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Figuras de

Linguagem
Exercícios
"Não existiria som se não
Houvesse o silêncio
Não haveria luz se não
Fosse a escuridão
A vida é mesmo assim
Dia e noite, não e sim ..."
(Certas coisas - Lulu Santos)
Antítese (palavras com sentidos opostos)

"Não existiria som se não


Houvesse o silêncio
Não haveria luz se não
Fosse a escuridão
A vida é mesmo assim
Dia e noite, não e sim ..."
(Certas coisas - Lulu Santos)
“Há tempos, no Passeio Público,
tomei-lhe de empréstimo um
relógio. Tenho a satisfação de
restituir-lho com esta carta. A
diferença é que não é o mesmo,
porém outro, não digo superior,
mas igual ao primeiro.”
Eufemismo (atenuação, suavização de palavras agressivas, desgradáveis, grosseiras)

“Há tempos, no Passeio Público,


tomei-lhe de empréstimo um
relógio. Tenho a satisfação de
restituir-lho com esta carta. A
diferença é que não é o mesmo,
porém outro, não digo superior,
mas igual ao primeiro.”
“A água não pára de chorar.” (Manuel Bandeira)
“E como hoje igualmente hão-de bailar/As
quatro estações à minha porta.” (Sophia de
Mello Breyner Andresen)
Prosopopeia/Personificação (atribuição de características, ações e sentimentos próprios de seres
humanos a seres inanimados e a seres irracionais)

“A água não pára de chorar.” (Manuel Bandeira)

“E como hoje igualmente hão-de bailar/As


quatro estações à minha porta.” (Sophia de
Mello Breyner Andresen)
O sobrevivente
Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de verdadeira poesia
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de cultura.
Mas até lá, felizmente, estarei morto.
Os homens não melhoraram e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
(Desconfio que escrevi um poema)
Carlos Drummond de Andrade
O sobrevivente
Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de verdadeira poesia
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio. Ironia
Não precisa estômago para digestão.
(combinação de ideias e pensamentos
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta que conduzem a uma contradição bem
muito para atingirmos um nível razoável de cultura.
Mas até lá, felizmente, estarei morto. humorada)
Os homens não melhoraram e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
(Desconfio que escrevi um poema)
Carlos Drummond de Andrade
O sobrevivente
Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de verdadeira poesia
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão. Antítese: oposição de ideias
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta (complicadas x simples -
muito para atingirmos um nível razoável de cultura.
Mas até lá, felizmente, estarei morto. inabitável x habitado)
Os homens não melhoraram e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
(Desconfio que escrevi um poema)
Carlos Drummond de Andrade
O sobrevivente
Impossível compor um poema a essa altura da evolução da
humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de
verdadeira poesia
O último trovador morreu em 1914. Paradoxo: pensamento, proposição ou argumento que
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as
contraria os princípios básicos e gerais que costumam
necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
orientar o pensamento humano.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.

Não precisa estômago para digestão.


(Por que se construiriam máquinas complicadas para
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de cultura. resolver necessidades simples?
Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoraram e matam-se como percevejos.


Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável o mundo é cada vez mais habitado.
(Como um mundo inabitável pode estar cada vez mais
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo
dilúvio.
habitado?)
(Desconfio que escrevi um poema)
Carlos Drummond de Andrade
O sobrevivente
Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de verdadeira poesia
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de cultura.
Mas até lá, felizmente, estarei morto.
Os homens não melhoraram e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
(Desconfio que escrevi um poema)
Carlos Drummond de Andrade
O sobrevivente
Impossível compor um poema a essa altura da evolução da
humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de
verdadeira poesia
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as
necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade. Hipérbole: remete ao exagero,
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão. enfatiza/exagera/intensifica o que se quer
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta dizer.
muito para atingirmos um nível razoável de cultura.
Mas até lá, felizmente, estarei morto.
Os homens não melhoraram e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo
dilúvio.
(Desconfio que escrevi um poema)
Carlos Drummond de Andrade
O sobrevivente
Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de verdadeira poesia
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.
Eufemismo: atenuação,
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta suavização de palavras. (amor x
muito para atingirmos um nível razoável de cultura.
Mas até lá, felizmente, estarei morto. sexo)
Os homens não melhoraram e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
(Desconfio que escrevi um poema)
Carlos Drummond de Andrade
O sobrevivente
Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de verdadeira poesia
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de cultura.
Mas até lá, felizmente, estarei morto.
Os homens não melhoraram e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
(Desconfio que escrevi um poema)
Carlos Drummond de Andrade
O sobrevivente

