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INDEX BOOKS GROUPS 17/6/2015

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B. F. SKINNER

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BOOKS
GROUPS

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r e ito r Targino de Araújo Filho


v ic e -r e ito r Adilson J. A. de Oliveira
d ire to r d a e d u fsc a r Oswaldo Mário Serra Truzzi

EdUFSCar - Editora da Universidade Federal de São Carlos

c o n s e lh o e d it o r ia l Ana Claudia Lessinger


José Eduardo dos Santos
Marco Giulietti
Nivaldo Nale
Oswaldo Mário Serra Truzzi (Presidente)
Roseli Rodrigues de Mello

INDEX
Rubismar Stolf
Sergio Pripas
Vanice Maria Oliveira Sargentini

BOOKS
GROUPS
U N IV E R S ID A D E F E D E R A L DE SÂ O C A R L O S
Editora da Universidade Federal de Sáo Carlos
Via Washington Luís, km 235
135 6 5 -9 0 5 - Sào Carlos, SP, Brasil
Telefax(16) 3 3 5 1 - 8 1 3 7
www.e ditora.ufscar. br
edufscar@ufscar.br
Twitter: @ EdU FSCar
Facebook: facebook.com/editora.edufscar

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Marc N. Richelle
Universidade de L iè g e - R e a l Academia da Bélgica

B. F. SKINNER
UMA PERSPECTIVA EUROPEIA

INDEX
BOOKS
Tradução
Marina Souto Lopes Bezerra de Castro

GROUPS

EdUFSCar
São Carlos, 2014

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All Rights Reserved


Authorised translation from the English language edition published by Psychology Press, a member o f the Taylor & brands Group

Capa
Marina Arruda

Projeto gráfico
Vítor Massola Gonzales Lopes

Preparação e revisão de texto


Marcelo Dias Saes Peres
Audrey Ludmilla do Nascimento Mi asso
Daniela Silva Guanais Costa

Editoração eletrônica
Guilherme José Garbuío Martinez

INDEX
R528b
BOOKS
Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitária da UFSCar

R ic h e ll e , Marc N.
B.F . Skinner: uma perspectiva europeia / Marc N.
R i c h e l i e ; tra d u çã o : M arina S . L. B. de C a s tro . -- São
C a r lo s : EdUFSCar, 2014 .
295 p.
GROUPS
ISBN - 978-85-7600-355-7

1 . S k in n e r, B. F. (Burrhus F r e d e r ic ) , 1904 - 1990 . 2 .


A n á lis e do comportamento. 3 . Behaviorism o
( P s ic o lo g ia ) . I . T ítu lo .

CDD - 150.1943 (20a)


CDU - 159.9

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônicos ou mecânicos, incluindo fotocópia e
gravação) ou arquivada em qualquer sistema de banco de dados sem permissão escrita do
titular do direito autoral.

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SUMÁRIO

A presentação 9

P refácio 11

INDEX
PARTE I
QUESTÕES CONTROVERSAS E CONTRIBUIÇÕES INQUESTIONÁVEIS 17

1 U ma questão de controvérsia 19
Um cientista controverso 19

A obra de Skinner: uma visão geral 25

Behaviorismo: um pequeno lembrete 26

2 E sboço de um retrato 31

BOOKS
Referências biográficas 31

Uma preocupação constante com os assuntos humanos 35

Um caso de depreciação difamatória: a história da “caixa de bebê" 38

A humanidade tem um futuro? 40

3 A caixa de Skinner: um novo microscópio para a psicologia 43


Uma grande contribuição para as técnicas de laboratório 43

GROUPS
A câmara do comportamento operante 44

Contingências e escalas 46

Um modelo estím ulo-resposta sem nenhum estímulo 47

Discriminação: do estímulo externo para os estados internos 49

Adição experimental à droga 53

M ais fundo no mundo interno animal 54

Relógios internos 57

PARTE II
SKINNER E A TRADIÇÃO EUROPEIA: PAVLOV, FREUD, LORENZ E PIAGET 61

4 A HERANÇA AMBÍGUA DE PâVLOV 63


Uma infeliz e equivocada nomeação 63

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Algumas especulações históricas 64

Estereotipia operante 66

Variabilidade 68

Um ou dois tipos de condicionamento: algumas advertências adicionais 72

5 Freud nos textos de Skjnner 75


Figuras inesperadas 75

Um tributo ao determinismo 76

Reformulando m ecanismos freudianos 79

Aparato mental 81

Cognitivismo, mente e aparato mental 82

Cognição ou libido 84

6 SKINNER E A TRADIÇÃO ETOLÓG1CA 87

INDEX
Sobre ratos e homens 87

Etologia: um outro olhar sobre os animais 88

0 mau comportamento dos organism os 90

Skinner e a etologia 93

7 P iaget e S kinner: construtivismo e behaviorismo 97


Ignorância recíproca 97

Convergências 100

BOOKS
E no com eço era a ação! 103

A analogia evolucionária I 106

PARTE III
PEDRAS DE TOQUE DO BEHAVIORISMO RADICAL: CÉREBRO,
COGNIÇÃO, LINGUAGEM E CRIATIVIDADE 109

8 S kinner e a biologia 111

GROUPS
Quatro maus sinais no exame da biologia?

Devem os dispensar o cérebro ou a mente, ou am bos?

A analogia evolucionária II 119


112
111

9 Do MENTAUSMO AO COGNITIVISMO 129


Vida mental e behaviorismo 129

Cognitivismos: uma tentativa de classificação quádrupla 132

Skinner contra os cognitivismos: eu ac u so ... 137

10 A QUESTÃO DA LINGUAGEM 145


Interesse inicial em linguagem 145

Interferência de Chomsky 146

O silêncio de Skinner 148

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Análise funcional versus análise formal do comportamento verbal 150

Ensaio de Skinner em interpretação 153

A questão da competência versus a questão da performance 154

A aquisição da linguagem na infância: a pedra de toque 156

Por que o Verbal behavior ainda é ignorado? 163

1 1 P rocessos do pensamento e criatividade 16 5


Uma abordagem comportamental da cognição 165

O stütus do pensamento 167

O operante como resolução de problemas 169

Comportamento governado por regras 170

Tendências atuais na resolução de problemas 172

Comportamento criativo 176

PARTE IV

INDEX
O INTERESSE PELA VIDA REAL: UMA AVENTURA EM DIREÇÃO À
UTOPIA

12 S aúde mental
Psicologia científica no contexto clínico

Uma abordagem pragmática dos sintom as


181

18 3
183

185

BOOKS
Tratamento comportamental das desordens biologicamente determinadas 187

Técnicas operantes na terapia 188

Objeções 189

Psicoterapia e controles sociais 192

Abordagem experimental das terapias 193

1 3 E ducação 19 5
Um precursor 195

Máquinas de ensino

Objeções e obstáculos GROUPS


Computadores: “máquinas de ensino ideais”
196

200

201

O sistem a escolar questionado 202

Diferenças interindividuais, diversidade e atividades criativas 206

14 S ociedade e utopia 2 11
Uma aventura pela filosofia social 211

W aldenTwo 213

Trabalho: 24 horas por semana e uma escala flexível 216

Arte e ciência em Walden Two 219

Educação versus seleção 221

Liberação da m ulher 224

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A democracia é democracia? 231

1 5 L iberdade, finalmente. . . 235


Psicologia: a ciência ambivalente 235

Um conceito flexível 237

Liberdade para ganhar... ou perder 237

A questão da liberdade e o futuro do mundo 239

A luta pela liberdade: uma história natural e cultural 240

Mérito e dignidade 242

Liberdade contra si mesma 243

Mentalism o como uma ferramenta de poder 246

Sobrevivência com o um valor último 248

Proteção do indivíduo 250

INDEX
A dim ensão temporal 252

Contracontrole 253

Política experimental 256

C onclusão 261

Índice remissivo 265

Índice remissivo por autor 279

BOOKS
R eferências bibliográficas 287

GROUPS

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APRESENTAÇÃO

Grande parte deste livro foi escrito durante o período sabático passado nas
Universidades espanholas, com o apoio dos Fundos Nacionais da Pesquisa C ientífi­
ca da Bélgica. Sou muito grato a eles e ao Reitor da Universidade de Liège, Professor
A rthur Bodson, por me proporcionarem uma pausa frutífera nas minhas atividades

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acadêmicas.
Sou especialmente grato às várias universidades que me acolheram e aos espa­
nhóis, mas a sua contribuição para minha reflexão merece uma menção especial em
relação ao conteúdo e é, portanto, retomada ao final do Prefácio.
Parte do material incluído foi adaptado de um livro em francês publicado an­
teriormente por Pierre Mardaga, Editor em Bruxelas-Liège, sob o título de Skinner
ou lepéril behavioriste (1976). Agradeço a Pierre Mardaga, que assumiu o controle

BOOKS
da editora fundada por outro amigo, Charles Dessart, pela sua permissão, e também
por ter contribuído para a divulgação dos textos de Skinner em francês.
C itei amplamente os textos do próprio Skinner, porque essa é a melhor forma
de proporcionar ao leitor evidência objetiva de seu pensamento, que foi tão fre­
quentemente mal interpretado. Citações de Skinner de 1938, 1957, 1968, 1972 são
reproduzidas com permissão da B. F. Skinner Foundation (Senhora Ju lie Vargas,
Presidente), a quem agradeço a cortesia. Citações de Skinner, 1953, são reproduzidas

GROUPS
com a gentil autorização da M acM ilían Publishing C o., e citações de Skinner, 1948,
têm a permissão da mesma editora.
Sou grato a Lawrence Erlbaum Associates, Inglaterra, por acolher mais um autor
continental, com todas as suas implicações para o trabalho editorial: apesar dos meus
esforços, o texto não pode, de fato, ser comparado com 0 padrão dos falantes ingleses
nativos. Sou imensamente grato à editora e aos inúmeros juizes anônimos por sua va­
liosa ajuda para melhorar meu estilo. Restam imperfeições, claro, as minhas próprias.
Por fim, os critérios estabelecidos pelas modernas editoras não poderiam ter
sido atingidos sem o auxílio de m inha secretária, senhorita Andrée Houyoux. Agra­
deço-lhe a paciência e hábil exploração do editor de texto.

M . N . R.
Outubro, 1992.

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BOOKS
GROUPS

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PREFÁCIO

Q uando este livro estava sendo escrito, no verão de 1990, Burrhus Frederic
Skinner morreu em Cam brigde, Massachusetts, no sábado, dia 18 de agosto, aos 86
anos de idade. Ele havia sido inform ado, vários meses antes, que sofria de leucemia.
C ontinuou a trabalhar serenamente em seus manuscritos até o dia anterior ao seu

INDEX
falecimento.
A carreira de Skinner com o psicólogo durou quase 60 anos. Ele exerceu ex­
cepcional influência e foi classificado entre os poucos psicólogos mais proeminen­
tes do século X X . Também foi, certamente, o mais controverso. Foi atacado por
lados opostos da psicologia, da ciência como um todo e das ideologias políticas.
Foi frequentemente descrito com o o últim o representante da escola behaviorista,
e, enquanto tal, considerado com o um tipo de fóssil ou, nos últimos 25 anos de

BOOKS
sua vida, com o o obsoleto e único exemplar sobrevivente de uma espécie já extinta,
agora substituída pelo novo filo conhecido com o cognitivismo. Foi considerado o
responsável por manter a psicologia, por mais de 50 anos, na “ longa e enfadonha
noite do behaviorismo” , com o apontou um famoso filósofo.1
Reproduzindo caracterizações frequentemente ouvidas nos círculos científicos,
os obituários de Skinner, mais uma vez, o retratam como um experimentador extra­
vagante que poderia gastar o seu tempo ensinando pombos a jogar pingue-pongue

GROUPS
ou como um perigoso cientista ditador que teria controlado a sociedade por meio
de coerção e punição, se tivesse tido uma chance de implementar práticas políticas.
Felizmente, não lhe foi oferecida tal oportunidade, e novos rumos foram abertos na
psicologia a tempo de neutralizar o dragão.
Por que, em tal contexto, um livro sobre Skinner? Podem o homem e sua obra
serem objeto de qualquer interesse para quem não é historiador da psicologia? Pode
ser suficiente responder: para se ter a verdade, pois quem quer que contribua para
o pensamento científico e filosófico merece uma leitura honesta de suas palavras, e,
se foi amplamente mal interpretado, as razões devem ser analisadas e uma avaliação
mais correta deve, por fim, ser alcançada. A questão, entretanto, não é apenas fazer
justiça a um autor injustamente condenado. Ela tem relevância para os atuais debates

i Bunge (1980).

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na psicologia. Ao descobrir ou redescobrir Skinner e as visões de Skinner como elas


realmente são, os psicólogos poderiam também colocar suas próprias reflexões atuais
na perspectiva adequada: isto é, considerar corretamente as raízes da pesquisa atual e,
ao teorizar o passado, identificar os problemas que permaneceram sem solução ape­
sar da mudança de paradigma - como se pensa frequentemente a respeito da escola
cognitivista — e perceber aqueles aspectos seminais da obra de Skinner que abrem
novos caminhos para a pesquisa ou que convergem com as abordagens contempo­
râneas mais promissoras. Por alguma razão, os psicólogos tendem a pensar a história
de sua ciência como uma sequência de revoluções ao invés de evolução: eles gostam de
enfatizar rupturas ao invés de construir sobre continuidades. Parecem preocupados
em vincular seu nome à teoria que substituirá visões anteriores, e, com tal fim, se
entregam à estratégia de construir um espantalho. Skinner foi o alvo preferido de
tal estratégia. Porém, ao interpretar equivocadamente suas ideias, seus oponentes

INDEX
perderam a maior parte de suas contribuições genuínas para a psicologia e ignoraram
completamente o fato de que, em muitas áreas da teoria e da prática, ele foi de fato
um precursor.
Este livro é sobre Skinner, não sobre skinnerianos. A diferença é importante,
considerando que a maior parte das controvérsias em torno de Skinner envolvem
uma confusão permanente entre os dois. Enquanto uma escola de pensamento, en­
quanto um movim ento organizado, frequentemente identificado como os “analistas

BOOKS
comportamentais” , os discípulos de Skinner, ou alguns deles, tiveram uma história
bem diferente na psicologia americana. Entre outras coisas, eles se isolaram do resto
da psicologia científica ao criarem suas próprias revistas e sociedades, ao se fecharem
ao diálogo mais am plo com outras abordagens e ao desenvolverem uma impressão
de ortodoxia, que nunca provou ser útil no progresso de uma ciência ou na disse­
minação de uma teoria.2 Algum as delas enfocaram a implementação da filosofia
social de Skinner, numa mistura de idealismo ingênuo com m ilitantismo sectário.

GROUPS
As ligações entre Skinner e esses movimentos são complexas, mas está claro que ele
não ratificaria tudo o que tem sido feito ou dito em referência ao seu nome. De
qualquer forma, este livro não pretende dar uma explicação histórica ao movimento
behaviorista e suas ramificações.3
Tam bém não é sua intenção dar uma apresentação histórica da vida e do tra­
balho de Skinner. D eixo a outras pessoas a honra de vincular seu nome ao de Skin­
ner com o seu biógrafo reconhecido, com o o de Ernest Jones é vinculado a Freud.
Em bora eu deva colocar algumas das ideias de Skinner em seu contexto histórico

2 O próprio Skinner escava consciente do auto isola mento dos analistas comportam entais, que ele relacionava à dificuldade de
ter arcigos sobre assuntos particulares aceitos em revistas científicas no começo dos anos 1950 e de encontrar lugar para se reuni­
rem, pois não havia oficialmente nenhum espaço ou tempo distribuído nas reuniões científicas (ver S k i n n e r , 1989b. capítulo 11),
Procror ôc Weeks (1990) argumentaram contra essa interpretação. Ver minha revisão do livro deles ( R ic h e lle . 1991}.
3 Para o leitor interessado, várias fontes estão disponíveis, incluindo Schorr (1984).

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adequado, de modo a considerar sua relevância no debate científico à medida que


ele progride no tempo, a organização deste livro não obedece ao curso histórico. E,
ao contrário, uma seleção de temas, que me parecem mais ilustrativos da contribui­
ção de Skinner, ou especialmente mal interpretados, apesar de fundamentais em
sua teoria, ou amplamente negligenciados, pois outros pontos menos importantes
foram, por alguma razão, mais enfatizados.
A seleção é admitidamente pessoal. E uma seleção feita por um psicólogo eu­
ropeu, com seu passado idiossincrático. Talvez europeu não seja uma classificação
suficiente: continental e mesmo falante do francês deveriam ser adicionados. Sem
lançar mão de notas biográficas, dou aos leitores alguma informação para que pos­
sam entender melhor minha escolha. Após me graduar em Filosofia e Letras em
meu país de origem, graduei-me em Psicologia na Universidade de Genebra, cujo
Instituto de Psicologia era muito legitimamente considerado, naquele tem po, como

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um dos melhores do continente. Era dom inado pela figura de Piaget, embora outros
nomes, como Rey, ou Lambercier, ou Inhelder, mereçam menção. Q uando tomei
contato com Skinner e sua obra, para ser preciso, em Harvard, em 1958-59, eu inevi­
tavelmente o li através das lentes de m inha própria educação intelectual e fui levado
naturalmente a confrontá-lo com grande parte dos trabalhos na tradição europeia.
Isso me levou a localizar limitações maiores nas visões de Skinner — limitações que
ele poderia com partilhar com a tradição psicológica norte-americana como um todo

BOOKS
- , apontar complementaridades ao invés de contradições ou oposições, de modo a
revelar convergências insuspeitas, trazer para uma perspectiva muito diferente al­
guns dos debates ocasionalmente violentos que ocorreram em torno das concepções
de Skinner, por exemplo, em relação ao com portam ento verbal (no debate iniciado
com Chom sky4) ou à etologia (em um intercâmbio mais ríspido envolvendo um dos
colaboradores mais próximos de Skinner, Herrnstein5). D evo dar um amplo espaço,
nas páginas seguintes, ao exercício da confrontação e integração de duas tradições

GROUPS
psicológicas diferentes. M eu desejo é que o leitor americano ache a abordagem in­
formativa e estimulante. E um sentimento com um entre os psicólogos europeus
que a psicologia americana (com exceção de poucos historiadores profissionais da
área), apesar de seu considerável desenvolvimento, ou talvez por causa dele, vem
ignorando a maior parte das principais contribuições europeias à nossa ciência no
século X X , exceto por aquela parte que se desenvolveu do outro lado do Atlântico

4 Ver capítulo 10.


% Ver capitulo 6.

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por causa da imigração de alguns europeus,6 ou aquela parte que foi transferida
devido a traduções, frequentemente muito atrasadas.7
C om o o modo com o se leem os textos do autor, sejam eles científicos ou literá­
rios, pode obviamente ser influenciado pelo fato de ser pessoalmente familiarizado
com ele, eu admito que m inha própria leitura de Skinner pôde ser enviesada por
meus encontros pessoais com ele. Foi um privilégio para mim me aproximar dele,
inicialmente, quando eu era um estudante de graduação em Harvard, e, depois,
enquanto seu colega, especialmente na ocasião da primeira tradução de alguns de
seus livros para o francês, que eu implementei com Graulich nos anos 196o.8
Em bora o que conte essencialmente, para todos os propósitos científicos, sejam
as ideias e as contribuições empíricas com o expressas nos trabalhos escritos, não
pude deixar de me impressionar com os ataques ad hominem endereçados a Fred
Skinner. Para aqueles que tiveram contato com ele, é difícil entender com o alguns

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de seus oponentes científicos puderam apelar para acusações de autoritarismo. Em
minha longa experiência com o estudante, na qual tive a felicidade de ser aluno de
muitas pessoas importantes, incluindo homens que modelaram a psicologia científi­
ca do século X X , nomeadamente Piaget e Skinner, posso testemunhar que o ultimo
é, de longe, o professor menos diretivo que já conheci. Senti ser apropriado insistir
naquele detalhe pessoal quando dei entrevista a uma repórter espanhola um dia
após a morte de Skinner ter sido anunciada, enquanto eu estava em San Lorenzo dei

BOOKS
E s c o ria i.E la entendeu a mensagem e o título de sua matéria se referia ao “professor
menos autoritário" que Richelle já teve.m Ao menos aquele jornal espanhol não
transmitiu, naquela ocasião, a imagem com um ente distorcida de Skinner.
Sou especialmente grato à repórter por aquilo: pareceu-me premonitório
de um contexto favorável que a Espanha me forneceria para completar este livro
durante o inverno de 1990-91. A predição foi confirmada além da expectativa, e
reconheço profundam ente a m inha dívida com os psicólogos espanhóis que me

GROUPS
proporcionaram o ambiente ideal para uma escrita eficiente e tranquila, assim como

6 Por exemplo, as contribuições dos gesraltistas exilados. como M ax Werrheimer, antes de deixarem a Europa, permaneciam
amplam ente desconhecidas nos EU A .
7 O trabalho de Piaget, iniciado no começo dos anos 192.0, era muito pouco conhecido nos E U A até que alguns de seus livros
fossem traduzidos. O trabalho de Vygotsky, interrom pido por sua morte prematura em 1934, teve atenção graças à iniciativa de
J. Bruner em 1962. Outros psicólogos proeminentes, com o [’ Janet e H . Wallon, para mencionar apenas dois exemplos na área
francesa, foram completam ente ignorados até agora, apesar da importância de seu trabalho, provavelmente se equiparando ao de
Freud e ao de Vygotsky, respectivamente.
8 Skinner (1969a), L.a révolution scientifique de l ’enseignement, e Skinner (1971b.!, L ’a nalyse expérimentale du comportement,
traduções de The technology o f Uachirtg c de Contingences ofTeinjorcemenl, respectivamente.
9 A ocasião era um curso de verão, organizado pela Universidade Com plurense de M adri, sobre o tema “ I reud e após Freud” ,
no qual me cabia dar uma conferência sobre Freud e a psicologia científica, principalmente dedicada a Freud nos textos de Skin­
ner. Essa coincidência (Skinner teria observado: ele era fascinado por coincidências) me colocou em contato com a imprensa de
M adri, que buscava informação em primeira mão sobre o últim o cientista americano. Uma versão revisada da conversa durante
aquela sessão foi utilizada com o parte do capítulo 4.
10 El Pats, 1 1 de agosto de 1990.

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interações estimulantes, por ocasião das conferências, seminários e simpósios sobre


os vários aspectos do trabalho de Skinner e sobre outros temas." Um a lista de nomes
seria muito longa e me exporia a omissões. A seguinte lista de universidades anfi­
triãs permitirá a cada um destes colegas e amigos entender a mensagem: Granada e
seu Jaen campus, M adri Com plutense, M adri Autônom a, M adri U n e d , Barcelona
Central, Barcelona Autônom a e seu campus de Gerona, Valência, Sevilha, Oviedo,
Salamanca, Santiago de Com postela, e, fora da Espanha, mas na península, Lisboa e
Coim bra. As universidades de Granada e de M adri Com plutense merecem menção
especial por terem proporcionado todas as facilidades desejáveis por um período de
quatro meses cada.

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BOOKS
GROUPS

i[ Provavelmente deve ter havido mais artigos publicados e mais reuniões sobre o trabalho de Skinner organizadas na Espanha,
no ano seguinte a sua morte, que em qualquer outro país europeu, C o m o exemplo, ver Roales-Nieto, Luciano Soriano á í Pérr?.
Alvarez (1992). Para uma abordagem europeia da análise experimental do com portam ento e do trabalho de Skinner, ver Lo we et
al. {1985), Blackm an & Lejeune (1990) e Richelle (1985).

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PARTE I

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Q uestões controversas e
CONTRIBUIÇÕES INQUESTIONÁVEIS

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UMA QUESTÃO DE CONTROVÉRSIA

U m c ie n t is t a c o n t r o v e r so

Burrhus Frederic Skinner nasceu em 20 de março de 1904 em Susquehana,


uma pequena cidade da Pensilvânia. M orreu em 18 de agosto de 1990 em Cam brid-

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ge, Massachusetts. Ele permanecerá, sem dúvida, entre a dúzia de maiores mentes
que modelaram a psicologia do século X X , ao lado de seus contemporâneos Piaget
e Lorenz, ou de Pavlov, Thorndike e W atson, seus predecessores. Ele foi uma figura
de liderança de uma escola de pensamento, o behaviorismo, que dom inou a cena por
mais de meio século. Seu nome é associado ao procedimento delineado para estudar
o com portam ento de animais em laboratório, frequentemente chamado de “caixa
de Skinner” , mas mais adequadamente nomeado “câmara de condicionam ento” ; a

BOOKS
um conceito, condicionamento operante, que é agora parte das categorias familiares
na mente dos psicólogos; a um desafio teórico, direcionado à explicação do com por­
tamento, seja ele em animais ou hum anos, em termos de controle pelas consequências\
e a uma filosofia social, fundam entada, ao menos na visão do próprio Skinner, em
evidências científicas que foram amplam ente ignoradas, e ainda o são atualmente,
para azar da humanidade.
Essas várias contribuições para a ciência da psicologia e para seus subprodutos

GROUPS
filosóficos serão descritas e discutidas em detalhe ao longo deste livro. Poderia pa­
recer, à primeira vista, ser possível introduzir o trabalho de Skinner como se faria
com qualquer outro grande psicólogo, ou com qualquer outro grande cientista:
geralmente se descreveria a abordagem metodológica e uma descoberta empírica
ou conceituai, ou ambas — considerando que são raros os casos em que fatos são
descobertos independentemente de seus conceitos se avaliaria a teoria e, ao final,
se discutiriam as tentativas de derivar apropriadamente alguma visão filosófica geral.
Para permanecer dentro dos limites da psicologia, todos os quatro níveis de ativida­
de podem ser encontrados no extenso e impressionante trabalho de Pavlov, Piaget
ou Lorenz, bem com o no de Skinner.
Parece, entretanto, haver algo de especial a respeito do último, algo que não
é fácil de entender e caracterizar, mas que está refletido nas inúmeras e variadas
expressões de hostilidade em relação à pessoa de Skinner e às suas ideias. E claro que

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ideias científicas, como outras ideias, são passíveis de crítica e ninguém espera una­
nimidade em questões científicas, especialmente em um campo ainda tão precário
como a psicologia. Mas críticas endereçadas a Skinner foram extraordinariamente
violentas e passionais. Seus autores não são exclusivamente psicólogos, presum ivel­
mente competentes para avaliar o trabalho de um colega; muitos intelectuais de
outras áreas da ciência, bem com o leigos com fundamentos ideológicos diferentes,
até mesmo opostos, se empenharam na cruzada contra ele.
Um a lista completa de citações relevantes cobriria mais da metade do presente
livro. Um a amostra de opiniões selecionadas será suficiente para ilustrar o espíri­
to geral. A seguinte amostra foi retirada de fontes europeias e americanas, jornais,
discursos políticos, revistas científicas e livros. Foram escritos ou pronunciados em
vários momentos da vida de Skinner ou em breves obituários após sua morte:

INDEX
Na crença da então chamada psicologia “neobehaviorista” ,
exclusivamente focada no comportamento puro, um homem
chamado Skinner, psicólogo de Harvard, defende a roboti-
zação.
Todas as rádios tomam como uma questão de honra convidar
este perigoso idiota, próximo aos pavlovianos soviéticos, que
afirma que o homem não é nenhum estado especial da natu­

BOOKS
reza; que ele não é senão um animal entre os outros; e que,
como tal, deve ser treinado a reagir, como os outros animais o
fazem, a um número de estímulos externos do ambiente. Es­
queça o homem. Considere apenas o animal. Analise seu con­
dicionamento ao ter o ambiente agindo sobre ele. Encontre o
mais eficiente deles e os multiplique (...), Skinner chama isso
de “condicionamento operante” . Há uma outra palavra para

GROUPS isso: Nazismo.


Michel Lancelot'1

Claramente, nós na França somos mais cabeça fresca. O livro


de Skinner [i.e., Beyondfreedom and dignity] não parece ter
deixado muitos aqui chocados ou entusiasmados (...). Essa
concepção exige o fortalecimento da ordem; fornece uma res­
posta às críticas contra a cultura e a sociedade. Recomenda
o controle, de modo a assegurar a sobrevivência, portanto, a
reprodução do que existe. Em contraste, liberdade e dignida­
de —ideias essenciais dos extremistas —aparecem como bolhas

12 Retirado de L e jeu n e lion dort avec sei dents, Paris, 1974. Tradução m inha. O autor é um jornalista francês.

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do passado, baseadas em teorias pré-científicas. A América do


Senhor Nixon e do Senhor Agnew deve cuidar de sua própria
salvação, deve atrever-se a punir e a recompensar quando for
necessário.
Serge Moscovici1’

América, enquanto sociedade, foi fundada no respeito ao in­


divíduo e na crença inabalável em seu valor e dignidade (...).
Skinner ataca os próprios preceitos sobre os quais nossa so­
ciedade está fundamentada, ao dizer que “vida, liberdade e a
busca da felicidade” já foram objetivos válidos, mas não têm
lugar na América do século XX ou na criaçáo de uma nova
cultura como ele propõe.

INDEX
Spiro Agnew14

(...) considere um eficiente campo de concentração com os


internos espiando uns aos outros e os fornos de gás fumegan­
do à distância, e talvez uma sugestão verbal ocasional como
um lembrete do significado desse reforçador. Pareceria ser um
mundo quase perfeito (...). Dentro do modelo de Skinner,

BOOKS
náo há qualquer objeção a essa ordem social. Ao contrário,
parece próxima ao ideal.
Noam Chomsky15

O que explica o sucesso das visòes de Skinner apesar de suas


armadilhas lógicas? Em minha opinião, é sua aderência a um
conjunto de valores americanos que são amplamente expor­

GROUPS
tados pelo governo dos EU A juntamente com outros bens.
J. Jacques Vonèche16

[a caixa de Skinner] foi descrita como um método limpo de


descerebrar o animal. Alguns acreditam que o mesmo pode

Retirado de uma revisão da tradução francesa de Beyond freedom and digrtity, publicada com o título de Somos algo além de
ratos? na revista semanal francesa L e N ouvel O bifrviitm r em 5 de fevereiro de 1973. M oscovici é um proeminente psicólogo social
francês. Tradução minha.
14 Retirado de um discurso do então vice-presidente dos Estados Unidos em C hicago, publicado no Psycbõlogy Today em
janeiro de 1972-
15 Retirado de “ Psicologia e ideologia', o artigo inaugural da primeira matéria da revista Cognition. sob o nom e do famoso
linguista americano ( C h o m s k y , 1972).
16 Retirado de M odgil & M odgil (1987, p. 72). O autor é professor da Universidade de Genebra.

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ser dito dos efeitos da teoria skinneriana sobre seus seguidores

The Guardian, z8 de agosto de 1990

Finalmente, eu não nego que restaram poucos skinnerianos;


afinal, se você conta fósseis, há ainda muitos dinossauros no
mundo.
Stuart Sutherland17

Enquanto os psicanalistas acreditam na complexidade do in­


divíduo, e, portanto, em sua liberdade, os behavioristas não
estão preocupados com a consciência, e preferem se fixar em
dados científicos observáveis, redesco brindo as virtudes da au­

INDEX
toridade e as receitas de “the carrot and the stick”lS. Contudo,
graças a essa jaula, Skinner conseguiu ensinar pássaros a tocar
piano e dançar.
Frank Nouchi19

Este não é obviamente o tipo com um de polêm ica em relaçáo a teorias cientí­
ficas, exceto quando elas abalam profundamente a concepção que o hom em tem de

BOOKS
sua natureza e do mundo que o rodeia, com o foi o caso de Galileu ou de Darwin,
ou quando elas escondem algum mau uso perverso da ciência visando à dom inação
ideológica, com o ocorre algumas vezes em nossas sociedades civilizadas. Em algu­
mas das citações acima, a última interpretação é claramente sugerida: alguns autores,
com o Chom sky, o famoso linguista, não hesitou em acusar Skinner de Nazismo, ao
recorrer a metáforas não ambíguas.
Críticas europeias frequentemente descartam as contribuições de Skinner

GROUPS
como um típico produto da sociedade americana, que não se encaixam no contexto
da cultura europeia, ou que devem ser observadas com suspeita para evitar conta­
minação. Essas citações de M oscovici e Vonèche ilustram esse julgam ento um tanto
desdenhoso. Tais críticas não respondem às objeções constrangedoras à sua avaliação
etnocêntrica do trabalho de Skinner. Tendem a ignorar o fato de que, gostem ou
não, as coisas que se originam nos E U A acabam por invadir a Europa mais cedo
ou mais tarde — como com os refrigerantes, computadores, ou de fato a revolução
estudantil que recebeu o 1968 apenas por causa da ilusão europeia persistente de

17 Retirado de um obituário publicado em The G uardian, 18 de agosto de 1990. sob o tírulo de “ G uru fanático do behavioris-
m o” . O autor é um distinto professor britânico de psicologia.
18 N . T.: Expressão utilizada para descrever desejo de recompensa e ameaça de puniçáo utilizados concom itantemente como
um meio de fázer alguém se esforçar mais em algum a tarefa.
19 Retirado do obituário publicado no respeitado jornal francês Le M onde em zt de agosto de 1990. Tradução m inha.

