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COLEÇÃO POLÊMICAS DO NOSSOTEMPO

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NO LIVRO
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IDE.Qt:Ó(}l.\.;lqO 't,IVRO' Dll)ÁTICOÇ.+ Àna .13úci8.G,= de
Faria
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Canse//zoedlforla/.'Antonio Joaquim Severino, Casemiro dos
Reis Filho, Dermeval Saviani, Gilberta S. de Martino
Jannuzzi, Joel Marfins, Maurício Tragtenberg Moacir Ga-
dotti, Miguel de La I''uente,
Puente, Milton
Milton (le
de Niii'anda
Miranda ee Walter
Gârcia. ''1' F
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SUMÁRIO
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Proa"ção.laia;Ü/.:/h.t(jóiadá?aulasn$á~
Revisão. Vilson Fontana Ramos
INTRODUÇÃO !'q: $f}'.{Ú.2{$Bjl?!FI
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Capa.' Jeronimo Oliveira a t 'x-fi.i ob lí ia lg !il mâ3

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Quem tuba a?
q A divisão do trabalho 'irai!({ié]]
Conclusão .2-r?.iÍ ).,..Ç)+*S
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: êÕN$ipEitAÇÕES FiNAis
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sem autorização expressa dq autora e dos editores.
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CIP-Brasil. Catalogação-na-Publicação
Câmara Brasileira do Livro, SP

Faria, Ana Lúcia G. de.


F233i Ideologiano livro didático/ Ana Lúcia G (le Faria. -
São Paulo : Cortez : Autores Associados. 19StV
(Coleção polémicas do nosso tempo; 7)
Bibliografia.
ISBN 85-249-0 157-8

1. Livros didáticos -- Influências tendenciosas -- Brasil


2. Sociologia educacional. 3. Trabalho e classes trabalha.
darás. 1: Título.

CDD-371.320981
.331
84-0384 370. 19

Índices para catálogo sistemático:


.4o Pedra
1. Brasil : Livros didáticos : Ideologia Educação 371.320981
2. Brasil : Textos didáticos: Ideologia Educação 371.320981 A todos que me educaram durante estes anos
3. Educação e sociedade 370.19 e que permitiram que hoje eu tenha
4. Trabalho : Economia 331
4 a pretensão (e a vontade) de poder
contribuir para a educaçãodos edu-
cadores;

às professoras
+
B'9 $.ri'., j íl f) ''Jê?f 1l)(}m03$' GflT:i 6\llBlq"1 91rfÍln{ s?R1 1'13f;
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.Ana.,búçia !:Gp..dq Faria,; no.;seu...lido;íldeQlogia no


Livro Didátiço,,ranali$ou.'r35?.títulos, ;dç,:,livros duiet} à}
44 série de .:(:bmpRicaç4o , :%.Expres$ãob!-'Estudos: Sociais?u
'Educação:..]vTprai -ç. rÇivjFa'. .dp: ,i!&:graus rOS:.títHlps :,mais s
vendidos:içm,,:1977«Tipo??r lrf níondrn ') olaen, «trgr ÀrTsd

Paftiii' dã''ánáliiê.Uê;:ilàifn6'iâg cfi'ãÍ{ ãê: Úáí esBÓT# :ÚÜ:i)


blié€1 kió' (iãgêm'' aHéláfiã''h/iÊük'hBai&i:ã?nê'âF éKl$1a
parücliiãt,'õl::iillàdài' dà 'eââgdélnéaff(iü)=àlte' allrêéjjjlbi"t;'
o conceito fraga//zo via o livf#íiHãábcg?fiu'mâiãiiãlig&' iie
id.çplqgia.dg Hvfg qjd4tiçoGioapg.UEgdq!!pornWbertq.)Eco
qW.enconçipwlv$riosnseguiliore$fpaoARqnçq.Latina tfh :n

Api;eifdéti)(iÜÇ'.ãg':eâaõêag':.üãzêgêolãl
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operária ou burguesa seja igual, pois a ideologia domi-
i.il'$\ Zá:3\\l'\xi Zi'
naHté é Éelnpre dã'elãêse dominante, como diz a Autora,
a criança pobre realiza uma 'acomodação' de sua vivência.
diferente da rica, através do discurso do 'esforço pessoal',
do mérito. l NTRODU ÇÃO
Mostra a Autora que os livros didáticos concebem o
fraga/Ao de forma extra-histórica, não diferenciam o
írabalAo como valor de uso (nas comunidades primitivas)
do rraba/&o como valor de troca (na sociedade atual)'. Preocupada com o processo de transformação social,
Supervalorizam o frabaJÃo intelectual desvalorizandoo pretendo conhecer melhor o papel da educação nesta
manllal. Daí sua pergunta: "um escultor faz trabalho ma- sociedade, na sociedade capitalista.
n.ual ou intelectual."? (p. 58). Por que Educação?
O livro didático agua como difusor de preconceíras. Estudar Educação é importante como estudar qual-
O índio é visto como 'selvagem', desconhecendo o 'pro- quer outro campo do conhecimento, qualquer prática
gresso', 'nu e enfeitado cóm cocares'; a mulher é valori- social, desde que se leve em conta o processo global da
zada enquantomãe, doméstica,ou bordadeira, costureira sociedade. Este tipo de estudo permite antwipar, pla-
baba. Igualmente o caboclo brasileiro é desvalorizado. nejar uma ação, refletir a prática do educador e seu pa-
qualificado de 'caipira' pejorativamente. Isso ocorre em
pel na transformação desta sociedade.
muitos movimentos sindicais ou políticos onde o traba-
Educar é transmitir idéias, conhecimentos que atra-
]hador comum, por nãc conhecer o 'jarrão' dos 'chefes',
visto como 'massa atrasada'. vés de uma prática podem transformarou corisewar a
t-ealidade. A educação, portanto, é mediação entre teo-
Que fazer? Para a Autora não se trata somentede ria e prática.
mudar o livro didático, mas também o professor. Que
ele use linguagem acessível ao aluno, leve-o à reflexão ;A teoria em si. . . não transforma o mun-
crítica,à pesquisa
e à criatividade.Não há escolaso- do. Pode contribuir para sua transformação,
mente crítica ou reprodutora; a condição do professor de, mas para isso tem que sair de si mesma, e, em
senvolverum ensino crítico se dá na medida em que ele primeiro lugar, tem que ser assimilada pelos que
reproduz, ao mesmo tempo, idéias e pessoas que ocupem vão ocasionar, com seus ates reais, efetivos, tal
papéis. sociais. A maneira com que o farão depende da
dinâmicada mudançasocial e não de sua vontadesub. transformação. . . uma teoria é prática na me-
]etiva. dida que materializa,através de uma série de
mediações, o que alz/es só existia idealmente,
Em conclusão,é um livro de leitura obrigatóriade como conhecimento da realidade ou antecipação
estudantes, professores e os interessados na dimensão se.
cial e política do ensino; nesse sentido, é insubstituível. idem/de sua frans/armação"(VASQUEZ, 1968).

Como vivemosnuma sociedadedividida em duas


Maurício Tragtenberg classes antagónicas (a burguesia e o proletariado), pen-
6 f 7
sar educação é pensar educação de classe. Como as Têntandõ Trespondefaaaestab '-qüéstõégllpHhéipalmelg.
idéias dominantesde uma época são as idéias da classe te à última,: jáçqüe (á] eohtradiçãó pi;inéiPàll ihãl sbbiédade
que domina a sociedade, na nossa sociedade são as capitalista é capital x trabalho, já que:qldweRyqjyimen-
idéias burguesasnquç idon+nam.. .Fotão, é a educação tQ:-do, .!trabalho ,é.3.}chalE:*pfna ,.glçençl:11... .#.esfnllplvi-
burguesa quevaciniàã ã têm 'o Éãpêl de conservar a rea- méntÉi'dá. hómçü;..'já.4üê''93diVilê ]:#õ:W'ãb4]1bJiüb].iEê
lidadepara garantirsua dominação. A educaçãona a divisão'dâ'' sõciêdadê' ein":êlagÉég; déréi"lfnÉíortãii:
sociedade capitalista tem a escola como um dos instru- te 'verificar:; como é:.ênsinadóàõ conceito de TRAiBAl;HO
mentos de sua dominação, cujo papel. é g. de. reploduzír nas escolas. Para .isso, será analisado.o livro didátiGO
a sbêiêãadb ÉÜ ãéÊál.qÊêi@<P#.'3$Ücá<l$$:aã $+á id?9 que }l um !os #eícugos utilizadoglBÊíã':éÉéob. ;pISa lg.'átitp$"
logia é"a& c;édéãciaÚié!#Q?},qlF:.pl?jlplje:ãj:!íérplÉjüiã 'ãa missão daj:ideologiaTburguesa. ..;..}'\ . r..,.RZ
produção, o que garante' mãíó; :êgpçi61e .. õ''próééggõ'jiê- Foram encontrados alguns estudos sobre o conteú-
la classe dominante. do dõ livrei didáticd !no Brasil; no entanto, o temais'l'rá-
balho , não recebeu o destaque. .Becç$$éljq epqlyptg: um
Assim,'.a'.;.eicolà.
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aí .'está;"éóüdo' q31qbdr4.. :p:a
luta . do.lprç)letár+p4o',ÇQpti:à
1;Ó' dóminàdóJl;'nê; luta,:çl?ÊJ' dêK: ]j®i'::#:: :ÚWl;Wei IÉiÍI lltMRgã''%jl#g'$1;flêÉ%'
.tal"x. .tlêbRlho L: ÇPRt(adiçêq .prqçip4'; da ;$ç)êiedpdq,clpi- listál..Tlu;Ü:: deltêÉI'ê1lúddEl:Ó!?r.' wçipi!!ç)r ''lé;"çéfêáê$êipç
]alist% 'l. ' A ! : çducaçãg .;dqi;.proíeçêrià4o .enquantou rlasfe apeçpÂljà prQ111s?õçq~:IN9SEI,lll;$1,
"1.9:79E,':ÂIÉíi$il:ê$+i:.
não se dá na escola, [. A: .çsçolai..burguesa;:çlá : os :,ipstçu- dós : estrangeiros '(MOLLO, 1970 ç,,BQqÇ?lQ. g.p'Wlrosi
mentos. necessários.lpqr.a reprodução ,desta.:classe q como 1973) ampliaraip: um . pclycg.. m.a11;.â .4isçussêg.go12{ç,.p*:tra-
está. fdqção : tambêO *lé..dialétiqa, . ao ;n;esmo ...tempo qle bãlíi(i: : 'l:$d.'êntããlgl ..fáàl$' .:1ãliéilpl: ,êçZÜiê.l)ésjçe<}..doíam,,
paga.reproduzirug:classe,
.çsleq, .iR$trt4inçDÇ9$r cç)ntflib:ueO! «H' 'fité#$ç,.l:.e!$®'.';:#i!e@$;:
'üflitÇãql##'.#$'i
eles também' podem ser úteis na fila luta çgptr4: a: hu!- miá 'ábÜ:i$, de®Hçjãájjd'á.,:ilêólÜigllEuigi$ã;hç:,llinê
ài&üçá1.:3ái :lié-;éadéfé; llibléFâBl;.lD©d'ãaãtiH'.
guesia.
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IÊ4êhlé 'à' '8üág' : b(5113'êaçõeé'l
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cíprpQá.,pnfrç:ihfià:l.ll...!ti$çiéÉti$$.râ:''.que''+l$tal..l
última, portanto ,.não :.é,i denullçÍa!; .apenabl:mas; (partindoQda. tb+
apesqÃüdglal;l?ij!#QjerqiiÜ;iltqtpgej pnmçi.il!, . gg?l4, âê uma ria, .colÜlecer q! rQaliSl?dçiF plênçjgr; UQg; 8çêQ:s
autoQomiê: relativa. .. Nç$tç:. m.oyiiDent.o::detemos pensar
:l)enunciar..;qüeÍ o=ilivrõí;didáücq:mental;:uaz'rim$1icà;:
educgçêç).: q...ççà$dàdpa 'l.A:k;lêblo. põ4eri?": feri' diferente
iões {seríssimas: !vamos fazer'-uni) lívtbüilue ífaieea verda+;
do ç!+K..çln.:é?. çç2iqR.#Mg{.: p«4:.R.j!:$sfõÍúàêãd. da so-
delRiMas nascer umâ pergunta: ?ér:pbssí#ela [;f
cied:!de, ,üêhtrp .dêp çgçQlàRa,,É..'pes;ivej?..:.l:Ç): que..o' prole-
tariado"êgpêi:ã di éiêóía? ' "O'que'é"ensinado a ele? Um Sem negar a importância destes estudos sobre?k5;1íZ:
estuda, sobFÇ ; l#ilfduçaçõgcçsçQJRr.] do ,:proletariado. pode vr6 didátie6"'-qiie? ehquàdtõt; dedúiiciãsT cüúpri.tanf' . seu
contribuir .pêlo.; ;spa=: lut43:ççlR9? papal, 'plêtêüdan faéêF üliioê#üréíció aãbHmétodo ;élspêdiaâP
8
f #
do na transformação social, contribuir para o conheci
betização,e não foram analisadosos livros de matemáti-
mento da realidade onde nós educadores atuamos. ca e ciências já que o que interessava era o conceito de
Trabalho e nada ou muito pouco seria encontrado sobre
Procedimentos: ele nos livros dessasdisciplinas.
Sem dar tratamento estatístico foram analisados 35 Para captar como o livro didátíco ensina o conceito
livros didáticos, de acordo com o quadro abaixo: de Trabalho, foram lidos todos os livros e separadosto-
Série 2.' 3.' 4.' Total dos os textosque de algumaforma tratavamdo Traba-
Disciplina lho: textos específicos sobre o tema ou estórias que con-
Comunicação e Expressão 66 6 18 tavam situaçõesde trabalho. O roteiro que norteou a
Estudos Sociais 45 5 14 leitura dos livros e depois a análise propriamente dita
l 2 3 está relacionadocom o referencial teórico adotado: está
Educação Moral e Cívica
baseado em como o trabalho é hoje na sociedade capita-
Total 35
lista para qüe se possaverificar comoesta realidadeé
explicada pelo livro.
Dentre as editoras mais expressivas no mercado da
literatura didática, indicadas pelo PLIDEF (Plano do Li-
Eis o roteiro de análise:
vro Didático do Ensino Fundamental) foram selecionadas O que é o trabalho?
as 6 que mais vendemlivros didáticospara as sériese e histórico
disciplinas de interesse. aspecto positivo e negativo do trabalho
Desta forma, o material empírico utilizado para es- caráter subjetivo e objetivo do trabalho
te estudo representa 35 dos livros mais vendidos em instrumentos do trabalho
1977. Vendidos em livrarias ou pela própria editora, ou Para que se trabalha?
comprados pelo governo, este compra anualmente uma e produto do trabalho
média de 20 milhões de livros didáticos para serem dis- 8 valor de uso, valor de troca -- mercadoria
tribuídos para as chamadas escolas carentes (é o PLIDEF). e apropriação do produto
O Instituto Nacional do Livro, coordenação do Livro Di-
dático do Ministério da Educação e Cultura, indica os Quem trabalha?
e as classes sociais
livros para co-ediçãocom o PLIDEF. Dos livros anali-
e mulheres,crianças, velhos, negro, índio, es-
sados, 19 fazem parte desta lista (cf. bibliografia).
trangeiro
Foram analisados os limos didáticos da ''escola pri-
Divisão do trabalho
mária", as primeiras quatro séries do primeiro grau, pois
dado o caráter seletívo da escola, é aí que se encontra e cooperação
maior contingentede alunos e alunasde todas as classes trabalho manual e trabalho intelectual
sociais. trabaho doméstico
No entanto.não foram analisadosos limos didáticos educaçãoe valor da força de trabalho
da primeira série, pois sua preocupaçãomaior é a alfa- campo e cidade
10 Í 11
:Alétííi dá' análise aüog'lívlóÊ''didátícüsP áléÚ db::têri,: O i' questionário,..cantil\has dual . :pqFPs.h iidentificação
fil:!+.:'tldh&:'9u TRAGA;EHói'g êügidaáo; }'pó} 'élêê;'i.;fà&sê da criapçp .Ê.Rlgum4s, :perguntas sobre;tQ;!p.mq.]'rabalho.
nêéêsiário'+êlifidãr :tklúbéü;'éÓJão::êrçiiüàiWI'RAtlAÊÜ õ A pXimêjja',pq1ltq.'aestq , rbqtrupen@.}f:eryiy;para,escolher
pelas crianças . que freqüéíi:tam'.':Êig oeiõ81aÉ e'j tvpr zcdem as êi'ianÇj$ '41:$ç$Ó )lítfefjltada$. (2,:qçBigof.nç. 21 meni-
nêÉtêsn:!hfõg aí? LeVãhga ;êi#l t8ngidêHéãóÕtáMbéhq este nas;"filli6g dã':iiãíé' bürÉbeléeg'é '2 iiiéiiífíã' e 4,.meninas,
dádS)?a:i;lêâliãadigf)6L'#atb: d6'llWeãgÉljb.5nHVübscÉiêiklsgd8 filhos de pais operários) e a segunda enriqueceu com
análisadóg;' déiíá'; 'ãé; téf'lüpiêlgüiiêiaSfléhié ã='JiÜtaliÊiadé mab çxçmplQq.[g,ijqceta:da .realidaçlç :pretendida;
dt5g)li+ildlb
apUblieãd8ssjãolqiieo'$1i$1oâfigfq$êléeãáêla:oá Para as crianças edtrestiitadass dâ)Jêgêõl#zptiblic%E?o
'!Mi] i..!8y3'Wl@ü'gêyNid'BÜg@8V,,]©! trêbaQlq , sçrvç;,.paro yayer.:iv Asl crÍ4DÇasTnãQ; devem tu-
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'Üié®$'$âç8.ÕBequbjg%áglíd '' ba!hêF. qlçí: (8;.-çiQze.:$êqQS3 (4çpQis;5deye@iilpâraíthã&tEica-
Fgtaqtq:,i:jç!'ap #pq'Wi$@dqnicljapçqh d% gEiggBBa .relnt. àílog,. ..,Os ?ipéd4çq;c, gi:tphan)! lpiaj$çparquQ;:$ãQ mais