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da


humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de
verdadeira poesia Comparação: estabelece, de maneira
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais. explícita, a relação de semelhança entre dois
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades
mais simples.
ou mais elementos em algum contexto. Essa
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
relação é estabelecida pelo uso de palavras
Amor se faz pelo sem-fio. que marquem a comparação (conjunções
Não precisa estômago para digestão.
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta comparativas) que está sendo feita.
muito para atingirmos um nível razoável de cultura.
Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoraram e matam-se como percevejos. Percevejos: animais minúsculos que se
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável o mundo é cada vez mais habitado. alimentam exclusivamente do sangue de
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo
dilúvio. pessoas e animais.
(Desconfio que escrevi um poema)
Carlos Drummond de Andrade
O sobrevivente
Impossível compor um poema a essa altura da evolução da
humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de
verdadeira poesia
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades
mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de cultura.
Mas até lá, felizmente, estarei morto.
Os homens não melhoraram e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
(Desconfio que escrevi um poema)
Carlos Drummond de Andrade
O sobrevivente
Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de verdadeira poesia
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão. Prosopopeia/Personificação
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
(atribuição de características, ações e
muito para atingirmos um nível razoável de cultura. sentimentos próprios de seres humanos
Mas até lá, felizmente, estarei morto.
a seres inanimados e a seres
Os homens não melhoraram e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem. irracionais)
Inabitável o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
(Desconfio que escrevi um poema)
Carlos Drummond de Andrade
O sobrevivente
Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de verdadeira poesia
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de cultura.
Mas até lá, felizmente, estarei morto.
Os homens não melhoraram e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
(Desconfio que escrevi um poema)
Carlos Drummond de Andrade
O sobrevivente
Impossível compor um poema a essa altura da
evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja
– de verdadeira poesia
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Metonímia: figura de linguagem em que se utiliza um
Há máquinas terrivelmente complicadas para as
necessidades mais simples. termo no lugar de outro.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.

Amor se faz pelo sem-fio.


Não precisa estômago para digestão. Uma das metonímias mais comuns é quando usamos a
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de cultura.
parte de uma coisa para fazer referência a ela de forma
Mas até lá, felizmente, estarei morto. completa.
Os homens não melhoraram e matam-se como
percevejos.

Os percevejos heróicos renascem.