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estar no início de tudo que é importante. Eles não dão as suas razões para aceitar,
com simpatia, outras produções americanas, como as teorias humanista e cogniti-
vista, para permanecer no campo da psicologia. (Uma explicação, como a dada por
Vonèche, é apontar para as origens europeias daquelas abordagens aceitáveis, apon­
tando Piaget com o o fundador do cognitivismo americano! Tal explicação provém
do mesmo eurocentrismo denunciado acima.) Acim a de tudo, eles não explicam por
que os ataques contra Skinner foram muito mais numerosos e violentos em seu país
de origem que em qualquer outro lugar, nem por que personalidades tão diferentes
com o N oam Chom sky e Spiro Agnew (o primeiro, brilhante linguista e famoso ati­
vista libertário; o segundo, conservador vice-presidente dos E U A , que não terminou
seu mandato por causa de um escândalo financeiro) se juntaram na luta contra o
psicólogo de Harvard, apesar de recorrerem, é claro, a argumentos bastante opostos.
Q uando um hom em é atacado por muitos ângulos diferentes, por pessoas que

INDEX
geralmente se opõem umas às outras, é provável que ele tenha provocado todas elas,
possivelmente porque está dizendo coisas que ninguém quer ouvir. Seus adversários
então recorrem a uma estratégia com um : eles obscurecem seu trabalho. Se o traba­
lho é escrito, eles o levam a uma má interpretação, ou eles próprios não o leem cor­
retamente. U m tratamento de segunda mão leva a uma generalização da distorção.
Ao confiar nas críticas em destaque, as pessoas deixam de ler o trabalho em primeira
mão e argumentos infundados são reproduzidos e ampliados. Esse mecanismo fun­

BOOKS
cionou em relação aos textos de Skinner ao longo de sua carreira, como veremos. O
principal exemplo, e sem dúvida o mais decisivo, foi a crítica de C hom sky20 ao livro
Verbal behavior, de Skinner.21
M as muitos outros casos podem ser apontados, notadamente em duas im por­
tantes publicações, dedicadas, nos anos 1980, à contribuição de Skinner. A primeira
é o número especial da altamente elogiada revista Bebavioral and Brain Sciences
intitulado “ Canonical papers o f B. F. Skinner ”, no qual mais de 100 autores foram

GROUPS
convidados a escrever “comentários abertos de pares” sobre artigos selecionados e
reimpressos de Skinner. A segunda é um livro editado por M odgil & M odgil com
o título de B. F. Skinner: consenso e controvérsia Aproximadamente duas dúzias de
autores argumentam a favor e contra vários aspectos da visão de Skinner. Ambas
as publicações - ao mesmo tempo em que reconhecem o lugar que Skinner ainda
ocupa no cenário científico - recaem em vários erros e interpretações equivocadas,
mesmo sob a pena de autores sérios.
Neste ponto, alguém pode questionar: com o é que Skinner foi tão mal-en­
tendido e mal interpretado? Os autores de um recente ensaio têm uma resposta

20 C hom sky
21 Skinner {1957).
22 Id. (1984CJ. Ver também C atauia & H am ad (1988).
23 M odgil & M odgil (1987).

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simples e objetiva: a razão é que sua mensagem não era clara nem consistente.14
Em outras palavras, quando os leitores entendem mal um autor científico, podem
apenas concluir que o texto não é claro, e que apenas o autor pode ser culpado por
isso. Deve-se confiar nos julgamentos dos leitores. Temos consciência, entretanto,
dos vários tipos de viés que podem levar os leitores, mesmo de material científico,
a interpretar equivocadamente o que têm sob os olhos. Leitores tendem a perceber
e ler o que querem ver. Eles não abandonam facilmente os estereótipos e ocasional­
mente vão além: ao defender seu próprio ponto de vista, constroem um espantalho
que substitui o autor que eles de fato estão lendo. Veremos no capítulo 10 com o as
críticas de Chom sky, por exemplo, ilustram esses mecanismos, a ponto de poder
ultrapassar a honestidade intelectual. C ontudo, leituras equivocadas persistentes
surpreendentemente também focalizam os aspectos mais básicos, quase clássicos e
inequívocos da teoria de Skinner. Por exemplo, muitos psicólogos têm continua­

INDEX
mente caracterizado a teoria de Skinner com o a típica psicologia estímulo-resposta,
apesar de suas afirmações perfeitamente claras do contrário.1^ O estilo de Skinner é
especialmente elegante e inequívoco e, apesar de várias linhas de evolução poderem
ser traçadas em seu pensamento ao longo de seus textos (o contrário certamente
pareceria incom um em uma carreira tão longa),16 ele também fez reafirmações de
sua ideias principais em vários contextos e com vários níveis de sofisticação e para
audiências com diferentes repertórios. Skinner não pode ser acusado de obscuridade

BOOKS
e devemos olhar em outras direções para explicar as más interpretações.
Se quisermos conhecer as ideias de Skinner, devemos nos voltar a seus textos
ao invés de confiar em relatos de segunda mão distorcidos e supersimplificados.
Este é também o único modo apropriado de elucidar os vínculos entre os textos
“ filosóficos" (ou “ ideológicos” - aqueles mais amplam ente lidos por não especialis­
tas) e os textos científicos (frequentemente mal lidos pelos próprios especialistas).
Antes de tratar com algum a profundidade do que considero serem questões centrais
na teoria de Skinner e alguns debates em torno delas, tenhamos uma visão geral

GROUPS
do trabalho de Skinner e indiquem os alguns pontos de referência em sua vida e
algumas características de sua personalidade.

14 Proctor 8í Weeks (1990).


25 Ver, entre os textos sobre essa questão em particular, o capítulo introdutório de Contingencies o f reinforcement (Skivn'kr,
1969b} e o capítulo 3 deste livro.
26 Skinner mesmo estava consciente de sua própria evolução e das imperfeições na formulação de alguns problemas com os
quais ele havia lidado. Ele comentou, em várias ocasiões, sobre seus trabalhos iniciais. U m caso especialmente esclarecedor está
no artigo intitulado “The behavior o f organisms at 50” (id., 1989b, capítulo 12).

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A obra de S k in n e r : u m a v is ã o g e r a l

O s primeiros artigos científicos de Skinner foram publicados no início dos


anos 1930. Ele nunca parou de escrever desde então até o dia anterior à sua morte,
e sua agora concluída bibliografia inclui mais de 200 títulos, entre eles uma dúzia
de livros.
Suas contribuições, entretanto, não ocorreram apenas por meio de palavras.
N ão se deve esquecer (como acontece às vezes) que ele proporcionou ao laboratório
uma técnica nova e excepcionalmente efetiva que é agora parte dos instrumentos
utilizados por muitos pesquisadores, qualquer que seja sua inclinação teórica, não
apenas no próprio estudo experimental do comportamento, mas em vários campos
nos quais o com portam ento é importante em alguma etapa da investigação, como
na neurofisiologia e na psicofarmacologia.

INDEX
A o contribuir com muitos fatos empíricos, Skinner esclareceu, se nem sempre
resolveu, uma série de problemas nos quais a psicologia experimental e teórica se
encontravam imersas há aproximadamente 50 anos. Ele foi essencial no desenvolvi­
mento de novas aplicações com o a terapia e a modificação comportamentais —atual­
mente uma abordagem bem-aceita para ajudar pessoas com problemas psicológicos
ou que sofrem alguma deficiência - e instrução programada (apesar de sua dívida
com Skinner, é raramente reconhecida por aqueles que aplicam suas ideias na apren­

BOOKS
dizagem assistida por com putador).
A empreitada teórica de Skinner consistiu principalm ente em elaborar ainda
mais o conceito de psicologia enquanto ciência do com portam ento, inicialmente
form ulado por Watson no início do século X X , Ele enriqueceu e refinou o beha-
viorismo ao adicionar à definição inicial muitas qualificações derivadas do conhe­
cimento acumulado ao longo do tempo e de sua reflexão crítica, expressa em estilo
menos passional que o de Watson. M as eíe seguiu rigorosamente os princípios

GROUPS
básicos do behaviorismo mais que qualquer outro psicólogo posterior a Watson,
tornando esse ponto claro ao rotular-se um behaviorista radicai Iremos elaborar
essa questão mais à frente.
Finalmente, Skinner foi audacioso o suficiente para aplicar aos assuntos hum a­
nos mais amplos as conclusões de sua análise científica do com portam ento animal.
Ele questionou a visão tradicional da natureza hum ana e a relação do homem com
seu ambiente físico e social. E m seu romance utópico WaUen Two e em vários ar­
tigos e livros —em que Beyond frecdom and dígnity é o principal — ele denunciou a
nossa indisposição para lidar com questões de com portam ento humano recorrendo
à abordagem científica que consideramos apropriada, e de fato efetiva, em questões
tecnológicas ou médicas. Esta parte de sua obra é certamente responsável por irritar
muitos de seus leitores.

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B. F. S m .VNES: UMA PERSPECTIVA EUROPEIA

B e h a v io r is m o : u m p e q u e n o l e m b r e t e

Behaviorism o é uma escola de pensamento que teve sua origem no início do


século X X . Seu nascimento é geralmente identificado com o famoso artigo de J. B.
Watson, “ Psychology as the behaviorist views it” .27 Porém, como é frequentemente o
caso, a ideia estava no ar. Ela foi afirmada explicitamente num a conferência histórica
do psicólogo francês H . Piéron em 1908.^ E fora posta em prática durante alguns
anos por cientistas com o Pavlov.
O centro da posição behaviorista é que o objeto da psicologia é o comporta­
mento — que pode ser observado externamente, como são os fenômenos estudados
nas ciências naturais —ao invés de estados mentais subjetivamente apreendidos pelo
próprio sujeito. Esta foi essencialmente um a mudança metodológica. Até então, a
psicologia científica, um jovem campo da ciência com pouco mais de meio século

INDEX
de idade, ainda recorria à introspecção como principal fonte de dados, apesar de
esforços bem-sucedidos para desenvolver rigor e controle experimental e de seu uso
de medidas e quantificação. M esm o não sendo um obstáculo principal ao progresso
em alguns campos, assim com o a psicofísica básica e o estudo de reações motoras
elementares em humanos adultos, ela provou ser insatisfatória ao lidar com fenôme­
nos mais complexos, como pensamento e resolução de problemas, ou com sujeitos
que não relatavam sua vida interna, ou de forma mais simples, que não poderiam

BOOKS
entender instruções verbais para fazer isso, com o no caso de animais, pessoas pato­
logicamente comprometidas ou indivíduos falantes de outra língua.
Em outro nível, apesar de bastante relacionado ao aspecto metodológico, o
behaviorismo tinha importantes implicações epistemológicas. Ele coloca a psicologia
no reino das ciências naturais,29 dispensando a velha distinção dualista entre Mente
e M atéria. A questão aqui não é entre materialismo e espiritualismo ou idealismo,
mas se a psicologia tem mais chances de progredir ao trabalhar com a hipótese de
que seu objeto de estudo é suscetível à mesma abordagem que os outros aspectos do

GROUPS
m undo, e mais especificamente do mundo vivo.
O behaviorismo, um a vez claramente formulado por Watson, se espalhou m ui­
to rápido. Ele invadiu não apenas a psicologia americana, mas também a psicologia
europeia. Desde então até recentemente, a maioria dos livros-texto começariam com
a definição da psicologia como a ciência do comportamento. Aquela altura, parecia

27 Watson (1913).
28 Piéron (1908).
29 C o m o oposta, após a dicotomia sugerida por Dilthev, às ciências da mente, ou Gtistwisiemcbafitn. O debate não está extinta
na psicologia contemporânea e mais amplam ente na filosofia da ciência contemporânea. A questão em jogo é se uma fronrcirj
deveria ser traçada aJém da q u il instrumentos diferentes de investigação deveriam ser utilizados (por exem plo, hermenêutica ao
invés de heurística), e. se este for o caso, até onde tal fronteira deveria ser estabelecida. O reino das ciências humanas deveria
abranger o com portam ento hum ano individual, ou apenas a vida social c a cultura? O utra visáo é a de que cada nível de comple­
xidade requer ferramentas metodológicas apropriadas, mas não conceitos epistemológicos tunda mental mente diferentes.

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haver um tipo de consenso. O que não significa, entretanto, que o behaviorismo


tenha eliminado outras escolas de pensamento. N o continente europeu, a psicologia
da Gestalt se desenvolveu ao mesmo tempo na Alemanha; em Genebra, Piaget co­
meçou seu trabalho m onumental por volta de 10 anos após o manifesto de Watson,
enquanto o estudo do com portam ento animal no ambiente natural emergiu como a
m oderna etologia dos anos 1930, principalmente sob a influência de Konrad Lorenz.
Essas abordagens não eram necessariamente opostas à posição behaviorista, mas en­
fatizavam outros aspectos.
A psicologia francesa oferece um caso interessante e peculiar em relação ao
behaviorismo. C om o mencionado anteriormente, Piéron pode ser considerado, his­
toricamente, com o o fundador do behaviorismo, se a data de sua prim eira form ula­
ção fosse tomada com o um critério. Ele de fato não iniciou o movimento, embora
seu próprio trabalho se alinhasse, sem dúvida, com a posição behaviorista. Um a

INDEX
explicação pode ser a de que ele não era assertivo o bastante, com o Watson. Pode-se
argumentar também que a França não estava madura para aquela revolução, ou que
já estava em algum sentido além dela: Pierre Janet, cuja influência se estendeu por
muitas décadas, havia de fato desenvolvido a psicologia da “conduta” que, em vários
aspectos, anunciou muitos princípios do behaviorismo radical de Skinner. M as, por
outro lado, psicólogos franceses, com poucas exceções, nunca foram muito recep­
tivos ao behaviorismo radical e se voltaram com entusiasmo para o cognitivismo

BOOKS
quando ele surgiu nos anos 1960.
O behaviorismo tom ou form a principalm ente nos Estados Unidos, onde, se­
guindo o ímpeto de Watson, um punhado de behavioristas da segunda geração —
então chamados “neobehavioristas” — desenvolveram suas próprias versões de uma
ciência do com portam ento durante o segundo quarto do século X X . U m dos mais
conhecidos, e possivelmente o mais influente, foi H ull, que ainda é tido com o a
principal referência quando as teses behavioristas são discutidas. Ele não contribuiu

GROUPS
com nenhuma grande novidade metodológica nem com nenhuma importante des­
coberta empírica. Ele era fascinado com formalizações e se engajou na construção
de um ambicioso sistema hipotético-dedutivo do comportamento. U m a das mais
severas críticas ao seu livro Principies o f behavior60 está em Skinner,31 que mostra
claramente que o behaviorismo não era uma igreja unificada! Observada a certa
distância, a empreitada de H ull parece estéril e prematura.
O utra proeminente figura entre os neobehavioristas era Tolman, cujo nome e
obra abordaremos novamente. Tolman é corretamente considerado um dos pais do
moderno cognitivismo. Seu principal livro, significativamente intitulado Purposive

30 H ull (1943).
31 Skinner (1944).

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behavior in animais and m e n lida com um problema crucial e difícil da psicologia


científica: a organização e antecipação de ação em direção a um fim. Ele também
descobriu que animais interagindo livremente com seu ambiente, na falta de qual­
quer necessidade biológica, com o fome ou sede, acabariam aprendendo algo sobre
ele. C om o a situação na qual ele descobriu isso era o então conhecido labirinto para
ratos, ele sugeriu que seus sujeitos construíram um mapa cognitivo, obviamente um
ancestral das representações internas da psicologia cognitiva. Vamos comentar em
mais detalhes adiante.
Skinner, o mais jovem dessa segunda geração de behavioristas, e diferente o
bastante de todos eles para não ser incluído entre os neobehavioristas, adotou uma
postura totalmente diferente. Por um lado, ele permaneceu mais estritamente vincu­
lado aos princípios essenciais da concepção de Watson. Por outro, ele se afastou de
Watson de form a mais fundamental que os neobehavioristas e elaborou sua marca

INDEX
genuína na psicologia com portam ental. C om o vimos, ele se denom inou um beha-
viorista radical. A medida que progredirmos, compreenderemos o que isso significa.
A esta altura, algumas referências podem ser úteis para caracterizar os aspectos co­
muns entre as várias linhas de behaviorismo e para apontar questões cruciais sobre
as quais Skinner desenvolveu visões originais.
Para um behaviorista, a psicologia não pode se atribuir um status científico se
não toma, com o objeto de estudo, eventos que podem ser observados com métodos

BOOKS
utilizados em outras ciências naturais. Sua tarefa é identificar as variáveis das quais
tais eventos observáveis são função. Essa visão tem muitos oponentes, pois parece
reduzir o reino da psicologia a atos motores diretamente acessíveis a um observador
e deixar fora da explicação os inúmeros eventos internos que cada indivíduo sabe
que ocorre dentro de si mesmo. Esse é um erro sério em relação ao princípio meto­
dológico básico do behaviorismo. O behaviorismo não nega a existência de eventos
internos. M as, por um lado, nega a capacidade de o próprio sujeito lhes fornecer

GROUPS
uma explicação científica (nesse sentido, é próximo à visão de Freud ou à de Janet);
por outro, nega que eventos internos tenham um status essencialmente diferente dos
comportamentos facilmente observados externamente. O problema da psicologia
é torná-los acessíveis à análise - um problema enfrentado por qualquer ciência - e
tratá-los propriamente com o com portam ento, ao invés de fontes inferidas e não
verificáveis do comportamento.
Antimentalismo, um tema central no pensamento de Skinner, não é uma ne­
gação dos eventos mentais, mas uma recusa a recorrer a eles enquanto entidades
explicativas. U m exemplo clássico ajudará a entender os argumentos dessa posição.
O senso com um tende a atribuir um ato a alguma fonte causal interna, frequente­
mente entendida como uma necessidade ou impulso. Parece correto invocar a fome

32 Tolm an (1932).

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quando um animal ou um hum ano começa a comer ou procurar comida. É ten­


tador estender a mesma explicação quando alguém se engaja numa ação agressiva,
atribuída a algum impulso agressivo; quando alguém imita outra pessoa por causa
da necessidade de imitação ou quando poucos indivíduos se unem por causa de sua
necessidade com um de afiliação. N os é deixada a tarefe de explicar a necessidade e
logo descobrimos que apenas postergamos o problema. A psicologia científica esta­
va infestada com tais “ ficçóes explicativas” na época em que Skinner começou sua
reflexão sobre o mentalismo e desenvolveu sua concepção sobre reforçamento (que
testemunha que o behaviorismo nunca foi tão dom inante quanto se diz frequente­
mente). C om o ele enfatizou, a objeção não é que essas coisas são mentais, mas que
elas inviabilizam qualquer tentativa de explicação posterior. Ler a literatura psicoló­
gica atual mostra que o problema ainda está entre nós. Seu surgimento na psicologia
científica está vinculado ao aparecimento do cognitivismo e não há dúvida de que o

INDEX
status dos eventos mentais nas descrições e explicações psicológicas deve ser exami­
nado agora de uma forma muito mais delicada. E claro, contudo, que a atitude de
Skinner em relação ao cognitivismo está enraizada em sua visão tradicional do men-
talismo. Devemos lidar com essa questão em detalhes mais à frente, pois ela é, de
fato, um dos problemas epistemológicos centrais que os psicólogos têm de enfrentar.
Um outro ponto m uito debatido sobre o behaviorismo é o ambientalismo.
Pode-se dizer que o com portam ento encontra sua explicação na ação do ambiente

BOOKS
sobre o organismo passivo. E verdade que os behavioristas mostraram interesse sis­
temático no papel do ambiente. Não deveria causar surpresa, pois, afinal de contas,
a psicologia se preocupa com a relação entre o organismo e os seus ambientes. E
difícil pensar em psicólogos que não tentariam, de uma forma ou outra, entender
tal interação. Todavia, eles possuem várias visões sobre essa questão. Alguns deles
insistem em uma herança inata que define de antemão que parte do ambiente
atuará na história do organismo; a veem apenas com o revelação de potencialidades

GROUPS
pré-conectadas. Este foi o posicionamento mantido por Lorenz, ao menos em seu
trabalho inicial sobre com portam ento animal. O utros enfatizam a organização do
indivíduo, i.e., a estrutura individual da inteligência, personalidade, inconsciente,
mente e assim por diante, sem qualquer referência explícita ao ambiente. A escola
de pensamento estruturalista, que foi tão bem -sucedida nas ciências humanas e so­
ciais nos anos 1960, pertence a essa categoria, assim com o algumas das abordagens
clássicas anteriores da psicologia. O utros, com o Piaget, olham para o sujeito que
age sobre o ambiente, acabando por não conseguir dom iná-lo, e tendo então algum
feedback dele, que o habilita a corrigir sua ação, num tipo de troca dialética. Esta é
tipicamente a visão interacionista.
Há ainda outros, que dão papel principal ao ambiente. Ele é concebido como
provocando mecanicamente as reações do organismo, que é ativado a partir do ex­
terior, como uma marionete sem qualquer memória genética, estrutura ou vontade.

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Esta visão é supostamente típica das psicologias estímulo-resposta (S-R), que, por
sua vez, são frequentemente identificadas com o behaviorismo. Náo discutirei aqui
a questão sobre se alguma vez já foi proposta uma psicologia puramente estímulo-
-resposta. O que é claro é que o behaviorismo skinneriano não é uma psicologia
estímulo-resposta. Sua concepção a respeito do papel do ambiente é inequivoca­
m ente diferente e é um princípio central de sua teoria, com o veremos no capítulo 3.

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ESBOÇO DE UM RETRATO

R eferên cias biográficas

Trabalhos científicos têm uma existência própria, independente dos cientistas


que os produziram. Eles são, como Popper afirmaria, parte do Mundo 3: isto é, o

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conjunto daqueles objetos culturais criado pelos humanos ao longo da história que
são agora parte de nosso ambiente social. A qualidade intrínseca da contribuição
científica não possui qualquer relação com os sentimentos do cientista ou com os
eventos de sua vida pessoal. A biografia dos grandes criadores é um material valioso
para historiadores da ciência e das artes ou para psicólogos interessados no processo
criativo. Geralmente não é útil na avaliação do próprio trabalho. Ao expor o traba­
lho de Skinner e ao esclarecer alguns erros frequentes sobre ele, nós normalmente

BOOKS
não precisaríamos nos referir ao homem.
Irei, entretanto, dispor de algumas poucas referências biográficas por duas ra­
zões. A primeira diz respeito aos nossos hábitos e gostos: apesar das observações an­
teriores, todos gostam de conhecer sobre o homem ou a mulher por trás do trabalho,
seja ele um romance, uma pintura ou uma equação. A mídia encorajou largamente
essa tendência no seu próprio modo de popularizar a ciência, e eu não irei contra
isso, forçando meu leitor a uma austeridade intelectual e curiosidade insatisfeita.

GROUPS
A segunda razão tem a ver com a situação peculiar já aludida. Skinner foi ata­
cado de muitos lados. Parte dos ataques se deu contra vários aspectos de suas ideias
ou escritos, e estão, enquanto tal, na tradição do justo debate intelectual, apesar
da violência que possa assumir em algumas ocasiões. M as parte dos ataques foi
ad hominem; e mais frequentemente do que o contrário, eles se misturaram com
os argumentos sobre as ideias. E, portanto, necessário desembaraçar esses rumores
difamatórios da controvérsia saudável. Um breve retrato do personagem e da vida
de B. F. Skinner será suficiente.
Pouco se conhecia da vida de Skinner, exceto de amigos mais próximos ou
parentes, até a publicação de sua autobiografia, editada em três volumes, de 1976
(quando ele estava com 70 anos de idade) a 1983 (um pequeno artigo autobiográfico

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apareceu em 1970 como o capítulo de abertura de um volum e da Festschripi). No


primeiro volume da trilogia, Particulars o f my l i f e Skinner conta a história de sua
infância e adolescência, até sua admissão em Harvard, que foi o ponto inicial de
sua carreira com o psicólogo. A história não seria muito diferente da de milhares
de outras crianças que cresceram no primeiro quarto do século X X em qualquer
pequena cidade do leste dos E U A . D e certo modo, ele nos conta mais sobre a vida
provinciana daqueles dias do que sobre 0 destino excepcional de um indivíduo: os
dias do jovem Skinner não eram excepcionais. Seu pai era advogado, o que lhe deu
algum status na pequena cidade de Susquehanna, às margens da ferrovia, no Estado
da Pensilvânia, apesar de não estar à altura de sua ambição. Sua mãe, com o todas as
mulheres de classe média daqueles dias, cuidava da casa e da família. Ela era bonita,
inteligente e uma boa presbiteriana. Fred tinha um irmão, dois anos mais novo, que
faleceu aos 16.

INDEX
O jovem Fred gostava da escola. Um a prim eira e duradoura paixão o tomou,
sob a influência de um letrado professor: a leitura. Aos 14, estava intrigado com os
debates sobre a real identidade de W illiam Shakespeare e leu Bacon, cujo trabalho
irá, mais tarde, influenciar seu pensamento científico. Ele era um garoto “ norm al” ,
com mais interesse em livros do que em esportes. Ele gostava de construir e plane­
jar coisas, de trenós e aviões modelos a uma m áquina de m oto-perpétuo - que, ele
confessa, realmente não funcionou!

BOOKS
Fred entrou na Universidade H am ilton em idade normal, onde ele não encon­
trou o contexto intelectual estimulante que esperava. A maioria dos estudantes não
estava realmente envolvida naquilo que estudava e Skinner ressentiu ter que fazer
coisas desinteressantes, com o ter de frequentar as cerimônias religiosas na capela.
Exceto por seus contatos prazerosos e proveitosos com a família de Dean, na qual ele
serviu de tutor a uma das crianças e conheceu livros, músicas e pessoas interessantes,
a vida universitária não o animava. Ele reagiu planejando trotes, e acabou por se

GROUPS
envolver em uma revolta estudantil contra o sistema, muito mais amena e local,
puramente literária, que as revoluções no campus 40 anos mais tarde! Ele conta de
um trote que fez com um amigo no início de um de seus anos universitários. Eles ti­
nham cartazes impressos e espalhados pelo campus, anunciando uma conferência de
Charlie C haplin, supostamente sob o patrocínio “oficial” de seu professor de com ­
posição. O jornal local deu ampla publicidade ao evento e toda a área foi tomada
por um intenso rebuliço. U m a m ultidão de potenciais ouvintes se dirigiu ao campus
e uma m ultidão de crianças se juntou na estação de trem para dar boas-vindas ao
grande ator. Esse foi apenas o prim eiro de uma série de “ gestos niilistas” que eram
mais diretamente direcionados à faculdade e aos símbolos da instituição.

33 D ew s (1970).
34 Skinner (1976).

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Q uando Fred deixou a universidade, ele queria se engajar na carreira literária.


Ele leu Proust, parcialmente na tradução então recentemente publicada dos prim ei­
ros volumes de A la recherche du temps perdu, mas em francês nos outros volumes.
Isso não estava de acordo com o desejo de seu pai de o ver estudar leis e possivelmen­
te se juntar a eíe como parceiro de trabalho. Contudo, seu pai aceitou sua estadia
em casa, apenas como o início de seu trabalho com o escritor. N ada de literário
surgiu, apenas um Sumário de decisões do Conselho Antrdcito de Reconciliação, um
trabalho de escritor comercial que ele realizou para se salvar do desastre literário. Ele
se divertiu por uns tempos sem compromissos, passando seis meses no lugarejo de
Greenwich e depois um verão na Europa. Finalmente retornou às ambições literá­
rias. Encontrou a psicologia m oderna - Watson, por meio do artigo de Russell - e
decidiu trocar literatura por ciência.
Skinner mesmo comentou com hum or sua falha na carreira literária:

INDEX Falhei como escritor porque não tinha nada importante a


dizer, mas não podia aceitar essa explicação. Era a literatura
que deveria ser culpada. Uma garota com quem joguei tênis
no Ensino Médio - uma católica devota que depois se tor­
nou freira - certa vez citou uma observação de Chesterton a
respeito do personagem de Thackeray: “Thackeray não sabia,

BOOKS
mas ele bebia” , Eu generalizei o princípio para toda a literatu­
ra. Um escritor pode retratar o comportamento humano per­
feitamente, apesar disso, ele não o compreende. Eu permane­
ceria interessado em comportamento humano, mas o método
literário falhou comigo; iria me voltar para o científico. Alf
Evers, o artista, facilitou a transição. '‘Ciência”, disse-me ele
uma vez, ‘ e a arte do século vinte”. A ciência relevante parecia
ser a psicologia, embora eu tivesse apenas uma vaga ideia do

GROUPS
que aquilo significava.”

Tendo abandonado a literatura, Skinner estava para se tornar, mais tarde, um


dos melhores escritores científicos de nosso tempo. Ele acabaria por retornar ao gê­
nero literário com seu romance utópico, com seu ensaio Beyondfreedom and dignity
e em alguns artigos náo técnicos.
Skinner entrou em Harvard para o semestre do outono de 1928 aos 24 anos.
Ele decidiu preencher as lacunas de seu conhecimento psicológico e alcançar rapi­
damente os outros estudantes da graduação. Ele trabalhou duro, permitindo a si
mesmo tempo mínim o de lazer, dedicado principalmente à música. Ele completou

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seu P hD em psicologia em 1931. Sua tese era de natureza puramente teórica: ele
lidou com o conceito de reflexo. Foi um primeiro marco na sua reflexão sobre a
causação do comportamento.
Naquela época, Skinner já havia aderido à posição behaviorista, que não era
muito bem-vista no Departamento de Psicologia de Harvard. Ele era comandado
por E. G . B oring (cuja History o f experimentalpsychology se tornou um clássico),
que permaneceu com o um firme oponente à posição de Watson. Mas as qualidades
intelectuais de Skinner eram impressionantes o bastante para convencer qualquer
um .36 Foi-lhe oferecida a possibilidade de permanecer em Harvard, no laboratório
de Crozier, um fisiologista, onde ele levou a cabo seus experimentos enquanto estu­
dante de graduação. Ele não deixou Harvard antes de 1936, passando seus últimos
três anos com o bolsista da recénvcriada Society o f Fellows, “à época, o suporte mais
generoso que um estudante poderia pedir” 37 - e certamente o de maior prestígio.

INDEX
Em 1936, Skinner recebeu convite para ensinar na Universidade de Minnesota,
onde continuou seu trabalho experimental e elaborou melhor suai visões teóricas
sobre o que se tornaria sua maior contribuição científica, i.e., o modelo do condicio-
namento operante (como diríamos hoje). Ele publicou seu prim eiro livro, The beha-
vior o f organisms, em 1938. E ainda uma referência clássica para aqueles que estudam
as escolas behavioristas de pensamento ou que querem entender a elaboração do
pensamento skinneriano sobre o comportamento.

BOOKS
D eixando um pouco de lado os detalhes de um período que Skinner mesmo
considera com o o mais gratificante de sua experiência enquanto professor, apon­
tarei apenas dois aspectos de seus dias em M innesota. Um deles se refere à sua
vida particular, N o mesmo ano em que se m udou para M innesota, se casou com
Yvonne Blue, que havia estudado literatura na Universidade de Chicago. Tiveram
duas filhas, as quais m encionarei mais tarde. O segundo ponto se refere às suas
atividades científicas e é im portante para entendermos os desenvolvimentos poste­
riores. Em bora seus experimentos fossem principalm ente com anim ais - preferen­

GROUPS
cialmente ratos e pom bos —, Skinner permaneceu interessado em com portam ento
hum ano. D e fato, com o a m aioria dos psicólogos experimentais que trabalhavam
com animais com o sujeitos de laboratório naquela época, ele não estava preocu­
pado com com portam entos específicos da espécie, mas com leis gerais do com ­
portam ento, com o os fisiologistas gerais usavam coelhos e sapos para delinear leis
fisiológicas gerais. Entretanto, mais especificamente, ele despendia algum tempo
com aspectos do com portam ento hum ano à prim eira vista m uito distantes do

36 Isso, como os úirimos sucessos na carreira acadêmica de Skinner, opõe-se à estranha acusação feita por Proctor & Weeks
(1990) de que Skinner era um falso cientista. A o contrário, e!e parecia táo hom. que indivíduos inteligentes que não partilhavam
suas visões não se opuseram em apontá-lo para seu Departam ento. Boring deve certamente levar crédito por ter agido dessa forma
em Harvard.
37 N .T .: N ão há referência desta dtaçáo no original.

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pressionar a barra condicionado dos ratos: literatura e com portam ento verbal. Ele
ocasionalm ente m inistrava um curso sobre psicologia da literatura. E estabeleceu
os fundam entos de seu livro posterior sobre Comportamento verbal.
A pós um pequeno intervalo na U niversidade de Indiana, enquanto chefe do
D epartam ento de Psicologia, Skinner voltou a H arvard em 1948, onde perm ane­
ceu pelo resto de sua carreira. N a época de seu falecim ento, ele galgou a posição
de professor em érito - Emeritus Edgar Pierce Professor o f Psycbology — após o
título de chefe que ocupou antes de sua aposentadoria, e ainda desfrutava de um
escritório no W illiam Jam es H all.
O período em Indiana, em bora sobrecarregado com obrigações administrati­
vas, foi marcado por um evento intelectual de grande importância. Ele escreveu o
romance utópico Walden Two> publicado em 1948. O título é uma lembrança do

INDEX
lago Walden, perto de Concord, Massachusetts, onde o escritor H enry D avid Tho-
reau, no final do século X IX , se retirou por um ano, para uma experiência daquilo
que poderíamos chamar hoje de um modo ecológico de vida. O livro descreve uma
pequena comunidade onde as pessoas vivem uma vida harmoniosa e criativa, sem
complicações inúteis e sem o gasto de recursos típico da vida moderna. Esta foi
a primeira aplicação de Skinner em larga escala ao com portam ento hum ano dos
princípios delineados a partir de seu trabalho experimental. M as, em um sentido,
é mais do que isso. Refletiu a profunda preocupação de Skinner com os problemas

BOOKS
do hom em moderno e da sociedade moderna. Q ue tal preocupação não era apenas
racional foi claramente mostrado pelo modo com o o livro foi escrito. Enquanto
admitia ser um escritor muito lento —produzindo uma média de duas palavras por
minuto em seus artigos científicos - ele escreveu Walden Tivo em menos de dois
meses, e com grande emoção, com o um tipo de “autoterapia” , em suas próprias pa­
lavras. Um a utopia “positiva” , em contraste com Admirável mundo novo, de Huxley,
o livro foi crucial na apreensão do pensamento de Skinner e é também a parte de seu

GROUPS
trabalho que mais revela seu caráter e suas preocupações pessoais.

U ma preocupação constante com os assuntos humanos

A partir de então, os textos sobre com portam ento hum ano se acumulariam,
sobretudo no aspecto científico: em 1953, Ciência e comportamento humano, seguido
quatro anos mais tarde por Comportamento verbal, que deu ao linguista C hom sky
a ocasião para sua famosa revisão crítica. Enquanto os experimentos com animais
eram levados a cabo mais eficientemente que nunca com um pequeno grupo de
colaboradores e brilhantes estudantes de graduação — resultando na publicação do

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técnico Esquemas de reforçamentcfi Skinner se engajou em vários campos específi­


cos de aplicação. U m deles foi a educaçáo; outro, os distúrbios de comportamento.
N ão há nada surpreendente no fato de que um psicólogo, particularmente
quando se especializa em mecanismos de aprendizagem, tenha interesse em educa­
çáo. Thorndike, Thurstone, Piaget e Bruner são apenas exemplos de uma longa lista.
A motivação de Skinner, entretanto, veio de uma visita casual que ele fez à sala de
aula de uma de suas filhas, onde ficou impressionado com o absurdo da situação:

Aqui estavam vinte organismos extremamente valiosos. Sem


qualquer culpa própria, a professora estava violando quase
tudo o que conhecíamos a respeito do processo de aprendi­
zagem. Comecei a analisar as contingências de reforçamento

INDEX
que poderiam ser úteis no ensino de sujeitos escolares e plane­
jei uma série de máquinas de ensino que permitiriam ao pro­
fessor prover tais contingências para estudantes individuais.39

A análise de Skinner sobre os processos de ensino-aprendizagem teria uma


enorme influência na pesquisa educacional e — infelizmente em m enor proporção
— em práticas educacionais. M as também levaria a ataques violentos, mais particu­
larmente direcionados ao seu projeto com máquinas de ensino. A palavra máquina

BOOKS
evocava uma ameaça de educação mecanizada e levou à oposição de todos aqueles
vinculados a uma abordagem “ humanista” da educação. O debate era passional. Os
oponentes não entendiam os pontos levantados por Skinner na sua crítica às práticas
educacionais vigentes e não previram o desenvolvimento das novas tecnologias que
ele visualizou. M áquinas de ensino mudaram de nom e para ensino assistido por
computador, do qual ninguém se queixa, e o pioneirismo do trabalho de Skinner ge­
ralmente nem ao menos é mencionado nas introduções da atual amplamente aceita

GROUPS
e em voga “tecnologia do ensino” .
A abordagem de Skinner em relação aos problemas educacionais era típica de
seu estilo ao lidar com os problemas hum anos em geral, Ele com eçou com uma
análise crítica das concepções e práticas tradicionais, à luz dos conceitos científicos, e
então definiu as linhas principais de uma possível aplicação destes últimos no campo
em questão. Ao mesmo tempo, ele testou suas propostas em seu próprio ensino: de­
lineou um curso programado, o im plem entou mecanicamente, usando um gravador
de disco, e fez uma aplicação experimental com seus estudantes de graduação em

Ferster & Skinner (1957).


J9 Skinner (:970a, p. 16).

