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Habitantes de Pernambuco!
ral, que havia observado por todos os lugares por onde pas
sara- Êle tinha sempre ouvido falar com reverências dos
personagens que ali trabalhavam pela regeneração do Brasil, e
pouco ou nenhum apreço fazia do Conde dos Arcos, que mais
se dedicava aos passatempos feminis do que aos negócios do
estado. A balsa em que embarcou, distinguia-se, como todas
as de Pernambuco, pela form a da vela, o que em tal ocasião
não podia deixar de excitar suspeitas.
O jangadeiro, em vez de entrar em algum pôrto perto de
Itapoam, e desembarcar, ou mesmo no Rio Vermelho, puxou
mais para além, e na tarde de 26 de março, hesitando em
aproximar-se da terra, começou a bordejar, até que à noite
fundeou entre as fortalezas de S. Diogo e Santa Maria. Des
tacado um tripulante da embarcação para ir à terra comprar
mantimentos, foi ter à taverna de um Simplício Manuel da
Costa, cabo de polícia da localidade, e dizendo-lhe o homem
às indagações, feitas do que trazia, que eram côcos, pretextou
vê-los o taverneiro para fazer negócio, mas desconfiadamen-
te, embarcou também; porém ali chegando e vendo o padre, o
reconheceu logo pelos seus sinais característicos já vulgariza
dos, e dando-lhe imediatamente voz de prisão, o conduz à
terra.
No dia seguinte dava a vítima entrada na cadeia da ci
dade, e metido em um cárcere, foi ai constantemente insul
tado pelos portuguêses que emigraram do Recife ao rompi
mento da revolução, e que o iam ver para o reconhecer e
atestarem ao governador que era aquêle mesmo o enviado de
Pernambuco. Os baianos comprometidos na revolução, tre
meram ao saber da prisão do emissário, porém o ilustre pa
triota teve uma espécie de pressentimento, a providente re
solução de lançar ao m ar a correspondência e demais papéis
comprometedores aos baianos, ao ver-se irremissivelmente
perdido.
E os baianos, em vez de acompanhar o movimento de
Pernambuco, e livrar aquêle que por êles se ia sacrificar, aco
vardam-se e lançam-se servilmente aos pés do Conde dos Ar-
4 08 F . A. PEREIRA DA COSTA
Pelo sinal
Pelo sinal
Da Santa Cruz.
Livre-nos Deus.
Nosso Senhor.
Inimigos.
Se entraram no perigo
Os jangadeiros culpados,
E ’ porque foram chamados
Em nome do Padre.
Do Filho. (*)
Cercado de maravilhas,
De conselhos obrigado,
Como se fôra ditado
Do Espírito Santo.
(*) — Roma alegou em sua defesa que havia partido para a Bahia a fim de
promover a liberdade de seu filho o capitão de artilharia José In&cio
de Abreu e Lima, que se achava prêso no forte de S. Pedro desde
começos do ano.
(**) — Que Infâmia!
Só do bestunto de um poetastro baiano podia sair semelhante alel-
vosia; mas acima disso está o Juízo da história, verdadeiro, seguro,
imparcial, como deixamos consignado. Sim; digamos ainda com Mu
niz Tavares: Os baianos viram como morre nm homem livre!
ANAIS PERNAMBUCANOS 411
“In hoc signo vinces. 0 nosso pai que está nos Céus, criou li
vres todos os liomens; o espírito das trevas introduziu gás
infernal na alma dos malvados: êstes ligaram os braços dos
seus irmãos, armaram-se de azorrague, e chamaram-se Prínci
pes absolutos. Desde então a criatura não pôde mais erguer
as mãos ao Firmamento para suplicar ao Criador, a sua face
contristadâ abaixou-se à terra, chorou. O celerado manifes
tou desde o princípio a reprovada sua origem, e abertamente
mostrou que era filho de Satanás: reunindo a hipocrisia à
iniqüidade ocultou debaixo de uma Coroa a marca de Caim
impressa sôbre sua fronte, ungiu com o santo Crisma os seus
cabelos, e disse: Eu venho da parte de Deus. Blasfêmia! O
Senhor falou a Samuel: Esta será a razão do Rei: se apode
rará dos vossos filhos e filhas, dos vossos campos, das vossas
lavouras; e acrescentou: um dia vós gritareis por causa do
vosso rei,e eu não ouvirei porque o tendes eleito. Os escravos
voluntários pesam ao mundo e a Deus. Nós não elegemos
Príncipes, nós o combateremos, o perseguiremos até que en
tre no Inferno, donde o antigo inimigo do gênero humano o
extraiu. Se as Províncias dêste vasto continente vos abando
narem, (o que o Onipotente não permite) será inteira a vos
sa glória, inteira a infâmia dos covardes, que vos abandona
rão, e quando nos inescrutáveis arcanos da Providência fos
se decretado que sucumbíssemos, será esplêndido o vosso se
pulcro, por que últimos cedemos, por que sós ousamos re
sistir .
Cidadãos pernambucanos
Sigamos de Marte a lida;
E ’ triste acabar no ócio,
Morrer pela Pátria é vida.
Suspirada liberdade
Salve, salve, te saudamos,
Querida filha dos céus
Reverentes te adoramos.
Nós pretos, pardos e brancos
Cidadãos somos unidos,
E à pátria oferecemos
Mulheres, filhos queridos.