byrgÚE!#líg).ídçl#'igqBI)'o@5Ml% vsilblqao ole©R) Tdêladhüi 'inteljgentest .í$élps: vaidosos. qyereBi diçar lEiGos. aIOs }pre-
(vede em anexo o roteiro da entrevisl8)vR fiion dd)pçiste. tos,.faqbém pclçbm .41içqfarjQos,rppçsar i#e-lo .b[4ncQster
rionnente comparar a visão :delas,,gom 8..H+pão,.dgilivro mais .façílidqt:íç: pOlI-naFÉgmaX;
:-iemplegõ.nq:Quémlíganha
didático e tentar alguma evidência' sol;Çe a *l;ficiência des- .pçnçlq ç.: pord+lç! ;pãqÊtÇabajhê.idirçjlQõdENem:: semptê 'com
te recurso didático. Esta entre+büaimdõgsg !iiúã { uma Q.,}fa+#ljp..{d41.para;sÇkarÍ].dcQi preci$a=i:trnbalhar$muito.
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exigênci:aimçtoflolpgic4 ,já .que nao,;intefé$Éatií$enlg cóns-
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g dii;bÊ+rg? p.ala: JdçndíiEles -linyentaram .as profissões;l às
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UgarããgstiO;iãiia8lo(vi@':gR..anexo)
em sióa oãa!prkifissãdPhag'e'ã'itnãê' 'que !>iíêiii#:.é .ç9ppQrtQ-
todas as crianças de uma classe da..4.:'é©b ;'ão l.' Grau =hentõ?! b (êgtilbi de. .wMd'biii':gtiêg':
de uma escolapública e de uma(êàiiÜãlt)afBcüM+!itdCi- lótlõs :$ótiçHll$çi':ÕiltK ãêfdg:qjle Éçgltem;baslqnte
dade de. .São. PauJo. .;A .busca çlestesod8K:UÍ)8g d: escola áteüÉãê.llàã .jjí]lap. pala tç!., ]ln+a.: boa. prof+!sãQÍI para :ltlg-
deveu-sés;ão:i;iâjêjr (#aêilídàdê .[lê;cêlitoH$jãi!!iêlialÍças de bbahaj'4jü.bç)ii)]nõlegà.lf: gànbprbasRRç%HQuem:i®o
=H: ]W;;n$JÜUã=ÊE! fnã= ::. tens;bqgl brofiwão*,,para:!:ficar ,!iço: lprççjga; fazer «hora
extili( guardam dinhçjro :Jla caderneta: ..dq.:poupança.', Quan-
dais e não sobre o tipo de escdEálbi03 0c dal.féi}.'pÉlrg\t#tád;é.âç.qlRpedi:$% fjc#çyrjçai disser
.13
eu não, pois meu patrão me paga pouco. Tem P várias profissõesporque cada uma serve para uma coisa.
outras pessoas que não podem ficar ricas porque A escola e a mãe ensinam; brincando também se apren-
gastam todo dinheiro no aluguel e com comida de. O patrão ensina o empregado, e a mãe ensina a se
e nãa guardam dinheiro para quando precisa- comportar. A escola ensina a ser inteligente, é a que
rem mais ensina, é a que dá a profissão, Tem profissões que
não precisam estudar; "qualquer um sabe mexer em uma
Pobre é quem pede esmola, preguiçoso. (Estas crian- máquina"; para recolhero lixo não precisa estudar.
.ças não se consideram pobres.)
Podemos notar nesta síntese do discurso das crianças
Para as crianças entrevistadas da escola particular, da escolaparticular, o seu preconceitoe até desprezoao
o trabalho é uma espécie de esporte, trabalha-se para si; pobre e ao trabalho manual. O trabalho para elas só
uns trabalham por dinheiro, outros só por vontade; o tem o aspecto positivo e, no fundo, é pobre quem quer
trabalho da criança é o estudo. O melhor trabalho éo ser, quem gasta muito dinheiro à-toa. Ser rico, ser pa-
mais.fácil. Lixeiro é um dos piores. Trabalho de mulher trão e ser inteligente é quase a mesma coisa. Mas o di-
é mais leve, pois elas não têm muita experiência. Os nheiro não é tudo, não com aquela visão cristã, mas, nem
mendigosnão trabalhamporque não sabem falar direito. sempre, o dinheiro é poder e parece que as crianças já
não têm profissão, não sabemfazer nada, bebem, man- (querem) percebem isto.
dam os filhos pediremelsmolas,
não têm dinheiropara Apesar de a mãe tet um papel na educação, o mais
o filho estudar; se parassem de beber, arrunlariam em- destacado para esta função foi a escola. Pobre não es-
prego. Mesmo a mulher pobre trabalha: ela se mexe. faz tuda, por isso é pobre. As boas profissões são ensinadas
força arrumandoa casa e cuidandodos filhos. Uns não nas escolas.
trabalhamporque têm muita riqueza. Trabalha-se para A sua visão do mundo e seu estilo de vida coinci-
o chefe, para sustentar a casa e para o progresso do
dem. A vivência com a(s) empregada(s) doméstica(s)
pais. O trabalho não deixa ficar muito rico. Alguns fundamentoumuitas das respostas. Este é um trabalho
ganhampouco, têm que pagar a]ugue],compram perfu-
inferior em relação àquele desenvolvidopelos seus pais.
me, poupas,,.dão dinheiro para os parentes; por isso não

=i':=B';:/;i.l\l&sá
O que fica evidente é que o discurso tanto das
crianças de origem burguesa quanto o discurso das crian-
ças de origemoperária é bastanteparecido. Isto não é
vez mais i'ico porque sabe guardar dinheiro, tem muitos surpresa, na medida que a ideologia burguesa é a domi-
nante na nossa sociedade.
negócios, vende carro etc., nem todos os empregados
No entanto, a vivência das crianças é diferente e as
crianças de origem operária, já desde pequenas, tentam
acomodar a contradição realidade x discurso com justi-
ro, pensandoque vão ."ficar o maioral", mandar em tu. ficativas individuais próprias do discurso liberal bur-
do -- mas tem gente rica que não manda em nada. Tem guês -- a ideologia do esforço pessoal.
14
15
"Se estudarmosmuito,. poderemosaté. ser.,pro- F
crianças. Por fim, nas considerações
finais, frenteàs
U fessora mais tarde. item que prestar muita ater constataçõesque vierem à tona através da análise, po-
der-se-á refletir sobre alternativas para o livro didático
ção na aula";a
e refletir sobre o papel da .educação na sociedade capi-
"se - êlau economizasse poderia. ficar bica"; :)'

talista e da possibilidade 4e...ela, .çontribuÜ para a trans-


"com jeitinho en(lõhtra:$ê lugar: para' trabalham;"? formação desta sociedade:
11t
{'n.:.í ã
I'.i) hediclÍ gzínha . mài{ liçÍrqué,:,ê 'üiha .l$fófíssãb
huitÓ' boàl 'êles gão:'ihteligéntég"t
s :ií.(
{.l)b í3.S ;é ãélhl$r séij p.ajrãZJ':(aü'qqé'êmpfêgaá8lji'Hoje b
sotl: ompi:egadp; deÉo$1.. Éoisó ,iét "jiãtrão . ê'tel' W W:ã@ ;W ê M'.M M
l ín91JC) Çrfí í;l) )t} u!!F:clRT'F :l idj\:l s o$jE; l jaez!
' jÊ' rnuitós empregador.'';
Sl:)íoê íj C}'lr! )rlll rt;'.'J ç;í;ílÍi;fjR-i! :})' e;i'r: .n-íEq pt;liloÇ'!F}'!i
;'se : a pes?oa:egr. humild?!;elai.quem;11jyef,;,gão F :; }í;i-
precisa. SFr ncç);; UE,:itD'.} h !üiÍà ".b a ".í .". : cb o) }(: J oí'-/ i 0.
Jfquem'nãootem a profissão:que gosta é porque [q,p.r; zií;{ 8ííiíc! l(; .oí! r€1íi'í} n! :i (s {.!n í :} r;'l!=j$o
não estudou:'.::=. ::q i br,r; 5 c.]i', Init, o
M .BM M '
Ü ií,'lClid ít3)j::;1;3Í! $ ? 1:?C.!. ;Ctirl;)'; :.!; h:o-i-/ii »O .t}
}
Será que o livro.. didático .transmite exatamenle esta
.)j :.-S=lbi! a! ;li;? .í;rti I'i ll '.iF} ?r)(lii GI) r:':!il:
ysãQ, .e? .portanto, QstaTia tambéiR ejç; çopiElbüiiiã+: .para
-iHO q:! .oba?:'íí77..l '; oã? olr;r!.'í)ü:) .:;i) c:v'ii .ial !Í
o discursa burguês:Jdas. criançasZ. Mgs:; tqgto:cq escola :oí'!ij:d6'f'í' u-ld(:.: !í:-)rí;:tj }jiçl:ü :(::tj'.:t ,:í.:)l;c ;oi'l131t
particular pesquisada, quanto muitas outras. apsc4ascJEre- À ib zlj;í! ;*:.l) Ofl 'j!-ü zni'riJ zs i;!ií.';'n ! i:'K11sq $!'i:)j )Ji'a
qüentadas.. pelas crianças da.burguesjq, nÕQ, a4qtam livro ?C ) Í ! r?213 nC?l ffV
didático . pelo., menos:,nas primeiras ?ériç!,;4o :jl b Grau
(primário),; Pót. quã será?, Q, ljv1lç)IdidáticQ pião' Ihe$1{ iiê- ;ollt.)3t ciüt :) ?l:i; iii.(:{) iir.l) 11allà;-í';31 í í:\!;;3 í) ..í)i;r!
ROJ!:;jí})3'?3& .;:l ;1l! ;) i! ?í ='ljb i'.)lí:?::: {) €3li"::
ççssário? f'oll . duê será qüç.'íd .dil;éiirgç).1 4e : aúbãs e<1éi'lan-
ças é..igual e. uma delas nãp precisou deste recurso? En-
Olieíni:o {} .l:lbnliu o í éí)ii) (::-i',-l{ {)a f;i l;! ?:Jl$'í s õl: a !; a3
fim; qual êl.o .:papel dó liláo' didátiéo.hâ. inêfilcaêão, da : :- ST3:;i'Í f)13r? ! íi:
-alidÍd ac /;jo:ê : } ":) õ3i!)C)) hiv) o-íJ i
ideologia.'burÉiiesa:?..t)lide :a;;yiVêhcip.jdifóightê. das:..diipii- :íji ej);!) 01.t Síí{),n c üz-t11:.lfp'; [l';:)r ';a {lhílí:g=:?z i? .ici!.ç B

çà$ ; apa11éçerá?.:.' 'Quã:] .!gi'á].: êntãq, ' b;'llap:l ,qõ p11õíegÊér ) ;';ll 'l:''T

}
ü'íioríiilq çli c ?:11iBÍ!; (:'!i(?r3';j'tÇ (l f'!i:íi3 ] r:':;:i5.:f:' :

pata cada "üma das' élagééá sbciâis . já' (ilúé'p'oisúéín.bóia obn!:,!FJ ,:)t/i:) i [€1l' o:?!:]í;b:i .]!} 3 (;' /ii l ii\l: [a:i t:!:lrq;ril
vivência diferente? .ir;ir ol) siD à $'\\ loi hnlili,: 3 .;iá{ ? i:: h f3 3 ',b Õ ziç\t lo3

. id)s s?-nIsTo?ol: ;:Gl11pi'íGilíR a jílo ?C


l)ala;:rqspondç!. a: esia$ "queftõeq,: será ana14sadolga !-!) ZnJ'i'/i ;B'!;tíi'l.
.nrí!!cl! i: b
segun4q parte. g. conteúdo:: do.,jivrol didático para verificar
como: a ideologia. burguesa,i"vê'.t.: e ;.transmite : o .conceito d r)Z H e Pa-i?Íl-SI $!} .?n3 '.[t ile-Ols'{)? ! Í) 1 03f '? r !i:'::3?q Ç

.snlÍq13? Js1;3: tii} ?rJ';vil 2{)b oÜ?slal:üí! é (S3:! f 6i}


de trabalho, que::: depoisi-;sela: , comparado.. .à... visão , das
qüe todo e qualquer tema poderia ser enquadrado no cur-
rículo. No entanto, o Trabalho parece ser um tema da
preferência dos autores. Mesmo sem. fazer um levanta-
O ''TRABALHO'' mento quantitativo dos temas abordados nos livros ana-
lisados,em todos eles foram encontradasmuitas refe-
NO LIVRO DIDÁTICO rências ao tema trabalho.

t O que é entãoo Trabalho no livro didático? Para


que se f'atalha?
Tudo que temos é resultado do trabalho" (210,
p. 31).: Resta agora saber: Trabalho de quem? Quem ;0 esforço que o homem faz para cons-
trabalha? Para que se trabalha? Em que tipo de socie- truir alguma coisa chama-se trabalho'' (24, p.
dade? IH\

O livro didáticoda 2.', 3.' e 4.' sériesdo l.' Grau (Abelha conversando çom Mimosa, a bezerrinha
dedica-semuito ao tema trabalho. De forma mais explí- +'

que)
cita, os livros de Estudos Sociais e Educação Moral e
tnunca tinha ouvido falar em trabalho. Resol-
Cívica apresentam capítulos inteiros sobre o assunto:
veu trabalhar. Pensoutambém em tirar mel das
falam dos tipos de trabalho, sua finalidade etc. flores
Já nos livros de Comunicação e Expressão, encon-
tramos poucos textos explicitamentesobre o Trabalho: (Já que a abelha, fazendo o mesmo, disse estar tra
este tema permeia muitas estórias que são dos mais di- bailando:)
versos assuntos.
Não fique triste, Mimosa. Cada um
Dado o caráter genérico dos objetivos estabelecidos no mundo tem que saber fazer uma coisa. As
pela lei ' para o ensino destas disciplinas, acreditamos abelhas tiram mel; você vai crescer, ter filhotes,
dar leite para eles e para as pessoas também.
1. Esta será a referênciaao livro didáticocitado. O primeiro Esse será o seu trabalho" (313, p. 32).
número refere-se ao livro(vede código de referência na biblio-
Não só o homem e os animais, mas tambémtodo ser
grafia), e o segundonúmero refere-seà página de onde foi
retirada a citação. Quando o primeiro algarismodo primeiro vivo trabalha, já que o trabalho é uma mera ATIVIDA-
número for zún, o livro é de Educação Moral e Cívica, quando +
DE, é o fazer alguma coisa.
for doü é de Estudos Sociais e quando for /rês é de Comuni- 'As plantas também trabalham. Produzem
cação e Expressão. Os outros algarismosreferem-se(arbitra- frutos indispensáveis à nossa alimentação. Ou-
riamente) a numeração dos livros de cada disciplina. tras nos dão flores que enfeitame perfumam
2.(Regulamento do Decreto-lei H.o 869, de 12-09-69e Resolu- nossas casas. Além disso, purificam o ar'' (31,
riamente) à numeração dos livros de cada disciplina. P. 32).
18 19
"0 humus trabalha nã transformação:de alimen. ,figa. a natureza para- o bem de outras homens
' ! }li',)
tos para as plantas" (22;d$: 109}:' para elesr.ençontrafem sempre: um)mundo.. me
1 ! 'T .rt i+ r ''} f'+r\ n: ':+ ; CLp : f

Portanto:,oQ trabalha apenasl caracteriga$e..por .:pma. Ihorj; :(?1.7c;p, 88:).:.