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Harvard, corrigindo o programa quantas vezes fossem necessárias em função dos


resultados, para finalmente publícá-lo em forma de um livro-texto programado.40
Skinner juntou seus artigos sobre educação, em 1968, em um livro, Tecnologia
do ensino. M as ele nunca perdeu seu interesse em questões educacionais, com o teste­
munhado peío espaço dedicado a elas em seus derradeiros textos.4'
A o mesmo tempo em que Skinner se engajava no campo da educação, alguns
de seus estudantes se aventuravam em aplicações com pacientes mentais. Como na
educação, essa não era a primeira tentativa de aplicar os princípios da aprendiza­
gem ao comportamento anormal. O próprio Watson foi pioneiro nessa área e Pavlov
mostrara preocupação permanente com a psicopatologia. Mais recentemente, mem­
bros da escola de Yale despenderam muita energia na tentativa de cruzar psicologia
dinâmica com teoria da aprendizagem, deixando a Dollard & Miller41 a tarefa de
traduzir os processos observados na psicoterapia em termos de mecanismos de apren­

INDEX
dizagem. De algum modo, o que logo seria chamado de terapia comportamental já
tinha uma história.45 Porém, Skinner e seus seguidores lhe forneceram um ímpeto
decisivo, dando-lhe uma formulação renovada dos princípios da aprendizagem, com
uma riqueza de achados experimentais, sugerindo modelos explicativos para compor­
tamentos patológicos e estratégias para sua modificação. Também enfatizaram o rigor
metodológico ao transferir a abordagem experimental para a situação clínica.
O movimento se desenvolveu rapidamente, e em muitas direções, algumas ve­

BOOKS
zes inesperadas, como é frequentemente o caso na área da psicologia clínica. Skinner,
é claro, não pode ser culpado por erros, excessos, conflitos, violações de normas éti­
cas e simplificações exageradas que ocasionalmente ocorreram nas práticas da modi­
ficação do comportamento. Nem pode ser considerado responsável pelas mudanças
no discurso teórico - uma interessante mudança de comportamental para cognitivo-
-1comportamental, e então para cognitivo. Ele nunca esteve preocupado com ortodoxia
e nunca pensou em manter a coerência de uma escola oficial de pensamento.
O último ponto pode parecer surpreendente, pois Skinner é frequentemente

GROUPS
representado como uma personalidade autoritária, com um desejo de poder que fe­
lizmente ele só podia exercer com seus ratos de laboratório. Todos aqueles que se
aproximaram dele testemunharão o contrário. Ele era uma pessoa muito urbana e
tolerante, na troca científica e na conversa particular. Demonstrou não gostar de
polêmicas agressivas e deixaria argumentos injustos sem resposta ao invés de se enga­
jar em disputas. Enquanto professor, ele dificilmente poderia ser menos diretivo do
que era. Ele nunca imporia seus próprios pontos de vista, mesmo em relação àqueles

40 HoUand & Skinner (1961).


41 Cada. um de seus últim os três livros de artigos selecionados (Skinner, 1978, 1987b, 1989b) contém vários capítulos sobre
questões educacionais.
41 Dollard & MiUer (1950).
43 Para uma história da terapia com portam ental, ver, entre outras fontes, Kazdin (1978) e Schorr (19S4).

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B. F. S N i, NEK: l MA PERSPECTIVA EUROPEIA

com quem trabalhava de forma mais próxima. Ele foi certamente muito admirado
e respeitado por seus seguidores, e os convidou centenas de vezes para contribuírem
em suas reuniões, revistas ou outros empreendimentos, mas nunca se preocupou em
mantê-los sob seu controle, como Freud o fez, no estilo mais sectário, banindo dis­
sidentes; com o Piaget o fez —sobre quem um respeitável e admirável colega uma vez
disse, em sua presença, e num a ocasião acadêmica muito formal, que “seu gênio era
equiparado apenas com a infantilidade de seu caráter” ;44 como Lorenz o fez, execran­
do desviacionistas das escolas britânica e americana de etologia por seus envolvimen­
tos com os behavioristas.45 Skinner nunca foi um daqueles monstros sagrados cujo
carisma pessoal é amplamente misturado com sua influência intelectual.
Skinner é também frequentemente retratado com o um cientista de mente li­
mitada, que acreditava que o mundo se restringia àquela pequena parte que ele
acabou por estudar, que pensava que seres humanos sáo como pombos e ratos, pois

INDEX
ele havia parado há m uito tempo de com partilhar o interesse das pessoas normais a
respeito dos sentimentos humanos, emoções e criações. Este julgamento precipita­
do ignora o músico refinado, que passava muitas horas em sua espineta; o amante
da literatura, que lia clássicos franceses em sua versão original; o conhecedor de
D iderot, Stendhal e Proust, não menos consciente da riqueza da cultura humana
que qualquer um de seus colegas psicólogos que professavam o humanismo, e não
menos interessado em sua própria experiência pessoal. A o proeminente psicólo­

BOOKS
go francês Paul Fraisse, que o visitou pouco antes de sua aposentadoria e que lhe
perguntou com o conseguia manter-se ocupado, ele replicou: “ Eu devo cuidar de
minha vida interna” . Isso não foi uma renúncia ao behaviorismo. Era um modo
de apontar que a vida interna é o que ela é, qualquer que seja a maneira científica
utilizada para descrevê-la e explicá-la, assim com o o arco-íris manteve toda a sua
beleza após Newton ter explicado a divisão da luz branca nas cores que o formam,
para usar a comparação favorita de Skinner.

v
GROUPS
U m c a s o d e d e p r e c ia ç ã o d ifa m a tó ria : a h is t ó r ia d a “ c a k a d e b e b ê ”

Apesar de sua personalidade gentil - ou possivelmente por causa disso - Skin­


ner foi exposto a ataques pessoais, a acusações extravagantes, a rumores de baixo
nível. E claro, o indivíduo não estava em questão, mas suas ideias sobre educação,

44 R . Tissot, em sua conferência inaugural após scr indicado com o professor de psicologia na U niversidade de Genebra (publi­
cada em M éd ia n e et Hygiène em 26 de maio de 1971).
45 Para discussão a respeito da evolução do pensamento de Lorem . ver Evolution a n d modification o f behavior (L o r e n z , 1965,
capítulo 6).

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sobre tratamento psicológico, sobre a sociedade estavam. A história do “ berço de


ar”*h ilustra melhor que qualquer outro exemplo.
Em 1943, os Skinners decidiram ter um segundo filho. D epois que sua esposa
lhe apontou alguns de seus medos em relação às restrições do primeiro ano, Skinner
decidiu fazer algo para aliviar a sobrecarga. Ele analisou o modo com o os bebês
são cuidados e considerou possíveis simplificações, enquanto prom ovia conforto,
intercâmbio social e a satisfação materna. A solução foi 0 air crib, ou “ bahy-tendef,
como o chamava. Ele era um com partim ento espaçoso, montado sobre uma mesa
com rodinhas, com uma grande janela de vidro, temperatura e ar controlados, onde
o bebê podia ficar nu e confortável, m antido na presença de sua mãe onde quer que
ela estivesse trabalhando na casa. U m a tira de lençol cobria uma lona que servia
como colchão, podendo ser removido para uma parte limpa, quando necessário,
apenas girando uma manivela. O bebê, ao invés de sofrer com excessos de roupas ou

INDEX
por ficar molhado, ou simplesmente por acordar e se ver sozinho, podia se mover
livremente, em uma atmosfera estável e apropriada e em contato visual permanente
com a mãe, quando ela estivesse ocupada e não pudesse pegar o bebê no colo.
O baby-tender estava pronto para receber D eborah Skinner ao retornar da
maternidade. Ela teve uma vida de bebê muito feliz nele, apenas com um pouco
mais de atenção de uma mãe menos exausta que o com um , crescendo normalmente
depois. Ela era saudável e especialmente resistente a gripes. Poucos meses após seu

BOOKS
nascimento, uma revista voltada para mulheres publicou o fato, e foi o começo
do debate público sobre a “caixa de bebê” . O termo foi usado no início do artigo,
infelizmente, e levou a uma confusão com a câmara de condicionamento experi­
mental, conhecida com o “caixa de Skinner” . Essa confusão foi explorada por anos
por detratores que acusavam Skinner de levar a cabo experimentos com sua própria
filha. Essa história é suficiente para demonstrar que tal acusação era equivocada, pois
a motivação de Skinner ao construir o air crib não era montar um experimento, mas

GROUPS
apenas cum prir o desejo legítimo de sua esposa por cuidados infantis mais fáceis.
Alguns pais adotaram o invento para suas próprias crianças, mas ele nunca se
tornou de fato popular. Teve um período de sucesso renovado - moderado, pois
apenas poucas centenas de unidades foram vendidas - entre 1957 e 1967, quando eles
foram produzidos por uma pequena empresa. Ocasionalmente, um ex-“ bebê criado
pela caixa” estaria numa audiência de Skinner e viria até ele com um feliz sorriso
ao final da conferência. Trinta anos depois da experiência pioneira com Deborah
Skinner, um psicólogo alemão publicou resultados sobre os benefícios psicológicos e
fisiológicos de se criarem bebês em ambientes semelhantes, para a satisfação de Skin­
ner.47 Isso talvez não tenha compensado os rumores difamatórios que perduraram

46 N . T \ :" a ir crib” .
47 Descrito em A matter o f consequentes (S k in n er. 1083. p. 385-386).

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B. F.S k in n e r : i m a p e r sp e c t iv e e i r o p e u

por anos sobre o terrível tratamento imposto pelo psicólogo de Harvard à sua pobre
e indefesa filha, e sobre as terríveis consequências que isso teria sobre ela. Se houve, de
fato, terríveis consequências, foram apenas aquelas dos ataques hostis, indiretamente
direcionados às ideias de seu pai. Ele sumariza, nas últimas páginas de sua autobio­
grafia, de uma forma eufêmica, a história de 40 anos de ataques mal direcionados e
fofocas caluniosas:

Deborah sobreviveu aos rumores a respeito dela. Quando um


distinto crítico inglês disse a Harry Levin que lamentava ter
ouvido que ela tinha cometido suicídio, Harry replicou: “ Bem,
quando ela fez isso? Eu escava nadando com ela ontem7’, Um
conhecido psiquiatra contou a Eunice Shriver que a criança
que nós “criamos em uma caixa” tinha se tornado psicótica;

INDEX
ele se desculpou de forma abjeta quando escrevi perguntando
onde ele tinha ouvido aquela história. Mais tarde foi dito que
Deborah estava me processando. Algumas vezes esses rumores
eram alimentados por psicólogos clínicos que achavam útil
criticar a terapia comportamental. Certa noite, quando já es­
tava sonolento, o telefone tocou e um jovem homem disse:
“ Professor Skinner, é verdade que o senhor manteve uma de

BOOKS
suas filhas numa jaula?” . Possivelmente por causa do baby-
-tender e dos rumores sobre ele eu fora muito solícito.

D eborah Skinner é agora um a artista em Londres, casada com um professor


de economia e estava até a morte de seu pai em relações tão harmoniosas quanto
podem ser. N ão haveria tanto interesse a respeito dela se seu pai não tivesse incom o­
dado a tantos.

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A HUMANIDADE TEM UM FUTURO?
As críticas de Skinner sobre educação e os tratamentos psicológicos eram apenas
parte de um problema mais amplo que já tinha chamado sua atenção em Ciência e
comportamento humano e em Walden Two\ a sociedade moderna com o um todo está
tomando o cam inho errado porque as soluções apropriadas aos problemas não estão
sendo aplicadas, embora já estejam disponíveis em alguns casos. Aproximadamente
metade de seus textos dos últimos 30 anos de sua carreira foi dedicada a essa questão.
Ele acreditou ser importante formular suas visões para os leigos em Beyondfreedom

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and dignity^ e continuou a alertar seus colegas em seus mais recentes artigos. Seu
livro de 1987, Uponjurther reflection,49 é aberto com um capítulo intitulado “ Por que
não estamos agindo para salvar o mundo?” .
A mensagem de Skinner não é daquelas que as pessoas aceitam facilmente. Ela
fere muitos valores já estabelecidos, muitos hábitos profundam ente enraizados. Para
os problemas ameaçadores atualmente enfrentados pela humanidade - a poluição
da biosfera, o crescimento demográfico descontrolado, a crescente discrepância de
riqueza entre as nações, a conduta crescentemente agressiva entre as nações e den­
tro delas mesmas, 0 esgotamento de recursos, o uso de armas nucleares Skinner
sugere soluções que diferem daquelas frequentemente ouvidas e populares. Ele não
apela para a rejeição da ciência ou ao retorno nostálgico a um idílico m odo de vida
pré-científico: ao contrário, ele defende que coloquemos para funcionar o que já
sabemos de fontes científicas sobre o com portam ento hum ano, com o pusemos para

INDEX
funcionar, com sucesso, nosso conhecimento científico nas questões físicas e médi­
cas. Ele também não apela para nenhum tipo de renascimento espiritual, ou para
uma cruzada da mente contra as forças do mal: o principal erro, e que impede qual­
quer progresso em direção a soluções, é a concepção que os humanos possuem sobre
sua própria natureza, baseada numa crença ilusória de liberdade e soberania. Se os
homens não abandonam essa ilusão e não assumem uma visão mais realista de seu
lugar no universo, a hum anidade pode caminhar em direção ao desastre. O perigo

BOOKS
não é m enor do que se a hum anidade se recusasse obstinadamente a reconhecer sua
dependência do meio biológico, e a consequente necessidade de preservá-lo. D e cer­
to modo, o perigo é maior, pois nossos esforços para preservar nossa biosfera estão
fadados ao fracasso se não começarmos a encontrar caminhos para implementá-los
no com portam ento hum ano cotidiano.
Para aqueles que pensam que Skinner supersimpliftcou a psicologia, ignorar
seus avisos pode não ter nenhum a consequência, porque tomá-los a sério poderia

GROUPS
apenas levar a uma piora da situação. M as quem sabe? Ele poderia estar certo e,
um dia> poderia ser tarde demais para dizer. As vezes, as resistências às propostas
de Skinner me fazem lembrar da atitude dos profissionais médicos quando Lister
insistiu que os médicos e cirurgiões deveriam lavar as mãos cuidadosamente antes de
atender seus pacientes e antes de ir de um paciente ao outro, porque ele pensava que
era uma fonte de infecção. Soava com o algo tão simples e não merecedor de atenção
dos médicos. Felizmente, a mensagem finalmente foi aceita e a prática foi adotada.
A q u e stã o é m u ito sé ria p a ra ser tra tad a c o m in su lto s p a ssio n a is. N ã o p o d e ser
d e sca rta d a c o m a a cu sa ç ã o d e q u e S k in n e r d e s u m a n iz o u a h u m a n id a d e . T a lv e z ele

48 Id. (1971a).

49 Id- (1987b).

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B. F. S kinner:uma perspectiva eiropeia

tenha apenas colocado a hum anidade em seu lugar correto, após Galileu, Darwin
e Freudj e, ao fazer isso, contribuiu para lhe fornecer sua verdadeira humanidade.

INDEX
BOOKS
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L
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3
A CAIXA DE SKINNER: UM NOVO MICROSCÓPIO
PARA A PSICOLOGIA

Uma grande contribuição para a s t é c n ic a s de laboratório

O que quer que permaneça da teoria de Skinner e de sua filosofia social, é pro­
vável que os psicólogos experimentais continuem a utilizar a técnica de laboratório

INDEX
que veio a ser chamada de caixa de Skinner, apesar da insistência de seu inventor em
nomeá-la “câmara de condicionamento operante” . C om o este livro não é direcio­
nado a especialistas em psicologia experimental, não descreveremos em detalhes as
propriedades daquele procedimento e a variedade de problemas que ele tornou aces­
sível. E essencial, todavia, se o leitor quiser avaliar corretamente o lugar de Skinner
na psicologia do século X X , que ele tenha ao menos um entendimento intuitivo do
que trata a caixa de Skinner e do tipo de dado empírico que ela é capaz de fornecer.

BOOKS
Procedimentos experimentais e de observação são elementos importantes para o
progresso de qualquer ciência; a história das ciências naturais foi condicionada, en­
tre outras coisas, pelos progressos na ampliação do poder do olho hum ano, primeiro
recorrendo a simples lentes de aum ento, posteriormente melhoradas no mecanismo
óptico do microscópio, então substituído por microscópios eletrônicos muito mais
poderosos. N o passado, a psicologia teve sua própria série de avanços técnicos, que
provaram ser mais decisivos em gerar grandes descobertas do que grandes volumes

GROUPS
de teoria. A psicologia cognitiva contemporânea, por exemplo, faz amplo uso da
chamada técnica de “cronometria m ental” , que é uma aplicação da medida do tem­
po de reação - um dos mais antigos fenômenos estudados pelos psicólogos científi­
cos do século X I X —já sugerido em 1869 pelo psicólogo holandês D onders.50
D e form a similar, a caixa de Skinner não é apenas um pedaço de equipamento
desenhado e amplam ente utilizado para o estudo do comportamento adquirido em
animais; ela foi utilizada para estudar, com uma eficiência sem precedentes, uma
série de outros aspectos do com portam ento em vários contextos, que serão agora
ilustrados por meio de exemplos típicos. Um a questão clássica na história da ciência
é se os procedimentos de pesquisa podem ser descritos e analisados independente­
mente das elaborações teóricas que estão geralmente vinculadas a eles. Obviam ente

50 Publicação original em holandês. Tradução de Donders (1969).

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não há uma resposta tudo ou nada para essa questão. O microscópio pode ser des­
crito por si mesmo, e não parece ser muito carregado de teoria. A caixa de Skinner é
sem duvida mais intimamente relacionada à anáiise de Skinner do comportamento
operante e à teoria geral que ele delineou a partir dele. (Outra questão interessante,
apesar de igualmente difícil, em cada caso particular, é o quanto a teoria estava
na origem do procedimento ou o quanto o procedimento modelou a teoria.) Não
precisaremos evitar misturar os dois níveis, o nível puramente técnico e o teórico,
ao descrever o procedimento, mas é claro, porém, que a caixa de Skinner adquiriu
sua própria independência enquanto técnica de laboratório utilizada por muitos
experimentadores ao redor do mundo com nenhum comprometimento, qualquer
que seja, com a teoria de Skinner.

INDEX
A CÂMARA DO COMPORTAMENTO OPERANTE
A caixa de Skinner é um dispositivo extremamente simples. Sua simplicidade
levou à conclusão errônea de que ela pode auxiliar apenas no estudo de aspectos
muito simples do comportamento. Ao contrário, dispositivos simples (bem como
conceitos simples) na ciência frequentemente parecem ter permitido maior acesso
a realidades complexas que dispositivos complicados. A ampla utilização da crono-

BOOKS
metria mental, citada anteriormente, na moderna psicologia cognitiva é outro caso
a ser apontado.
Uma típica caixa de Skinner é uma câmara cujas dimensões permitem ao ani­
mal algum espaço livre para caminhar - seu tamanho é, portanto, adaptado ao
tamanho da espécie utilizada. Ela é equipada com algum dispositivo de resposta,
tecnicamente chamado de manipulandum\ isto é, alguma parte de equipamento, tal
como uma barra, uma chave de plástico ou uma corrente, que o sujeito irá ativar.
O rato ou o gato pressionará a barra, o pombo bicará a chave, o macaco puxará a

GROUPS
corrente, etc. Geralmente, este simples gesto, ou mais corretamente o movimento
comunicado ao manipulandum, será convertido em sinal elétrico, facilmente regis­
trado e definido, em um dado experimento, como uma resposta. Além do dispositivo
de resposta, a caixa de Skinner inclui um dispositivo que libera algum estímulo
reforçador. O caso mais clássico é o dispensador de comida, que libera, sob controle
automático, uma bolinha de comida sob medida, que pode ser utilizada como o que
se chama de reforçador positivo; embora isso não equivalha exatamente à definição
precisa de reforçador positivo, para um observador leigo pareceria que um animal
faminto acharia a comida atrativa e trabalharia para obtê-la.
Aqui chegamos ao aspecto funcional da caixa de Skinner: isto é, a relação entre
a resposta e o reforçador, um aspecto que está de fato definindo o conceito de com­
portamento operante. O princípio de qualquer experimento com a caixa de Skinner

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é que o sujeito obterá um reforçador se, e apenas se, eíe em itiu uma resposta. Ele é,
necessariamente, um organismo ativo, que pode contar apenas consigo mesmo para
ser recompensado. Esse é o ponto principal, que geralmente é ignorado no uso leigo
da palavra condicionamento, que possui a conotação de com portam ento forçado.
Em seu prim eiro livro, The behavior o f organisms,5' Skinner deixou claro que estava
estudando o com portam ento espontâneo do organismo. Ele certamente não queria
dizer que seus ratos estavam exibindo uma vontade livre, mas que eles vieram para
a situação experimental com um conjunto de com portam entos potenciais que po­
deriam ser emitidos e levar à produção de uma resposta particular solicitada para
ser reforçada.
Skinner elaboraria melhor o problema das origens daquele conjunto de com ­
portamentos, com o veremos. U m ponto essencial, entretanto, que não pode ser
postergado se quisermos entender o processo básico do condicionamento operante,

INDEX
é o modo com o a resposta desejada finalmente emerge de um conjunto de com por­
tamentos “espontâneos” . N a prática experimental, a transição pode ser mais bem
observada na fase chamada de modelagem do operante. Em bora haja outros meios de
atingir o mesmo objetivo, é geralmente conveniente para o experimentador intervir
manualmente controlando o reforçamento enquanto observa seu sujeito. A menos
que o sujeito permaneça dorm indo ou se mantenha prostrado em um canto da
câmara - casos em que não há esperança alguma de se obter a resposta ele irá se

BOOKS
movim entar e emitir várias amostras de seu repertório com portam ental. A o fazer
isso, ele estará algumas vezes mais próxim o do manipulandum que outras. O experi­
mentador se certificará de que a bolinha de com ida é liberada precisamente naqueles
momentos. Logo, irá observar que o animal tenderá a ficar mais próxim o da chave
ou da barra mais frequentemente. Ele progressivamente restringirá as condições para
fornecer a bolinha, até o ponto em que a resposta final será em itida normalmente.
O que aconteceu foi reforçamento seletivo, pelo experimentador, de unidades de

GROUPS
com portam ento, entre aquelas produzidas pelo sujeito, que ao final correspondem
à estrutura particular ou topografia do operante estabelecido. A seleção das unidades
apropriadas é claramente possível apenas porque os sujeitos exibem variações em seu
comportamento. Já podem os afirmar que a caixa de Skinner é um espaço experi­
mental (por conseguinte reconhecidamente construída de m odo artificial) no qual o
com portam ento é modelado e m antido por um processo de seleção entre variações.
C om o Skinner coloca, é o controle pelas consequências que pode ser com parado ao
processo que atua na evolução biológica. Com entarem os essa analogia em detalhes
mais à frente. Neste estágio, voltemos às características básicas da caixa de Skinner.

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C o ntingências e esc a la s

A relação básica entre a resposta operante e o reforçamento foi descrita ante­


riormente em sua forma mais simples: assumimos que, uma vez que a resposta foi
modelada, é reforçada cada vez que é emitida. Essa relação simples pode ser modifi­
cada em relações muito mais complexas. Essas relações atraíram a atenção de Skin­
ner desde cedo e foram extensivamente exploradas por muitos de seus seguidores.
A expressão contingências de reforçamento se refere aos vários tipos de relação entre
resposta e reforçamento, mais precisamente implementados nas chamadas escalas
de reforçamento. Não entraremos em suas complexidades em detalhes, mas alguns
poucos exemplos são necessários.
Um número fixo ou médio de respostas pode ser exigido antes de um reforça-
dor ser liberado, e a razão Respostas por Reforçador pode ser estendida a ponto de,

INDEX
em animais, desafiar o custo em termos de energia física e, em humanos, ocasional­
mente resultar em ruína. O comportamento de jogo compulsivo pode ser analisado
como resultado de uma Escala de Razão Variável, na qual o indivíduo é recompensa­
do intermitentemente depois de um número variável de respostas (as apostas), que
pode ser tão alto que o reforçador (isto é, ganhos ou retorno) nunca será de fato
alcançado. Em outros casos, os reforçadores estão disponíveis apenas depois de um
intervalo de tempo ter passado; o intervalo pode ser variável, portanto imprevisível,

BOOKS
ou pode ser fixo, tornando possível um padrão periódico de comportamento, que
será descrito de forma mais completa a seguir. Escalas e contingências diferentes
podem atuar simultaneamente, envolvendo sistemas motivacionais diferentes, ou
possibilitando comparações entre diferentes tipos de combinações custo-benefício.
Quatro classes principais de contingências são tradicionalmente diferenciadas e
são mais bem apresentadas em uma matriz dois por dois, como segue:

GROUPS
Tabela 3.1 Uma matriz dois por dois que resume as categorias básicas das contingências de
reforçamento.

N a dimensão horizontal, a consequência da resposta R, seja a apresentação de


algum estímulo (Sr), seja ele atrativo ou aversivo, ou a não apresentação de um (es­
perado) estímulo (ou a supressão de um estímulo já presente). Na dimensão vertical,
o efeito da relação descrita acima sobre a resposta, cuja probabilidade p(R) pode
aumentar ou diminuir. Ver texto para exemplos.

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É fácil ilustrar cada caixinha da matriz com um exemplo concreto do cotidiano


do ser humano. As então chamadas contingências de reforçamento positivo já foram
explicadas: elas envolvem a apresentação de algum evento, digamos, comida, como
uma consequência da resposta, que resulta num aumento da probabilidade daquela
resposta ser emitida: um a boa com ida nos encorajará a retornar ao restaurante.
(Na linguagem cotidiana, alguém provavelmente diria que o evento reforçador é
atrativo, ou agradável, mas essa não é uma propriedade essencial na visão do espe­
cialista.) Reforçam ento negativo se refere às contingências nas quais o térm ino ou a
não apresentação de um evento após uma resposta ser em itida resulta no aumento
da probabilidade da resposta (tal evento seria classificado, de form a plausível, como
aversivo de um ponto de vista subjetivo). Por exemplo, muitos motoristas respeitam
os limites de velocidade não porque eles não gostam de dirigir rápido, o que de fato
fazem, mas porque é um modo de evitar ser multado. Contingências de punição

INDEX
envolvem a apresentação de algum evento “aversivo” depois de uma determinada
resposta, com a consequência de que a resposta será em itida menos frequentemen­
te, ao menos enquanto as contingências estão atuando: pesadas multas ocasionais
reduziram o dirigir em alta velocidade em muitos motoristas. Por fim, omissões, ou
não recompensas frustrantes, com o elas foram chamadas algumas vezes,51 referem-
-se às contingências nas quais um reforçador “atrativo” liberado anteriormente não
é mais fornecido depois de uma resposta, resultando na extinção dessa última: um

BOOKS
declínio na qualidade da com ida reduzirá nossas visitas a um restaurante previa­
mente apreciado. Apesar de aparentemente técnicas, essas definições auxiliarão em
discussões futuras.

Um modelo estím u lo - r esp o st a se m nenhum estím u lo

GROUPS
Um a importante característica do procedimento operante, com o delineado
por Skinner, é a escolha de uma unidade m uito simples de com portam ento, geral­
mente uma pequena e bem especificada ação motora. Os dados correspondentes
registrados em um experimento típico são as respostas distribuídas no tempo, com
a taxa do responder, isto é, a medida do número de respostas por unidade de tem­
po, com o a expressão preferida utilizada no tratamento dos resultados. N ão há
dúvidas de que a escolha da taxa foi feita às custas da estrutura das respostas, que
Skinner de fato negligenciou, com argumentos que não sobreviveram a algumas
das críticas formuladas pelos experimentadores inclinados à etologia. D esenvol­
vimentos posteriores mostraram que o estudo da taxa e da estrutura do responder
são complementares (ver capítulo 6). Isso não pode esconder o fato de que a taxa

51 Essa denom inação foi proposta por G ray (197s).

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provou ser uma m edida m uito eficiente para m uitos propósitos, e que m uitos dados
em piricam ente válidos foram coletados e repetidamente confirmados utilizando-se
o procedim ento sim plificado proposto por Skinner.
O leitor perceberá que, até agora, não utilizamos a palavra estímulo, que pare­
ceria ser um ingrediente especial se, como é frequentemente reivindicado, Skinner
fosse de fato um psicólogo Estím ulo-Resposta. N a verdade, mudar de uma escala
para outra, im plicando apenas uma relação diferente entre resposta e reforçamento,
sem qualquer estímulo ser introduzido, produzirá outro padrão de taxa de respostas,
algumas vezes completamente diferente. Tal contraste pode ser observado em um
caso simples, mas bastante impressionante, entre um esquema no qual o reforça­
mento é liberado após um número fixo de respostas e um esquema no qual ele está
disponível apenas após a passagem de um intervalo de tempo: a primeira escala
gera constante atividade - tipicamente em alta taxa - enquanto a segunda induz

INDEX
uma alternância periódica entre pausas e fases de responder, refletindo o controle da
variável tempo. A Figura 3.1 ilustra a comparação, utilizando o tradicional registro
cumulativo popularizado por Skinner.

BOOKS
GROUPS
F ig u ra 3 .1 Dois padrões distintos de comportamento, sob diferentes esquemas de reforça­
mento, sem qualquer mudança em estímulos externos. Em A, uma curva cumulativa indi­
vidual de respostas, obtida sob uma escala de Razão Fixa, na qual 40 pressões à barra eram
exigidas para um reforçamento (pequena quantidade de comida); em B, uma curva obtida
em uma escala de Intervalo Fixo, com periodicidade de 5 minutos para a disponibilidade
do reforçamento. Abscissa: tempo, i.e., duração da sessão, uma hora; ordenada: respostas

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acumuladas (o registro zera a cada 500 respostas). Deflexão oblíqua no registro cumulativo
mostra os reforçamentos. Na linha horizontal na parte inferior de B, indica-se a disponi­
bilidade do reforçamento, que não é disponibilizado até que uma resposta seja emitida.
Registros cumulativos, feitos em tempo real durante o experimento, são fáceis de ler: quanto
mais respostas por unidade de tempo (em outras palavras, quanto mais alta a taxa de respos­
tas), mais íngreme a inclinação; períodos sem nenhuma resposta produzem seções planas na
curva, como em B após cada reforçamento, onde pausas regulares revelam ajuste refinado ao
intervalo de tempo. Os sujeitos eram gatos.

E claro que estímulos de todos os tipos podem ser introduzidos e ganhar con­
trole sobre o responder. Todavia, eles na realidade náo causam comportamento:
apenas definem as ocasiões nas quais as respostas serão reforçadas. Seu papel será
facilmente compreendido a partir de alguns exemplos abaixo. Eles foram seleciona­

INDEX
dos a partir de centenas de possíveis ilustrações do uso de técnicas operantes, apenas
para mostrar a variedade dos problemas com os quais se lidou, não necessariamente
o próprio Skinner, mas os pesquisadores dos mais variados campos.

D iscrim inação : do estím u lo externo para o s estad o s in tern o s

BOOKS
O controle de estímulos entra em cena quando um organismo precisa dizer a
diferença entre dois eventos externos, por exemplo, as cores das luzes do semáforo.
Isso é facilmente alcançado quando se exige uma resposta a uma cor (parar no sinal
vermelho) e nenhum a resposta ao verde (manter-se movendo), ou quando se exige
uma resposta diferente para cada cor. Os animais podem ser treinados para fazer
tais discriminações táo bem quanto os humanos. Pavlov já obtivera tal resultado
utilizando seu próprio procedimento, mas nunca se aproxim ou da exatidão que se
tornou rotina com as técnicas operantes. Isso se deve essencialmente a um alto nível

GROUPS
de automatização que agora é regra: Skinner desenvolveu instrumentos eletromecâ-
nicos geniais que assegurariam o controle automático completo do experimento; o
com putador os substituiu e aperfeiçoou o controle on-line, incluindo o tratamento
imediato dos resultados, mesmo aqueles de natureza complexa. Um a resposta m o­
tora discreta, como o bicar o disco, é, claro, muito mais fácil de ser colocada sob
controle automático do que o é a salivaçáo estudada por Pavlov.
Discrim inação sensorial é a base dos estudos psicofísicos. A psicofísica está pri­
meiramente preocupada em determinar que parte do mundo físico um organismo
está apto para perceber - por exemplo, quais ondas acústicas produzem o escutar -
ao localizar os limites, ou os limiares absolutos sob os quais, e certamente além dos
quais, náo há qualquer “sensação” . Além disso, trata do poder de resolução dentro
desses limites, e, com esse fim, os chamados limiares diferenciais são medidos. Essa

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parte da psicologia teve um desenvolvimento inicial no século X IX , e teve numero­


sas aplicações práticas, por exemplo, no diagnóstico de déficits sensoriais.
Em humanos, um experimento psicofísico clássico é implementado instruin­
do-se o sujeito a dar um sinal quando perceber um estímulo, ou quando ele puder
dizer a diferença entre dois estímulos próximos. Pensou-se, por anos, que estudos
equivalentes não poderiam ser feitos com animais, porque a eles não poderiam ser
fornecidas instruções verbais sobre o que o experimentador queria que fizessem. O
grande fisiologista francês Claude Bernard, que foi um forte defensor do método
experimental, admitiria que ele possui algumas limitações, e deu com o exemplo a
impossibilidade óbvia de se abordar experimentalmente o mundo interno das sensa­
ções animais. Estudantes de com portam ento mostraram que ele estava equivocado,
mas isso não se deu até que os procedimentos operantes estivessem disponíveis,
quando os dados sobre as sensações animais puderam ser coletados com o mesmo

INDEX
grau de rigor que em humanos.
No seguinte exemplo, retirado de M aurissen,53 limiares absolutos à estimulação
tátil foram determinados em um macaco, utilizando um sofisticado vibrador como
fonte de estímulo e um refinado procedimento operante. Assim como para vibrações
de ar que produzem sensações auditivas, a frequência (ou o número de ciclos por
segundo) de vibrações mecânicas pode ser modificada, bem como sua amplitude.
Receptores táteis detectam melhor algumas frequências que outras: a sensibilidade é

BOOKS
mais alta, correspondendo ao limiar mais baixo, por volta de ioocps. N a Figura 3.2,
os resultados de um macaco experimental, testado duas vezes para checar a confiabi­
lidade da medida, são apresentados, juntamente com os limiares obtidos, utilizando
a mesma técnica, com um sujeito humano. Esses resultados não são apenas precisos e
confiáveis, mas eles são comparáveis aos dados com humanos, o que permite o uso de
animais experimentais para explorar os efeitos (como aqueles dos agentes tóxicos) que
dificilmente podem ser estudados em humanos. O mesmo autor descreve a alteração
dos limiares de vibração de acordo com a administração de uma substância que au­

GROUPS
menta a eficácia da radioterapia. Isso indica um efeito colateral neurotóxico da droga.
Psicofarmacologistas deram um passo além na exploração do mundo interno
dos animais. Eles treinaram sujeitos animais em tarefas de discriminação envolven­
do estados internos presumivelmente diferentes induzidos por drogas psicotrópicas.
Com postos utilizados para reduzir ansiedade, depressão ou outras condições psicoló­
gicas desprazerosas deveriam, essa era a esperança, produzir mudanças nos com porta­
mentos observáveis do paciente e em seus sentimentos subjetivos sobre si mesmo. Foi
oferecida aos ratos uma escolha entre duas barras que eles poderiam pressionar, cada
uma delas associada a uma droga diferente, ou a uma droga em oposição a uma solu­
ção salina —droga(s) e/ou solução salina sendo injetada antes do experimento. Eram

M aurissen (1979).

