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SERViÇO PÚBLICO ESTAOUAL

Processo n2; E~14/001.00028SI2019

57
Data: 08/0112019 Fls. 't.-2,

-0
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
PROCURADORIA AOMINISTRATIVA

O
I TÃ
Parecer nO 01/2019 - ASA P.A. nO. E-14/001.000285/2019

LE
S
RE
SUBMISSÃO DA CEDAE, ENQUANTO
EMPRESA ESTATALINDEPENDENTE,AO

OR
PLANO DE RECUPERAÇÃO FISCAL
APROVADO PELO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO.
IT
RELEVÂNCIA DA
AN
INDEPENDÊNCIA DA ESTATAL PARA A LEI
COMPLEMENTAR FEDERAL N° 101/2000,
-I

MAS NÃO PARA A LEI COMPLEMENTAR


70

FEDERAL N° 159/2017.
77

1- A CONSULTA.
48

A consulta proposta em questão foi encaminhada à esta Especializada


91

pelo Exmo. Sr. Subprocurador-Geral do Estado Dr. Sérgio Luiz Barbosa Neves,
57

para análise jurídica acerca da submissão ou não da CEDAE, enquanto empresa


-0

estatal não dependente ao Plano de Recuperação Fiscal aprovado pelo Estaçlo


do Rio de Janeiro.
ÃO

Primeiramente, cumpre ressaltar que o processo administrativo teve início


IT

com questão mais estreita, após a expedição do Ofício Circular CGE/AGE n°


LE

002, á fI. 03, assinado pelo Auditor Geral do Estado e endereçado aos titulares
de Órgãos e Entidades da Administração Pública Direta e Indireta, solicitando
ES

que lhe fosse encaminhada a relação de todas as exonerações que geraram


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SERViÇO PÚBUCO ESTADUAL

Proce.sso n9: .E;-14/001.Q00285/2019

Dala; 08/01l2019 Fls.--,,-,-

PROCURADORIA GERAL. DO ESTADO


PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

vacância de cargo ocorridas a partir de julho de 2017, data da aprovação do


Plano de Recuperação Fiscal.

Desta feita, em análise ao supracitado ofício, foi prolatado, às fls, 05/10,


° Parecer ASJ-DP/TFPRS nO '398/2018, aprovado pelo limo. Procurador do
Estado Dr. Rafael Rolim de Minto, na qualidade de Assessor Jurídico Chefe da
CEDAE.

Desse modo, tendo sido aprovado o aludido parecer, foi prolatada a


Promoção nO 10/2019 - CCF, às fls. 13/14, pela Procuradora-Chefe da
Coordenadoria, Consultoria e Advocacia Preventiva do Sistema Jurídico, lima,
Ora. Claudia Cosentino Ferreira, que analisou juridicamente as conclusões
alcançadas no parecer.

A promoção em referência informou que não logrou êxito em localizar


precedentes de pareceres administrativos desta casa que tratassem exatamente
da questão em tela. Entretanto, na promoção foram salientados dois pareceres
que analisaram matérias semelhantes ao tema discutido, são eles: (i) o Parecer
nO 18/2010-HBR, às fls, 82, que entendeu que a Agência de Fomento do Estado
do Rio de Janeiro S,A., empresa estatal não dependente, não se sujeitava aos
decretos estaduais que disciplinam licitações e contratos administrativos, vez
que a lei que instituiu a empresa em questão dispunha que esta deveria elaborar
regramento próprio para suas licitações, conforme o art. 7° da lei Estadual nO
3.517/2000; e, (li) o Parecer nO 01/2017 -FLBM que concluiu que não se aplicava
à CEDAE, em virtude desta ser estatal não dependente, a hipótese preceituada
no art. 22, parágrafo único da LC nO 101/2000, que veda a admissão ou
contratação de pessoal nos casos em que as despesas com pessoal excedam a
95% (noventa e cinco por cento), em posição contrária ao Parecer nO 01/2016-

CGRYN O) I
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SERVIÇO PÚBLlCO ESTADUAL

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Processo 1'12: E-14/001.00028S/Z019

FI5.-»_

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Data, 08/01{2019

PROCURADORIA GERAL 00 EsTADO

-0
PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

O
Ato contínuo, a promoção instruiu os autos juntando documentação


pertinente à questão, a saber:

I
LE
-Lei Complementar nO 159, de 19 de maio de 2017, que institui o
Regime de Recuperação Fiscal dos Estados e do Distrito Federal e

S
altera as Leis Complementares nO 101, de 4 de maio de 2000, e n"

RE
156, de 28 de dezembro de 2016 (fls. 15/20);.

OR
-Lei nO 7.629 de 09 de junho de 2017, que dispõe sobre o Plano de
Recuperação Fiscal do Estado do Rio de Janeiro e dá outras

IT
providências (fls. 21/22);
AN
"Plano de Recuperação Fiscal do Estado do Rio de Janeiro -
período de 2017/2020 (fls. 23/47);
-I

"Parecer nO 18/2010 - HBR, que analisa a aplicabilidade de decretos


70

estaduais sobre lícitaçães e contratações administrativas á Agência


77

de Fomento do Estado do Rio de Janeiro SA (fls. 48/53); e,


• Parecer na 01/2017 - FLBM, que examina se a vedação do art. 22,
48

parágrafo único da LC nO 101/2000 se aplica à CEDAE, e seus


91

anexos (fls. 54/65).


57

Desta feita, cumpre ressaltar que a consulta proposta à f L 66, incita a


-0

manifestação quanto à submissão ou não da CEDAE, enquanto empresa estatal


não dependente ao Plano de Recuperação Fiscal. Logo, é esta uma questão
ÃO

bem mais ampla daquela tratada originalmente no PA, qual seja, a necessidade
de obediência ou não ao Ofício Circular CGE/AGE nO 002, à fI. 03, endereçado
IT

aos titulares de Órgãos e Entidades da Administração Pública Direta e Indireta e


LE

assinado pelo Auditor Geral do Estado.


ES

O supracitado bem lavrado parecer da emitido no âmbito da CEDAE em


RR

sua fundamentação deu ênfase à discussão acerca da abrangência do Plano de


TO

3
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IA
SERViÇO PÚBLICO ESTADUAL

Data: Q.§L01l2019 Fls.

PROCURADORIA GERAL DO ESTADO


PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

Recuperação Fiscal aprovado pelo Estado do Rio de Janeiro e ao debate relativo


ao conceito de empresa estatal não dependente. Em sua conclusão, foi adotada
a lese da Assessoria Jurídica da CEDAE que se posicionou segundo o
entendimento de que a sociedade, por ser uma empresa estatal não dependente,
não se submetia ao Plano de Recuperação Fiscal, não sendo necessário,
portanto, o envio de suas informações internas, em que pese coubesse ao
administrador avaliar, através do juízo de conveniência e oportunidade, pelo
envio ou não das informações solicitadas pela AGE, haja vista à inexistência de
óbices juridicos ao cumprimento da solicitação em pauta.

Isto posto, é importante distinguir a indagação proposta pelo Exmo.


Subprocurador-Geral do Estado - submissão ou não da CEDAE ao Regime de
Recuperação Fiscal - da matéria trabalhada no Parecer ASJ-DPITFPRS nO
398/2018. O referido parecer teve como principal mote a necessidade ou não
do envio de documentos da sociedade à Auditoria Geral. No seio de sua
argumentação foi defendida a perspectiva de que o caráter não dependente da
CEDAE, enquanto empresa estatal, a excluía dos ditames do Regime de
Recuperação Fiscal e, por essa razão, a conclusão apresentada foi no sentido
de que não haveria a obrigação de fornecer a documentação exigida pelo Auditor
Geral.

Apenas a la tere cabe fazer uma pequena observação no sentido de que


mesmo que se admitisse que determinada empresa estatal está submetida ao
Regime de Recuperação Fiscal não necessariamente tal fato a obrigaria a
fornecer quaisquer documentos que o Auditor Geral solicitasse, sem que tal
obrigação decorresse da Lei Complementar Federal nO 159/2017, que institui o
Regime de Recuperação Fiscal dos Estados e do Distrito Federal, ou da Lei
Estadual nO 7.629/2017, que dispõe sobre o plano de Recuperação Fiscal d0(ig'
. , 1I
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SERViÇO PÚBLICO ESTADUAL

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Processo o., E-14/001.,(l00285/2º1~

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, Data, 0810112019 fls, :

PROCURADORIA GERAL DO ESTADO

-0
PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

O
Estado do Rio de Janeiro, vigendo também para a situação o brocardo pas de


tutelle sans texfe, pas de tutelle au-delá tu fex/e,' assim expressado pelo

I
Conselho de Estado francês: "a tutela não se possui, ao contrário do poder

LE
hierárquico, de pleno direito, automaticamente, sendo necessário um texto

S
(inexiste tutela sem texto); e esse texto deve precisar-lhe a extensão"2,

RE
Não é esta, porém, a consulta formulada pelo Exmo, Subprocurador-Geral

OR
do Estado, sita na questão geral de as empresas estatais independentes estarem
ou não sujeitas ao Regime de Recuperação Fiscal, ultrapassada a mera

IT
indagação quanto à obrigação de fornecimento de informações que
AN
originalmente foi proposta à Assessoria Jurídica da CEDAE,

Nesse viés, têm-se que, para uma completa análise do tema, em primeiro
-I

exame, faz-se necessária a verificação dos precedentes trazidos na Promoção


70

nO 10/2019 - CCF, quanto à sua pertinência temática para a questão em tela, o


77

que será averiguado no Tópico 1/ deste Parecer.


48

No Tópico 1II serão exploradas as relações entre a Lei Complementar


Federal nO 159/2017, que institui o Regime de Recuperação Fiscal dos Estados
91

e a Lei Complementar Federal nO 101/2000, que estabelece normas de finanças


57

públicas voltadas para a responsabilidade na Gestão Fiscal. Importa nesse


-0
ÃO
IT

1 Essa supervisão administrativa confere ao ente central apenas as potestades expressamente


contempladas em lei (pas de tutelle sans texte), até porque, na ausência de lei e possuindo a
LE

entidade da Administração Indireta personalidade íuridica própria, por força do principio da


legalidade só pode ter restrições ao seu âmbito. de atuação se tais .ingerê~cías possuírem
base legal. No silênCIO do ordenamento JurídICO, vlge sua autonomia, vlge a lei que lhe atnbUlu
ES

o exercício por si própria de determinadas competências/atividades econômicas. Sobre o


ponto, remetemos às considerações que fizemos em nosso Curso de Direito Administrativo,
2. ed, Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 111-113.
v'f?1:,f
RR

l CE 1902, Commune de Nérís les bains,

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SERViÇO PÚBUCO ESTADUAL

Processo 02; E-14'-Q01.000285/2019

Data: ill!I9l!2019

PftOCURADOR1A GERAL DO ESTADO


PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

tópico estabelecer a distinção da ratio legal de cada diploma normativo e


esclarecer quais os pontos de contato que congregam as duas leis.

Em seguida, no Tópico IV, será estudada a sistemática de receitas e


despesas no Regime de Recuperação Fiscal, com vistas a demonstrar que o
Regime de Recuperação Fiscal visa a recuperação global das finanças do
Estado, posto que suas disposições são de natureza ampla e apresentam
preocupações para além da mera redução de despesas, visando também ao
aumento das receitas.

De tal sorte, o tópico V será dedicado a examinar a teleologia ampla. da


Lei Complementar Federal nO 159/2017 por conseguinte, sedimentar a
indistinção do caráter não dependente da empresa estatal para a submissão ao
regime de recuperação fiscal.

Em conclusão, o derradeiro Tópico VI, firmará as considerações traçadas


no âmbito deste Parecer, visando assim dirimir as inquietações levantadas
acerca do tema e promover esclarecimentos quanto à análise jurídica proposta,
sendo certo que devido ao caráter amplo da consulta apresentada, a solução
encontrada versará sobre a submissão das empresas estatais não dependentes
ao Regime de Recuperação Fiscal como um todo e não somente a CEDAE.