atividadç: natural., que.sempre-.ç#istiu,- como.l se.:eie,õenl-} O homem:i nâ; lutam'pelaÉuã''sobrevtvêhciãf entra ;:ém
pre tivesse sido assim e assim será p4r4:sempre.n-O;livro. relação com;.a: natureza. .ç se, apropria. d;ejq... Bata ação in-
didático confunde o fato de o trabalho ser uma catego- tencional,: .planejada ,ê. ..adequada .lla : $íÍÜ:.filjãliliãde, é o
ria , +ntedi]uyiana.(b{4.]gX: . il97:71. p.,.2 1$) :.com . ê..elimina- trabalho...s ;D.4Í :l. o ,jraiiolhQ ' çoq$fituíi#ê l bumq:l.êqtegoria
ção do processo histórico. :pRr4:.,entçndê-lo nas "mais di- antediluviana.
versas sociedades.
J f'O trabalho:; :come, ;críadof:. de,Valores :dé. uso,
Este'ê=teüt5ê !+iisti'ãií:õ'icar4téF;níêbâãiéío 'áue .a idcch 3
como: trabalho útil,íié indispensável à/'existên-
logra burguesa átÉibüi: 'aó 'úabaÍho;'"êõmó íé)fha :dé' ;esta-
ci;à: 'do homem, quaisquer que-;sejam: as formas
belecera neutralidadedivina às tarefas que cada um .de sociedade,..é necessidade natural ç eterna. de
desempenha. c A. l:vaca trabalha dando o leiteji ;ofloperá- êfetí\iãi 'ó' iàtêrtâhbid' 'máliêtial'êãtfã à' homem
rio trabalha dando, oferecendoa mais-valiaao patrão'.e al E
ê a óâúíélp, .e. pói;táhtd: de .]naiítêÍ'.ã.tida'hu:
#

este trabalha porque. bondosamente emprega a mão de '.t : .+ l ,

hdãâ:'.'(MAltX;] 971a,
; i;:. !0.)l
L':.;:,.i.
obra ãbühdante:'j:. Daí não : existir tíifelença:' ehf;ê';ó tra-
balho humano ê ''á átividade "ddé 'outros 'será'' Çi& .;l.'ITra- ..É icom ,o desenvolvimento :históriaocique o ;h'abalho
ta-se do emprego da energia e do despender força.' assume características especiais.
Tanto a$1homeósr:comóí: óg-ãnimãié"ltrabalhàM ! para A história )do; homem Btual: 'é-o'ipfocésio de:xóbjeti-
manter a natureza em equilíbrio, o produto do( ti'àballió' vação do, trabalho: quç .tem. origem nas púmeiras mani-
é a garantÀg.:,4a$gbrey4yênçi$,,dêl..sçr..igual para qual- festações.da ditisãó dó trabalho:' 'Estudar' esta divisão é
quer ser viyoa,:$gg aparecepi :qualquer ..4'eferência.-.sobre estudar ã híÉtóriâl kla "Éoêiedadé: á' história' d:às Ititas de
classe
a capacidailei df?''hé411çp i antççipar'l:pa iRqQtq.- suq.i .ação
para tçanlfQi.máf. .<'lêalidade... É. CQnjo .sp -ç) .hamemi :pro- cada .ç.tpp.a dp diyi$ãQ do :jrabalJxo ;determi-
duzissem éom13/i$ 'áilim4íç,'.pela. ;pecessidadç. ..física :'ime- na : .também; as= relações dos, indivídt4os entre si,
diata. No ii'ütõ*dídáiiéÉ); ambos modifi:am' a ' natureza. noi !ocante ao.,.material, ao instrumento e..po :pro-
O esforço é?'óífqüe : caracterizar, o'trabalho ~líumànó: '(já ci- duto do trabalho"l'' (MARX e .tNG.el.s: ,i.g72,
tado 24, pC' ] 14); e ;õ: :qüe '&'dá :É uma niüdánça :de fdi: P: 2.0-21).
ma para o bem-estardos homeàÉ. Não: léxisté''uha fina: â Nç çntaDto* of:liWQ: 4idátiço néo.:Jçva nada..disso em
lidado .aptçf?irada .que determina ;q:moçlQ: fde,agir do ho-
mem. .,:íO qu&.:( .qptecíp4dQ, 'pu. mçlhQçp, ;b ,quç.:Nem a consideração,.,=..Quando ;Qle expbç% j Q,trabalho j daf mesma
priori .é, l)euf, forma! tanto para o homem quanto para .QS..animais e as
plantas, revela a ignorância do processo histórico..
''A':nátureza}é obiá ;de Deus.; O hoheü' O :,çonceitQ:,de , trabalho..adotado é; a-histórico, assim
trabalha pela sua conservação. O homem medi:- como todosíjosioutros conceitos. O. livro didátiço.volati-
21
liza o processo de trabalho assim como todo o processo
histórico (CERQUEIRA FILHO, G. e NADER, 1978)
O fato de o trabalho ser uma categoria antediluvia-
na não significaque semprefoi igual, pois
r A partir daí, além do trabalho manual, o
homem começou a desenvolver cada vez mais
o trabalho intelectual". (ll, p. 37).

Nem sempre é o homem que faz a história: ''surge


a agricultura"; e quando é ele que faz, é por acaso:
até as categoriasmais abstratas,ainda que vá- "o homem descobriu. . ." ou independente das condi-
lidas -- precisamente por causa da sua natureza
ções objetivas, dependendoapenas de suas característi-
abstrata-- para todas as épocas, não são me- cas pessoais:
nos, sob a forma determinada desta mesma abs«
tração, o produto de condiçõeshistóricas e só se 'graças ao desenvolvimento de sua inteligência,
conservam plenamente válidas nestas condições o homem criou a indústria
e no quadro destas'' (MARX, 1977, p. 223). O Trabalho manual é algo do passado, quando e
O livro didáticonão vê o desenvolvimento
do ho- homem ainda não era inteligente; é a cabeça do homem
mem, da sociedade e o processo de trabalho dialetica- que determina as condições objetivas de produção, sem
mente relacionando o homem que produz sua existên- interação com elas. A superficialidade da explicação
cia e sendo determinadopelo que e pelo como a produ- não permite uma visão de totalidade onde se pudesse ver
ziu. Sua visão idealista, casuística, linear e genéricapo- o-trabalho do homemcomo a forma de ele dominar 8
de ficar demonstrada neste único texto encontrado que natureza, produzindo sua existência e sendo determina-
pretendia dar uma retrospectiva histórica. do por esta produção.
O trabalho, no livro didático,
''Os primeiros habitantes da terra viviam
em cavernase se alimentavamde raízes. frutos 'é condição natural eterna da vida humana, sem

e produtosda caça e pesca. Porém, com o depender, portanto, de qualquer forma dessa
vida. sendo antes comum a todas as suas formas
aumento da população, houve necessidade de
uma maior quantidade de alimentos. sociais'' (MARX, 1975a, p. 208).
O homem descobriu que deveria plantar e O nível de abstraçãoque se dá ão trabalho dispen-
não só tirar da terra aquilo que necessitava sa que se fale da relação entre os trabalhadores,da orga-
para sobreviver. nização da sociedade.
Desta forma, surgiu a agricultura, primeira Sem esquecer do papel revolucionário desempenha-
atividade económica organizada pelo homem. do pela burguesia,hoje, é a-historicamente
que ela con-
Além da agricultura, o homem começou a orga- cebe o mundo. E é justamente assim que é reproduzi-
nizar rebanhos, surgindo assim a criação ou pe- da sua ideologia. Desta forma, consegue-se acomodar
cuária. as contradiçõese tudo tem uma explicação. Não se
Mais tarde, graças ao desenvolvimento de consegue supera-las, justifica-se tudo. Tudo é natural,
sua inteligência, o homem criou a indústria. Obedecendoas leis da natureza, as leis de Deus.
22 23
O trabalho, .farda de'b homem dominar;'ã nature- é conhecida diretamente?.pelo trabalhador, - é- um estra-
za e constituir sua . existência:' não-.é'visto pelo livro di- nho a ele. ' A negação do trabalho:não aparece-'!Fala-se
dático como categoria. 'Tela:é apénaÊ''uma atividãde com sempre no caráter subjetivo do .trabalho, jamais na sua
o.:eím . de. :çriaçi yabç-. 4e ;uso : (Habalhç) concrçtg),, onde o objetivaçãa'.
c ..,áleF! subjetjvo.;.:,pt4.. ,gFmpfe : pfg$çpB., tonto:.#gr ;qye,.se Sendo assim, não se falando;'ae''aliênáçãOddt'tr%-
"felç.,}s M'?'t&8çicl;;:ílb :irai;ü;ldÜ ; qqótç, :Zl;Ú.;;= banho, não : se fala' também ;na' libertação :büt 'ele,(ha ne-
ticipaçãq. % domínio,:de,: tpdq. proçesêq. ,: .f. : -. ' - ,;*.:.l ''
gação da negaçãoi
Este nível de generalidade é característico«!d&..:todo Qtlahdõ' ge fala : 'dêí;'ãificüldãdeüüb;]ti'ã$álhõl:'dt) 'fato
livro didétic5?4,. ; !j, ,; i11Pq:,gqP ,; {qçgçgp.. .da,. jnlç1lprçtação de ele ser penoso, cansativo, na;'verdade':iê ;dita::VàloFi-
Tg«ésadó :duàdÓI'dÓ'libé;iiil:Úbl''"
iA'':iÜillã:lã=;'ã; zandg..o. ,çrabalbagol, :pq11
. :!rat)jül!?!::
trabalho para. esta concepção do mundo é :ãpêbas' um
produz' do pensamento uma Ve2 :que'não sê leva em íGàtüiaráÉ,ó fãd üciM:o: $tióftüó/ftÜ rosto'" (.l l,
conta''a História:,': o ptocegso; histórico. . Não; . há conde P: J41) .
iões- de perceber blue 'Que afã! já todos de pé! :

:lg tj4bal+iS);gli'torlibip.::D;ãç)
.sçi.'no;;plano, dais.cõtê:: Ruidosos tagarelando
gonaq, nuas pa próp.ria repjidadç, .um feio: de
!' !
Vão os colonosem bando
®'B Para os talhões do. café.
cliêll a riquç4a. :em:gerêJ:.F: dei2çou,;çnqq4htç) de. '.!'t ;} !T J
Coúeçá"b tiídê;:tÉàbalhõ
terminação, de constituir um todo;çQD.Qs: índiví: .}?i'$

duos, em qualquer aspecto partjcuía r;t; (MARXI Q@faina''


h$tii:àdá
'.ÉI:f$ií+!
': 'l(2111Ê:
.44)::
O trabalho leva ao progresso, üoÉ faz feliÊêé, máÉ}lao
1977, P. 222). ' ';'''': ' ;" ,'.:-f:-''.-'''? ''

Q:. bWO .;çüdáticq,:só;lÍBIa do ca;átçj: ,positivo. .do tra- mesmo . tempos::é umas; Btividade Gansatjvêln penosa, infe-
rior, :..manuaj#,.,que )lé valorizada ) moralmente« . .pelo. JJivro
balho,.. a .hum+lilliz4çã9.
:.d4 sature;a : pelo.,trabalho. didátiçoz:visando bollçonformismo, !aJ.obediência, : eira ! xe-
'0 homem 'bóm a Éüa 'inteligência, ' ó; :gêü stgnaçao, M a :-::::::.:. EM M
trabalho:, e com q.. emprego: .de:.máquinas ,:.pode 3jüa ..'!CD6
}'Nãb= padehdg;''ébdós j'gêf Péài)itães} têmõs
aproveitar. e. modificar o :meia ; nqUral , dQ.:lugar . '- !'\ '

qüõ ;sefêxéPêítàiípara üodbs,ttl'á:hâ h'ti:à:l:alguma


' j) ..; ;)

onde vive" (211, p. 37). ' '"' l :hn} ,..,- .. '


'\ .'.

.{.i: i'i'Í
cóisãl) tiá ':hui€6 tfabalhó'-:.á''fazer"ê. pouéoÉ .tra- i' !'j !.J

' '; 'APénh };uüã; ;:tkÜ, gé fãjoÜ -:qÜÕ :& iüáquihâ' substitui balhadores.
o ''#âbâlho !de :üiijitõg ; hõüiéüs, :' mâÉ' ':nada::'é; explicado. E a,tareia; ,4 .escolhq{.;é +: pais :próxima.
O iÜPÓftãllte é'!d)fiü!=;õ põogressdjlo ;processo pâl'a che: .Se você:!ião pode ser a estrada real
gãf :.f'êste; fiiüÉ''á;.r'éÀI)loraçãõ::a alienação ;pelo :trabalho; Seja,então UDü-atalho.
a :degVMorizaêãd=d;í:força'üe trabalho apelaMáquina',' nãó NÕç):Podendo SQtQ.,sol; sej:&:uma: estrela
teta: lugarõ ':Nãã: se 'fa:la na- tiÉfójiiiaçãi):: individual de !Em grandeza...não
é; que,.se.ganhaou ; se
uma produção : colêtiva. ' Que o ;produto'ao trabalho nãd perde
24
25
é! " (3 18, p.a8o)melhorpossível, aquilo que você Em nossa realidade, o trabalhador já foi despojado
dos meios de produção, que são propriedadeprivada do
capitalista; ele não produz uma mercadoria.
o que elefé icealmenteabalho. Ele é explicado ocultando "SÓ o produto coletivo dos trabalhadores
parciais transforma-se em mercadorias" (MARX,

;::.:'::..«:':WI,$
:i;lg H
1975, P. 407).
O resultado da produção coletiva é a criação de uma
mercadoria. Seu objetivoé o comércio,visando a acu-
mulação de capital. O parcelamento das tarefas serve
' Mas o sucesso de uma agricultura precisa
ao aumento da produtividade. É a subsunção formal do
de outras providências: adubo no solo, boas se-
trabalho ao capital. O capital domina a circulação e
mentes e, principalmente, homens com força e
saúde para plantar. '"' '''' parcialmente a produção; produz-se para o comércio e
explora-se a mais-valia absoluta do trabalhador.
Não adianta cuidar da terra e esquecer o
homem" (25, P. 72). Com a revolução industrial, nova divisão ocorre no
trabalho. É a dominação real do capital sobre o trabalho.
É o aguçamento da contradi.ção forças produtivas
x relações de produção. O capitalista detém os meios
de produção, e o trabalhador vende sua força de traba-
lho. Ambos alienados,já que o primeirose apropria
do que não produziu, e o segundonão se apropria do
que produziu. A produção é coletiva, e a apropriação
é individual.
O trabalho assalariado, em última instância, carac-
teriza a subsunção real do trabalho ao capital, na medi-
da que torna também a força de trabalho uma mercado-
ria que é alugada para aquele que detém os meios de
produção. Estas condiçõespermitema exploraçãoda
\

l mais-valia . relativa que é


"Para criar mercadoria, é mister não só
'a parte total das mercadoriasna qual está in-
produzir valor de uso, mas também produza-lo
para outros, dar origema valor de uso social. . . corporado o sobre trabalho, o trabalho não pago
O produto, para se tornar mercadoria, tem de do operário" (MARX, 1975).
ser transferido a quem vaí servir como valor-de- Eis o lucro, que não se caracteriza pelo aumento
usa por meio de troca'' (MARX, 1975, P. 48j. de dinheiro (comprar barato, vender caro), mas aumento
26
27
Virou a terra -- que dura! L
de capital,. na medida que: se vende:o. produto pelo seul
Zezinho,: ganhou: dinheiro
valor, o.dobretrabalho incorporado.; na ) valor converte-se l
em lucro no. mercado. !3í:rl. \tiÍ })n í-?ií! f:r'. .nt,iÍ-:;"'.. l
vendendd: tudo ao mercador;, 6 )

,Pe SBU; imensostrabalho,;


Ç):.+iyro.;çiidátiçg: desconhece Q valor, de troca. a mer- l
foi logo recompensado! .
cado$qt/.j'g p11ogrç$êg,.:l#.
!tlq: yglg{.:dç:;y?p Jé:;qyç, queml Mlqs a,:m4ioF,alegria,
o produz necessita dele e o usufrui. 'ti=il\':l.''.''"l=.;lT ' l
fqj-:.p04ler,}apreciar
Nãa;. é : jó..a mais-valia:...que .não: aparece no. livro, l o fruto de seu trabalho íi il?ead
jã qtlé fí.jrelã+ão I'dé' :tfaballü ';Éó"dá , :êhtrêl'd : hdine'h e a naquele velho pomar'' (313, p. 73)
üãturei<1 é'.'nãq' etltíé .é$.'' 1iõúéà: :ii':ã .fõÇêa 8ó'::ih6:anho
éoho 'lnerêàdPfia;:fáúbéh '.hão . ãparéêe.'{ :;'ÓJgaiãtB Não, .se .trata dç .l.!çç.çgntra Q.,progresso, ..Qas.. deveTsq
[igão
Óãf:tÓtÇitíâ4l;
à ;'éÜSiübçPól:!çài:ld lij;àbalho à é:ábi:Éd;êo'Mo ter 'claro qüe,. apesar. dé elé. jçr PFo4i4to.do .trabalho . de
muitos,J é 'üsufrüído êó por alguns na''sociedade capita-
o . 81ugüêl: da."lorpa : üê tl'âbalíió do . .q ti.ãiliàdõi'. Ó.Éíàb:':]5êlo
patrão"que, 'lpói'.; iuã.IÀ&E. jÍejéM "é'i 'õbfçtrabãlhõ ; ;qliê: ':ho
lista. E o livro didático o coloca de forma abstrata, co-
mercado i'everfeká eü luêi'à"$ard:;gf.': :Não foi:aéhÍlêlrit;:a- mo o +ãlór dei-;üs(i ':ptodüzid(i ''pelo - tl'abalho; ; camuflan-
do:nenhum' taitõ específico ü)bi'ç cyàl.ái:id;'áéteditaise ser do a produção coletiva e apropriação individual,'!pró-
difícil ê)iplíêá:ió :é'ob' 'estai' ótíêà iüeãlülã: ;:dcí livf81 {dídBHi- pria da nossa sociedade. Não há conflito homem-ho-
Coi'; já ' têmõ9 :.ümP tecompensã': coü-!õ; ttãbálhó: -=1- é o mem\l 'Péló dóntrárioj' ó trabalho tlne 'os homehÉ. :' Existe

pfogreÉsoli' '.Até as'tfíanÇas :disséfaü Í Ühe iê tfabalhã' pá-


o ;êonfrohtó;homêihãâtureia: o ;homem transfofihà á ha:
mlViver; só mesmo o 'livro :hidático.: $i)de hegãii'':féM: ê daí, turéza :$arà :6: hein comum. ' Mãb tõdoé' : são ''iguais::'tisaó:
então,i 'o salário :Passa: a'' não :éter tahtà :límportâüêia. .''ljoi do ; o' mesinoltbbjetivd', ê ó";Éródutõ:'-= 'ó ;progresso ' := é
encontrado apena:s Cite:J.:têxta sobro- ó odinhéiro:l-tecoM- compartilhado:Poi' todos.=
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pensandó ;b tribal:ho,:; que é claramente' a rêlá#ãõ'líõüeh- l ;:'Forças s.omadaç,.trabalhas. ;divididos
natureza onde o esforço do primeiro merecéü:üMáílÉrã- l Destinos ;jFonfundidosl.:;( íl}, p. :.43). H
JjfiçpçãQ;. . !DesmQ. : 4$sim,: a mRiQrn reçQmpensa aão foi o l
dinheiro . .A relação:,é';sempre homem-natureza; e nãa, homem-
-homem. iAssim, :poucos: foram os conflitoslina História
:AI blantaçãd db Êeêiiihb i:: Sj:i'lO i/Fidb do Brasil.
Zezinho;naquele dia, . {} ii=/cbülq "Os índios não trabalharam:para os portu
amanheceu decidido ,à }:;!:.;i : Í:i\r.:iSfjl gueses porque tinham incapacidade paraiio tra
.' :;Preciso ganhar. .dinheiro l 'J :lí'ijlÍ! G
balho regular devido a iss.o,:houve muitas=revol
l.sso ..é . .caso 'resolvido. tas e represálias dos indígenas contra :os portu
og{ is ç i üÍ rlTot;i'ío)
Dinheiro'.=-; veD d& Itràbdiio gueses" (22, p. 21).
1:: 'i:J({c cb
Por isso Zezinhi), então,' Destaforma o índio sai;'defiüiti+ametíte
da história.
c/'{ t ljÍ.t I'l ';:;
juntou: sementes:.e mudas,
Outro cahflito::él: a justificativa $aralioÍ lgollie de 1964.
.)