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to m ad as p re ca u çõ e s, c o m o de c o s tu m e , p a ra se ce rtifica r de q u e a e sco lh a co rre ta n ão


fora feita ao acaso ; isto é fa c ilm e n te a lca n ça d o ao se e x ig ir u m n ú m e ro de respostas,
ao in vés de ap en as u m a , o q u e m o stra q u e o su je ito n ã o está ace rta n d o a b arra co rreta
p o r acaso , m as re a lm e n te “ d e c id iu ” (c o m o o s co g n itiv ista s d iria m ) ativ á-la. F o i m o s ­
trad o , p o r d ive rso s e x p e rim e n ta d o re s ,54 q u e os a n im a is são capazes de d isc rim in a r
n áo ap en as en tre classes d e d ro g as c la ra m e n te o p o stas, c o m o tran q u ilizan te s versus
e stim u la n te s, m as, d e u m a fo r m a m ais su til, en tre c o m p o sto s q u im ic a m e n te p r ó x i­
m os d e n tro de u m a m e sm a classe. U m e x e m p lo sim p le s, re tirad o d e u m estu d o de
H ir s c h h o rn 55 é ap re se n tad o n a F ig u ra 3.3. E le ilu stra o d e se n v o lv im e n to p ro g re ssiv o
de u m a d isc rim in a ç ã o e n tre u m a in jeç ã o de so lu ç ã o salin a p re su m iv e lm e n te n e u tra
e u m a d e m o r fin a e a gen e ralização d a m o r fin a p a ra o u tr o n a rc ó tic o an alg ésico , m e-
ta d o n a , a lg u m a s vezes u tiliz a d a c o m o d ro g a de tran sição n o tra ta m e n to d a ad ição.

INDEX
BOOKS
GROUPS Frequências (Hz)

F ig u ra 3 .2 Limiares absolutos a estímulo vibratório táril obtidos de um macaco (Mi & M2;
duas sessões de medida diferentes) e de um humano (H). Abscissa: frequência de vibração em
ciclos por segundo (Hertz); ordenada: amplitude da onda vibratória, em mícrons (de pico a
pico); ambas as escalas em unidades logarítmicas. O método de condicionamento operante
proporciona resultados a partir de animais que se equiparam àqueles tradicionalmente ob­
tidos com humanos, com métodos psicofísicos clássicos que utilizam instruções verbais.5*

54 Ver Colpaerc & Slangen (1982) e Glennon, Järbe & Frankenheim ([991).
55 Hirschhorn (1978).
Adaptada de M aurissen (1979}.

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BOOKS
GROUPS
F ig u ra 3.3 Explorando o mundo subjetivo dos animais. Gráfico superior: ratos foram trei­
nados a discriminar entre dois estados internos após uma injeção de morfina e uma injeção
de solução salina. Pontos sucessivos nas duas curvas mostram a porcentagem de respostas
(ordenadas) na barra “correta” , que é reforçada quando a morfina foi injetada, ao longo de
uma série de 40 sessóes (4 por bloco, na abscissa). Pode-se ver que, inicialmente, os sujeitos
no treino confundiam os dois estados internos, mas eies rapidamente aprenderam a discri­
minar entre eles. Gráfico inferior: generalizando estados mentais induzidos por drogas muito

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semelhantes. Ratos treinados, como descrito acima, para discriminar entre morfina e solução
salina foram expostos a testes com metadona ou meperidina, dois compostos semelhantes à
morfina. Eles generalizaram sua discriminação a essas drogas. Como se pode ver na relação
resposta-droga, a discriminação é uma função da dose administrada.57

A dição experim ental à droga

O m o d e lo d o c o n d ic io n a m e n to o p e ra n te p ro v o u ser m u ito e ficie n te e m testar


p ro p rie d a d e s a d itiv a s p o te n c ia is d e d ro g a s. A d e p e n d ê n c ia d a d ro g a p o d e ser c o m -
p o r ta m e n ta lm e n te d e fin id a c o m o u m a fo rte te n d ê n c ia p a ra a g ir d e m o d o a c o n se ­
g u ir a d r o g a , a q u a l se p o d e d izer q u e p o s su i p ro p rie d a d e s re fo rç a d o ra s. N o in ício
d os an o s i9 6 0 , e x p e rim e n ta d o re s o fe re c e ra m a rato s a p o s sib ilid a d e d e a d m in is tra r

INDEX
m o r fin a a si m e sm o s ao p re ssio n a r a b a rra . A d ro g a era lib e ra d a a u to m a tic a m e n te
p o r m e io d e u m ca te te r v e n o so in tro d u z id o c iru rg ic a m e n te , d e m o d o q u e e la c airia
d ire ta m e n te n a c o rre n te s a n g u ín e a . A F ig u ra 3 .4 m o s tra tal p re p a ra ç ã o e os re su lta­
d o s típ ic o s q u e fo ra m a m p la m e n te re p ro d u z id o s. A u tilid a d e p rá tic a d a té c n ic a p ara
d e te cta r p ro p rie d a d e s a d itiv a s d e n o v o s c o m p o s to s é ó b v ia .
A b a ix o , a d iç ã o d e c o c a ín a e m u m rato . E s q u e r d a : respostas e m itid a s e m u m a
sessão d e u m a h o r a (o rd e n a d a ) c o m o fu n ç ã o d o n ú m e r o d e resp o stas e x ig id a s p a ra

BOOKS
u m re fo rç a m e n to (1 m g d e c o c a ín a p o r k g d e p e so c o rp o ra l) e m u m e sq u e m a de
R a z ã o F ix a (ab scissa). D ir e ita : n ú m e ro c o rre s p o n d e n te de in fu sõ e s d e d ro g a p o r
h o ra . O rato a g iu d e m o d o a o b te r a m e s m a q u a n tid a d e to ta l d e c o c a ín a , a ju sta n d o
seu output d e re sp o sta c o n fo r m e e x ig id o p e la e sca la d e re fo rç a m e n to .58
O u t r a d e s c o b e rta d ire ta m e n te re la c io n a d a ao s p ro c e d im e n to s o p e ra n te s, d o
in íc io d o s a n o s 19 5 0 , é c h a m a d a a u to e s tim u la ç ã o in tra c e re b ra l.59 R a to s, e m a is tard e
ou tras e sp écie s, tra b a lh a ra m d u r o , isto é , e m itia m m u ita s resp ostas se a c o n s e q u ê n ­
c ia fo sse u m a e stim u la ç ã o e lé tric a e m a lg u m a s áreas d e seu c é reb ro . E ste fe n ô m e n o

GROUPS
fo i a fo n te d e im p o rta n te s d e s e n v o lv im e n to s n a p s ic o fis io lo g ia d o s siste m as m o ti-
v a c io n a is - u m re su lta d o de c e n a fo r m a ir ô n ic o , se n o s le m b ra rm o s q u e S k in n e r
fo i m u ita s vezes a c u sa d o d e te r s u b stitu íd o a riq u e z a das m o tiv a ç õ e s in te rn a s p e lo
c o n c e ito m e c â n ic o d e re fo rç a m e n to .

57 Redesenhado conform e Hirschhorn (1978).


58 C onform e Pickens Sc Thom pson (1968).
59 O lds & M üner (1954).

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BOOKS
F ig u ra 3 .4 Testando propriedades aditivas de drogas. Acima, um desenho mostrando o
dispositivo para o estudo da autoadministração de drogas em animais. Pressionar a barra

GROUPS
produz, sob determinada escala de reforçamento, uma dose definida da droga, liberada de
uma seringa automática por meio de um cateter intravenoso fixado cirurgicamente.60

M ais fundo no mundo interno a n im al

Procedimentos operantes também foram utilizados em estudos daquilo que se


chama hoje de cognição animal. Abordagens cognitivistas atuais enfatizam o estudo
das representações e processo mentais. Um a grande parte da pesquisa cognitiva tem

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a ver com humanos, e a psicologia cognitiva provavelmente deve parte de seu suces­
so ao seu foco na mente humana. A singularidade da espécie humana, entretanto,
não pode nunca ser tida com o garantida, a menos que os animais tenham sido
testados para processos com desempenho possivelmente semelhante. Portanto, a
cognição animal atraiu muitos experimentadores, fascinados pela capacidade dos
animais de form ar conceitos, de manipular objetos simbólicos, de resolver proble­
mas - mesmo de natureza lógica ao invés de prática de processar representações
mentais ou de aprender alguns rudimentos de linguagem. Estudos que buscavam
ensinar linguagem a chimpanzés, realizados nos anos 1960 e 1970, fizeram uso do
procedimento operante; o mais típico a esse respeito foi a pesquisa de Rum baughs
com Lana, na qual um tipo de código hieroglífico foi ensinado em um ambiente
interativo controlado. A questão de se os animais possuem imagens ou representa­
ções mentais —o que quer que isso signifique exatamente - há muito tem sido uma

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questão de debate. E se eles possuírem, quais seriam as similaridades e diferenças
com aqueles fenômenos com o inferidos em humanos permanece com o uma questão
intrigante. Nós todos experimentamos pós-efeitos visuais, uma percepção de algo
que obviamente não está presente como tal no mundo exterior após a fixação de um
certo estímulo. Por exemplo, depois de olhar para um quadrado vermelho em uma
tela branca, nós enxergamos um quadrado verde (cor complementar) por um tempo
após o estímulo vermelho ter desaparecido. Este é um caso muito simples de ver na

BOOKS
ausência de um estímulo, apesar de ele depender de uma estimulação imediatamen­
te precedente e de processos periféricos.
Esse tipo de imagem é facilmente evidenciada em animais, com o no seguinte
experimento.6' Pombos eram reforçados por bicar o disco na presença de um estímu­
lo verde. Foram então testados na presença de estímulos vermelhos ou amarelos, ou
na presença de um estímulo branco que seguia imediatamente um vermelho, verde
ou amarelo. Se os pombos tivessem pós-imagens coloridas, com o nós temos, essas

GROUPS
pós-imagens deveriam ocorrer, naquela situação, quando o branco é apresentado
após o vermelho, e não deveria ocorrer em todos os outros casos. E foi exatamente o
que se observou: o responder na presença do branco-pós-vermelho (presumivelmen­
te durante uma pós-imagem verde) foi significativamente mais alto.
Pós-imagens, todavia, têm grandes chances de serem confundidas com imagens
mentais que foram estudadas em detalhes pelos psicólogos cognitivistas. Estas não
são apenas pós-efeitos periféricos, mas representações sobre as quais se diz que o
sujeito opera internamente.

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INDEX
F ig u ra 3.5 Amostras de estímulos utilizados por Shephard no estudo de rotação mental.61

Shephard é conhecido por seus elegantes experimentos sobre rotação mental


em hum anos.61 O princípio consiste em apresentar a sujeitos humanos estímulos,
com o aqueles reproduzidos na Figura 3.5, A , e solicitar-lhes que decidam se um

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estímulo comparação, por exemplo, B ou C , é o mesmo, apresentado em uma
orientação espacial diferente, ou se é diferente. Usando a m edida clássica do Tem ­
po de Reação com o um indicador dos processos mentais em atuação, Shephard
demonstrou que o tempo antes da decisão varia em função do ângulo de rotação,
quer dizer, 0 tamanho, em graus de arco, da modificação imposta a A para fazê-lo
aparecer como B. Isso é tom ado com o evidência de que os sujeitos hum anos ope­
ram sobre representações mentais de form a semelhante com o operam sobre objetos

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diretamente percebidos.64 Isso deve ser considerado processo cognitivo superior,
específico de humanos? Resultados obtidos com pombos testemunham 0 contrário.
N o laboratório de D elius, na Alemanha, pom bos foram submetidos a uma tarefa
similar à do teste de rotação mental de Shephard;65 seu desempenho foi melhor
que o dos humanos (Figura 3.6). Este é apenas mais um exemplo da eficiência
dos procedimentos do laboratório animal delineados por Skinner para responder
a questões criadas para a especificidade hum ana das atividades cognitivas ampla­
mente exploradas pela psicologia contemporânea, mostrando a contribuição dos

62 Shephard & C ooper (1981).


6} Id. ibid.
64 Os resultados de Shephard também foram a ocasião para um debate entre duas interpretações opostas, preposicional ivrsus
icônica, dos mecanismos envolvidos; um debate que não precisa nos tomar agora.
65 H ollard & Delius (1981).

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procedimentos para importantes questões de psicologia comparativa e, portanto,


também da psicologia geral.

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Figura 3 .6 Rotação de imagens mentais em pombos. Superior, à esquerda: desenho do dis­
positivo experimental mostrando um pombo na câmara de condicionamento, que é equipada
com um dispensador de comida e três discos de resposta nos quais os estímulos podem ser
projetados a partir de um projetor posicionado atrás (A). Um computador (B) controla a

BOOKS
apresentação dos estímulos e todas as outras operações experimentais. Inferior, à esquerda:
amostras de estímulos utilizados, em posição normal e após uma rotação de 45o ou 180o, como
submetidos para reconhecimento de similaridade ou diferença. A direita: resultados compa­
rados entre pombos (P) e humanos (H), expressos em Tempo de Reação (ordenada) como
função do ângulo de rotação.“

GROUPS
R elógios in ter n o s

C om o um último exemplo, vamos entrar num campo que progrediu imensa­


mente desde o desenvolvimento das técnicas operantes, a psicologia do tempo. A
adaptação dos organismos vivos ao tempo e, especificamente, a eventos periódicos
tem sido observada há séculos, mas o estudo científico desses fenômenos, sob o rótu­
lo de cronobiologia, lentamente ganhou reconhecimento. Os ritmos circadianos do
nosso corpo são agora familiares a todos nós: muitos de nós tiveram a oportunidade
de experimentar seus rompimentos por causa de viagens de avião ou de mudanças de
turno de trabalho. A capacidade do organismo de se ajustar ao tempo, porém, não
é limitada aos sincronizadores naturais, com o a alternância entre dia e noite: ela é,

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B. F. S kihvek: im a perspectiva ei . ropeia

de fato, excessivamente flexível e se estende a quaisquer regularidades temporais que


possam ocorrer no seu ambiente e à discriminação refinada da duração dos eventos
externos bem como das atividades do próprio organismo.
Em bora ela seja intuitivamente conhecida da experiência humana, essa capa­
cidade de lidar com o tempo foi muito pouco explorada, com exceção de poucos
estudos clássicos com humanos de estimativa do tempo, que foram contaminados,
infelizmente, pelo uso que os sujeitos inevitavelmente fazem de recursos cronométri-
cos - por exemplo, não podiam impedir que contassem silenciosamente ao estimar
a duração em segundos. Anim ais estão presumivelmente livres de tais transferências
tecnológicas — embora eles recorram a truques de certa form a semelhantes, como
agora nós sabemos - e são, portanto, sujeitos melhores para se estudar processos
básicos de regulações temporais do comportamento.
Apesar de alguns experimentos pioneiros no laboratório de Pavlov, faltavam

INDEX
ferramentas eficientes para tal estudo, infelizmente, até que procedimentos operan­
tes fossem desenvolvidos, e sua automatização melhorada. O próprio Skinner estava
interessado no efeito de uma de suas escalas de reforçamento, na qual a com ida es­
tava disponível de acordo com uma periodicidade fixa, com o descrevemos anterior­
mente. Ele descreveu em detalhes, em seu primeiro livro,67 como o responder de um
rato é determinado pelo evento reforçador periódico, produzindo uma alternância
de períodos de pausa e atividade, que pode ser vista como uma regulação temporal

BOOKS
espontânea,68 sendo que espontâneo aqui significa que não é exigido enquanto uma
condição para o reforçamento. Ele mais tarde descreveu contingências nas quais o
sujeito tem que ritmar as suas respostas para ser reforçado: neste caso, ele tem, de
fato, que estimar um atraso m ínim o implementado e, portanto, em seu próprio
com portam ento motor. Baseando-se nesse trabalho inicial, outros experimentadores
planejaram procedimentos progressivamente refinados, que permitem um acesso
preciso à capacidade de um animal de mensurar o tempo de sua própria atividade
ou de estimar a duração de estímulos externos. Espécies foram comparadas na busca

GROUPS
de se ordenarem as diferenças em relação à competência na estimativa do tempo.
Várias unidades de resposta foram testadas na mesma espécie ou no mesmo indiví­
duo com o objetivo de se checar a situação mais “ legítima da espécie” em relação à
competência de estimativa do tempo. Estudos sobre desenvolvimento foram imple­
mentados em sujeitos muito velhos ou muito novos. M odelos matemáticos foram
elaborados para explicar as peculiaridades das performances observadas e, em alguns
casos, eles foram comparados aos modelos aplicados aos ritmos biológicos. Relações

67 The behãvior o f organhms ( S k i n n e r , 1938), capítulo 4. intitulado “ Recondidonam ento periódico”.


68 Utilizamos a expressão regulações temporais, em francês règuhitians tempnrelles, de 1962, para nom ear ajustes comportam cntais
ao tempo e 2 duração, seja em relação a eventos externos, como na estimativa da duração de eventos externos, seja em relação jo
com portam ento do próprio sujeito, com o nos exemplos dados aqui. Para um a leitura mais aprofundada nessa área. ver Richelle
& Lejeune (1980).

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com os últimos foram exploradas, com a questão básica em mente: o relógio inter­
no é comum aos ritmos biológicos e às regulações temporais adquiridas? Huma­
nos e animais foram comparados, levando à descoberta de que o desenvolvimento
cognitivo e a linguagem trazem novas variáveis que mudam as propriedades das
regulações temporais. Por exemplo, enquanto as crianças se comportam de forma
muito semelhante aos animais sob contingências periódicas {a escala anteriormente
definida como Intervalo Fixo), aquelas crianças que já desenvolveram a linguagem e
os adultos exibem padrões diferentes, provavelmente baseados em sua interpretação
implícita da situação como exigindo um responder sustentado (que está errado, mas
que não reduz as chances de ser recompensado) ou se baseando em uma estimativa
correta do tempo, que os humanos geralmente alcançam ao recorrer a alguma con­
tagem mental ou outro dispositivo cronométrico.69
Estes são apenas exemplos selecionados de inúmeras aplicações das técnicas

INDEX
operantes nas mais variadas áreas de estudo do comportamento, como é praticado
hoje não apenas nos próprios laboratórios psicológicos, mas na pesquisa multidisci'
plinar que envolve aspectos comportamentais, juntamente com outras dimensões,
neurobiológica, farmacológica, toxicológica e assim por diante. A genialidade de
Skinner ao planejar um procedimento experimental honestamente para um “pro­
pósito genérico” deve ser reconhecida por causa da pesquisa multifacetada que ele
tornou possível.

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F ig u ra 3 .7 Performance e competência na estimativa do tempo. Quando obrigados a espaça­


rem suas respostas por um atraso de 10 ou 15 segundos, pombos mostraram uma estimativa

69 M uitas das questões aludidas aqui são discutidas em G ib bon & Allan (1984), M ichon & Jackson ({985), Blackm an &
Lejeune (1990) e Macar, Pouthas & Friedman (1992).

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do tempo muito pobre se a resposta era uma bicada no disco, mas eles foram muito melhores
quando a resposta era pressionar o pedal e ainda melhores se a resposta era subir no poleiro.
Os gráficos são construídos de modo a mostrar as frequências relativas de tempo entre respos­
tas em intervalos de tempo sucessivos, que sáo frações do atraso (na abscissa). A linha vertical
C indica o valor crítico, isto é, o tempo mínimo que o pássaro precisa esperar para que uma
resposta seja reforçada; não há nenhum limite superior neste caso. Uma boa estimativa do
tempo é evidenciada por uma grande proporção de tempos entre respostas se aproximando
ou ultrapassando o intervalo crítico. Os resultados são para um atraso crítico de 20 segundos,
mas distribuições muito similares foram obtidas, como a resposta de subir no poleiro, para
atrasos mais longos, acima de 60 e 70 segundos. O gráfico à esquerda é bimodal, com muicas
respostas sendo emitidas logo após a anterior.70

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70 Baseado em resultados de Lejeune em nosso laboratório.

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PARTE II

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S k in n e r e a t r a d iç ã o e u r o p e ia :
P a v l o v , F r e u d , L o r e n z e P ia g e t

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A HERANÇA AMBÍGUA DE PAVLOV

U ma in f e l iz e eq uivo cada nom eação

O uso do mesmo termo condicionamento para designar o fenômeno comporta-


mental envolvido no procedimento de Skinner e o tipo de associação descrita ante­

INDEX
riormente por Pavlov teve consequências infelizes. Na linguagem leiga, e algumas vezes
no uso que é feito pelos psicólogos, condicionamento evoca um tipo de aprendizagem
muito simples e mecânica, possivelmente vigente nas atividades elementares dos ani­
mais, mas de pouca importância nas ações humanas. Ademais, ele possui a conotação
de um controle forçado sobre o comportamento, o organismo se submetendo passi­
vamente à vontade do experimentador. Até mesmo se sente, com frequência, que o
condicionamento é um fenômeno artificial, criado a partir da manipulação perversa

BOOKS
do comportamento de animais por cientistas em seu laboratório, mas com pouca ou
nenhuma relevância para a vida real. Tudo isso é igualmente aplicado ao condiciona­
mento pavloviano bem como ao condicionamento operante descrito por Skinner. E
uma confusão séria, todavia, que requer algum esclarecimento, pois, para Skinner,
condicionamento operante era algo totalmente diferente do condicionamento pavlo­
viano. Isto não quer dizer que as conotações da palavra, como resumidas aqui, se
aplicam corretamente ao condicionamento pavloviano, mas que aquilo que Pavlov

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estudou pertence a um nível muito distinto e muito mais elementar do que aquilo que
Skinner analisou.
O modelo de Pavlov é bem conhecido a partir de seu experimento clássico so­
bre a reação salivar em cachorros. N o procedimento utilizado por Pavlov, a salivação
era transferida da comida, seu estímuío eliciador natural - ou estímulo incondicio-
nado - para o som de um sino, um evento inicialmente neutro em relação à saliva­
ção, levado ao final, por meio da associação, para o status de estímulo condicionado.
Pavlov e seus colaboradores elaboraram aquele evento simples, em diversas direções:
eles complexificaram a situação experimental introduzindo e combinando estímulos
inibidores e excitatórios; exploraram as capacidades discriminatórias de seus su­
jeitos; induziram distúrbios, a então chamada neurose experimental, no processo
de condicionamento ao manipular certos fatores; estenderam seu estudo inicial de
associações com estímulos externos para o domínio da interocepção, a informação

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sensorial levada ao cérebro por meio de receptores viscerais; e até mesmo se voltaram
para o nível da linguagem e investigaram as relações entre o que eles chamaram de
Sistema de Segundo Sinal e o primeiro, lim itado a estímulos não verbais e comuns
a animais e humanos.
Essa enumeração seletiva é suficiente para dar uma ideia da diversidade e com ­
plexidade dos estudos pavlovianos de um fenômeno básico que exibe propriedades
altamente dinâmicas. Q uando observado com cuidado, o próprio condicionamento
pavloviano não aparece com o elementar ou estereotipado, com o poderia ser a visão
popular. Também está claro que Pavlov nos proporcionou evidência abundante de
que organismos humanos não escapam das leis do condicionamento. Entretanto,
o processo que ele descreveu está basicamente vinculado a uma conexão fisiológica
inicial, qual seja, a relação entre o estímulo incondicionado e a resposta que o segue
- com ida e salivação, choque elétrico e retirada da perna, por exemplo. E, quando

INDEX
a resposta é produzida pelo estímulo condicionado, ela permanece sem qualquer
efeito, no sentido de que o experimentador decide se ela será ou não reforçada: isto
é, se ela será ou não seguida pela apresentação do estímulo incondicionado. D aí,
talvez, a ideia de que condicionamento significa submissão à vontade ou capricho
de algum agente externo.
Esses são precisamente os pontos que estabelecem os fatores diferenciados do
condicionamento operante. Se compararmos a liberação da com ida com o um refor-

BOOKS
çador na situação operante com o estímulo incondicionado pavloviano, deveremos
notar uma importante diferença: ele não está vinculado, antes de passar por qual­
quer condicionam ento, à resposta operante. C om ida não produz pressão à barra em
ratos. E , ainda mais crucial, o agente que produz o reforçador é o sujeito (ao emitir
a resposta), não o experimentador, que é apenas responsável por ter arranjado as
contingências. A o contrário do sujeito de um experimento pavloviano, o organismo
em uma situação operante não é passivo: ele desempenha uma parte essencial na
interação com o ambiente.

GROUPS
A lgum as e sp e c u la ç õ es h istó ricas

C om o é que, dadas essas diferenças básicas, o mesmo termo condicionamento


foi utilizado? E por que reclamar sobre uma confusão da qual o próprio Skinner pa­
rece ser responsável, tendo adotado um rótulo que quase inevitavelmente produziria
isso? Essas são questões históricas sensatas. Parte da resposta pode ser encontrada
no modo com o a psicologia americana assimilou o trabalho de Pavlov e parte no
contexto do trabalho inicial de Skinner.
Em bora não fosse psicólogo — ele sempre viu seu próprio trabalho como o
trabalho de um fisiologista, estudando funções cerebrais, depois de ter estudado

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as funções do trato digestivo Pavlov foi adotado pelo behaviorismo americano


porque ele forneceu uma demonstração da viabilidade de um estudo objetivo dos
eventos comportamentais. Entretanto, ele não os distraiu de sua preferência pela
aprendizagem motora, um modelo mais relevante para a aprendizagem humana em
geral do que o estudo de reações autonômicas. Este campo muito ativo da apren­
dizagem estava amplamente baseado em estudos de aprendizagem instrumental,
utilizando extensivamente a técnica popular do labirinto. Um fundamento teórico
muito importante foi fornecido pela Lei do Efeito, formulada por Thorndike; a lei
afirmava que aqueles comportamentos seguidos de sucesso tenderiam a ser estam­
pados no repertório de um organismo, enquanto aqueles seguidos por falha sairiam
do repertório. Isso antecipou a formulação mais concisa de que o comportamento é
controlado por suas consequências. Skinner, é claro, reconheceu a relação.
Quando encontrou o trabalho de Thorndike, em que gatos aprendiam a abrir

INDEX
o ferrolho de sua caixa [“puzzle box"] em que estavam presos, Pavlov o assimilou
imediatamente ao seu próprio modelo de condicionamento.71 Como ele não tinha
o estímulo incondicionado à mão, ele apelou para um “reflexo de liberdade” , uma
expressão que seria substituída hoje pela noção de “fuga de resposta” . Ele não notou
que o sucesso do gato estava inteiramente na própria ação do gato, uma característica
não presente em seus cachorros, e sobre a qual Skinner fundaria mais tarde sua distin­
ção entre condicionamento pavloviano ou respondente e condicionamento operante.

BOOKS
Considerando que o conceito de aprendizagem instrumental já havia sido forja­
do e utilizado para designar um processo diferente do condicionamento pavloviano,
por que Skinner simplesmente não se apropriou dele ao invés de forjar seu próprio
termo? Primeiro, Skinner, como ele mesmo confessa,72 estava muito impressionado
e foi influenciado pelo livro de Pavlov sobre Conditioned reflexes7i e inicialmente
chamou a pressão à barra de seus ratos de reflexo. Segundo, o problema com o qual
ele estava lidando tinha sido cultivado entre os pesquisadores que trabalhavam nas
linhas de Pavlov mais ou menos ao mesmo tempo. Miller & Konorski74 descreveram

GROUPS
um tipo de condicionamento de certa forma diferente do tipo pavloviano tradicio­
nal: um choque produzia uma flexão da perna, que era seguida por comida; depois
a flexão aparecia sem qualquer choque. Essa foi a ocasião para Skinner escrever seu
artigo fundamental, em que ele explicitamente afirmou pela primeira vez a distinção
entre o condicionamento pavloviano (chamado do tipo S) e o operante (ou tipo R).
Terceiro, ele não estava satisfeito com a pesquisa implementada na maior parte dos
laboratórios americanos: para ele, labirintos pareciam fornecer poucos resultados

71 Pavlov discutiu o trabalho de Thorndike em uma desuas conversas de quarta-feira,especificamente em 5 de dezembro de


1934 (P avlov , 1954, p. 604).
72 Ver “ Pavlov's influence on psychology in Am erica”, em Upon further reflection(S k in n er, [987b, p.189).
7} Pavlov (1927).
74 M iller & Konorski (1918).

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regulares em relação à energia despendida, e a teoria lhe parecia infundada.75 Daí


sua relutância em enquadrar sua genuína contribuição dentro do contexto do típico
laboratório de aprendizagem americano da época.
Deve haver outras explicações, mas sejam quais forem suas razões, Skinner
forjou a expressão condicionamento operante. Ele a utilizou extensivamente em seus
textos, de modo que se tornou um termo técnico finalmente adotado universalmen­
te onde quer que a técnica de Skinner e seus conceitos relacionados sejam citados.
Inútil especular sobre o modo como suas ideias teriam sido recebidas caso ele tivesse
utilizado outro termo que tivesse marcado o contraste com o reflexo condicionado
de Pavlov, não recorrendo à mesma palavra com uma qualificação, mas recorrendo a
um termo ou expressão totalmente distinta. De fato, em muitas ocorrências, em tex­
tos seus e de outros, o termo condicionamento foi abandonado, deixando o operante
em uma forma substantiva. Contudo, isso não mudou a visão popular associada ao

INDEX
rótulo condicionamento.

E stereo tipia OPERANTE

Tal persistência não pode ser exclusivamente devida à nomeação original


equivocada. Quem visitava um laboratório operante tradicional, especialmente no

BOOKS
primeiro ano quando a técnica foi desenvolvida, ficava chocado com a atividade
aparentemente compulsiva dos pombos e ratos nos seus cubículos experimentais,
frequentemente emitindo suas respostas por horas e a taxas muito altas. Podia-se
ter facilmente classificado tal comportamento como estereotipado e relacioná-lo a
alguns fatores de coação do ambiente experimental, o que significa, afinal de contas,
coação controlada pelo poderoso experimentador. Podemos ignorar a imagem do
cientista todo poderoso que abusa de seus sujeitos: claramente, qualquer trabalho

GROUPS
experimental envolve um exercício de poder sobre a natureza em vista de um melhor
entendimento, mas esse poder é apenas percebido e criticado quando é exercido
sobre organismos vivos, especialmente no reino do comportamento. Entretanto,
a impressão de estereotipia foi baseada em características objetivas da situação. A
decisão de Skinner, quando delineando seu procedimento, foi utilizar uma resposta
motora muito simples, facilmente definida no espaço e no tempo, e portanto facil­
mente contada. Isso permitiu uma medida da taxa de respostas às custas da com­
plexidade estrutural, que é geralmente fonte de fascinação quando observamos o
comportamento, seja animal ou humano. Um pássaro construindo seu ninho, uma
aranha tecendo sua teia, uma ovelha cuidando de seu cordeirinho são, sem dúvida,

75 Vcr a revisio criiica quc Skinner fez do livro de Hull [.194'?; e seu himoso artigo “Arc theories of learning necessary?" (1950),
anihos rcpublicados no Cumulative record (Skinn f.r.

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mais atrativos do que um rato pressionando a mesma barra centenas de vezes. Que
algo foi perdido por causa dessa escolha é óbvio, e veremos quando discutirmos a
relação entre Skinner e a tradição etológica (capítulo 6).
M as tais limitações deliberadas são cursos comuns de ação na ciência que ofe­
recem a possibilidade de analisar, em um contexto admitidamente simplificado,
processos básicos que poderiam ser mascarados peia diversidade e complexidade
das coisas conforme elas se apresentam à observação direta. A hipótese de trabalho
de Skinner era que um mecanismo básico poderia explicar, no nível individual,
a emergência e manutenção do com portam ento, apesar de com plexo; exatamente
como um processo geral, baseado na seleção entre variações, explica a emergência
da variedade de formas vivas ao longo da evolução biológica. Se essa hipótese foi
completamente confirmada é uma outra história. O que é certo é que produziu
novos e importantes resultados.

INDEX
A escolha da taxa de uma resposta simples teve uma consequência técnica im ­
portante, a menos que o que tomamos com o consequência pudesse ter sido a fonte
da própria escolha. U m a resposta motora simples permite um registro automático
fácil, e foi com binada com eventos reforçadores simples para o controle on-line au­
tomático do experimento. Se isso foi a consequência ou a fonte da escolha é uma
questão que pode ser feita quando lemos a explicação do próprio Skinner a respeito
da elaboração de sua técnica/6 Ele nos conta como, trabalhando em reações espan­

BOOKS
tosamente simples utilizando um túnel unidirecional, calculou com o iria se poupar
de ter que manipular o rato para o colocar de volta no início, andando de uma
ponta da com prida mesa até a outra ponta. Passo a passo, ele acabou automatizando
tudo e inventou uma primeira versão mecânica do que se tornaria um registrador
cumulativo, que foi utilizado por anos nos laboratórios operantes.
Skinner estava sempre preocupado com eficiência e nunca parou de construir
instrumentos acessórios geniais para resolver melhor os problemas práticos, seja no
laboratório ou na vida diária. O baby-crib é um exemplo, com o foram os vários

GROUPS
dispositivos que ele delineou em seus últimos anos e que estão descritos em Enjoy
oldage.77A automatização da câmara operante foi facilitada mais tarde pelos avanços
tecnológicos: dos dispositivos puramente mecânicos, Skinner passou para circuitos
de relé eletromecânicos, que mais tarde foram substituídos por controles de com pu­
tador on-line. O alto grau de automatização já alcançado nos anos 1950 e 1960 não
era com um , naqueles dias, em laboratórios de psicologia. A tendência natural, quan­
do alguém possui uma ferramenta eficiente disponível, é utilizá-la intensivamente.
Foi o que Skinner e seus seguidores fizeram. Encorajados por seu equipamento,
eles exploraram uma ampla variedade de contingências de reforçamento, enfatizando

76 “A case history in scientific method” (1956). reimpresso no Cumulative record (id.. 1972).
-7 Skinner & Vaughan (1983).

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o controle ambiental sobre o comportamento. E m um processo tipicamente baseado


na relação dialética entre variação e seleção, eles prestaram atenção quase exclusiva
ao aspecto seletivo, às custas do outro aspecto, a variação. Um a consequência foi que
eles estudaram essencialmente o que era chamado de estado estável: isto é, o com por­
tamento com o é mantido por longos períodos de tem po, uma vez que o organismo o
adquiriu e se adaptou às contingências de controle. A fase de aprendizagem propria­
mente foi negligenciada, em que a variação no com portam ento pode ser observada
e analisada, com o é impressionantemente óbvio na modelagem, a fase inicial de um
experimento de condicionamento, na qual o experimentador cuidadosamente ob­
serva o sujeito e o reforça por comportamentos que progressivamente se aproximam
da resposta desejada. Variação é, evidentemente, muito mais difícil de ser tratada e
não é de se estranhar que ela tenha sido de certa form a negligenciada. Mas o fàto
de ela ter sido negligenciada contribuiu para a ideia de que o comportamento ope­

INDEX
rante é um tipo de condicionamento, se por essa palavra nos referimos a algum tipo
de comportamento estereotipado estritamente forçado pelas variáveis ambientais.
Se Skinner e seus colegas não tivessem se rendido às facilidades da experimentação
automatizada e tivessem devotado ao menos algum tempo para estudar a segunda,
não menos importante faceta do problema, o comportamento operante poderia ter
aparecido aos observadores de uma perspectiva completamente diferente, mais pró­
xim o ao com portam ento de resolução de problemas, à exploração e à criatividade

BOOKS
do que ao condicionamento; uma perspectiva que é de fato a do próprio Skinner em
suas últimas análises teóricas. D e certo m odo, há um divórcio entre o que foi feito na
maior parte dos laboratórios operantes nos anos 1950 e 1960 e as ideias desenvolvidas
por Skinner a partir do início dos anos 1950, como a analogia evolucionária aplicada
ao com portam ento operante (ver capítulos 6, 7 e 8).
Um a possível fonte importante de frequentes interpretações equivocadas da
contribuição de Skinner e de críticas direcionadas a ela poderia ser o fato de que ela
foi avaliada com base nos experimentos daquele período ao invés de ter sido avaliada

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com base em seus textos teóricos. O que apareceu com o uma oportunidade para a
maior parte dos jovens experimentadores da área, e que de fato foi uma oportuni­
dade no nível técnico, pode muito bem ter sido a maior desgraça para o destino das
ideias de Skinner no reino da psicologia com o um todo.