Ressaltamos mais uma vez que dessa resposta não necessariamente


decorre a submissão das estatais, quaisquer que elas sejam, ao Ofício Circular
proemial, que pode ter seus próprios impeditivos de aplicação
independentemente da resposta à questão geral objeto da consulta, tal como o
seu próprio objeto não estar contemplado no Regime de Recuperação Fiscal.

1I-1NAPLlCABIUDADE DOS PRECEDENTES CITADOS.

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SERVIÇO PÚBLICO ESTADUAL

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Processo n": E-14/001,00028S/Z019

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Data:Q§[91/2019 Fls. *~

-0
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
PROCURAOORIA AOMINISTRATlVA

O

Neste tópico serão esmiuçados os precedentes trazidos na Promoção nO
10/2019 - CCF, quanto à sua pertinência temática ou não à questão em tela, a

I
LE
saber:

" O Parecer nO 18/2010-HBR, às fls, 48/53, que entendeu que a

S
RE
Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro S.A., empresa estatal
não dependente, não se sujeitava aos decretos estaduais que

OR
disciplinam licitações e contratos administrativos, vez que a lei que
instituiu a empresa em questão dispunha que esta deveria elaborar

IT
regramento próprio para suas licitações, conforme o art, 7° da Lei
AN
Estadual nO 3,517/2000; e,
-I

" O Parecer nO 01/2017-FLBM que concluiu que não se aplicava à


70

CEDAE, em virtude desta ser estalai não dependente, a hipótese


77

preceituada no art. 22, parágrafo único da LC nO 101/2000, que veda a


admissão ou contratação de pessoal nos casos em que as despesas
48

com pessoal excedam a 95% (noventa e cinco por cento), em posição


91

contrária ao Parecer nO 01/2016-CGRYN.


57
-0

Cumpre ressaltar que, conforme dito anteriormente, a referida promoção


informou que não logrou êxito em localizar precedentes de pareceres
ÃO

administrativos desta casa que versassem, exatamente, sobre a proposição


objeto deste Parecer. Todavia, vislumbra-se que a promoção em questão
IT

salientou dois pareceres que analisaram matérias semelhantes ao tema então


LE

discutido,
ES

O Parecer nO 18/2010-HBR, versa sobre a aplicabilidade de decretos


estaduais sobre licitações e contratações administrativas à Agência de Fomento
RR
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SERViço PÚBliCO ESTADUAL

Processo n12: E~14/001.0002gs/2019

FI•. <::;.º-.
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
PROCURADORIA AOMINISTRATIVA

do Estado do Rio de Janeiro SA, empresa pública caracterizada como estatal


não dependente. Em que pese a temática guarde correspondência no que se
refere à sujeição de empresa estatal não dependente a determinado diploma
legislativo, cumpre diferenciar as questões debatidas.

No supracitado parecer concluiu-se que a Agência de Fomento do Estado


do Rio de Janeiro SA, enquanto empresa estatal não dependente, não se
sujeitava aos decretos estaduais que disciplinam licitações e contratos
administrativos, vez que a lei que instituiu a empresa em questão dispunha
que esta deveria elaborar regramento próprio para suas licitações,
conforme o art. 7° da Lei Estadual n° 3.517/2000.

É importante ressaltar, portanto, que o referido precedente tem como foco


em sua linha argumentativa a aplicação um artigo específico da lei que autorizou
a criação da agência de fomento, e esta é a premissa utilizada na conclusão
apresentada. Logo, ainda que aparentemente os casos sejam semelhantes,
posto que, a princípio tratam da submissão de empresas estatais não
dependentes a diplomas normativos, na verdade são distintos, haja vista que o
precedente ora indicado se utiliza da aplicação de lei específica da empresa
estatal em análise para fundamentar sua conclusão.

Tal fato pode ser demonstrado a partir da leitura dos seguintes excertos
destacados do Parecer nO 18/2010-HBR:

importante frisar, contudo, que a insubmissão da INVESTE RIO a


algumas normas estaduais limitativas de sua atividade lícitatária,
justificada por sua autonomia administrativa e frnanceira, não lhe
exime do estrito cumprimento dos princípios constitucionais sobre
licitação, da legislação nacional sobre licitação (Lei n° 8.66611993, Lei
nO 10.52012002 e outras), da legislação estaduais e nacionais sobre
licitação. ·,
01
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I
I
8 \.
SERViÇO PÚBLICO ESTADUAL

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Fls.-&L
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-0
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

O
(...)


o único caminho para a INVESTE RIO deixar de sujeitar-se às

I
LE
normas da Lei nO 8.666/1993 e aos decretos regulamentadores
das leis sobre licitação - sem, contudo, deixar em hipótese
alguma, de obedecer aos princípios licitatórios ., é a edição de

S
regulamento próprio, conforme previsto no art. 7" da Lei Estadual

RE
nO 3.517/2000, que autorizou a criação da INVESTE RIO, Registra-
se, porém, que a constitucionalidade dos regulamentos próprios das
empresas estatais sobre licitações é matéria polêmica, que está sob

OR
apreciação do Supremo Tribunal Federal. (Grifou-se),

IT
Desse modo, verifica-se que o raciocínio utilizado na argumentação do
AN
Parecer guarda direta relação com as normas concessivas da autonomia
financeira da empresa e sobretudo com a aplicação do artigo 7° da Lei Estadual
-I

na 3.517/2000, que autorizou o Poder Executivo Estadual a criar uma agência de


70

fomento sob a forma de sociedade de economia mista, e, neste ponto, diferencia-


77

se da presente discussão.
48

De igual forma, a análise do Parecer nO 01/2017-FLBM, às fls. 54/65,


91

demonstra que o objeto do parecer, embora guarde similaridade cem a questão


proposta, posto que versa sobre a aplicação ou não do art, 22, parágrafo único,
57

da LC nO 101/2000 à CEDAE, enquanto empresa estatal não dependente,


-0

também não se coaduna completamente ao caso.


ÃO

Isto porque, ao prolatar o parecer, o limo. Procurador do Estado Dr. Flavio


Lessa 8eraldo Magalhães concluiu que o entendimento existente no Parecer nO
IT

01/2016 - CGRYN, que analisava o alcance da vedação ao provimento de cargo


LE

público, admissão ou contratação de pessoal a qualquer título, objeto do art. 22,


parágrafo único, da LC nO 101/2000 não deveria ser aplicado no âmbito da
ES

CEDAE, tendo em vista que esta estaria caracterizada como empresa estatal f7J\
RR

não dependente, LYf


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SERViÇO PÚBLICO ESTADUAL

PROCURADORIA GERAL 00 ESTADO


PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

Salienta-se que na fundamentação do aludido parecer, restou consolidado


que a caracterização de uma empresa como estatal não dependente constitui
matéria eminentemente fática, cabendo uma avaliação do enquadramento fático
da empresa pela Secretaria de Fazenda, que deve verificar a situação atual da
empresa, avaliando se há a previsão de gastos em favor da mesma no
orçamento anual referente, bem como se há eventual repasse de verbas de
custeio e capital.

No referido caso, conforme se verifica no bojo argumentativo do parecer,


• a Secretaria de Fazenda confirmou que havia ausência de previsão de gastos
em favor da CEDAE no orçamento de 2017, assim como a ausência de repasse
de verbas de custeio e capital no ano de 2016, confirmando as condições fáticas
que levaram à declaração de não dependência econômica da CEDAE, conforme
se verifica nos seguintes excertos:

Os §§ 2° e 3°, do artigo 1°, da Lei de Responsabilidade Fisca/,


estabelecem o alcance da norma à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios, o que especificamente atingiria as
empresas estatais dependentes, conforme expresso na alínea "b", do
inciso J, do referido § 3"-
O artigo 2°, 111, da Lei Complementar nO 101/2000, por sua vez, bem
define a empresa estalai dependente: "empresa controlada que
receba do ente controlador recursos financeiros para pagamento de
despesas com pessoal ou de custeio em geral ou de capital,
excluídos, no último caso, aqueles provenientes de aumento de
participação acionária."
Assim, necessária a configuração da CEDAE como empresa
estatal não dependente para fins de não sujeição às regras da Lei
de Responsabilidade Fiscal. (. ..)
Assim, para a configuração da CEDAE como empresa controlada não
dependente necessário apenas é a constatação fática do recebimento
pela CEDA E do Estado de recursos financeiros para custeio em geral d
10
1 \.,
SERVIÇO PÚBLICO ESTADUAL

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Data: 03101/2019 Fls.

-0
PROCURADORIA GERAI. DO ESTADO
PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

O

ou de capital, ressalvado aqueles provenientes de aumento de
participação acionário.

I
LE
Portanto, a Secretaria da Fazenda, que detém as informações
orçamentárias do Estado poderá melhor definir a situação fática atual
da CEDA E, como recebedora ou não de recursos do Estado, para fins

S
de seu enquadramento como estatal dependente ou não dependente.

RE
(.)
Dessarte, confirmado pela Secretaria de Fazenda a situação .da

OR
CEDAE como empresa controlada não dependente, levando"se
em conta sua situação atual, com a ausência de previsão de gastos
em favor da CEDA E no orçamento de 2017, assim como a ausência

IT
de repasse de verbas de custeio e capital no ano de 2016,
confirmando-se as condições fátícas que levaram à declaração de não
AN
dependência econômica da CEDAE pelo Exmo. Govemadordo
Estado no ano de 2014, o parecer é no sentido da não aplicação
-I

do parecer nO 01/2016-CGRYN no ãmbito da CEDAE,


caracterizada que estaria como empresa estatal não dependente.
70

(Grifou-se).
77

o Parecer nO 01/2017-FLBM trata, contudo, sobre a possibilidade ou não


48

da aplicação de um artigo específico da Lei de Responsabilidade Fiscal a uma


91

empresa estatal caracterizada não dependente - a CEDAE, conforme os


57

ditames intrínsecos desta legislação.


-0

Assim, embora de plano a discussão permeie à sujeição de empresa


estatal não dependente a determinado diploma legislativo, cumpre destacar que
ÃO

o referido precedente também é formulado de uma argumentação particular,


específica à Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar Federal n°
IT

101/2000) diferentemente desta questão, cujo objeto versa sobre o Regime de


LE

Recuperação de Fiscal (Lei Complementar Federal n0159/2017).


ES

Verifica-se, portanto, que o precedente Parecer n° 01/2017-FLBM não


pode ser aplicado a esta consulta, ante sua impertinência temática à questão
RR
TO

11
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SERViÇO PÚBLICO ESTADUAL

PROCURADORIA GERAl. DO ESTADO


PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

então proposta. Ainda que os temas sejam aparentemente semelhantes e


versem sobre a mesma empresa estatal não dependente (CEDAE), o cerne
argumentatívo da indagação presente no parecer é distinto do caso em tela.

As questões diferenciam-se, sobretudo, quanto a legislação base


analisada para formular as conclusões, já que uma analisa a aplicabilidade de
dispositivo da Lei de Responsabilidade Fiscal, que adota expressamente a
relevância da distinção entre as figuras das estatais dependentes e
independentes, e a outra baseia-se na submissão ao Regime de Recuperação
Fiscal- outra Lei Complementar, não ahavendo como os juízos feitos em relação
àquela serem automaticamente transplantados para esta.

Assim, também nesse caso as questões são fundamentadas em


disposições legais que partem de previsões e finalidades distintas e, deste modo,
não podem jamais serem confundidas, conforme será detalhado nos tópicos III
e V deste parecer.

111_ RELAÇÕES ENTRE A LC N° 159/2017 E A LC N° 101/2000.

o presente tópico tem por objeto a análise das relações entre a


Lei Complementar Federal nO 101/2000, que estabelece normas de finanças
públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e a Lei Complementar
Federal nO 159/2017, que institui o Regime de Recuperação Fiscal dos Estados
e do Distrito Federal. É importante destacar, desde logo, que ambas as
legislações possuem propostas e finalidades particulares que serão estudadas
no decorrer deste tópico.