começando,a: plantação. .-:. .:/; oi!: ;'!Íjtb 'jb

28
Inicia-se um período de incerteza em re- Desde que todos estejam unidos e se esforçando, a
laçãoà economiae à política(governode Jogo sociedade está em harmonia. O que dá a entender é
que a vida é boa, os homensé que a fazem ficar ruim.
Goulart). Greves e conflitos sucedem-se. A 31
de março de 1964 houve a Revolução" (215. SÓ que são todos os homens,uma vez que não existem
P. 56). classes sociaispara o livro dídático. De vez em quando,
Antes (de 1964), a ameaça de revoltas, homem desliza e daí ocorre um desequilíbrio. Portanto,
lutas de classe, a discórdia semeada entre os esta harmonia depende da disponibilidade humana in-
brasileiros'' (22, p. 118). dividual.

Esta foi a única vez que a palavra greve e luta de


"UMA ORQUESTRA DIFERENTE
classe apareceu. Conflito é considerado antânimo de so-
Vi na televisão. Gostei e conto para vocês.
Cada instrumento da orquestra se achava
lidariedade
iva
e recebe, portanto, tina conotação pejora- mais importante do que o outro.
O piano, então, com todo aqueleteclado
Nada destemundo vale uma briga'' (315, branco e preto, tocava de luvas, com a maior
P. 111). '
vaidade .
E caçoava do triângulo, só porque ele é pe-
A única vez que fica claro o conflito patrão-empre-
quenino e modesto.
gado é quando se trata do trabalho escravo. Mas, como Pistão, trombone, clarineta, harpa, bumbo,
será comentadomais adiante, era um trabalho injusto, todos falavam. Cada qual a seu favor.
a partir da abolição dos escravos todos os brasileiros fi-
Até que apareceu o maestro. É o homem
caram iguais. Isto nos faz concluir que a partir daí o que regea orquestra.
trabalho não é mais injusto. Quando apareceu em al- Terminou com a briga dizendo:
gum textoum patrãoinjusto,ele foi punido; os outros 'Todos são importantes. Desde que façam
patrões devem ser todos bonzinhos, justos. bem sua obrigação e se harmonizem uns com os
Outros conflitos importantesna História do Brasil outros
aparecem camuflados, enfatizando o herói que enfren- A comunidade não deixa de ser uma or-
tou o inimigo em defesa da Pátria. '
questra.
Tão grande sacrifício Diferente, mas é. Precisa de bom desem-
Não foi em vão. penho pessoal de cada um dos seus membros.
Foi heróico prenúncio Mas precisa também que todos se entrosem.
De independência Um bom médicotem que saber curar as
moléstias e conservar a saúde.
Da nossaNação!
Mas precisa se entendermuito bem com
Salve Tiradentes.
Herói dos Inconfidentes! todos que trabalham no hospital, com o próprio
(22, P. 64) doente e sua família.
30 31
E isto se repete em cada profissão: forço individual: a sociedade só desafina se o homem
Ou se faz assim, ou a orquestra desafina" quiser; mas, qual homem? Para o livro didático, não
(13, P. 41). existemas condiçõesdadas, tudo vem do céu para a ter-
ra e não da terra para o céu. Vontade aqui também é
No entanto, a sociedade capitalista caracteriza-se
a-histórica. O que permite concluir que o homem tem
pelo aguçamentodas duas classes sociais (burguesiae
proletariado em constante conflito, devido a seus inte- a sociedade que merece.
resses antagónicos), classes estas em formação e cada Mas como já vimos (texto 11, p. 37), nem sempre
vez mais antagónicas desde a dissolução das comunida- é o homemque faz a história,às vezesas coisasacon
des primitivas. tecem por acaso. Os verbos surgir e aparecer são muito
usados no seu caráter impessoal justamente porque não
''Até hoje, a história de todas as sociedades que há processohistórico. De repenteocorre algo, o homem
existiram até nossos dias tem sido a história das faz algo, sem nenhuma explicação, mesmo sem ter pen-
lutas de classes" (MARX e ENGELS, 1977, sado e sem ter tido vontade
P 21)
Outro recurso gramaticalusado para transmitir a
O livro didático pretende, portanto, um equilíbrio a-historicidade é a oração sem sujeito ou com sujeito in-
social impossível, enquanto a sociedade for dividida em determinado. Seja através da partícula ''se", seja atra-
classes. Ele não propõe nada para o futuro diferente vés do uso da terceira pessoa.
do paraíso que já temos hoje. Enquanto que para a con-
:Houve necessidade de uma maior quanti-
cepção marxista se espera no futuro a vitória do prole-
dade de alimentos'' (ll, p. 37).
tariado, a abolição das classes sociais e a libertação do
homem através do trabalho. " . . . proclamou-se a República'' (25, p. 1 18)
''A 31-03-64, houve a Revolução'' (215,
Desta forma, o homemé histórico. faz a História
em condiçõesdadas; mas para o livro didático ele é P. 56).
a-histórico, é apenas um ser biológico confundido com Quem fez esta revolução? É como se, de repente,
outros seres (vivos, naturais), apesar de apresentaralgu- uma revoluçãoacontecesse. Esta é uma mensagemcons-
mas diferenças. tante no livro didático: nem sempre é o homem que faz
as coisas.
Crescemos como as plantas. Sentimos e
aprendemos como os animais. Mas raciocina- ''As fábricas servem para transformar os
mos e temosvontade. Por isso somos seres hu- produtos em alimento, vestuário . . . " (29, p. 44)
manos" (13, p. 8). ''O minério é extraído com máquinas,

No entanto, estas diferenças e suas conseqüências


transportado para a indústria siderúrgica, trans-
não são explicadas. Já que o trabalho é natural de todo formado em aço. . ." (28, p. 38).
ser vivo, onde está a vontade do homem? A vontade. Não é explicitado quem faz estas atividades. Assim
como já pudemos verificar, está relacionada com o es- como para a teoria fisiocrática
32 33
"a indústria nada cria, somentese limita a trans- vendcndchos aos fazendeiros nordestinos. Que
formar os valores que a agriculturaIhe fornece, triste página! Índios acostumadosa viver livres,
como não acrescentao menor valor a estes valo- nas matas, eram arrancados de suas tabas e obri-
res senão que se limita a restituir seu equipa- gados a trabalhar nas lavouras! Sem liberdade,
mento sob uma forma distinta" (MARX, 1978, longe dos seus, adoeciam e morriam'' (21,
P 45) P 27)
'Éramos um povo selvagem, de outra raça,
Quem é o sujeito da História? Quem trabalha? de vida muito primitiva. Vivíamos em plena
Quem transforma a natureza? Quem faz a indústria fun- liberdade, reunidos em grupos, as tribos. Tínha-
cionar? A partícula "se" e o uso da terceira pessoa ga- mos incapacidade para o trabalho regular'' (22,
rantem que estas perguntas não sejam respondidaspre- P 21)
cisamente, senão (abstratamente) impessoalmente como
estes recursos gramaticais o são. Por quê?
Os índios viviam com um outro modo de produção,
onde o trabalho tinha finalidade diferente daquela que
2. Quem trabalha? estava sendo imposta pelo colonizador. O índio, assim
como toda a sociedade primitiva, caracteriza-se pela pro-
Ao mesmo tempo que o trabalho é tudo para todos
os seres vivos e principalmente para o homem, o livro dução do valor de uso que é planejado,feito e apropria-
dídático destaca somente alguns homens que trabalham: do por todos. Por isso era tão difícil passar a fazer o
o negro, o imigrante, o homem adulto (casado). A crian- que o português determinava. Esta separação entre tra-
balho manual e intelectualainda não era uma realidade
ça, o velho, a mulhere o índio aparecemde forma sui
genems. para o índio: seu produto (o pau-brasil,a cana) não era
um valor de uso para a comunidadee, sim, iria servir
"Os índios têm costumes bem diferentes de valor de uso por meio da troca para o colonizador.
dos nossos" (32, p. 32). "Viviam, quando o No entanto, quando o livro didático dá o conceito
Brasil foi descoberto,quase da mesma maneira de trabalho,ele só enfatiza o valor de uso e não este
que os homens das cavernas. valor de troca (o "trabalho regular"). Talvez o trabalho
.4fé/zo/e vivem assim. Não conhecem o do índio pudesse explicar melhor o que é o trabalho
progresso nem precisam dele" (25, p. 29). produzindo valor de uso, mas dado o caráter abstrato
"Como era habitado (o Brasil) somente por como este é explicado, através do progresso e o índio
indígenas, e estes não tinham nada a perder, "não precisa dele", então o índio não trabalhava.
Portugal resolveu comerciar com o pau-brasil" ;Mas somos livresl Não estamos acostu-
(25, P. 117). mados a trabalhar como escravos" (22, p. 58).
"A falta de braços para trabalhar nas la-
vouras nordestinaslevou os paulistasa caçarem O escravismo do trabalho é só pessoal, 'não determi-
índios, escravizando-os para suas lavouras ou na as condições económicas diferentes da comunidade
34 35
indígena e da européia. Por que o índio não tinha nad,l los portugueses, como a língua, a alimentação,
para vender? Por que ele aceitou o trabalho no can:ll armas e utensílios. E quanta coisa aprendemos
viam?Porqueele era livre. Que liberdadeé esta? Aqui com elesl" (22, p. 21).
a liberdade é uma condição natural, individual: o índia "Já que os índios não serviam" (212,
é livre porque ele não vendesua força de trabalho,ele P- 74), "não se sujeitaram à escravidão. Revol
trabalha para sua sobrevivência. taram-se. Não estavam habituados a esse tipo
"Mas eis que intervêm os jesuítas, os pri de trabalho.
melros mestre-escolas do Brasil. Eles ajudaram Os colonizadores, então, começaram a im-
nossos silvícolas. Pregaram nas igrejas, conven. portar negros para o trabalho agrícola" (22,
Geram, enfim, os homens brancos de que os P 47).
índios deveriam ser deixados em paz. Os pau- Assim, o negro entra na história.
listas que a princípio foram despovoadores'dos Desta forma, o livro deixa transparecerque o ne
sertões brasileiros, por caçar indígenas, passa-
gro lá na África já desenvolviaeste tipo de trabalho
ram a outro mister que os cobriu de glórias'
(21, P. 27). Os negros, antesde chegaremao Brasil, já
eram escravos na África e o rei deles os vendia
E assim o índio sai da História do Brasil já que ele a quem lá os fosse comprar" (212, p. 74).
não pode trabalhar. Não se falará mais nele, a não ser
em alguns livros que no dia 19 de abril comemoram o No entanto o negro aqui não era bem tratado.
"Dia do Índio" com um texto simplório, falando de al- "Os negros eram escravos e moravam em
gumas características que sempre o ridiculariza.
péssimas construções, /zas selzzalas. Os negros
"Os índios viviam nus ou quase nus; usa- trabalhavam na casa grande (. . .) nos serviços
vam uma tanga, pintavam o corpo, enfeitavam- domésticos. Os será/lares de e/zgen/zoeram ricos
-se com cocares de penas e colares de dentes e poderosos e mandavam em toda a região''
de animais. (212, P. 50).
Ainda existemíndios em vários Estados do ''Escravizavam-nos. Faziam-nos trabalhar
Brasil" (211, p. 48). de sol a sol, sem conforto, sem direitos. SÓ de-
veres, castigos, cansaço" (22, p. 47).
Por mera concessãoo índio às vezes é lembrado
"Os negros vinham para cá, nos porões dos
como um dos povos que influenciaram.os costumesna- navios negreiros, muitos deles morriam durante
cionais.
a viagem'' (212, p. 74).
"Mesmo assim, nós ajudamos os coloniza- Você já pensoucomo era triste existir
dores nos primeiros tempos de nossa terra. Mui- escravidão no Brasil?. . . O escravo tinha que
tos usos e costumesnossos, que tornavam a vida fazer tudo o que o senhor quisesse. Tinha que
mais fácil na nova terra, foram assimiladospe- trabalhar, fazendo tudo o que mandavam. Não
36 37
podia ir aonde tivesse vontade, nem mudar de sil este momento.(Podemos agora entender por. que Rui
donos,por sua vontade. Não tinha horário para Barbosa destruiu toda documentação deste período. . .).
o trabalho, e podia, a qualquer momento,' ser Daí a abolição dos escravos ter apenas um caráter huma-
vendido, sendo separado de sua mulher e de nitário, Jamais economico.
seus filhos" (313, P. 42). O livro mais uma vez vai do céu para a terra ao
Notamos aqui claramente que ser escravo é nãi invésde ir da terra para o céu; é nítida a falta de per-
ser livre para vender sua força de trabalho. A frase "ter cepção dos interesses económicos -- a superestrutura
horário para trabalhar, podermudar de donode açor. (abolição) determina a si mesma (República).
do com sua vontade" talvez nos pemlita concluir qual 'Uma das conseqüências da libertação dos
se trata de trabalho livre ou pelo menos não se trata escravos foi a República, porque, com a aboli-
de trabalhoescravo. Esta idéia fica ainda mais clara ção, muitos senhoresde escravosficaram zanga-
quando lemos que a abolição dos escravos tornou os dos com o imperador e passaram para o partido
brasileiros todos iguais (3 15, P. 40) Iguais na cor não republicano'' (212, p. 75).
foi. Então, ficaram iguais em quê? Na verdade, tra-
ta-se da igualdade jurídica, fícaram iguais. ficaram li. A abolição dos escravos foi apenas uma grande
festa.
vres como os outros para vender sua força de trabalho.
" 13 DE MAIO
Livres das velhas relações de dependência, ser-
vidão ou prestação de serviço e livres, também, Viriato Correia
de todos os bens e propriedades pessoais, de O dia 13 de maio, data em que a princesa
toda forma real e objetiva de existência. livres
assinou a grande lei da abolição, foi o mais bo-
de toda propriedade" (MARX, 1975c, P. 104). nito dia de festa que já houve no Rio de Ja-
neiro.
O livro didático não está enfatizando o aspecto eco-
nómico, pelo contrário, nem o aborda. Liberdade aí é Nunca se havia visto tanta alegria, tanta
música e tantas flores.
totalmenteabstrata, é a liberdade individual burguesa.
Seu oposto é a escravidão que é sempre analisada mo. A cidade inteira veio para a rua festejar a
ralmente:o que é "bom" e o que é ';ruim" para o ho- liberdade dos nossos irmãos negros.
mem. Os negros choravam de alegria diante da
". . .Um grande número de pessoas achava
alegria do povo.
Ao terminar a assinatura, lsabel chegou à
injusto este tipo de trabalho" (ll, p. 40).
janela do palácio. A praça inteira, a uma só
É o único trabalhador do Brasil -- o negro escra- voz, aclamou o nome da princesa que acabava
vo.:T que foi maltratado. Todas as vezes que o livro de tornar os brasileiros todos iguais (315, p. 40).
didático fala nele é desta forma: ele era um coitado e As festas duraram dez dias. Durante dez
seu patrão um carrasco. Foi uma vergonhapara o Bra- dias o Rio de Janeiro e quase todas as cidades
38 39
n
do Brasil se iluminaram para festejar a liber- Acompanha esta estória (313, p. 22) um desenho
dade dos escravos" (315, p. 40). com o Juquinha -- branco -- e a cozinheira Joana --
Assim, o negro sai da história. Não se falará m
negra. baiana é outra negra que aparece além da Tía
nele. Assim como o índio, o negro tambémdeixou
fluêncías nos costumes nacionais. Nastácia e as cozinheiras.
''Esta é uma das figuras características e
Com o seu trabalho, muito contribuíram tradicionais que possuímos. Sua origem é afri-
para o progresso do país, e deixaram influên-
cana, como africanos eram todos os negros que
cias em nossos costumes" (211, P. 52). vieram povoar nossa terra.
. Depois da abolição, negro passa a ser um adjetiva
A baiana se tem celebrizadopela sua ma-
depreciativo. neira típica de vestir, que todos conhecemno
Brasil e até no estrangeiro,embora lá fora tenha
Então existe anjo preto? Ora, você não aparecido demasiadamente exagerada, com ares
sabia? Existem anjos de todas as cores no de fantasia de carnaval.
céu. . . Não fosse a auréola dourada sobre a A baianaé, quasesempre,vendedora
de
cabeça, todos pensariam que era um pretinho quitutes e gulodices como 'acarajé', 'abata',
vestidode anjo em dia de procissão" (31Í,P. 39). 'mungunzá'. e um ar folgazão, alegre, feliz e
tia Nastácia, negra de estimação. despreocupado que a faz querida e simpatizada
(315, P. 23). ' de todos.
Ela é, ainda, uma recordaçãoviva da ''mãe-
Ou caracterizando o trabalho doméstico; mesmo
-preta'' de outros tempos, dedicada, serviçal e
que o texto não explicite, a ilustração garante a trans-
missão do preconceito. amorosa para com o seu 'filho-branco' '' (315,
P. l l l).
Era essa algazarra que se ouvia todos A mulher em geral é discriminada no livro didáti-
os dias, em que a patroa tinha a infeliz idéia co. Sua função é ser mãe e cuidar da casa. A mulher
de ordenar à pobre cozinheira, Joana, que fizes- não aparececomo um ser humano normalque trabalha
se pastéis para o jantar.
para o progresso.
Tudo por quê? Porque entrou na cabeci- Foi encontradoapenas um texto onde a mãe tra-
nha do travesso Juquinha que havia de fazer um balhava fora. Era professora.
grande boneco de massa, para comer à hora do ''Luís e Luísa são gêmeos. Eles moram em
jantar. E não havia quem o tirasse da cozinha
nessas ocasiões! vila verde. Moram no conjunto da fábrica de
tecidos. O pai de Luís e Luísa é operárioda
Pobre Joana! Dia de pastéisera dia de fábrica de tecidos. A mãe deles é professora
confusão." da Escola Tíradentes" (213, p. 72).
40 41
dentro de casa e este é o seu tra-
Algumas vezes fala-se que a mãe estuda. ça sempre seu papel fazer algumacoisa. O
galho: já que trabalho significa
A mãe de Raimundo trabalha em casa. o trabalho doméstico nao é colocado enquanto salário
dia inteiro.À noiteelavai estudar.Ela fre- indireto e para camuflar tal exploração ele é valorizado
qüenta o turno da noite da Escola Princesa lsa. moralmente enquanto função
natural (sic) da mulher,
bel" (213, p. 62). assim como o amor.
Poucas vezes a mulher não aparece como mãe e daí ''TODO TRABALHO ENOBRECE.
ela tem algumaprofissão. Mas é apenas citada em lis. Minha mãe
tas de profissões,no feminino. Trata-se sempre daque- Protege-me noite e dia
]as profissões tipicamente femininas : enfermeira, borda. Na tristeza, na alegria
doira, vendedora, bibliotecária, professora, datilógrafa, E mais ainda na dor.
costureira, cozinheira, diretora de escola, baba Quando vai me repreender
O algodão era fiado e trabalhado nas Por não cumprir meu dever
casas pelas mulheres" (21, p. 27). Sei o que deve sofrer
''As negras trabalhavam na Casa-grande . Pois julgando ver rancor
no serviço doméstico" (212, P. 50). Fito seus olhos com dor
E nelessó leio amor'' (21, P. 83).
As mulheres que se destacaram na História apre-
sentada pelo livro didático foram: a Princesa lsabel 'e a Será que amar tambémé um trabalhoque eno-
brece?
''ANA NERI dedicou toda sua vida em A mãe cuida dos filhos (ll, p. 39), limpa a casa
atender aos feridos e doentes, motivo pelo qual
é conhecida como a 'Mãe dos Brasileiros' " (ll,

