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Crer Também e pensar

O ateu quer evidencias


Clifford F. de Andrade

2023
BIBLIOGRAFIA.

A bíblia vida nova. São Paulo, spp. edição vida nova, 1976.

Teologia sistemática. (Franklin Ferreira e Alan myatt)

Bittencourt, b. Nop. O testamento são Paulo, SP. : aste, 1965.

Tenne y, merril c. O novo testamento sua origem e analise. São Paulo, SP: edições
vida nova.

O Conhecimento de Deus (J. I. Packer).

A Obra do Espírito Santo (Abraham Kuyper)

Ateísmo humanismo bob kowalsk

.
TEOLOGIA BIBLIA E SANTIDADE

CLIFFORD FABRICIO DE ANDRADE

CRER TAMBEM E PENSAR

AGNOSTICISMO PRATICO TEISTA, ATEISTA.

A ORIGEM DO MAL

SÃO PAULO-SSP

2023
DEDICATORIA

Dedico esta obra literária primeiramente a minha mãe, Sônia Fabricio por ter criado um
alicerce em minha vida. E exemplo de coragem e simplicidades em suas metas, e com
muito carinho me ensinou o caminho da justiça.
Dedico também a minha esposa, nina e filhos Aline e brenam. Sem eles jamais
conseguiria alcançar o topo da vida.
Dedico também aos meus amigos que fizeram parte da historia da minha vida
Nenezao,P.A,Diego,Cristiano,Jairzinho,Lauremir,PastorTiago,GilsaMarciaSavioli,
Betânia, Topete, Priscila, Toninho, Dinei, Teco, Adilsinho Cantor,Josi,Vinicios.
Sumário
Todo ser humano nasceu para crer e adorar alguma coisa, está impregnando em sua alma.
Na verdade não podemos chamar os homens de incrédulo, pois todos acreditam em alguma
coisa. .......................................................................................................................................................6
Agnosticismo é uma doutrina filosófica que declara o absoluto inacessível ao espírito
humano ou que considera vã qualquer metafísica e qualquer ideologia religiosa, uma vez
que alguns desses preceitos ou ideologias não podem ser comprovados empiricamente.6
2.1. Agnosticismo Teísta..................................................................................................................7
2.2. Agnosticismo Ateísta ................................................................................................................7
2.3. Ateísmo Pratica. .......................................................................................................................8
3.1. A ORIGEM DE LUCIFER......................................................................................................... 10
3.2. Então, donde veio Satanás? .................................................................................................. 18
4.1. O QUE É PECADO. .................................................................................................................. 23
5.1. MESMO DEPOIS DE CRER EM JESUS QUEM CONTINUA SENDO PECADOR .......................... 26
6.1. O QUE PRECISAMOS FAZER PARA SERMOS SALVOS. ............................................................ 27
7.1. O que é “eternidade” para o pensamento bíblico-hebreu? ................................................. 30
13.1. O tempo............................................................................................................................. 43
13.2. Quem ou o que é a divindade hebraica? .......................................................................... 46
13.3. EU SOU QUEM EU SOU...................................................................................................... 49
13.4. EU SOU QUEM EU DEVO SER ............................................................................................ 50
13.5. - suporta certa constância fundamental, independente de variações. Tal concepção do
Eterno não ignora as evidentes mudanças que ocorrem na natureza no curso do tempo, mas as
considera de importância secundária sem consequências para a eterna imutável essncia de Deus.
50
13.6. ‘EU DEVO SER QUEM EU SOU ........................................................................................... 50
13.7. EU DEVO SER QUEM EU DEVO SER ................................................................................... 50
17.1. Adão – A Porta Larga ......................................................................................................... 62
17.2. O Evangelho....................................................................................................................... 63
17.3. A Salvação.......................................................................................................................... 65
18.1. Será filho de Deus.............................................................................................................. 67
18.2. Gerado de Novo ................................................................................................................ 67
18.3. Nova Criação ..................................................................................................................... 67
19.1. Nome Único - Atos (4:12) .................................................................................................. 70
19.2. O Único Caminho para Deus – (Jo. 14: 6) .......................................................................... 70
19.3. Sem Cristo, Nada Posso Fazer – (Jo. 15: 5). ....................................................................... 71
19.4. Afastando-se do pecado – (1 Tes. 1: 9; 10) ....................................................................... 73
1. Crer tambem e pensar
A fé é-o firme fundamento das coisas que não se viram, mas se espera
(hebreus 11.1).

Um professor esta dando aula de filosofia e entrou no assunto,


sobre o movimento humanista do século vinte. Dizia ele que não mais precisamos de
um deus, de origem desconhecida e de poder sobrenatural. Pois o homem pode
determinar seu destino.

Para a humanidade os progressos econômicos e mais importantes


não têm mais necessidade de uma força espiritual para-nos mostra a verdade da
vida. O homem sabe muito bem oque e certo e errado na vida.

Você esta em uma sala de aula, e acaba de ouvir tudo oque você,
aprendeu a vida inteira sobre fé, deus não tem valor algum para a sociedade deste
século. O que poderia dizer? Será que devo questiona-lo? E se ele tiver razão, pois
e mais culto e sábio do que nos. Se ficarmos calados estará comprometendo nossas
convicções.

Esta será nossa luta nos finais dos tempos, pessoas possuídas por
demônios vão tentar comprometer nossas convicções em deus, só por que eles têm
uma formação humanista.

Todo ser humano nasceu para crer e adorar alguma coisa, está impregnando
em sua alma. Na verdade não podemos chamar os homens de incrédulo, pois
todos acreditam em alguma coisa.

2. Agnosticismo
Agnosticismo é uma doutrina filosófica que declara o
absoluto inacessível ao espírito humano ou que considera vã qualquer metafísica
e qualquer ideologia religiosa, uma vez que alguns desses preceitos ou ideologias
não podem ser comprovados empiricamente.
Agnosticismo é um termo com origem no grego, sendo a junção do prefixo
indicativo da negação "a" e o termo gnostikós, relativo ao conhecimento.

De acordo com essa doutrina, as coisas, a realidade e, antes de mais, o


absoluto são incognoscíveis. O positivismo moderado (Auguste Comte e, em
particular, Herbert Spencer) é o seu representante mais característico. Também se
considera como agnosticismo a teoria kantiana da cognoscibilidade da "coisa em si"
e da impossibilidade de demonstrar a existência de Deus. Um
indivíduo agnóstico ignora ou aparenta ignorar tudo o que não está sob o domínio
dos sentidos. Ele não acredita, mas também não nega a existência de um Deus ou
divindade, afirmando que o conhecimento humano não é capaz de obter dados
racionais que provem a existência de entidades sobrenaturais.

O agnosticismo declara impossível e inacessível ao entendimento


humano toda a noção do absoluto (por exemplo, a origem da vida), reduzindo a
ciência ao conhecimento do fenomenal e relativo.

2.1. Agnosticismo Teísta


Um agnóstico teísta é caracterizado pela junção de duas doutrinas:
o agnosticismo e o teísmo. Esse indivíduo acredita que existe um Deus (ou deuses),
apesar de afirmar que não possui conhecimento que possa provar a sua existência.
Acredita porque se baseia em um conceito anunciado por uma determinada religião.

2.2. Agnosticismo Ateísta


Assim como o agnóstico teísta, o agnóstico ateísta afirma não
possuir conhecimento nem conseguir provar a existência de deuses através da
razão. Nó entanto, o ateísta não acredita que Deus ou outras entidades
sobrenaturais existam. Sabemo-nos e não temos duvida acerca das existências de
muitas coisas que nos não vimos. Por exemplo, nenhum homem jamais viu um
elétron, más não temos duvida da sua existência.
2.3. Ateísmo Pratica.
Outa forma de ateísmo na qual você deve-se precaver é-o ateísmo
pratico. (Tiago 2:17.18) diz: assim também a fé, se não tiver obra por si só esta
morta. Mas alguém dirá: tu tens fé eu tenho obras, mostra-me esta tua fé sem tuas
obras e eu, com minhas obras te mostrarei a minha fé.

Existem pessoas que dizem ser nascida de novo, não pensão


diferente dos incrédulos. Dizem e fazem as mesmas coisas que o ateísta pratica e
faz, eles vivem a vida como se deus não existisse, Tiago diz que você pode dizer ser
cristão mais seus atos vai dizer quem você e na verdade. O ateu não crê no
conteúdo literário bíblico, nem lê nem segue seus mandamentos, o cristão esta
vivendo na mesma posição do ateu. O cristão que nunca procura fazer a vontade
deus, nunca se comunica com o pai celeste, nunca fala do evangelho aos outros não
age de maneira diferente do ateu.
São muitos os cristãos que pensão que dizer em seu coração sou
crente e o suficiente para viver uma vida de vitória. A bíblia nos diz que ate os
demônios acreditam em deus é-o temem: crés tu, que deus e um só? Fazes bem.
Ate os demônios creem e tremem (Tiago 2:19).

3. Ate os demonios creem

Tiago (2:19) diz: “Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os
demônios creem e tremem." Tiago está mostrando a diferença entre concordância
mental e uma fé salvadora genuína. Parece que as pessoas estavam afirmando que,
porque acreditavam no Deus de Moisés e podiam recitar Deuteronômio 6:4, que diz:
“Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor”, elas estavam bem com
Deus. Tiago destrói essa falsa esperança ao comparar esse tipo de crença ao
conhecimento de Satanás e seus demônios. Os asseclas de Satanás estão mais
cientes da realidade de Deus do que a maioria das pessoas, mas os demônios não
estão bem com Deus. Os demônios "acreditam" em algumas coisas que são
verdadeiras sobre Deus - eles sabem que Ele é real, é poderoso, etc. - mas sua
"teologia correta" não pode ser chamada de fé. Não há salvação para os demônios,
embora concordem com a verdade de que há um só Deus.

Então, qual é a diferença entre a crença dos demônios e a fé necessária


para a salvação eterna? Felizmente, Tiago não nos deixa sem resposta. O restante
do capítulo 2 continua explicando que a fé sem um resultado piedoso é inútil (Tiago
2:20). O tipo de "fé" dos demônios faz com que temam seu destino final. O tipo de fé
que nos salva nos dá uma humilde confiança em nossa salvação e nos transforma,
produzindo uma ação santa. Podemos entender melhor que a fé requer ação por
meio de uma ilustração:

Imagine estar à beira de um desfiladeiro. Uma estreita passarela


suspensa atravessa o cânion. Ela mergulha no meio, balança levemente com o
vento e tem algumas tábuas faltando. Parado com você na borda está o arquiteto
dessa ponte. Ele é mundialmente conhecido por seus projetos e os segura nas
mãos. Ele pergunta se você tem fé em sua ponte. Você responde ansiosamente:
“Sim! Eu tenho fé em você. Acredito que essa ponte aguentará meu peso.” Mas a
verdadeira fé não permanece à beira do desfiladeiro. Isso é apenas esperança. A fé
é quando você pisa na ponte e começa a atravessar o abismo.

Assim é com a salvação. Os demônios sabem mais do que nós sobre o


incrível poder de Deus. Eles assistiram Jesus Cristo vir à Terra, viver como um
homem e então ser crucificado (Mateus 20:28). Eles tremeram de horror quando o
Deus-Homem ressuscitou dos mortos e saiu do túmulo (1 Coríntios 15:3-8). Eles O
viram subir de volta ao céu e sabem que Jesus é o Filho de Deus (veja Marcos
1:24). Os demônios acreditam que tudo isso é verdade, mas sua condenação é
certa. O ponto de Tiago é que o mero assentimento aos fatos históricos e teológicos
sobre Jesus não salvará uma pessoa. A fé salvadora resulta em uma nova criação,
que produz boas obras.

Não é suficiente acreditar em Deus ou mesmo acreditar que o Deus


da Bíblia é o Deus Único e Verdadeiro. Essa crença, desprovida de uma mudança
de coração, torna a teologia de alguém comparável à dos demônios. Infelizmente,
muitas pessoas podem não perceber que o que chamam de “fé” nada mais é do que
o mesmo consentimento mental que os demônios possuem. Talvez eles tenham feito
uma oração, tenham sido batizados ou tenham ido à igreja, mas a direção de suas
vidas nunca mudou. Eles nunca nasceram de novo (veja João 3:3).

A verdade é que não somos salvos pela fé em um credo; somos


salvos pela confiança em uma Pessoa. E essa confiança em Jesus resultará em
amor a Deus, amor pelas pessoas e empenho pela santidade em tudo o que
fazemos.
(1 Pedro 1:8, 15, 22-23).

3.1. A ORIGEM DE LUCIFER.


O Velho Testamento indica que Satanás foi criado por Deus
como um anjo governante chamado Lúcifer, com grandes poderes. Mas o orgulho
levou Lúcifer a se rebelar contra Deus (conforme Isaías 14:12-14; Ezequiel 28:12-
15). Torcido agora pelo pecado, Lúcifer é transformado em Satanás, que quer dizer
`inimigo´ ou `adversário´ ...Satanás é um poderoso anjo decaído, intensamente hostil
a Deus e antagonista do povo de Deus." (páginas 245, 801).Pergunte à maioria das
pessoas que creem na Bíblia de onde veio Satanás e nove entre dez lhe darão uma
versão da história citada acima. A ideia de que Satanás é um anjo decaído a quem
Deus expulsou do céu e que caiu na terra é tão espalhada que muitas pessoas
acreditam que a Bíblia a ensina. Pode surpreendê-lo descobrir que a Bíblia não
ensina tal coisa. É certo que há passagens na Bíblia que falam de seres caindo do
céu, mas não são sobre Satanás e usam linguagem figurativa. Somente por uma
leitura descuidada destes textos pode alguém chegar à história popular relativa à
origem de Satanás. Examinemos as passagens bíblicas relevantes, no contexto.

Quem é Satanás?

O nome "Satanás" é uma transliteração do hebraico Satã, indicando um


acusador no sentido legal, um queixoso que tem uma acusação a apresentar. Em
Zacarias 3:1 lemos "Deus me mostrou o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante
do Anjo do SENHOR, e Satanás estava à mão direita dele, para se lhe opor." Numa
palavra, Satanás se opõe a nós, trabalha contra nós, ou "nos persegue", na tentativa
de nos derrotar espiritual e moralmente. Jesus chamou-o homicida e mentiroso, em
João 8:44. Em Apocalipse 12:9, João retrata Satanás como um grande dragão, uma
representação que ressalta sua terrível natureza. Esse mesmo versículo identifica-o
como a serpente (uma referência a Gênesis 3) e como o diabo, que é outro nome
bíblico comum para ele. Talvez 1 Pedro 5:8 nos diga o que mais precisamos saber a
respeito dele: "O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge
procurando alguém para devorar”. A ênfase bíblica está no que Satanás é em
relação conosco (um inimigo). Algumas pessoas, contudo, pensam que certos textos
bíblicos vão mais além e nos dizem como Satanás veio a se tornar assim.
Examinemos estes textos cuidadosamente.

Isaías 14:12-14
Esta passagem diz: "Como caíste do céu, ó estrela da manhã,
filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! Tu dizias
no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono
e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei
acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo." Você notará
imediatamente que esta passagem não menciona Satanás por nenhum de seus
nomes bíblicos comuns. Pode-se extrair deste texto uma teoria da origem de
Satanás somente assumindo que esta passagem o descreve, e ignorando o
contexto desta passagem na mensagem de Isaías. Isaías não estava discutindo
Satanás em Isaías 14, nem a origem de Satanás de modo nenhum faz parte desta
mensagem do profeta. Se dissermos que este texto é sobre a origem de Satanás,
isso simplesmente torna sem sentido o contexto mais amplo. Isaías profetizou
durante os reinados dos reis hebreus Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias (Isaías 1:1).
Seu ministério abrangeu (aproximadamente) os anos 750 - 686 a.C., uns 65 anos,
no máximo. Este foi um tempo quando o povo de Deus tinha se tornado corrompido
pela idolatria. Deus enviou Isaías para pregar o arrependimento ao seu povo e para
adverti-lo de que um fracasso em se voltar da idolatria significaria desastre em
escala nacional. Isaías pregou a ambos os reinos de Israel e Judá, cumprindo sua
missão dizendo aos povos desses reinos que eles sofreriam terrivelmente se
recusassem arrepender-se. Isaías 10:5-6 resume a mensagem ao reino do norte. Há
linguagem semelhante (13:3-6) reservada para o reino do sul, o reino contra o qual
Deus enviaria os babilônios.