V ariabilidade

O procedimento operante pode ser utilizado para explorar a outra, não menos
importante, parte do processo de aprendizagem: a variação com portam ental. E m ­
bora muito poucos experimentadores tenham se engajado naquele tipo de trabalho
até o final dos anos 1970, cada vez mais experimentadores o têm feito no passado

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recente.78 Um a situação experimental típica pode ser ilustrada com o segue. A ideia
geraJ é fornecer uma demonstração da variabilidade comportamental. Suponha que
você vive em um a cidade m oderna perfeitamente desenhada com o um padrão de
grade das ruas, com o apresentado na Figura 4.1. Você m ora na esquina do quarteirão
A i e trabalha em um escritório em D 4 - as letras identificam as ruas no sentido
Norte-Sul e os números, o eixo Leste-Oeste.

INDEX
BOOKS
GROUPS
F ig u ra 4 .1 Caminhada diária para seu escritório: fixa ou flexível?

Você pode ir por vários caminhos diferentes (de fato, 20, se excluirmos desvios
que fariam a caminhada ficar mais longa). Suponhamos que eles sejam todos estrita­
mente equivalentes, que nenhum a rua é mais atrativa que outra. Você faria o mesmo
percurso todos os dias, ou mudaria ocasionalmente? Se mudar proporciona alguma
vantagem final, você mudaria da rotina para a variedade?
Essa simples situação é facilmente transposta para um arranjo de laboratório
para sujeitos animais ou hum anos. U m labirinto que sim ula diretamente a confi­
guração da cidade poderia ser usado. U m a transposição na câmara operante seria,

78 Um artigo teórico de Staddon & Simmelhag (1971) foi fundamental para promover a pesquisa nessas linhas. Revisões e
contribuições típicas podem ser encontradas em Boulanger et al. (1987) e Richelle (199J).

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todavia, uma solução mais simples e permitiria uma comparação mais fácil entre
espécies, incluindo sujeitos humanos. Para esse fim, o padrão topográfico é trans­
ferido do espaço locom otor real para o espaço visual, com o apresentado na Figura
4.2. Em uma das paredes da câmara, é apresentada ao sujeito uma matriz de bulbos
elétricos (4x4, por exemplo). Duas barras ou discos de resposta são colocados na
outra parede, junto com o dispensador de comida. N o início de uma tentativa, o
bulbo superior da esquerda é ligado. A tentativa é completada e reforçada quando
o bulbo inferior direito estiver ligado. Apenas um bulbo é ligado por vez. A o pres­
sionar a barra esquerda, o sujeito move o bulbo aceso um passo de cima para baixo;
ao operar a barra da direita, ele o move um passo da esquerda para a direita. Um
total de seis respostas, três em cada barra, em qualquer ordem, conseguirá terminar
a tentativa. O sujeito usará sempre a mesma sequência de respostas, seguindo o

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mesmo cam inho no labirinto visual? Se sim, sob quais condições ele exibirá varia­
bilidade na sua escolha? Ele poderia ser reforçado por variar, ou seja, por produzir
sequências diferentes da anterior ou das anteriores? Tais questões foram colocadas
em vários experimentos com animais e humanos (de modo a manter a motivação
dos sujeitos humanos, a situação foi implementada num a tela de vídeo e dada uma
animação adequada).
Demonstrou-se, entre outras coisas, que, após exibir um certo nível de varia­
bilidade, os sujeitos ao final se deterão a um caminho, presumivelmente o modo

BOOKS
mais econômico de se adaptar à situação. Se reforçado apenas intermitentemente, ao
invés de a cada resposta da sequência, eles se tornarão mais variáveis, com o é o caso
também quando o reforçamento é interrompido na chamada extinção experimental.
A variabilidade aumenta se ela é colocada como condição para o reforçamento, e,
em estudos de desenvolvimento em humanos, pode-se observar que a variabilidade,
com o considerada anteriormente, aumenta com a idade. Resultados típicos estão
ilustrados na Figura 4.3. Esses são apenas exemplos do que pode ser feito para explo­

GROUPS
rar rigorosamente o aspecto negligenciado do processo de aprendizagem. Devemos
retomar esses experimentos simples mais tarde, quando nos depararmos com a reso­
lução de problemas e a criatividade em humanos (capítulo 11).

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Figu ra 4.2, A matriz visual adaptada para explorar a variabilidade œ m portam ental em hu­
manos. A marriz é apresentada na tela da televisão e representa um prédio bancário com uma

GROUPS
maleta de dólares visível na janela superior esquerda D . Para completar com sucesso uma tenta­
tiva, o sujeito tem que trazer a maleta até a janela inferior direita A, onde um guarda irá levá-la
em segurança. Isso pode ser alcançado ao pressionar o botão esquerdo e o botão direito em
qualquer ordem, o que leva a um a m udança de janela para a direita ou para baixo, respectiva­
mente. H á vinte sequências possíveis e equivalentes de três respostas no botão esquerdo e três
no direito. Q ualquer passo extra fora da matriz interrompe definitivamente a tentativa e um
ladrão leva o dinheiro embora. É claro que toda a cena é animada e os sujeitos adoram!

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F ig u ra 4 .3 A lguns resultados de um esrudo de desenvolvim ento sobre a variabilidade com -

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portam ental utilizando a situação operante m ostrada na Figura 4.2. Q uatro grupos separados
por idade foram subm etidos a um a situação na qual cada sequência correta era reforçada
(N orm al) e a um a situação na qual apenas aquelas sequências corretas que diferiam das
duas anteriores eram recompensadas (Variabilidade). A variabilidade é m edida em termos
de núm ero de sequências diferentes durante um a sessão. A : com paração entre a situação
N orm al e a de Variabilidade para sequências corretas e incorretas misturadas. B: com para­
ção entre sequências corretas e incorretas na situação N orm al. C : o m esmo na situação de

BOOKS
Variabilidade. C ontingências vigentes nas sessões de Variabilidade induzem a variabilidade
com portam ental, cujo grau varia em função da idade.79

Um o u d o is t ip o s d e c o n d ic io n a m e n t o : a l g u m a s a d v e r t ê n c ia s a d ic io n a is

A explicação mencionada sugere que o condicionamento operante foi mal


nomeado e que ele poderia ter sido mais apropriadamente apresentado como um

GROUPS
modelo básico para lidar com condições ambientais, um modelo de resolução de
problemas ativo. Alguns especialistas seriam fortemente contra essa interpretação.
Eles argumentariam que ambos os tipos de condicionamento, respondente e ope­
rante (tipo S e tipo R na nomenclatura inicial dada por Skinner; Tipo I e Tipo II
após um uso posterior estabelecido entre especialistas da aprendizagem; pavloviano e
skinneriano, se a preferência é pelos nomes próprios), são tradicionalmente tratados
sob o mesmo cabeçalho nos livros de psicologia científica que tratam do processo
de aprendizagem. Além disso, argumentariam que ambos os tipos têm muitas coisas
em comum e alguns deles iriam tão longe a ponto de negar a legitimidade da distin­
ção feita e enfatizada por Skinner. De fato, em um importante ramo da psicologia

79 Resultados retirados de uma tese de doutorado não publicada de B o u k n ger {1990).

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contemporânea da aprendizagem, foram desenvolvidas teorias que reduzem ambos


os tipos de condicionamento a um único processo básico, na maior parte dos casos
mais próxim o do mecanismo pavloviano do que do operante. Parte dessas visões
está relacionada à abordagem cognitivista da aprendizagem. A qui náo é lugar para se
discutir essa questão, que nos levaria m uito além de uma introdução geral às ideias
de Skinner e nos exigiria uma explicação detalhada do fundam ento teórico e da
evidência empírica disponível Isso não pode ser feito de uma maneira concisa e não
técnica. D e fato, essa questão não importa, pois tem pouca relevância para nosso
entendimento a respeito da posição de Skinner. Ele pode ter errado, se analisado à
luz do interesse contemporâneo, ao insistir na distinção entre o condicionamento
pavloviano e o com portam ento operante. O que importa é que ele a fez e construiu
sobre ela sua teoria do com portam ento e sua visão da sociedade humana.
Em resumo, o lugar de Pavlov no trabalho de Skinner é ambíguo. Pavlov é

INDEX
devidamente reconhecido com o um pioneiro na abordagem experimental do com ­
portam ento; seu condicionamento é frequentemente mencionado, mas sempre
apenas para enfatizar a diferença em relação ao condicionamento operante. A pe­
sar dessa insistência, talvez por causa do uso do termo com um condicionamento
e por causa da predileção dos experimentadores pelos efeitos mais estereotipados
das contingências, o com portam ento operante tem sido visto com o nada além de
condicionam ento, com todas as conotações negativas da palavra. Um a avaliação

BOOKS
correta do conceito de com portam ento operante, entretanto, torna claro que ele
é mais próxim o da dinâmica do com portam ento exploratório e criativo do que da
monotonia das reações automáticas e repetitivas.

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FREUD NOS TEXTOS DE SKINNER

F iguras in esper a d a s

A posição de Skinner em relação a Freud e à psicanálise é de particular interesse


por várias razóes. Primeiro» ele é conhecido como uma das figuras influentes no

INDEX
campo da terapia do com portam ento, uma alternativa à abordagem freudiana dos
distúrbios psicológicos, baseada em teorias sobre sua natureza e sua origem radical­
mente diferentes das visões de Freud e em práticas diametralmente opostas em quase
todos os aspectos. Segundo, a posição de Skinner, dentro da escola behaviorista de
pensamento e em relação ao movim ento psicanalítico, é diferente da dos outros
behavioristas de seu tempo. H ull, o mais proeminente deles, e seus colegas da U n i­
versidade de Yale se engajaram ativamente na tentativa de integrar análise freudiana

BOOKS
e teoria da aprendizagem. Reuniões regulares do grupo de Yale ocorreram nos anos
1930 e 1940; membros do grupo acabariam por se submeter à psicanálise, alguns
deles viajando à Europa para esse fim.
Tais esforços se refletiram em várias publicações de significância histórica.80
Skinner não era membro daquele grupo —sua idade não é uma explicação suficiente
— nem de nenhum outro. Ele levou seu trabalho inicial isoladamente em relação
à escola neobehaviorista dom inada por H ull e escreveu uma visão crítica muito

GROUPS
negativa do últim o livro Principies o f behavior}1 Finalmente, até que ele se voltasse
para extrapolações para o com portam ento hum ano, começando com Walden Two
e continuando com Science and human behavior, ele estava concentrado principal­
mente na pesquisa animal e estava pouco preparado, ou inclinado, à primeira vista,
para escrever sobre as ideias de Freud. O mais surpreendente é que ele fez isso mais
do que qualquer outro.
Algum as estatísticas são relevantes aqui. Ignoraremos aqueles livros e artigos
dedicados exclusivamente à pesquisa experimental com animais ou altamente re­
lacionados à questões técnicas ou teóricas e consideraremos aqueles livros e artigos

80 Entre outras, Frustration a n d agression (D o lla rd et al., 1939) e Personality a n d psychotherapy: an analysis in terms o f learning,
thinking a n d culture (D d l l a RO & M il l e r , >950).
81 Skinner (1944)-

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(geralmente reimpressos em form a de livro como artigos selecionados) que tratam


do com portam ento humano. Podemos praticamente ignorar o que Skinner publi­
cou entre 1930 e 1953, ano em que apareceu Science and human behavior. C o m e­
çando com esse importante volume, iremos nos deparar com uma ampla produção
de textos sobre vários aspectos da psicologia humana, incluindo Verbal behavior,
Contingencies o f reinforcement, Beyond freedom and dignity e os três volumes da au­
tobiografia. C onfiando no índice, quando disponível, podemos contar o número de
vezes que o nome de Freud aparece - adicionando, quando apropriado, o número
de entradas de psicanálise. Antes de nos voltarmos para as figuras, porém, um aviso
é aconselhável: Skinner é um daqueles autores científicos que fazem muito poucas
referências e citações. Portanto, deve-se comparar a quantidade de determinada re­
ferência em relação às outras.
Parece que Freud é, de longe, o autor mais referenciado nos textos de Skinner.

INDEX
Em Science and human behavior, lhe são dadas náo menos que 15 entradas no índice,
contra quatro de Thorndike, três de D arw in e Pavlov, duas de Descartes e Galton e
apenas uma para muitos outros, incluindo Carl Rogers, W illiam James e o próprio
B. R Skinner! Em Verbal behavior, Freud é novamente o primeiro, com 18 entradas,
Shakespeare em segundo, com 16, e outros favoritos como T. S. Eliot, A. Trollope ou
B. Russell variando de cinco a dez. Encontramos algo muito semelhante em Contin­
gencies o f reinforcement, em que Freud aparece 17 vezes, enquanto a D arw in e Watson

BOOKS
se faz referência seis vezes, seguidos por Lorenz, Jam es, Pavlov, Rousseau e M arx,
cada um sendo citado cinco vezes, e muitos outros - de C hom sky a Cervantes, de
Bacon a Neisser - tendo escores mais baixos. Freud é ainda o vencedor no terceiro
volum e da autobiografia de Skinner, A matter of consequence^ (as duas primeiras não
têm índice), e ele mantém uma honrosa, senão sempre primeira, posição nos volu­
mes mais recentes dos artigos selecionados — cujos tópicos provavelmente evocam
menos o trabalho de Freud.

GROUPS Um trib u to ao determinismo

E também às figuras. A frequência relativa de referências a Freud não revela


simplesmente a obstinada oposição de Skinner à psicanálise? E algo mais do que evi­
dência adicional da inescapável importância da teoria de Freud mesmo para aqueles
que buscam dispensá-la? Um a olhada no tom e no conteúdo das passagens que se
referem a Freud fornece uma resposta inesperada a essas questões. Vamos sumarizar
as características gerais e examinar mais de perto algumas passagens como exemplos.

82 Id. (1983).

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Skinner faz uma avaliação distinta dos diferentes aspectos da contribuição


de Freud. Dá-lhe crédito por ter mostrado de forma convincente que as causas do
comportamento humano são geralmente inacessíveis à consciência do indivíduo e,
consequentemente, que os relatos introspectivos não fornecem uma base segura para
uma ciência do comportamento. Dá-lhe crédito também por sua ênfase, ao explicar
a conduta atual, nas experiências e eventos da vida passada, frequentemente res­
ponsáveis por associações emocionais e muito mais importantes do que a crença no
autocontrole emocional. Além disso, ele reconhece a qualidade das observações de
Freud em relação a um número limitado de pacientes (Skinner, bem como Pavlov,
Piaget, Lorenz e alguns outros poucos psicólogos criativos, nunca esteve interessado
em acumular estatísticas de resultados de grupos) e seu talento em revelar relações
entre eventos observados em contextos distantes (como ao fazer reaproximações en­
tre relações históricas e míticas, experiências cotidianas e sintomas patológicos).

INDEX
Por outro lado, Skinner é fortemente contra o uso de construtos internos, es­
pecialmente o aparato mental, como intermediários entre as variáveis originalmente
vigentes e o comportamento ou sintoma observado. Para ele, Freud estava, naquele
aspecto reconhecidamente mais importante de seu trabalho (e, sem dúvida, progres­
sivamente mais importante com a idade), trabalhando contra sua própria ambiçáo
científica. Ele de fato contribuiu fortemente para o ressurgimento do mentalismo,
que Skinner sempre considerou como o principal obstáculo para uma psicologia

BOOKS
verdadeiramente científica. Embora nunca tenha tido acordo com esse ponto fun­
damental, a oposição de Skinner sempre foi expressa de um modo tranquilo e gentil,
o qual utilizou mesmo ao discutir conceitos que se opunham aos seus próprios, em
contraste com o tom agressivo adotado por muitos de seus oponentes: Chomsky foi
um caso extremo nessa mistura de argumentos ad hominem com questões científi­
cas.8’ Essas diferentes avaliações dos vários aspectos do trabalho de Freud foram elen-
cadas de modo conciso no artigo intitulado “A critique o f psychoanalytic concepts
and theory” .84 E uma leitura fundamental para aqueles que querem aprender sobre

GROUPS
as atitudes de Skinner em relação a Freud. Ele é, em sua maior parte, dedicado à
discussão crítica do aparato mental freudiano. Mas antes de se deter a essa discussão,
Skinner rapidamente descreve o que a psicologia deve ao pai da psicanálise. Algumas
poucas frases do parágrafo inicial merecem ser citadas:

83 Historiadores da psicologia da segunda metade do século X X não podem ignorar, além de sua inquestionável influência no
cam po da linguística e da psicolinguistica. o pape] desem penhado p or C hom sky ao modelar o mapa sociológico da psicologia
cognitiva. A esse respeito, seus ataques escritos a Skinner ( C h o m s k y , 19 5 9 . 1 9 7 2 ) são ilustrativos de uma mélange de genres muito
diferente da troca racional de ideias entre cientistas. Para uma avaliação critica da famosa revisão de 1959. ver Richellc (1972, ou
em inglês, 1976b). Ver capitulo 10 para mais desenvolvimentos sobre essa questão.
84 Publicado em Scientijic Monthly. novem bro de 1954; reimpresso em CumuUtine recerd ( S k i n n e r , 19 7 1, p. 239-248).

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Freud reduziu amplamente a esfera do acidente e do capri­


cho em nossas considerações sobre a condura humana. Seus
achados a esse respeito parecem ainda mais impressionantes
quando nos lembramos que ele nunca pôde apelar para pro­
vas quantitativas características de outras ciências. Ele venceu
com completa persuasão - com a junção de instâncias e o
delineamento de paralelos e analogias surpreendentes entre
matérias aparentemente diversas,®5

Skinner não apenas admira os insights penetrantes e as reaproximaçôes criati­


vas, ele até mesmo o absolve, na discussão sobre mente e cérebro, de se entregar a
exercícios especulativos, pois Freud estava convencido de que o substrato neurológi­
co da dinâm ica mental e das entidades mentais seriam por fim descobertos.86

INDEX
Skinner repetidamente apontou a falha da psicologia em fornecer uma teoria
consistente da conduta hum ana que pudesse ser utilizada por outras ciências sociais
e tornar aformulação em um campo traduzível e compatível com as formulações em
outros campos. Ele nota que:

O estudante cujo comportamento é assunto para o especialis­


ta em educação apresenta pouca semelhança com o Homem

BOOKS
Econômico. O Animal Político Homem não é um paciente
promissor na psicoterapia. Mas é o mesmo homem que está
sendo estudado em todos esses campos, e deveria ser possível
falar dele do mesmo modo. A Psicanálise chegou mais perto
no sentido de suprir uma formulação comum, mas ela emergiu
como uma forma de terapia e um toque de psicopatologia
permanece quando ela é aplicada à vida diária. Apesar das

GROUPS
afirmações em contrário, ela não contribuiu com uma teoria
viável que fosse útil de forma geral.“7

D eixando um pouco de lado as reservas finais, que naturalmente levam à su­


gestão de que a análise experimental do com portam ento é uma séria candidata para
aquela finalidade, é no m ínim o espantoso que a psicanálise seja apresentada com o a
que chegou mais perto de uma teoria unificada do homem. Poderia parecer que, aos
olhos de Skinner, nenhum outro psicólogo, incluindo W atson, chegou “ mais perto”
do que Freud na elaboração de uma teoria consistente. N enhum outro esteve, de

Sj Citado no Cum ulative record (id., 1972, p. 239); reimpresso da p u b licad o original de 1954 do Scientific Monthly.
86 “ Freud era livre para especular com grande liberdade, porque, enquanto um determinista estrito, ele acreditava que o
substrato fisiológico seria finalmente descoberto’’ (id., 1969b, p. 280).
87 G ritos meus. Retirado de Contingencies o f reinforcement, uma reimpressão de um artigo de 19 66 (id., 1972. p. 96).

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fato, mais próximo da visão behaviorista de que os processos conscientes não são a
chave para as leis do comportamento. Em um importante artigo, “ Behaviorism at
fifty” ,88 Skinner mais uma vez deu crédito a Freud por descartar a consciência e a
introspecção como ferramenta eficiente de acesso aos processos mentais. Ao mesmo
tempo em que estigmatizou Freud por ter

inventado e nunca ter abandonado a fé em um dos mais ela-


borados aparatos mentais de todos os tempos. Não obstante,
contribuiu para o argumento behaviorista ao mostrar que a
atividade mental, ao menos, não requeria a consciência.99

Em um comentário sobre a questão do inconsciente, ele corretamente apontou


para o fato de que o problema reaí não é o inconsciente, mas a emergência da cons­

INDEX
ciência, “todo comportamento sendo basicamente inconsciente”.90 Ele vai adiante
e nos lembra que o inconsciente de Freud não é simplesmente um estágio anterior
à consciência, mas o produto de punição moral e social, um processo de repressão
que Skinner reformula em termos de contingências de reforçamento (social e verbal)
na comunidade cultural. Este é apenas um exemplo de uma transcrição frequente.

BOOKS
R eform ulando m ec a n ism o s freu diano s

Uma grande parte das referências a Freud, especialmente no Science and human
behavior e no Verbal behavior, trata da reformulação dos conceitos e mecanismos
freudianos em termos da análise experimental do comportamento. Isso segue a linha
da tradição do grupo de Yale, embora não haja nenhuma evidência de que Skinner al­
guma vez tenha percebido as semelhanças da abordagem. Nenhum dos membros do

GROUPS
Instituto de Relações Humanas é citado e parece plausível que Skinner simplesmente
não tomou conhecimento do trabalho deles. De qualquer maneira, ele não perce­
beu seus próprios esforços teóricos de se vincular aos construtos de Hull, como sua
crítica ao livro deste9Le outros comentários claramente testemunham. Este exercício
é baseado na afirmação de que as observações feitas por Freud estavam basicamente
corretas, embora suas interpretações teóricas pudessem estar erradas. Isso se aplica
especialmente bem àqueles processos conhecidos como mecanismos de defesa, tais
como deslocamento, formação reativa, racionalização e outros semelhantes. Skinner

88 Id. (1963).
89 Id. (1972, p. 215).
90 D c uma nota - sobre Consciência - i reimpressão do “ Behaviorism at fifty” em ContingenctíS o f reinjhrceme»! (id. ibid., p. 146).
Sobre a visão de Skinner sobre consciência, ver Richelle (1974).
9( Skinner (1944).

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insiste na convergência entre sua própria análise da punição e o conceito freudiano


de repressão. Ele sempre viu a punição com o um modo pobre de controle do com ­
portamento porque ela não reduz permanentemente a tendência para responder, o
que está “de acordo com a descoberta de Freud a respeito da atividade que sobrevive
daquilo que ele cham ou de desejos reprimidos” .91 Os efeitos da punição sobre o
com portam ento verbal, que resultam em fala disfarçada, deslocamento, lapsos de
fala e de audição, chistes e outros, são quase sistematicamente discutidos em relação
às observação penetrantes de Freud. Skinner nota a convergência entre a análise de
Freud dos símbolos e sua própria explicação da metáfora enquanto um mecanismo
especialmente importante do com portam ento verbal.93 Ele apela novamente a Freud
ao discutir o uso dos símbolos nos sonhos e ao procurar as variáveis, na experiência
recente ou passada do sujeito, que são responsáveis por determinados símbolos:

INDEX
A tentativa de fazer isso é frequentemente chamada de inter­
pretação de sonhos. Freud poderia demonstrar certas relações
plausíveis entre o sonho e as variáveis na vida do indivíduo.
A presente armlise está essencialmente de acordo com sua inter­
pretação.,94

C om o um amador em produção literária (ele gostava especialmente de ler auto­

BOOKS
res clássicos franceses, bem como ingleses, em seu texto originai), Skinner frequen­
temente apelou para ela, não apenas para ilustrar sua questão, mas para fornecer
descrições e interpretações perspicazes da conduta hum ana nos numerosos casos em
que a explicação científica ainda apresentava lacunas. Essa foi a ocasião para outras
referências positivas ao trabalho de Freud. Ele dá crédito a Freud, por exemplo, por
ter iniciado um dos dois movimentos que, na cultura O cidental, desenvolveu uma
tendência para a autodescrição, o outro sendo o movimento literário da autoanálise
que culm inou com Proust.9- Ele estava especialmente interessado na relação entre o

GROUPS
trabalho literário e a psicologia do leitor, uma relação muito menos enfatizada tradi­
cionalmente do que os vínculos mais óbvios entre um trecho literário e a psicologia
de seu autor. Ele dá crédito a Freud novamente por ter percebido aquela importante
relação m uito antes dos outros: “ Não era m uito com um reconhecer, antes de Freud,

92 id. (1953, p. 184).


93ld. (1957, p. 92-99 c passim).
94 Os grifos são meus. Retirado de Science a n d hum an behatnor (id., 1953, p. 293). Ao ler a seção completa d i qual essa citação
foi retirada, torna-se claro que efeitos distantes no tempo não criam qualquer problema na vLsão de Skinner dos processos de
aprendizagem, o que significa que a história prévia, incluindo a história inicia] de um indivíduo, é crucial na explicação de seu
com portam ento presente. Se as práticas da terapia comportam ental foram algumas vezes acusadas de negligenciar a história
individual, isso não pode ser atribuído à explicação de Skinner.
95 Id. (1957, p. 386-388).

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que a relação entre um trabalho literário e o leitor é em parte do mesmo tipo [como
a relação entre um trabalho literário e o escritor]” .96

A parato m ental

Esses exemplos serão suficientes para mostrar o lugar de Freud na obra de Skin-
ner e o modo em geral positivo com que as contribuições do fundador da psicanálise
são reconhecidas. Isso não quer dizer, conforme apontei anteriormente, que Skinner
concorda com Freud em tudo. Os pontos de maior desacordo se referem às entidades
mentais. As objeções de Skinner ao aparato mental de Freud foram elaboradas em
detalhes naquelas partes de seus textos em que ele estabelece as bases para a terapia
comportamental. E claro que as suas concepções das desordens mentais e das estra­

INDEX
tégias mais efetivas de cura são radicalmente opostas. Entretanto, fundamental como
pode ser, a oposição não se ampara em certas características da terapia comportamen­
tal tais como elas acabaram por se desenvolver nos mais variados ramos das modernas
práticas psicológicas. Por exemplo, foco exclusivo no comportamento não verbal,
negligência da história individual passada e o uso de controles aversivos não têm
qualquer relação com a inspiração de Skinner.97
A essa altura, alguém pode perguntar: por que Skinner não provocou a con­

BOOKS
frontação que era típica do grupo de Yale? Por que ele não induziu os psicanalistas
a perseguirem, com ele e seus colegas, o tipo de diálogo que se mostrou construtivo
em torno de HulI? Esse ponto da história exigiria uma ampía investigação sobre
aspectos pessoais, variáveis sociológicas e evolução dos campos em questão. Eu não
levei a cabo tal investigação e posso apenas arriscar algumas sugestões.
Embora Skinner tenha concordado, em várias ocasiões, em participar de debates
com psicodinamistas*8 ou psicoterapeutas de várias escolas, ele estava certamente mais
motivado em trazer pessoas para trabalhar em sua própria linha do que em gastar tem­

GROUPS
po reconciliando pessoas com visões diferentes. Curiosamente, ele não era nem um
pouco um líder de escola, como o eram Freud e Piaget - o que implica algum senso de
exclusividade, certa intolerância a desvios e um fone desejo de estabelecer um núcleo
permanente de devotos ao redor de alguém. A “escola skinneriana” que acabou por
emergir não era tanto seu próprio produto, mas de seus estudantes e seguidores, que
o tomaram como seu líder venerado. Esse movimento de autoafirmação, que tinha
uma pesquisa básica e uma faceta aplicada, parou de dialogar com outros psicólogos

96 Retirado de Verbal behavior (ld. ibid., p. 17 3). É Im portante notar que a essa relação não era dada muita atenção entre os
experts em literatura, até a cham ada escola da reception theory, que teve origem em Konstaiiz nos anos 1960.
97 Para discussão dessas questões, ver Richelle (1982, 1990).
98 Por exem plo, ele participou de um debate com F. Alexander em uma reunião sobre Integração das abordagens sobre doença
meneai, cujas medidas foram editadas por K r use em 1957. Ver Cum ulative record, capítulo 16 (S k in n er, 1972).

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ao dar uma série de passos que resultaram em isolamento (fundando novas revistas
estritamente focadas, inaugurando uma divisão separada na Associação de Psicologia
Americana, organizando reuniões especializadas, etc.). Observado de fora, o chamado
movimento da análise experimental do comportamento aparecia como um grupo
fechado, cujos membros tinham a fama de não gostar muito de interagir com ou­
tros psicólogos. Esta cumplicidade possivelmente não intencional entre Skinner e os
skinnerianos deve, infelizmente, ter dissuadido os outros de se engajarem em intera­
ções com o próprio Skinner ou de examinar diretamente seus textos sobre questões
relevantes. Parte do potencial essencial de seu trabalho deve ter sido perdida dessa
forma. Não seria a primeira vez na história, e na história intelectual, que os discípulos
dificultam a mensagem do mestre.
E justo notar, por outro lado, que a psicanálise evoluiu de um modo que náo
favoreceu, de forma geral, confrontação científica. Ela não apenas se dividiu em vá­

INDEX
rias escolas que eram mais ou menos hostis uma às outras - um sinal de dificuldade
clara de se chegar a um acordo sobre critérios objetivos de validade científica - , mas
também os discursos psicanalíticos se tornaram cada vez mais esotéricos, desenco­
rajando os não iniciados a olhar para possíveis convergências com outras descrições
e interpretações.99 Em muitos casos, os psicanalistas explicitamente desistiram da
ambição inicial de Freud de explicar a conduta hum ana em termos científicos. Não
é de se espantar, portanto, que psicólogos os quais, com o Skinner, prestam hom ena­

BOOKS
gem ao trabalho de Freud não encontrem nenhum respaldo.

COGNITIVISMO, MENTE E APARATO MENTAL

N a visão de muitos, este breve levantamento sobre Freud nos textos de Skinner
pode parecer sem nenhum interesse além do histórico, considerando que se diz que
a psicologia contemporânea constrói sobre as ruínas, ao invés de sobre as fundações,

GROUPS
do behaviorismo. M esmo que alguém conceda sua parte na tendência dos psicólogos
a fim de dramatizar a história de seu próprio campo e de experimentar progressos
científicos com o revoluções ao invés de evoluções, o behaviorismo admitidamente
não é mais o -ismo dominante na cena contemporânea. Ele foi suplantado pelo
cognitivismo, a ponto de muitos psicólogos terem se tornado cientistas cognitivos,
deixando a psicologia para o passado ou para praticantes não científicos.

99 O caráter hermético de alguns textos psicanalíticos mereceria estudo do ponto de vista da inteligibilidade. U m a estratégia
possível consistiria em ter textos selecionados traduzidos para diferentes línguas, com vários graus de disrãncia linguistica do
original, e traduzir de volta para a língua original. A op en ção poderia ser repetida várias vezes. O cxcrcído poderia tamhém
envolver diferentes tradutores trabalhando sobre os mesmos textos. A hipótese prediria diferentes resultados finais para Freud,
Lacan, Watson, Piaget, Skinner, etc.

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N a medida em que o behaviorismo foi rejeitado por causa de seus erros científi­
cos e substituído por uma abordagem supostamente mais apropriada para o entendi­
mento da mente humana, é importante perguntar qual a posição do cognitivismo em
relação à psicanálise, Essa não é uma tarefe fácil, porque, não mais que o behaviorismo
em sua época, o cognitivismo não abrange uma concepção unificada. Se quisermos
caracterizá-lo, vamos nos deparar com diferenças que tornam necessário falar sobre
cognitivismos ao invés de cognitivismo. Uma ampla gama de abordagens cognitivas
floresceu no campo da terapia, frequentemente emergindo, de uma forma uma tanto
paradoxal, a partir das próprias terapias comportamentais, porém esses cognitivismos
dificilmente podem ser tomados com o psicologia científica dura. O cognitivismo no
reino da pesquisa básica não oferece um quadro unitário.
Em outro lugar, tentei colocar ordem na situação de certo modo confusa
ao distinguir quatro facetas, ingredientes ou ramos principais nos cognitivismos

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atuais,'00 e devo revisá-las em detalhe no capítulo 9. M as é apropriado resumir a
classificação no presente contexto. O primeiro tipo de cognitivismo parece ter segui­
do a tradição da psicologia científica, com aprimoramentos nos métodos que agora
permitem acesso a fenômenos até então inacessíveis, e mudanças na ênfase devidas à
estimulação proveniente da metáfora e do modelo computacionais. O segundo tipo
tem implicações epistemológicas muito mais profundas, pois redefine o objeto de
estudo da psicologia com o sendo a mente, ou as representações, ou alguma outra

BOOKS
entidade ou entidades internas, ao invés do com portam ento, com o costumava ser
o consenso ao longo de quase cem anos. O terceiro insiste no controle exercido por
um nível superior, isto é, de processos cognitivos sobre camadas inferiores de orga­
nização psicológica, tais como as emoções. O últim o aponta para a distinção bem
delineada frequentemente feita, e refletida no treino dos psicólogos e em sua prática,
entre o reino da cognição, que mereceria interesse da parte daqueles engajados em
pesquisa básica, e o dom ínio da emoção e do afeto, que seria o cotidiano daqueles

GROUPS
que trabalham na prática de ajudar as pessoas. Para ser conciso, rotulei essas quatro
variedades de cognitivism o: metodológico, epistemológico, ético e institucional. C ogni-
tivismo m etodológico não nos interessa aqui, mas os outros três tipos precisam de
alguns comentários em relação à abordagem de Freud.
A o mudar o objeto de estudo da psicologia do com portam ento para entida­
des internas, o cognitivismo epistemológico relegou o com portam ento ao status
de subproduto de agentes internos, com pouco interesse próprio, no m áxim o um
indicador útil dos processos mentais e cognitivos até que métodos diretos sejam

lo c Para uma apresentação mais detalhada sobre o ponto aludido nesse parágrafo, ver Richelle (1986a, 1987b). Para uma visão
equilibrada da história do movimento cognidvista, Gardner (1985) é uma fonte acessível. Gardner dificilmente menciona Freud
cm contextos substanciais, o que indica que o interesse de Freud no aparato mental não é visto com o urri precursor do interesse
atual na Mente. Gardner simplesmente ahrma no início de sua explicação que psicólogos científicos realmente não sabiam o quii
razeicom as especulações de Freud e se voltaram para outras direções em busca dos mistérios da M ente humana.

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descobertos para analisá-los. Isso é perfeitamente compatível com o construto de


Freud. O aparato mental ou psíquico tem exatamente as mesmas propriedades bási­
cas: náo é diretamente observável, mas pode ser inferido e seus mecanismos podem
ser supostos por meio de eventos externos —os sintomas possuindo o mesmo status
na teoria de Freud que os com portam entos na concepção de alguns cognitivistas
epistemológicos.“ 1 N ão há dúvida de que, nesse aspecto, o cognitivismo está mais
próxim o da psicanálise que o behaviorismo.