A mulher é sempre lembrada no dia das Mães.


18)
Tudo que somos e tudo que seremos, de- A mãeé a fada e a rainha do lar.
vemos a nossa mãe" (211, p. 5í). 'Mãe não tem limite, é tempo sem hora'
Nesta função a mulher é sempre valorizada. Desta (315, P. 38).
forma, o livro didático apresenta a mulher como repro- "Mamãs é a fada da casa. Ela cuida de
dutora da força do trabalho seja enquanto procriando, tudo e faz a gente feliz" (12, p. 13).
seja enquanto cuidando da manutençãodo lar. Mesmo
quando a apresenta fora de casa trabalhando. não Ihe
É importante deixar claro que a posição da mulher
dá destaque,nem a valoriza. Desta forma o livro des- na sociedade capitalista é bastante diferente da mulher
em sociedades anteriores. Seu papel sofreu as altera-
conheceo papel da mulher também na produção, refor-
43
42
ções necessárias à sua adequação ao modo de produ. . o homem adulto discriminará, ele mesmo, as mulhe-
çao vigente. res e as crianças.
Se Engels disse que
Na sociedade primitiva o trabalho doméstico exerci-
do pela mulher era uma função pública tão necessária "a emancipação da mulher só se toma possível
e importante quanto a atividade masculina de prover quando ela pode participar em grande escala,
alimentos, uma vez que não existiam classes sociais e em escala social, da produção, e quando o tra-
que se produzia para a coletividade. Não havia hierar- balho doméstico Ihe toma apenas um tempo in'
quia, até que a troca passou a determinaro que é o tra- significante'' (ENGELS, 1975, P. 182)
balho produtivo. Nesse momento, a mulher torna-se in-
e hoje já temosestas condições,por que ainda não ve-
ferior ao homem por. não produzir excedentepara a tro- mos a emancipação da mulher?
ca com o trabalho doméstico. '
Não a vemos, assim como não vemos a emancipa'
Eis a origem da discriminação da mulher que as- ção do homem. É só .agoracom a grandeindústriaque
sume características específicas na sociedade capitalista; -- apesar da concorrência num primeiro momento
nesta o capitalista pode explorar todos os membros da
família. Desta fonna mulheres e crianças entram tam-
bém para a produção, e o marido que antes vendia
e a do homem.
sua própria força de trabalho,da qual dispu- Hoje a mulher está na produção e.antes ela não es-
nha formalmente como pessoa livre, agora vende tava. Se ainda algumas mulheres cuidam apenas. dos
mulher e filhos. Torna-se traficante de escra. afazeresdomésticos,isto revela que o proce1lsode absor-
vos'' (MARX, 1975, p. 451).
ção desta força de trabalho marginalizada durante sécu-
Se ainda existe o mito da especialização enfatizado los, ainda não se realizou plenamente. Ao mesmo tem-
pela.escola e isto garante o domínio do capital, da mes- po esta situação serve ao capital, .na medida que contra'
ma forma existeo mito da mulher e da crianca com a bui para engrossaro exércitoindustrialde reserva,ga-
mesma finalidade rantindo a concorrência entre os trabalhadorese o re
baixamento dos salários, enfim, o domínio do capital. ..
.A exploração .da mulher que antes era a explora- Além do trabalhodo índio e da mulher, o livro .di
ção pelo marido, já que era sua escrava e dependiadele dático também dá um tratamento sui generis ao "tuba
para tudo, com a grandeindústriaa mulherpassaa ser balho'' da criança: o estudo.
explorada também diretamente pelo capital. E sua en.
trada no mercado de trabalho '(assim como a entrada ''O TRABALHO
da criança)significao rebaixamento do valor da força Não ando à-toanas ruas,
de trabalho e é por isso que interessa ao capitalista É tão feio servadio
.
Desta
v-'-'a
fo
-v-"ía, çuln o consequente abaixamento dos
Encontro na minha escola
salários, a concorrência entre os' trabalhadores aumenta Trabalho honestoe sadio
44 45
Quem desempenha a contento É preciso trabalhar.
Seus deveres de estudante Não nasce a planta perfeita,
Está prestandoao Brasil Não nasceo fruto maduro.
Um trabalho relevante" (314, P. 40). E, para ter a colheita
Quando a criança está estudando, ela tam- É preciso semear. . ." (ll, p. 38)
bém está se preparandopara a vida adulta. É O livro didático ignora a criança que não está na
importante estudar. Estudando e brincando. a escola. Aquela que não foi estudarpor falta de vagas,
criançaprepara-separa o trabalhoda vida adul- por morar longe da escola, porque trabalha ou aquela
ta. . . Complete: Quando
}
eu estudo estou que abandonou a escola por repetência, migração dos
Resposta correta apresen- pais etc. A criança tem sempre uma família que a ali-
no livro do professor: ''trabalhando" (24, menta,que Ihe dá amor etc. Ela ajuda a mãe na ma-
P. 118-19)
nutençãoda casa (principalmente as meninas) e, às vezes,
Vemos aqui o exercício reforçar e garantir a trans- os meninos ajudam o pai no fim de semana, quando
missão dé um conteúdo que nem' sempre está explícito não têm aula. Sempre que se fala em criança, se fala
no texto que o acompanha. Assim como vemosnova- em escola.
mente valores essencialmente moralistas (feio, vadio. ho- "A casa e a escola são meu tesouro."
nesto, sadio) que definem o trabalho. ''
A criança apl'esentada no livro didático não tem A criançae a famíliaque aparecemno livro didá-
um papel social enquanto criança, enquanto ser huma- tico reproduzemos valores da pequena burguesia; prin-
no hoje; ela está se preparandopara' o futuro adulto cipalmente no que se refere à vida no lar, valorização
(ver Mazzotti, 1978 que estuda a ideologiada infância). da casa etc. A criança operária, a criança que trabalha,
'0 TRABALHO não aparece. O trabalho da criança é o estudo e para
ter uma profissão é necessário estudar (será comentado
Olavo Bilac mais adiante).
Tal comoa chuvacaída A família "é o mais antigo agrupamentohumano e
Fecunda a terra, no estio. a base da sociedade" (ll, p. 18).
Para fecundara vida.
E o livro didático restringe a sociedade a esta vida
O trabalho se inventou.
familiar (ver SNYDERS, 1977, p. 89).
Feliz quem pode, orgulhoso,
Dizer: -- Nunca fui vadio. "Seu rosé trabalha para o sustento da fa.
E, se hoje sou venturoso. mília.
Devo ao trabalhoo que soul Ele é o responsável
pela família. Dona
É preciso, desde a infância, Mana cuida da casa e das crianças.
Ir preparando o futuro; Lúçia tambémajuda. Cuida de suas rou-
Para chegar à abundância pas, do seu material escolar e auxilia a mamãs
46 47
a conservar a casa bem arrumada. Ela ainda "Papal, eu admiro
toma conta do Francisquinho, o irmão menor" Sua luta pela vida,
(214, P. 34). Seu esforço no trabalho
Procureouvir as pessoasde sua casa, e Seu amor e dedicação
ouça com reserva as pessoas de fora, por que só Aos filhos queridos'' (21, p. 88)
os teus familiares têm interesseem você"(Coe- O livro didáticofala num outro trabalhadoralém
lho Neto, 11, p. 62). do pai e o negro, é o imigrante.
A família protege o indivíduo. SÓ ela é capa 'Gente de outroslugarestambémquis vir
disso. Cada membro tem uma função bem definida.
para o Brasil: o italiano,o alemão,o japonêse
Diferente da sociedadeprimitiva, onde além do hc muitos outros.
mem e da mulher, as crianças também desenvolviam a E aí ainda ficou melhor!
'cidades de igual importância. A partir dos 7 anos
Na lista de chamada das escolas, nomes di-
crianças ajudavam os pais de acordo com sua capacil
dade. ferentes começaram a surgir: Vitor, Walter,
Kitíê
''A educação não estava confiada a ninguém em Que brincavamcom Mana, Iracema e Ana.
especial, e sim à vigilância difusa do ambien- No trabalho surgiram as gráficas, as máqui-
te. . . a criança adquiria a sua primeira educa- nas pesadasde abrir estudas, as plantas cuida-
ção sem que ninguém a dirigisse expressamen- das como crianças.
te. as crianças se educavam tomando parte E na cozinha, comidas gostosas: macarro-
nas funções da coletividade. E, por que toma-
nadas, tortas, cuscuz, quibe. . ." (12, p. 45).
vam parte nas funçõessociais,elas se manti-
nham. não obstante as diferenças naturais, no 'A IMIGRAÇÃO ESTRANGEIRA
mesmo nível que os adultos" (PONCE, 1963, Era grandea falta de trabalhadores
em
P. 16-7). nossas fazendas de café. O trabalho era quase
A atividade económica da criança não era estudar
todo feito pelos escravos, mas com o tempo o
nem a da mãe era economizar.
número destes diminuía enquanto que as plan-
"Papal trabalhou anos para juntar dinheiro tações aumentavam sempre.
Até que conseguiu. Mamãs também ajudou, Alguns fazendeiros procuravam resolver o
fazendo economia. Todos estavam contentes" problema empregando trabalhadores livres que
(13,. P. 21). mandavam buscar na Europa.
Apesar de o livro didáticodizer que todo hóme O imigrante contribuiu com seu trabalho
trabalha,a ênfasedadaao pai é bem maior. No fun para o progresso do Brasil'' (212, p. 83).
o trabalho da mãe e da criança são diferentes do sel
O pai é o chefe da família (ll, p. 49), sustenta a c: Mais uma vez o livro não mostra o processo histó-
(210, p. 34) e a converta (24, p. 97). rico. Por que os imigrantesvieram? O que estavaacon
48 49
tecendo em sua terra? E aqui? Mais uma vez o textQI desenvolvem. Ela não está relacionada ao desenvolvi-
mostra o trabalho como algo espontâneo, natural. mento das forças produtivas, tendo origem em fatores
Quem não trabalha no livro didático além do índio. económicos e determinando a existência de classes
é o velhoe a velha. sociais.
Ela faz trica é ele lê jornal" (27, p. 45).
3. A divisão do trabalho
Apesar de terem um "passado de trabalhoe de tu.l
tas'' (13, p. 24) e saberem das coisas (24, p. 42, 314, p.l Na verdade, o livro só quer apresentar o caráter
88, 312, p. 126), contaremestórias (315, p. 22, 111), osl positivodo trabalho,sua finalidade:o progresso. Por
velhos são um peso, dependem dos outros, dos mais novos. incrível que pareça, não é dada tanta ênfase, quanto se
O velho não trabalha, e quando ele aparece nosl espera, à realização pessoal pelo trabalho. Ou melhor,
livros didáticos, é sempre tratado moralmente e jamais ela é apresentada discretamente assim como o indivi-
como aquele que não tem mais condiçõesde produzir dualismo. Na verdade, o livro valoriza a cooperaçãoea
para a sociedade capitalista. Na verdade este moralis.l solidariedade (como soma de indivíduos), aparentemen-
mo dissimula o velho enquanto consumidor e não pro.l te repudia aquele que só pensa em seus interesses.
dutor, criado pelo capital; afinal, ele já foi um tuba.l Progresso e cooperação estão juntos.
Ihador. . ., teve um "passado de trabalho e de lutas'
"0 progresso depende do trabalho conjun-
-- Porque estou velho e sem forças. to das pessoas" (210, p. 17).
Não tenho quem me ajude. Hoje nem pude ir
''Para um país progredir é necessário que
buscar verduras para comer. A nossa casa está
suas riquezas sejam transformadas. Para isso, é
cheia de goteiras.
preciso que a maior parte de seus habitantes
Amoreco ouviu tudo calado e resolveufa-
trabalhe" (ll, p. 41).
zer uma surpresa para sua mãe. Procurou o ma- "As pessoas trabalham em atividades e fun-
caco Fenícioe os dois combinaramfazer uma
ções diferentes para se ajudarem uns aos outros
casa nova para a mãe de Amoreco. . .'' (32,
e fazerem a cidade progredir'' (211, p. 20).
P 24)
'0 trabalho e a cooperação de várias pes-
O livro didático acaba confundindo os alunos. O qual soas contribuíram no passado para o melhora-
é trabalho então? eles devem perguntar. Estudo é tra mento do município e continuarão contribuindo
banho,cuidar da casa é trabalho, trabalho escravo é tra. para isso no futuro" (211, p. 40).
galho, mas o trabalho para o sustento da casa. é maisl
trabalho? E o índio que só cuidava de suas coisas paul O que se quer explorar aí é a cooperação. Tam-
seu sustento, não é trabalho? bém fetichizada. A cooperaçãojustifica as funçõesdi-
A divisão do trabalho também é a-histórica, é a di ferentesque para o livro didátíco não se chama divisão
visão na família. A divisão na sociedade é a coopera'l do trabalho. A soma do trabalho de cada um dá um prc-
ção dos pais através das diversas profissões que elegi duto comum: o progresso.
50 51
O trabalho de cada um nos ajuda a viver "Todos nós devemos ter uma profissão.
melhor" (213, p. 31). Tendo uma profissão, você não só estará traba-
lhando para seu próprio benefício como também
Portanto, o livro didático ocultando o que é real- para o benefícioda sociedadeem que vive"
mente o trabalho na sociedade capitalista, o fetichiza, o (l 1, P. 37).
torna natural e o faz adquirir as característicasde uu "Todas as profissõessão iguais em impor-
outromomento
histórico. A divisãodo trabalhopor tância" (24, p. 22).
sexo, idade, profissões, campo e cidade, manual e inte- "Todas as profissõestêm igual valor'' (24,
lectual, está calcada no caráter subjetivo do trabalho. P 23)
Cada um desenvolve uma atividade e todos cooperam "É preciso haver profissões diferentes, para
para o progresso. A cooperação não se dá no processo o mundo funcionar bem" (24, p. 115).
de trabalho mas na soma de atividadesindividuais. O in-
divíduo é sempre enfatizado. A cooperaçãonão é im- Profissão aqui é vista como na divisão manufatu-
posta pela máquina, o livro didático fala na cooperação reira do trabalho, onde cada indivíduo é especializado
voluntária, uma meta a ser alcançada. A cooperação em uma das atividades dos diversos ramos da produção
tem também um caráter moral, de ajuda mútua, quando em que está dividida a sociedade; especialização em de-
sabemos que na sociedade capitalista a cooperação no terminada tarefa e a habilidade do trabalhador eram o
trabalho não é voluntária, não tem um poder próprio, é que garantia a maior produtividade. Neste período, sim,
a profissão e o seu desempenho eram de fundamental
:um poder alheio, situado à margem deles (tra- importância.
balhadores), que não sabem de onde provém
Hoje, a divisão do trabalho caracteriza-sepor:
nem para onde se dirige e que, portanto, não e
podem dominar, o que implica, pelo contrário, Trabalhador principal: ocupado com a máquina --
numa série de fases e etapas de desenvolvimento feri'amentas,toma conta da máquina motriz e a ali-
menta.
peculiar e independente da vontade e dos ates
dos homens e que inclusive dirige esta vontade e Auxiliares do trabalhador principal(em geral crian-
ças) .
e estes atos'' (MARX e ENGELS, 1972, P. 36).
''As pessoasfazem trabalhos diferentes. As Controle: trabalhadores,pouco numerosos,de nível
pessoas dependem umas das outras. Na comuni-
superior, que estão agregados aos trabalhadores da
fábrica e "sua divisão de trabalho é puramente técni-
dade todos se ajudam'' (213, p. 9). ca" (MARX, 1975, p. 480-81).
Estas atividades individuais diferentes, porém, de "A habilidade especializada e restrita do
igual valor, cuja soma leva ao progresso, são as profís- trabalhador individual, despojado, que lida com
soes
a máquina, desaparececomo uma quantidade in-
''Profissão é trabalho especializada, com o finitesimal diante da ciência, das imensas for-
qual a pessoa ganha a vida" (21, p. 83). ças naturaise da massa de trabalhosocial, in-
53
corporadas ao sistema de máquinas e formando "Todos os ensinamentos que você aprende
na escolaserão úteis para a sua profissão" (ll,
com ele o poder do patrão" (MARX, 1975,p. n \hl