A mensagem de Isaías não era completamente de desânimo e


condenação. Os assírios e os babilônios, ele pregou, eram simplesmente
instrumentos que Deus usaria para punir o seu povo. Uma vez que Deus tivesse
usado essas nações para seus propósitos, Ele se voltaria e aplicaria seu julgamento
sobre eles, pela impiedade deles próprios. É uma mensagem da soberania de Deus
em ação que causa reverência e temor nos ouvintes. A Babilônia cairia, e depois
disso Deus renovaria e reuniria seu povo e lhes daria uma gloriosa e nova
existência. Isaías 14 é sobre a queda do império babilônico. Isaías diz aos
habitantes do reino sulista de Judá que, depois que eles tivessem sofrido o castigo,
viria o dia quando eles poderiam ver a queda de seu opressor e escarnecer de
Babilônia do modo como este tinha escarnecido de Judá. Veja os versículos 4 e
seguintes. Isto é sobre Babilônia. Ora, porque Isaías começaria o capítulo falando
sobre a queda de Babilônia, interromperia com uma descrição da origem de
Satanás, e então recomeçaria a falar sobre a queda de Babilônia? Simplesmente
não faz qualquer sentido aqui no contexto ver 14:12-14 como sendo sobre a origem
de Satanás. O fato é que Isaías estava descrevendo para povo de Judá o que eles
estariam dizendo quando zombassem do rei de Babilônia que tinha sido rebaixado e
decaído do poder (versículo 4). As mesas virariam, e Isaías está descrevendo a
ironia de tudo isso. Até mesmo a leitura corrida da passagem revela que a
linguagem aqui é poética e figurativa, e temos que tratá-la de acordo. "Céu" no
versículo 12 é linguagem figurativa para o que é alto e exaltado, e Isaías está aqui
descrevendo a alta consideração em que o rei de Babilônia era tido. O profeta
descreve sua queda do poder figurativamente, como uma queda do céu. Então ele
chama o rei de Babilônia, também usando linguagem figurada, a "estrela da manhã".
Na sua glória, durante algum tempo, o soberano de Babilônia era como uma estrela
brilhante no céu. Contudo, seu reinado e seu poder cairiam, e, mantendo as
imagens, Isaías pinta sua extinção como uma estrela cadente.

Parte da incompreensão popular desta passagem resulta do


aparecimento da palavra "Lúcifer" em algumas versões do versículo 12. A palavra
hebraica em questão aqui é helel, que significa "estrela da manhã" e não tem
nenhuma ligação com Satanás. "Lúcifer" é uma velha palavra latina que
originalmente significava "portador da luz" e era o nome do planeta Vênus sempre
que aparecia no céu matinal. Na época que esta palavra foi usada nas traduções
deste versículo, "Lúcifer" não significava Satanás. Infelizmente, para muitas
pessoas, hoje em dia, Lúcifer é o nome de Satanás (porque Isaías 14:12-14 é aceito
como sendo sobre Satanás!). Não é porque os tradutores erraram, mas porque
pessoas de tempos posteriores, ou esqueceram o que Lúcifer significava ou
concluíram erradamente que era o nome de Satanás, ou ambos. Isaías 14:13 recita
a jactância arrogante do rei babilônico. Certa vez ele pensou que era o maior do
mundo, que tinha poder e autoridade igual à do próprio Deus. Uma das
características do retrato profético de Babilônia é seu grande orgulho. Contudo,
Deus rebaixaria seu rei ao mais baixo nível imaginável para a mente hebraica: o
Sheol, o reino dos mortos (versículo 15). Os versículos 9-11 descrevem como os
habitantes do Sheol ficariam surpresos porque alguém que pensava ser tão "alto"
estava agora entre eles, num lugar tão "baixo". O ponto é que o rei babilônico foi do
extremo da exaltação mundana para a extrema humilhação, e isto era um feito de
Deus, o julgamento de Deus. A coisa toda é um quadro, uma imagem, e não uma
narrativa histórica literal. A ênfase está no contraste entre as condições do soberano
babilônico "antes" e "depois". As pessoas, então, olhariam para o fracasso do rei
babilônico e perguntariam: "É este o homem que fazia a terra tremer, que sacudia
reinos, que fazia do mundo um deserto, derrubava suas cidades, que não permitia
aos seus prisioneiros voltar para casa?" (versículos 16-17).

Você vê, então, que quando examinamos Isaías 14:12-14 em seu


contexto, ele não nos diz nada sobre a origem de Satanás. É uma descrição
figurativa da queda do rei de Babilônia.

Ezequiel 28:12-16

Outra suposta passagem sobre a origem de Satanás é Ezequiel


28:12-16, onde se lê: "... Assim diz o SENHOR Deus: Tu és o sinete da perfeição,
cheio de sabedoria e formosura. Estavas no Éden, jardim de Deus; de todas as
pedras preciosas te cobrias: o sadio, o topázio, o diamante, o berilo, o ônix, o jaspe,
a safira, o carbúnculo e a esmeralda; de ouro se fizeram os engastes e os
ornamentos; no dia em que foste criado, foram eles preparados. Tu eras querubim
da guarda ungido, e te estabeleci; permanecias no monte santo de Deus, no brilho
das pedras andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste
criado até que se achou iniquidade em ti. Na multiplicação do teu comércio, se
encheu o teu interior de violência, e pecaste; pelo que te lançarei profanado fora do
monte de Deus, e te farei perecer, ó querubim da guarda, em meio ao brilho das
pedras. “A referência ao Éden é, para muitos, um indicador seguro de que esta
passagem tem que ser sobre a origem de Satanás. Não importa que Satanás já
fosse o inimigo do homem no Éden! Mas, novamente, é somente aceitando que esta
passagem é sobre Satanás (a própria coisa que precisa ser provada) que podemos
lê-la desse modo. O contexto aqui argumenta em outra direção. As palavras de
Ezequiel aqui dizem respeito ao rei de Tiro. Os versículos 1 e 11 tornam isto claro. O
capítulo 27 é sobre a queda da nação, e o capítulo 28 é especialmente sobre a
queda do rei dessa nação. Prestar um pouco de atenção ao contexto esclarece
muito! Exatamente como na passagem de Isaías, tomar as palavras do profeta como
descritivas de Satanás e sua "queda" é fazer deste capítulo um completo
contrassenso.

Aqui a mensagem está em duas partes, mas cada uma delas apresenta a
mesma mensagem. Os versículos 1-10 descrevem o rei de Tiro do ponto de vista de
Deus. Como o rei de Babilônia, o rei de Tiro era orgulhoso, arrogante e jactancioso.
Ele se achava divino, e assim declarava ter uma glória que não lhe pertencia
(versículos 2,6,9). O profeta descreve sarcasticamente a grandeza do monarca nos
versículos 3-5. Pela sua arrogância, o orgulhoso rei colherá o julgamento de Deus. O
julgamento sobre ele é que Deus o abaterá (versículos 7-10). Os versículos 11-19
repetem esta mensagem. O retrato sarcástico que o profeta faz do rei reaparece nos
versículos 12-16. O aumento no nível de imagens e figuras na linguagem aumenta o
sarcasmo. O rei pensava de si mesmo em termos absolutamente altos, mas para
Deus isto era pura loucura. A referência ao Éden no versículo 13 não é literal, mas
significa que o rei se imaginava privilegiado acima de todos os outros. Ele pensava
que era especial como querubim ungido de Deus ou como alguém que vivesse na
própria montanha de Deus (versículo 14). Ele se retratava nos termos mais
gloriosos. Pela sua arrogância, Deus o julgaria severamente (versículos 16-19).
Novamente, portanto, quando lemos esta passagem no seu contexto, vemos que
não tem nada a ver com a origem de Satanás.

Lucas 10:18
Em Lucas 10:18, Jesus diz: "Eu via Satanás caindo do céu como
um relâmpago." Aqueles que pensam que Satanás é um anjo rebelde decaído
acreditam que este versículo estabelece o assunto convincentemente. Contudo, de
novo, precisamos olhar para esta afirmação no seu contexto. Em Lucas 10:1 e
seguintes, Jesus tinha enviado setenta discípulos numa missão de pregação.
Realmente, era mais do que apenas uma missão de pregação, pois Jesus também
os enviou para curar e expulsar demônios (versículos 9,17). É importante entender
exatamente o que estes setenta discípulos cumpriram e o que o próprio Jesus
cumpriu em seu ministério. Enquanto Jesus estava nesta terra, ele guerreou contra o
reino de Satanás. Antes que Jesus pudesse estabelecer seu reino (o reino de Deus),
ele tinha que invadir o território do inimigo, vencê-lo e tornar o inimigo (Satanás)
impotente e fraco. Isto ele fez pregando o evangelho e demonstrando visivelmente
seu poder. As curas miraculosas, e especialmente a expulsão de demônios, não
eram atos casuais de bondade; elas eram em vez disso assalto direto sobre o reino
de Satanás. Proclamando a "libertação dos cativos" no evangelho (veja Lucas 4:18),
Jesus estava proclamando a derrota de Satanás e do pecado. Jesus veio libertar o
homem do domínio de Satanás, um domínio e sumido em pecado e morte. É no
contexto desta guerra espiritual que temos que entender os milagres associados
com o ministério de Jesus e, mais tarde, dos apóstolos. Os milagres associados
eram físicos, demonstrações visíveis, exemplos, ilustrações do que Jesus pode fazer
pelos homens espiritualmente. Em nenhum lugar isto fica mais claro do que na
expulsão de demônios. A possessão por demônios era uma manifestação óbvia do
domínio de Satanás sobre pessoas. Que maior domínio sobre uma pessoa Satanás
poderia ter do que invadir seu corpo, através de um demônio, e comandar seus
atos? Quando Jesus expulsava demônios ele estava libertando pessoas da garra de
Satanás, Ele estava destruindo o domínio do Maligno sobre elas. Era uma
demonstração especialmente clara, ao nível físico, do poder do evangelho, e era
uma ilustração de como Jesus podia libertar os homens do reino de Satanás e pô-los
sob o reino de Deus.
O mesmo é verdade também quanto às curas milagrosas de
Cristo. Doença e morte eram manifestações do poder de Satanás sobre o homem.
Curando os doentes, Jesus estava livrando pessoas do poder de morte exercido por
Satanás, assim vencendo-o. Observe o que Jesus disse sobre a mulher que tinha
uma doença causada por um espírito em Lucas 13:16: "... esta filha de Abraão, a
quem Satanás trazia presa há dezoito anos" não deveria ela ter sido libertada, no
sábado? Jesus estava demonstrando, em suas curas milagrosas, seu poder sobre
Satanás, seu poder para livrar os homens do domínio de Satanás. A cura era uma
ilustração do que Jesus pode fazer por nós espiritualmente, através do seu
evangelho. Assim, não é coincidência que Mateus ligue as atividades de pregar o
evangelho e a cura dos doentes em Mateus 4:23: "Percorria Jesus toda a Galileia,
ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda a sorte de
doenças e enfermidades entre o povo." Estas duas atividades iam juntas muito
naturalmente. Quando os setenta discípulos retornaram, relataram seu grande
sucesso a Jesus. Regozijando porque "... os próprios demônios se nos submetem
pelo teu nome!" (Lucas 10:17). Jesus os havia enviado como um exército para
invadir o território de Satanás e guerrear. Sua campanha tinha tido um tremendo
sucesso. Satanás sofreu uma derrota com cada demônio que eles expulsaram.
Jesus respondeu com um reconhecimento: "Ele lhes disse: Eu via a Satanás caindo
do céu como um relâmpago. Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e
escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo, e nada absolutamente vos causará
dano". (versículos 18-19). Observe a menção de Jesus a "... sobre todo o poder do
inimigo". Satanás estava sendo derrotado no ministério de Jesus. Os setenta
discípulos tinham compartilhado esse ministério, e isso culminaria na maior vitória
sobre Satanás: a morte e a ressurreição de Cristo que decisivamente derrotaram o
poder de Satanás de pecado e morte, respectivamente. Assim, quando Jesus diz: "...
eu via a Satanás caindo do céu como um relâmpago", ele estava descrevendo quão
grandemente seu ministério estava derrotando o poder de Satanás sobre os
homens. O poder de Satanás não mais seria incontestável e absoluto. Em sua obra,
Cristo estava destruindo o aparentemente invencível poder do pecado e da morte.
Em linguagem que relembra Isaías 14:12-14, Jesus compara o poder anterior de
Satanás a uma estrela, e essa estrela agora caiu. Apocalipse 9:12 e Mateus 24:29
também usam a imagem de uma estrela cadente para descrever a derrota do poder.
Portanto, novamente, o texto que ilegalmente prova a origem do diabo não é sobre a
origem de Satanás de modo nenhum. É somente introduzindo tal ideia no texto que
ele pode prestar algum serviço a tal doutrina.

Apocalipse 12:7-9

Talvez a passagem mais popular quando se fala sobre a


origem de Satanás seja esta, Apocalipse 12:7-9. Ela diz: "Houve peleja no céu.
Miguel e os seus anjos pelejaram contra o dragão. Também pelejaram o dragão e os
seus anjos; todavia, não prevaleceram; nem mais se achou no céu o lugar deles. E
foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o
sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos”.
Quem quer que alguma vez tenha olhado para o Apocalipse de João sabe que nele
abundam estranhos símbolos. É somente pela violência de tratar a linguagem
simbólica literalmente, e por ignorar o contexto, que podemos tirar uma história da
origem de Satanás deste texto. Apocalipse 12 é uma descrição simbólica das
circunstâncias espirituais que causaram e conduziram à perseguição que os leitores
de João enfrentaram. João escreveu o Apocalipse para dar aos seus primeiros
leitores uma visão de seu sofrimento, para vê-la num contexto mais amplo. Eles
foram apanhados numa tremenda luta entre Deus e Satanás. O diabo estava
tentando destruir a igreja, usando Roma como seu agente. João, assim, estava
dando aos seus leitores uma perspectiva de sua situação que poderia ajudá-los a
suportá-la. Como uma descrição simbólica e figurativa não devemos, certamente, lê-
la literalmente, nem devemos tratá-la como alguma espécie de narrativa cronológica
e histórica do que tinha acontecido.

Apocalipse 12 é admitido como uma passagem difícil, mas os


estudantes que veem o livro do ponto de vista de seu contexto histórico geralmente
concordam que ele é sobre a vitória do povo de Deus e a derrota de seu inimigo,
Satanás. A primeira parte do capítulo (versículos 1-6) apresenta diante de nós uma
história de nascimento de uma criança do sexo masculino que se torna o dominador
das nações. Esta imagem representa Cristo (a alusão ao Salmo messiânico, Salmo
2, em Apocalipse 12:5 confirma isto). Contudo, um grande dragão (Satanás)
imediatamente desafia seu aparecimento. O aparecimento de Jesus desencadeia
uma grande guerra espiritual (versículo 7). O domínio de Satanás sobre a situação
humana tinha, até agora, ficado indisputado. Quando Cristo aparece, o poder de
Satanás sobre o homem é efetivamente destruído, e Satanás sofre uma derrota
esmagadora (versículo 9). A história básica que João apresenta aqui nos versículos
7 e seguintes é que Satanás perdeu sua tentativa de ganhar domínio sobre a
humanidade. Ele e suas forças não são adversários para Deus e suas forças. Ele
não pode derrotar Deus e seu Filho. Numa grande destruição, Satanás é lançado
abaixo, simbolizando sua ruína. Que Satanás tenha sido atirado à terra é, eu penso,
significativo. É uma mudança na frente de batalha. Desde que Satanás não pôde
derrotar Deus no reino espiritual, ele então volta sua atenção para o reino físico,
onde ele espera ser vitorioso. É a mesma batalha pelo domínio espiritual sobre o
homem, mas agora é uma batalha espiritual travada na terra. Agora, em vez de
tentar destruir o Filho de Deus (tentativa que fracassou), ele tenta destruir o povo de
Deus que vive na terra. Satanás inunda a terra com suas mentiras, enganos,
tentações, etc., em seu esforço para destruir o povo de Deus, mas isto também
fracassa (versículos 11,17).Apocalipse 12:7-9 é sobre como Satanás recebeu uma
derrota esmagadora pelo aparecimento e obra de Jesus. João escreveu isto para
encorajar seus leitores que estavam sofrendo por causa do ataque de Satanás
através de um poder mundial perverso, Roma. Eles poderiam suportar se
soubessem que a vitória era deles. Conhecer a origem de Satanás não teria feito
nada para encorajá-los a perseverar sob provações severas.

3.2. Então, donde veio Satanás?

Se nenhuma das passagens que são comumente citadas como


relatos da origem de Satanás são realmente sobre sua origem, então donde ele
veio? Bem, não estou certo de que a Bíblia revela a resposta para nós exatamente.
Podemos ter uma curiosidade sobre o assunto, mas temos que não permitir que tal
curiosidade nos instigue a encontrar respostas que ali não se encontrem. O melhor
que podemos fazer, eu penso, é inferir umas poucas coisas sobre Satanás. Primeiro
somente Deus (o Altíssimo) é incriado. Tudo o mais e todos no universo são criados.
Portanto, Satanás é um ser criado. A Bíblia, em nenhum lugar diz que ele é um ser
eterno como Deus. Segundo a Bíblia atribui onipotência somente a Deus (o
Soberano). Portanto, Satanás não é um ser onipotente. Ainda que ele tenha grandes
poderes, Deus limita seu uso deles (conforme 1 Coríntios 10:13; Jó 1-2). Terceiro, há
seres que foram feitos e que existem acima do nível humano. Podemos chamá-los
seres espirituais por falta de um termo melhor. Entre estes seres espirituais estão os
anjos, mas estes aparentemente não são os únicos tipos de seres espirituais
(conforme Efésios 6:12; Apocalipse 4-5). A respeito desta ordem de seres,
conhecemos mais sobre anjos do que quaisquer outros. O quadro que obtemos pela
palavra de Deus é que seres espirituais são muito mais interessados em negócios
da terra e, às vezes, estão envolvidos neles. Por exemplo, anjos mediaram a Lei de
Moisés (Gálatas 3:19), anjos anunciaram a ressurreição de Cristo (Mateus 28:5), e
anjos desejaram ver o cumprimento do plano de Deus de salvação (1 Pedro 1:12).
Embora isso possa ser uma especulação, também parece que seres espirituais,
conquanto sejam criados, não obstante não são ligados em sua existência às
limitações de tempo ou idade.