Conforme se verifica na exposição de motivos da Lei de Responsabilidade


Fiscal (Lei Complementar Federal nO 101/2000), a referida norma foi promulgada

12
SERViÇO PÚBLICO ESTADUAL

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Fls . .isí

-0
PROCUAADOR'A GERAL DO EsTADO
PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

O
a fim de integrar o conjunto de medidas do Programa de Estabilidade Fiscal _


PEF, em meio ao contexto do processo inflacionário, vivenciado no final dos anos

I
LE
90 3

Sendo assim, a Lei de Responsabilidade Fiscal tinha o objetivo de evitar

S
RE
o déficit público e sedimentar um ambiente fiscal mais favorável, por meio.do
estabelecimento de diretrizes principio lógicas de uma gestão fiscal responsável.

OR
A Lei Complementar Federal nO 101/2000, portanto, constitui um
compromisso perene com o equilíbrio futuro das contas públicas,

IT
entendido esse como um bem coletivo e como condição necessária para o
AN
desenvolvimento4.
-I

Dessa forma, a Lei de Responsabilidade Fiscal deve ser interpretada


como uma diretriz para as finanças públicas, devendo pautar a conduta da
70

Administração por meio do planejamento financeiro e orçamentário preservando,


77
48
91

3 É importante ressaltar que neste contexto histórico: "a desigual descentralização promovida
pela Constituição de 1988, ao concentrar a competência legislativa na União e não definir
57

claramente a repartição dos sêrviços públicos, acabou por centralizar as responsabilidades


fiscais e sociais na figura do ente central. Assim, no cenário de crises locais, "os olhos dos
-0

eleitores e dos credores irão mover-se rapidamente em direção ao ente central, e não para os
governos locais, em busca de soluções" (ECHEVERIA. Andrea de Quadros Dantas; RIBEIRO,
Gustavo Ferreira: "O Supremo Tríbunal Federal como árbitro ou Jogador? As crises fiscais dos
ÃO

estados brasileiros e o jogo do resgate". Revista Estudos Institucionais, v. 4., n. 2, p.642-671,


2018). Desta forma, cumpre destacar que se tornou: "indispensável reestruturar o desenho
federalista brasileiro, com o intuito de alterar a citada matriz de incentivo ao comportamento
IT

oportunista dos Estados. Tal mudança seria realizada pela aprovação de uma nova legislação
fiscal, focada especialmente na necessidade de reduzir o acesso dos entes subnacionais a
LE

recursos públicos e de vetar a possibilidade de resgate por parte da União" (ECHEVERJA, Andrea
de Quadros Dantas; RIBEIRO, Gustavo Ferreira: "O Supremo Tribunal Federal como árbitro ou
Jogador? As crises fiscais dos estados brasileiros e o jogo do resgate". Revista Estudos
ES

Institucionais, v. 4., n. 2,p.642-671, 2018).


4 BRASIL Exposição de Motivos da Lei Complementar Federal nO 101 de 04 de maio de 2000,
In: MARTINS, Ives Gandra da Silva.: NASCIMENTO, Carlos Valder dO. (Org). Comentários à Lei
,,'
RR

de Responsabilidade Fiscal. São Paulo: Saraiva, 2001, pp. 1-8. II lI)


\.lu!
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SERViÇO PÚSllCO ESTADUAL

Processo n" 1'-14/001.000285{2019

Fls. "''''

PROClJRADORIA GERAL DO ESTADO


PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

ao fim, o equilíbrio fiscal. Os seguintes trechos integrantes da doutrina de Carlos


Pinto Coelho da Motta e Jorge Ulisses Jacoby Fernandes são esclarecedores:

A LRF visa, sobretudo, e falando mais


especificamente sobre sua estrutura, estabelecer
princípios, vazados em normas e regras - de um
regime que chama de gestão fiscal responsável:.... a
serem observadas por todas as esferas. da
Administração, assim entendidos a União,' os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e nestes
compreendidas as respectivas Administrações
diretas, autárquicas, fundacionais e empresas
públícas.
Além disso, a LRF traz conteúdo inovador no sentido
. de estabelecer condutas gerenciais de
responsabilidade e transparência, consolidando -
sem dúvida alguma - normas já existentes.
Também é objetivo da LRF o estabelecimento de
critérios para atender /imítes a serem observados
para as principais vanaveis fiscais, criando
mecanismos que ofereçam condições para' o
atingimento de metas fiscais. Possível, ainda, a
correção de desvios eventuais experimentados neste
particular: ( . .)
Dúvida não há que o endividamento público, os
gastos com pessoal, a administração financeira e
patrimonial e o aumento dos gastos com a seguridade
e demais ações de duração continuada informam a
estrutura da gestão responsável, merecendo
particularizações da LRF
A LRF traz em sua estrutura, ainda diversas restrições
ao endividamento público, discíp/inando despesas e

q
\
.14
G
~'-~-~'~~-~--=l
SERViÇO PÚBUCO ESTADUAL

91
Processo o., E-14tOOl,QQ028S/2019

57
, D.ta, OS{Ol/2019 Fls. Õ>( I
Lu ,~I

-0
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

O

remetendo para a ideía de prudência na
administração financeira e patrimoniaiS.

I
LE
No mesmo entendimento, podem ser destacados os ensinamentos da

S
doutrina de Weder de Oliveira:

RE
Os objetivos da Lei de Responsabilidade Fiscal

OR
qualificam-se como macroeconômicos, financeiros e
orçamentários. Visam à prevenção de déficits
"imoderados e recorrentes" (na expressão da

IT
mensagem ministeríaQ e do controle da dívida
pública. O propugnado equilíbrio intertemporal das
AN
finanças públicas encontra expressão normativa, no
§1° de seu art. 1°, explicitado como pressuposto da
responsabilidade na gestão fiscal: ( ..)
-I

Visando esses objetivos, a LRF foi erigida sobre seis


70

pilares normativos, denominação que pode atribuir


aos conjuntos de disposições sobre: 1) dívida e
77

endividamento: realização de operações de crédito,


limites e controle; 2) planejamento macroeconômico,
48

financeiro e orçamentário: metas fiscais,


acompanhamento e controle da execução
91

orçamentária; 3) despesas com pessoal: limites e


formas de controle, validade dos atos dos quais
57

resulte aumento de despesa; 4) despesas


obrigatórias: compensação dos efeitos financeiros;
-0

regras específicas para as despesas da seguridade


social; 5) receita pública: concessão de benefícios
ÃO

tributários e transparência da administração tríbutária;


6) transparência, controle social e fiscalização:
produção e divulgação de informações, participação
IT

popular, atuação dps tribunais de contas. como um


LE

sétimo pilar, a Lei nO 10.028, de 19.10.2000, que


ES
RR

5fV10TTA, Carlos Pinto Coelho; FERNANDES, Ulisses Jacoby: 'Responsabilidade Fiscal: Lei
Complementar 101 de 04/05/2000', 2ed Belo Horizonte: Del Rey, 2001. p,26.
TO

15
NI
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SERViÇO PÚBLICO ESTADUAl

Processo 0 2 : F~14/001.0º-º785!2019

PROCURADORIA GEAAL DO ESTADO


PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

tipifica crimes e infrações administrativas


relacionadas às normas da LRF6.

Por outro fado, a Lei Complementar Federal nO 15912017, surge em


um contexto já de crise econômica de vários entes federativos, crise essa
não evitada pelas cautelas que a LRF havia adotado. Deu-se em ocasião na
qual diversos entes federativos vivenciaram uma situação de desordem
financeira crítica, da qual dificilmente conseguiriam restabelecer suas finanças
sem contar com mecanismos auxiliares que lhes permitissem solucionar seus
passivos e reequacionar seus fluxos de pagamento, muitos desses
mecanismos aliás constituindo aliás uma liberação de certas exigências da
própria LRF, fazendo com que a Lei Complementar Federal nO 159/2017 seja
de certa forma diploma de exceção em relação à LRF, não dela
implementador ou complementar (cf. final deste tópico). Foi editada,
ademais, como já mencionado, exatamente no insucesso da LRF em
prevenir aquelas crises fiscais.

A insolvência dos entes federativos não configura uma novidade ou


idiossincrasia da realidade brasileira. O estudo do direito comparado demonstra
que demais ordenamentos jurídicos precisaram se deparar com a questão,
sobretudo o direito estadunidense, que por sua vez admitiu previsões legais para
reestruturação das finanças de entes públicos 7 . Segundo os estudos do jurista e
economista Eduardo da Silva Mattos:

---~---~._~--

S OLIVEIRA, Weber de. Curso de responsabilidade fiscal: direito, orçamento e finanças públicas.
Belo Horizonte: Fórum, 2013. v.1. p. 49,
7 A titulo exemplificativo, destacamos os seguintes casos do direito norte-americano, discutidos
na obra de Eduardo da Silva Mattos: (ij primeiramente foi analisada a cidade de Stockton, na
Califórnia que "foi atingida de maneira forte pela crise financeira de 2008 e suas contas sentiram
o baque - e, segundo o juiz do caso, também em razão do crescimento desarrazoado dos
vencimentos de servidores e aposentados públicos. Ou seja, tratou-se de um choque externo,

16
._-- --~-----

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Data; O${Ol!2019 Fls.

-0
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
PROCURAOORIAAoMINISTRATIVA

O

Os instrumentos americanos advêm, em grande
medida, do Capitulo 9 da Lei de Falências americana
e possuem uma rica história de tentar proteger o

I
LE
indivíduo lesado pejo Estado devedor, balancear a
liberdade dos estados com um poder federal (Ashton
v. Cameron County Water Improvement Dist. No.

S
1; United States v. Bekins) e permítír que entes

RE
públicos possam coletivamente se reorganizar em um
arranjo economicamente mais eficiente que· a

OR
execução individualizada (Flushing National Bank v.
Municipal Assistance Corp) (. ..)

IT
O Capítulo 9 da Lei americana prevê, grosso modo,
um concurso de credores quando do protocolado
AN
pedido de recuperação pelo ente público,
suspendendo execuções contra o devedor
(mecanismo conhecido como automatic stay). Trata-
-I
70

exacerbado por problemas intemos. Com o pedido de recuperação, formou-se um concurso de


credores que não mais podiam acionar Individualmente o município (automatic s/ay), mitigando
o problema da corrida ao topo - embora ele ainda tenha ocorrido, vide o número de tentativas
77

de contornar o concurso. Com a aprovação do plano. envolvendo renegociações de dívidas e


corte de gastos, o municipio se reergueu em cerca de três anos"; (íi) em segunda análise foi
48

citado o caso da cidade de Cenlral Falls. em Rhode Island, que "teve problemas financeiros em
razão do subfinanciamento de pensões públicas por longo período de tempo - pessoas recebiam
91

de maneira desproporcional em relação ao que contribuíram. Nesse caso, a solução precisou


ser, também, basilar quanto a fundamento econômico: suspensão nas execuçoes contra o
município (automatíc stay) e. principalmente, sensível corte no valor das pensões acima de (jaz
57

mil dólares anuais, A díFiculdade econômica foi combatida com uma reforma econômica (redução
da cobertura estatal) e não só com prazos e renegociações"; (íii) por fim. foi discutido o caso da
-0

cidade de Delrolt, Michigan, que foi célebre da história recente dos Estados Unidos, no qual: "O
município possui uma estrutura para aproximadamente dois milhões de pessoas - a cidadeloi
pensada e ampliada durante o auge da indústria automobiHstica e do Rust Bel! nos anos 1940 e
ÃO

1950. Com a concorrência asiática e as dificuldades da Indústria automobilística como um todo,


a cidade perdeu seu dinamismo e relevância econômica e hoje possui menos de setecentos ;nil
habitantes, Ou seja, a estrutura é manlida somente por um terço das pessQas que se imaginava
IT

que iriam usá-Ia, Acredita-se, também, que os aposentados da cidade receberam beneficios
bastante generosos considerando o respectivo nlvel de contribuição. Aqui. tem-se um problema
LE

sério de dificuldade econômica (nova ordem econõmica que diminuiu a importãncia da indústria
local e um Estado que fornecia garantias que não tinha condiçôes de arcar), Tanto assim que,
mesmo após uma redução sensível via renegociação, a cidade não consegue se reerguer: In:
ES

MATTOS, Eduardo da Silva. Bail-out público? Falência, Direito & Economia e a experiência

a
americana. Disponlvel em: <https://www,jota,ínfolpaywall?redirecUo=//www.jota,infolopinlao·
eanaliselartigoslbail-out-publico-20012017>. Acesso em: 25 de fev, de 2019,
RR

l
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~~~- ~--:l
SERViÇO PÚBLICO ESTADUAL

Processo nf!: E-14l901.0D0285/2019

Data: 08/Q1/2019 Fls. ~ I


PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
PROCURADORIA AOMINISTRATlVA

se de mecanismo muito semelhante ao da Lei


11.101/2005 no Brasil, limítado à atividade
empresariais

Nesse viés, a Lei de Recuperação Fiscal, tal qual apresentada na sua


exposição de motivos, tem como maior objetivo maior, à semelhança do que
ocorreu nos demais paises em seus contextos de crise, o de viabilizar o
reequilíbrio das contas públicas dos estados que se encontram em grave
desequilíbrio fiscal, medianle a criação de instrumentos de refinanciamento de
passivos desses entes. Em contraparte os estados devem adotar um Plano de
Recuperação9 que, por sua vez, implica uma série de medidas estruturais e
medidas emergenciais fundadas sob dois pilares: o reequacionamento do
passivo do Estado e o esforço deste para reequilibrar suas contas, inclusive com
a eventual otimização dos seus ativos lO

Portanto, conforme ensina a doutrina de José Maurício Conti, professor


de Direito Financeiro da Universidade de São Paulo, o mérito da LC nO 159/2017
pode ser exatamente o de sinalizar para uma "reestruturação fiscal [que] pode

"Ibidem.