Mas, a escola não é tudo, o sucesso do indivíduo de-


Agora a habilidade individual perde o seu valor já pende do seu esforço, é a teoria do esforço pessoal, do
que o trabalhoé cada vez mais simplificado. Não há self-made-man,enfim, a ênfase no individualismo, o que
necessidade de usar qualquer faculdade física e mental. inculca na criança da classe operária que se ela não
seu trabalho se torna acessívela todos" (MARX e EN- consegueé por incapacidade sua.
GELS, 1977, p. 79). Assim a maquinaria substitui o tra-
balhador especializado pelo não especializado "substi- Com interesse, atenção e participação,
tuindo os homens pelas mulheres e os adultos pelas crian- você obterá sucesso nos estudos e poderá ser,
ças" (MARX e ENGELS, 1977, p. 80). A ênfase dada à no futuro, uma pessoaimportantepara a comu-
necessidadede se ter uma profissãoé de caráter ideoló. nidade'' (ll, p. 5).
giro, disfarçando a divisão social do trabalho. Mesmoque em algumaspassagenso livro didático
Está aí o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de fale do papel da família na educação das crianças, é a
Serviço -- Lei 5. 106/66), que permite a rotatividade escola a verdadeira responsável. Ela prepara a criança
dos empregados não só de uma empresa para outra para a vida, para o futuro, para sua profissão,para con-
empresa como também de uma atividade para outra. tribuir para o progresso da nação.
O trabalhador aprende fazendo. As profissões que ain-
"Na escola você pratica um ato de civismo,
da são valorizadas como especialidade de um indivíduo estudando com amor e dedicação. Os ensina-
são justamente aquelas que ainda não perderam total- mentosque você recebe na escola Ihe darão
mente o caráter subjetivo, são as atividades de controle.
uma boa formação moral, cívica e cultural.
aprendidasnas escolas. Uma das funçõesda escolana
Assim, futuramente, você terá uma profissão
sociedade capitalista é forma: o intelectual da produção.
que Ihe ajudaráa progredir. Com isto você
Com o desenvolvimento da máquina, já se pode também estará colaborando para o desenvolvi-
prescindir das características individuais do trabalhador. mento do seu país" (ll, p. 35).
No entanto, para o livro didático, a escola desen- ''Aqueles que estudam hoje estão contri-
volve estas característicasindividuais e prepara a crian- buindo para o progressodo país, pois serão os
ça para sua vida futura. O papel da escola também tem dirigentes e grandes profissionais do futuro"
uma conotação moral abstrata. É como se a educação (ll, P. 49).
escolar nada tivesse a ver com o desenvolvimento eco-
Notamos a relação estreita entre sucesso pessoal e
nómico; é a educação do indivíduo em abstrato, para
educação: escolar, profissão-escola-progresso. E aí passa
ele ser um bom homem.. . Apesar de que, de acordo aquela idéia: da ascensão social via escola. SÓ quem .es-
com o livro didático, tudo que se aprende na escolaser-
virá para sua vida. tuda vence na vida, só quem estuda sabe das coisas.
54 55
"Nem chuva cai de presente. O homem É com o aparecimento das classes e seus interesses
do campo costuma dizer que é presente do céu, antagónicos que
mas você, que estudaciência, sabe o ciclo da
chuva'' (13, p. 44). "o processo educativo, que até então era único,
sofreu uma participação: a desigualdade econó-
O homem do campo tem abandonado a
lavoura, buscando nas cidades melhores condi- mica entre os 'organizadores' -- cada vez mais
ções de vida. Infelizmente nem sempre ao che- exploradores -- e os 'executores' -- cada vez
gar nas cidades encontra estas condições, por mais explorados -- trouxe, necessariamente a
falta de emprego, habilitação e quase sempre, desigualdade das educações respectivas . . . Cada
falta de estudo" (212, p. 36). 'organizador' educava os seus parentes para o
desempenho
do seu cargo. . . para os que nada
Quando o livro didático fala em educação, esta está tinham, cabia o saber do vulgo; para os afor-
associada ao trabalho, à vida e ao progresso, reforçando tunados, o saber de iniciação" (PONCE, 1963,
sempre a idéia da ascensão social e do sucesso pessoal P. 2+25).
na escola. O professor é supervalorizado, como respon-
sável pela transmissão destes conhecimentos necessários Desta forma, a educaçãonão é mais integral (aque-
ao preparodo aluno. les que íam se liberandodo trabalho manual não ensina-
vam seu conhecimento para garantir sua dominação co-
'0 professor é o nosso maior amigo'' (211,
P- 58). mo organizador)nem espontânea(passaa ser coercitíva).
"A escola é a continuação da família e o
Assim como a mulher se torna inferior ao marido, pois
nosso segundo lar'' (210, p. 40). não faz um trabalhosocial produtivo(que permitea
São os professoresque, com amor e cari- troca), em função da educação, a criança torna-se infe-
nho, nos educam e nos instruem, preparando- rior ao adultopois estejá conheciasua tarefae aquela
nos para enfrentar a vida. Por isso, depende não(iniciados x não iniciados).
deles o futuro da Pátria'' (211, p. 58). É com o desenvolvimento da sociedade que a edu-
cação vai assumindo características diferentes, porém,
Jamais a educaçãoestá relacionadacom a base ma- apesar da autonomia relativa de que goza, seu objetivo
terial e sendo determinada por ela. O livro didático é manter a sociedade como está: lutar contra as tradições
desconhece o processo histórico, desconhece também a
interiores,inculcar üs idéias do dominadore reprimir
ação recíproca entre infra e superestrutura, a determina-
a rebeldia do dominado (PONCE, 1963, P. 24).
ção da ínfra-estrutura e a autonomia relativa da superes-
trutura. Desconhece que na sociedade primitiva a edu- O livro didático não a vê desta forma; para ele,
cação era uma função espontânea(pois não existia ins- a educação escolar é um valor de uso, um investimen-
tituição destinada a inculcar seus membros) e integral to para o futuro: garante uma boa situação económica,
(todos os membros aprendiam tudo). através de um bom emprego.
56 57
;0 incêndio medonho destruiu tudo. fica- "Antigamente só existia trabalho manual; com o
mos pobres. E Comoeu não sabia fazer nada, desenvolvimento da inteligência humana, surge
agora vivo de esmolas. a indústria e a partir daí o homem começou a
Otávio pensou: Tinha razão minha mãe. desenvolver cada vez mais o trabalho intelec-
que dizia: tual" (ll, p. 37).
-- O estudo é um tesouro. E um tesouro
A discriminação do trabalho manual serve aos in-
que ninguém consegue destruir. Hoje estou for- teressesdo capital,mantendoa hierarquiapara garantir
mado e arranjo emprego com facilidade'' (34, um melhor controle. Pois sabemos que hoje, com a sub-
P 88). sunçãoreal do trabalho ao capital, a diferença entre tra-
A escola da sociedade capitalista, dadas suas pró- balho manual e intelectualestá na perda total do cará-
prias características, separa o "homo faber" do "homo ter subjetivo do primeiro e ainda sua permanência no
sapiens". O livro didático faz isto de forma brilhante: segundo; no entanto, ambos são trabalhos produtivos
discrimina o trabalho manual e valoriza o trabalho in. (MARX, 1975 b, P. 226).
telectual. Para o livro didático, o trabalho intelectual é mais
moderno,vem com a indústria; o trabalho manual existe
"Existe dois tipos de trabalho: na figura l desdeantesda indústria,ele é antigo. C) exemplo do
(lavrador de chapéu, camisa aberta e calças trabalho manual (como já foi citado -- 11, p. 37) é o
compridas revolvendo a terra com uma enxada), trabalho do campo, que também é discriminado.
o homem desenvolve o seu trabalho com as Eis como o caboclo, um dos ''tipos humanos'' do
mãos. O trabalho desenvolvido com as mãos
nosso Estado aparece.
chama-se trabalho manual. Na figura 2 (exe-
cutivo de terno e gravata sentadoatrás da mesa "Cabocloé.o trabalhadorda roça. É o ho-
de escritório com um papel na mão e outros mem simples, queimado do sol, chamado de cai-
sobre a mesa), o homem trabalha com o esforço pira'' (212, p. 36).
de sua inteligência.Este tipo de trabalhocha- A divisão campo-cidade repousa sobre o ]oca] on-
ma-se trabalho intelectual" (ll, p. 37). de o trabalho é desenvolvido, assim como a divisão ma-
nual-intelectual
repousa sobre o órgão do corpo que
Vemos que, para a ideologia da classe dominante,
executa o trabalho. Não se trata da divisão capitalista
a diferença entre trabalho manual e trabalho ''intelectual
do trabalho quando o trabalhador perde a visão do pro-
repousa sobre a parte do corpo que executaa atividade. cesso,seu trabalho está cada vez mais objetivado,não
Seria interessante se um aluno perguntasse: um escultor
faz trabalho manual ou intelectual? se apropria do produto por ele criado etc. A divisão
do trabalho no livro didático é uma questão de forma.
o a diferença entre o homem e o animal para
o livro didático é a inteligênciado primeiro, daí a valo- '0 trabalho das pessoas depende da comu-
rização dos trabalhos feitos com ela. nidade onde elas vivem" (213, p. 123).
58 59
''Mas tanto o trabalho num escritório, como zona rural como um todo. É como se todas as pessoas
o trabalho no campo ajudam você a viver'' (24, dO campo fossem pobres, simplesi atrasadas. É como
P. 1 14). não existissem classes sociais no campo
A vida no campo é diferente da vida na cidadel
No campo há dois tipos de trabalho.
também como uma questão de estilo de vida, de forma. "0 homem do campo tem dois tipos de tra-
A separaçãoentre campo e cidade não tem origem hiíl balho: pode ser um agricultor, quando planta e
tónica; o livro didático desconhece que colhe o que plantou. Pode ser um criador de ga-
'a mais importante divisão do trabalho físico e do, quando cuida do seu rebanho" (24, p. 121).
espiritual é a separação da cidade e do cam- O trabalho no campo pode ser primitivo ou mo-
po A contraposição entre cidade e campo derno.'
só pode dar-se dentro da propriedade priva- '0 trabalho do lavrador rende pouco e a
da. É a expressão mais flagrante da absorção
produção é pequena. Essa agricultura é chama-
do indivíduopela divisão do trabalho,por uma da primitiva ou de subsistência. Já na agricul-
atividade que Ihe é imposta, absorção que con- tura científica, empregam-se máquinas agrícolas,
verte uns em limitados animais urbanos e a
e o agricultor é assistido por agrónomos que
outros em limitados animais campestres, repro-
orientam no preparo do solo, a seleção de se-
duzindo diariamente este antagonismo de inte-
mentes, o emprego de inseticidas e outros recur-
resses" (MARX e ENGELS, 1972, p. 55-56).
sos. Assim a produção é maior, é melhor, e o
''Nas cidades grandes, os bairros apresen-
solo é conservado" (29, p. 31).
tam geralmente ruas asfaltadas, muitas casas,
praças e grande movimento de automóveis e O primeiro
pessoaspelas ruas. 'está pobre e mal vestido. Usa instrumentos
Na zona rural encontramos chácaras. sítios muito simples. Pratica uma agriculturaprimi-
e até grandes fazendas. tiva'' (24, p. 122).
O ar é mais puro, e a vida bem mais tran-
quila. O segundo
O pessoal trabalha bastante, mas não há "está sobre um tratar, apresenta-se forte e mais
muita agitação. . . bem vestido. Pratica a agricultura mecanizada"
Na cidade existe mais conforto, mais esco- (24, P. 122).
las, mais médicose dentistas"(25, p. 16). ''A agricultura mecanizada faz com que
poucos agricultores produzam bastante'.' (25,
Notamos que a principal diferença entre campo e P. 89).
cidade é o atraso do primeiro. Mas no campo, a vida
é mais calma. Rapidamente fala-se nas grandes fazen- Mais uma vez o trabalho aparece sob o caráter sub-
das que apresentam algumas características diferentes da jetivo, trabalho concreto. É como se individualmente o
60 61
lavrador decidisse usar a máquina ou não, aumentar ou ''No artesanato o trabalho é manual, exe-
não a produção. cutado um a um, com ferramentassimplese a
As classes jamais são mencionadas: existe lavradorl produção é pequena.
pobre que não usa tutor etc. e agricultorforte que se Quem executa é o artesão que atualmente é
veste bem, que pratica a agricultura mecanizada. Fala. considerado artista popular" (212, p. 28).
se comose o trabalhadordo campofosse dono da ter.
ra e dos instrumentos de produção. E o trabalho industrial também é manual?
Existe uma relação entre campo e cidade para o Como já foi mencionado anteriormente, quase sem-
livro didático. pre quandoo livro didáticofala da indústria,ele usa
a partícula "se" ou a terceira pessoa. Não se sabe quem
Os produtos dos sítios são enviados para faz e comose faz o trabalhoindustrial. Comose dá o
as fábricas e transfomlados" (213, p. 26). processode trabalho? Muitas vezes a própria indústria
O trabalho dos moradores do campo' é é o sujeito, ela é personificada.
muito importantepara a vida dos que.habitam
na cidade" (210, p. 24). ''Indústria é o conjunto de operações desti-
"Mas o trabalho do homem nas cidades é nadas a transformar as matérias-primas em pro-
bem diferente do trabalho do homem no cam- dutos adequados ao consumo e ao trabalho"
po. Nas cidades existem tarefas bem diferen- (212, P. 27).
tes e, por isso, bastante profissões" (24, p. 127). ''As fábricas servem para transformar os
produtos em alimentos, vestuário. . ." (27, p-
Além das profissões, o que é enfatizado na cidade
é o trabalho artesanal e o trabalho industrial. A dife-
27)
''Além de fabricar produtos para o nosso
rença entre eles também é quanto ao local onde é exe-
conforto, a indústria aproveita os recursos na-
cutado, mas agora aparece uma novidade: a diferença
está em quem o executa. turais e oferece trabalho para um grande nú-
mero de pessoas'' (29, p. 32).
;Antigamente, só havia o trabalho artesa- "A indústria de transformação é aquela
nal: os produtos eram feitos em oficinas, com que transforma... a indústria extrativa ex-
instrumentos simples e um de cada vez. Hoje, trai. ." (211, p. 29).
as máquinas das indústrias produzem em grande
quantidade, com maior rapidez, tornando o pro- O operário apareceu pouquíssimas vezes nos livros
duto mais barato" (29, p. 33). analisados.Mesmona comemoração
do Dia do Traba-
"0 artesanato é feito pelo artesão, e o tra- lho poucas vezes se falou nele. Fala-se nos trabalhado-
balho industrial é feito pela fábrica" (29, p. 33 res, e como só o índio e os velhos não trabalham, o dia
-- exercício). l.' de maio é o dia de todosl
62 63
"I.' de maio ''Muitos operários trabalham para construir
a fábrica de gelo. Agora muitas pessoasvão tra-
Dia do Trabalho balhar na fábrica'' (213, p. 56).
No dia l.' de maio, comemora-se,em todo ''Um parque industrial bem desenvolvido
o mundo, o 'Dia do :Trabalho'. exige uma série de condiçõesfundamentais: ope-
Neste dia, são homenageados
todos os tra- rário especializado, energia elétrica, máquinas
balhadores, os operários, lavradores e campone- e instalações próprias" (22, p. lll).
ses, os comerciários, os bancários, os profissio-
O patrão tambémaparecepouco no livro didático
nais liberais, enfim, todos aqueles que traba-
lham. Ele também desenvolve uma função.
Tudo que nós temosé resultadodo tra-
balho. "Tipos de funções

