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Juliana Polo

JULIANA POLO LÍNGUA PORTUGUESA

SURREXIT. NON EST HIC


Gomes Leal

Ainda é alta manhã. Eis Madalena


vem ao esquife do Cristo para orar.
Mas não acha o Rabi, e então, de pena,
dá largas a um fúnebre chorar.

Eis dois homens de veste resplendente


lhe dizem: «Quem buscais?» — «Busco a Rabi!
— Cristo, filho do Deus, Uno e vivente,
ressuscitou, mulher! Não está aqui!»

Madalena olha atrás. Eis vê surgido


Jesus, aos pés caídos os lençóis,
tendo um lume no olhar desconhecido,
tendo na fronte a radiação dos sóis.

Era o Cristo do esquife levantado!


Era o Rei dos humildes, dos escravos,
trespassadas as mãos inda dos cravos,
aberta a chaga do direito lado!

E' Cristo, embalsamado de aloés


trazendo ainda as chagas lancinantes!
Madalena, com prantos triunfantes,
de gozo inunda seus chagados pés.

«Ide, diz-lhe o Rabi—bradai aos meus


que me viste do esquife ressurgido,
que vou reinar nos estrelados céus,
que sou o Rei dos Mortos, não vencido!

Dize-lhe que escutaste c Cristo forte,


de quem o pó dos pés são sóis eternos,
que lutei, corpo a corpo, com a Morte,
e vou julgar as Trevas e os Infernos!

A espalhar pelos Doze a boa nova


Madalena correu, cheia de fé.
Todos creram, chorando. Eis que Tomé
bradou que só creria vendo a prova.

Mas então, quando a nova, em voz soturna,


se espalhou de Sião até Belém,
soprando a sua lâmpada noturna,
— na treva se escondeu Jerusalém.

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