A Bíblia em lugar nenhum identifica Satanás como um ser humano.


Ele é, obviamente, um dos seres espirituais sobre os quais lemos na Bíblia. Isto não
quer dizer que Satanás seja um anjo. De fato, teria sido muito fácil, em qualquer dos
contextos e para qualquer dos escritores, dizer que Satanás era um anjo, mas eles
nunca o disseram. Ele é, não obstante, um ser espiritual e a Bíblia o descreve como,
entre outras coisas, "o príncipe da potestade do ar" (Efésios 2:2). Vemos Satanás,
pela primeira vez, no Jardim do Éden (Gênesis 3), justo no começo da história
humana, e ele tem existido continuamente desde então. Quinto, seres espirituais,
como seres humanos, têm livre arbítrio. Judas descreve o castigo dos anjos rebeldes
no versículo 6 de sua epístola, e Pedro fala de anjos pecando em 2 Pedro 2:4.
Portanto, Satanás se opõe a Deus porque ele decide fazê-lo. Deus certamente não o
criou para o mal ou como um ser mal, pois a Bíblia nos diz claramente que não há
mal associado com Deus (Tiago 1:13; 1 João 1:5). Parece que o máximo que
poderíamos dizer sobre a origem de Satanás é que ele é um ser criado, mas
espiritual, que decidiu opor-se a Deus, e que ele recruta outros seres espirituais e
seres humanos em seus esforços. Mais do que isto é só especulação.

Num sentido muito significativo, não importa de onde Satanás veio.


A ênfase na Bíblia cai, em vez no que ele faz. Não é como ele veio a existir que
preocupa. É o fato que ele existe que nos preocupa. Ele continua a trabalhar contra
nós em sua tentativa de dominar a humanidade, e para nós Jesus deixou a
continuação da guerra. "Quanto à mais sede fortalecida no Senhor e na força do seu
poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra
as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne e sim
contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso,
contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes"
(Efésios 6:10-12).

O homem vive uma nova fase, fase de mudanças drásticas que


incluem conceitos como a cultura e as habilidades e do domínio da tecnologia.
Essas alterações afetam todos os níveis da vida. Portanto o mundo está se
amoldando a essas alterações. Tanto que há certo tipo de pregação evangélica que
já adaptou a ela, onde o homem se coloca acima de Deus.
É um tempo, onde o que se faz é estabelecer que, não existe uma
verdade a ser encontrada, não existe o bem ou o mal, nem existe o belo e o feio.
Tudo é relativo. Segundo Coelho Filho (2007) a pós-modernidade é fundamentada
em alguns pilares de existência para a sociedade e para o indivíduo. São eles: o
relativismo, o liberalismo, o hedonismo e o consumismo.
Sendo assim, a doutrina do pecado é uma das mais importantes da
teologia cristã, pois ressalta a condição que o homem está em função do pecado,
demonstra sua impossibilidade em agradar a Deus, com o objetivo de demonstrar
que o homem está perdido e abismado em relação a Deus, e que sozinho não pode
fazer nada para alterar essa realidade.

“Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a


vida eterna, por Cristo Jesus o nosso Senhor” (Rm 6:23).

A queda é o marco da origem do pecado no mundo e de todas as


deficiências que existem nele. É o momento histórico que explica tanto a origem de
todo o mal existente no mundo, como a concepção correta do pecado.
Portanto, não compreender o pecado do ponto de vista do Velho
Testamento impossibilita vislumbrar a maravilhosa graça no Novo Testamento. Da
mesma forma, é necessário compreender a queda do ponto de vista teológico, pois
apenas assim podem-se notar suas consequências danosas na humanidade, bem
como em todos seus relacionamentos.
Entretanto o objetivo deste trabalho consiste em identificar alguns
conceitos doutrinários, e a partir daí analisá-los através da teologia bíblica. Urge
ressaltar que, em se tratando teologicamente de interpretações doutrinárias,
portanto, a discussão será somente em torno desse assunto.
A abordagem desta pesquisa não envolverá a questão da sinceridade
de quem, ensina ou vive os ensinamentos veiculados na Igreja.
Em relação à natureza, o trabalho é teórico, baseando-se na utilização
de estudos bibliográficos a partir de informações já publicadas. A pesquisa teórica
caracteriza-se pela consulta de livros ou documentação escrita que se faz sobre
determinado assunto.

4. O PRINCIPIO DA TENTAÇAO E
DO PECADO

E plantou o senhor Deus um jardim no Éden, do lado oriental, e pôs


ali o homem que tinha formado. Gên.2:8, tomou, pois, o senhor Deus o homem, e o
pós no jardim do Éden para lavra e guardar. Gên.2:15. É muito difícil compreender o
pecado e mesmo a tentação sem ter em conta esses pontos.
Portanto, primeiramente, Deus é o único e legitimo Senhor do homem
Gên. 1:26 – Is. 45:18. Segundo, o homem é um ser livre e o mundo criado para
expressar a sua liberdade. É livre a semelhança de Deus Gên. 1:26 – Heb. 2:6 a 8.
Terceiro, a prova da parte de Deus é para que o homem pela sua capacidade
respeite os limites que lhe foram dado na criação Gên. 2:16 – 17.
Entretanto, é impossível separar o pecado da tentação? Porque antes
do pecado esta sempre a tentação? E pode haver tentação sem pecado?

“E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo”. De todo a arvore do


jardim comerás livremente, mas da arvore do conhecimento do bem e do mal, dela
não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás Gên. 3:1 a
4, Gên. 2:16 – 17.
“Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o
Senhor Deus tinha feito, disse à mulher; E assim que Deus disse.” Não comereis de
toda a árvore do jardim? V.4

“Disse a serpente a mulher: certamente não morrereis” V.4

Certamente há varias razões para afastar-se da vontade de Deus,


mas no mínimo há três tipos de pecado, que são: a rebeldia, imaturidade ou
fraqueza espiritual e a ignorância. Rebeldia, e uma atitude mostrada em
pensamentos, sentimentos, palavras e atos.
Imaturidade traz consigo a total fraqueza espiritual, e a ignorância,
ignorar a vontade de Deus, não sabendo que está fazendo o mal.
Portanto, não há escolhido que vá contra a vontade de Deus, mas se
afasta do seu plano 1Tm. 1:12 – 13 e At. 17:30. Moisés foi um bom exemplo de
condutor de autoridade.
Entretanto, uma única vez, Moisés tomou essa autoridade sobre si
mesmo. Uma única vez, ele assumiu a posição de autoridade sobre o resto e agiu do
alto desta posição. Em vez de permitir que Deus trabalhasse por meio dele, agiu
como uma figura com autoridade própria. Por causa disto, trouxe-lhe um custo muito
alto.
Sendo assim, vendo o que esse ato de autoridade posicional custou
a Moisés, deveríamos examinar nossas próprias vidas e autoridades hoje todas as
formas são pecados. Porem quando a Bíblia fala em pecado, esta falando em
pecado por: rebelião, Imaturidade ou fraqueza espiritual. Portanto o que comete
pecado esta em rebelião contra Deus.

A desobediência é resistir à vontade de Deus, e a maldade


deliberada consciente que rompe a relação entre Deus e o homem Isaias 59: 2 –
Romanos 8:7.
Uma grande parte da obra de Deus em nossas vidas é expor o
pecado. Seu propósito é que nos vejamos como realmente somos nos
arrependamos de todos os nossos pecados e sejamos transformados pela obra do
Espírito Santo (Jo 16:8).
Entretanto, assim como por um só homem entrou o pecado no
mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens
porque todos pecaram (Rm 5:12).

4.1. O QUE É PECADO.

São todas as ações que desagradam a Deus e confrontam a sua


palavra.
Também são usados outros termos como: rebelar-se ou passar dos
limites estabelecidos, fazer algo que causa dano, tristeza ou dor, criar uma cilada
para uma pessoa cair, se deixar seduzir por coisas erradas, se opor à justiça e errar.
Você não encontrará na Bíblia uma relação do que é pecado e o que não é, seria
uma lista interminável.
Por isso, ela apresenta vários conceitos sobre o pecado para a sua
auto - avaliação. Sendo assim, somo capazes de discernir entre o que é certo e o
errado. Nunca podemos esquecer que toda escolha tem uma consequência boa ou
má e, ainda, que daremos conta a Deus de todas elas.

“[...] Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o
homem semear, isso também ceifará”. (GALATAS 6:7).

Alegra-te jovem, na tua mocidade, e recreie-se o teu coração nos


dias da tua mocidade, e andas pelo caminho do teu coração, e pela vista dos teus
olhos, sabe, porém, que todas estas coisas te trarão Deus a juízo (Eclesiastes 11:9).

4.2 A ORIGEM DO PECADO.

Segundo estudiosos da Bíblia o primeiro pecado foi cometido no céu,


quando houve a rebelião de anjos liderada por Lúcifer. Há também consenso de que
a origem do pecado humano foi terrível escolha de Adão e Eva no jardim do Éden.
Na tentação do homem e da mulher percebemos o seguinte
processo: Insinuação, que Deus era demasiado e severo, duvida quanto ao perigo
de comer o fruto, é finalmente, o tentador acusou Deus de ser egoísta. Ora, a
serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o Senhor Deus tinha
feito. E esta disse a mulher: É assim que Deus disse: não comereis de toda árvore
do jardim?

Disse a mulher a serpente: Do fruto das árvores do jardim


comeremos, mas do fruto da árvore que esta no meio do jardim, disse Deus: não
comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais”. Então a serpente disse a
mulher: certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele
comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal
(GÊNESIS 3:1 – 5).

No entanto o propósito de Deus ao proibir o fruto consistia em testar a


fidelidade do homem. Porque o perigo habita naquilo que não podemos tocar. Não é
pecado ser tentado, mas e errado ceder à tentação.
Sendo assim, foge também das paixões da mocidade, e segue a
justiça, a fé, o amor, e a paz com os que são de coração puro, invocam o Senhor (2
TIMOTEO 2:22). Portanto, submetam-se a Deus, resistam ao diabo, e ele fugirá de
vocês (TIAGO 4:7).

5. . AS TERRIVEIS CONSEQUENCIAS
DO PECADO.

Ao ceder à voz de satanás, o homem escolhia agradar a si mesmo,


desobedecendo deliberadamente a Deus. Esse primeiro pecado trouxe
consequências terríveis das quais citamos:
Adão e Eva conheceram pessoalmente o mal: “Seus olhos foram
abertos” (Gn 3:7), a comunhão e a amizade com Deus foram interrompidas e fugiram
de sua presença, o que chamamos de morte espiritual.

“[...] mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque


no dia em que comer certamente você morrerá” (Gn 2:17).
Portanto o homem deixou de ser inocente, tendo uma natureza
corrompida, sua mente ficou suja e passou a ter vergonha do seu próprio corpo (Gn
3:10). Então adão quis culpar a Deus pela companheira que ele havia lhe dado (Gn
3:12).

O pecado trouxe consequências individual e coletiva que se


estendeu até nós. As principais consequências do pecado original são a morte (Rm
6:23) e o afastamento de Deus (Rm 3:23). É de fato que não pecamos contra o
mandamento, mas pecamos contra uma pessoa. O pecado não é uma ofensa contra
uma alma vivente, o pecado mata os relacionamentos, no entanto não a há remédio
capaz de trazer os mortos a vida.

“[...] a única maneira de tratar com o pecado é pela ressurreição, o perdão


é ressurreição, vida dentre os mortos”.
O pecado não conseguiu retirar do homem a imagem de Deus, mas
a deportou e o fez violentos, imorais e corruptos. O pecado faz com que o homem se
desvie dos propósitos de Deus e perca a sua companhia, o que fez por Adão faz por
todos nós. Ele ainda esta procurando os pecados e dizendo “onde estas?”. Porque a
sua misericórdia e infinita e o seu amor incomparável.
Assim como ele vestiu Adão, enviou seu filho Jesus, para que
tenhamos uma nova roupagem Espiritual. Desde o principio Deus já tinha um plano
para a redenção da humanidade.
Portanto, se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para
perdoa os nossos pecados e nós purificar de toda injustiça (1 João 1:9).
Nós nascemos pecadores. Não importa o que façamos, nós seremos
sempre pecadores. É por isso que precisamos ser salvos através do batismo de
Jesus. Nós não somos pescadores por causa dos atos de adultério, homicídio e furto
que cometemos, mas porque nascemos em pecado. Sendo assim, aos olhos de
Deus, nunca podemos ser bons pelos nossos próprios esforços. Nós só podemos
fingir que somos bons (JONG, 1991, p. 29).
Conforme Paul c. Jong (1991) nós nascemos com uma mente
pecaminosa, mas podemos ser justos se não cometermos nenhum pecado? Não,
nós nunca poderemos ser justos diante de Deus por nós mesmos. E se dissermos
que somos justos, isso é hipocrisia.
O que precisamos fazer diante de tal destino então? Temos que
clamar pela misericórdia de Deus para sermos salvos dos nossos pecados. Mas se
Ele não nos salvar nós iremos para o inferno. Este será o nosso destino. Por isso,
eles sabem que não reconhecer a palavra de Deus, deixa-lo de lado e rejeita-lo é o
pior pecado que existe. Aqueles que aceitam a palavra de Deus são justos, apesar
de terem sido pecadores antes. Eles nasceram de novo pela palavra da sua graça e
são muito abençoados (JONG, 1991, p.29).

5.1. MESMO DEPOIS DE CRER EM JESUS QUEM CONTINUA SENDO


PECADOR

“[...] Aqueles que tentam ser salvos pelas obras”.

Todos aqueles que são das obras da lei estão debaixo da maldição,
pois está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que
estão escritas no livro da lei, para fazê-las. É vidente que pela lei ninguém será
justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé (GÁLATAS 3:10-11).

Está escrito: “Maldito todo aquele que não permanecer em todas as


coisas do livro da lei, para fazê-las” (Rm 3:20).

No entanto aqueles que dizem que creem em Jesus, mas que


buscam ser justificados pelas obras são amaldiçoados. O que acontece com aqueles
que tentam ser justificados pelas obras? Eles vivem debaixo da maldição de Deus.

Portanto, creia no batismo de Jesus para que você possa nascer de


novo.
Deste modo, você será salvo, se tornará justo, terá a vida eterna e irá
para o céu. Pois tenha fé em seu coração.

6. QUAL E O PECADO MAIS


ARROGANTE DO MUNDO.
“Tentar viver segundo a Lei”

Nós somos abençoados porque cremos nas bênçãos de Deus. Deus


salva aqueles quem tem fé na sua palavra.
Hoje, porem, há muitos crentes que tentam viver segundo a Lei. É ate
louvável que eles tentam viver segundo a Lei, mas como isso é possível? Nós temos
que entender que é uma tolice tentar viver pela Lei. Quanto mais tentamos mais isso
se torna difícil. Deus disse: “A fé vem do ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”.
Portanto, nós temos que deixar de lado nossa arrogância para que
sejamos salvos.

6.1. O QUE PRECISAMOS FAZER PARA SERMOS SALVOS.

Precisamos abandonar nossos próprios critérios


Como alguém pode ser salvo?
Quando você reconhece que é pecado.
“Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida;
ninguém vem ao Pai senão por mim.” (Jo 14.6).

“Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus


enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele.” (1 Jo 4.9).
Deus disse que aqueles que só confiam no livro da Lei são
amaldiçoados. Aquele que creem que podem se tornar justos aos poucos crendo em
Jesus tentando viver pela Lei estão sobre maldição. Eles creem em Deus, mas ainda
acham que precisam viver de acordo com a Lei para serem salvos (Jong, 1991, p.
32).
Todos aqueles que são das obras da lei estão debaixo da maldição,
pois está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que
estão escritas no livro da lei, para fazê-las. É vidente que pela lei ninguém será
justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé, nele se descobre a justiça de
Deus de fé em fé, como está escrito: O justo viverá da fé (GÁLATAS 3:10-11,
ROMANOS 1:17).
6.3. Portanto, não crer na palavra de Deus é pecado perante a
Ele.

Aqueles que ainda não nasceram de novo têm que deixar de ser
teimoso e reconhecer que são grandes pecadores perante o Deus todo poderoso.
Depois então, eles têm que voltar para a palavra de Deus e descobrir como Ele os
salvaram pela água e pelo Espírito (PAUL C. JONG, 1991, p. 33).

“Pecado é um ato e um estado da vontade pessoal contra Deus e a


vontade de Deus”. O pecado origina-se da totalidade da pessoa arraigada e
relacionada com aquilo que transcende a pessoa, se expressa na complexidade da
força e da fraqueza da pessoa, e resulta na distorção de todas as relações.