É o trabalho que cultiva os campos, cons- Empresários Trabalhador ou operário


trói cidades, faz estudas etc.
industrial industriário
Quemtrabalhaé útil a si mesmoe aos comerciário
outros. comerciante
O trabalho do aluno é o estudo. banqueiro bancário
Por isso, todos os alunos devem estudar fazendeiro colono -- volante --
para a grandeza de nossa Pátria" (210, p. 31). bóia fria"
(212, P. 36)
Talvez fosse mais difícil dizer que até o trabalha-
O trabalho, como é visto no livro, só vê a relação
dor-operáriose apropria do produto por ele criado. Co-
mo o livro didático sempre fala no trabalhador criandol homem-homemde uma forma: a cooperação. O traba-
lho sempre é visto como a relação homem-natureza, ca-
um produto que é apropriadopor ele e dividido poli
todos, como encaixar o operário aí? da homem desempenhandouma função, fazendo uma
atividade para modificar ou conservar a natureza para
Operário é quem tem a tarefa de fabricar o bem comum.
certos produtos'' (24, p. 20). "Cada vez mais seus habitantes vão se
"Para São Paulo progredir precisa de to- unindo no trabalho. Uns plantam, outros criam
dos: agricultura, operário, comerciante . . . " (25,
animais. Há também aqueles que constroem pe-
P. 151).
quenas indústrias onde se fabricam alimentoe
"Do trabalho do operário nasce a grandeza
roupas'' (317, p. 12).
das nações" (LEÃO Xlll -- 11, P. 39).
"São Paulo tem mais indústrias, portanto Mesmo assim, o livro didático deixa escapar alguns
emprega mais operários" (25, p. 151). textos que mostram a relação patrão-empregado.
64 UtJ
''A Secretaria do Trabalho e da Adminis- imigrantes vindos de todas as partes da Europa
fizeram do Sul uma região muito rica em dife-
tração cuida dos problemas relativos ao traba-
lhador. Resolve as questões entre patrão e em- rentes tipos humanos. Alguns mais caracterís-
ticos são:
pregado (direitos e deveres), no comércio, in-
dústria e na lavoura'' (212, p. 8). © O gaúcho.
''A patroa. . ordenar à pobre cozinheira' 8 O madeireiro dos pinhais.
(313, P. 22). O carreteiro.
O patrão, por castigo (havia fugido uma
rês) além de dar-lhe violenta surra, colocou-o Os tipos humanos característicos da região
quase morto perto de um formigueiro'' (Negri- norte
nho do Pastoreio -- 33, p. 35). Muitos são os tipos humanos da Amazõnia
Estas poucas vezes que foi encontrada referência ao que não são vistos em outras regiões do Brasil.
patrão, ele é visto como mau (existe também a mesma Dentre estes, os mais freqüentessão:
visão em relação ao rico). O texto moraliza-o assim cc- e O seringueiro.
mo faz com todosos personagens
que ''cometemin- e O regatão.
justiças e O pescador de pirarucu.
Patrão e rico são acusados sempre do ponto de vis-
ta moral;o trabalhadoré pobre e é valorizadopor isso. Os tipos humanos característicos da região
Quase que se pode concluir: é bom ser pobre desde que nordeste
trabalhe, coopere e se esforce. 8 O jalzgadeíro, como a calçara do Su-
Eis uma seqüênciados tipos característicosdo Bra-
sil, apresentado por regiões. Aqui também, quando apa- deste, mora em casebres construídos na praia
rece o patrão, ele está explorando o empregado. É im- É um pescadorque enfrenta com enormebra-
portante notar também o estado de miséria em que vi- vura o perigo do mar.
vem estes trabalhadores aqui descritos (26, p. 95). © O aguadeiro.
O vaqueiro do sertão.
''Os tipos humanos característicos do su- A baiana
deste
e Os barranqueiros do Rio São Francisco. Os tipos humanos característicos da região
e Os colonos dos cafezais. Centro-Oeste
e O calçara é o habitante do litoral.
Pelos campos e pelas florestas do Centro-
Os tipos humanos característicos da região sut .Oeste é comum encontrarem-se tipos humanos
bastante diferentes dos que conhecemos nas ci-
A colonização portuguesa misturando-se
com os indígenasna região e, mais tarde, aos dades. Entre esses,os mais curiosos são:
67
66
O garimpeiro. pescam de modo primitivo. Não têm aparelha-
O boiadeiro do Pantanal mento próprio e a pesca não está industrializa
O agregado." da" (21, p. 49).

O operário não aparece em nenhuma região. A divisão do trabalho no livro didático é, portanto,
O trabalhador é um herói! O livro didático super- UHa divisão de tarefas. Não existem as classes sociais,
valorizao trabalhador.Ele é um resignado.É pobre, o burguêse o proletário,o dono dos instrumentos
de
mora em barracos, seu trabalho é difícil, cansativo, até produção e o dono e vendedor da força de trabalho. Tch
na sua folga ele trabalha (26, p. 40). Quando este tra- dos trabalham! AÍ está a ideologiadominantecamuflan-
balhador abandona seu meio e vai para as cidades em do a realidade. A ênfase no indivíduo enquanto res-
busca de melhores condições de vida. ponsável pelo seu sucesso reforça esta dissimulação.

'Nem sempre encontra. . . acontece um fe-


nómeno triste, população marginalizada moran-
do em favelase em estado de miséria" (212,
P 36). CONCLUSÃO
"Uma favela é sempre marca do atraso, e
São Paulo é o Estado mais rico do Brasil. Não
deveria ter favelas. Mas tem'' (25, p. 108).
Com esta harmonia, sem conflitos, é vista a socie-
Mas a culpa é sempre sua. Ao mesmo tempo que o dade. Esta é sempre concebida igualmente: a-historica-
trabalhador é um herói, ele é o responsável pelo estado mente Os homens são todos importantes, desde que de-
de miséria em que vive mesmo quando sempenhemsuas funções solidariamente. Desta forma
as classes sociais são camufladas, a exploração do traba-
''23, de cada 100 paulistas que trabalham, lho é ocultada. Os trabalhadores
(que são todosos ho-
recebemmenosde Cr$ 400,00por mês" (25, mens)' unem-se pelo trabalho. O trabalho é penoso,
P. 79). mas o trabalhador é um herói. A produção é coletiva
Muitos textos repudiam a preguiça, a vadiagem e o enquanto soma de trabalhos (funções, profissões) indivi-
não-esforço pessoal. O que é transmitido é que se o duais e a apropriação do produto (o progresso) também
trabalhador quiser, ele consegue . é coletiva. A exploraçãodo trabalhode muitospor al-
guns não tem lugar no livro didático. Qualquer coisa
'Quem não sabe esperar,pobre há de se parecida que surge é vista como um desvio, uma injus-
acabar'' (311, p. 93). tiça e é punida. As características individuais (esforço,
"Se há tanto peixe no litoral, por que a força, interesse etc.) são enfatizadas, colocando sobre o
população é tão pobre? É porque os habitantes trabalhador a responsabilidade do seu sucesso.
68 69
não é ilusório, o que é ilusório é considerar a produção
Esta é a visão burguesaque encontramosno livro intelectual desligada da base material, com vida pró-
didático. Não se trata de mentiras, pois a ideologiabur.
pria (VIJ, 1975, p. 30).
guisa não apreendea base material. Ela não vê a rela- O livro didático não é desligado da realidade, ele
ção entre os homens, e toda manifestaçãoideológicaé
tem uma função a cumprir: reproduzir a ideologia dch
fetichizada. Existe tal defasagementre a realidadeeo
minante. A ideologia dominante também não é desliga-
pensamento que a burguesia só capta a primeira, super-
da da realidade, ela também tem um papel e o cumpre.
ficialmente. Ela ignora que as condições materiais deter-
O que ocorre é que a ideologia dominante considera a
minam em última instância o processo ideológico que
produção intelectual autónoma e desconhece a base ma-
se desenvolve em seu cérebro. É a concepção idealista terial como instância determinante. Então, expressa
do mundo que explica os aros dos homens, a realidade, através de valores universais os interessesda burguesia
pelo pensamento e justifica a conservação das relações de produção exis-
"em lugar de procurar essas explicações em suas tentes. Isto não é estar desligado da realidade, pelo con-
necessidades(refletidas, naturalmente, na cabeça trário, através deste mecanismo, o livro didático serve
do homem, que assim adquire consciência de- à manutenção dos interesses da classe dominante igno-
las)" (MARX e ENGELS, 1975, p. 69). rando os interesses da classe operária.
A ideologia se manifesta "da per tutti". A escola
Dependendodo referencialteóricoque se adote,o e o livro didáticosão uns desteslugares. Não é privilé-
livro didático, como uma das manifestações da idcolch gio aí transmitir a ideologia dominante, ao contrário, re-
gia da classe dominante,pode ser consideradomentírc- forçam o que já foi transmitido (cf. MARTINS, 1974).
so, arcaico, falso etc. Isto implica que ele poderia ser Por isso o livro didático é genérico, abstrato, para dar con-
diferente, verdadeiro. Mas isto é uma heresia. A apa- ta de todos os tipos de vivências e meios de vida que já
rente falsidade é justamente a visão idealista burguesa transmitiram a ideologia. O meio de vida da classe ope-
que não apreendea base material e transmite seus inte- rária não entra, pois ele é um desvio a ser superado,
resses de classe como interesses universais (para todos desde que o operário estude, tenha profissão e suba na
e de sempre), isto é, as relações humanas fetichizadas não vida. O livro didáticonegaas condiçõesde vida da
são mentirosas,são coísificadas. Desta comia a ideolo- classe operária. A criança operária deve considerar-se
gia burguesa, através do livro didático, contribui para errada, negar sua vivência e assumir a ideologia burgue-
justificar e manter a realidade, reproduzindo-a. Intelec- sa comoa verdade.
tualmente, as contradições podem ser apreendidas, pcH Desta forma o livro dissimula a discriminaçãocon-
rém, semcolaborarpara a sua superação,já que esta
apreensão é a-crítica. tra o pobre, valorizando-o pelo trabalho e garantindo-lhe
que, estudando, ele será alguém no futuro. Dizendo que
A contradição realidade-discurso encontrada no li-
é importante ser pedreiro, o livro tenta fazer o operário
vro didático é própria da ideologia burguesa, é uma conformar-se com sua situação de explorado (o trabalho
influência antidialética sobre o pensamento, o discurso
71
70
redime), contribuindo desta fomia para a reprodução Assim como não é só a escola que transmitea ideo-
da classe operária (cf. MOLLO, 1970, p. IOI). logia da classe dominante, não é só o livro didático que,
Assim, o livro didático reconhece a desigualdade no seu interior, é responsável por sua veiculação. O pró-
(atalhoe estrada,pobree rico, pedreiroe médico,hc- prio professor, com sua postura, seus conhecimentos,
mem e mulher, branco e pj'eto, velho e criança, campo pode garantir a sua transmissão (cf. GRIGOLI e outros,
e cidade,trabalhomanuale intelectual
etc.), mas não 1978)
a apreende. Através dos valores da burguesia, camufla Desta forma, não se trata apenas de mudar o livro.
a desigualdade, dissimula a discriminação, contribuindo O que deve ser entendido é o papel da escola e como
para a reprodução da sociedade burguesa. ele é bem desempenhado,através de vários recursos (li-
Não existe o processode conhecimentono livro di- vro didático, professor, métodos e técnicas etc.)
dático. Até as informações
básicaspara o indivíduofor- O livro didático poderia ser diferente, mas exigiria
mar-separa o capitalismo,
não são dadas na "escola
primária". Partindo de que criança não entende nada, um professor diferente: assim como este professor.dife-
rente saberiafazer bom uso até mesmodo livro didáti-
as explicações são tão simplificadas que não se entende
co aqui analisado.
muito bem. Algumas vezes, chega-semesmo a dar in-
formações erradas. Por exemplo, sinónimo de metal: O livro didático é feito para a pequena burguesia,
ferro. Outras vezes, os sinónimosapresentadospara a fim de arregimenta-la, comprometê-la com a classe
que o aluno entenda melhor o texto, garantem sua inter- burguesa. Desconhece a classe operária discriminando-a.
pretação burguesa. Por exemplo, sinónimo de patroa: A contradição capital-trabalho não existe. O livro le-
dona-de-casa. gitima os valores pequeno-burgueses.Como reagirá uma
criança filha de operários, uma criança que trabalha,
O livro didático é pouco criativo. Foram encontra- diante dos ensinamentos do livro didático? Ela negará
das estóriasrepetidasde uma editorapara outra e até uma vivência? Como acomodaraa ideologiaburguesae
de uma série para outra na mesmaeditora. sua vivência?
Tem muita poesia,e, para garantira rima, foram
encontradas "peças raras"
Usa-se muito a fantasia, o sonho e o diminutivo, tal-
vez com a ideia de que assim as crianças entendamme-
lhor
Assim como os exercícios, as ilustrações reforçam
o conteúdoideológicoque se quer transmitir. É o caso,
já citado, da estória da cozinheira Joana: o texto não
diz nada de sua cor, mas por ser cozinheira (acredíta-
-se), a ilustração apresenta-a preta.

72
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O 'certo' se torna 'verdadeiro' na cons-


ciência da criança. Mas a consciência da crian-
ça não é algo 'individual' (e muito menos indi-
vidualizado), é o reflexo da fração da sociedade
civil da qual participa, das relaçõessociaistais
como elas se concentramna família, na vizi-
nhança, na aldeia etc. A consciência individual
da esmagadora maioria das crianças reflete rela-
ções civis e culturais diversas e antagónicas às
que são refletidas pelos programas escolares:
o 'certo' de uma cultura evoluída torna-se 'ver-
dadeiro' nos quadros de uma cultura fossilizada
l
e ahacrânica, não existe unidade entre escola e
vida e, por isso, não existeunidade entre instru-
ção e educação'' (GRAMSCI, 1968, P. 131)