C ognição ou libido

Apelar para processos ou aparatos mentais também significa retomar o sujeito

INDEX
interno com o fonte ou causa de sua conduta. Enquanto o aparato mental freudiano
está preenchido com impulsos, afetos, desejos, símbolos de origem emocional e ten­
sões e conflitos de todos os tipos, o hom em interno do cognitivism o epistemológico
é mais do que um expert em resolução de problemas. C o m um passo adicional para
o cognitivismo ético, é o hom em racional que é retomado, com o poder da razão
controlando o afeto, o poder da vontade determinando a decisão, o poder da cons­
ciência dom inando o inconsciente, a mágica do conhecimento resolvendo a angús­
tia dos sentimentos e as complicações das paixões. Causalidade descendente, uma

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fórm ula de autogratificação emprestada da neurobiologia, apropriadamente move o
pêndulo de volta em direção à racionalidade, depois do excesso de monstros freudia­
nos e do cérebro de réptil de M acLean. Correção de exagero é parte da empreitada
científica, mas falta avaliar quão adequada à realidade, ou quão ilusória, é a nova
imagem do Hom em . Em grande parte, as abordagens cognitivistas da psicoterapia
que recorrem a mudanças conscientes da percepção do m undo e do conhecimento a
respeito do que realmente acontece podem revelar uma confiança ingênua no poder

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da lógica nos assuntos humanos.
Q uero apontar aqui a situação paradoxal do cognitivismo em relação à tradição
freudiana. Por um lado, ele concorda em dar prioridade ao aparato interno; por
outro, ele diverge fortemente ao favorecer uma visão de homem como um ser ra­
cional que Freud amplamente contribuiu para demolir. Dessa forma, nós podemos
náo estar em melhor situação ao tentarmos uma síntese do que estávamos com o
behaviorismo. Resta decidir se aquele aspecto em particular da psicologia moderna,
i.e., o retorno à M ente, ao invés do com portam ento, enquanto seu objeto de estudo,
sobreviverá como um passo crucial em direção à construção de uma teoria consis­
tente do homem ou se revelará um acidente nos paradigmas. C om o em relação
ao retorno da racionalidade, infelizmente não há sinais de que os humanos estão

io t M esm o daqueles que lidam com com portam ento animal, com o, p or exemplo, Dickinson (1980).

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livres da causalidade ascendente. A mensagem de Freud sobre a civilização e seu


descontentamento, respaldada peta análise pessimista de Skinner das práticas sociais
vigentes (ver capítulos 14 e 15), ainda são leituras recomendáveis.

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6
SKINNER E A TRADIÇÃO ETOLÓGICA

S o bre ra to s e h o m en s

A maior parte do trabalho empírico implementado por Skinner foi com animais
e, à medida que ele nos forneceu resultados regulares, pode ser visto como uma con­

INDEX
tribuição para o estudo do comportamento animal, mesmo por aqueles que não estão
prontos para aceitar sua extrapolação para humanos. Mas pesquisas com animais no
laboratório são frequentemente rejeitadas como irrelevantes por estudantes do com ­
portamento animal na tradição da etologia, com o argumento de que situações expe­
rimentais colocam restrições artificiais nos sujeitos animais, impedindo a expressão
de seu repertório real, natural, observável apenas em campo, isto é, em seu ambiente
normal, ou nicho ecológico. Se à pesquisa de Skinner é rejeitada qualquer validade

BOOKS
fora do laboratório animal no nível da psicologia humana, e, ao mesmo tempo, qual­
quer validade enquanto contribuição para estudo de animais precisamente porque foi
realizada em laboratório, o que resta de seu trabalho experimental?
A questão não pode ser respondida sem antes situarmos o trabalho de Skinner
em seu contexto histórico, o que significa, neste caso, a evolução das relações entre a
psicologia Americana de laboratório e a tradição etológica, principalmente de origem
europeia. Devemos primeiro lembrar que a utilização de animais no laboratório com-

GROUPS
portamental, como era comum na primeira metade do século X X , não visava essen­
cialmente a estudar o comportamento de uma espécie por si mesmo: ratos não eram
utilizados por causa de qualquer interesse especial no modo como os ratos se com por­
tam. Eles eram usados como uma ferramenta, ou com o um modelo, como diríamos
hoje, para delinear leis gerais aplicáveis a qualquer espécie, embora humanos sejam, é
claro, o maior interesse dos psicólogos. Seu quadro de referência era psicologia geral,
ao invés de comparativa. Isso não era fortemente questionado, dado que a fisiologia
havia adotado a mesma estratégia. A consciência das diferenças entre as espécies não
era ausente: a psicologia comparativa existia, bem como a fisiologia comparativa. Mas
a psicologia comparativa na tradição americana era essencialmente limitada à abor­
dagem experimental de laboratório e, de qualquer modo, não era a preocupação dos
psicólogos da aprendizagem, de Thorndike a Tolman, ou de Hull a Skinner.

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Com parando os dados que ele obteve com seu novo procedimento com aque­
les coletados em estudos em labirinto, Skinner pensava que ele havia ganho em
potencial de generalização, portanto, em validade ao estendê-los a humanos. N e­
nhum equivalente real de um labirinto fora delineado para humanos, enquanto
os padróes na taxa de respostas sob vários esquemas de reforçamento provaram ser
extraordinariamente similares entre as espécies, incluindo a humana. O número e a
variedade das espécies eram m uito limitados, quando comparados com a diversida­
de zoológica: ratos, pom bos e macacos permanecem como as principais referências.
Porém Skinner poderia reivindicar, com base em evidência experimental, que esses
se com portavam do mesmo m odo, assim com o os humanos, ao justapor os registros
cumulativos de sujeitos individuais pertencentes àquelas várias espécies e perguntar
“qual é qual?” .
O conceito de generalidade entre espécies foi, infelizmente, de algum modo

INDEX
vinculado à noção da arbitrariedade da resposta operante. Skinner enfatizou que
a resposta operante é arbitrária em oposição à relação permanente, estabelecida fi-
siologicamente, entre o estímulo incondicionado e a resposta incondicionada do
condicionamento pavloviano, um pré-requisito para a formação de um reflexo con­
dicionado. Isso levou à ideia, possivelmente de algum modo no próprio Skinner, de
que qualquer resposta pode servir com o um operante, que todas as respostas que se
podem imaginar são equivalentes e, consequentemente - se as diferenças entre es­

BOOKS
pécies são, para essa questão, irrelevantes que as leis do com portam ento operante
transcendem singularidades específicas da espécie.
Além disso, apesar de muitos pontos divergentes com outros psicólogos da
aprendizagem, Skinner permaneceu essencialmente na tradição do estudo do com ­
portamento adquirido, com o fora estabelecido nos E U A na primeira metade do
século X X . A ênfase estava nos mecanismos de aprendizagem sem qualquer refe­
rência ao desenvolvimento ou à herança genética inata. O s processos de aprendiza­

GROUPS
gem eram estudados em si e por si mesmos, com o resultado de variáveis ambientais
introduzidas a qualquer momento da vida de um indivíduo. Isso não significa que
os psicólogos da aprendizagem eram ingênuos o bastante para pensar que os organis­
mos nascem sem quaisquer restrições genéticas, mas que os processos poderiam ser
isolados de sua influência e avaliados, por assim dizer, em um estado puro.

E tologia : um outro olhar sobre os anim ais

N enhum a posição poderia ter sido mais estranha à concepção defendida pela
tradição etológica, fundam entada no trabalho paciente de observadores de ani­
mais que encontraram suas credenciais científicas nos anos 1930 e 1940 na Europa,
especialmente por meio do trabalho em pírico e teórico de Konrad Lorenz. Aqui

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o com portam ento animal era estudado por si mesmo, por suas próprias qualifica­
ções; com portam ento específico da espécie tinha atenção principal; e assumindo a
antiga fascinação por instintos em animais, atividades filogeneticamente estabele­
cidas tinham prioridade sobre aprendizagem individual. A riqueza do repertório
com portam ental natural se equiparava à diversidade m orfológica das espécies vivas
e se poderia apenas observar onde ela geralmente ocorria: quer dizer, em campo,
no sistema ecológico onde a espécie evoluiu e vive atualmente, e náo na situação
reducionista do laboratório. C om o regra, os processos com portam entais só pode­
riam ser entendidos por meio de uma análise de desenvolvimento no organismo
em crescimento.
O s etólogos, por anos, tiveram poucas interações com os psicólogos de labora­
tório. Geralm ente eles eram membros de uma comunidade científica distinta, trei­
nados como zoólogos, em departamentos de biologia, e náo com o psicólogos. Eles

INDEX
estudavam com portam ento com o parte da biologia e, seguindo Lorenz, pensavam
sua ciência com o a biologia do com portam ento, ao invés de um trabalho propria­
mente psicológico. C om poucas exceções, eles eram praticamente ignorados pelos
psicólogos que trabalhavam com animais no laboratório. E, reciprocamente, os etó­
logos raramente se deparavam com o trabalho dos psicólogos. Eles não publicavam
nas mesmas revistas, não participavam das mesmas reuniões científicas e não liam
os textos uns dos outros.

BOOKS
Interações não ocorriam até os anos 1950 ou 1960, quando algumas tentativas
foram feitas, especialmente na escola britânica, com Thorpe e outros, de fundir
a contribuição da psicologia de laboratório com parativa e a abordagem etológica.
Esse movim ento não foi amplamente aceito; ele foi veementemente criticado por
Lorenz,102 que pronunciou um tipo de excom unhão daqueles que estavam conta­
m inando a ortodoxia etológica com elementos hereges das escolas de pensamento
behavioristas. O behaviorismo foi por fim um de seus aivos em um ensaio não técni­
co sobre Os oito pecados capitais da civilização.1^ As coisas mudaram desde então, e o

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próprio Lorenz deve ser valorizado por ter modificado sua visão após ter examinado
mais de perto a questão da aprendizagem. Em bora ele nunca tenha desistido de
insistir sobre a determinação genética, o com portam ento específico da espécie (uma
posição que os etólogos da geração seguinte abandonariam em troca de posições
mais qualificadas, com o os fatores que modelam o fenótipo), e apesar de ter m antido
por m uito tempo a visão paradoxal de que a aprendizagem é em si herdada (no sen­
tido de que o que um organismo aprende é exatamente o que é possibilitado por sua
carga genética específica), ele assumiu por fim uma posição muito mais sofisticada,
reconhecendo a im portância do processo operante de Skinner e desenvolvendo a

102 Lorenz (1965).


IOJ Id. (1973).

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noção de programas mais ou menos abertos (ou fechados) para a aprendizagem nas
várias espécies. Sua obra principal, intitulada Os fundamentos da etologia,ICM inclui
uma análise do lugar da aprendizagem que é muito diferente se comparada com as
visões expressas em seu trabalho inicial.
Deve-se notar que a etologia ganhou um a audiência progressivamente ampla
entre as ciências humanas bem com o nos círculos biológicos, especialmente na psi­
cologia e na psiquiatria. Esta influência estava obviamente mais cedo na Europa que
nos E U A 105 e, por fim, invadiu campos específicos, com o a psicologia infantil. O
Prêmio Nobel, dado em 1972 a Lorenz e a dois outros etólogos europeus, trouxe seus
trabalhos a público, e fenômenos com o o imprinting e a dança das abelhas entraram
na cultura leiga.

INDEX
0 MAU COMPORTAMENTO DOS ORGANISMOS

Psicólogos americanos da tradição com portam ental, incluindo Skinner, dem o­


raram para prestar atenção às peculiaridades específicas da espécie. Eles finalmente o
fizeram sob a influência de dois fatores: um externo e o outro interno ao seu campo.
O fator externo era a influência crescente da literatura etológica e as objeçóes
dos etólogos sobre o estudo de animais em laboratório, um aspecto da evolução há

BOOKS
pouco descrita. Ao mesmo tempo - e este foi o fator interno - , experimentadores de
laboratório se defrontaram com repertório específico da espécie em seus experimen­
tos que visavam a leis gerais, independentes de diferenças entre espécies.
N o laboratório operante, o evento crucial parece ter sido a descrição feita pelos
Brelands da intrusão incontrolável de com portam ento específico durante experi­
mentos de condicionam ento, um fenômeno que eles chamaram de “tendência ins­
tintiva” . Os Brelands realizaram o condicionamento de várias espécies de animais

GROUPS
domésticos e selvagens a serem apresentados em feiras e parques de entretenimento.
Eles foram os primeiros a obterem sucesso, e de feto os pioneiros, em diversificar a
amostra de espécies submetidas às técnicas operantes. Para fazer o show durar e satis­
fazer o público pagante, eles arranjavam as contingências no espaço e no tempo em
um estilo de certa forma diferente quando comparado à configuração do laboratório
normal. Por exemplo, eles treinaram porcos e guaxinins a buscar moedas em um
canto de determinado espaço e levá-las até o canto oposto, onde deviam colocá-las
em um tipo de “ banco do porco” ; depois que os animais tinham acumulado um
certo número de moedas, eles recebiam comida. Os animais de fato aprenderam sem

104 Id. (1981).


105 C o m o exem plo, a etologia estava entre as tarefas obrigatórias de todos os estudantes dc psicologia na minha universidade
(Liège. Bélgica) em 1961. Ver também Richelle & Ruwet (1971)-

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qualquer dificuldade, porém, após terem desempenhado a tarefa de forma adequada


por algum tempo, eles começaram a se engajar em com portam ento indesejável, ao
menos do ponto de vista dos treinadores. Os porcos começaram a se deter no cam i­
nho, enterrar a moeda na areia e tirá-la com o focinho; os guaxinins começaram a
passar muito tempo manipulando a moeda com seus movimentos bem conhecidos
com os quais parecem estar lavando algo. Isso foi inicialmente divertido, mas por
fim consum iu muito tempo e faria todo o show parecer m uito ruim para o es­
pectador. Com ercialm ente, foi um desastre. Os Brelands, entretanto, perceberam o
interesse científico no fenômeno e fizeram um estudo sistemático a respeito. Eles re­
lataram suas observações em um artigo,'06 com o título evocativo “ The misbehavior
o f organisms” , uma alusão irônica ao primeiro livro de Skinner. A principal interpre­
tação deles era que comportamentos do repertório natural das espécies emergiam na
situação de condicionamento e acabavam por ganhar tal extensão, que as atividades

INDEX
aprendidas, inicialmente modeladas e mantidas consistentemente, pareceriam errá­
ticas. Este fenômeno eles denominaram de tendência instintiva.
A razão pela qual isso não fora observado anteriormente pode ser explicado
pelo fato de que as situações de laboratório geralmente não fornecem as condições
temporais e espaciais que favorecem a produção generalizada de comportamentos
naturais e também pelo simples fato de que os experimentadores geralmente não
observam diretamente o que estava acontecendo na jaula experimental. Eles cos­

BOOKS
tumavam confiar em seu equipamento automático, cujas vantagens podem apare­
cer, neste contexto, com o contraproducentes. Eles estavam felizes e orgulhosos de
mostrar como a automação os libertara da observação permanente de seus sujeitos,
permitindo-lhes a liberdade de ler e escrever enquanto registros cumulativos des­
cortinavam a atividade de seus sujeitos (significando, é claro, a atividade que eles
decidiram colocar sob o controle experimental, i.e., a resposta operante). Eles não
se importavam com outros tipos de atividade que também poderiam ter ocorrido.

GROUPS
Eles achavam que essas outras atividades não ocorriam ou que, se havia alguma, não
era interessante.
Nos anos que se seguiram às observações dos Brelands, mas com frequência de
forma muito independente, alguns experimentadores descreveram o que os animais
faziam durante a sessão experimental, além da resposta operante. Eles poderiam ser
vistos na situação um tanto paradoxal de realizar experimentos automatizados com
equipamentos sofisticados, enquanto espiavam a jaula experimental e anotavam, de
um modo naturalista, como fariam etólogos de campo, qualquer parte de qualquer
com portam ento que o sujeito produzisse. Todo um subcampo de estudo passou a
existir na área da aprendizagem animal, dedicado ao que veio a se chamar restrições
biológicas (ou fronteiras ou limitações) da aprendizagem, ou olhando mais para o

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lado positivo , predisposições ou preparos para aprendizagem. Ele considera, ao explicar


performances aprendidas, as características da espécie que favorecem ou impedem a
aprendizagem de uma dada combinação de respostas. Respostas simples, comuns e
bem estabelecidas no laboratório operante, como o bicar o disco no pombo, mostra­
ram abranger unidades de com portam ento m otor de muitos tipos diferentes - tais
com o alguns extremamente curtos, dificilmente manipuláveis no controle operante
pelo reforçamento e outros mais longos que podem ser submetidos ao controle pe­
las contingências. O mesmo bicar o disco provou ser inadequado quando se quer
avaliar a capacidade da espécie de estimar o tempo, por exemplo, por causa de seu
envolvimento, com propriedades dificilmente modificáveis, com a busca e o con­
sumo de alimento (pombos não podem esperar mais que 12 ou 15 segundos se deles
se requer que sinalizem o fim de um intervalo m ínim o estimado bicando um disco,
mas, conforme apresentado na Figura 3.7, eles não podem controlar atrasos de um

INDEX
minuto ou mais se lhes é permitido responder pulando num poleiro).107 Também
se demonstrou que o bicar o disco resiste a qualquer treino enquanto uma resposta
de esquiva de um choque iminente, provavelmente porque a reação natural de um
pássaro a um choque elétrico consiste em jogar a cabeça para trás, um movimento
exatamente oposto àquele envolvido no bicar o disco.
Essa nova área de estudo trouxe importantes modificações no campo da aprendi­
zagem animal» dentro e fora da orientação skinneriana. O conceito de arbitrariedade

BOOKS
da resposta, em seu sentido mais amplo (e, como notamos acima, errôneo), deu lugar
à aceitação de que características específicas da espécie devem ser levadas em conta ao
definir uma resposta, ou um estímulo, com propósitos experimentais. A ênfase deve
ser colocada, novamente, sobre a estrutura das respostas, em adição a taxas, que ha­
viam ganho atenção exclusiva. C om o as características específicas da espécie são, por
definição, vinculadas à herança genética, a aprendizagem é observada em perspectivas
mais amplas, articulando aspectos inatos e adquiridos do comportamento. A obser­

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vação voltou a ser considerada um método frutífero e possivelmente um método
que não se pode dispensar no laboratório animal. Todos esses pontos refletem uma
significante reaproximação entre os especialistas em aprendizagem animal e a tradição
etológica. Estamos agora muito distantes da ignorância mútua que era a regra há 50
anos, ou das relações conflituosas que eram típicas há 3o.108

10 7 Richelle & Lejeune (1980.1984).


108 Além dos numerosos artigos e livros dedicados aos limites biológicos da aprendizagem (referências clássicas sáo H inde &
Scevenson-Hinde (197)) e Seligm an & Hager (1972)), agora é possível escolher entre livros introdutórios ou especializados em
com portam ento animal que com binam elegantemente as duas tradições (ver, entre outros, Lea (1984)). Para ser completo, a evo­
lução paralela dentro da etologia deve ser mencionada: pesquisadores em etologia deram uma atenção crescente à flexibilidade do
com portam ento específico da espécie, especialmente quando analisado em detalhes ao longo do desenvolvimento, o que significa
que o que i preparado pela dotação genética da espécie é modulado peias interações do indivíduo com o seu ambiente.

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S k inn er e a etologia

Qual foi a atitude de Skinner em relação a essas importantes mudanças na


área? Ele foi frequentemente apresentado como não tendo sido receptivo a elas,
mantendo, portanto» a si e a seus discípulos à parte. Ele foi cruelmente culpado por
sua cegueira, ou por sua recusa deliberada a lidar com objeções ou sugestões dos
etólogos, por um de seus colaboradores próximos mais antigos, R. J. Herrnstein,109
em um artigo que provocou uma réplica de sua parte.“0
Skinner corretamente aponta que ele estava entre os primeiros leitores do ma­
nuscrito dos Brelands e que ele os encorajou a publicá-lo: um sinal claro de seu
interesse no assunto (um dos Brelands foi seu aluno). M ais im portante ainda, ele
os citou um tanto detalhadamente em 1965, em uma conferência com o convidado

INDEX
na Universidade de Kentucky sobre “A filogenia e a ontogenia do com portam ento” ,
um texto que foi publicado no ano seguinte na Science.m Essa é um marco divisório
muito importante nos escritos de Skinner, porque, não pela primeira vez, mas mais
explicitamente que antes, ele estabeleceu o paralelo entre os processos que atuam na
evolução biológica e no condicionamento operante, paralelo que ele viria a elaborar
em muitas ocasiões. N o presente contexto, o artigo foi importante por ter sido uma
discussão das ideias de Lorenz, com o expressas em seu livro de 1965, sobre a parte
correspondente aos aspectos inatos e adquiridos no comportamento.

BOOKS
O artigo tinha algumas imperfeições, especialmente visíveis se lido por um
olhar contemporâneo. Por exemplo, Skinner adotou a dicotomia entre inato e
aprendido, também adotada por Lorenz, quando sabemos que nenhum com por­
tamento é inato stricto sensu, mas é apenas mais ou menos determinado por fatores
genéticos. Ele falou sobre pressão seletiva em espécies ou grupos, quando é am ­
plamente aceito que a seleção opera no nível do indivíduo. Ele não fez referência
à genética com portam ental, em bora isso pudesse fornecer, mesmo então, algum

GROUPS
insight sobre a relação entre hereditariedade e aprendizagem, etc. Isso não reduz
a significância daquele texto, com o um primeiro encontro aberto com a etologia,
sobre as questões essenciais na aventura conjunta das duas disciplinas em busca da
explicação científica do comportamento. Skinner enfatiza a dificuldade de associar
o com portam ento real aos seus determinantes filogenéticos e a falta de legitimidade
ao classificar um dado com portam ento com o “ inato” (vamos adm itir que a palavra

[09 Herrnstein (1977a, 1977b).


110 Skinner (1977).
111 Id. ([966). O artigo foi publicado novamente com notas adicionais em Contingencies o f reinforcement (id., i9<Í9b) e im ­
presso mais um a vez entre os “artigos canônicos” subm etidos a com entários de pares ao B th aviom l a n d Brain Sciences em 1984.
Em bora alguns dos comentários tenham sido muito críticos, ou apontado algumas das falhas aludidas neste texto, a maior parte
dos comentadores, especialmente no campo da etologia. apesar de não concordar completam ente com Skinner, reconheceu a
significância do artigo no auxílio ao entendimento de sua posição e na promoção do diálogo entre etólogos e psicólogos da
aprendizagem em laboratório.

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se refere à dotação genética específica da espécie), a menos que tenhamos implemen­


tado um estudo detalhado de sua história, individual e específica. Ele oferece alguns
exemplos especulativos, embora importantes, de como as contingências ambientais
e o com portam ento individual modelado por elas podem ter contribuído para a
seleção de com portam ento específico da espécie."1
Em relação mais estritamente ao repertório específico da espécie e à tendência
instintiva descrita pelos Brelands, Skinner não apenas citou suas observações, mas se
referiu a um de seus próprios experimentos, publicado anteriormente,111 no qual ele
já tinha abordado o problem a do comportamento intrusivo na situação operante.
A lém da barra utilizada usualmente, ele e M orse forneceram ao seu rato uma roda
giratória na qual ele poderia correr livremente em qualquer momento durante os
intervalos que separavam dois reforçamentos no esquema de Intervalo Fixo que
descrevemos anteriorm ente."4 Eles não nos contaram se a ideia se originou em uma

INDEX
observação casual, contudo eles claramente afirmaram suas hipóteses ao realizar
aquele experimento simples:

O que o organismo está fazendo quando ele não está apre­


sentando o comportamento produzido pelo esquema de
reforçamento é algo especialmente importante quando esta­
belecemos comportamento complexo no qual duas ou mais

BOOKS
respostas são estudadas ao mesmo tempo.115

Observou-se o rato correndo na roda durante parte do intervalo em que ele não
estava pressionando a barra (o que um rato bem treinado geralmente faz apenas ao
final do intervalo). Correr é uma atividade locomotora muito básica e pode dificil­
mente ser definida como específica da espécie dos ratos. Skinner comentou em seu
artigo de 19 66 que o fenômeno merece atenção independentemente da natureza,

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específico da espécie ou individualm ente aprendido, do com portam ento a ser consi­
derado, que mais tarde passou a ser chamado de com portam ento adjuntivo„ colateral
ou intermediário. Em bora o repertório específico da espécie possa ser intrusivo em
alguns casos, ele mencionou observações nas quais o bicar natural em itido pelos
pombos para coletar sementes foi substituído por bicadas adquiridas em altas taxas
incompatíveis com a ingestão do alimento.

112 A questão do papel do com portam ento na evolução biológica foi central p ira a reflexão não apenas de alguns etólogos, m is
também de grandes psicólogos. Piaget dedicou a ela um de seus últimos livros, l.e comportement, m ateurâe levolutw n (1976), que
ele chama de “um trabalho pequeno e im prudente". Piaget se inspirou, por muito tempo, nas visões do biólogo Wadditigcon,
com quem Skinner parecia não ter familiaridade, com o pode ser inferido a partir daí raras alusões ao seu trabalho.
113 Skinner & M orse (1957).
114 Ver capitulo 3, p. 48.
11$ Skinner & M orse (1957) em Skinner {1972, p. 538).

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Em resumo, apesar de Skinner não ter escolhido o estudo de características da


espécie com o seu próprio campo de pesquisa, ele não descartou com o irrelevantes
ou sem importância os comportamentos específicos da espécie. Pelo contrário, ele
reconheceu, com o tarefa essencial de qualquer ciência do com portam ento, ligar a
explicação do com portam ento observado a suas origens filogenética e ontogenética.
Ele apontou que comportamentos filogeneticamente modelados, uma vez dotados
de vantagens de sobrevivência, podem ainda persistir num ambiente modificado,
onde são responsáveis por danos óbvios. Por exemplo, a atração seletiva por comidas
doces foi uma vantagem quando o açúcar era escasso e os indivíduos não podiam
ignorar qualquer oportunidade de armazenar tal substância energética. C o m açúcar
disponível em excesso, o mesmo traço leva ao consumo excessivo e, por fim, a doen­
ças relacionadas à ingestão excessiva de algumas substâncias críticas.
Agressão é um outro caso relevante. Parte do com portam ento agressivo em

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humanos pode ser relacionado ao tem po, em sua evolução biológica, em que eles,
ou seus ancestrais animais, levavam vantagem por atacar de form a eficiente seus
colegas humanos (por exemplo, ao defender seu território) ou membros de outras
espécies (por razões similares, ou por comida). D aí o desenvolvimento de estrutu­
ras morfológicas apropriadas, tais como dentes e unhas. Até onde a agressão atual
pode ser relacionada àqueles tempos, fica claro que o que era então uma vantagem
para a sobrevivência se tornou uma tendência perigosa que poderia levar a espécie à

BOOKS
autodestruição quando servida, com o ocorre atualmente, de ferramentas que m ulti­
plicam em milhares o poder de defesa e de ataque de partes anatómicas.
Agressão também ilustra outro ponto repetidamente enfatizado por Skinner. Ela
tem, admitidamente, sua história filogenética —a qual Lorenz tentou recriar de modo
brilhante e talvez totalmente inquestionável.116 Ela também possui, especialmente em
humanos, uma história individual e sociocultural, que pode ser importante para ex­
plicar ocorrências de comportamento agressivo. Skinner observou que as origens do
comportamento não poderiam ser reduzidas ao fator filogenético sem uma evidência

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convincente de que outros fatores são de fato irrelevantes, o que raramente ocorre,
especialmente em humanos. As causas ambientais presentes ou recentes responsáveis
por atos agressivos em humanos são tantas e tão familiares, que não precisam ser
registradas aqui. Não há nenhuma razão para deslocar o problema apelando para
alguma agressividade instintiva ancestral, que absolutamente precisaria se expressar
de um modo ou de outro (esta era a visão de Lorenz, que pode apenas levar a vagas
propostas de canalização por meio de atividades pacíficas e sem risco, como o espor­
te, a versão etológica da sublimação de Freud). Esse é um modo fácil de escapar da
identificação de outras causas, mais acessíveis, e da responsabilidade de modificá-las.
De qualquer forma, qualquer que seja a importância dos determinantes filogenéticos

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para os comportamentos agressivos atuais, náo há m otivo para crer que eles têm de
ocorrer, que sua manifestação não pode ser alterada.
Exemplos simples em animais mostram que a agressão não é apenas uma ex­
teriorização inevitável de alguma agressividade interna. Pombos treinados a bicar
um disco para evitar um choque elétrico acabam por atacar outro pom bo colocado
na caixa durante a sessão experimental. Este é possivelmente um caso prim itivo e
simples de atribuição. Pouco importa aqui se os seus ataques podem ser relacionados
à história de sua espécie ou se têm um a origem mais local; o que conta realmente é
que eles ocorrem sob um conjunto particular de contingências. O mesmo não será
observado se o pássaro for recompensado com com ida em um esquema que deixa
pouca oportunidade para com portam ento intrusivo de qualquer tipo.
Para resumir, Skinner não nega a origem evolutiva de muitos aspectos do com ­
portamento, nem nega as diferenças específicas da espécie derivadas da história evo­

INDEX
lucionária. Tal negação teria sido paradoxal para um cientista que propóe estender
o modelo da evolução biológica para a aprendizagem individual e para a história
cultural. Ele insistiu, entretanto, para que considerássemos todos os três níveis ao
explicar a conduta hum ana (os dois primeiros ao explicar o com portam ento ani­
mal), e ele corretamente defendia que o prim eiro nível, o nível da evolução biológi­
ca, não é mais “natural” que os outros dois. Esta é a atitude equilibrada que muitos
tomaram depois dele, dentro e fora da psicologia e da etologia, em ocasiões poste­

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riores, quando a questão recorrente foi retomada, com o no debate na sociobioíogia.

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PIAGET E SKINNER: CONSTRUTIVISMO E


BEHAVIORISMO

I gnorância recíproca

Piaget, com o Skinner, era uma das figuras proeminentes da psicologia de mea­
dos do século X X . A produção científica deles abrangeu aproximadamente o mesmo

INDEX
período, dos anos de 1930 a 1980. Piaget, oito anos mais velho que Skinner, faleceu
em 1981, nove anos antes dele. Em contraste com o trabalho de muitos psicólogos
europeus de países não falantes da língua inglesa, admitidamente de estatura mais
modesta, o trabalho de Piaget fez seu cam inho para os Estados Unidos da América,
e uma parte importante de seus escritos foi traduzida para o inglês (incidentalmen-
te, essa não foi uma condição para Skinner os ler, pois ele lia francês fluentemente,
com o já foi dito).

BOOKS
Apesar dessas circunstâncias favoráveis, os dois gigantes da ciência psicológica
alegremente se ignoravam m utuam ente.117 Q uando um dos dois, em raras ocasiões,
aludia ao trabalho do outro, era sempre em forma de caricatura supersimplificada.
Talvez devêssemos aceitar isso como um viés inevitável dos grandes teóricos; pode
ser parte da afirmação da originalidade de seu próprio sistema, que poderia se tornar
mais proeminente ao ser contrastado com teorias rivais anteriores mal representadas
em prol da argumentação. Talvez este seja o preço que os teóricos tenham que pagar

GROUPS
para alcançar formulações altamente consistentes de seus próprios pensamentos, que
pode ser um fator estimulante a outros cientistas em seus campos. O preço parece
ser um pouco alto, quando mantém e perpetua oposições enquanto o reconheci­
mento das convergências poderia ser mais frutífero.
Não há dúvida de que, por volta de 1950, as teorias de Piaget e de Skinner es­
tavam entre as mais, se não eram de fatos as mais, influentes da psicologia. Elas evo­
luíram em tradições muito diferentes, o que pode explicar por que elas avançaram
paralelamente por meio século, com encontro nenhum ou com mínim os encontros.
M enções a Piaget na obra de Skinner são escassas e sempre simplificadas. O mesmo

117 C om o este capítulo não foca curiosidades da vida, mas contribuições escritas dos dois gigantes da psicologia do sêcuio X X ,
não tentei estabelecer quando e onde Piaget e Skinner tiveram a oportunidade de se conhecer. Skinner relata em sua autobiogra­
fia, A matter o f cortsequences, sua visita, a convite, à Universidade de Genebra em 1962. Sua conferência foi em francês e ele íoi
apresentado pelo próprio Piaget, que se recusou a falar inglês, o que ele entendeu perfeitamente ( S k í n n l r , 19 8 3 , j>. i n ) .

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é verdade quanto ao mestre do construtivismo em relação ao últim o e mais distinto


dos neobehavioristas americanos. Tal ignorância recíproca é surpreendente quando
se reconhece, por trás das óbvias diferenças do discurso, a preocupação com questões
similares de ambos os lados e a relação próxima, embora inesperada, entre a maneira
com o ambos estabeleceram algumas questões cruciais, ao final de suas carreiras, para
futuros pesquisadores elaborarem melhor.
Piaget nunca tom ou conhecimento da especificidade de Skinner entre os beha-
vioristas. E m uma ocasião, em um de seus últimos livros, há uma indicação de que
ele estava consciente disso, mas ele faz essa menção apenas para colocar Skinner em
seu lugar, isto é, entre o time indiscrim inado de behavioristas. Para Piaget, eles eram
essencialmente pesquisadores empíricos Estímulo-Resposta, contra os quais ele lu­
tou obstinadamente ao longo de sua carreira. Ele os culpa por procurar a origem
do com portam ento exclusivamente no ambiente. E os acusa de exaltar o Estímulo,

INDEX
como, no lado oposto, acusa os neodarwinistas do erro contrário, exaltar fatores
endógenos. Q uando Piaget discute os princípios behavioristas, ele geralmente se
refere a H ull ou a Watson. Apesar de avisar ao leitor algumas vezes de que ele estaria
tratando de behavioristas clássicos, ele nunca acha necessário considerar outras for­
mas, mais recentes. Isto significa ignorar o fato de que Skinner, mesmo corretamente
visto em muitos aspectos com o o mais watsoniano entre os herdeiros de Watson,
propôs, em relação a muitas questões importantes, concepções completamente dis­

BOOKS
tintas daquelas de seus colegas behavioristas, incluindo o próprio Watson. Algum as
delas foram criticadas mais duramente por Skinner do que por não behavioristas.
Por exemplo, Skinner repetidamente enfatizou que o pensamento não pode ser re­
duzido à fala subvocal, uma tese de Watson frequentemente citada por Piaget como
a melhor contribuição behaviorista para o estudo do comportamento inteligente. A
revisão destrutiva de Skinner ao famoso livro de H ull, Principles o f behavior, parece
ter sido totalmente ignorada por Piaget."8 A seguinte citaçáo é apenas uma dentre

GROUPS
os muitos textos de Piaget que discutem a visão behaviorista, mas é uma exceção
no sentido de que termina com uma das raras alusões a Skinner. Poderia ser a única
ocasião em que Piaget revelasse que estava consciente da distinção a ser feita entre
Skinner e os behavioristas clássicos:

Na medida em que o sujeito adquire algum conhecimento,


seja ele o “know-how' característico da aprendizagem sensó-
rio-motora ou de formas superiores de entendimento, isso
sempre implica que ele foi bem-sucedido ao registrar alguns
observáveis nos objetos ao seu redor, o mundo externo sendo,

118 Revisão do livro de HuLI Principles o f behavior (S k in n e r , 1944, p. 276-181)- O artigo foi reimpresso no Cum ulative record
(id., 1972).