7. PROCEDIMENTOS
METODOLOGICOS.

Em relação à natureza, o trabalho é teórico, baseando-se na


utilização de estudos bibliográficos a partir de informações já publicadas. A pesquisa
teórica caracteriza-se pela consulta de livros ou documentação escrita que se faz
sobre determinado assunto.
Em relação ao tratamento de dados, a pesquisa classifica-se como
qualitativa. A pesquisa qualitativa não é um produto desprovido de
sentido/significado que os autores sociais dão ao fato, pessoas, objetos que circulam
o seu universo social.
Quantos aos objetivos, a pesquisa é caracterizada como bibliografia
quanto aos procedimentos que serão utilizados em relação aos dados. “Para tanto,
conforme “Cervo e Serviam (1996, p. 48)” a pesquisa bibliográfica procura explicar
um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos.”.
Sendo parte obrigatória de qualquer tipo de pesquisa, a pesquisa
bibliográfica nos aproximou do conhecimento produzido e publicado e dessa forma
pode-se conhecer os limites e avanços desses conhecimentos em relação ao nosso
problema de pesquisa.
Os dados foram coletados em livros, artigos, monografias e outros
materiais publicados tratam-se de dados que já foram coletados, ordenados com
outros propósitos em de atender as necessidades da pesquisa em andamento.

Enquanto consideramos lições importantes sobre a obediência, não


devemos esquecer-nos de um dos fatos fundamentais da Bíblia. Deus merece a
adoração porque ele nos criou. “Louvem o nome do Senhor, pois mandou ele, e
foram criados” (Salmo 148:5).
Sendo assim, nossa única esperança está depositada em Cristo. Ele
é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29). Ele é aquele que fora
prometido para esmagar a cabeça da serpente e derrotar o poder de Satanás
(Gênesis 3:15 com Apocalipse 12:9).
Agora, podemos dizer como Tito: "Aguardando a bem-aventurada
esperança e o aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo
Jesus, que se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda iniquidade, e purificar
para si um povo todo seu, zeloso de boas obras (Tito 2:13,14).

Entretanto os homens estão separados da presença de Deus por


causa dos seus pecados. É uma tragédia estar separado de Deus.
O pecado atinge não apenas o indivíduo, como tal, mas a sua
influência estende-se à sociedade em que o indivíduo vive. O pecado tem como
consequência imediata a alienação, ou distância, do indivíduo, das finalidades para
as quais foi ele criado por Deus. Portanto Jesus Cristo veio para dar sentido à
existência do homem. Ele veio tornar possível uma vida abundante e significativa
(João 10:10).
Ele veio buscar e salvar os que se sentem perdidos, abandonados,
distantes, alienados (Lucas 19:10). Jesus veio ao encontro de cada pessoa que se
considera infeliz e perdida.
Assim a culpa, dá perdão. Ao fardo pesado e inglório do pecado,
leveza. Ao enfado e canseira, uma nova disposição. À insegurança e dúvida,
certeza. À intranquilidade e medo, paz! (Mateus 11:28-30). Você não está só. Jesus
está perto. Ele deseja aproximar todos os homens a Deus (2 Coríntios 5:18, 19).

7.1. O que é “eternidade” para o pensamento bíblico-hebreu?

Quem sabe, seja a primeira vez que se depare com a maneira bíblica e
hebraica de ver a eternidade e o tempo. É bem provável que sua ideia do assunto
tenha vindo da filosofia grega – o que é natural, considerando que fazemos parte de
uma cultura ocidental.

Além de avaliar o conceito bíblico de “eternidade”, poderá ler a posição


bíblica sobre outros atributos divinos. O cristianismo sempre entendeu que Deus é
eterno (Rm 16:26). A eternidade, como característica do ser divino, trata da relação
de Deus com o tempo. Existe uma profunda e decisiva discordância entre a
concepção tradicional e a concepção bíblica de eternidade. A concepção tradicional
de eternidade mantida por cristãos em geral sofreu indevida influência da filosofia
grega.Segundo ela, existe uma diferença qualitativa intransponível entre o tempo e a
eternidade. Eternidade seria a ausência total de tempo e de qualquer coisa
relacionada com o tempo. Como resultado, toma-se a eternidade divina como
significando que Deus é totalmente e completamente desvinculado e alheio a
qualquer realidade temporal ou histórica. As consequências de uma ideia como essa
permeiam e condicionam toda a concepção clássica da natureza e dos atos divinos.
Quando se busca, porém, a ideia de eternidade no registro bíblico, a primeira faceta
que se apresenta é a de que as palavras comumente traduzidas por “eternidade”
possuem significado claramente temporal. No AT [Antigo Testamento] ‘olam e no NT
[Novo Testamento] aiõn significam basicamente “um tempo de longa duração”, e se
referem a um período de tempo limitado ou ilimitado.

O fato de essa eternidade ser concebida em um modo temporal


não significa que a Bíblia equipare a eternidade com o tempo criado que
vivenciamos como limite de nossa finitude. Significa, antes, que a eternidade de
Deus não é alienada do nosso tempo. O tempo divino, porém, é qualitativamente
diferente do nosso tempo, não no sentido de negar o tempo, mas de incorporá-lo e
excedê-lo. Vivenciamos o tempo, por exemplo, como uma mensuração de nossa
transitoriedade, ao passo que, em Sua eternidade, Deus vivencia o tempo sem esse
caráter transitório (Sl 103:15-17; Jó 36:26).

Diferentemente da tradição cristã clássica, influenciada pela


filosofia grega, a Bíblia concebe o modo temporal e histórico da eternidade de Deus
como compatível com Sua imutabilidade (Sl 102:24-27; Hb 1:10-12). Paulo nos diz
que o plano da salvação foi elaborado “antes da fundação do mundo” (Ef 1:4).
“Antes” pressupõe claramente o tempo anterior à criação. A afirmação paulina de
que o plano da salvação esteve, “desde os séculos , oculto em Deus, que criou
todas as coisas” (Ef 3:9), aponta para a eternidade passada, como abrangendo o
tempo como uma característica da eternidade de Deus.

O tempo humano teve um começo (conferir 1 Coríntios 2:7),


quando nosso Universo finito e seus habitantes foram criados. O Criador transcende
tais limitações em Seu ser e em Sua experiência de tempo e história. O tempo
humano é limitado e finito, cuja posse está nas mãos de Deus, sob formas que
excedem completamente até nossos melhores esforços racionais e imaginativos.
Procurar definir o tempo de Deus seria uma tentativa teórica de penetrar no mistério
de Sua natureza. Nesse ponto, o silêncio é eloquência. Entendemos, porém, algo
importante, a saber, que, de acordo com a Bíblia, o eterno e imutável Deus pode Se
relacionar de maneira direta e pessoal com homens e mulheres dentro do plano da
história humana, a ponto de Ele e os seres humanos compartilharem a mesma
história. A eternidade de Deus designa o dinamismo e a infinitude da vida e da
história divinas, as quais ao mesmo tempo incluem e excedem completamente o
âmbito de nossa história criada. Segundo a Bíblia, a distância que atualmente
obstrui a comunhão direta e histórica entre Deus e Sua criação não é resultado da
diferença entre um Deus atemporal e imutável e um ser humano histórico, mas a
diferença entre um Deus santo e uma humanidade pecadora (Gn 3:22-24; Is 59:2).

8. IMUTABILIDADE
Outra característica do ser divino que tem sido importante componente da
doutrina cristã de Deus através dos séculos é a imutabilidade. Esse atributo tem que
ver com o fato de Deus não mudar (Ml 3:16; Tg 1:17). Lamentavelmente, porém, a
teologia tradicional equiparou imutabilidade com impassibilidade. Essa equiparação
foi necessária devido à concepção atemporal de eternidade [como visto no tópico
Eternidade]. Quando se entende imutabilidade como impassibilidade, diz-se que
Deus possui uma vida estática, da qual relações, emoções, novas experiências e
mudanças de vida estão inteiramente excluídas. Ou seja, a imutabilidade descreve a
vida divina como desvinculada da experiência e da história humanas. Essa
concepção não deixa nenhuma margem para a compreensão histórica do grande
conflito entre Deus e Satanás, ou para a encarnação histórica e real de Jesus Cristo.
Ao ministrar um ensino como esse, a teologia clássica seguiu a filosofia grega, em
completa desatenção ao conceito bíblico de imutabilidade. Apesar de não ser
encontrado na Escritura nenhum termo que expresse o conceito de “imutabilidade”, a
Bíblia afirma claramente que em Deus “não pode existir variação ou sombra de
mudança” (Tg 1:17). A maneira como a Bíblia entende a eternidade divina leva em
conta o fato de a compatibilidade entre a perfeição de Deus e uma concepção de
vida de Deus incluir alterações dinâmicas tais como realização de coisas novas (Is
43:19; Jr 31:31; Ap 21:5), emoções (Êx 34:14; Nm 11:33; Dt 4:24; 6:15),
relacionamento (Lv 26:12; Zc 13:9; Ap 21:3) e até mesmo arrependimento (Êx 32:14;
Jr 18:8; 42:10).

Não resta dúvida de que a imutabilidade do Deus bíblico, que é


capaz de mudar Sua decisão de destruir Nínive (Jn 3:4) por causa da reação positiva
dos ninivitas à pregação de Jonas (v. 10), não pode ser compreendida como
impassibilidade [ou seja, alguém indiferente à dor, às alegrias ou aos desgostos].
Não obstante, o fato de Deus mudar de ideia, como quando Se arrepende, não
significa uma mudança no propósito para com os seres humanos. Trata-se mais de
uma adaptação à mudança de ideia e propósito por parte do ser humano. Para a
Bíblia, a mudança divina também tem que ver com a vida dinâmica de Deus e não
com a constituição de Seu ser. Ou seja, a realidade de Deus não varia nem muda de
um ser menos perfeito para um mais perfeito. Deus é sempre o mesmo (Sl 102:26-
27; Hb 13:8).

De acordo com a doutrina bíblica de Deus, o movimento e a


mudança na vida divina, inconcebíveis para a teologia clássica, desempenham papel
central na natureza perfeita da vida e atividades divinas. Além do mais, a
encarnação presume que Deus seja capaz não apenas de Se relacionar e viver
dentro dos conceitos do tempo criado, mas também de vivenciar pessoalmente
novos e genuínos acontecimentos históricos. A encarnação envolve uma progressão
histórica e real dentro da própria vida divina de Deus sem haver a necessidade de
mudança ou desenvolvimento na estrutura do ser divino (Fp 2:6-8). Dentro desse
contexto, a imutabilidade de Deus é coerentemente apresentada através da Bíblia
como “fidelidade” ou constância em Seus atos históricos.

Deus é capaz de agir na história e de mudar de ideia (Jr 18:8;


42:10; Jn 3:9-10) sem infringir a perfeição de Seu próprio ser, ou completar um
processo de desenvolvimento interior de um nível mais simples para um nível mais
alto de existência. Ainda assim, Sua eterna fidelidade (Sl 100:5; 117:2) garante que
Ele nunca mudará de ideia, mas que sempre cumprirá Seus planos (Is 25:1),
juramentos (Hb 7:21) e promessas de recompensa (Is 61:8), proteção (Sl 91:14) ou
castigo (Sl 119:75) em relação às escolhas humanas.A fidelidade histórica é,
portanto, uma característica divina que distingue Deus dos seres humanos (Nm
23:19; 1Sm 15:29). A imutabilidade de Deus, portanto, é compreendida não como
impassibilidade, mas como eterna identidade da natureza de Deus consegue mesmo
e fidelidade histórica, constância e coerência de Seu relacionamento, propósitos e
ações para conosco. Esse pressuposto é necessário para conceitos teológicos tais
como tipologia, encarnação, cruz e o grande conflito entre Deus e Satanás,
conforme apresentados ao longo da Bíblia.

9. AMOR E IRA
Diversas são as maneiras pelas quais a predestinação, a criação,
a revelação geral, a presença histórica e a providência revelam Deus como um ser
relacional, cuja essência é o amor (1 João 4:8). Exatamente por causa disso, a ira é
estranha à Sua natureza (Is 28:21).Para compreender adequadamente os conceitos
bíblicos de ira e amor divinos, é necessário reconhecer que Deus pode expressar
ambos os sentimentos sem ser contraditório. Ao revelar Sua glória a Moisés, Deus
explicou que era um “Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em
misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a
iniquidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocente o culpado, e visita a
iniquidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos até a terceira e quarta geração”
(Êx 34:6-7).

10. O AMOR ETERNO.


As Escrituras declaram que “Deus é amor” (1Jo 4:8, 16). Revelam
um “Deus de amor” (2Co 13:11), bem como o “amor de Deus” (2Co 13:14; conferir Ef
2:4) por Sua criação. O Pai (1Jo 3:1), o filho (Ef 3:19) e o Espírito Santo (Rm 15:30)
Se empenham em expressar Sua amorável natureza íntima, não só nos atos de criar
o Universo e se comunicar com ele, mas também, e mais notavelmente, no ato de
elaborar e implementar um surpreendentemente sábio e complexo plano de
salvação.A definição do amor de Deus não pode ser extraída por analogia de
conceitos ou experiências humanas. O significado do amor só pode ser definido por
Deus através de um ato de revelação direta. O amor é uma realidade relacional.
João expõe com clareza a natureza relacional do amor quando observa que
“conhecemos e cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor, e aquele que
permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele” (1 João 4:16).

Há, porém, mais amor divino do que o pode sugerir sua estrutura
relacional. O amor divino é explicitado nos mínimos detalhes quando, segundo a
predestinação eterna de Deus, “Se manifestou a benignidade de Deus, nosso
Salvador” (Tt 3:4), e o Pai e Jesus Cristo nos deram “eterna consolação e boa
esperança, pela graça” (2Ts 2:16).O amor de Deus apresenta sua mais
surpreendente e inesperada manifestação na vida e morte de Jesus Cristo (Rm 8:39;
1Jo 4:10; Rm 5:8). O amor divino é a base não somente da criação, mas também da
redenção. A encarnação e a cruz de Cristo revelam efetivamente que o amor divino
é um ato de abnegação em favor dos seres humanos, inclusive dos humildes,
desprezados e indignos. A Escritura descreve a essência do amor divino no ato de o
Pai entregar o Filho (Jo 3:16; Rm 8:32; conferir 2Co 5:21) e, simultaneamente, no
ato de o Filho Se entregar a Si mesmo (Gl 2:20; Ef 5:2; Hb 9:14). Paulo explica a
autorrendição do amor do Filho pelo mundo, ressaltando que Cristo Jesus “não
julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a Si mesmo Se esvaziou,
assumindo a forma de servo, tornando-Se em semelhança de homens; e,
reconhecido em figura humana, a Si mesmo Se humilhou, tornando-Se obediente
até à morte e morte de cruz” (Fp 2:6-8).

Com base nisso, não admira ouvir Paulo afirmar que o amor demonstrado
por Cristo “excede todo entendimento” (Ef 3:19). Segue-se, pois, que o amor divino é
a fonte (1Jo 4:7) e o modelo (1Co 13) do amor humano.

11. A IRA DE DEUS


Que o Deus bíblico Se ire e traduza em ação Sua ira sobre os pecadores,
destruindo-os pelo fogo eterno, parece algo estranho à Sua natureza (Is 28:21).
Contudo, o conceito bíblico da ira de Deus não é contraditório nem incompatível com
Sua natureza amorosa. Visto que Deus é amor, Seu objetivo é salvar todos os seres
humanos. Paulo expôs com precisão esse fato básico da teologia cristã em uma
afirmação concisa: “Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação
mediante nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5:9).A resposta de Deus ao pecado
humano é a oferta da salvação em Jesus Cristo (Gn 3:15). Se Deus é amor e Seu
propósito explícito é salvar pecadores, surge a pergunta: o que Lhe causa ira?
Segundo a Escritura, a ira divina é provocada quando o pecado persistente (Dt 9:7;
2Cr 36:16; Jr 7:20-34; 32:31-33; Os 12:14; Rm 2:5; Cl 3:5-6) leva homens e
mulheres a rejeitar sistematicamente a amorosa oferta de salvação em Jesus Cristo.
(Jo 3:36; Hb 6:4-6).

Porque Deus é amor, Ele não quer “que nenhum pereça, senão que todos
cheguem ao arrependimento” (1Rs 8:46-51; 2Pe 3:9). A ira divina pode, porém, ser
evitada pelo arrependimento (1Rs 8:46-51; Jl 2:12-14), confissão (Dn 9:16-19),
restituição (Lv 5:16; Nm 5:7-8) e intercessão (Êx 32:9-14).

Em suma, a ira divina pode ser desviada se os seres humanos aceitarem


a vontade de Deus (Sua lei) e o perdão que Ele oferece gratuitamente a todos por
meio de Jesus Cristo. Mas quando rejeitam teimosa e persistentemente a vontade
de Deus e a amorável dádiva da salvação oferecida em Jesus Cristo, os pecadores
se tornam obstinados em sua posição ao Senhor, tornando-se, por conta disso,
inimigos de Deus.

Naum explica que a ira de Deus é executada sobre Seus inimigos: “O


SENHOR é Deus zeloso e vingador, o SENHOR é vingador e cheio de ira; o
SENHOR toma vingança contra os Seus inimigos” (Na 1:2). Durante a história da
salvação, a ira de Deus foi executada somente de forma ocasional e parcialmente
(Lm 2:1-3; conferir At 17:30). Será, porém, executada escatologicamente no último
dia, quando “todos os que cometem perversidade serão como o restolho; o dia que
vem os abrasará, diz o SENHOR dos Exércitos, de sorte que não lhes deixará nem
raiz nem ramo” (Ml 4:1; conferir Ap 14:10, 19; 19:15-21).

