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«Um dia Manuel Bravo foi ao meu escriptorio confiar-me para a Revolução
200$000 réis do negociante Alves de Mattos. No dia immediato procurou-me
o socio d'esse negociante, Alexandre Paes, e, falando com animação desusada,
queixou-se de que Alves de Mattos desdenhara do proposito em que estava de
contribuir para o cofre revolucionario e que, para provar ao socio que tambem
possuia bens de fortuna, subscreveria para o mesmo cofre com 1:000$000 de
réis. Mas, na realidade, só me confiou, deante do socio, a decima parte
d'essa quantia e sahiu do meu escriptorio agitadissimo e monologando cousas
phantasticas. Á noite tive noticia de que enlouquecera. Dias depois succedeu-
me ir ás 10 e 50 á estação do Rocio aguardar, na companhia de João Chagas, a
chegada d'um correligionario que vinha do Porto. Mal o comboio parou, vejo
o Paes sahir alvoroçado d'uma das carruagens e, defrontando-me, desatou a
alludir, em altos gritos, ao supposto donativo de 1:000$000 réis que queria
fazer ao cofre revolucionario. Perto andava um cabo de policia e, segundo me
contaram depois, o infeliz já dentro do comboio havia affirmado em alto e
bom som essa contribuição generosa. A imprudencia do louco podia custar-
nos cara.»
CAPITULO XIV
Nas barbas da policia realisam-se diversas revistas
revolucionarias
O comité de resistencia formado pela Maçonaria reunia, no emtanto, em
casa e no escriptorio do dr. José de Castro, nos Makavencos, no Gremio
Lusitano, no Centro de S. Carlos, em casa do sr. Francisco Grandella, etc. Dos
trabalhos d'esse comité, conta-nos o sr. Simões Raposo o seguinte:
—O maximo, oito.
CAPITULO XV
Fixa-se a data do movimento e approva-se o plano
definitivo
Dias depois, começou a correr a noticia de que os navios de guerra iriam
para Cascaes no começo de outubro e o almirante Candido dos Reis,
conferenciando de novo com o Directorio e o comité militar, ponderou-lhes a
urgencia na fixação d'uma data para a revolta. Por outro lado, o comité de
resistencia, conferenciando egualmente com o Directorio, expôz-lhe
claramente a situação e a impreterivel necessidade de a liquidar. O Directorio
pensou, e muito bem, que, embora estivesse prompto a sanccionar a tentativa
revolucionaria, precisava obter a garantia de que o movimento, a realisar-se,
não se desenrolaria anarchicamente, mas sim com uma disciplina e uma
ordem honrosas para a collectividade democratica. Combinou-se então confiar
essa affirmação decisiva a um arbitro e o Directorio acceitou Candido dos
Reis n'esse posto de enorme responsabilidade moral. É justo accentuar que tal
exigencia do Directorio não representava desconfiança nos trabalhos
do comité de resistencia. Em cada um dos membros d'essa organisação
republicana, como em cada um dos membros do comité, havia a convicção
inabalavel de que o movimento se iniciaria apesar de tudo e com
probabilidades de exito. A mais rudimentar prudencia, porém, aconselhava
que se averiguasse bem fundamente do estado dos elementos revolucionarios
dispostos ao combate e que n'um balanço seguro de forças se baseasse a
resolução definitiva do assumpto. N'outra reunião effectuada no Centro de S.
Carlos, Candido dos Reis proferiu perante o Directorio a sua sentença arbitral.
Essa data, no emtanto, não podia ser outra senão a de 4 de outubro, pois que
n'esse dia de manhã os barcos de guerra tinham ordem de mudar de
fundeadouro. A madrugada de 4, isto é, momentos depois de terminado o
banquete no paço de Belem, offerecido ao marechal Hermes da Fonseca,
estava naturalmente indicada para o começo da insurreição. De resto, muito
embora Candido dos Reis em 30 de setembro houvesse falado do caso pela
fórma vaga que acima registamos, verdade é que, dois dias antes, no espirito
do almirante já tinha perpassado a data de 4, apontando-a até n'uma reunião a
que presidira no dia 28 d'aquelle mez. Essa reunião fôra convocada
especialmente para o comité de resistencia ouvir do comité militar as
indicações que, sobre a revolta, se lhe offerecesse apresentar.
José Carlos da Maia
Examinado por tres dos seus collegas, resolve-se a soffrer uma operação
dolorosa. É o ultimo recurso á sciencia, recurso, aliás, de successo
problematico. Mas, antes, o dr. Bombarda tira do bolso uns papeis e queima
cuidadosamente um d'elles. É a lista da organisação civil da revolta que não
tarda a estalar, o registo das forças populares que dentro em pouco serão
chamadas a collaborar na implantação da Republica. Ainda na vespera, ao
concluir uma reunião de conspiradores, o grande propagandista liberal pedira
esse papel ao sr. Simões Raposo, justificando o pedido d'este modo:
Embarque da familia real na Ericeira