9 José MaurícIo Cooti nos lembra que: "um dos requisitos para aderir ao Regime de Recuperaçao
Fiscal é que as despesas liquidadas com pessoal correspondam a um mínimo de 70% da RCl
(artigo 3", 11, LC 159/201n Uma situaçao que nao deveria ler ocorrido, pois é (ou deveria ser)
precedida de uma série de medidas preventivas, como alertas emitidos pelos tribunais de Contas
(artigo 59, parágrafo 1°, inciso 11, LRF), proibições de conceder aumentos, reajustes, de criar
novos cargos, de admitir pessoal, de contratar horas extras (artigo 22, parágrafo (mico, lRF)
quando atingir 95% do limite, multas aplicadas ao governador, pelos tribunais de Contas por
terem eles deixado de ordenar ou de prornover a execução de medidas para a redução do
montante da despesa total com pessoal (artigo 5°, inciso IV, lei 10,028/2000)" CONTI, José
Mauricio, Um salve pela recuperação financeiro do estado do Rio de Janeiro, Disponível
em: <https:llwww.conjur.com.br/2017 -jun-27/contas-vista-salve-recu peracao-financeira-estado-
rio-janeiro> Acesso em: 27 de lev, 2019.
10 BRASIL. Exposição de Motjvos da Lei Complementar Federal nO 159 de 19 de maio de 2017.
Disponlvel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivíL03/ProjetoslExpMotiv/MF/20 17/16Nm>,
Acesso em: 26 de lev de 2019.

18
'~'--~~~"'------,

SERViÇO PÚBLICO ESTADUAL

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57
-0
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

O
ser um excelente instrumento para implementar um sistema de disciplina fiscal,


pois obriga o gestor a tomar medidas impopulares que não teria condições de

I
LE
fazer em outras circunstâncias, facilitando as negociações com os credores"11,

Dessa maneira, o Regime de Recuperação Fiscal constitui um importante

S
RE
conjunto de disposições que visam o reequilíbrio fiscaP2, Acerca do tema, cabe
ressaltar o entendimento de Marcus Abraham:

OR
o Regime de Recuperação Fiscal envolve a ação
planejada, coordenada e transparente de todos os

IT
Poderes, órgãos, entidades e fundos dos Estados e
do Distrito Federal para corrigir os desvios que
AN
afetaram o equilíbrio das contas públicas, por meio da
implementação das medidas emergenciais e de
-I

reformas institucionais, sendo orientado segundo os


seguintes princípios financeiros-orçamentários: a)
70

sustenfabilidade econômico-financeira; b) equídade


intergeraciona/; c) transparência das contas públicas;
77

d) confiança nas demonstrações financeiras; e)


celeridade das decisões; f) solidariedade entre os
48

Poderes e os órgãos da administração pública 13 ,


91
57

11 CONTI, José Mauricio, Um salve pela recuperação financeiro do estado do Rio de Janeiro,
Disponível em: <https://www.conjur.com.brI20 17-jun-27/contas-vis!a-salve-recuperacao-
-0

financeira-estado-rio-janeiro> Acesso em: 27 de fev. 2019,


12 A doutrina discute os possíveis efeitos do regime de recuperação fiscal em um cenário fedecal.
Assim: "uma das desvantagens que se costuma apontar em medidas que importam em conceder
ÃO

beneficios a entes superendividados, como é atualmente o caso do Rio de Janeiro e outros enles
da federação, é o chamado 'risco moral' (moral hazard). Aqueles que se comportaram
adequadamente, foram gestores responsáveis e fizeram os sacrifícios no tempo e forma devidos,
IT

agora se veem na condição de arcar com o ônus de dividir as despesas com aqueles menos
diligentes e responsáveis, Mas esse risco não é significativo, como demonstra David Skeel. Um
LE

governador de Estado submetido a um processo falimentar estaria sujeito a lantas decisões


impopuiares e a um prejuízo em sua reputação que dificilmente reconheceria como
compensadora uma medida dessa natureza" CONTI, José Mauricio, Um salve pela recuperação
ES

financeiro do estado do Rio de Janeiro, p, 2, Ver: SKEEL Jr., David A, State Bankrup/cy from de
Ground Up, in CONTI-BROWN & SKEEL Jr, When S/ales Go Broke, Cambrige, 2012,
13 ABRAHAM, Marcus: "Curso de Direito Financeiro Brasileiro". 5° ED. Rio de Janeiro: Forense,
RR

2018, p 431.
TO

19
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SERViÇO PÚBLICO ESTADUAL

PROCURADORIA GERAL DO ESTADO


PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

Verifica-se, portanto, que as legislações apresentam objetivos e


destinatários diferentes, sendo que a Lei de Responsabilidade Fiscal visa
estabelecer diretrizes para as finanças públicas e para as condutas de toda a
Administração Pública, a fim de se preservar o equílíbrio fiscal; enquanto que o
Regime de Recuperação Fiscal dirige-se aqueles entes federativos que não
lograram êxito em manter esse equilíbrio, e dessa forma, se fez necessário a
elaboração de um plano que estabelece a criação de instrumentos de
refinanciamento de passivos dos estados e do Distrito Federal; tema este não
contemplado na Lei de Responsabilidade Fiscal (e por vezes por ela vedado).
Assim, cabe mais uma vez ressaltar a doutrina de Marcus Abraham:

A LC 159/2017, ao oferecer instrumentos jurídicos-


ficais para que os Estados possam implementar um
ajuste efetivo nas suas finanças e superar a referida
situação de desequilfbrio fiscal, complementa as
disposições da Lei de Responsabilidade Fiscai, já que
esta não contemplava medidas extraordinán"as e
emergenciais para situações de elevada gravidade
financeira como a vivenciada nos últimos anos por
algumas unidades da federação. Assim, o objetivo
final da RRF é assegurar que, ao término do Plano de
Recuperação apresentado, o Estado lenha suas
contas equilibradas, com resultados nominais
capazes de estabilizar sua dívida Iíquida 14 .

Tendo em vista as distinções então apresentadas, cabe observar que,


no Parecer ASJ-DPfTFPRS n° 39812018, às fls, 05/10, de d. v. equivocada se
afirma que o objetivo da Lei Complementar Federal nO 159/2017 seria o de:
"reequilíbrar as contas públicas em compasso com a Lei de Responsabilidade

14ABRAHAM, Marcus: "Curso de Direito Financeiro Brasileiro". 5° ED. Rio de Janeiro: Forense,
2018. p 431"

20
91
57
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PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

O

Fiscal - LC nO 101/2000". Concluiu, por conseguinte que dessa forma, a
abrangência da Lei de Recuperação Fiscal estaria atrelada aos ditames da Lei

I
LE
de Responsabilidade Fiscal e, por tal razão, a empresa estatal não dependente
estaria excluída do Regime de Recuperação Fiscal, já que a LC nO 101/2000 em

S
determinadas disposições se dirige apenas às estatais dependentes.

RE
Entretanto, conforme vislo anteriormente, as legislações em questão

OR
não se confundem e possuem objetivos e destinatários distintos. Não se poderia
transpassar os ditames de uma lei especifica, com destinação e objetivo

IT
particulares, a outra legislação, de forma automática sem que essas façam. a
AN
congregação dos pensamentos entre si e sem a construção de uma cadeia de'
pensamento que solidifique tal teoria.
-I

Note-se a respeito que a Lei Complementar na 159/2017, em seu Capítulo


70

VIII, artigos 12 e 13, estabelece as hipóteses de encerramento e de extinção do


77

Regime de Recuperação FiscaJ15, que se traduzem sobretudo em critérios


48

objetivos de cumprimento de metas e vigência, ou da inobservância de alguma


91

15 Art. 12. o Regime de Recuperação Fiscal será encerrado quando:


57

I - as metas estabelecidas no Plano de Recuperação forem atingidas; ou


1I ~ a vigência do Plano de Recuperação terminar.
§ 19 Quando se verificar o cumprimento do disposto no inciso I do caput deste artigo antes do
-0

prazo final previsto para a sua vigência, o encerramento ocorrerâ por meio de ato do Presidente
da República.
§ 2" O ato a que se refere o § 1Q deste artigo será precedido de parecer do Ministério da Fazenda.
ÃO

Art. 13. São causas para a extinção do Regime de Recuperação Fiscal o descumprimento pelo
Estado:
I - das vedações de que trata o Capítulo V;
IT

I1 - do disposto nos incisos VI e VlI do § 10 do art. 20;


111 - do disposto no § 30 do art. 30.
LE

§ 10 Incumbe ao Presidente da República extinguir o Regime de Recuperação Fiscal, com base


em recomendação do Ministério da Fazenda.
§ 20 A extinção do Regime de RecuDeração Fiscal implica a imediata extinção das prerrogativas
ES

de que tratam os arts. 90 e 10, com o retorno das condições contratuais das dividas a que se
refere o art. 90 aquelas vigentes antes da repactuação e do recélculo do passiVo do Estado com
RR

a aplicaçi!lo dos encargos financeiros de inadimplemento.


TO

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SERViÇO PÚBLICO ESTADUAL

Data: 0&/01/2019 Fls.

PROCURADORIA GERAL 00 ESTADO


PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

vedação pelo ente federativo, nenhuma delas dizendo respeito ao fato de o Ente
ter voltado ao cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal - LC nO 101/2000.

Ademais, as referências feitas pela


Lei Complementar Federal n° 159/2017, no corpo de seu texto normativo, à Lei
de Responsabilidade Fiscal, são normalmente utilizadas para meros critérios de
conta matemática e não como aplicação subsidiária de regimes legislativos.

A título enunciativo, veremos a seguir tal fato, como as referências feitas


pela a Lei Complementar Federal nO 15912017 à Lei de Responsabilidade Fiscal,
a fim de demonstrar as relações de exceção ou mais contábil-aritmética que de
qualquer outra natureza estabelecidas pelo Regime de Recuperação Fiscal com
a Lei Complementar nO 101/2000, nenhuma delas com aquela relação umbilical
pressuposta pelo citado Parecer.

o Art. 3° da Lei Complementar Federal n° 159/2017 estipula o rol ele


requisitos necessários para que o Estado ou Distrito Federal seja considerado
habilitado para aderir ao Regime de Recuperação Fiscal. Em seus em seus
incisos I, II e 111 fica estipulado que os referidos requisitos do rol devem ser
apurados conforme as definições e critérios trazidos no artigo 18 e 42 da Lei de
Responsabilidade Fiscal, ou seja, apontam-na como critério aritmético para os
cálculos: (í) da receita corrente líquida anual, a fim de verificar se esta é menor
que a dívida consolidada ao final do exercício financeiro anterior ao do pedido
de adesão ao Regime de Recuperação Fiscal; (U) das despesas liquidadas com
pessoal, com juros e amortizações, com vistas a calcular se somados estes
representem, no mínimo, 70% (setenta por cento) da receita corrente líquida
aferida no exercício financeiro anterior ao do pedido de adesão ao Regime de
Recuperação Fiscal; e, OU) do valor total de obrigações contraídas, a fim de

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°1I
SERViÇO PÚBLICO ESTADUA~ I

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Processo n
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: E-14/001.000285~~ I

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Data: OB{01/2019 Fls. "- ')
-- -_ - \),. -.......-J
w

-0
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

O

verificar se este é maior que as disponibilidades de caixa e equivalentes de caixa
de recursos sem vinculação.