12. TRANSCENDENCIA
Transcendência é outro conceito teológico que aparece na Bíblia sem
uma palavra específica que a expresse. Transcendência significa basicamente
“independência” de alguma coisa e tem que ver, no estudo da natureza de Deus,
com a independência que Ele manifesta em Seu relacionamento com o Universo.O
sentido no qual Deus é diferente da criação tem sido compreendido tradicionalmente
com base em Sua eternidade atemporal e impassível imutabilidade. Ou seja, Deus é
diferente da criação porque não está subordinado ao tempo nem à história, ao passo
que a criação é temporal e histórica. Seguindo este princípio, a teologia clássica
encontra uma semelhança ou analogia básica entre a realidade transcendente de
Deus e a realidade criada. Tal semelhança é o fundamento que permite a razão
humana discorrer sobre Deus e construir uma teologia natural. Outros têm sugerido
que entre Deus e a criação existe uma diferença total e absoluta, designada como
“transcendência absoluta”. A transcendência absoluta não admite nenhuma
similitude entre a natureza eterna de Deus e Sua criação histórica.

A Bíblia concebe Deus diferente do mundo, tanto em termos de realidade


(Deus não é o mundo, nem está o mundo incluído em Seu ser) como em termos de
natureza. É óbvio, porém, que quando a diferença é entendida como
“transcendência absoluta”, Deus Se torna o grande desconhecido. As
consequências das abordagens tradicional e moderna à interpretação da
transcendência de Deus foram, em última análise, responsáveis pela reviravolta nas
concepções panteístas da imanência divina nos últimos três séculos. De acordo com
essa concepção, Deus não é mais uma pessoa independente do mundo, senão o
próprio mundo, em sua profunda causa ontológica ou poder para sê-lo.As Sagradas
Escrituras apresentam uma concepção diferente da transcendência de Deus. Desde
o princípio, a doutrina da criação prepara o terreno tanto para a transcendência
como para a semelhança entre Deus e Sua criação. A criação divina estabelece a
independência entre a realidade de Deus e a realidade do Universo (Gn 1:1; Hb
11:3) e, por consequência, a dependência do Universo em relação a Deus (Is 42:5).

A Escritura fala claramente da transcendência divina, tomando como


ponto de partida a imanência de Deus no santuário. O relato da cerimônia de
dedicação do templo de Salomão (2Cr 5-7) aponta para o fato de que a
transcendência do ser divino está além do âmbito da criação. Começando com a
afirmação da imanência pessoal e histórica de Deus, a narrativa identifica o lugar de
habitação de Deus em dois espaços: primeiramente, a habitação de Sua glória
pessoal no templo-santuário terrestre (2Cr 5:13-6:2; 6:41; 7:13; conferir Êx 40:34-
38), e depois, Sua morada celeste (2Cr 6:21, 25, 27, 30, 33, 39; conferir Hb 8:1-2; Ap
7:15).

A morada celeste de Deus não é, contudo, o âmbito de Sua


transcendência, visto que o “Céu” é parte da criação de Deus. O fato de Deus
habitar no Céu deve, portanto, ser entendido como uma referência à Sua imanência
histórica, isto é, Sua relação com as outras criaturas não afetadas pelo pecado.
Duas habitações divinas são necessárias, não por causa da transcendência de
Deus, mas devido à introdução do pecado na Terra e à necessidade da presença
pessoal de Deus com Seu povo. A dimensão da transcendência divina entra em foco
novamente quando Salomão pergunta: “Mas, de fato, habitaria Deus com os homens
na Terra? Eis que os céus e até o céus dos céus não Te podem conter, quanto
menos esta casa que eu edifiquei” (2Cr 6:18; 1Rs 8:27). Percebe-se e se expressa
aqui o mistério da realidade de Deus.

Ele realmente vive na Terra, mesmo em um templo, e no Céu


(imanência), mas Seu ser excede completamente a criação (transcendência).
Somente quando o mistério do ser de Deus – que é totalmente independente e
completamente insuperável, e no entanto capaz e disposto a estabelecer uma íntima
relação de morada com Sua criação – for revelado, seremos capazes de reconhecer
e adorar a Deus em Sua majestade divina. Nenhum esforço da razão ou da
imaginação humana pode penetrar a revelação de Deus em Sua essência divina.

A Bíblia, porém, não adota a ideia de uma transcendência “absoluta”, que


exclua as semelhanças entre Deus e a criação. Ao contrário, segundo o relato
bíblico de Gênesis, homem e mulher foram criados “à imagem de Deus” (Gn 1:27), o
que afirma claramente uma semelhança entre Deus e a humanidade. O fato, porém,
de existir essa semelhança não justifica o uso especulativo da razão sozinha para
compreender Deus. Somente Deus, que conhece perfeitamente ambos os lados da
analogia entre Ele e a criação, pode extrair analogias cognitivas ou comparações de
Seu próprio Ser com a nossa ordem criada. Os seres humanos, que conhecem
apenas seu próprio lado da criação, não podem traçar um quadro analógico
apropriado da realidade divina.

Com base nisso, nenhuma analogia extraída da criação pode servir de


fundamento para atribuir a Deus alguma forma física ou conceitual. Ou seja, a
analogia que existe entre Deus e a criação não possibilita o desenvolvimento de
uma teologia natural. Como era de se esperar, o segundo mandamento nos instrui a
não fazer “imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos
céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra” (Êx 20:4). Só Deus
pode empregar analogias para revelar-Se sem correr o risco de descambar para as
vãs especulações. Algumas das analogias empregadas por Deus são chamadas de
antropomorfismos, isto é, elas atribuem a Deus características pertencentes a seres
humanos. Nos antropomorfismos bíblicos, Deus revela o que Ele é e o que pode
fazer com relação às realidades humanas. Quando Deus diz, por exemplo, que tem
braço (Êx 15:16; Sl 89:13), não quer dizer que possua exatamente ou univocamente
o que chamamos de braço. A expressão significa que a realidade divina é capaz de
executar tudo o que pode ser executado por um braço humano, e infinitamente mais.
Não somos capazes de conceber ou imaginar a verdadeira estrutura da
realidade de Deus que Lhe permita realizar estes atos. A linguagem analógica nos
revela, porém, aspectos da essência e das capacidades divinas, embora
resguardando ao mesmo tempo o mistério de Sua natureza divina. Em Si mesmo,
Deus é real e tem uma forma, ainda que a realidade e a forma divina ultrapassem
em muito a realidade e a capacidade cognitiva das criaturas de intelecto mais
elevado. Além dos limites daquilo que foi revelado sobre Seu ser, o silêncio é, e
sempre será, eloquência. A revelação ocorre quando o próprio Deus estabelece uma
relação direta com nossa história humana. No entanto, desde o primeiro momento
em que Se revela, o mistério de Seu ser transcendente parece não ser passível de
ser alcançado por nossa limitada inteligência.

A transcendência de Deus aparece associada à diversa de Seus atributos


conforme revelados na Bíblia, como, por exemplo, os da presciência, onisciência e
onipotência. É, contudo, na doutrina da Trindade que a transcendência de Deus se
revela em seu nível mais profundo. Segundo a literatura mítico-religiosa, o tempo é
determinado pela natureza eterna da divindade ou origem de tudo. A partir desta
máxima, a bibliografia teológica é provocada e estudos sobre a índole eterna do
divino sugerem que se o universo é criado à imagem de seu criador o primeiro
deverá ser também eterno. Com efeito, pergunta-se: como dar forma àquilo que por
natureza é disforme, infinito, a saber, a eternidade? Para responder a esta questão,
o seguinte artigo desenvolve não apenas um breve histórico da tradição judeu-cristã
acerca do problema do tempo e sua relação com a eternidade como também tenta
elaborar, ao final, uma resposta lógica à interrogação apresentada.

Palavras-chave:

Tempo; eternidade; teologia; ser; YHWH.

O que tem sido isso é o que há de ser; e o que se tem feito isso se tornará
a fazer; nada há que seja novo debaixo do sol. (Ecl. 1:9) A literatura mítico-religiosa
preocupa-se com a ideia de tempo por meio de sua relação com a eternidade e a
infinidade da divindade. Ela é testemunha da tentativa de dar forma finita àquilo que
seria por natureza disforme, infinito: a divindade e seus atributos. A partir do estudo
sobre a temporalidade do mundo, essa bibliografia provoca a elaboração teológica
sobre o sentido desse mundo, o que implica em certa reflexão sobre a ideia de
tempo e, por isso, deve interessar à investigação sobre as relações entre tempo e
sentido. Com efeito, ao se conhecer a fisionomia do tempo, acredita-se conhecer o
seu sentido, segundo a vertente mítico-religiosa. Devo esclarecer inicialmente que
compreendo “mito” e “religião”, naturalmente, como termos e conceitos distintos,
apesar de próximos no contexto linguístico vulgar atual. O professor Jacyntho Lins
Brandão entende ser possível o uso abrangente do conceito, que é originalmente
grego (mýthos), pois particularmente desde o advento da antropologia moderna (em
especial, Lévi-Strauss) houve um alargamento semântico natural do termo mito e,
ainda, a aproximação do seu significado em relação ao entendimento do que são as
religiões (Brandão, 2014, p. 299). Nestes termos, ao se tratar aqui a tradicional
“história judaica” enquanto “mito judaico”, pretende-se nada mais que demarcar o
caráter não confessional e crítico deste estudo. A Bíblia hebraica (Tanakh), portanto,
será lida como trabalho da mente humana, tal como Leo Strauss a lê; da mesma
maneira que se lê Homero, Platão, Shakespeare (Strauss, 1981, p. 6) ou Guimarães
Rosa.

Outro ponto a ser iluminado é a evidente diversidade de ideias de tempo


que se dedicam ao mesmo problema, o questionamento da eternidade da divindade
e do mundo por um prisma religioso ou mítico. Egípcios, yorubás, astecas, maias,
povos ameríndios variados, masdaístas, sumérios, hindus, budistas, taoístas,
gregos, romanos, judeus, muçulmanos, cristãos, todos se aventuram a responder tal
pergunta; produziram ideias sobre o tempo de grande alcance e influência,
motivando teogonias, cosmogonias e teleologias estruturadas pela ideia de
eternidade. Também determinam a experiência vivida segundo a repetição cosmo-
religiosa de acordo com a natureza dos dias, noites, meses, estações do ano, que
atuam como a reinauguração do ato criador originário (Leclant, 2011, p. 2111-2113).
Mas, a despeito dessa pluralidade e das inúmeras particularidades que podem ser
encontradas em cada uma destas ideias, é possível falar em consenso, em termos
genéricos, sobre a ideia de tempo no mundo religioso. A literatura mítico-religiosa
sempre se depara com o conceito de “eternidade” como expressão do mistério
próprio à origem e ao sentido do mundo; quando se quer falar do tempo, a discussão
é sempre desviada na direção do “eterno” como fenômeno fundamental (Tunca &
Pirenne-Delforge, 2003, p. 13). Visto isso, opta-se pela reflexão judaico-cristã sobre
a ideia de tempo, adiante apresentada, não de maneira arbitrária, mas como parte
da intenção de desenhar as origens da constelação de nome “tradição ocidental
sobre a ideia de tempo” e suas respectivas implicações filosófico-históricas quanto
ao desenvolvimento e usos do conceito de eternidade com o deliberado interesse
final de responder ao questionamento sobre a forma da eternidade. Por mais que
haja, como já sinalizado, uma série de meditações a esse respeito, por exemplo,
no(s) Veda(s) ou no Tao-te Ching, será a Bíblia judaico-cristã que fornecerá as
ferramentas e materiais para o debate dentro do mundo mítico e religioso a partir do
qual a tradição teológica ocidental sobre o tempo erige seus fundamentos, sua
ontologia do tempo.

Nesse sentido, a teologia judaico-cristã, particularmente a hebraica antiga,


enumera uma série de características para a divindade que se relacionam com os
diversos aspectos da vida cotidiana, desde o bem-estar e o amor mútuo até guerra e
a beligerância próprias ao oriente próximo antigo. Trata-se aqui, destarte, de
especificar certa qualidade de índole temporal própria ao deus dos povos hebreus,
qual seja, a eternidade em conexão com a ideia de tempo e sua forma, que deve ser
finita por definição. Naturalmente, como já evidenciado não se quer com isso
inscrever este estudo dentro de limites proselitistas; bem ao contrário, objetiva-se
apresentar de maneira histórico-filológica os parâmetros discursivos e as
consequências teóricas que a tradição teológica sobre o tempo enfrenta de modo a
tratar o texto bíblico não como verdade revelada, mas enquanto suporte técnico
inultrapassável para melhor compreensão de determinada cultura sobre a ideia de
tempo que, neste caso, se confunde com a ideia de eternidade.
13. A eternidade no mundo judaico e
grego
O livro que abre a Bíblia cristã ou a Torah, comumente traduzido
por “Gênesis” (o bereshit [‫ ;בראשית‬no começo], para a tradição judaica), responde ao
questionamento mítico-religioso sobre o caráter divino, particularmente com relação
ao problema teológico responsável por interrogar a forma do que por natureza seria
desprovido de forma - a divindade que é infinita, disforme. O tempo surge, então,
como ideia que introduz uma solução teórica e metafísica à questão da seguinte
maneira: a divindade é eternidade e ela não apenas incarna, misteriosamente, o
tempo, mas também o determina organicamente, delimitando o início e o fim da vida
(o nascimento e a morte) - teleologicamente, em sua gênese é anunciada ao mesmo
tempo seu fim. Por isso, se há algo que foge ao conhecimento humano e que
pertence aos limites divinos, segundo essa literatura, é o tempo em sua acepção
mítico-religiosa. Em linguagem profana, a índole divina se traduz como teleológica,
ou seja, carregada de sentido pré-determinado. A definição mítico-religiosa do tempo
lembra que há um início do mundo, uma gênese, e, por outro lado, um fim para toda
criação, pré-determinado pela divindade segundo sua própria eternidade (potência
de ser eterno). Entretanto, diferente de outras teogonias, nada se diz sobre a origem
divina na literatura judaico-cristã. No livro de “Isaías” é possível observar a tradição
de compreensão intemporal da divindade, pois ela é o primeiro e também o último, o
princípio e o fim, simultaneamente. “Eu sou o primeiro, e eu sou o último (...) [ ‫אחרון‬
‫( ”]ואני ראשון אני‬Is. 44:6).1 A divindade, assim, não possui origem, ela é a própria
origem e sobrevive às próprias criações.

13.1. O tempo

O tempo seria conteúdo do mundo, mas está contido na divindade que se


diferencia do mundo, precisamente por ser eternidade. Do ponto de vista temporal,
desse modo, pode-se afirmar que ser eterno é nada mais que ser intemporal (ou
ainda, atemporal). Na The Encyclopedia of Religions, dirigida por Mircea Eliade,
Peter Manchester assina o verbete “eternity” [eternidade], por meio do qual se afirma
a eternidade como “condição ou atributo da vida divina por meio da qual se relaciona
com igual imediaticidade e potência com todos os tempos” (Manchester, 1987, p.
167). E nota-se queisenta de todo ter sido e vir a ser, a eternidade é familiarmente
definida como intemporal, diferentemente de toda permanência (às vezes também
chamada sempiterna). (Manchester, 1987, p. 167)

Reafirma-se assim que, diferentemente do que perdura no tempo, a


eternidade é intemporal para todos os efeitos. Um dos nomes da divindade é mesmo
Eternidade, em hebraico antigo; atributo temporal que se confunde com o seu nome
próprio. No Gênesis, além de Elohim [‫( ]אלהים‬Pai/Senhor criador e onipotente) (Gn.
1:1) a divindade é El-Olam [‫( ]עולם אל‬Pai/Senhor-Eternidade) (Gn. 21:33); El de
sempre, El de eternidade (Römer, 2014, p. 107). Nome que se repete em outros
momentos da Tanakh, por exemplo, nos salmos davídicos, que situam
temporalmente a natureza divina fora do mundo, pois “antes que nascessem os
montes, ou que tivesses formado a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade
[‫ ]עדעולם ומעולם‬tu és Deus” (Sl, 90:2). O atributo (in) temporal eternidade [‫ ;עולם‬olam]
é a própria natureza primeva da divindade, cuja gênese se desconhece, pois ela se
perde no fluxo exotérico do que é eterno e, assim, corrobora sua índole infinita e
misteriosa.

O análogo filosófico desta reflexão se encontra em Platão, no Timeu,


posteriormente reelaborada em Plotino, no sétimo livro da IIIª Enéada. Ambos
seguem um mesmo padrão reflexivo, qual seja, compreender a eternidade enquanto
potência metafísica que assegura a existência do mundo, (temporal). Platão e
Plotino estão interessados em apreender o aspecto metafísico do tempo, não sua
natureza que poderíamos chamar, hoje, de psíquica ou física, como quiseram
Agostinho ou Aristóteles, por exemplo, (Cf. Callaham, 1948). Por mais que Plotino
anuncie uma possível origem anímica do que é propriamente temporal, será apenas
com Agostinho de Hipona que tal discussão ganhará fôlego. Ao mesmo tempo, por
mais que Platão indique o movimento dos céus e o número deste movimento como
agentes temporais, será Aristóteles quem dará contornos nítidos e completos a essa
proposição. Por isso, das meditações sobre o tempo de cada um, pode-se afirmar
que há muitas correspondências do ponto de vista teórico em relação ao problema
da eternidade entre Platão, Plotino e a teologia judaico-cristã. Platão e Plotino,
visando interrogar a natureza do que é o tempo, desviam o seu olhar, ao termo, em
direção ao questionamento sobre a eternidade do mundo, próprio da teologia (Lloyd,
1975, p.159-163). De acordo com José Baracat Júnior, a investigação de Plotino
deriva de uma exegese do Timeu de Platão, conferindo, assim, uma afinidade direta
entre as duas reflexões (Baracat Júnior, 2014, p. 54). Segundo a narrativa de Platão,
Timeu de Lócris, ao propor estabelecer a causa pela qual o “demiurgo” (ou
“construtor”) produziu o vir a ser e o universo, afirma que.