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em um sentido, a única fonte possível do progresso cognitivo:


a qualquer estímulo externo dessa forma corresponde a uma
resposta do sujeito, embora definida por Hull em termos de
uma “cópia funcional” da situação externa. Em outras pa­
lavras, o ambiente é aquele que detém poder total e é, por
assim dizer, ativo, de um modo muito positivo, enquanto o
sujeito permanece passivo no papel de mero receptor. Mesmo
quando os pombos de Skinner pressionam o disco, esta ação
imatura sobre o ambiente resulta em nada mais do que na
descoberta de suas propriedades para então submeter a suas
variações como reforçadores externos com vários valores.'"5

De sua parte, Skinner, em muitos de seus textos nos quais ele se aventura a

INDEX
interpretar com portam ento hum ano complexo à luz dos conceitos obtidos por meio
do estudo da aprendizagem animal, nunca olha mais de perto a posição de Piaget.
Se eventualmente ele a menciona, é apenas para descartá-la como pertencente a
concepções mentalistas, responsáveis não apenas pela progressão lenta das ciências
psicológicas com o um todo, mas pela incapacidade de nossas sociedades de adotar
uma visão de homem que poderia ajudar a resolver seus problemas.
Um a das raras alusões a Piaget ocorre, de forma bastante significativa, em um

BOOKS
parágrafo intitulado Estruturalismo. Piaget é apresentado com o um caso típico de
estruturalismo do desenvolvimento, para o qual mudanças que ocorrem na ontogê-
nese sáo descritas com o sequência de estágios correspondentes a alguma evolução
interna: “diz-se que o que cresce é algo na mente, como com Piaget” ,1“ A principal
falha da teoria de Piaget é, portanto, seu mentalismo. Skinner parece ignorar as
nuances trazidas por Piaget em sua análise crítica da noção de estrutura, que foi o
tema de um pequeno livro publicado em meio à onda estruturalista em Paris, sem

GROUPS
dúvida o mais divertido e inteligente dos trabalhos de Piaget.IZI M ais importante
ainda, Skinner, de form a similar, negligencia a parte fundamental do construtivis-
mo de Piaget, uma tentativa de toda uma vida para explicar uma parte importante
daquilo a que a palavra mente se refere, estudando sua história natural por todo o
desenvolvimento.
Talvez tal ignorância mútua seja apenas um exemplo, talvez seja o mais im ­
pressionante, de um paradoxo da m oderna psicologia, que é a separação dos cam ­
pos da aprendizagem e do desenvolvimento cognitivo. Para o observador ingênuo,
poderia parecer que esses dois campos se misturariam naturalmente. Pareceria que

119 Piaget (1974, p. 18 , traduçio minha).


120 Skinner (1974, p. 67).
121 Piaget (1968).

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qualquer um que se preocupa com os processos de aprendizagem deveria ter algum


interesse no desenvolvimento, considerando que as fases do desenvolvimento ge­
ralmente são, na maioria dos organismos, especialmente ricas em novas aquisições,
e daí oferecem as condições mais apropriadas para estudá-las. D e forma recíproca,
pareceria que sempre que alguém se recusa a conceber o desenvolvimento com o
um simples desenrolar do program a inato pré-form ado, deveria normalmente ser
levado a apelar para processos de modificação comportamental resultante da inte­
ração do organismo com seu ambiente, os quais são o objeto de estudo de qualquer
psicologia da aprendizagem. Longe de ser a regra, tal convergência dem orou para
emergir, e, mesmo atualmente, muitos a ignoram. D ar atenção para as chamadas
restrições de desenvolvimento da aprendizagem, tais com o os períodos críticos ou
favoráveis inicialmente descritos em relação ao fenômeno do imprintíng, era exceção
entre os especialistas em aprendizagem animal até os anos 1970, enquanto os de-

INDEX
senvolvimenristas da escola de Genebra mostraram pouca preocupação sistemática
com o lugar dos mecanismos de aprendizagem no desenvolvimento cognitivo até a
mesma época aproximadamente. Esforços para a integração mútua tiveram lugar no
campo do comportamento animal, mas, mais frequentemente, desenvolvimento e
aprendizagem ainda são justapostos, quando não são colocados em oposição: uma
situação particularmente prejudicial quando se trata de treinar profissionais em áreas
de aplicação, tal com o educação, na qual, por todos os propósitos práticos, os dois

BOOKS
aspectos não podem ser racionalmente mantidos separados.122

C onvergên cias

Se não poderia ter sido esperado que Piaget e Skinner explorassem suas com-
plementaridades, espera-se que seus seguidores o façam. A tarefa, de form a alguma,

GROUPS
é estranha às intuições dos dois homens. Apesar de sua visão inicialmente rígida a
respeito da psicologia da aprendizagem na tradição behaviorista, Piaget finalmente
deu abertura e, em seu grupo, encorajou os estudos experimentais sobre os efeitos
dos vários tipos de aprendizagem.125 Skinner, por sua vez, parece ter tido consciência
da necessidade de uma síntese quando ele escreveu, com o conclusão de um pequeno
comentário sobre teorias estruturalistas do desenvolvimento: “ Resta-nos suplemen­
tar o desenvolvimentalismo na ciência comportamental com uma análise da ação
seletiva do ambiente” .124

12 2 Para discussão dessas questões, ver Richelle (1986b, 1991).


123 Parte de seu trabalho foi publicada cm Inhelder. Sinclair & Bovec (1974). Para uma análise crítica, daquela abordagem, ver
Richelle ((976c).
124 About behavioriim ( S k i n n e r , retirada da ediçáo de bolso. Vintage Books, 1976, p. 7 5 ) .

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Ambos, Piaget e Skinner, abordaram o objeto de estudo da psicologia como


pertencente ao campo mais vasto das ciências biológicas, embora nenhum deles
apele para processos fisiológicos propriamente ditos. Este é, admitidamente, um
ponto de convergência bastante geral, mas é, no entanto, importante: a psicologia
moderna ainda não alcançou unanimidade como em relação aos seus vínculos com
as ciências biológicas de um lado e aos seus vínculos com as ciências sociais de
outro. Uma visão consiste em assumir uma continuidade entre os processos adap-
tativos básicos nas coisas vivas e os processos sócio-históricos, como encontrados na
espécie humana. Isto não é reducionismo, no sentido em que não está negando que
novas estruturas e novos processos emergem, por exemplo, com o desenvolvimento
sem precedentes em humanos das funções simbólicas e a linguagem natural, um
pré-requisito para a transmissão do comportamento adquirido e do conhecimento
e, portanto, da história cultural. Mas é uma recusa a uma distinção qualitativa bem

INDEX
delineada que oporia a espécie humana ao resto do mundo vivo, e aplicaria a ela,
como muitas psicologias e filosofias humanistas ainda fazem, ferramentas concei­
tuais e procedimentos empíricos basicamente diferentes.
Todo o trabalho de Piaget é focalizado na ideia de que existe uma continuida­
de entre as formas mais elementares de sistemas vivos e os produtos mais complexos
da inteligência humana. Sua produção empírica abundante é totalmente direcio­
nada para demonstrar tal continuidade. E muitos de seus escritos teóricos, tais

BOOKS
como Biology and k n o w le d g e são dedicados a uma elaboração explícita do mesmo
tema. As raízes biológicas das noções centrais tais como assimilaçáo-acomodação,
equilíbrio-desequilíbrio, foram repetidamente afirmadas por Piaget.
De modo similar, Skinner definiu o behaviorismo não como uma teoria da
psicologia, mas como uma filosofia da ciência que liga a psicologia definitivamente
com as ciências biológicas. Ele enfatizou, com insistência crescente à medida que o
tempo passava, a analogia entre o processo do condicionamento operante e os pro­

GROUPS
cessos vigentes na evolução biológica, um tema central que nos deterá mais tarde.
Como os psicólogos mais biologicamente orientados, Piaget e Skinner igual­
mente foram além do velho debate sobre o inato versus o aprendido, sobre a heredi­
tariedade versus a aprendizagem, o qual foi ressuscitado de uma maneira particular­
mente passional há não muito tempo, no contexto da inteligência humana. Desde
o início, Piaget argumentara contra as teorias inatistas e repetiu seus argumentos
em várias ocasiões, quando tais visões apareciam novamente, fosse no campo da
etologia, linguística ou antropologia.
As visões de Skinner a esse respeito são menos familiares, porque ele é geralmente
considerado um ambientalista extremo: ele toma o organismo como uma tabula rasa,
que receberá passivamente as impressões do ambiente. Esta interpretação equivocada

125 Inicialmente publicado em francês, 19 67, traduzido para o inglês em 1971.

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ignora os vários textos nos quais Skinner deixou clara sua posição. Referindo-se à
famosa passagem de Watson na qual o pai do behaviorismo sustenta que, dada uma
dúzia de bebês saudáveis e seu próprio e específico mundo para criá-los, ele garante
que pega qualquer um aleatoriamente e o treina para se tornar qualquer tipo de espe­
cialista, Skinner nos lembra que essas linhas, frequentemente citadas como negação
de qualquer componente herdado, aparecem em um capítulo dedicado a “como o
hom em é equipado para se comportar no nascimento” e que elas deveriam ser lidas
em seu contexto original. Ele enfatizou, como um fato óbvio, que comportamento
novo não pode ser adquirido ao longo da vida individual se não houver unidades
mínimas, as quais não podem se originar a náo ser na filogênese:

Algumas contingências filogenéticas devem ser efetivas antes


que as contingências ontogenéticas possam operar. O com­

INDEX
portamento relativamente indiferenciado do qual operantes
são selecionados é presumivelmente um produto filogenético;
um repertório indiferenciado amplo pode ter sido selecionado
porque ele tornava efetivas as contingências ontogenéticas.126

M as ele fez fortes objeções àquelas visões que, para explicar formas altamente
complexas de com portam ento, tais com o pensamento lógico ou linguagem natural,

BOOKS
apelam para algum dispositivo inato pré-formado, que apenas teria que ser posto
em ação.U7 C om o Piaget, ele queria saber com o o comportamento individual pode
encontrar seu lugar na evolução e explicar a emergência progressiva de organismos
cujas ações complexas não podem ser justificadas pelo milagre de uma única muta­
ção. Seus esforços em explicar a origem de alguns comportamentos específicos da
espécie —brevemente aludidos no capítulo 6 —náo ortodoxos, com o poderiam pare­
cer ao biólogo neodarwinista, foram motivados na verdade pela mesma preocupação
que os esforços obstinados de Piaget para articular a história de uma espécie e a ex­

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periência individual de seus membros lançando mão do fenômeno da fenocópia.118
Essas são aproximações de caráter geral. H á, contudo, convergências mais pro­
fundas, principalmente em dois pontos fundamentais. Um é o que pode ser chamado
de primazia da ação; o outro está relacionado à analogia evolucionária e o lugar das
variações na construção de novos comportamentos.

126 Contingencies o f reinforcement, p. 205. Reimpressão de The phytogeny a n d ontogeny o f behavior (S k in n e r . 1966).
117 Ver capítulo 10.
128 Piaget lidou muitas vezes com a questão, m is ela foi elaborada em profundidade e com liberdade náo usual em relaçáo à
biologia “oficial” em Adaptation tnale etpsychologie de I'intelligence: selection orgamque etphénocopie (P ia g e t , 1974). O livro, mais
uma vez, gerou acusações de lamarckism o.

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E NO COMEÇO ERA A AÇÃO!


Comum às teorias de Piaget e de Skinner é o conceito de que a ênfase, ao se estu­
dar comportamento, não deveria ser no estímulo, nem na mente, mas na ação. Com
relação a isso, ambas as teorias poderiam, de modo igualmente relevante, ser introdu­
zidas pelas famosas palavras de Fausto quando ele pensa sobre as origens das coisas:

No princípio era o Verbo. E esta a letra expressa;


aqui está,.. No sentido é que a razão tropeça.
Como hei-de progredir? há ’í quem tal me aclare?
O Verbo! Mas o Verbo é coisa inacessível.
Se apurar a razão, talvez se me depare
para o lugar de Verbo um termo inteligível...

INDEX
Ponho isto: No princípio era o Senso... Cautela
nessa primeira iinha; às vezes se atropela
a verdade e a razão co’a rapidez da pena;
pois o Senso faz tudo, e tudo cria e ordena?...
E melhor No princípio era a Potência... Nada!
Contra isto que pus interna voz me brada.
(Sempre a almejar por luz, e sempre escuridão!)

BOOKS
... Agora é que atinei: No princípio era a ação.119

De fato, a intuição final de Fausto foi parafraseada no jargão psicológico mo­


derno e aplicado a Piaget: “No começo era a resposta” . Piaget, como é bem conheci­
do, traçou a origem do pensamento lógico e abstrato em ações exibidas nos primei­
ros estágios do desenvolvimento e progressivamente coordenadas e internalizadas.130

GROUPS
Goethe estava claramente sinalizando uma epistemologia genética, mas também
estava antecipando o behaviorismo radical de Skinner, pois, apesar de interpretações
equivocadas persistentes, uma das características mais distintivas da teoria de Skinner
é, conforme já vimos, que ela definitivamente virou as costas para a visão Estímulo-
-Resposta que havia caracterizado alguns ramos do behaviorismo. A fórmula S-R foi
substituída pela noção central de ação seletiva do ambiente. A sentença de Piaget,
como citada anteriormente, que “para qualquer estímulo externo corresponde uma
resposta do sujeito” , se não descreve corretamente os tipos clássicos de behaviorismo,
também não se aplica ao de Skinner. No primeiro capítulo de seu livro Contingencies

129 Goethe ([1808] 1971). N . T.: Tradução de A n tón io Feliciano de Castilho.


130 Esta permanece com o uma diferença radical entre Piaget e a escola cognitivista de pensamento, que igualmente negligenciou
as origens das operações cognitivas na ação e seu resultado final na ação. Exam inada mais à frente, no capítulo 9.

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ofreinforcement, Skinner afirma sua posição de uma maneira inequívoca, que torna
ainda mais surpreendente que ele tenha sido persistentemente retratado com o psi­
cólogo S-R, Depois de descartar a visão tradicional do ambiente com o um simples
estágio ou cenário no qual o com portam ento ocorre, sem qualquer interação, ele
denuncia as insuficiências da concepção que dá ao ambiente o papel de liberador ou
de gatilho. Em uma seção significativamente denominada ' Além do estímulo e da
resposta’ , ele deixa claro que

nenhuma explicação da troca entre o organismo e o ambiente


está completa até que inclua a ação do ambiente sobre o orga­
nismo após uma resposta ter sido emitida."1

D ois pontos são cruciais naquela frase: primeiro, o com portam ento é um pro­

INDEX
cesso interativo — há uma troca entre o organismo e o ambiente — e, segundo, o
ambiente é importante por causa de sua ação após uma resposta ter sido emitida, isto
é, por causa de sua ação seletiva. O bviam ente, algum com portam ento deve ocorrer
primeiro, se o ambiente tem que exercer sua ação seletiva integralmente. Portanto,
contrário à descrição de Piaget da posição behaviorista, o ambiente não é, de modo
algum, na teoria de Skinner, a “única fonte” de comportamento. C om o tipicamente
exemplificado na câmara de condicionamento operante, começamos com a ação:

BOOKS
ação sobre o ambiente, que, por sua vez, modelará a ação por meio de um processo
de seleção. C om o a afirmação de Fausto, no início era o comportamento! O u, após a
definição inicial de Skinner de sua própria empreitada, com portam ento espontâneo.
U m a vez admitido esse paralelo entre Piaget e Skinner a respeito da primazia
da ação, alguém poderia ser contra convergências mais profundas argumentando
que há pouco em com um entre o projeto ambicioso de Piaget, que visava a explicar
as mais altas formas de atividade intelectual, e a abordagem de Skinner, limitada a
respostas motoras elementares em animais. Se é verdade que o trabalho empírico

GROUPS
de Skinner não contribuiu substancialmente para nosso entendimento das funções
cognitivas, ele, todavia, estendeu sua concepção geral de troca comportamental
m uito além das simples respostas motoras adquiridas em ratos e pombos. Ele a
estendeu para a percepção, que ele entende com o ação, ao invés de um registro de
cópia, reproduzindo a preferência de Piaget pela nomenclatura atividades perceptuais
ao invés de percepção. E , ainda de forma mais significante para nosso propósito, ele a
estendeu para com portam ento e conhecimento intelectual (cognitivo seria mais na
moda, é claro), com o apreendido na afirmação seguinte, verdadeiramente piagetia-
na: Nosso conhecimento é ação.''1

131 Skinner (1969b, p. 5, grifo do autor).


132 About bekaviorismc. p. [54 (rerirada da cdi^ao de bolso. Vintage Books. 1976).

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A explicação de sua visão epistemológica pode ser encontrada em muitas


ocasiões nos textos de Skinner. O trecho abaixo é especialmente ilustrativo de sua
oposição ao empirismo, considerando que foi uma réplica espontânea a Franz Ale-
xander em um simpósio onde o famoso psicanalista estava defendendo uma teoria
do conhecimento nas linhas do empirismo britânico clássico:

A noção de que o conhecimento consiste em impressões sen-


soriais e conceitos derivados das impressões sensoriais era, é
claro, a visão do empirismo britânico e ainda é sustentado por
muitas pessoas. Mas outros, incluindo a mim mesmo, acreditam
que ele é incapaz de representar o conhecimento humano adequa­
damente. Mesmo uma ideia simples não é, como Locke supôs,
uma reunião de materiais sensoriais em resposta à estimula­

INDEX
ção. Supor que o conhecimento físico existe na mente de um
físico como material psíquico ou mental —como a maneira
com que ele olha para o mundo —parece muito absurdo. Em
momento algum uma teoria física é um evento psíquico no
sentido de uma imagem ou sensação.

Dizer que a física sempre retorna às impressões sensoriais é

BOOKS
simplesmente dizer que o organismo está em contato com o
ambiente apenas através de seus órgãos dos sentidos - um
axioma muito óbvio. Mas o organismo faz muito mais do
que sugar o ambiente. Ele reage em relação ao ambiente e, ao
longo de sua vida, ele aprende mais e mais formas de reagir.
Uma concepção alternativa de conhecimento, que muitos de nós
sustentamos, é que conhecimento é ação, ao invés de sensação, e

GROUPS
que uma formulação do conhecimento deveria ser em termos de
comportamento.I”

Embora eu não pretenda me entregar a múltiplas citações, não posso resistir a


uma aproximação final:

Comportamento operante é essencialmente o exercício de um


poder: ele tem um efeito sobre o ambiente.1’4

135 Skinner ([1961] 1972, p. 255). Esse tpxto registra comentários feitos por Skinner sobre a contribuição de Alexander na
conferência “ Integrando as abordagens à doença mental” , que ocorreu em 1956, sobre a qual Skinner publicou um curto artigo:
"Psychology in the understanding o f mental disease” . O s grifos são meus.
134 About behaviorism, p. 154 (retirada da edição de bolso, Vintage Books, 1976).

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O organismo age sobre o ambiente, ao invés de simplesmen­


te se submeter a ele. Como nos níveis mais altos, em que o
comportamento desempenha um papel não insignificante,
este papel não é, de modo algum, limitado a compensar as
alterações ou agressões do ambiente: ele pode consistir, ao
contrário, em ações de dominação direcionadas a estender o
ambiente.'5'

Qual é qual? Apenas a grafia inglesa da palavra comportamento,l}6 e talvez a


concisão relativa, sugerem Skinner como autor da primeira citação, a menos que se
esteja enviesado pela ideia de que Skinner era possuído de uma sede de poder e que
não se possa 1er a palavra poder sem lhe dar conotações ideológicas, as quais ela não
exprime mais do que “ações de dominação” Çles conduites conquérantes”) do sujeito

INDEX
de Piaget.

A ANALOGIA EVOLUCIONÁRIA I
Estas similaridades, embora geralmente não observadas, especialmente pelos
próprios Piaget e Skinner, fornecem a base para uma teoria integrativa do desen­

BOOKS
volvimento e aprendizagem que é fundamentada posteriormente pelo uso comum
da anaJogia evolucionária na explicação da ontogênese do comportamento. Se ana­
lisarmos ambas as teorias em termos de seu valor para pesquisas posteriores, não
podemos deixar de enfatizar as perspectivas abertas pela discussão sobre o papel das
variações no comportamento, da parte do mestre do construtivismo, bem como do
mestre do behaviorismo radical. Em ambos, o tema das variações comportamentais
foi crescentemente central em seus escritos respectivos mais recentes. Ele é, de fato, o
tema central do livro Adaptation vitale et psychologie de l ’intelligence, ao quai me referi

GROUPS
diversas vezes. Mais importantes que seus argumentos que se referem ao próprio fe­
nômeno da fenocópia, o qual, para os biólogos poderia soar como pouco fundamen­
tado, a discussão de Piaget sobre a evolução nas plantas é um pretexto para lidar com
uma questão que foi encarada no estudo do comportamento por tradições diferentes
da sua própria e do behaviorismo. O problema da origem e do papel das variações
comportamentais está relacionado, em Piaget, com os conceitos de equilíbrio-dese-
quilíbrio. Sem adentrar nas complexidades de suas elaborações teóricas, é suficiente
dizer que, para Piaget, o desenvolvimento pode ser descrito como uma sucessão de

135 Piage' (i9 7 4 . P- *8).


136 N .T .: Em inglês britânico, se escreve behaviour, enquanto no ingiés estadunidense, utilizado por Skinner, náo se utiliza, a
vogal V : bfhavtcr.

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estados de equilíbrio. Ele se deteve na seguinte questão: como é que o organismo náo
permanece no primeiro estágio de equilíbrio que ele pode desfrutar? Por que ele acaba
caindo em desequilíbrio apenas para começar tudo de novo em direção a um novo
equilíbrio, em algum nível mais elevado? Afirm ar que o ambiente oferece alguma re­
sistência à manutenção do equilíbrio náo explica nada se o organismo não for dotado
de alguma “sensibilidade” aos desafios ambientais, que é mais bem implementado em
termos de variações. C o m o Piaget sustenta, em um estilo biológico muito clássico,
“ há sempre, em sucessão, variação e seleção” . Tal variabilidade não pode ser explicada
pelo ambiente:

O ambiente desempenha um papel fundamental em todos


os níveis (isto é, na evolução biológica da espécie, bem como no
desenvolvimento cognitivo), mas como objeto de conquista e

INDEX
náo como causação modeladora, que deveria ser procurada,
de novo em todos os níveis, em atividades endógenas do or­
ganismo e do sujeito, ambos os quais permaneceriam con­
servadores e incapazes de inovar (...) na ausência dos muitos
problemas criados pelo ambiente ou mundo externo, mas que
podem reagir a eles por tentativas e explorações de todos os
tipos, desde o nível elementar das mutações até o nível mais

BOOKS
alto das teorias científicas.137

Este texto, apesar de aparecer nos argumentos de Piaget em resposta ao erro


behaviorista, é, em conteúdo, muito próximo à visão de Skinner, exceto quando afir­
ma o caráter endógeno da variabilidade. Skinner seria menos assertivo nesse ponto e
sugeriria, ao invés disso, que as variações se originam ou na história filogenética ou na
história ontogenética, que significa, em qualquer caso, uma interação com o ambien­

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te. E facil especular sobre como Piaget poderia ter utilizado a análise de Skinner do
comportamento operante, em termos de processo seletivo, para completar, com uma
ligação até então ausente, sua ambiciosa teoria baseada na continuidade dos mesmos
processos em todos os níveis de evolução. Se sua teoria se sustenta, espera-se que
abranja o nível da aprendizagem, que é precisamente o que Skinner disputava. A sua
teoria é essencialmente uma teoria sintética que estende os princípios evolutivos ao
comportamento individual. Veremos com mais detalhes no capítulo 8 como Skinner
elaborou esse tema.
Neste ponto, é digno de nota que os psicólogos contemporâneos, geralmente
não cientes da convergência entre Piaget e Skinner em tal questão fundamental,

137 Piaget (1974, p. 73, tradução e grifo no texto entre parênteses são meus).

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agora parecem reconhecê-la. U m caso é o de Mehler, que, em livro recente,138 discute


sua própria visão sobre “selecionismo específico” , ao contrastá-lo com três tipos de
“selecionismo geral” : de Piaget, de Changeux e de Skinner. A referência de M ehler a
Skinner é especialmente significante, pois ele estava entre aqueles psicólogos que, há
alguns anos, anunciou a morte do behaviorismo radical.139 A importância de Skin­
ner, com o um dos psicólogos que, ao lado de Piaget, recorreu ao poder explicativo
do modelo evolucionário, é agora devidamente reconhecida.

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138 M ehler & D upoux (1990).


139 M ehler (1969). Ver capítulo io.

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PARTE III

INDEX
P edras d e t o q u e d o b e h a v io r is m o
r a d ic a l : c é r e b r o , c o g n iç ã o ,
l in g u a g e m e c r ia t iv id a d e

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8
SKINNER E A BIOLOGIA

Q uatro m a u s s in a is no exam e d a bio lo g ia ?

A posição de Skinner em relação à biologia foi fonte de importantes mal-enten­


didos, apesar das afirmações perfeitamente claras de sua parte. O s mal-entendidos

INDEX
mais difundidos podem ser resumidos da seguinte forma:

1. Skinner negligenciou, ou pior, negou, aquelas coisas importantes que


têm lugar dentro do organismo e especialmente no cérebro.
2. Seu ambientalismo extremo o cegou para o papel da hereditariedade
na determinação do com portam ento e o levou a deixar fora de sua
teoria as contribuições da genética m oderna e da psicogenética para o

BOOKS
nosso entendimento dos organismos vivos; do ponto de vista da biolo­
gia, portanto, sua teoria é obsoleta.
3. Sua defesa de que as leis da aprendizagem são universais o levou a ne­
gligenciar características específicas das espécies, as quais não escapam
a um observador interessado em biologia consciente das diferenças
interespecíficas, não menos visíveis no nível comportamental que no
nível morfológico.

GROUPS
4. Seu último recurso ao modelo evolutivo para explicar comportamento
adquirido é, na melhor das hipóteses, uma metáfora superficial e não é
suficiente para colocá-lo na digna com panhia dos biólogos modernos.

Estas críticas tão frequentes parecem estar em desacordo com o princípio cen­
tral da posição de Skinner, que sua abordagem behaviorista radical da psicologia é
essencialmente um modo de inserir o campo no reino das ciências naturais e, mais
especificamente, das ciências biológicas. Estava ele tão ingênuo ou equivocado para
afirmar tal identificação crucial enquanto elaborava visões estranhas ao pensamento
biológico moderno? Novamente, uma leitura justa de seus textos não leva a essa
conclusão. As críticas apontadas aqui são representações claramente distorcidas de
seu pensamento e elas frequentemente refletem um pensamento biológico não sofis­
ticado de seus críticos mais do que da parte de seu alvo.

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Já podemos nos desfazer das críticas 2 e 3, as quais foram respondidas no capí­


tulo 7. Daremos atenção agora aos pontos 1 e 4.

D evem o s d isp e n sa r o cérebro ou a m en te , ou a m b o s ?

A posição de Skinner foi frequentemente representada como a “psicologia da


caixa-preta” . A expressão implicitamente transmite dois tipos m uito diferentes de
crítica. U m se refere à negligência em relação ao substrato neural correlato do com ­
portamento e, de form a mais geral, em relação aos aspectos biológicos do com por­
tamento. O outro tipo de crítica se refere ao abandono de qualquer entidade ou
variável interna inferida na descrição e explicação psicológica. Am bas as críticas têm
longa história na psicologia, retomando o behaviorismo inicial, mas elas foram res­

INDEX
suscitadas em relação à versão de Skinner de behaviorismo radical e no contexto, por
um lado, das tendências atuais da neurociência e, por outro, do desenvolvimento do
cognitivismo moderno.
Poder-se-ia argumentar que essas críticas são uma única crítica, e não duas.
Adm itidam ente, em alguns de seus aspectos, a abordagem cognitivista da psicologia
vem se desenvolvendo em uma relação m uito próxim a com as ciências do cérebro.
Contudo, com o veremos, alguns cognitivistas estão defendendo que sua ciência -

BOOKS
chame-a de psicologia, ou de ciência do processamento de informação, ou do que
você preferir — é claramente distinta da ciência do cérebro, que é autônom a na
utilização de seus próprios métodos e conceitos, não redutíveis àqueles da neurofi-
siologia ou neuroquímica. Desse m odo, parece apropriado comentar separadamente
cada uma dessas críticas. A primeira tem a ver com a posição de Skinner em relação à
psicofisiologia e> conform e já mencionado, com a biologia em geral. A segunda tem
a ver com o problema do mentalismo. N o prim eiro caso, o problema que estamos

GROUPS
encarando é um problema justamente clássico de delimitação de fronteiras entre os
campos da ciência, de definição de suas características metodológicas específicas e
de especificação de relaçóes substanciais, se existem, entre eles. N o segundo caso, so­
mos confrontados com uma questão epistemológica persistente e muito difícil, que
dom inou a psicologia desde seu início até o presente e que não é nada menos que a
questão do objeto de estudo da psicologia e das formas com o ele deveria ser tratado.
As ciências do cérebro vêm se desenvolvendo de um modo tão fascinante nas
últimas décadas que a recusa de Skinner em olhar para a caixa-preta agora parece
obsoleta. Por que alguém deveria se manter na superfície das coisas quando es­
tão disponíveis as ferramentas que nos permitem observar em profundidade o que
acontece dentro da cabeça? Por que deveríamos nos privar da possibilidade que é
oferecida agora de entender os mecanismos subjacentes ao com portam ento, lá onde
eles ocorrem, no cérebro? Alguns neurocientistas, confiantes em seu poder, mais

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ou menos explicitamente sugerem que as ciências do cérebro podem substituir a


psicologia e que o estudo do com portam ento, em particular, era apenas uma etapa
na história da pesquisa sobre o mistério da mente. Esta é essencialmente a posi­
ção tomada por Changeux, entre outros, em seu famoso livro The neuronal man.'A°
Espera-se que registros cerebrais e as mais recentes e promissoras formas de imagem
cerebral nos permitam acesso direto a elementos cerebrais, percepções e conceitos,
que com põem a mente e o com portam ento iniciador.
Ninguém hoje em dia pensaria seriamente em discutir o fato de que o cérebro
iem algo a ver com o comportamento, e provavelmente ninguém nunca o fez de fato,
certamente Skinner também não. O que ele defendeu foi a necessidade do estudo
do comportamento em si mesmo, o que é muito diferente de dizer que o estudo do
cérebro não é de interesse. Pelo contrário, seu argumento repetidamente foi que, se
nosso conhecimento do funcionamento cerebral vai se desenvolver, ele necessita, entre

INDEX
outros requisitos, de métodos adequados para estudo do comportamento. Se enten­
dermos as razões para sua posição metodológica, entenderemos também como é que
técnicas de laboratório delineadas por Skinner foram tão amplamente aceitas em vá­
rios campos das neurociências. Porque poderia parecer, à primeira vista, paradoxal que
o condicionamento operante, inventado como o foi por um “psicólogo caixa-preta” ,
conquiste agora simpatia entre os neurocientistas de todas as denominações, sejam eles
neurofisiologistas, neurofarmacologistas, neuroendocrinologistas, neurotoxicologistas,

BOOKS
para nomear apenas alguns, como destacamos no capítulo 3.
A chamada abordagem caixa-preta havia sido classicamente atribuída à inge­
nuidade de Skinner em questões biológicas. Deveria ter sido relembrado que um de
seus primeiros artigos, e parte de sua tese de doutorado em Harvard, foi parte de um
trabalho exclusivamente teórico, intitulado “ O conceito de reflexo na descrição do
com portam ento” .141 Recorrendo à história das principais descobertas em fisiologia,
de Glisson e Swammerdam a Sherrington, passando por Robert W hytt, Marshall

GROUPS
Hall e M agnus, ele discutiu em profundidade a noção de reflexo e sua conexão
com o estudo das relações entre eventos identificáveis que poderiam ser substitutos
para aquelas forças ou entidades que, sob vários nomes, haviam sido utilizadas para
explicar as ações de um organismo. Naquele artigo inicial, ele destacou as principais
ideias que iria elaborar, e de certo modo reformular, mais tarde em seu primeiro e
influente livro, The behavior o f organisms.M1 Para Skinner, em 1931, o conceito de
reflexo, com o era tradicionalmente utilizado pelos fisiologistas, era obviamente ina-
propriado para descrever o tipo de material no qual os psicólogos estavam interessa­
dos, isto é, o comportamento. A simples relação entre um estímulo e uma resposta

140 Changeux (198}).


141 Skinner (1931)-
142 Id. (1938).

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é claramente inadequada para explicar o comportamento. Esta relação é modulada


por muitas variáveis, cujo estudo é mais crucial num a análise do com portam ento
do que o é a própria ligação estímulo-resposta. Skinner ainda não tinha chegado à
noção de operante, nem à relação fundamental para a análise do comportamento,
entre resposta e reforçamento> ao invés de entre estímulo e resposta. M as ele certamente
estava no caminho.
Enquanto estudante de graduação e um novato em Harvard, Skinner aprendeu
fisiologia e neurofisiologia em prim eira mão de professores com o Crozier, Forbes
e D avis. Q uando ele mais tarde escreveu sobre o “voo para fora do laboratório” ,143
apontando para a tendência que levava muitos psicólogos experimentais para o
trabalho com neurofisiologia, ele certamente não subestimou o progresso feito no
estudo do sistema nervoso, nem ignorou sua contribuição para o nosso entendi­
mento a respeito do com portam ento. Entretanto, defendia a necessidade do estudo

INDEX
do com portam ento em si mesmo e avisou aos psicólogos que não deixassem sua
área para se voltarem para a fisiologia, A objeção não era que a fisiologia não era
interessante —de fato, era excessivamente interessante, ao ponto de muitos experi­
mentadores de primeira categoria deixarem a psicologia para cair na sua sedução,
uma sedução baseada em sua sofisticação tecnológica, seu grau de desenvolvimento
e sua respeitabilidade acadêmica. Skinner não questiona a contribuição desses pes­
quisadores para a ciência, apenas lam enta que a psicologia os tenha perdido:

BOOKS Não podemos discutir a importância de suas contribuições;


apenas podemos imaginar, com pesar, o que eles poderiam ter
feito ao invés disso.144

“ O que eles poderiam ter feito ao invés disso” , na mente de Skinner, é con­
tribuir para um a descrição consistente das relações observadas no nível comporta-
mental. Para a psicologia se desenvolver como uma ciência, e tomar seu lugar nas

GROUPS
ciências da vida, ela precisa produzir fatos claros e reprodutíveis, construir conceitos
teóricos em seu próprio campo, ao invés de escapar das dificuldades de uma análise
do com portam ento tom ando emprestados fatos e conceitos de outra disciplina. Esta
foi a mensagem do artigo m encionado anteriormente, no qual Skinner denunciou
o “voo para fora do laboratório” , de várias formas, uma das quais era o recurso ao
homemfisiológico interno. Isso não era ignorância ou um ataque contra a fisiologia. A
reivindicação de Skinner era que os psicólogos deveriam trabalhar em seus próprios
níveis de análise, i.e., o comportamento, não para preservar um a ciência psicológica
autônoma ou para organizar reuniões psicológicas, mas, de modo mais importante,

143 Id. (19 7 1, p. 314-330).


144 Id. ibid., p. )2Ó.

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porque o com portam ento é um aspecto essencial dos organismos vivos e, portan­
to, porque outras ciências engajadas no estudo dos organismos vivos, tais como a
neurofisioíogia, neuroquímica e neurofarmacologia, não podem progredir a menos
que as descrições do com portam ento sejam comparáveis, em rigor e refinamento,
com as descrições dos eventos em seu respectivo nível de análise. Com o podemos
entender o funcionam ento do aparato nervoso visual, da retina às estruturas cor-
ticais em projeção e áreas associativas, se perdemos o conhecimento intermediário
das estimulações às quais o organismo reage por meio de seus receptores visuais e de
como sua percepção visual está organizada no nível comportamental? Se a neurofi-
siologia da visão vem se desenvolvendo tão eficientemente, não é apenas por causa
do progresso em descrever anatômica e fisiologicamente as vias e centros nervosos
envolvidos, mas também porque claras descrições com portam entais estavam dis­
poníveis no trabalho dos psicofísicos e especialistas em percepção na psicologia. E

INDEX
parte do progresso recente no campo sem dúvida se deve ao fato de que os estudos
de com portam ento animal atingiram um grau de refinamento sem precedentes,
graças às técnicas operantes. M uitos outros exemplos poderiam ser encontrados no
campo da aprendizagem e da memória, ou no campo da neurofarmacologia: imenso
progresso no registro, nos métodos de estimulação e de lesão, ou no rastreamento
de neurotransmissores e drogas no sistema nervoso são apenas parte da história.
Outra parte pode ser encontrada nas análises comportamentais de laboratório, que

BOOKS
tornaram possível descrever e medir rigorosamente o curso da aprendizagem indivi­
dual em situações controladas, ou mostrar os efeitos de drogas no com portam ento
animal, detectar efeitos paradoxais ou propriedades aditivas, ou demonstrar a capa­
cidade de um organismo de discriminar entre diferentes estados internos induzidos
por diferentes drogas.
Não é surpresa, portanto, que os procedimentos delineados por um psicólo­
go que assumiu a postura metodológica de “ ignorar o que se passa na caixa-preta”

GROUPS
tenham sido tão amplamente adotados em vários campos das neurociências. Ao
trabalhar obstinadamente em sua própria área, ele conseguiu forjar uma ferramenta
mais efetiva para tornar explícitas para quem estuda o cérebro algumas das coisas
que o estudante tem de explicar ao lidar com as funções daquele espantoso pacote
de neurônios. E, se os neurocientistas ainda estão muito frequentemente se satis­
fazendo com especulações verbais ao falar de consciência, pensamento, intenção e
outros semelhantes, é apenas porque, naquelas questões, os psicólogos ainda estão
balbuciando e estão longe de oferecer aos seus colegas neurocientistas mais do que
explicações filosóficas ou de senso comum.
Skinner expressou e com entou repetidamente a sua posição a respeito da rela­
ção entre psicologia e fisiologia. H á muitas possibilidades de citações que ilustrariam
igualmente bem seu ponto. A seguinte passagem contém os principais aspectos de
sua visão:

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Isso não significa, é claro» que o organismo seja concebido


como realmente vazio, ou que a continuidade entre o input e
o output não será por fim estabelecida. O desenvolvimento ge­
nético do organismo e as complexas trocas entre o organismo
e o ambiente sáo objeto de determinadas disciplinas. Algum
dia deveremos saber, por exemplo, o que acontece quando
um estímulo se choca contra a superfície de um organismo e
o que acontece com o organismo depois disso, em uma série
de estágios, o último dos quais é o ponto em que o organismo
age sobre o ambiente e possivelmente o modifica Mas
todos esses eventos internos serão explicados com técnicas de
observação e medida apropriadas à fisiologia das várias partes
do organismo, e a explicação será expressa em termos apro­

INDEX
priados àquele objeto. Seria uma notável coincidência se os
conceitos utilizados para se referir inferencialmente aos even­
tos internos encontrassem lugar naquela explicação. A tarefa
da fisiologia não é encontrar fomes, medos, hábitos, instin­
tos, personalidades, energias psíquicas ou atos de vontade, de
atenção, de repressão e assim por diante. Nem é sua tarefa
encontrar entidades ou processos em relação aos quais tudo

BOOKS
isso poderia ser considerado como sendo outros aspectos. Sua
tarefa é explicar as relações causais entre input e output que
sáo a preocupação especial da ciência do comportamento. A
fisiologia deveria ser deixada livre para fazer isso do seu pró­
prio jeito. A medida que os atuais sistemas conceituais falham
em representar as relações entre os eventos terminais correta­
mente, eles representam mal o papel dessas outras disciplinas.
Um conjunto amplo de explicações causais formuladas com

GROUPS a maior precisão possível é a melhor contribuição que nós,


como estudantes do comportamento, podemos oferecer nesta
aventura cooperativa de dar um explicação completa do orga­
nismo como sistema biológico.145

Os argumentos para manter o universo do discurso das ciências comporca-


mentais à parte do universo da neurofisiologia — ou ciências do cérebro em ge­
ral - parecem suficientes no nível metodológico. H á, entretanto, ao menos uma
categoria de cientistas que não estão prontos para se submeter a essa ideia: sáo os

145 Id. ibid., p. 26 9-170. Reimpresso de “ '>7hat is psychotic behavior?" (id., 1956), publicado em Theory anA treatment o f the
psychoses: wm e newer aspects ( G ild e a , 1956).

