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Ressurreição, um ato de insurreição

Medo! Essa é uma palavra que nos acompanha ao longo da nossa existência. Nascemos sem
medo, mas a vida vai nos impondo o medo. A criança vai vivendo naturalmente desbravando o
mundo, mas as experiências dolorosas como o “tombo, o choque, a queimadura etc.” vão lhes
impondo medo – não devo colocar nada na tomada, não devo chegar perto do fogo, não devo... –
por que não? Tenho medo! Esse instinto de sobrevivência vai nos acompanhando ao longo da vida
e o medo passa a atuar como um mecanismo de proteção que nos livra do perigo!

Existem medos irracionais! As pessoas podem afirmar sentirem medo de fantasmas, mesmo tendo
a convicção de que fantasmas não existem. Foi isso que um sepultador disse ao participar de uma
pesquisa sobre o tema da morte com a professora Clarissa de Franco: “Eu tenho medo de
assombração, mas isto não existe”. As pessoas podem afirmar terem medo dos mortos, mesmo
sabendo que “the walking dead – mortos-vivos” é coisa de ficção científica. Medos irracionais!

Por outro lado, existem os medos racionais! Eu faço parte de um grupo de professores e muitos
estão desesperados com as constantes ameaças de violência nas escolas públicas de SP. A gente
lamenta as mortes das quatro crianças que foram assassinadas em Blumenau e diante de
acontecimentos como estes é natural que os pais fiquem inseguros de levarem os filhos para as
escolas, locais que deveriam ser sinônimo de segurança, de paz, de harmonia. Medos racionais!
Medo da violência, medo da solidão, medo da perseguição, medo do desemprego, medo de passar
fome, medo da morte!

Hoje é domingo de Páscoa! Jesus ressuscitou para cuidar de nós e para nos dizer que Ele a
personificação do amor lança fora todo medo. A ressurreição de Jesus é um ato de insurreição
contra o Medo e eu quero compartilhar isso com vocês a partir do Evangelho de Mateus 28. 1-11.

Narrativa: As mulheres permaneceram aos pés da cruz de Jesus e quando José de Arimateia
requereu o corpo de Jesus e o colocou em seu túmulo particular, elas também estiveram ali,
conforme Mt 27. 61, “sentadas em frente do túmulo”. Uma coisa que me chama a atenção na
passagem que lemos é que no domingo de manhã elas voltaram aquele lugar, não para verem
Jesus, mas para verem o túmulo. Não imaginavam que poderiam ver o corpo, porque o sepulcro
estava selado e vigiado pelos guardas. Talvez estivessem ali, como muitos se portam diante dos
túmulos dos entes queridos, prestando homenagens e trazendo a memória a vida daquela pessoa.
Mas diante do que viram, o texto nos diz o que medo invadiu o coração daquelas mulheres.

1) A ressurreição é um ato de insurreição contra os medos sobrenaturais e naturais

Como era o aspecto do anjo? O aspecto dele era como um relâmpago, com a roupa branca como
a neve. O que as mulheres viram? Elas viram um anjo com um aspecto quase indescritível,
assentado na enorme pedra do sepulcro e viram os soldados no chão aparentemente mortos. Se
fosse comigo é óbvio que eu sentiria medo dessa imagem sobrenatural. Mas vejam que
interessante! Os soldados sentiram tamanho medo, que se jogaram ao chão e se fingiram de
mortos, as mulheres também sentiram, mas o anjo se voltou (não para eles) e sim para as mulheres
e lhes disse: “não tenham medo!”. O anjo não estava ali para fazer mal nem aos soldados e
tampouco as mulheres, mas sua palavra de conforto e encorajamento foi destinada não aqueles
que contribuiriam para a produção de tantos medos naturais.

Por falar em medos naturais! Outro medo que tomou o coração daquelas mulheres era de que o
corpo de Jesus tivesse sido roubado. Este medo não está tão explicito aqui no texto, mas está no
evangelho de João quando Maria Madalena pergunta ao suposto jardineiro: “Se o senhor o tirou
daqui, diga-me onde o colocou, e eu o levarei”. Contra este medo natural, o anjo também interveio
fazendo-as rememorar as promessas do próprio Jesus contidas nos caps. 16. 21; 17. 22-23; 20.
18-19, ao dizer que ele não estava ali, não porque o corpo havia sido roubado, mas porque havia
ressuscitado como havia dito.