Quem estuda no Brasil? Quem freqüenta as escolas


públicas e as escolasparticulares? Como se dá este con-
traste entre o que é transmitido na escola e a vida dos
alunos, aqui no Brasil? Existe este contraste? Quem se
quer educar? Quem educamos?
Já que o livro didático da escolaprimária ignora a
classeoperária, poder-se-iadizer que, para o aluno des-
ta classe social. o contrasteexiste. Então, o que fazer?
Outro livro didático, outro professor? Mas, a classe ope-
rária estuda. no Brasil?
75
E quando se trata da escola particular freqüentada Conversando com as crianças da escola pública,
pela burguesia, existe o contraste? Parece que não, já Mesmo aquelas que trabalham ou que são filhas de ope-
que o transmitidocoincide com a vida dos alunos. rários, verificamos que seu discurso muitas vezes é pare-
cido com o discurso das crianças filhas de burguesesda
Depois de ter verificado como a ideologiadominan-
escola particular. Isto porque sabemos que a ideologia
te "vê" o conceitode trabalhoe o transmitepara todos dominante está na "cabeça de todos". Para a criança
aqueles que freqüentam as escolas públicas, o que fazer?
da primeira escola, o livro didático teve um papel fun-
Apesar de ser importante, a denúncia já não é su- damental reforçando o que a sociedade como um todo
ficiente, hoje. Faz-se necessárias propostas alternativas. transmitiu, e isto aparece como a verdade. No entanto,
Constatada a ideologia da classe dominante no livro di-
quando conversávamos sobre a sua realidade, aí então 9
dático, vamos, agora, joga-lo fora? Deixa-lo só para a discurso era totalmentediferente. O que não ocorreu com
burguesia formar seu intelectual? Sabemos que a classe as crianças burguesas. Apesar de não ser adotado livro
operária reivindica um livro dídático, daremos? Fare-
didático na sua escola, seu discurso muitas vezes é
mos outro? Quem fará? Quem usará um novo livro? idêntico ao do livro.
A fim de não interromper este estudo apenas com
Para as crianças da escolapública, o livro didático,
uma denúncia, tentarei apresentar uma alternativa pe-
dagógica diante das minhas constatações e da visão 'de
negando e ignorando suas experiências de vida, reforça
seu discurso. O livro sistematiza a ideologia burguesa,
trabalho apresentada pelas crianças entrevistadas. amortiza o conflito realidade x discurso, dizendo que o
Em primeiro lugar, por que será que, em geral, a verdadeiroé o segundo. Desta forma, diz que sua ex-
escola particular (principalmente aquela 'freqüentada pe- periência é errada e desde que se esforce, estude, subirá
los filhos da burguesia)não adota o livro didático nas
na vida. Assim, o livro didático contribui para a repro-
primeiras séries do l.' Grau? Poder-se-ia arriscar a se-
guinte resposta: não há necessidade do livro didático dução da classe operária, porém, de posse da ideologia
burguesa, portanto, conformista e passiva.
como mais um veículo de transmissão da ideologia domi-
Apesar de o discursoda criança da escolapública
nante, já que não existe contraste entre a ideologia bur-
ser parecido com o da criança da escola particular, en-
guesae a vida dos alunos. Uma outraexplicação:a es- contramos uma diferença fundamental: o discurso da pri-
cola, para a burguesia, tem a função de formar seu inte- meira não coincidecom sua vivência.
lectual orgânico e o livro didático não é suficiente. dado
o seu nível de generalidade. Já que na sociedade capitalista a máquina iguala tcF
dos os trabalhadores distinguindo apenas aqueles que
Então, o livro didático é feito para a pequenabur-
controlam a produção, qual é o papel da escola?
guesia "assumia'" a ideologia burguesa, para que-depois,
continuando seus estudos, ela possa ir adquirindo mais Para o capitalista,ela é importante,pois, além de
conhecimentos. E o proletariado, como enfrenta o con- formar o técnico (= intelectual da produção), inculca a
traste? Quanto à não-aquisiçãode informações, isto é ideologiada classe dominante. Além disso, a máquina
muito bom, pois o mantém onde está, ''já que quando exige um mínimo de condições do trabalhador que a es-
se estuda se torna independente" cola primária Ihe dará.
76 t 77
"A obliteração intelectual dos adolescentes, arti- No entanto, para a classe operária, a escola é um
ficialmente produzida com a transformação de- lugar privilegiado onde se dá a transmissão da cultura
les em simplesmáquinas de fabricar mais valia. produzida por ela e por toda a humanidade, mas a que
é bem diversa daquela ignorância natural em somente alguns têm acesso. Esta é mais UHa contradi-
que o espírito, embora sem cultura, não perde ção que se dá no interior da própria escola: ao mesmo
sua capacidade de desenvolvimento. sua fertili- tempo que sua função é transmitir a ideologiada classe
dade natural. Essa obliteraçãoforçou final- dominante, é aí mesmo que algumas informações são
mente o Parlamento Inglês a fazer da instrução transmitidas e que sendo elaboradas versus a vivência
elementar condição compulsória para o emprego da classe operária poderá tornar-lhe mais um instrumen-
'produtivo' de menores de 14 anos em todas to para sua luta para a transformaçãosocial. Como diz
o professor Dermeval Saviani: enquanto o dominado não
as indústrias sujeitas às leis fabris" (MARX,
1975, P. 456). dominar o que o dominador domina, não conseguirá sair
de seu estado de dominação.
A escola também transmite a ideologia dominante, É este o papel revolucionário que a escola pode de-
que está em todo lugar. É o lugar onde esta transmissão sempenhar. O que pode fazer (dependendodas condi-
se dá planejada e organizadamente A escola primária ções da base material) é não segregar o proletariado que
tem característicasespeciais,pois é onde ainda encon- a freqüenta. Dessa forma, ele poderá adquirir aqueles
tramos trabalhadores. Como a escola é classista, quanto instrumentos que Ihe servirão para outro fim, assim como
mais alto seu nível, menos elementosda classe trabalha- poderá reapropriar-se da cultura também produzida pela
dora se encontram. A burguesia doía os conhecimentos sua classe, mas da qual foi despojado.
a .serem transmitidos pela escola primária, já que o saber Portanto, a atuação política via educação escolar
também é de classe. dá-se dentro deste cenário. Na contradição capital x tra-
balho, a educação e a escola têm um papel. Atuar na
A escola capitalista, seletiva e classista, é um tecur- escola significa entender como a infra-estrutura está deter-
$o "extra-económico" para reproduzir as classes sociais.
minando a supraestrutura, como se dá a independência
Permeada pela filosofia liberal, propala a educação igua- relativa da educação e da educação escolar em cada mo-
litária e a possibilidadede ascensãosocial. No entanto. mento histórico, e como a ideologia dominante transmi-
este caráter promotor da escola é mera ilusão ideológi- tida nas escolas está ''vendo'' a base material. Enfim.
ca cultivado pela burguesia como instrumento de domi- refletir sobre educação escolar não significa atribuir-lhe
nação. Falando da educaçãoescolar, só entendemossua um papel que ela não tem e não pode ter, escola não é
independência relativa da base material(se assim puder- partido político.
mos chamar), verificando que o "feitiço pode virar con- A luta pela transformaçãoda sociedadedeve dar-se
tra o feiticeiro". Isto é, a escola tem a função na socie- de forma organizada, coletivamente. Entre as várias fren-
dade capitalista (que a cria como tal) de conservar e jus- tes desta luta, o educador, enquanto profissional, tem
tificar o sistema económico. também a escola como palco. Sua atuação pode dar-se
78 P 79
em vários níveis: no questionamentoinstitucionala nível ponto de partida para o posterior desenvolvi-
do sistema, lutando pelo ensino gratuito, maior número mento de uma concepção histórico-dialética do
de vagas, melhor qualidade de ensino, mais recursos eco- mundo, para compreensão do movimento e do
nómicos etc; enquanto trabalhador que é, o educador deve/zir, para a valorização da soma de esfor-
pode [utar por [iberdade e autonomia sindical, me]hores ços e sacrifícios que o presentecustou ao passa-
salários, melhores condições de trabalho, enfim, lutar ao
do e que o futuro custa ao presente, para a
lado de todos os trabalhadores.
concepção da atualidade como síntese do passa-
É importante também que este novo professor (o
do, de todas as geraçõespassadas,que se pro-
primário, principalmente) conheça o conteúdo do livro jeta no futuro. É esteo fundamentoda escola
didático, para que possa usá-lo de outra forma na sua lu- elementar,que ele tenha dado todos os seus
ta do dia-a-dia. Perceber que este conteúdo é diferente
frutos, que no corpo de professorestenha exis-
da vida quotidianade seus alunos,refletir sobre a con- tido a consciência de seu dever e do conteúdo
tradição discurso x vivência. O livro didático pode se{
filosófico deste dever, é um outro problema, li-
mais um campo para a atuaçãodo professorque lutará
gado à crítica do grau de consciênciacivil de
pelo novo livro, com conteúdoinformativo, história, en-
fim, um livro que realmente ensine e eduque o aluno. toda a nação, da qual o corpo docente é tão-so-
Por hora, enquanto não temos o novo livro didáti- mente uma expressão, ainda que amesquinhada,
co, devemosfazer bom uso do livro que aí está. Ele e não certamenteuma vanguarda" (GRAMSCI,
é um mal necessário,já que de algumaforma facilita o 1968, P. 131).
trabalho do professor, que, ganhandotão pouco, precisa
O novo professorpreocupar-se-á
tambémcom as
dar muitas aulas e não tem tempo de prepara-lascomo informações a serem transmitidas. Não se deixará levar
gostaria. Como usá-loentão?
Para que o aluno re-conheçasua experiênciade vi- pela idéia de que pobre não tem condiçõesde aprender
da, e aos poucos repare na contradição entre ela'e seu e não facilitará tudo a ponto de cair no genérico-vazio,
discurso, o tema trabalho poderá contribuir bastante. nem na simplicidadea-científica. Preocupar-se-á
em ter
uma linguagem adequada à sua clientela, isto sim, mas
''O conceito e o fato do trabalho (da ativi- usará a escola para instruir de fato seu aluno. dar-lhe-á
dade teórico-prática) é o princípio educativo informações sobre a vida, a história passada e presente,
imanenteà escola elementar,já que a ordem as ciências naturais, desenvolverseu corpo através de
social e estatal (direitos e deveres) é introduzida ginásticas etc. Desperta-lo-á para a reflexão, para a curio-
e identificada na ordem natural pelo trabalho. sidade científica, para a pesquisa, para a leitura. Desen-
O conceito do equilíbrio entre ordem social e volverá seu raciocínio a fim de que possa manipular
ordem natural sobre o fundamento do trabalho, novas informações, aguçara seu espírito crítico, permiti-
da atividade teórico-prática do homem, cria os rá o desenvolvimentode sua criatividade. O novo pro-
primeiros elementosde uma intuição do mundo fessor contará a história da luta do trabalhador, reativará
liberta de toda magia ou bruxaria, e fornece o a memória nacional.
80 81
Na escola, o jovem deve compreetzder,
e, para compreender,deve estudar de modo ati-
vo, reconstruindo criadoramente cada processo
T a constatação da discriminação efetivada pela escola con-
tra a vivência da criança filha de trabalhador ou de crian-
ça trabalhadora (cf. GRIGOLI e outros, 1978, p. 39-52).
mental,cada experiência,cada teoria que Ihe É necessário o método materialista-histórico para que se
são expostas. A passividade intelectual não gera apreenda de fato a realidade, para que o professor saiba
verdadeiro conhecimento: acumula mecanica- qual é o seu papel na sociedadecapitalista.
mente noções isoladas. .:. Preconiza-se uma es- 'Daí porque é possível dizer que, na escola, o
cola em que é sempre domingo,na qual se rea- nexo instrução-educaçãosomente pode ser repre-
liza em todas as horas a alegrefesta do espírito sentado pelo trabalho vivo do professor, na me-
criador, na qual não há atividade que não seja dida que o mestre é consciente dos contrastes
livre e agradável. . . Confunde-se, em suma, o entreo tipo de sociedadee de cultura que ele
exercício com o estudo, a aplicação com a teo- representa e o tipo de sociedade e de cultura
ria, o acréscimo com o necessário, a integração representado pelos alunos, sendo também cons-
com a pari/ilação didática com a programação ciente de sua tarefa, que consiste em acele-
e a realização de um piano cultural orgânico. rar e em disciplinar a formação da criança con-
reduzindo a escola a passeios, livre investigação, forme o tipo superior em luta com o tipo infe-
leitura ocasional. . . se combinam o atavismo rior. Se o corpo docente é deficiente, e o nexo
mais 'extremista',o empirismo,a falta de siste- instrução-educação é relaxada, visando a resol-
ma, o culto da espontaneidade e a passividade ver a questão do ensino de acordo com esque-
intelectual do dogmatismo religioso . . Quere- mas de papel nos quais se exalta a educativi-
mos apenas sublinhar que para um sólido desen- dade, a obra do professor se tornará ainda mais
volvimento intelectual, qualquer que seja a sua deficiente: ter-se-áuma escola retórica, sem se-
direção, para a aquisição de um património riedade, pois faltará a corporeidade material do
cultural organizado e permanente, o estudo-tra- certo, e o verdadeiro será verdadeiro de pala-
balho, a leitura-reflexão,o esforço tenaz de com- vra, ou seja, retórico" (GRAMSCI, p. 131-32).
preensão e a disciplina organizativa constituem
um momento que não pode ser eliminado'' (RA- O novo professor deverá refletir sobre os ''novos
DICE, 1968, P 94-5). métodos", para ver se não é justamenteaquilo para que
Radica está alertando. Com a ilusão de se dar uma
4
Como já foi mencionado anteriormente, precisamos educação "livre", voltada para as necessidades do alu-
também de um novo professor que possa dar este novo no, o que se faz realmente
é o "jogo" do sistema. Es-
uso ao livro didático. Um professorque percebao con- vazia-se de conteúdo a escola, parte-se para o empirismo
traste entre o conteúdo do livro e a vivência das crian- pelo empirismo, desta forma mantendo os alunos onde
ças. Para isto não basta a sua prática, que apenasIhe estão, com o pretexto de que o saber é sempre burguês
dá uma "consciência local", a constatação do contraste. e, portanto, não deve ser ensinado ao proletariado.
82 83
O professor deve partir do aluno, conhecer e socia- a que a impelema constituiçãofísica dos indi-
lizar suas experiênciasde vida, para adequaros novos víduos e as circunstâncias externas (sejam pes-
conhecimentos que serão ensinados aos seus interesses soais ou da sociedade eln geral), que em última
e ao seu nível de compreensão,garantindo desta forma instância são económicas -- não atinjam o que
que ele avance, cresça, comparadoao nível que entrou querem, mas se fundam numa média coletiva,
na escola. A escola onde é ''sempre domingo'' corre o numa resultante comum, não se deve concluir
risco de fazer com que o aluno entre e saia dela no mes- que seu valor seja água!a zero. Pelo contrário.
mo nível, isto é, conclua o curso sem nada ter aprendido. cada uma dessasvontades individuais contribui
O nosso novo professor então, além de se preocu- para a resultante e, nesta medida, está incluída
par com o conteúdo propriamente dito, cóm as informa- nela" (MARX e ENGELS, 1977b, p. 35-6).
ções que dará aos alunos, deverá também pensar junta-
mente com eles sua vivência, suas experiências, sua con-
dição de vida e permitir que o aluno reelabore as novas
informações em relação aos interesses de sua classe. j
Portanto, não vamos ficar de braços cruzados espe-
rando a mudança do modo de produção, nem vamos jo-
gar fora o livro didático, nem continuar -- nós tam-
bém -- transmitindo para os alunos a ideologia domi-
nante. Já aparecem algumas alternativas para o educa-
dor, e ele deve refletir sobre elas e propor outras.
Apesar de a política permear toda a vida social,
não podemos confundir educação político-partidária e
educação escolar. A função da escola não é diretamen-
te a de mudar o modo de produção. Devemos pensar
em propostas que preparem um novo homem -- o "ho-
mo faber" -+ o "homo sapiens", o teórico + o prático.
Não pretendi apresentar soluções para os problemas
da nossa sociedade, tentei apenas, através da análise dos
livros didátícos, pensar a nossa prática, a prática dos edu-
cadores. Já que os educadores também devem ser edu-
cados, espero ter contribuído de alguma forma para sua
reflexão. Pelomenosestefoi meu intuito.
''Mas, o fato de que as diversasvontades
individuais -- cada um das quais deseja aquilo
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Tema: O TRABALHO
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317 BECHARA, Evanildo e outros (1975). /lota de .'4pren- que idade?
der. 3.a série,2.a ed.3,4 As mulheres devem trabalhar? Por quê? Como? Quando?
318 BECHARA, Evanildo e outros (1975). flora de ''lpren- O que é profissão? Para que serve?
der. 4.a série, 3.a ed. 3,4 O que se ganha com o trabalho?
213 OLIVEIRA, Anna e outros (1974). Conhecendo ai Co- O salário dá para viver?
mulzídacíei. 2.a série. 4 O trabalho é importante? Por quê?
214 OLIVEIRA, Anca e outros (1977). "A Cidade e Sua Por que uns ganham mais do que outros?
História". Co/z/legenda as Comzi/zídadex. 3.a série,: 2. ed. a, 4 Quem trabalha? Quem não trabalha?
215 OLIVEIRA, Anna e outros (1977). Con/legando as
Para quem se trabalha?
nfdades. 4.a série.
Dá para ficar rico com o trabalho?
Por que tem gente que trabalha e está sempre pobre?
Os negrostrabalham?Tem negrorico? Por quê?
Qual é o melhortrabalho?Por quê?
É melhor ser patrão ou empregado?Por quê?
O patrão é bom?
Quem é melhor: o mais inteligenteou o mais forte? Por
quê?
Por que o patrão fica cada vez mais rico e o empregado
1. Foram analisadosos Manuais do Professorque trazemos cada vez mais pobre?
exercícios feitos e orientação para a utilização do livro. Você acha feio ser preguiçoso?
2. Código de referência. Por que as pessoas querem ficar ricas?
3. Em convênio
como MEC. Por que tem várias profissões?
4. Encontrados na relação do PLIDEF. Se você quiser ser médico você consegue?
90 91
Como se faz para ter uma profissão? 2.' parte
Precisa estudar para todas as profissões que elas querem?
Quem ensina mais: a família ou a escola? O que é trabalho?
Para que serve a escola? Para que serve o trabalho?
Onde mais se aprende? Qual é o melhor trabalho?
Se aprende brincando? Trabalhando? Quem costuma trabalhar?
Quem estuda arranja empregosmelhores? Por que tem gente que não trabalha?
O trabalho é bom? Por quê?
Que trabalhovocê gostariade ter?
IDENTIFICAÇÃO DAS CRIANÇAS '

Seu pai trabalha?


Onde ele trabalha?
O que ele faz no serviço?
Quantas horas ele trabalha por dia?
Seu paí estudou?
Que curso ele fez?
Seu pai tem algumapropriedade?Quais?
Sua mãe trabalha?
Onde ela trabalha?
O que ela faz no serviço?
Quantas horas ela trabalha por dia?
Sua mãe estudou?
Que curso ela fez?
Sua mãe tem alguma propriedade? Quais?
Você trabalha?
Onde você trabalha?
O que vocêfaz no serviço?
Quantas horas você trabalhapor dia?
Você estuda em casa? Quanto tempo?

5. A diretora da escola particular pediu para cortar as pergun-


tas sobre o trabalho da criança já que ela sabia que ninguém
trabalhava e as questões poderiam "incomodar as crianças'

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