
sobrenatural ; nada o rcfreya ; perde o repouso; e ent ã o sua imagina ção 6 o seu princi
pal instigador.
Segundo a maneira , porque nos expressá mos á respeito da grande, e sempre perni
ciosa influencia , qne sobre o aparelho digestivo, e as outras funeçoes do organismo
-
exerce o uso habitual dos temperos, das bebidasaromaticas, estimulantes, ealcoolisadas,
dir-sc- ha , que nos queremos apresentar como reformadores dos costumes, e usos do -
minantes entre n ós; masquem nos julgar credores de sua justiça , n ã o acreditar á , que
temos tal vaidade, m á ximo com um trabalho t ã o imperfeito; n ã o porque nos falto força
de vontade; mas sim porque n ã o só a Natureza nos n ã o agraciou com o dom poderoso
da persuasã o, e nem com o attribute precioso do talento, sen ã o tambcin por n ã o ser
possí vel , no estado de arreiga çã o actual dos costumes, dar-se uma mudan ça de tama --
nha transcend ê ncia , sem graves inconvenientes : c diga o tabaquista, se poder á abster
se do uso do tabaco, que faz suas delicias, sem que se torne sombrio, triste e silencioso,
e sem que por fim reclame com mais instancia seu tabaqueiro, do que mesmo os ali
-
-
mentos ! Proponha se á uma mulher a priva ção do cafè, ou do ch á , á que est á hubi
-
— ——
27
tuada , que ella responderá promptamonto quero antes níio comer , e nem dormir do
que deixar de tomar uma ekavana de algum destes l í quidos pela manhã em jejum , ou
—
dejwis do jantar ; o caso 6, que, se cila n ã o reza na sua cartilha , cá i cm um estado
de langor , c dcapathia , que perturbará o exercido de suas funeçoes digesti \ as, c pre -
judicará sua sa ú de. N ã o perde o appetite o homem de letras, c de gabinete; suas diges
t ões nfio se fazem diflicilmcnte; c seu estomago n ã o perde o vigor , quando deixa elle
-
de receber o estimulante, á que est á habituado ? sua nutriçã o se n ã o faz de uma manei -
ra incompleta ; se n ão exhaure a actividade de sua intelligence , c de seu organismo; n ã o
se torna elle moroso no cumprimento de seus deveres; n ão aborrece elle o estudo, e
muito menos succedido nolle n ã o 6, quando uma , ou outra circunstancia o obriga á
-
ab$ter sc do vinho, de que usa durante a comida ?
N ã o sendo conforme pois com as leis da hygiene, e nem de absoluto interesse para
-
a conserva çã o do homem , dado á tacs costumes, banil os complctamente ; n ão se po -
dendo considerar o misero vivente com as necessidades simples , e naturaes, á que so
-
elle deveria sujeitar ; força 6 cncaral o debaixo dos gostos, dos h á bitos, e das necessi-
dades, que por ventura tenha elle contrahido. Nestas circunstancias aconselharemos,
que satisfa ça o homem seus caprichos ; poré m satisfa ça-os, n ã o se afastando da linha
de modera çã o, que o deve sempre guiar ; pois que nada ha t ã o facil , como n ã o abusar
-
das coisas , que est ã o á nossa disposi çã o ; assim como nada é mais dillicil , do que sup
prim é os abusos, e refrcyar os h á bitos, quando arreigado tenhã o o vicio na alma.
PAUTE OITAVA.
I.
Non satietas, non fames, neque aliud quidquam quod natur æ modum excesserit ,
.
bonum. ( Sect 2.*, aph. 4 ° ).
III.
Ubi cibus prætcr naturam plus ingcstus est, morbum facit , ostendit et sanatio.
(Sect. 2.*, apb. 17 ).
IV .
.
Famem vini potiosolvit. ( Sect 2.*, aph. 21 ).
y.
Æstatc et autumno cibos dillicillim ö ferunt, hyeme facillimè , deindè vere. Sect.
i apb. 18 )
.,
#
.
VI.
Impura corpora qu ò plus nutriveris eò magis lædes. ( Sect 2.*, aph. 10).
Algumas outras incorrectes apparcccm , aliás desculp á veis, attenta a acccleraq ã o cora que gSo impressos
os trabalhos deste gencro.