A ressurreição é um ato de insurreição contra o medo! O sobrenatural, o sagrado não devem nos
provocar medo, a presença do sagrado e do sobrenatural tem sempre o objetivo de nos ajudar a
caminhar sem o medo que as situações concretas da vida nos impõe. Nesse sentido, no domingo
da ressurreição, na Páscoa de Jesus eu devo perguntar a você, como o faço a mim mesmo: Qual
é o seu medo? Neste momento não me refiro aos medos circunstanciais que podem dominar a
todos nós! Me refiro ao medo que muitas vezes nos consome existencialmente! O medo de não
ser amado; o medo de não conseguir se realizar; o medo de se relacionar; o medo de viver; o medo
do diagnóstico médico; o medo da solidão. Seja lá qual for o seu medo, o nosso medo, a mensagem
da Páscoa é que o amor ressurgiu, o amor se insurgiu contra tudo e todos para lançar fora todo
medo.

2) A ressurreição é um ato de insurreição contra o medo que pode ameaçar a grande


alegria

Vocês já experimentaram sentimentos simultâneos e antagônicos? Ao mesmo tempo o desejo e o


receio; ao mesmo tempo a sensação de liberdade e aprisionamento; ao mesmo tempo esperança
e desespero. As mulheres que ouviram o anúncio da ressurreição foram tomadas ao mesmo tempo
pelo medo e por uma grande alegria. É assim que o texto bíblico diz: “elas saíram apressadamente
do sepulcro, tomadas de medo e grande alegria.

Na experimentação de sentimentos simultâneos e antagônicos, somos levados a reflexão e decisão


que nos levará ao abandono de um em detrimento do outro. No caso das mulheres, por maior que
fosse a alegria da notícia recebida, o medo teria o potencial assolador de reprimir a grande alegria.
Vejam por exemplo o que nos diz o evangelho de Marcos 16. 8: “E saindo elas, fugiram do sepulcro,
porque estavam tomadas de temor e assombro. E não contaram nada a ninguém, porque estavam
com medo”.

Apesar da grande alegria, momentaneamente o medo paralisou aquelas mulheres. Por isso, o
próprio Jesus ressurreto teve que aparecer para dizer que elas precisam ir sem medo, agora
apenas com a grande alegria. Salve! Não tenham medo! vão dizer aos meus irmãos que se dirijam
para a Galileia e lá me verão. Que mensagem de conforto e de consolo Jesus responsabilizou
àquelas mulheres! Voltem para o lugar onde eu iniciei o meu ministério público, Eu estarei lá
esperando vocês!

Voltem para a Galileia! Elas tomadas por grande alegria deram a notícia e o verso 16 do capítulo
28 nos diz que: “os onze discípulos partiram para a Galileia, para o monte que Jesus lhes havia
designado”. Na Galileia eles viram Jesus, na Galileia eles foram reanimados por Jesus e a partir de
Galileia deveriam retomar o ministério de anúncio do reino de Deus procurando enxergar Jesus no
rosto das mais diferentes pessoas que careciam da graça e da misericórdia de Deus.

Meus irmãos e irmãs, vivemos uma realidade em que o medo vai além daquele instinto de
sobrevivência que nos preserva, o medo está se transformando em um transtorno que nos impede
de viver porque suprime todos os demais sentimentos positivos que Deus quer que
experimentemos. Para continuarmos o curso da vida é preciso que vençamos o medo que nos
paralisa – é preciso que ouçamos Jesus falar ao nosso coração – “comuniquem a notícia da minha
ressurreição, não mais com medo, apenas com a grande alegria”. Foi Lenine que disse em uma de
suas canções que o medo é uma força que não nos deixa andar – Jesus é a expressão do poderoso
amor de Deus que nos liberta das amarras do medo.

Aplicação final: As mulheres foram comunicar o que havia acontecido dominadas não mais pelo
medo, mas unicamente pela grande alegria. Os soldados também foram comunicar o que havia
acontecido, estes sim, ainda perplexos e dominados pelo medo. No anúncio dos soldados deu-se
início a uma trama mentirosa que queria sustentar a morte, mas no anúncio das mulheres estava
a mensagem do inigualável feito histórico, a morte não tem mais poder que a vida! Portanto, não
tenham medo! Duas mensagens exponencialmente diferentes, mas qual delas é a mais poderosa
em nossas vidas? A mensagem da Páscoa, da vida ou a mensagem do medo que quer reter Jesus
no sepulcro.

Que neste domingo de Páscoa, sejamos receptores da mensagem da ressurreição. Como


receptores sejamos libertos dos medos que nos escravizam e sejamos dominados pela grande
alegria da ressurreição que aponta para a nossa salvação, a nossa própria ressurreição.

Que neste Domingo de Páscoa, sejamos não apenas receptores, mas também anunciadores dessa
mensagem de vida aos corações amedrontados, desanimados, enfraquecidos pelas circunstâncias
da vida, anunciando que em Jesus é possível experimentar – a grande alegria.

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