I
LE
De igual forma, o Art. 8°, traz as vedações ao Estado durante a vigência
do Regime de Recuperação Fiscal, e em seu inciso VIII, estabelece que o Estado

S
RE
não deve adotar medida que implique reajuste de despesa obrigatória acima da
variação anual do lndice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (lPCA), ou

OR
de outro que vier a substituí-lo, ou da variação anual da receita corrente líquida,
que deverá ser apurada na forma do inciso IV do art. 2° da LC n° 101/2000,

IT
valendo-se do que for menor mediante o caso concreto. Ou seja, mais uma vez,
AN
observa-se que a Lei de Responsabilidade Fiscal foi apontada como critério
aritmético para cálculo.
-I

Já as disposições contidas no Art. 9", §4°, dispensam a aplicação dos


70

requisitos exigidos na LC n° 101/2000 para realização de operações de crédito


77

e dispensa os requisitos legais exigidos quando da contratação com a União.


48

De igual sorte o Art. 11 dispõe sobre o rol de finalidades para' a


91

contratação de operações de crédito, e em seu parágrafo quarto, determina que


estão dispensados os requisitos legais exigidos para a contratação de operações
57

de crédito e para a concessão de garantia, inclusive aqueles dispostos na LC nO


-0

101/2000,
ÃO

Segundo a mesma lógica de dispensa da aplicação de disposições


normativas da Lei de Responsabilidade Fiscal, destaca-se o Art. 10, que dita que
IT

durante a vigência do Regime de Recuperação Fiscal, fica suspensa a aplicação


LE

de uma série de dispositivos da LC nO 10112000, tais como: (i) art. 23, ressalvado
o disposto no inciso I do § 30; (ií) alíneas "a" e "c" do inciso IV do § 10 do art. 25,
ES

ressalvada a observância ao disposto no § 30 do art. 195 da Constituição


RR
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SERViÇO rústico ESTADUAL

Processo o., E·14/0!1b00028SI2019

Data: 08/01{2019 FIS.S>,,_


PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
PROCURADORIA ADMINiSTRATIVA

Federal; e, (íii) art, 31, Ademais, o artigo em referência, expressa em seu


parágrafo único que para os Estados que aderirem ao Regime de Recuperação
Fiscal, o prazo previsto no caput do art, 23 da LC nO 101/2000, será o mesmo
pactuado para o Plano de Recuperação,

Do mesmo modo, o Art. 17, em seu parágrafo 3°, dispensa os requisitos


legais exigidos para a contratação de operaçoes de crédito, inclusive aqueles
dispostos na LC nO 101/2000, nas hipóteses de inadimplência em operações de
crédito com o sistema financeiro e instituições multilaterais, garantidas pela
União e contratadas em data anterior à homologação do pedido de adesão ao
Regime de Recuperação Fiscal, posto que, é vedado à União executar as contra
garantias ofertadas,

Em última análise, ressalta-se que a LC na 159/2017 faz ainda mais duas


referências em seus artigos 14 e 15 à LC nO 101/2000, Através do Art. 14,
modifica a redação do dispositivo 32 da LC n° 101/2000 e acrescenta-lhe o
parágrafo 6°, estabelecendo assim, um prazo para validade da verificação dos
limites e das condições e da análise realizada para a concessão de garantia pela
União, de no mínimo, 90 dias e, no máximo, 270 dias, a critério do Ministério da
Fazenda,

No que se refere ao Art, 15, têm-se que o mesmo modifica a redação da


Lei Complementar n° 156/2016, e acrescenta o art, 12-A, que por sua vez, dispõe
que a União poderá adotar, nos contratos de refinanciamento de dívidas
celebrados com os Estados e o Distrito Federal com base na Lei nO 8.727/1993,
celebração de termo aditivo, para o pagamento das dívidas refinanciadas cujos
créditos sejam originalmente detidos pela União ou por ela adquiridos. Em
relação à LC nO 101/2000, o parágrafo quinto, do art. 12-A estipula que estão
dispensados, para a assinatura deste referido aditivo, todos os requisitos legais

24
SERViÇO PÚBLICO ESTADUAL

91
Processo n': e-14(OQ1,OO028S(2019

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Data: 08(01(2019 Fls,

-0
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
PROCURAOORíA ADMINISTRATIVA

O
exigidos para a contratação com a União, inclusive os dispostos no art, 32 da l,C


nO 101/2000.

I
LE
Assim, verifica-se que as relações entre as Leis de Responsabilidade
Fiscal e de Recuperação Fiscal, demonstradas pelas referências legislativas

S
RE
acima elencadas, se limitam ao uso de critérios matemáticos para apuração de
contas ou, o que é até mais relevante para a presente consulta, constituem

OR
exceção à própria aplicação da LRF, não o seu reforço ou sua
complementariedade, como dá a entender o citado parecer da CEDAE. Em

IT
nenhum momento a Lei Complementar nO 159/2017 estabelece que suas
AN
disposições devam seguir um objetivo de alcançar a ratio da Lei Complementar
nO 101/2000 e nem mesmo de que esta deve ser aplicada subsidiariamente às
-I

questões omissas do Regime de Recuperação Fiscal.


70
77

IV - RECEITAS E DESPESAS NO REGIME DE RECUPERAÇÃO FISCAL.


48

Conforme visto no tópico anterior, o Regime de Recuperação Fiscai tem


91

como principal objetivo a recuperação global das finanças do Estado ou Distrito


57

Federal em situação de insolvência extrema e que se encontra em grave


-0

desequilibrio fiscal. Para tanto, o regime oferece mecanismos instrumentais, de


caráter estrutural e emergencial, a fim de que, através de sua adequada
ÃO

implementação, o passivo do ente federativo possa ser devidamente


reequacionado e, por conseguinte, possam ser reequilibradas suas contas.
IT
LE

Assim, através da adesão ao Regime de Recuperação Fiscal e da


elaboração do Plano de Recuperação Fiscal, têm~se o estabelecimento
ES

normativo de instrumentos jurídicos e econômicos que visam, muitas vezes com


liberação de peias da LRF, proporcionar a plena recuperação financeira do ente í\~
RR

.I
'UI., .1
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25
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SERViÇO PÚBLICO ESTADUAL

fls. 'Z1:
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PROCURADORIA GERAL DO ESTADO


PROCURADORIA ADMINISTRAllVA

federativo insolvente, tal qual se depreende das considerações prestadas pelo


Professor Dr. José Maurício Conti:

A questâo da relação entre a dívida públíca e o


federalismo fiscal, embora ainda pouco explorada,
cada vez mais se mostra de extrema relevância para
a higidez de nossas finanças públicas. O descontrole
das contas públícas em âmbito subnacional já .há
muito tem sido fonte dos graves problemas
financeiros que afetam nosso país e impedem o
equilíbrio e sustenlabi/ídade das contas públicas, p.ois
o ente cenlral acaba se vendo obrigado a socorreras
entes subnacionais em apuros (o que ocorreu por
diversas vezes no Brasil). (...)
Nossa Lei de Responsabilidade Fisca/leve como um
de seus méritos procurar "estancar a sangria"
representada pelos endividamentos excessivos dos
entes federados que acabavam por sobrecarregaras
finanças federais com transferências de recursos
para "cobrir o rombo" e sendo onerada ao arcar com
garantias de dívidas alheias. Estabeleceu limites
rígidos para o endividamento e medidas duras para
aqueles que os ultrapassarem, além de medidas
preventivas. Mas parece não ter dado o resultado
esperado, país, se a legislação fOsse cumprida e os
sistemas de fiscalização atuassem de forma atenta e
rígida, as coisas não poderiam ter chegado a esse
ponto.
Diante de nossa aversão à falência de entes
federados, que, como já se pode antever, não se
mostra viável, até por razões culturais, a única
solução plausível é mesmo a de estabelecer regras
que permítam a recuperação financeira, até para
atender o princípio da continuidade dos serviços
públicos.
A reestruturação fiscal pode ser um excelente
instrumento para implementar um sistema de
disciplina fiscal, pois obriga o gestor a tomar

Q
26 l
SERViÇO PÚBLICO ESTADUAL

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Processo n2: E~~4/001.ü00285/2Q19

57
Data: 08/01l201~ fl •. ~

-0
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

O

medidas impopulares que não teria condições de
fazer em outras circunstâncias, facilítando as
negociações com os credores. Aumentar tributos,

I
LE
cortar gastos, reduzir beneficios fiscais e outras
medidas de arrocho financeiro dificilmente são
tomadas 'voluntariamente' por um político que

S
precisa de apoio da população que o elegeu e

RE
poderá voltar a fazê-Io na próxima eleição. (Grifou-
se)1S

OR
Portanto, perante uma situação de grave desequilíbrio das contas

IT
públicas, os mecanismos e instrumentos previstos no Regime de Recuperação
AN
Fiscal devem ser abrangentes, a fim de que se consiga não somente conter as
despesas que integram a dívida pública, como também favorecer o aumento de
-I

receitas do ente federativo.


70

Sobre o debate em tela, cabe pontuar as observações realizadas por


77

Guilherme Mercês, Gerente Geral de Estratégia, e por Nayara Freire, analista de


48

Estudos Econômicos, ambos membros da Federação das Indústrias do Estado


91

do Rio de Janeiro (Sistema FIRJAN):


57

A análise das contas públicas subnacionais, contudo,


não deve se restringir a evolução da dívida e do
-0

déficit, como faz tradicionalmente a análise


macroeconômica da política fiscal. Isso porque a
partir do acordo com o Govemo Federal, no final da
ÃO

década de 1990, os estados e municípios tiveram sua


dívida refinanciada e foram proibidos de emitir dívida
IT

mobiliária, ficando, portanto, impedidos de se


endividar frente a um déficit orçamentário. Assim, as
LE

medidas de déficit "abaixo da linha", construídas na


década de 1980 e divulgadas mensalmente pelo
ES

," CONTL José Maurício. Um salve pela recuperação financeira do estado do Rio de Janeiro l
RR

Data da· Publicação: 27. Jun. 2017. Disponível em: <https://www.conjuLcom.br/2017-jun-


27/contas-vista-salve-recuperacao-financeira-estado-rio-janeiro>. Acesso em: 20 de fev. 2019.
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27
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SERViÇO PÚBLICO ESTADUAL

Processo n2; E-14/001.()QQ285/2019

D3'.' 08/01/2019 Fls. iOO

PROCURADORIA GERAL 00 ESTADO


PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

Banco Central, deixaram de ser o melhor termômetro


fiscal para estados e municípios. O resultado fiscal
medido pela diferença entre oS fluxos de receitas
e despesas, conhecido como "acima da linha",
permite melhor acompanhamento da situação
fiscal dos entes federativos. Outra variável
importante a ser considerada são os restos a pagar,
pois se tomaram a principal fonte de financiamento
não só para os estados, mas também para os
municípios. De fato, explicam movimentos de
desequilíbrio fiscal que muitas vezes não são
revelados pelos indicadores de estoque, como a
divida consolidada. Representam o que podemos
chamar de déficit "entre linhas". (Grifou-se)17.