Mesmo que fosse eterna a natureza do Ser Vivo [demiurgo], era


impossível conferi-la plenamente a qualquer coisa gerada; portanto, ele concebeu
produzir uma imagem móvel da eternidade, e à medida que ordenava o céu, ele
produziu, simultaneamente, uma imagem eterna [aiônion eikôna] daquela eternidade
que permanece na unidade, e essa imagem se movendo de acordo com o número,
mesmo o que chamamos de tempo [khrónon] (...). O tempo, portanto, veio a ser (foi
gerado) simultaneamente ao céu (universo).

Ou seja, pela exposição platônica, o tempo nada mais é do que uma


“imagem móvel da eternidade”. Assim como para a tradição mítico-religiosa judaico-
cristã o tempo é determinado pela eternidade original divina, o demiurgo que dá
forma ao mundo platônico é um “deus eterno” ele imagina o tempo como o
movimento dos dias e estações, eternamente reinaugurava por meio de sua origem,
a eternidade. Algo parecido diz Plotino, seguindo Platão, ao afirmar que “fabricamos
o tempo como imagem da eternidade. A diferença fundamental da asserção de
Plotino para a de Platão se restringe ao agente realizador do tempo: Platão
reconhece no demiurgo a diferenciação da eternidade original em tempo; Plotino,
por sua vez, reconhece, de modo quase agostiniano, tal diferenciação originalmente
no intelecto ou alma. Porfirio de Tiro, no século III de nossa era, irá repetir as
elaborações platônicas de Plotino em suas Sententiae ad intelligibilia ducentes
[Sentenças que conduzem aos Inteligíveis]. Apesar de Martin Heidegger, em suas
preleções do semestre de verão de 1927, nos Die Grundprobleme der
Phänomenologie, ao comentar a IIIª Eneida de Plotino, acreditar que “aeon é uma
forma intermediária caracterizada entre a eternidade e o tempo”. O que ainda
mantém a discussão plotiniana nos limites theo-lógicos do problema. Dito isso, o que
seria tempo e eternidade para Platão e Plotino, portanto, reserva grande afinidade
com a perspectiva da tradição judaico-cristã sobre o tópico. Não é por acaso que
Platão terá grande trânsito entre a intelectualidade cristã. Mesmo na filosofia
moderna, a título de exemplo, o ponto de vista de Schelling sobre o conceito de
eternidade, também se desvia da discussão sobre o tempo em direção ao
questionamento sobre a eternidade. Para Schelling, “é evidente que a eternidade
não é um mero conceito negativo, mas antes uma capacidade de dispor livremente
dos tempos ou, em outras palavras, uma soberania sobre os tempos e não uma
abolição do mesmo”.

13.2. Quem ou o que é a divindade hebraica?

Do ponto de vista teológico, para além dos nomes divinos que indicam
“uma ação” ou “estado”, há uma exceção, o nome próprio divino, “yod, hé, vav, hé”.
O chamado tetragrama, “YHWH” [‫]יהוה‬, é seu nome próprio, invocado inicialmente
como nome de si mesmo no capítulo dois do “Gênesis”. Ele permanece como
mistério para a teologia judaico-cristã e, simultaneamente, como exigência para a
afirmação monoteísta e pessoalizada da divindade hebraica, pois El é senhor, é
eternidade, é criador, mas também é “alguém”. Mas quem?

YHWH é certamente um nome associado há bastante tempo à divindade


hebraica. Tal fato é atestado extra biblicamente pela estela de Mésha (ou pedra
Moabita), estrutura de basalto com quase três mil anos de idade, datada do século
IX a.C., descoberta em 1868, na qual se pode ler uma inscrição em moabita (língua
arcaica semítica) cujo nome YHWH figura como deus dos samaritanos da antiga
Israel, também chamado de “Reino do Norte” . Entretanto, o problema do nome
divino do deus de Israel é, desde sua origem, caracterizado por questões
relacionadas aos limites linguísticos do hebraico antigo e, também, da doutrina
judaica.

Sendo o hebraico antigo ou bíblico um sistema escrito destituído de


vogais, foi necessário que os baalai hamasorah, mestres ou senhores da tradição,
produzissem a sinalização gráfica que indicasse a vocalização para a correta ou
tradicional recitação do texto bíblico. O que acontece, no entanto, apenas entre os
séculos III e X da era cristã (ou comum), tornando o texto massorético à norma. Até
então, antes da masorah normalizar a vocalização da Tanakh, o texto bíblico foi
recitado segundo a tradição oral coeva, que poderia variar de região para região,
apesar de haver o Templo de Jerusalém como padrão. Justamente a partir da
destruição do chamado Segundo Templo e da consequente diáspora causada pela
expulsão dos hebreus da Judeia romana (a segunda diáspora), faz-se necessário o
registro das formas corretas de recitação dos textos sagrados. Dessa normatização,
no entanto, há uma palavra que atravessa a tradição sem ser pronunciada, a saber,
o nome próprio divino, YHWH, que, registrado apenas em versão consonantal,
mesmo após a reforma massoreta, persiste inalterado, intocado pelos gramáticos,
copistas ou tradutores. Com efeito, perde-se sua pronúncia original, pois a tradição
hebraica impõe, segundo o princípio da intocabilidade do nome próprio divino, a
proibição do uso do nome YHWH em vão (Êx. 20:7), uma das ordenanças do
“decálogo mosaico” [as dez palavras]; por isso, sua pronúncia é sempre suprimida e
substituída pelas palavras adonai [‫ ;אדני‬meu senhor] ou Elohim [deus criador;
deus(es)]. Os samaritanos ainda utilizam ha-Shem [‫ ;השם‬o Nome]. Até mesmo os
tradutores antigos não traduzem o tetragrama, mantendo-o na forma original
consonantal ou, então, seguindo a tradição rabínica que substitui o nome próprio da
divindade hebraica por “o Senhor” [ho kýros] ou, o mais usual, “Deus” [theós],
conforme a Septuaginata. Portanto, a pronúncia correta de YHWH, que pode variar
(sobretudo por se tornar desconhecida), abre margem para uma série de
significações que, apesar de distintas, confluem para uma só raiz hebraica, segundo
a etimologia maimonideana (não isenta de dúvidas): o verbo “ser” [‫ ;היה‬hyh] (Guia
I:61) (Êx. 3). Para o RaMBaM, o tetragrama indicaria, portanto, a existência
necessária da divindade que por simplesmente “ser”, esquiva-se das nomeações
imperfeitas e, ao mesmo tempo, abrange as possibilidades imutavelmente infinitas
daquilo que apenas é.

A pronúncia ‘Yahweh’ corresponde, com efeito, à vocalização de uma


forma causativa da terceira pessoa do masculino singular da raiz ‘ser’. Yahweh será
então ‘aquele que faz ser’, aquele que cria...

Sinal da essência inflexivelmente eterna ou infinita da divindade é esta


maneira que a tradição judaico-cristã encontra para nomeá-la, como “o verbo”. Pois
o verbo na língua hebraica é determinado por certa “raiz” que sempre se apresenta
na terceira pessoa do singular masculina, tal como “ser” [hyh]. Assim, a divindade
antes de qualquer coisa é. Essa maneira de visar El-Olam é mais bem apresentada
na conhecida passagem do livro de “Êxodo” que descreve um dos raros momentos
de auto-enunciação do deus dos judeus que se torna também deus dos
cristãosEntão disse Moisés a Deus: Eis que quando eu for aos filhos de Israel, e lhes
disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me perguntarem: Qual é o
seu nome? Que lhes direi? Respondeu Deus a Moisés: Eu sou o que sou [ ‫אהיה אשר‬
‫ ;אהיה‬ehyeh asher ehyeh]. Disse mais: Assim dirás aos olhos de Israel: Eu sou me
enviou a vós. (Êx. 3:13-14)

Do ponto de vista filosófico, que como já sinalizado possui em Platão uma


evidente afinidade com a tradição judaica, deve-se notar que em relação ao logos
grego há também entre os primeiros filósofos correspondências com o aspecto
supracitado da manifestação do eterno, qual seja, da relação entre ser e eternidade;
pois há entre os primeiros filósofos um consenso sobre o uso do verbo “ser” para
descrever a eternidade como propriedade das coisas.

Uma das estratégias da composição oral é o uso de ideias prontas que


podem ser incluídas para completar versos. Essas fórmulas são estabelecidas, de
maneira mais ou menos fixa, como unidades, como uma expressão idiomática. Com
o advento da escrita e o abandono da métrica, amplia-se a possibilidade de alterar
essas fórmulas a partir de uma concepção mais crítica do seu significado. Na Grécia
antiga, a chamada fórmula da eternidade passou por esse processo. Em sua versão
mais antiga, encontramo-la composta pelo verbo ‘ser’ no particípio presente, futuro e
presente precedido pela preposição pró (antes). Desta maneira, os poetas se
referiam à eternidade falando de algo que ‘é, será e era’. A partir daí vários filósofos
pré-socráticos adequaram essa fórmula para explicar como funcionava o tempo em
relação às entidades centrais das suas concepções de mundo. O uso foi bem livre.
De acordo com o interesse de cada um, optaram, por exemplo, por trocar a ordem
das palavras ou adicionar advérbios para enfatizar o presente, o passado ou o
futuro, a mudança constante ou a estabilidade do que é eterno.

O verbo “ser”, então, utilizado para a auto-nomeação, autodeterminação


ou auto-proclamação divina perante Moisés, tal como para os primeiros filósofos,
caracteriza-se pela pluralidade de compreensões simultâneas do verbo, o que
salienta a característica imutável própria ao “ser”. A fórmula ‫[ אהיה אשר אהיה‬ehyeh
asher ehyeh], grosso modo, poderia ser traduzida de quatro maneiras distintas: “Eu
sou quem eu sou”, “Eu sou quem eu serei”, “Eu serei quem eu sou”, ou “Eu serei
quem eu serei”. Conforme Gerardo Sachs:

13.3. EU SOU QUEM EU SOU

Refere-se a um ser eternamente imutável. Tal entendimento corresponde


a certa filosofia ‘estática, à ideia segundo a qual desde que o mundo foi criado tudo
permanece intocado assim como surgiu das Mãos de Deus.
13.4. EU SOU QUEM EU DEVO SER

13.5. - suporta certa constância fundamental, independente de variações. Tal


concepção do Eterno não ignora as evidentes mudanças que ocorrem na
natureza no curso do tempo, mas as considera de importância secundária
sem consequências para a eterna imutável essência de Deus.

13.6. ‘EU DEVO SER QUEM EU SOU


é a ideia segundo a qual a evolução é inerente à essência de Deus. É
uma concordância com o conhecimento científico presente sobre o universo, a
formação das galáxias, a evolução das criaturas vivas na terra e particularmente às
possibilidades das técnicas genéticas com seus cruzamentos e ‘novos modelos’ de
plantas e animais. Junto a essa interpretação, o naturalista judeu contemporâneo
Lutz Zwillenberg escreveu, “O propósito do Universo é a percepção de todas as
possibilidades inerentes a ele”.

13.7. EU DEVO SER QUEM EU DEVO SER


Pode ter dois sentidos: “Para todos eu sou algo diferente” ou “cada
pessoa tem uma ideia diferente de Mim”, como expressado de maneira exemplar
pelo autor do Shir ha-kavod, um hino bem conhecido das sinagogas, ou para o
pensador teísta que poderia ler tal assertiva como se Deus continuamente realizasse
si mesmo. (Sachs, 2010, p. 246)

A eternidade divina, assim, é caracterizada pela pluralidade e


unicidade de seu ser que é imutável dentro da sua extensão infinita e diversa; dada
a abertura que a própria gramática hebraica oferece. Em outras palavras, a sua
infinitude une a pluralidade em um só ser, eterno, uno e imutável, exatamente pela
extensão infinita própria ao “ser” divino. Essa imutabilidade é traduzida em uma
imagem apresentada no livro de “Isaías”, na qual a divindade é uma “rocha eterna”:
“(...) o Senhor Deus é uma rocha eterna [‫( ”]עולמים צור‬Is. 26:4). A rocha, então,
sugere a rigidez intransigente e imutável daquilo que é eterno ou daquilo que é,
simplesmente. A divindade judaica é, portanto, antes de qualquer coisa, a eternidade
manifestada através de seu nome próprio, o ser.
14. Ser e eternidade na tradiçao
judaico-crista
15. No mundo cristao,

de são Paulo a santo Agostinho, e aos grandes teólogos da Idade Média,


a Igreja cristã tentará concentrar o espírito dos cristãos em um presente que, com a
encarnação do Cristo, ponto central da história, é o início do fim dos tempos.

Nesse sentido, os homens da Idade Média tentaram viver o presente de


forma intemporal, em um instante que seria como um momento de eternidade. Isto é,
o presente ou a presença foi o ponto de inflexão de toda experiência teológica que
seria, portanto, também uma experiência escatológica e, somente por se encontrar
no reino da eternidade, teleológica. São Tomás de Aquino pergunta-se, em sua
décima questão da primeira parte da Summa Theologiæ (1265-1274) sobre a
eternidade da divindade, destacando que sua imutabilidade [immutabilitatem] se
expressa pelo seu nome que é, sempre. “A eternidade, em seu sentido próprio e
verdadeiro, só se encontra em Deus. Pois a eternidade corresponde à imutabilidade
(...)”. O primeiro versículo do primeiro capítulo do primeiro livro da Torah já diz: “No
princípio criou [‫ ;ברא‬bará] Deus [Elohim] os céus e a terra” (Gn. 1:1). O princípio,
comumente interpretado como a gênese do mundo, como já dito, não deve ser
confundido como gênese da divindade, pois a divindade já existia previamente, ela é
quem cria o mundo na qualidade de divindade e não possui vínculo temporal com
este mundo, pois se encontra antes mesmo do princípio. Como lembra, ainda,
Tomás de Aquino: “diz Jerônimo a Dámaso: Só Deus não tem princípio”. O próprio
verbo bará [criar], dentro da Bíblia, é curiosamente reservado apenas a um sujeito: a
divindade. “Em toda a Bíblia, este verbo é reservado à Deus” o verbo bará é aplicado
apenas à divindade, criadora original, pois tudo mais deriva de suas criações
originais Nesses termos, a divindade cria ou gera tudo, ela antecede qualquer
criação, inclusive a si mesmo. A divindade não possuiria princípio e, destituída de
princípio, não teria fim. Ela seria eterna e infinita - portanto, imutável (como já
explicado). Determinado temporal-teleologicamente seria apenas o mundo. As
criações divinas, inicialmente também “eternas”, como que caem no tempo,
degenerando sua natureza eterna, precisamente por se afastarem da divindade (no
ato do pecado original). Assim, a divindade é “incorruptível”, segundo a epístola de
Paulo aos romanos (Rm. 1:23), pois “(...) à medida que algo se afasta da imobilidade
própria do ser e se encontra sujeito às mudanças, ele se afasta da eternidade e está
sujeito ao tempo”. Por conseguinte, o mundo e as coisas do mundo que se
afastaram do “ser” divino adquirem uma determinação temporal e finita, algo
incompatível com a infinitude divina.

Certamente, infinitude é uma noção presente na Bíblia em frases como


eyn heker (insondável) e eyn mispar (incomensurável), os quais são usados para
descrever a grandeza de Deus. Além disso, nós encontramos expressões similares
na literatura rabínica, tais como let sof (sem fim) ou let minyan (sem número).

Do lado judaico da exegese bíblica filosófica, Baruch Spinoza, no século


XVII, em seus Pensamentos Metafísicos, corrobora a tradição metafísica de
compreensão da natureza divina enquanto eternidade e infinitude. O rabino-filósofo
lembra que a natureza temporal do mundo e das coisas está como que inserida na
eternidade da criação enquanto resultado dela. Em outras palavras, tudo o que está
no mundo tem sua temporalidade determinada, ou melhor, contaminada pela
eternidade divina.

(...) não é a existência presente das coisas que é a causa da sua


existência futura, mas somente a imutabilidade de Deus, porque é preciso dizer:
desde o instante que Deus criou as coisas, ele a conserva logo depois; ou seja, ele
continua sua ação de criação (...) essa existência infinita eu chamo Eternidade.
A eternidade, “atributo sob o qual concebemos a existência infinita de
Deus”, seria, portanto, a origem do que se compreende como a medida da existência
finita das coisas: a duração. “O atributo sobre o qual nós concebemos a existência
das coisas criadas conforme elas perseveram em sua existência atual” (Spinoza,
1954, p. 258). A ideia de tempo surge, então, para a leitura que Spinoza faz de El-
Olam, não como uma afeição das coisas, mas somente como “um simples modo de
pensar, ou como (...) um ser de razão; é um modo de pensar que serve à explicação
da duração.”.