Inabitável o mundo é cada vez mais habitado. (Se os olhos = Se as pessoas/Se os seres humanos)
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um
segundo dilúvio.
(Desconfio que escrevi um poema)
Carlos Drummond de Andrade
O sobrevivente O poeta revisita a narrativa bíblica de Noé, na qual o
Impossível compor um poema a essa altura da dilúvio representa a construção de uma nova humanidade,
evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – purificada de seus pecados. O curioso da passagem é que
de verdadeira poesia
O último trovador morreu em 1914. voltar a chorar seria uma demonstração de emoção e,
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais. quem sabe, um índice de re-humanização. Mas seria
Há máquinas terrivelmente complicadas para as também um gesto de fragilidade, incompatível como
necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão. resposta à violência do processo histórico.
Paletós abotoam-se por eletricidade. Por isso, voltar a chorar apenas acentuaria a destruição,
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão. pois, hiperbolicamente, as lágrimas, se proporcionais à
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta desgraça vivida, inundariam o mundo. E que novo mundo
muito para atingirmos um nível razoável de cultura. poderia surgir desse dilúvio? Um mundo redimido ou um
Mas até lá, felizmente, estarei morto.
não-mundo, já que diferentemente da narrativa bíblica,
Os homens não melhoraram e matam-se como
percevejos. não parece haver escolhidos capazes de reconstruir a
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável o mundo é cada vez mais habitado. humanidade perdida?
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um (PAULA, Marcelo Ferraz. Poesia depois da catástrofe: uma
segundo dilúvio.
(Desconfio que escrevi um poema) leitura do poema “O sobrevivente”, de Carlos Drummond
Carlos Drummond de Andrade de Andrade)
SONETO
[Moraliza o poeta nos ocidentes do sol
a inconstância dos bens do mundo]
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
(MATOS, Gregório. Obras completas de Gregório de Barros. Salvador. Janaína, 1967, 7 volumes)
SONETO Ordem direta:
[Moraliza o poeta nos ocidentes do sol
a inconstância dos bens do mundo] 1. O poeta (sujeito) moraliza (verbo)
a inconstância dos bens do mundo (complemento verbal - obj direto) nos
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, ocidentes do sol (adj. adverbial).
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura, 2. O sol nasce, e não dura mais que um dia,
Em contínuas tristezas a alegria. 3. A noite escura (sujeito) se segue (verbo) depois da Luz (adjunto adverbial),
4. A formosura (sujeito) morre (verbo) em tristes sombras (adjunto adverbial),
Porém se acaba o Sol, por que nascia? 5. A alegria (sujeito) [morre - verbo] em contínuas tristeza (adjunto adverbial).
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura? 6. Porém se o Sol acaba, por que nascia?
Como o gosto da pena assim se fia? 7. Se a Luz é formosa, por que não dura?
8. Como a beleza se transfigura assim?
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, 9. Como o gosto da pena se fia assim?
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza. 10. Mas a firmeza falte no Sol e na Luz,
11. Não se dê constância na formosura, [SE - ÍNDICE DE INDETERMINAÇÃO
Começa o mundo enfim pela ignorância, DO SUJEITO - VERBO TRANSITIVO DIRETO E INDIRETO]
E tem qualquer dos bens por natureza 11. E sinta-se tristeza na alegria [SE - PARTÍCULA APASSIVADORA - VERBO
A firmeza somente na inconstância. TRANSITIVO DIRETO - "E a tristeza seja sentida na alegria"].

(MATOS, Gregório. Obras completas de 12. O mundo começa pela ignorância enfim,
Gregório de Barros. Salvador. Janaína, 13. E [o mundo] tem a firmeza qualquer dos bens
1967, 7 volumes) por natureza somente na inconstância.
SONETO
[Moraliza o poeta nos ocidentes do sol
a inconstância dos bens do mundo]
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?


Se formosa a Luz é, por que não dura?
Hipérbato: inversão da ordem
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia? direta das frases (sujeito – verbo
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, – complementos).
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,


E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

(MATOS, Gregório. Obras completas de Gregório de Barros. Salvador.


Janaína, 1967, 7 volumes)
Cartas do meu avô
A tarde cai, por demais
Erma, tímida e silente...
A chuva, em gotas glaciais,
Chora monotonamente
E enquanto anoitece, vou
Lendo, sossegado e só,
As cartas que meu avô
Escrevia a minha avó.
Enternecido sorrio
Do fervor desses carinhos
É que os conheci velhinhos,
Quando o fogo era já frio. [...]
A mão pálida tremia
Contando o seu grande bem.
Mas, como o dele, batia
Dela o coração também [...]
(Bandeira, Manuel. Antologia Poética. Rio de Janeiro: José Olympio, 1978. p. 12)
Cartas do meu avô
A tarde cai, por demais
Erma, tímida e silente...
A chuva, em gotas glaciais,
Chora monotonamente
E enquanto anoitece, [Eu] vou
Lendo, sossegado e só,
As cartas que meu avô Elipse: omissão/supressão de um termo
Escrevia a minha avó.
não escrito anteriormente, mas que pode
Enternecido [Eu] sorrio
Do fervor desses carinhos ser subentendido facilmente pelo
É que [Eu] os conheci velhinhos,
Quando o fogo era já frio. [...] contexto.
A mão pálida tremia
Contando o seu grande bem.
Mas, como o dele, batia
Dela o coração também [...]