Nesse contexto, a Lei Complementar nO 159/2017, em seu Art. 2°, §1°,


enumera um conjunto de medidas às quais o Estado pode se comprometer a
implementar, enquanto condições necessárias para a reestruturação das suas
finanças, tais quais: (ij a privatização de empresas dos setores finanoeíro, de
energia e de saneamento; (H) a elevação da alíquota de contribuição
previdenciária dos servidores; (iíi) a adaptação do regime próprio de previdência
do Estado às regras vigentes no Regime Geral de Previdência Social; (iv) a
redução de incentivos fiscais; (v) a revisão do regime jurídico único dos
servidores estaduais visando a convergência para regras similares às vigentes
para a União; (vi) a instituição de previdência complementar para os novos
servidores; regularização no uso de recursos de depósitos judiciais no
financiamento de despesas públicas; e, (vii) o uso de leilões de pagamento para
redução dos débitos relativos a restos a pagar e despesas em atraso,

17MERCÊS, Guilherme; FREIRE, Nayara. Crise fiscal dos estados e o caso do Rio de Janeiro.
Disponível em: <https:lldoLorg/1Q,12957/geouerj.2017.32070>, Acesso em: 20 de fev, 2019,
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Processo 02: E~14/001.90028512019

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O.t.: 08/01/2019 Fls.

-0
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

O

Logo, percebe-se que alguns desses mecanismos demonstram que há
uma preocupação para além da mera redução de despesas, possibilitando

I
LE
também o aumento de receitas. Isto porque, tal qual visto acima, o Art, 2°, §1°
da LC nO 159/2017 expressa uma série de medidas de ajustes que deverão ser

S
implementadas no Plano de Recuperação, visando também ao aumento de

RE
receitas, haja vista as disposições dos incisos I e 111 do referido artigo,

OR
o inciso I, do art, 2°, §1° dita que deverá ser implementada a autorização
de prívatização de empresas dos setores financeiro, de energia, de saneamento

IT
e outros setores, objetivando com isso, que os recursos adquiridos com a
AN
privatização possam ser utilizados para quitação de passivo, Verifica-se, desta
forma, que a partir do momento em que há uma autorização para privatização
-I

de empresas estatais há a preocupação com o aumento de receita, na medida


70

em que a alienação das ações da estatal gerará recursos financeiros que serão
77

utilizados para a quitação de débitos,


48

Coaduna-se a tal previsão o disposto no art. 1°, § 2°, IV do Decreto


Federal nO 9,109/2017, que dispõe ser necessário que se comprove que as
91

privatizações de empresas estatais gerarão recursos suficientes para a quitação


57

de passivos, com base nos critérios definidos pelo Ministério da Fazenda. Assim,
-0

cumpre destacar que os referidos critérios foram definidos por meio da Portaria
Ministerial nO 381/2017, segundo a qual as privatizações devem ocorrer em
ÃO

empresas estatais com patrimônio líquido positivo, o que por sua vez deverá ser
comprovado por meio da verificação do Balanço Patrimonial do último exercício
IT

da empresa,
LE

Outro inciso do art, 2°, § 1° da LC nO 159/2017 que pode ser destacado


ES

como possibilidade de aumento de receita é o inciso 111. O referido inciso dispõe


f)
RR

que uma das medidas que deverá ser implementada no Plano de Recuperação

~
TO

29 \
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SERViÇO PÚBLICO ESTADUAL

ProceSSo o': E-14/001.º00285!2Jl:gl.

Data: 08/0112019 Fls. '0'1-

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PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

Fiscal é a redução dos incentivos ou benefícios de natureza tributária. A lei


ressalva que deverão ser reduzidos aqueles incentivos ou beneficios dos quais
decorram renúncias de receitas instituídos por lei estadual ou distrital, de, no
mínimo, 10% ao ano, com exceção daqueles concedidos por prazo certo e em
função de determinadas condições e aqueles instituídos na forma estabelecida
pela alínea "g" do inciso XII do § 2° do art. 155 da Constituição Federal.

Dessa maneira, percebe-se que há um esforço no Regime' de


Recuperação Fiscal em formular disposições que versem de maneira ampla
sobre as finanças do Estado. Confere-se, portanto, uma visão global às contas
pÚblícas 18 , que busca proporcionar a reestruturação fiscal completa ao dispor
sobre a redução de despesas, mas também sobre o aumento de receitas e
geração de ativos.

,. De forma crítica a doutrina de direito financeiro reflete que "a divida pública funciona como um
mecanismo de gestão dos recursos públicos, fazendo frente a déficits momentâneos, ou ainda,
financiando despesas que beneficiarão várias gerações (... ) Há determinados gastos públicos
cujos encargos podem ser equitativamente distribuídos ao longo de várias geraçiies. 1:': o caso,
v.g., de investimentos ou despesas de capital, que, por corresponderem â aquisiçãO de um ativo
ao patrimõnio público, podem gerar recursos, utilidades e benefícios para gerações futuras, O
endividamento é, assim, um importante instrumento para se distribuir adequadamente no tempo
as encargos relativos a tais gastos e fazer com que concorram para a despesa pública todos
aqueles que dela irão se beneficiar. Isso não significa que as gerações futuras deverão cust",ar
os atuais gastos públicos. O nível da dívida deve ser adequado para distribuir os encargos das
despesas entre diferentes gerações, não podendo o endividamento ser utilizado apenas como
meio de se transferir a gerações futuras o ônus das despesas atuais" (ANDRADE, Cesar
Augusto Seijas de. O controle do endividamento público e a autonomia dos entes :da
federação, 2012. Dissertação (MestradO em Direito Econômico e Financeiro) - Faculdade de
Direilo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. doi:10.11606!D.2.2012tde-06062013-
141952. Acesso em: 2019-02-28. p.43!44) .1:': exatamente esse o espírito da LC 159/2017, que
persegue um equillbrio geracional equitativo da despesa, ou nas palavras de Ricardo Lobo
Torres: "a equidade entre gerações significa que os empréstimos públicos e as despesas
governamentais não devem sobrecarregar as gerações futuras, cabendo ã própria geração que
delas se beneficia arCar com o ônus respectivo". (TORRES, Ricardo Lobo apud ANDRADE,
Cesar Augusto Seijas de, O controle do endividamento público e a autonomia dos entes da
federação. 2012. Dissertação (Mestrado em Direito Econômico e Financeiro) - Faculdade de
Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. doi:10.11606/D.2.2012.tde·06062013-
141952. Acesso em: 2019-02-28. P 44)

30
SERViÇO PÚBLICO ESTADUAL

91
Ptocess.o n1?: E-14/001.00028512019

57
Data, 08/0112019 FIS.1J:2:L.

-0
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PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

O

v - TELEOLOGIA AMPLA DA LC N° 159/2017 -INDISTINÇÃO DO CARÁTER

I
LE
NÃO DEPENDENTE DA EMPRESA ESTATAL PARA A SUBMISSÃO AO
REGIME DE RECUPERAÇÃO FISCAL.

S
RE
OR
Dos ensinamentos de Karl Larenz é possível extrairmos que o ato de
interpretar é "uma atividade de mediação, pela qual. o interprete traz à

IT
compreensão o sentido de um texto que se lhe torna problemátíco"19. De forma
AN
semelhante, Martin Heidegger20 e Hans Georg Gadamer21 apontam que a
interpretação representa, acima de tudo, uma compreensão pautada na ideia de
-I

mediação calcada na linguagem. Com o texto legal essa dinâmica


70

epistemológica não é distinta, como nos lembra larenz:


77

o
48

objeto da interpretação é o texto legal como


"portador" do sentido nele vertido, de cuja
91

compreensão se trata na interpretação. Interpretação


(auslegung) é, se nos ativermos ao sentido das
57

palavras, desentranhamento (auseinanderlegung),


difusão e exposição do sentido disposto no texto,
-0

mas, de certo modo, ainda oculto. Mediante; a


interpretação faz se falar este sentido, quer dizer ele
ÃO

10 LARENZ, Karl: "Metodologia da Ciência do Direito". Lisboa: Fundaç'\io Calouste Gulbenkian,


1997. p 439.
IT

20 HEIDEGGER, Martio. "Sere Tempo'. Vol. I. Trad. Márcia de Sá Cavalcante. 10 ed.


LE

Petrópolis: Vozes, 2001.


21 Segundo Gadamer, "a tarefa da interpretação consiste em concretizar a lei em cada caso, isto
é, em sua aplicação. A complementação produtiva do Direito. que ocorre com isso, está
obviamente reservada ao juiz, mas este encontra ..se por sua vez sujeito à lei, exatamente como
ES

qualquer outro membro da comunidade jurldica. Na idéia de uma ordem judicial supõe ..se o fato
de que a sentença do juiz nào surja de arbitrariedades imprevisiveis, mas de uma ponderação
RR

justa de conjunto" (GADAMER, Hans.. Georg: "Verdade e método', Tradução de Flávio Paulo
Meurer. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1997. p 489),
TO

31
l
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SERVIÇO PÚBLICO ESTADUAL

Processo n'i!: ~~14/o01.0002SSI2019

Dat.: OS/Olt2019

PROCURADORIA GERAL DO ESTADO


PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

é enunciado com outras palavras, expressado .de


modo mais claro e preciso, e tomado comunicável. A
esse propósito, o que, caracteriza o processo de
interpretação é que o interprete só quer fazer falar o
texto, sem acrescentar ou omitir o que quer que
seja 22 .

o ato de Interpretar teologicamente23 , por sua vez, significa empreender


~ uma busca ao sentido e finalidade de uma determinada norma jurídica e assim,
assegurar que seja devidamente respeitado o seu espírito, medianleas
situações concretas com as quais o direito possa se deparar; o que pode ser
plenamente traduzido nas palavras do eminente jurista Carlos Maximiliano:

o hermeneuta sempre terá em vista o fim da lei, o


resultado que a mesma precisa atingir em sua
atuação prática. A norma enfeixa um conjunto de
providencias protetoras, julgadas necessárias para
satisfazer a certas exigências econômicas e sociais;
será interpretada de modo que melhor corresponda
àquela finalidade assegure plenamente a tutela de
inferesse para a qual foi regida 24 •

22LARENZ, Karl: "Metodologia da Ci@ncia do Direito". Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,


1997. p 441.
23 Karl Larenz torna mais complexo a interpretação teleol6gica ao acrescentar um elemento
objetivo eivado de uma leitura valorativa. Conforme as lições do alemão: "de tOdo modo resultam
dois grupos de critérios de interpretação !eleológico-objectivos, que têm que ser decisivos em
lodos aqueles casos em que os critérios até agora discutidos não sejam capazes ainda de dar
uma resposta isenta de dúvidas. Por um lado, trata-se das estruturas do material regulado. dados
factuais, em relação aos quais nem o legislador pode alterar o que quer que seía, e que ele toma
em consideração de modo racional a propósito de qualquer regulação: por outro lado, trata-se
dos princípios éticos-jurídicos, que estão antepostos a uma regulação, nos quais a referência de
sentido dessa regulação á ide ia de Direito se torna apreensivel, manifesta. Chama-os de
°
teleológico objetivos porque não dependem de se legislador teve sempre consciência de sua
importância.para a regulação por ele conformada, conquanto esta s6 se deixe compreender na
sua globalidade enquanto por eles condicionada". (LARENZ, Karl: "Metodologia da Ciência do
Direito". Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997. p 4691470).
24 MAXIMILIANO, Carlos: "Hermen@uticaeaplicaçãododireito".20'. M. Rio de Janeiro: Forense,
2011. p. 125.
:In
32 v'l
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1
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~
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SERViÇO PÚBLICO ESTADUAL

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Processo n': E-14/001.0Q028S/2019

57
Data: 08/01/2019 Fls.-l\22-

-0
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

O

Do mesmo modo, Tércio Sampaio Ferraz Junior, ao estudar a

I
LE
interpretação teleológica, adotou posicionamento semelhante e demonstrou que
o movimento interpretativo deste método hermenêutico estimula a participação

S
do intérprete na configuração do sentido da norma, de forma que: ué como se o

RE
intérprete tentasse fazer com que o legislador fosse capaz de mover suas

OR
próprias previsões, pois as decisões dos conflitos parecem basear-se nas
previsões de suas próprias consequêncías"25

IT
Nesse sentido, cumpre ressaltar que o presente parecer adota o referido
AN
método hermenêutico com vistas a alcançar o espírito do Regime de
Recuperação Fiscal, a fim de que se possa responder à questão proposta neste
-I

parecer, seguindo os preceitos que ditaram os fins sociais do referido regime


70

legal, haja vista que: "o espírito da norma há de ser entendido de modo que o
77

preceito atinja completamente o objetivo para o qual a mesma foi feita, porém
dentro da letra dos dísposítívos"26.
48