O tempo, portanto, enquanto um “ser-de-razão”, não é nada além de um


“modo de pensar que serve para reter, explicar e imaginar mais facilmente as coisas
já compreendidas”. O tempo não surge enquanto determinação do mundo, como se
vê, mas como uma forma que se empresta para a experiência da duração, da
medida-de-tempo que ela, sim, é determinada por Elohim, criador, enquanto El-
Olam, eterno. Efetivamente, no primeiro capítulo do primeiro livro bíblico, bereshit,
quem cria os céus e a terra é a divindade que precede tudo quanto pertence ao
mundo, criado por Ela e por determinação d’Ela. O tempo seria, assim,
simplesmente a ordem divina das coisas que se originam da sua natureza eterna. Os
dias, a noite e o dia, já relatados no “Gênesis” são demarcações de tempo criadas
pela deidade como “tempo para os homens”. Sua natureza, por outro lado, não
pertence ao tempo, mas, ao contrário, é intemporal, eterna.

Segundo o judaísmo, o tempo é criado por Deus. No livro da Gênese


(capítulo primeiro), Deus criou não somente o mundo inteiro, mas igualmente o
tempo e toda sua estrutura: uma semana de sete dias, um mês de dezoito dias e um
ano de doze ou treze meses. Essa concepção do tempo implica dois aspectos: uma
estrutura cronológica ou histórica e uma concepção cíclica (o tempo passa, mas
certas épocas reaparecem).
A concepção de tempo mítico-religiosa no seu sentido cronológico ou
“cíclico” surge, assim, da natureza divina que é, paradoxalmente, intemporal. Pois a
divindade “cria” o tempo, os dias, o mundo, as estações, tudo, a partir de sua
potência eterna, sua eternidade. Para o judaísmo, o sétimo dia, em especial, carrega
sozinho a expressão da eternidade divina. Rebbe Abraham Heschel, no clássico Les
Bâtisseurs du Temps (1957), argumenta a favor da ideia segundo a qual a tradição
judaica nasce a partir da separação do tempo e do espaço, sendo o tempo o âmbito
das coisas sagradas e, por outro lado, o espaço, o lugar das coisas profanas. O
sétimo dia, shabbat, por isso, ergue-se como a catedral judaica por excelência; o
verdadeiro templo do judaísmo. “O judaísmo é uma religião do tempo tendendo à
santificação do tempo (...). O Sabbat é nossa catedral”. O sétimo dia, portanto,
enquanto imagem da eternidade abrevia a experiência criadora primordial e se
demarca como a proximidade imediata da figura divina, pois “a imagem de Deus não
poderia se encontrar senão no tempo que é a mascara da eternidade. Tal como
afirma Heschel, na última frase de seu livro, “a eternidade faz nascer o Dia” . A fonte
do tempo é, com efeito, a eternidade, ela mesma enquanto real potência que
assegura o ato criador. Ensina Rabbi Akiba: “O Sabbat e a eternidade são um, ou
pelo menos da mesma essência - a ideia é antiga” . Ou seja, a estrutura temporal
que a tradição judaica relata, vive como rito e até mesmo anuncia o eterno como
verdade manifesta, finalmente revela a eternidade divina como a verdadeira
arquitetura temporal do mundo, encoberta ou escondida pelo tempo. Logo, a
cronologia segundo a determinação do mundo mítico-religiosa assemelha-se mais a
uma teleologia: a divindade atribuiu ao mundo um sentido que pode ser apreendido
em sua criação, ou em sua natureza escondida, a eternidade. O mundo e tudo que
pertence a ele estariam impregnados de sinais naturais que expressam a eternidade
divina no seu sentido dado ao mundo desde a primeira determinação temporal
situada na gênese da criação. Por outro lado, a forma cíclica ou repetitiva que se
impõe ao mundo pode ser também uma forma linear, pois ambas se filiam sem
prejuízo lógico à eternidade, porque é a eternidade divina que produz sentido. Como
diz Mestre Eckhart,
[e] is uma verdade necessária, que o tempo não pode se distender em
Deus e na alma. Pudesse o tempo distender-se na alma, não haveria alma. Pudesse
Deus ser tocado pelo tempo, então ele não seria Deus.

O retorno cosmológico e natural como facticidade ou manifestação da


eternidade

Compreende-se o que Mircea Eliade chamou de “tempo sagrado”, tempo


das festas, tempo das atualizações do ato criativo inicial e genético como ato
repetitivo, como rito que deseja (re)encontrar o sentido teleológico da criação divina,
pois

O homem religioso conhece dois tipos de tempo: profano e sagrado. Uma


duração evanescente e um “conjunto de eternidades” periodicamente recuperáveis
durante as festas que constituem o calendário sagrado. O tempo litúrgico do
calendário ocorre em círculos fechados: é o tempo cósmico do ano, santificado pelas
obras dos deuses. E porque a mais grandiosa obra divina foi a criação do mundo, a
comemoração da cosmogonia tem um papel importante em tantas religiões. O ano
novo coincide com o primeiro dia da criação. O ano é a dimensão temporal
[cronológica] do cosmos. (...) Cada ano novo reitera a cosmogonia, recria-se o
mundo, e, dessa maneira, cria-se também o tempo, regenera-se o “começar de
novo”. (...) A festa religiosa é a reatualização de um evento primordial, de uma
história sagrada cujos atores são os deuses ou seres semidivinos.

A estrutura teleológica do tempo mítico-religioso é ainda marcadamente


caracterizada pelo retorno do ritmo próprio ao mundo enquanto reinauguração ritual.
Haveria certa necessidade de se voltar ao “início” para reinaugurar o tempo segundo
a natureza eterna do mundo, objetivando, assim, a atualização (tornar ato) da
eternidade divina presente na criação. Trata-se de uma condenação ao “eterno
retorno” que é necessária para a objetificação da natureza eterna divina, pois o
retorno à gênese criativa produz a facticidade ou torna manifesto àquilo que seria
infinito disforme por natureza, a eternidade.

Mircea Eliade (1969), em Le mythe de l’éternel retour, reitera, com


reservas, o argumento de A. J. Wensinck, em “The semitic New Year and the origin
of eschatology” (1923), segundo o qual a origem da concepção ritual-cósmica do
tempo se relaciona diretamente com o desaparecimento e o reaparecimento da
vegetação, determinados pelas estações mais frias e mais quentes do ano,
respectivamente, ou segundo as estações mais chuvosas e as menos chuvosas,
férteis e inférteis. Pois se o mundo foi criado no mês de Nissan (entre março e abril)
ou no mês de tichri (entre setembro e outubro)6 do calendário hebraico, é certo que
ambas as estações são chuvosas e que, de uma maneira ou de outra, expressam
factualmente através da vegetação, por meio de uma objetificação biológica ou
natural, a regeneração periódica da vida, da criação; isto é, a repetição do ato
cosmogônico. Porque, se não há teogonia na tradição judaico-cristã, há cosmogonia.

Um fato adicional contribui para a compreensão da repetição eterna


enquanto objetificação da eternidade segundo padrões biológico-cosmológicos
naturais, um outro nome divino também derivado do misterioso tetragrama. Se de
YHWH se retira hyh [ser] pela exegese do terceiro capítulo da narrativa cosmogônica
da Torah, o professor Thomas Römer (2014) apresenta outro argumento a favor da
facticidade da divindade hebraica em L’invention de Dieu como divindade da chuva;
o que corrobora as relações possíveis entre a reinauguração repetitiva do ano
segundo o arquétipo biológico (tanto do ato reinaugurador, repetitivo, quanto da
própria divindade em si). Poder-se-ia extrair do tetragrama outra raiz, qual seja, hwy
[‫]הוי‬. A raiz hwy possui três significados distintos: desejar, cair, soprar. Mas apenas
dois dos três significados possíveis são verificados linguisticamente empregados na
tradição bíblica, o que leva à hipótese do professor Römer, segundo a qual
o sentido de ‘desejar’ e de ‘cair’ são igualmente atestados em hebraico
bíblico, somente o sentido de ‘soprar’ não é. Talvez, trata-se, então, de uma censura
voluntária em razão do nome divino.

Esta afirmação coloca-se junto ao argumento do biblista Julius


Wellhausen, cujo clássico dos estudos sobre história das religiões Israelitische und
Jüdische Geschichte propõe que YHWH poderia ser caracterizado como divindade
da chuva ou tempestade, radicando-se linguisticamente em hwy, quem sopra o
vento ou faz cair a chuva. Além disso, tal hipótese pode ser averiguada em
inscrições proto-semíticas amoritas (III milênio A.C.), encontradas na cidade de Mari,
contendo o que talvez possa ser entendido como uma lista de nomes próprios
divinos, dentre os quais o de certo Yahwi-Adad, “manifestação de Adad”; Adad que é
notoriamente a divindade das chuvas e tempestades (Cf. Von Soden, 1985). Com
efeito, a ideia de YHWH como deus das chuvas e tempestades segue para Thomas
Römer como explicação satisfatória sobre o caráter manifesto da divindade hebraica.
De fato, não seriam sem sentido próprio as diversas menções ao céu enquanto
expressão factual da divindade.

Com isso, torna-se claro que, sejam quais forem as formas concretas da
divindade manifesta para a cultura hebraica, elas são formas que buscam
exteriorizar o caráter eterno de sua natureza original. Pois a eternidade divina
objetiva-se ou se torna ato quando pretende imitar a origem criativa através dos
rituais de passagem do tempo, sempre por meio da afirmação da repetição, do
retorno; ou seja, nos momentos em que se especializa aquilo que é em si temporal -
a transitoriedade - por meio da objetificação da repetição, então, criando uma forma
finita para algo a princípio infinito. A eternidade, antítese do que é transitório, assim,
paradoxalmente aparece quando o tempo “retorna”, quando a sua transitividade re-
inaugura-se, precisamente quando o mundo re-aparece: a noite torna-se dia; a lua,
sol; as estações frias, quentes; a vegetação morta pelo frio, floresce (Gn. 8:22). São
padrões naturais que não cessam de se repetir e que aparecem aos olhos da
teologia como manifestação da eternidade divina que, no caso hebreu ou proto-
cristão, não é apenas um atributo abstrato, mas factual, explicado pela origem
arcaica de YWHW como hwy, deus das chuvas e tempestades, isto é, como espécie
de deus da fertilidade do mundo natural. Algo que inicialmente é apresentado como
facticidade da origem de YHWH, contamina a tradição que, então, sedimenta-se
literariamente enquanto atributo, epíteto, característica ou mesmo nome próprio da
divindade; o que se averigua, como demonstrado, na literatura mítico-religiosa
judaico-cristã.

16. O modus temporal presente e,


enfim, a forma da eternidade.
O homem religioso que fia sua experiência-no-mundo nesta vertente de
compreensão do tempo como imagem material da eternidade insere-se no tempo
enquanto expressão da eternidade apenas pela repetição, atualização da história do
mundo divino que é, como observado, um ato teleológico, antes de cronológico. A
teleologia, por sua vez, só se realiza pela qualidade eterna do divino como exterior
ao tempo e expressão da sua infinitude, simultaneamente, qualitativamente
entendido como imutável, intransitivo. O tempo-eternidade que a temporalidade
mítico-religiosa primordial evoca, então, é um tempo infinito, disforme,
particularmente em sua relação com o homem, pois ele é, originalmente, eternidade,
ainda que se expresse teologicamente no mundo segundo um desenho circular,
repetitivo, ou mesmo segundo uma linha sobre a qual se imprimem os planos
divinos, da criação ao fim dos tempos, tal como predito pela “revelação” apocalíptica
de João, do lado cristão, ou pelos profetas maiores da antiga Judá, como Daniel e
Isaías, do lado judaico. Igualmente, pode-se enxergar tal teleologia na tradição
messiânica judaica e cristão cuja relação com a escatologia é clara. Nesse sentido,
tal profetismo ou mesmo a existência mesma dos profetas parece ser possível
somente por meio da arquitetura teológica do tempo, segundo a qual o futuro e o
passado possuem formas idênticas e isonômicas, permitindo ao profeta a
perscrutação futuróloga de maneira semelhante à investigação do passado. Por
isso, o profeta surge como personalidade possível, assim como a profecia surge
como fenômeno possível, dentro das estruturas culturais teológicas.
Dessa maneira, o profeta bíblico é partícipe da duração transcendental de
Deus e inserido no mais profundo dos tempos e o devir que tece a trama das vidas
humanas. Porque esse devir já se reveste, em seu sentido mais íntimo, de um
escopo escatológico. (...) Fora do tempo e no tempo, de uma só vez. Há um
julgamento profético sobre o devir humano, que envolve uma escatologia, sem
dúvidas, mas também - e de forma direta - uma história.

É preciso sublinhar, entretanto, que o messianismo e a escatologia não


reproduzem uma expectativa pura sobre o futuro, mas, bem ao contrário, anuncia o
simples inacabamento do destino do mundo que, determinado pela teleologia, é, por
fim, eterno . A interpretação sobre o “fim” da história do mundo é apenas uma
possibilidade de compreensão da escatologia bíblica, sociologicamente e
historicamente localizada, mas que não descaracteriza a ontologia do tempo
teológica como sinônimo do estudo sobre a eternidade. A própria língua hebraica
antiga não possibilita a expectativa puramente futura e seu devido “fim”, pois não há
tempo passado, presente e futuro, mas somente os tempos das ações “acabadas” e
“inacabadas”, gramaticalmente8 e antropologicamente. Portanto, o Messias não
“virá”, mas ele “vem vindo”, seja no “futuro-presente”, conforme Agostinho de Hipona
nos ensina, que será adiante devidamente analisado, ou “hoje” [‫]היום‬, conforme a
parábola do tratado Sanhedrin , do Talmud Bavli, sendo tanto o “futuro-presente”
quando o “hoje” localizados na eternidade, expressão também do inacabamento do
sentido próprio ao messiânico. A facticidade eterna da divindade, assim, é
reafirmada como a matéria criadora e caráter fundamental da criação do mundo, de
acordo com a compreensão teológica mítico-religiosa sobre a ideia de tempo.

O caráter teleológico, desse modo, objetiva-se como o atributo exemplar


do discurso mítico-religioso sobre o tempo, retirando-o do âmbito investigativo da
consciência, tornando qualquer aspecto temporal do mundo e das coisas uma
determinação da sua natureza primeva eterna, infinita, imutável, disforme. Não se
admite qualquer transitividade como atributo da criação, que é intransigente em
relação ao destino do mundo; algo que tanto a escatologia bíblica quanto a
ritualística religiosa prescrevem. Ou seja, para a acepção mítico-religiosa do tempo,
o que é compreendido pela consciência enquanto experiência cronológica ou
temporal, a transitividade - as coisas passadas ou futuras - não é nada mais do que
uma predeterminação de El-Olam. Tanto o futuro (as expectativas), como o passado
(a memória das coisas), são por consequência teleologicamente intemporais,
eternos. O tempo nada mais é do que a imagem móvel (Platão), pois ela se torna e
se esvai, da eternidade divina. E o retorno cosmológico do movimento dos astros,
estações, ou mesmo da própria vida, são provas de sua facticidade.

Agostinho, o bispo de Hipona, em sua ontologia da divindade (Weiss),


1984, nas Confessiones, em fins do século IV de nossa era, sintetiza de modo claro
tal caracterização do tempo através da ideia de eternidade quando atribue ao modus
temporal presente, que substancialmente contém tanto os passados quanto os
futuros, como a manifestação da eternidade sempre presente, pois o presente não
passa nem se torna, ele simplesmente é, sempre, presente.

(...) precedes [Deus] todos os passados com a celsitude da tua eternidade


sempre presente [praecedis omnia praeterita celsitudine semper praesentis
aeternitatis], e superas todos os futuros porque são futuros e, quando vierem, serão
passados; entretanto tu és sempre o mesmo, e os teus anos não morrem. (

Agostinho afirma ser a substância divina a eternidade: “aeternitas ipsa dei


substantia est [a eternidade é a substtancia divina]”. Seguindo a tradição teológica,
em franco diálogo com Platão e Plotino, Agostinho não estuda o tempo por meio da
referência da eternidade, mas dispõe “tempo” e “eternidade” como contrastes, pois o
tempo seria vestigium ou imitatio da eternidade, nunca a tendo como modelo. A
eternidade, ao termo, é a qualidade que delimita o tempo, pois impede o passado e
o futuro de serem ao restringirem-se ao presente ou à eterna presença do presente.
Nesse sentido, o presente, como manifestação factíver do tempo, é “eterno não
meramente no sentido de não ter nem começo nem fim, mas também no sentido de
não ser sucedido nem pelo passado nem pelo futuro, portanto há somente o
presente permanente”. A muito conhecida fórmula agostiniana, “há três tempos, o
presente relativo às coisas passadas, o presente relativo às presentes, e o presente
relativo às futuras” (August. Conf. 9.26), indica precisamente que o modus temporal
presente é a manifestação da transitividade intransigente própria ao que é eterno;
sua forma, portanto. Agostinho demonstra de forma mais precisa o que o Rebbe
Heschel nos diz, que a “imagem de Deus está no tempo”. Na verdade, a imagem da
divindade é o presente, compreendido como a forma da eternidade.