Nós bravos pernambucanos
Exemplos demos primeiros;
Às armas, corramos todos,
Yalerosos brasileiros.
Venham os tigres do mundo
Venham da Europa leões;
Temos valerosos braços,
Magnânimos corações.
Troveje o raio da guerra,
Corra o sangue pelo chão;
Aos ares voem os membros,
Mortos sim, cativos não.
No Campo da Honra
Patrício formemos,
Que o vil despotismo
Sem sangue vencemos.
ANAIS PERNAMBUCANOS 427
(*) — Devia ser Fr. Miguel do Sacramento Lopes Gama. que em 1817
já tinha regressado da Bahia, em cujo mosteiro professou e rece
beu a sua ordenação, quando foi nomeado lente de retórica do
Seminário de Olinda, Dedicando-se êle ao ministério da prédlca,
para o qual a natureza o enriquecera de todos os dotes, quer na
turais quer intelectuais, era Já, assim, moço ainda um eloqüente
e dlstintisstmo orador. V. o nosso Dicionário Biográfico.
461 F. A. PEREIRA UA COSTA
Bahia é cidade.
Pernambuco é grota,
Viva o Conde d’Arcos
Morra o patriota.
Pelo sinal
Pelo sinal.
Da Santa Cruz
Livre-nos Deus
Nosso Senhor.
Dos nossos.
Inimigos
Em nome
Do Padre.
E do Filho.
E do Espírito.
Santo !
Amen.
Côro
Vamos todos inspirados
Pelo Marte Tutelar,
Resgatar um povo aflito,
O melhor dos Reis vingar.
ANAIS PERNAMBUCANOS 50 3
Valorosos Lusitanos
A vitória por vós chama,
A trombeta já da fam a
Vossos nomes vai cantar.
II
III
rv
A vós deu Joane o Justo
Porque o nosso valor presa.
Esta nobre, ilnstre emprêsa
Que há de o Trono sustentar.
Lá no templo da Memória
Juntareis mais estandartes.
Aos que já em tantas partes
Vosso zêlo fêz ganhar.
5 04 F. A. PEREIRA DA COSTA
VI
VII
ferida quantia, o que foi reiterada ainda, por uma outra or
dem régia expedida em 12 de setembro de 1699.
Em 1701 resolveu o governo da metrópole lançar mão
de um dos hospitais existentes, o da Santa Casa de Miseri
córdia de Olinda, ou de X .S. do Paraíso, no Recife, para o
tratamento dos sojdados da guarnição da praça, confiando a
sua direção aos religiosos de S. João de Deus; e em 1703 co
municou ao governador por carta de 25 de agosto, que já se
havia ordenado a partida dos ditos religiosos, e que empregas
se os meios necessários para obter a cessão de qualquer um
daqueles hospitais para o indicado fim .
Efelivamcnte, chegaram os referidos padres, enviados pe
lo govêrno da metrópole, — para assistirem aos soldados que
baixassem ao hospital da Misericórdia de Olinda, e ao do Re
cife; -— mas opondo-se a isto as administrações de ambos os
estabelecimentos, e sendo o fato levado ao conhecimento do
soberano pelo governador Francisco de Castro Morais, baixou
logo uma carta régia em 7 de agosto de 1701, ordenando que
se montasse um hospital em Olinda para o curativo dos solda
dos, comprando-se algum prédio que se prestasse a êsse fim,
e que em falta disso se escolhesse um local conveniente para a
construção de um edifício próprio, mandando o governador le
vantar a planta e fazer o competente orçamento pelo engenheiro
da capitania, a fim de se marcar a consignação da verba ne
cessária; e caso não fôsse possível resolver-se imediatamente
a construção do hospital, fossem os soldados curados cm seus
quartéis, para o que se lançasse mão dos 1258000que sedavam
por mês ao hospital da Misericórdia de Olinda, paia igual
fim.
Refere a mencionada carta, que o meslre-dc-campo se
queixa do mau trato que recebiam os soldados no hospital da
Misericórdia, e que pedira remédio pronto à sua queixa.
Por êsse tempo, além da referida consignação mensal, re
cebia mais a Santa Casa o sôldo das praças em tratamento du
rante o tempo em que permaneciam no hospital.
Entretanto, nenhuma daquelas medidas teve execução,
uma vez que por carta régia de 27 de agosto de 1706.foi man-
516 F . A. PEREIRA DA COSTA
(*) —■Este artigo é muito parecido com um outro, sobre o mesmo as
sunto, que figura no Dicionário corográfico. histórico e estatística de Per
nambuco; e como assim se possa julgar que nós serviimente o copiamos e o
damos agora como da nossa lavra, cumpre-nos declarar que o artigo sôbre o
Poço da Panela, que figura naquela obra, nas partes referentes à sua histó
ria e outras particularidades, com insignificantes alterações, é testuelmente
extraido de um folheto nosso sob o título: Notícia histórico-topográfica da
povoação do Poço da Panela, distribuída em a nlte de 7 de fevereiro de 1897
pela comissão de solteiras promotora da nover-a e festividade do ri'e. Recife,
Oficinas de obras de O Estado, 1897 O T. II do referido Dicionário em que
figura o artigo em questão, foi impresso em 1910.
52 6 F . A. PEREIRA DA COSTA