Ao interpretar teologicamente 27 a Lei Complementar nO 15912000, vê-se


91

que o seu objetivo é estabelecer um regime excepcional e emergencial, no qual


57
-0

2S FERRAZ JUNIOR, Tereio Sampaio.' "Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão,


dominação". 10'. Ed. rev., alual e ampl. São Paulo: Atlas, 2018.
ÃO

26 MAXIMILIANO, Carlos. "Hermenêutica e aplicação do direito"~ 20'. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2011. p, 125.
27 Acerca da interpretação teleológica, cabe mais uma vez ressaltar os doutos ensinamentos de
IT

Carlos Maximiliano: "Algumas regras servem para completar a doutrina acerca do emprego do
LE

elemento teleológico: eis as principais: a) as leis conformes no seu fim devem ter idêntica
execução e não podem ser entendidas de modo que produzam decisões diferentes sobre o
mesmo objeto. 8) Se o fim decorre de uma série de leis, cada uma há de ser, quanto possível,
compreendida de maneira que corresponda ao objetivo resultante do conjunto. C) Cumpre
ES

atribuir ao texto um sentido tal que resulte haver a lei regulado a espécie a favor, e não er;n
prejuízo de quem ela evidentemente visa a proteger. D) Os títulos, as epígrafes, o preâmbulo e
RR

as exposições de motivos da lei auxiliam a reconhecer o fim primitivo da mesma." MAXIMILIANO,


Carlos. "Hermenêutica e aplicação do direito". 20'. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. p. 128.

rf\
TO

33 \
\
NI
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SERVIÇO PÚBliCO ESTADUAL

Processo (I~: E~14/001.000285/2019

O.t.: 08!Ol{2019 Fls . ...1.9h.


PROCURADORIA GERAL 00 ESTADO
PROCURADORIA AOMINISTRATIVA

todas as forças do Estado se somem para que o ente federativo volte a' ser
economicamente equilibrado.

Tal posicionamento é reforçado pelo conteúdo do Parecer da Comissão


de Finanças e Tributação, proferido em Plenário pelo Relator, Deputado Pedro
Paulo, ao Projeto de Lei Complementar nO 343, de 2017, que veio a se tornar a
Lei Complementar n° 159/2000, conforme se verifica nos excertos destacados
abaixo:

o do Regime de Recuperação que se analisa, mais


do que atender a demandas atuais de alguns Estados
especificamente, visa acabar com a brecha da nossa
legislação.
t:: sabidoque a Lei de Responsabilidade Fiscal veio
para dispor sobre Finanças Públicas, visando
controlar o nível de endividamento e .de
comprometímento de todas as esferas de governo no
Brasil. A LRF almejou disciplinar, controlar e corrigir
todas as situações que poderiam gerar desequilíbrios
orçamentários e financeiros de quaisquer dos entes
da Federação.
No entanto, o que à época pareceu suficiente no
contexto dos ajustes fiscais necessários à
estabilização da economia brasileira, se mostrou
incompleto. De fato, não se pensou que mesmo com
a existência de norma como a LRF alguns entes
públicos poderiam ter suas finanças degradadas com
o tempo, em função de inúmeros desvios
institucionais e de interpretações equivocadas da
norma.
Assim sendo, o atual projeto de lei complementar visa
estabelecer, de forma perene, e não transitória,
regime que propicie a recuperação de qualquer
Estado da Federação, ou do Distrito Federal, para
o caso de ele se encontrar no caminho da n
insolvência total. . ~

34 \
~~.~~~--~~ .. _~~._-,

SERViÇO PÚBLICO ESTADUAL

91
Da,a: 08[01/2019 FIS.~

57
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO

-0
PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

O
Visando então a recuperação financeira do Estado


que se encontre enquadrado nos requisitos objetivos
definidos na leí (art. 3"), foram dispostas medidas a

I
serem tomadas, e prerrogativas a serem exercidas de

LE
forma a propicíar recuperação que não seria
igualmente possível sem este regime. (. ..)

S
Com esse grupo de medidas, espera-se que após

RE
o término do Plano de Recuperação o Estado
tenha reconduzido os montantes de sua dívida

OR
consolidada, de despesa como pessoal, dos seus
restos a pagar e das suas operações de créditos
para dentro dos limites estabelecidos em Lei,ou

IT
em Resolução do Senado Federal, mas que
principalmente tenha trazido estes montantes
AN
para valores compatíveis com a capacidade do
Estado de gerar receitas e realizar investimentos
produtivos, sem os quais não poderá haver
-I

desenvolvimento econômico daquela unidade.


Por tudo isso, somos favoráveis ao projeto em
70

comento. (Grifou-se)28.
77
48

Percebe-se que uma preocupação do poder legislativo foi realmente


91

garantir que as medidas adotadas no Regime de Recuperação Fiscal tivessem


um caráter amplo, que se preocupasse de forma integral com as contas públicas,
57

ou seja, que se pautasse com o controle de despesas e também a criação de


-0

mecanismos que favoreçam o aumento de receitas, conforme devidamente


exposto no tópico VI.
ÃO

Diante do sentido finalístíco desta Lei, não seria adequado interpretá-Ia de


IT

forma a excluir do seu âmbito de aplicação justamente as esferas do Estado


LE

potencialmente aptas a contribuir com mais recursos financeiros para a sua


ES

2. CÂMARA DOS DEPUTADOS, Sessão Deliberativa Extraordinária de 05.04.2017. Comissão


de Finanças e Tributação. Inteiro teor. Projeto de Lei Complementar n" 343 de 2017. Disponível
tA
(\
RR

em: <https://biUy/2IKnNnd >, Acesso em: 25, fev. 2019.


TO

35 \
NI
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SERvrço PÚBUCO ESTADUAL

Data: 08/0112019

PROCURADORIA GERAl DO ESTADO


PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

recuperação fiscal, que seriam justamente as empresas estatais independentes,


seja pela distribuição de dividendos que geram, seja pela sua alienação.

o conceito de empresa estatal não dependente29 parte da negação do


caráter subordinado da empresa estalai dependente. A concepção teórica desse
constructo é trazido no bojo normativo da Lei de Responsabilidade Fiscal, que o

29 É esclarecedora a doutrina de Weder de Oliveira, ao nos remeter a origem desse constructo


°
ao final dos 90. Nesse sentido, conceito de empresa estatal dependente remete às 'disposições
das leis de diretrizes orçamentárias da União anteriores a 1998. A Lei n" 9692/1998, LD011999,
ao dispor sobre a abrangência dos orçamentos fiscal e da seguridade social. assim o fez: Art4°
os orçamentos fiscal e da seguridade social compreenderão a programação dos Poderes da
união, seus fundos, órgãos, autarquias. inclusive especiais, e fundações instituídas e mantidas
pelo Poder Público. bem como das empresas públicas, sociedades de economia mista e demais
entidades em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social' com
direito a voto e que dela recebam recursos do Tesouro Nacional, devendo a correspondente
execução orçamentaria e financeira ser totalmente registrada no Sistema Integrado de
Administração Financeira - SIAFL Parágrafo único, Excluem-se do disposto neste artigo as
empresas que recebam recursos da Uni~o apenas sob a forma de: I - participação acionária; 11
- pagamento pelo fornecimento de bens e pela prestação se serviços; 111 - pagamento de
empréstimos e financiamentos concedidos; IV - transferências para aplicação em programas de
financiamento nos termos do disposto nos arts, 159, inciso I. alinea "c" e 239, §1°, da Constituição
Federal". OLIVEIRA, Weder: "Curso de Responsabilidade Fiscal: Direito, Orçamento, Finanças
Públicas". Volume L Belo Horizonte: Fórum, 2013.p 220,
À luz dos dispositivos citados percebemos que "as empresas públicas e sociedades de economia
mista que recebessem recursos do Tesouro Nacional deveriam ser integradas aos orçamentos
fiscais e da seguridade social, e não ao orçamento de investimento, dando-se adequada
interpretaçao ao §5° do art. 165 da Constituição. Portanto, a LDO da União, na ausência de lei
permanente dispondo sobre a questão, encontrou uma formulação coerente: se a empresa
recebe recursos do Tesouro Nacional, não deve ser incluída no orçamento de investimentos. Em
vez disso, deve ter toda sua programação descrita nos orçamentos ftscal ou da seguridade sociaL
O parágrafo único do art. 4° da LDOl1999 enumerou os casos em que o recebimento de recursos
não acarretava a aplicação do caput do artigo á empresa: parágrafo único. Excluem-se do
disposto neste artigo as empresas que recebam recursos da União apenas sob a forma de: I -
participação acionária; 11 - pagamento pelo fornecimento de bens e pela prestação de serviços;
111- pagamento de empréstimos e financiamentos concedidos; IV -transferências para aplicação
em programas de financiamento nos termos do disposto nos arts. 159, inciso I, alínea "c" e 239,§
1°, da Constituição Federal. O inciso IV refere-se a recursos repassados a instituições financeiras
oficiais, na forma dos mencionados dispositivos constitucionais C,,) estava criado, implicitamente,
o conceito de empresa estatai dependente, que foi expressamente incorporado à ordem juridica
financeira pelo inciso 111 do art2" da LRF: 111 - empresa estatal dependente: empresa controlada
que receba do ente controlador recursos financeiros para pagamento de despesas com pessoal
ou de custeio em geral ou de capital, excluídos, '10 último caso, aqueles provenientes de aumento
de participação acionária". OLIVEIRA, Weder: "Curso de Responsabilídade Fiscal: Direi/o,
Orçamento, Finanças Públicas", Volume L Belo Horizonte: Fórum, 20.13.p 220/221 .
,lA
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SERViÇO PÚBliCO ESTADUAL

91
O.ta, 08{Ol{2019 Fls. ~)JL.L

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PROCURADORIA GERAL DO ESTADO

-0
PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

O
define em seu artigo 2°, inciso 111, conceituando-o como aquela sociedade que é


controlada pela Administração e cujos débitos com pessoal ou com custeio em

I
geral ou de capital (excluídos, no último caso, aqueles provenientes de aumento

LE
de participação acionária) são realizados com recursos financeiros do ente

S
controlador. Cumpre destacar ainda a definição de Carlos Ari Sundfeld e de

RE
Rodrigo Pagani de Souza que caracterizam empresa estatal dependente da
seguinte maneira:

OR
Empresa estatal dependente é aquela que recebe
recursos financeiros do seu controlador para a

IT
cobertura de seus déficits. Está é a noção essencial
de uma empresa estatal dependente. (. . .)
AN
A empresa estatal dependente, ante o déficit em suas
-I

contas, busca socorro no orçamento alheio como se


fora o seu, vale dizer, como se não houvesse
distinção entre a sua personalidade jurídica e a de seu
70

controlador. 30
77
48

Assim, por definição, vê-se que, ao contrário das empresas estatais


91

dependentes, as estatais não dependentes, seriam aquelas que não são


assistidas por recursos orçamentários alheios aos seus para cobrir seus déficits,
57

bem como se distinguem em sua atuação de modo que não se encontram


-0

subordinadas a um ente público controlador, o que por sua vez, logicamente a


diferencia da empresa estatal dependente 31 .
ÃO
IT

30 SUNDFELD, Carlos Ari; SOUZA, Rodrigo Pagani de. "A superação da condição de empresa
LE

es/alal dependente". Revista de Direito Público de Economia - RDPE. Belo Horizonte, ano 3, nO
12, oul./dez. 2005.
31 Sobre o tema, cumpre mais uma vez destacar os ensinamentos de Carlos Ari Sundfeld e de
Rodrigo pagani de Souza, que demonstram de forma veemente que: "A consequência desta
ES

qualificação como empresa estatal dependente é que a sua gestão fiscal fica sujeita a uma série
de limitações, previstas na LRF, que não recaem sobre a totalidade das empresas controladas
(fi.
RR

pelo ente federado. De fato, a LRF faz distinção entre empresas estatais controladas
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SERViÇO PÚBLICO ESTADUAL

Data: 08/01/2019 FIS • ...llQ..