Não por acaso, pode-se, com efeito, alcançar certa previsibilidade dos
planos divinos de maneira profética, pois futuro e passado se confundem na
informalidade do que são o passado e o futuro para a literatura mítico-religiosa. O
que está admitido na imutabilidade própria àquilo que é. A eternidade, portanto, é o
verdadeiro caráter do tempo segundo a significação teo-lógica (ou mesmo lógica),
seja ele futuro, seja ele passado. A eternidade é sempre presente; o modus
temporal presente, portanto, é a forma [‫ ;צלם‬tzelem] ou imagem [εἰκών; eikón] da
eternidade, sua imediata manifestação, o ser do tempo, a fisionomia finita do
eterno.

17. A salvaçao em Cristo

A Bíblia apresenta à humanidade uma oferta de salvação. Ora, se há


uma oferta de salvação é porque a humanidade está perdida.

Antes de entender como o homem é salvo por Deus, é necessário


compreender do que o homem é salvo e como a humanidade se perdeu.
17.1. Adão – A Porta Larga

O homem é salvo por intermédio do evangelho de uma condição


herdada do primeiro Pai da humanidade. Foi Adão quem pecou, e por causa da
ofensa dele, todos os homens pecaram ( Rm 5:19 ).

Através da ofensa de Adão todos os homens tornaram-se pecadores, ou


seja, separados de Deus, alienados da vida que há em Deus, destituídos da glória
de Deus.

Não importa a posição social, a religiosidade, a moral, o comportamento,


a nacionalidade, o cargo, etc., todos os homens gerados segundo a carne e do
sangue de Adão são pecadores. Ora, são pecadores em consequência da
condição herdada de Adão, e não por causa do comportamento ou moral que
adotaram.

A Bíblia compara a condição do pecador como sendo semelhante à


condição de um escravo.

Na antiguidade havia homens ‘livres’ e ‘escravos’. A diferença entre


livres e servos não estava na constituição física, mental ou comportamental do
homem, antes a diferença era produto de uma condição social.

O homem livre era submetido a servidão quando não saldava suas


dívidas, por ser despojo de guerra ou quando gerado de pais escravos!

Assim como os filhos de escravos também eram escravos, todos os


homens tornaram-se servos do pecado por serem filhos de Adão. Adão vendeu-se
ao pecado tornando-se escravo do pecado, e todos os seus descendentes veem
ao mundo em igual condição ao pai (Is 43:27 ).

Não são as ações dos homens que determina se ele é ou não pecador,
antes é da sua origem que decorre a condição de sujeição ao pecado.

Jesus demonstrou que todo aquele que comente pecado é escravo do


pecado, ou seja, por ser escravo do pecado é que o homem peca. A condição de
sujeição ao pecado é que determina a condição do homem: pecador. Na condição
de pecador todas as suas ações são reputadas como sendo pecado.

O apóstolo Paulo demonstra que todos os homens pecaram e


destituídos estão da glória de Deus (Rm 3:23 ). A doutrina anunciada pelo apóstolo
Paulo também foi anunciada pelos profetas, visto que Davi declarou ter sido
formado em iniquidade e concebido em pecado ( Sl 51:5 ).

Davi demonstrou que todos os homens se desviaram e num mesmo


evento (juntamente) se tornaram imundos (Sl 14:3). A queda de Adão foi o único
evento que comprometeu toda a humanidade, e após a queda, todos os homens
tornaram-se abomináveis em suas obras: não há quem faça o bem ( Sl 14:1 ).

A condição do homem é miserável, visto que o melhor dentre os homens


é comparável a um espinho, e o mais justo a uma sebe de espinhos. Desde que
Adão pecou (pereceu), não há entre os filhos dos homens um que seja reto (Mq
7:2 e Mq 7:4).

Desde o ventre materno os homens estão desviados, pois entraram por


um caminho que os conduz a perdição, em decorrência da desobediência,
julgamento e condenação de Adão (Sl 58:3 e Sl 53:2- 3).

Não importa condição social, religiosa, boas ações, comportamento,


moral, sacrifícios, votos, etc., a condição herdada de Adão tornou todos os homens
pecadores, ou seja, homens a serviço do pecado. Pecam por que são pecadores!
Não fazem o bem porque são maus.

17.2. O Evangelho

Por intermédio do evangelho, os homens são informados que Deus é


rico para com todos que o invocam. Não importa a condição social, moral ou
comportamental, Deus é generoso para com todos os homens ( Rm 10:12 ).
O evangelho de Cristo alcança tanto Nicodemos que era mestre, juiz e
religioso, quanto à samaritana, que teve cinco maridos e o que agora tinha, não lhe
pertencia.

Através da fé que se manifestou, o homem reconhece a sua condição


de pecador que decorre da condenação em Adão, e compreende o quanto
necessita de salvação ( Gl 3:23 ; Rm 5:18 ).

Nos dias atuais as pessoas procuram as igrejas em busca de um


milagre, de um emprego, de um casamento, porém, a graça de Deus se revelou
salvadora, ou seja, o evangelho destina-se tão somente a salvar os pecadores da
condenação herdada de Adão.

Caso o homem não aceite a Cristo como Senhor, o seu destino é o


inferno de fogo e enxofre, pois entrou por um porta larga (Adão) que o faz andar
por um caminho largo que conduz à perdição (Mt 7:13 ).

Qualquer que não aceitar a mensagem que concede nova vida não pode
entrar no reino dos céus (Jo 3:3). Basta ao homem ouvir e crer que será salvo da
condição que o leva para um tormento eterno.

A Bíblia demonstra que o evangelho foi anunciado primeiramente a


Abraão. Abraão creu na promessa e isto lhe foi imputado por justiça ( Gl 3:8 ). Do
mesmo modo, todo aquele que crê na mensagem do evangelho, será justificado.

Para ser salvo, basta crer na mensagem do evangelho, ou seja,


conforme diz as Escrituras (Jo 7:38 ).

Crer em Cristo não tem relação com um sentimento de medo, tremor,


terror do inferno, antes decorre da mensagem anunciada, a fé que uma vez foi
dada aos santos (Jd 1:3).

O evangelho é poder de Deus para todo que crê. Por intermédio do


evangelho o homem ganha nova vida, uma vez que Deus concede ao que crê um
novo coração e um novo espírito ( Is 57:15 ).
Observe que o evangelho de Cristo, a fé que foi manifesta aos homens,
também é nomeado de: poder de Deus, fé, esperança, promessa, etc. Observe o
emprego da palavra fé e crer em um mesmo verso:

“Sabemos que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela
fé em Jesus Cristo, também temos crido em Jesus Cristo…” (Gl 2:16 );

“Pois nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé” (Rm 1:17 ).

Nestes versos o apóstolo Paulo faz referência à fé contrastando-a com a


lei, ou seja, ele fez referência à mensagem do evangelho quando utilizou o
substantivo ‘fé’. Em seguida, ele demonstra que, por meio da fé, os cristãos têm
crido, ou seja, no evangelho se descobre que a justiça de Deus se dá por
intermédio da mensagem do evangelho (fé), quando o homem descansa (fé) na
esperança proposta.

17.3. A Salvação

Jesus demonstrou que quem ouve a sua palavra e crê em Deus, tem a
vida eterna, ou seja, não entrará na condenação, pois passou da morte para a vida
( Jo 5:24 ).

A condição do pecador é morte, o mesmo que escravo do pecado,


destituído da glória de Deus, filho da desobediência, filho da ira, etc. Quem crê
deixa a condição de morto e passa a condição de vida. Quem crê em Cristo não é
condenado, mas quem não crê já está condenado, pois permanece sob a
condenação imputada a Adão e todos os seus descendentes (Jo 3:18 ).

A condenação e a ira de Deus veio sobre todos os homens por causa da


ofensa de Adão. Através da ofensa de Adão todos pecaram e morreram, ou seja,
foram separados d’Aquele que é a vida. Qualquer que crê em Cristo possui vida
eterna e não mais será alvo da ira de Deus ( Jo 3:36 ).
A todos que ouvirem a mensagem do evangelho e confessar a Cristo, o
sumo sacerdote da nossa confissão, crendo que Cristo foi ressuscitado dentre os
mortos para a glória de Deus Pai, serão salvos ( Rm 10:9 -10 ).

Serão salvos de que? Da atual condição financeira? Da família


problemática? Dos problemas socioeconômicos? Etc. Não! Jesus alertou que os
que n’Ele crê serão salvos da condenação estabelecida em Adão, porém, não
seriam tirados do mundo e continuariam tendo aflições ( Jo 16:33 ).

Qualquer que crer em um pseudo evangelho que anuncia que Deus


mudará a condição social do homem, ou que haverá uma mudança financeira
radical daquele que segue a Cristo, não será salvo, nem da ira vindoura, nem das
questões relativas a este mundo, pois o evangelho de Deus é segundo as
Escrituras não se constitui programa social.

A Bíblia é clara: “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor


será salvo” (Rm 10:13 ), porém, a promessa de Deus diz da esperança futura, e
não das coisas deste mundo.

Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para
que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna, ou seja, o
evangelho não veio promover riquezas deste mundo (Jo 3:16 ). Por que é
necessário ao homem crer em Cristo? Para justificação de todo que crê (Rm 10:4).

Qual a preocupação do carcereiro que guardava Paulo e Silas?


Aumento de salário? Mudança na sua posição social? Comandar uma empresa?
Ser um magistrado? Não! A pergunta dele é clara: “E, tirando-os para fora, disse:
Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar?” (At 16:30 ).

18. O Novo Nascimento – Cristo: a


Porta Estreita
Quando o pecador crê em Cristo, ao mesmo tempo está recebendo a
Cristo. Crer e receber refere-se ao mesmo evento “Mas, a todos quantos o
receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de serem feitos filhos
de Deus” ( Jo 1:12 ).

Há quem diga que é necessário crer e depois receber, porém, o


apóstolo João demonstra que, crer é o mesmo que receber.

Que mudança será operada por Deus na vida de quem crê?

18.1. Será filho de Deus

“Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos


filhos de Deus, aos que creem no seu nome” (Jo 1:12 ; Gl 3:26 );

18.2. Gerado de Novo

“Segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva
esperança, pela ressurreição dos mortos…” (1Pd 1:3 );

18.3. Nova Criação

“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas


já passaram; eis que tudo se fez novo” (2Co 5:17 );

Nova condição – “Portanto, agora, nenhuma condenação há para os


que estão em Cristo Jesus…” (Rm 8:1);

Nova Natureza – “Pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e


preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina,
havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo” (2Pe
1:4).

Assim como a morte (condenação) veio por um homem, assim também


a salvação, pois assim como todos morrem em Adão, somente em Cristo serão
vivificados (1Co 15:21 –22).
A relação que o apóstolo Paulo estabelece entre Cristo e Adão
demonstra que Adão é a porta larga por onde a humanidade entrou e segue para
perdição. E que Cristo é a porta estreita, por onde todos que entram são salvos.

Em Cristo e em Adão temos o espiritual e o carnal. Os nascidos de Adão


são carnais, e os nascidos do último Adão, espirituais. Primeiro veio o homem
carnal, para depois vir a existência os homens espirituais (1Co 15:46 ).

Adão, o primeiro homem, por ser da terra era terreno, feito por Deus
alma vivente (1Co 15:47 ). Mas Cristo, o último Adão, pertence ao céu.

Ambos, Cristo e Adão, concedem as suas imagens aos seus


descendentes: Do mesmo modo que os homens terrenos têm a imagem de Adão,
os homens espirituais possuem a imagem de Cristo, visto que, assim como o
terreno, assim também são os terrenos, e ‘qual o celestial, tais também os
celestiais’ ( 1Co 15:48 ).

Através do novo nascimento (regeneração) o homem de novo gerado


passa a ser participante da natureza divina ( Jo 1:16 ; Cl 2:10 ). A nova condição
da nova criatura se efetiva ainda neste mundo “Nisto é perfeito o amor para
conosco, para que no dia do juízo tenhamos confiança; porque, qual ele é, somos
nós também neste mundo” (1Jo 4:17 ).

Por ter sido gerado de uma semente incorruptível, que é a palavra de


Deus, os cristãos tem uma viva esperança ( 1Pe 1:23 e 1Pe 1:3 ). Foi de novo
criado na condição de idôneo para participar da herança dos santos (Cl 1:12 ). É
herdeiro de Deus (Gl 4:7), e coerdeiro com Cristo (Rm 8:17 ). É templo e morada
do Espírito ( 1Co 3:16 ), pois tem em si mesmo o penhor da herança ( Ef 1:13 ).

Qualquer que crê em Cristo é testemunha fiel, pois de Deus vem o fruto
dos lábios, que confessam a Cristo (Os 14:8; Hb 13:15 ).

19. Eterna Redençao


Sabemos que Cristo efetuou eterna redenção “Nem por sangue de
bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário,
havendo efetuado uma eterna redenção” ( Hb 9:12 ).

Que, além da salvação os cristãos foram agraciados com todas as


bênçãos espirituais nas regiões celestiais, visto que estão assentados em Cristo (
Ef 1:3 ). Tudo que diz respeito a vida e a piedade foi concedido aos que creem no
seu divino poder (evangelho) ( 2Pe 1:3 ; 1Co 1:18 ).

Além de ser salvo da condenação estabelecida em Adão, não há outro


destino para os que são salvos pela fé em Cristo: são filhos de Deus, ou seja,
predestinados a serem filhos por Adoção, ou seja, condição diferente da dos salvos
em outras dispensações.

As novas criaturas geradas segundo Deus em Cristo foram


predestinadas a serem filhos. A predestinação não diz da velha criatura, antes se
refere ao destino da nova criatura. Como sabemos, aquele que está ‘em Cristo’
nova criatura é, e foi ‘em amor’, ou seja, ‘em Cristo’ que a nova criatura foi
predestinada a ser filho por Adoção, visto que somente por intermédio de Cristo
são conduzidos muitos filhos à glória de Deus “Porque convinha que aquele, para
quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à
glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação deles” ( Hb 2:10 ).

A salvação de Deus se dá por meio da fé em todas as dispensações,


porém, a filiação divina é concedida especificamente a igreja de Cristo, pois toda a
criação geme na expectativa da revelação dos filhos de Deus “Amados, agora
somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas
sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque
assim como é o veremos” ( 1Jo 3:2 ; Rm 8:21 ).

Os que creem em Cristo foram escolhidos para serem santos e


irrepreensíveis, visto que, ‘em Cristo’ foram criados em verdadeira justiça e
santidade (Ef 4:24 ).

Antes da fundação do mundo Deus elegeu os cristãos para serem


santos e irrepreensíveis porque em Cristo seriam criados nesta condição. Aquele
que fez dos cristãos herança em Cristo (Ef 1:11 ), também é o que operou a nova
criação, concedendo poder aos que creem para que fossem feitos filhos de Deus,
santos e irrepreensíveis.

Porém, há um adendo do apóstolo Paulo: “TAMBÉM vos notifico,


irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado; o qual também recebestes, e no
qual também permaneceis. Pelo qual também sois salvos se o retiverdes tal como
vo-lo tenho anunciado; se não é que crestes em vão” ( 1Co 15:2 ).

O apóstolo procura relembrar aos cristãos o evangelho anunciado, o


mesmo que receberam e permaneciam nele. Os cristãos foram salvos por que
creram na mensagem do evangelho, porém, se não o retiver o evangelho tal qual
ele foi anunciado, ou seja, se abraçar um outro evangelho, terão crido em vão (
1Co 15:2 ).

Qualquer que se distanciar da verdade do evangelho sofrerá as


consequências de ter caído da graça: separado está de Cristo “Separados estais
de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído” (Gl 5:4).

Qualquer que está separado de Cristo continua sob condenação, pois a


salvação pertence somente aos que conhecem a Deus, ou antes, são conhecidos
d’Ele.

O que é preciso para obter a salvação? Salvação só em Cristo

19.1. Nome Único - Atos (4:12)

E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu


nenhum outro nome há dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.

19.2. O Único Caminho para Deus – (Jo. 14: 6)

Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem


ao Pai, senão por mim.
19.3. Sem Cristo, Nada Posso Fazer – (Jo. 15: 5).

Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá


muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.

• Deve ter seu sangue - Apo. 1: 5

E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito


dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Àquele que nos amou, e em seu
sangue nos lavou dos nossos pecados.

• Deve acreditar nele - Jo. 8:24

Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados, porque se não
crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados.

• Teve que ir à cruz para alcançar seu objetivo - Heb. 12: 2

Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que
lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à
destra do trono de Deus.

• Morreu por nossos pecados - Isa. 53: 3-8, 12; ROM. 5: 6-9;

Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores,


e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o
rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum.
Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as
nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e
oprimido.

Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por
causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e
pelas suas pisaduras fomos sarados.

Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava


pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos.

Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro
foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores,
assim ele não abriu a sua boca.

Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da sua vida?


Porquanto foi cortado da terra dos viventes; pela transgressão do meu povo ele foi
atingido.

• Nós pecamos - Rom. 3:23

Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus;

Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há


em Cristo Jesus.

• Perecer sem arrependimento - Lc. 13: 3

Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo
perecerer.

• Arrependimento Necessário para o perdão - Atos 2:38

E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em


nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito
Santo.
19.4. Afastando-se do pecado – (1 Tes. 1: 9; 10)

Porque eles mesmos anunciam de nós qual a entrada que tivemos para
convosco, e como dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir o Deus vivo e
verdadeiro,

E esperar dos céus o seu Filho, a quem ressuscitou dentre os mortos, a


saber, Jesus, que nos livra da ira futura.

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