(Bandeira, Manuel. Antologia Poética. Rio de Janeiro: José Olympio,


1978. p. 12)
Cartas do meu avô
A tarde cai, por demais
Erma, tímida e silente...
A chuva, em gotas glaciais,
Chora monotonamente
E enquanto anoitece, vou
Lendo, sossegado e só,
As cartas que meu avô
Escrevia a minha avó.
Enternecido sorrio
Do fervor desses carinhos
É que os conheci velhinhos,
Quando o fogo era já frio. [...]
A mão pálida tremia
Contando o seu grande bem.
Mas, como o dele, batia
Dela o coração também [...]
(Bandeira, Manuel. Antologia Poética. Rio de Janeiro: José Olympio, 1978. p. 12)
Cartas do meu avô
Mas, como o dele, batia
Dela o coração também [...] Mas o coração dela batia também
como o dele [batia].
(Bandeira, Manuel. Antologia Poética. Rio
de Janeiro: José Olympio, 1978. p. 12)

Zeugma: omissão/supressão de um termo


expresso anteriormente.
“E sob as ondas ritmadas
E sob as nuvens e os ventos
E sob as pontes e sob o sarcasmo
E sob a gosma e sob o vomito”
(Euclides da Cunha)
“Há dois dias meu telefone não fala, nem ouve, nem toca, nem tuge, nem
muge.”
(Rubem Braga)
“Não é este edifício obra de reis, ainda que por um rei me fosse
encomendado seu desenho e edificação, mas nacional, mas popular, mas
da gente portuguesa [...]”
(Alexandre Herculano)

“Você precisa escolher: ou estuda, ou trabalha, ou descansa, ou se


diverte.”
“E sob as ondas ritmadas
E sob as nuvens e os ventos
E sob as pontes e sob o sarcasmo
E sob a gosma e sob o vomito”
(Euclides da Cunha)
“Há dois dias meu telefone não fala, nem
ouve, nem toca, nem tuge, nem muge.”
(Rubem Braga) Polissíndeto: repetição de conjunções
“Não é este edifício obra de reis, ainda que coordenativas, tais como: “e”, “ou”,
por um rei me fosse encomendado seu “nem”, “mas”, etc.
desenho e edificação, mas nacional, mas
popular, mas da gente portuguesa [...]”
(Alexandre Herculano)
“Você precisa escolher: ou estuda, ou
trabalha, ou descansa, ou se diverte.”
Igual-Desigual

Eu desconfiava: Todas as guerras do mundo são iguais.


todas as histórias em quadrinho são iguais. Todas as fomes são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais. Todos os amores, iguais iguais iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais. Iguais todos os rompimentos.
Todos os best-sellers são iguais A morte é igualíssima.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de Todas as criações da natureza são iguais.
futebol são Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
iguais. Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem,
Todos os partidos políticos bicho ou coisa.
são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda Ninguém é igual a ninguém.
são iguais. Todo ser humano é um estranho ímpar.
Todas as experiências de sexo
são iguais. CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós (Nova reunião: 19 livros de poesia. Rio de Janeiro: José
são iguais Olympio, 1985)
e todos, todos
os poemas em verso livre são enfadonhamente
iguais.
Igual-Desigual

Eu desconfiava: Todas as guerras do mundo são iguais.


todas as histórias em quadrinho são iguais. Todas as guerras do mundo são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais. Todas as fomes são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais. Todos os amores, iguais iguais iguais.
Todos os best-sellers são iguais Iguais todos os rompimentos.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de A morte é igualíssima.
futebol são Todas as criações da natureza são iguais.
iguais. Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Todos os partidos políticos Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem,
são iguais. bicho ou coisa.
Todas as mulheres que andam na moda
são iguais. Ninguém é igual a ninguém.
Todas as experiências de sexo Todo ser humano é um estranho ímpar.
são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
são iguais (Nova reunião: 19 livros de poesia. Rio de Janeiro: José
e todos, todos Olympio, 1985)
os poemas em verso livre são enfadonhamente
iguais.
Igual-Desigual

Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são
iguais.
Todos os partidos políticos
são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda
são iguais.
Todas as experiências de sexo
são iguais.
Anáfora: repetição de uma palavra ou de um mesmo
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais
e todos, todos
os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais.
termo no início de orações ou de versos, não sendo
necessariamente a repetição de conjunções.
Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa.

Ninguém é igual a ninguém.


Todo ser humano é um estranho ímpar.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


(Nova reunião: 19 livros de poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985)

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