PROCURADORIA GERAL DO EsTADO


PROCURADORIA ADMINISTRATiVA

Porém, como já referido, não há no Regime de Recuperação Fiscal


nenhuma menção às categorias de empresa estatal dependente ou não
dependente, bem como é inexistente no Plano de Recuperação Fiscal do Estado
do Rio de Janeiro (fls. 23147) alguma peculiaridade normativa quanto a essas
categorias.

o legislador adotou um âmbito de incidência subjetivo amplo ao Regime


de Recuperação Fiscal e não estabeleceu regimes distintos a diferentes entes e
entidades da Administração Pública, aplicando a todos indistintamente suas
previsões, tal qual as disposições do Art~ 1°, § 3°, da Lei Complementar nO
159/201732 ; percebe-se que não cumpre perfazer uma interpretação que crie
distinções que o próprio legislador não criou, haja vista a máxima de que: "ubi
fex non distínguit nec nos disfinguere debemus"

Apenas a Lei Complementar Federal n° 101/2000 institui um regime


específico de tratamento para as empresas estatais independentes, excluindo-

dependentes e empresas estalais simplesmente controladas, que poderiam também ser


chamadas não dependentes (já que, efetivamente, não dependem de certas subvenções do
Tesouro para se manter)"~ SUNDFELD, Carlos Ari; SOUZA, Rodrigo pagani de: "A superação da
condição de empresa es/a/al dependente"~ Revista de Direito Público de Economia - ROPE< Belo
Horizonte, ano 3, nO 12, outldez. 2005.
32 Art~ 10. É instítuldo o Regime de Recuperação Fiscal dos Estados e do Distrito Federal, nos
tennos do Capítulo /I do TItulo VI da Constiluiç!io Federal § 3"~ Para os efeitos desta Lei
Complemenlar, as referênGÍas aos Estados e ao Distrito Federal compreendem o Poder
Executivo, o Poder Legislativo, o Poder Judiciário, os Tribunais de Conlas, o Ministério Público,
a Defensoria Pública, a administração pública direta e indireta dos referidos entes federativos e
os fundos a eles destinados~
:l3 Da mesma forma: verba cum effeclu sunt accípienda (não se presumem, na lei, palavras
inúteis) e uni/ex voluil dixil, ubi no/uil, lacuit (quando a lei quis, dispôs, quando nao, caloul~ Carlos
Maximiliano destaca que "embora seja verdadeira a máxima atribulda ao apóstolo São Pau io-
a letra mata, o espírito vivifica -, nem por isso é menos certo caber ao juiz afastar-se das
expressões claras da lei, somente quando ficar evidenciado ser isso indispensável para atingir a
verdade em sua plenitude< O abandono da fórmula explícita constitui um perigo para a certeza
do Direito, a segurança jurídica: por isso, só é justificável em face de mal maior, comprovado: o
de sua solução contrária ao espírito dos dispositivos, examinados em conjunto< As audácias do
hermeneuta nâo podem ir a ponto de substituir, de fato, a norma por outra~" MAXIMILlAN~O,
Carlos: "Hermenêutica e aplicação do direito", 20 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p~ 91.
n
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SERViÇO PÚBLICO ESTADUAL

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Data: 08{Ol{2019 Fls.+iL

O
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PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

I
LE
as de algumas de suas disposições. Contudo, conforme já visto anteriormente
no tópico 111, este diploma legal não se confunde com as disposições do Regime

S
de Recuperação Fiscal, que não contemplam distinções desse jaez.

RE
OR
VI ~ CONCLUSÕES.

IT
Tivemos como objetivo analisar a questão de consulta apresentada pelo
AN
',- Exmo. Sr. Subprocurador-Geral do Estado Dr. Sérgio luiz Barbosa Neves,
acerca da influência do caráter não dependente de uma empresa estatal para a
-I

sua submissão ou não ao Regime de Recuperação Fiscal.


70

Não se pode simplesmente transpassar os ditames de uma lei específica,


77

com objeto e objetivo particulares a outra legislação distinta, de forma automática


sem que essas façam a congregação dos pensamentos entre si e sem a
48

construção de uma cadeia de pensamento que solidifique tal teoria.


91

As referências feitas pela lei Complementar Federal nO 159/2017 à lei de


57

Responsabilidade Fiscal constituem a adoção por remissão de meros critérios


-0

matemáticos ou são exclusões da incidência desta, demonstrando que nesse


sentido o Regime de Recuperação Fiscal é muito mais excepcional à lRF do
ÃO

que dela implementador ou complementar.


IT

Em momento algum a lei Complementar nO 159/2017 estabeleceu qúe


LE

suas disposições deveriam seguir a ratio da lei Complementar nO 101/2000


nem mesmo de que .esta deveria ser aplicada subsidiariamente às questões
ES

omissas do Regime de Recuperação Fiscal.


RR

Além de visar comer as despesas que integram a dívida pública, a


lei Complementar Federal nO 159/2017 preocupa-se também em favorecer o
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Processo nlt : E-14/001.00Q285/2019

Data: 08/01{2019 Fls~ -1l.:L


PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
PROCURAOORIA AOMINlSTRATIVA

aumento de receitas do ente federativo que adere ao Plano de Recuperação


Fiscal,

Ao interpretar teologicamente a Lei Complementar nO 159/2017, vê-se que


a principal finalidade da lei de Recuperação Fiscal é estabelecer um regime
excepcional e emergencial, no qual todas as forças do Estado se somem para
que o ente federativo volte a ser economicamente equilibrado.

Aplicar o Regime de Recuperação Fiscal excluindo uma esfera estatal que


pode economicamente lhe trazer vultosos recursos - as empresas estatais não
dependentes - não seria adequado com as exigências econômicas e sociais que
fundamentaram a criação do instituto referido diploma legal e lhe imprimiram tal
caráter amplo e ingente, que se preocupa de forma integral com as contas
públicas, como não poderia deixar de ser em um momento tão difícil,

Por todo o exposto, e sem de nenhuma forma prescindir do exposto ao


longo de todo o parecer, o caráter independente de empresa estatal não é fator
de distinção para não submetê-Ia ao Regime de Recuperação Fiscal, o que não
quer dizer, contudo, que de tal submissão possa decorrer qualquer espécie de
tutela administrativa - pas de tulelle sans texte, pes de lutelle eu delé tu texte:

Com efeito, é bom frisar que das conclusões deste parecer - submissi.'jo
das estatais independentes ao Regime de Recuperação Fiscal - não pode ser
inferida automaticamente a submissão a uma imperial e genéríca tutela
adminístrativa~ A cada caso concreto, e isto para as entidades da Administração
Indireta em geral34, a tutela administrativa que se pretender impor só será

34 o princípio do pas de Mel/e, como já exposto no corpo do parecer, em contraposição à


hierarquia, mais afeita às relações interorgànicas da Administração Direta, vige nas relações das
entidades da Administração Indireta em geral, já que todas dotadas de personalidade jurídica
própria, com a Administração Direta - Executivo central, o Ente federativo. O que pode variar
são os maiores ou menores poderes de tutela conferidos pelo ordenamento jurídico sobre tais ,r'y,
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I SERViÇO PÚBLICO -ESTADUAL

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Data: 08/0112019 Fls_ ,_);'

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PROCURADORIA
PROCURAOQRIAÁOrJIIMSTRATlVA

O
admissível se possuir esteio nonnativo :específico, seja na lei instituidora da


entidade, nas normas de direito organizácional·;geral do Estado ou nos diplomas

I
LE
federais ou estaduais do Regime de Recüpera~ão Fiscal.

to o que, salvo melhor juízo, nos parece.:

S
RE
OR
IT
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-I
70
77
48
91
57
-0
ÃO
IT
LE
ES

entidades, com a Administração Direta possuindo por exemplo poucos poderes de tutela sobre
RR

as agências reguladoras, confirmando o brocardo acima mencionado.


TO

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PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

Vis!Q nO 2/2019 -PGEIPG-17/ARCY

Processo Adminístrativo E-14/001.000285/2019

vrSTO, Por estar de acordo, aprovo o erudito PARECER n° 0112019 - ASA, da


lavra do j, Procurador do Estado, Alexandre Santos de Aragão, em que analisa °
questionamento, em tese, feito pelo Exmo, Subprocurador-Geral do Estado, Dl. Sérgio Luiz
Barbosa Neves, acerca da sujeição ou não da CEDAE, enquanto empresa estatal não
dependente, ao Plano de Recuperação Fiscal aprovado pelo Estado do Rio de Janeiro.

Segundo as conclusões apontadas:

1. A LC nO 15912017 (Lei de Recuperação Fiscal) é lei específica e distinta da


LC nO 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal-LRF), com objeto e objetivo
diversos, sendo certo que em nenhum momento a LC nO 159/2017 estabeleceu
que suas disposições deveriam ser lidas à luz da LRF, nem que a LRF deveria
ser aplicada subsidiária ou supletivamente,

2, As referências feitas, pela Le nO 15912017, à LRF abrangem a remissão a


meros critérios matemáticos ou a não incidência destes, o que demonstra que
o Regime de Recuperação Fiscal (RRF) é excepcional quando comparado
àquele LRF; isto é: o RRF não se trata de regime que implemente ou
complemente o estado de coisas da LRF, É um regime novo e especial.

3, A fmalidade da Lei de Recuperação Fiscal é estabelecer um regIme


excepcional e emergencial, no qual todos os esforços se direcionam à
reabilitação do equilíbrio econômico do ente federativo, tanto (i) por meio da
contenção das despesas que integram a dívida pública, quanto (ii) por meio
do aumento de receitas, Nessa linha, excluir do RRF empresa estatal não
91
57
dependente que pode colaborar com recursos -no caso, a CEDAE - contrairia

-0
a ratio do referido diploma legal.

O
4. A submissão ao Regime de Recuperação Fiscal não significa, contudo, uma


autorização geral de intervenção e tutela administrativa em entidades da

I
LE
Administração Pública indireta. A capacidade do ente central de intervenção
está limitada por lei, e o regime especial para sanar as contas do Estado não

S
modifica isso. É preciso, por conseguinte, considerar a lei instituidora da

RE
entidade, como também as normas de organização geral do ente federativo ou

OR
diplomas federais ou estaduais específicos do Regime de Recuperação Fiscal.

IT
Em suma: a CEDAE, como as demais empresas públicas e sociedades de econômica
mista não dependentes estão inseridas no plano de recuperação fiscal e no seu regime :peculiar.
AN
Sem embargo, tal regime não implica a instituição de espécie de estado de exceção. O controle
-I

das contas públicas permanece possível nos limites das leis que regem o instituto e dos poderes
70

que definem a relação entre entidades e órgãos administrativos. Isso vale para toda a
Administração Pública. Inclusive empresas estatais não dependentes do erário. Logo, o
77

exercício de poderes pelo ente central que almeje aplicar o RRF deve ser não só motivado,
48

como também fundado em competência específica definida em lei.


91

À PG-2, para superior consideração.


57
-0

Rio de Janeiro, 18 de março de 2019.

~ \'Odriguê~tnQ
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I re
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Procud4or do Es do
LE

Procuradof-Chefe v iPG-17
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PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
GABINETE DO PROCURADOR-GERAL DO ESTADO

P.A. n" E-14/001.000285/2019

Visto. Aprovo o Parecer n° 01120 19-ASA, da lavra do Procurador do Estado


ALEXANDRE SANTOS DE ARAGÃO, devidamente chancelado pelo Procurador-Chefe da
Procuradoria Administrativa (PG-17) ANDRÉ RODRIGUES CYRINO, que concluiu no sentido
. de que as empresas públicas e sociedades de economia mistas não dependentes também estão
inseridas no Plano de Recuperação Fiscal e no regime peculiar veiculado pela Lei Complementar
Federal nO 159/17.

As premissas e demais conclusões do parecer foram bem sintetizadas no Visto de fls.


1141115.

À PG-15, para ciência e orientação do ist · ma Jurídico Estadual.

Rua do Canno, 27 - 13° andar


Centro - Rio de Janeiro - RJ CEPo 20.011-020
Te!: (21)2332-9274/2332-9278 - wVM.pge.rj .gov.br

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