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psicofisiologistas, que, por definição, estão trabalhando em ambos os níveis, fisioló­


gico e com portam ental, simultaneamente. Eles já fizeram um trabalho muito bom
na época em que Skinner fez campanha contra o recurso ao hom em fisiológico
interno e continuaram seu trabalho com sucesso crescente. Skinner nunca se opôs
à sua abordagem pluridisciplinar, integrativa. Ele estava consciente do papel de tais
iniciativas na história da ciência:

É difícil atacar essa teoria [i.e., teoria pseudofisiologizante, a


ser discutida na próxima seção] sem parecer que estou cri­
ticando o psicólogo fisiologista, mas nenhuma crítica está
envolvida. Há muitos precedentes na história da ciência para
disciplinas limítrofes. Integrar os fatos de duas ciências é um
esforço interessante e proveitoso.1*6

INDEX
N o nível epistemológico, é também uma conquista muito desejável. Mas, no ­
vamente, um a ciência integrativa requer um grau equivalente de controle experi­
mental e de clareza conceituai nos vários campos que ela pretende integrar.
O nde estamos hoje, mais de 50 anos depois que Skinner escreveu seus artigos
de retratação em defesa de uma ciência do comportamento com o distinta da fisioL-
gia? Sem dúvida, as ciências “ limítrofes” tiveram tremendo progresso, como o pró­

BOOKS
prio Skinner reconheceu em resposta a um comentário apontando para a mudança
na situação; progresso em parte devido, com o ele também enfatiza, à qualidade das
técnicas comportamentais agora disponíveis.147 O momento pode ser propício para
uma verdadeira ciência integrativa do cérebro e do com portam ento emergir, e o
atual entusiasmo nas neurociências, renovado interesse no velho problema M ente e
M atéria (Cérebro e M ente/Cérebro e Com portam ento), certamente aponta naquela
direção. Isso não quer dizer que os psicólogos devam abandonar suas especificidades

GROUPS
metodológicas. Isso pode ainda permanecer por algum tempo com o o caminho mais
apropriado para que eles contribuam para uma neurociência integrada.
D e form a bastante curiosa, o pretexto para uma ciência psicológica específica,
distinta da neurofisiologia, foi dado, mais recentemente, não por behavioristas fora
de moda, mas por alguns cognitivistas. Em sua influente teoria de percepção visual,
o finado David M arr claramente distinguiu três níveis de análise - computacional,
representacional e o nível da implementação - e argumentou em prol da visão de
que a ciência deve lidar com eles nessa ordem, começando com o nível mais abs­
trato e mais geral e terminando com a implementação neurofisiológica. Marr, que

346 Skinner (1972, p. 303). Reim presso de Current trends in psychology (D e n n is et al., 1947).
14 7 Ver resposta do autor ao com entário aberto dos pares em “ M ethods and theory in the experimental analysis of behavior’
( R j c h e l l e , 1984, p. 541-546).

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era também um expert em neurofisiologia (bem conhecido por seu trabalho com o
cerebelo), náo é certamente mais suspeito que Skinner de ter ignorado a fisiologia
de dentro dela própria. Porém, por razões admitidamente muito diferentes, ele che­
gou à conclusão similar de que, se a fisiologia deve elucidar o funcionam ento do
cérebro, ela necessita de uma descrição clara do que se passa no nível psicológico.
A diferença - realmence importante e que vai nos deter no próxim o capítulo - está
naquilo que ‘‘psicológico” significa. Enquanto, para Skinner, é essencialmente o que
ocorre quando um organismo está interagindo com seu ambiente, para M arr se re­
fere principalm ente a eventos e processos mentais que ocorrem na cabeça do sujeito.
Em sua forma extrema, esta posição chamada “funcionalista,\ MÍÍ como defendida por
Johnson-Laird entre outros, sustenta que uma explicação dos requisitos "com puta­
cionais” não está suscetível a mudar de acordo com o que poderia por fim resultar
da descrição neurobiológica.

INDEX
Se os com portam entos são vistos com o meros indicadores de processos inter­
nos, úteis para fazer inferências sobre esses processos, mas sem qualquer interesse
em si mesmos, o status da psicologia —definida como a ciência dos processos men­
tais internos — em relação à neurobiologia gera, mais uma vez, questões difíceis e
cruciais. Somos ainda novamente confrontados com o velho problema filosófico
da substância da mente e o cognitivismo epistemológico pode ocasionar o retorno
explícito ou não ao dualismo, e algumas vezes ao espiritualism o.149 Se isso será visto,

BOOKS
em longo prazo, com o uma resposta correta, não pode ser definido agora, mas, por
enquanto, os psicólogos devem ser claros sobre o modo como relacionam processos
mentais e processos neurais. A posição funcionalista extrema afirma que a descrição
psicológica, essencialmente inferencial, pode se sustentar sem qualquer considera­
ção às limitações neurais com o especificadas pelas neurociências. Elas prometem
decodificar o nível de implementação de hardware de modo que ele se encaixe na
explicação cognitiva. A psicologia é dado status independente, como tivera anterior­
mente em sua tão criticada abordagem “caixa-preta” , mas com a fundamental dife­

GROUPS
rença de que os processos mentais e a substância neural ocupam o mesmo espaço
físico, o que não era o caso do com portam ento e da atividade cerebral “caixa-preta” .
O funcionalism o preserva autonom ia para a psicologia, mas a separa do tremendo
progresso obtido nas neurociências, privando-a de novos insights que elas fornecem
em muitas questões psicológicas. Aqueles que não mais se im portam com o com ­
portam ento, embora não consigam ir tão longe de modo a aderir ao funcionalismo
extremo, expõem-se ao risco de deixar seu lugar aos neurobiologistas à medida que
eles progridem em sua área: se percepções e conceitos podem ser evidenciados com

148 O termo funcionalism o Foi utilizado para qualificar várias posiçóe.ç reóricas e metodológicas ao longo da história da psicolo­
gia, com significados diferindo daquele que vemos no presente contexto e nas ciências cognitivas contemporânea;,. Dicionários
apropriados poderão esclarecer ox vários significados.
149 E cd es (1979) e Poppcr & Fedes (1977).

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técnicas de imagem cerebral, por que alguém deveria insistir em utilizar métodos
psicológicos indiretos? Este foi de fato o tipo de questão ansiogênica que alguns psi­
cólogos tiveram de enfrentar após ler o livro de Changeux, The neuronal man, quan­
do foi publicado, em 1983. Q uando discutimos sobre ação no capítulo anterior, eu
afirmei que a psicologia exercerá seu papel no campo mais amplo das neurociências
se ela se mantiver, com o sua tarefa genuína, no estudo do com portam ento e dos
estados mentais inferidos no mesmo continuum de interação com o ambiente.

A ANALOGIA EVOLUCIONÁRIA II
Já discutimos, em muitas ocasiões nos capítulos anteriores,150 a relação do m o­
delo evolucionário com a teoria de Skinner. Já sabemos que ele foi aplicado ao

INDEX
processo do condicionamento operante, visto com o análogo ao processo de seleção
sobre variação vigente na evolução biológica. Fizemos alusões a convergências neste
ponto com Lorenz e com Piaget. A importância de entender a posição de Skinner é
tal que exige maior elucidação e comentários adicionais.
Skinner pormenorizou o lugar da analogia evolucionária em sua visão do com ­
portamento em uma série de artigos importantes publicados nos últimos 15 anos
de sua carreira. Sua preocupação com esse modelo, entretanto, com eçou muito

BOOKS
antes. E geralmente datada de seu artigo de 1966 em resposta ao ataque de Lorenz
à abordagem behaviorista do com portam ento animal. Isso pode levar à conclusão
equivocada de que seu interesse no modelo de variação e seleção emergiu a partir da
controvérsia sobre a tese de Lorenz. N a verdade, ele já tinha apelado para o modo
de explicação de D arw in muito antes e muito significativamente em Ciência e com­
portamento humano, em 1953. Desde então, ele se manteve evocando 0 modelo, com
dois propósitos diferentes, mas igualmente importantes.
Por um lado, o D arw inism o forneceu a ele, com o à biologia, um finalismo

GROUPS
alternativo e, consequentemente, um argumento decisivo contra o mentalismo. Ao
recorrer a entidades mentais com o fonte de com portam ento, o mentalismo dá um
lugar central, ao explicar a ação animal e humana, a conceitos com o objetivo ou
propósito, intenção, vontade, desejo e assim por diante. A biologia havia recorrido
a um conceito similar anteriormente para explicar a adaptação de organismos vivos.
N o interior do amplo arcabouço adotado da teoria da evolução, as funções adaptati-
vas não eram mais vistas como mecanismos direcionados a um propósito, mas como
subproduto da história passada das pressões seletivas. Skinner credita a Thorndike
o mérito de ter entendido a significância do modelo de D arw in na explicação do
com portam ento individual intencional, por ter tornado possível incluir os efeitos

l$o Ver, especialmente, capítulos 4, 6 í 7

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da ação sem utilizar conceitos com o propósito, intenção, expectativa ou utilidade e


continuando:

A solução de Thorndike foi provavelmente sugerida pelo tra­


tamento de Darwin dos propósitos filogenéticos. Antes de
Darwin, se poderia dizer que o propósito de um olho bem
desenvolvido era permitir ao organismo ver melhor. O prin­
cípio da seleção natural moveu ‘Ver melhor” do futuro para
o passado.151

Neste contexto, a analogia evolucionária aparece com o um precedente inspi­


rador, trazido de um outro campo da ciência, que auxilia muito eficientemente a
resolver um problema antigo e admitidamente complicado de uma forma totalmen­

INDEX
te diferente. Alguém poderia alegar que isso é apenas uma analogia e, com o todas
as analogias, pode ser ilusória. Os que se opõem à visão de Skinner (que rejeita as
causas internas do presente em prol da ação seletiva do passado) argumentaram
que, qualquer que seja o destino do pensamento teleológico na biologia, os seres
humanos continuam a manifestar seus desejos e intenções, com o é notável a partir
de suas afirmações verbais de ações futuras. O debate foi retomado na psicologia
contemporânea por vários pensadores cognitivistas, psicólogos e filósofos, muitos

BOOKS
dos quais dão com o certo que os seres humanos agem de determinada maneira
para implementar intenções e objetivos prévios, cujo status é deixado sem qualquer
análise crítica. A análise de Skinner pode ter sido supersimplificadora, embota ele
mesmo estivesse consciente das complexidades decorrentes do uso da linguagem
e da possibilidade resultante de falar sobre eventos e ações futuras. M as dar às in­
tenções um tipo de status axiomático, sem necessidade de qualquer explicação, não
resolve o problema. Sabemos, por meio de muitas abordagens teóricas diferentes na
psicologia, a psicanálise em particular, que as intenções explícitas têm seus próprios

GROUPS
antecedentes, aos quais podem estar relacionadas de forma ambígua, e não estão
relacionadas claramente às ações que seguem.
Em um contexto de certo modo diferente, Skinner recorreu à analogia evo­
lucionária, já apontada, como modelo explicativo chave para o com portam ento
operante. O processo em funcionamento na modelagem e manutenção dos com ­
portamentos adquiridos (ao menos no tipo operante) seria paralelo ao processo que
explica a evolução biológica: a chamada seleção natural. A analogia evolucionária
oferece uma poderosa ferramenta que nos permite entender com o novas formas dc
vida emergiram através da história biológica, sem abandonar a abordagem causal que
caracteriza a explicação científica. E tentador transferi-la para a explicação do com­

151 Retirado dc Skinner (1963) conform e reimpressão em Contingencies o f reinforcement (id. ibid., p. 106).

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portamento individual adquirido. O empenho de Skinner, de um modo mais amplo,


estava direcionado para a elaboração de uma teoria do comportamento baseada no
modelo evolutivo. A o mesmo tempo em que reconhecia a contribuição fundamental
de Thorndike, quando form ulou a lei do efeito, Skinner levou a ideia mais além ao
utilizá-la com o conceito-chave para todo com portam ento adquirido que não pode
ser reduzido aos mecanismos associativos pavlovianos. Com portam entos operantes
não sáo disparados como os reflexos, nem como as complexas sequências motoras
como os chamados Padrões Fixos de Ação descritos pelos etologistas. Eles são em iti­
dos, por alguma razão, antes de serem seguidos por um reforçamento. São, de certo
modo, espontâneos, para usar novamente a caracterização feita pelo próprio Skinner
em The behavior o f organisms. A ação seletiva do ambiente não pode atuar antes de o
com portam ento ser produzido. As seguintes linhas do Science and buman behavior
expressam inequivocamente a força do conceito na teoria de Skinner já em 1953:

INDEX No comportamento operante, bem como na seleção evolutiva


das características comportamentais, as consequências alte­
ram a probabilidade futura. Reflexos e outros padrões inatos
de comportamento evoluíram porque eles aumentaram as
chances de sobrevivência da espécie. Operantes se fortalecem
porque sáo seguidos de importantes consequências na vida do

BOOKS
indivíduo.'!1

O parágrafo continua com comentários a respeito do propósito, relevantes para


a discussão anterior neste capítulo:

Ambos os processos levantam a questão do propósito pela


mesma razáo e, em ambos, o apelo a uma causa final pode ser

GROUPS
rejeitado do mesmo modo.

O tema ganhou im portância cada vez maior nos escritos de Skinner, especial­
mente desde o artigo de 1966 da Science já mencionado. Ele recorreu à analogia
evolucionária para explicar a produção da novidade e do com portam ento criativo,
tais como nas obras de arte.153 E muitos dos artigos mais importantes que ele publi­
cou nos seus últimos dez anos eram com pleta ou parcialmente dedicados a ela.154 Em
um desses artigos, “ Seleção por consequências” , Skinner desenvolveu a visão de que
o mesmo processo, i.e., seleção sobre variação, explica todos os três níveis da vida:

152 Id. ibid., p. 90.


[53 Ver, especialmente, dois artigos, reimpressos com o capítulos 2 1 e 23 (id., 19 7 1), que são leituras agradáveis, além de conter
im portantes observações sobre a questão aqui levantada.
154 Ver, especialmente, Skinner ( 19 8 1,1984b).

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o nível da evolução biológica, ou da espécie propriamente; o nível da aprendizagem


individual (outros falariam de processos individuais de ganho de informação); e o
nível da cultura ou das práticas sociais. O s três níveis lidam tradicionalmente com
diferentes disciplinas científicas, respectivamente, biologia, psicologia e antropolo­
gia cultural. N ão há dúvida de que há importantes diferenças qualitativas entre os
três níveis e que o mecanismo singular a que todos eles se referem opera em cada
caso sobre materiais distintos: pools genéticos não são o mesmo que ações motoras,
que não podem ser confundidas com traços culturais. O processo comum necessita
de algumas qualificações em cada nível, que levam à especificidade dos três campos
da ciência relacionados. Entretanto, o processo básico inicialmente proposto no
nível da evolução biológica foi emprestado com o um modelo explicativo nos outros
dois níveis.
Surge a questão: há algo mais naquela transferência do que mera analogia,

INDEX
possivelmente útil com o ferramenta didática, mas sem qualquer conteúdo além
disso? Pode-se argum entar que as qualificações necessárias nos níveis com porta-
mental e cultural são tão numerosas e tão interessantes que tornam a analogia quase
sem sentido.155 Pode ser verdade que a evidência empírica disponível nos níveis
com portam ental e cultural é m uito mais escassa que no nível biológico, mas isso
não é, em si mesmo, um argumento contra a fecundidade potencial da hipótese,
vista como substantiva ao invés de analógica. D evem os lembrar que o darwinism o

BOOKS
permaneceu com o uma teoria fracamente fundam entada por evidência em pírica
convincente, em bora bastante atrativa a m uitos, até ser finalmente fundida à ge­
nética. N ão há qualquer regra ou princípio que nos levaria a descartar a utilização
substancial da analogia evolucionária além do dom ínio da evolução da espécie ao
qual foi inicialmente e com sucesso aplicada. Vários cientistas, pertencentes a di­
versos campos e com diferentes inclinações teóricas, assumiram uma continuidade
substancial nos mecanismos básicos da evolução biológica para o crescimento e
aprendizagem individual, para a evolução cultural mais amplam ente ou em um

GROUPS
aspecto específico, tal com o a história do pensamento científico. Alguns exemplos
típicos, selecionados entre os representantes mais proeminentes daquela tendên­
cia, serão apresentados brevemente aqui, colocando Skinner em boa com panhia (e
reciprocamente) e mostrando que ele não foi, neste aspecto de sua obra, ingênuo,
fantasioso ou isolado. A o destacar com o ele com partilhou a analogia evolucionária
com muitos outros, deveremos perceber seu particular ponto de vista com o menos
original e com o reflexo de uma intuição que aparentemente em ergiu independen­
temente em diferentes campos e em diferentes mentes. Tais convergências denotam
um dos aspectos mais encorajadores do fazer ciência: a fusão das principais ideias
por im posição dos problemas tratados, a despeito de quaisquer preocupações di-

15S Esta é a posição tom ada, entre outros, por Plotkin (1987}.

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vergentes. O bviam ente, todos aqueles que recorreram à analogia evolucionária em


sua própria área de pesquisa ou em seu próprio viés teórico viviam no contexto
da ciência moderna, im pregnada pelas ideias cruciais de D arw in. M as eles não
tomaram emprestado generalizadamente uns dos outros. Pelo contrário, em geral
trabalharam em ignorância m útua, como já apontado no caso de Piaget e Skinner.
Piaget é, entre os psicólogos,156 o único que deu maior peso em seu trabalho
m onumental à analogia evolucionária, e que a tom ou mais seriamente, mais lite­
ralmente. Já discutimos (capítulo 7) sua teoria construtivista, com parando-a com
a posição de Skinner. Vim os que um de seus principais componentes é a noção de
uma continuidade fundamental das formas elementares dos processos biológicos
até as mais altas conquistas da mente hum ana com o exemplificadas na lógica e na
ciência. Piaget pode ser visto com o o psicólogo do século X X mais “evolucionário” ,
com Skinner logo em seguida.

INDEX
A explicação evolutiva era também inerente à etologia de Lorenz, com o poderia
se esperar de um biólogo cuja preocupação inicial, com o indicado no capítulo 6,
era explicar a diversidade do com portam ento específico da espécie e relacioná-lo a
outros aspectos (morfológicos) da evolução. N ão iremos mais comentar sua obra,
mas, sem dúvida, ele possui seu lugar no presente contexto.
Transitando para outro cam po, a história da ciência e epistemologia, não se
pode deixar de m encionar Karl Popper com o um dos pensadores mais famosos de

BOOKS
nossos tempos que lançou mão extensivamente da analogia evolucionária tomada
substancialmente. U m de seus principais livros, Objective knowledge, prim eiram en­
te publicado em 1972, traz o subtítulo an evolutionary approach.'57 O tema está,
realmente, impregnado em seus escritos. E não é surpresa que um biólogo, o ga­
nhador do prêm io Nobel, Jacques M onod, tenha sido convidado para escrever a
introdução para uma edição francesa do clássico The logic o f scientific discovery. Ele
corretamente apontou:

GROUPS
Conjectura e refutaçáo exercem, no desenvolvimento do co­
nhecimento, o mesmo papel lógico (como fontes de informa­
ção) que a mutação e a seleção, respectivamente, na evolução
do mundo vivo. E se a seleção natural foi, no mundo vivo, ca­
paz de construir o olho dos mamíferos ou o cérebro do Homo
sapiens, por que a seleção das ideias não teria sido capaz, em
seu próprio reino, de construir a teoria darwiniana ou a teoria
de Einstein?158

156 Para detalhes sobre os outros usuários da analogia evolucionária na psicologia, ver Plotkin (1981), Plotkin & OdUng-Smee
(1981). Van Parijs (1981) discutiu com algum aprofundam ento o paradigma evolutivo nas ciências sociais.
157 O livro inclui alguns artigos escritos anteriormente. As citações feitas nesce capítulo são da edição revisada de 1979.
158 M on o d \apud P o p p e R, 5978. p. 4). A introdução de M onod é datada de 1071 e apareceu na edição de 1973. Tradução minha.

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Monod estava apenas repetindo as inúmeras afirmações feitas por Popper, i


pressando sua concepção evolucionária do desenvolvimento científico. Especialme
te relevante para nossa discussão é a caracterização feita por Popper do crescimen
do conhecimento como um caso especial de aprendizagem:

O crescimento do conhecimento - ou o processo de aprem


zagem - não é um processo repetitivo ou cumulativo, mas <
eliminação de erro. É seleção darwiniana, ao invés de instn
çáo lamarckiana.153

Tudo isso pode ser expresso ao dizermos que o crescimenc


de nosso conhecimento é o resultado de um processo mui»
semelhante ao que Darwin chamou de “ Seleção natural” ; ist»

INDEX
é, a seleção natural de hipóteses: nosso conhecimento consi*
te, em cada momento, naquelas hipóteses que mostraram sua
adequação (comparativa) ao sobreviver na luta pela existência;
uma luta comparativa que elimina aquelas hipóteses que não
se adaptam.160

Popper segue adiante para enquadrar sua visáo da evolução do conhecimento


científico na visáo geral do desenvolvimento do conhecimento - ou aprendizagem

BOOKS
- nos sistemas vivos em uma fórmula que Skinner teria aprovado:

Esta interpretação pode ser aplicada ao conhecimento animal,


conhecimento pré-científico e conhecimento científico.

Além disso, insiste, novamente de uma forma que Piaget e Skinner teriam
ratificado, no status da analogia:

GROUPS Esta afirmação da situação tem o propósito de descrever como


o conhecimento realmente cresce. Não metaforicamente, em­
bora, é claro, faça uso de metáforas (...}. Da ameba até Eins-
tein, o crescimento do conhecimento é sempre o mesmo.16'

O autor poderia ter chegado mais próximo à formulação de Skinner. Contudo,


ele não reconheceu a similaridade, tendo focado sua atenção exclusivamente nos

IÇ9 Popper (1972, p. 144, grifos meus).


160 Id. ibid., p. 16 1.
161 Id. ibid., p. 761.

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textos sociofilosóficos de Skinner, especialmente sua Utopia, que ele atacou vigoro­
samente. Skinner, de sua parte, parece não ter tido consciência do uso generalizado
que Popper fez da analogia evolucionária. Este é outro caso de ignorância recíproca
de dois grandes intelectuais.'61
A neurobiologia é outro campo onde os principais avanços teóricos recentes
estão centrados no princípio da seleção sobre variações. Changeux recorreu ao m o­
delo evolutivo para explicar a formação das redes sinápticas no desenvolvimento
neural em sua teoria da “ estabilização seletiva” . Estendendo seus interesses para o
funcionam ento do cérebro enquanto o órgão envolvido nos processos cognitivos e
no com portam ento, eíe propôs uma abordagem dinâmica da cognição seguindo o
mesmo modelo, chamado de “darwinismo generalizado ”.
Atitude similar foi tomada por Edelm an, cujo livro Neural Darwinism: the
theory o f neuronal group selection163 não apenas apresenta a teoria do autor do desen­

INDEX
volvimento epigenético neuronal fortemente ancorado numa versão atualizada do
selecionismo e pensamento populacional, mas preenche a lacuna com as ciências
comportamentais ao estender o mesmo esquema teórico para os níveis psicológicos
da ação, percepção, categorização, m emória e aprendizagem. Esse livro mereceria
especial menção no presente contexto, por ser mais do que outro exemplo do uso
do mesmo tipo de princípio explicativo nos vários campos. Ele é, m uito mais ex­
plicitamente que em Changeux, um esforço em direção a uma síntese entre aqueles

BOOKS
campos. Lim itar-nos-em os a duas pequenas citações do capítulo conclusivo de Edel­
man que claramente ilustra as similaridades com outros pensadores citados acima,
com partilhando com eles a analogia evolucionária no sentido substancial, e seu co­
rolário, o conceito de seres vivos com o geradores de diversidade, uma condição que
oferece ao processo seletivo o material sobre o qual ele pode agir:

E importante, por exemplo, distinguir entre respostas com­

GROUPS
portamentais evolutivamente determinadas e aquelas que de­
pendem da variação individual no tempo somático164 dentro
de uma espécie. No tempo somático, a primeira visão implica
instrução-informação do ambiente fundamentalmente deter­
mina a ordem da conectividade funcional (embora náo neces­
sariamente aquela da conectividade física) no sistema nervoso.

162 Pop per ter declarado repugnância às ide Las sociopoliticas de Skinner não é suficiente para explicar o fato de que ele não se
referiu a outros aspectos de seu trabalho científico e, mais especificamente, à sua utilização da teoria evolucionária de um a forma
muito próxima à sua própria. Ele ignorou Piaget de m odo semelhante: nem em Objective knowledge, nem em sua importante
contribuição ao livro com John Eccles, The self and ia bmin (Poppér & E c c t ís , 19 77), podemos encontrar qualquer alusão ao
trabalho do epistemólogo evolutivo suíço, cujos textos estavam disponíveis para qualquer um em inglês.
163 Edelm an (1987).
1Ó4 A expressão “tempo somático” se refere ao tem po de vida de um organismo individual. N o s termos de Skinner, poderia ser
substituído por “ontogénese” .

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A segunda alternativa é seleção-grupos nos repertórios neuro-


nais preexistentes, que formam populações determinadas pela
filogênese e pelos geradores de diversidade ontogenéticos, sáo
selecionados por estímulos de modo a permitir padrões de
resposta altamente individuais.

Edelm an propõe uma teoria neuronal que integra a dimensão do desenvolvi­


mento e os requisitos indicados pelo estudo do com portam ento na etologia e nos
estudos experimentais dos mecanismos de aprendizagem (a síntese anteriormente
sugerida entre Piaget, Skinner e Lorenz) e, apesar de resistir à tentação da genera­
lização para a evolução cultural, ele prevê a reconciliação entre as regularidades da
natureza e a criação individual da novidade:

INDEX
Se a extensão a essas questões finalmente se mostrar viável,
entáo não surpreenderia se, até certo ponto, cada percepção
fosse considerada como um ato de criação e cada memória,
um ato de imaginação. O sabor individualista e a riqueza ex­
traordinária dos repertórios seletivos sugerem que, em cada
cérebro, elementos epigenéticos têm papéis fundamentais e
imprevisíveis. O determinismo genético categórico não tem

BOOKS
lugar em tais sistemas; nem o tem o empirismo instrucionisca.
Em vez disso, fatores genéticos e de desenvolvimento intera­
gem para permitir sistemas de notável complexidade capazes
de um grau igualmente notável de liberdade. As restrições
impostas a essa liberdade pela cronologia e pelos limites dos
repertórios, embora certas, não parecem tão impressionantes
quanto a habilidade infinita dos sistemas seletivos somáticos

GROUPS tais como o cérebro para fazer frente à novidade, generalizar


sobre ela e se adaptar de maneiras imprevistas.1^

Edelm an faz referências abundantes e apropriadas a estudantes do com porta­


mento e especialmente da aprendizagem, de Thorndike a M acintosh, de Pavlov a
Rescorla. D e modo m uito relevante, ele se refere a Staddon,166 um dos estudantes do
com portam ento da geração pós-skinneriana que desenvolveu uma teoria da apren­
dizagem elegantemente voltada para a integração do modelo evolutivo em ambos
os níveis, com portam ento específico da espécie e com portam ento individualmente

165 Edelm an {1987, p. 329).


166 Scaddon (1983).

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aprendido.'67 Ele também se deparou com o selecionismo próprio de Skinner e dá


crédito a ele por ter insistido no controle pelas consequências. Porém lhe nega um
real entendimento a respeito do que uma explicação selecionista trata. C ondena
Skinner por ser apenas um instrucionista, sustentando que a aprendizagem é essen­
cialmente a impressão da informação do ambiente sobre o organismo.
Sabemos que esta não é uma imagem justa da posição de Skinner, embora
tenha sido mantida por muitos outros, incluindo Piaget. Talvez uma explicação para
essa distorção do pensamento skinneriano esteja no fato de que ele não conseguiu
encontrar suporte empírico para seu tratamento teórico da questão da variação-sele-
ção, ou, mais precisamente, que ele não conseguiu testar experimentalmente metade
do processo, i.e., a variação. A questão “a analogia inspirou um program a em pírico?”
Plotkin prontamente respondeu “não” ,168 significando que nem o próprio Skinner
nem seus seguidores submeteram a analogia à validação no nível comportamental

INDEX
por meio da investigação das fontes e da natureza da variação comportamental.
E verdade que, com as poucas exceções citadas no capítulo 4, pouca pesquisa
experimental foi dedicada àquele importante aspecto do mecanismo de aprendiza­
gem, a despeito do lugar que lhe fora dado nos escritos teóricos de Skinner. O traba­
lho implementado no laboratório de Skinner, bem com o aquele realizado por outros
analistas do com portam ento, focalizou quase que exclusivamente a ação seletiva do
ambiente. Contingências de reforçamento foram exploradas em todas as direções,

BOOKS
e a atenção estava principalm ente centrada em estados estáveis, em detrimento do
próprio processo de aquisição, presumivelmente um objeto de estudo mais apro­
priado para quem se interessa pelo processo de variação.
C om o explicar tal descaso? Inicialm ente, deve-se adm itir que nem todas as
implicações da analogia evolucionária com o um modelo para o com portam ento
operante foram com pletam ente consideradas pelo próprio Skinner até o final dos
anos 1950 (se supomos que ele amadureceu o tema a partir de suas formulações

GROUPS
iniciais em 1953 até o seu artigo de 1966, m otivado pela publicação de Lorenz). Este
é também o m om ento em que ele abandonou quase que com pletam ente o trabalho
experimental e se voltou para os escritos teóricos. Suas importantes contribuições
para o laboratório desde o início dos anos 1930 até a publicação de Schedules o f
reinforcement69 haviam dem onstrado pouca preocupação com a variação com por­
tamental. H á pouca dúvida de que houve um deslum bram ento, em Skinner e seus
discípulos, pelos efeitos regulares das contingências de reforço, relacionado a uma
fascinação pelo lado produtivo das técnicas altamente automatizadas utilizadas
no laboratório operante. Tam bém é justo observar que o estudo da variação, em

167 Edelman Utpuà Sta h d cin , 1983I. Ele também poderia ter feito referência a Scaddon & Sim m elhag (1971).
168 Plotkin (1987).
169 Ferster & Skinner (1957).

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si mesma, não é fácil. É difícil desembaraçar a variação com o uma propriedade


intrínseca do organism o que se com porta e a variação enquanto um subproduto
de um fraco controle experim ental. Psicólogos que, desde o início de sua ciên­
cia, lutaram para estabelecer respeitabilidade científica, nunca buscaram expor a
si mesmos a culpa pela falta de rigor, e ninguém pode ter certeza de que estudos
em píricos rigorosos sobre a variação no operante poderiam ter sido possíveis antes
de a tecnologia com putacional invadir o laboratório. D em onstrou-se que agora
isso é possível por meio de uma série de experim entos, muitos dos quais foram
discutidos no capítulo 4. Se considerarmos que uns 40 anos se passaram desde
The phylogeny and ontogeny o f behavior, podemos perguntar por que essa questão
crucial na teoria do com portam ento não ensejou um maior número de testes expe­
rimentais e podemos entender que alguns mal-entendidos sobreviveram, sobre esse
ponto em particular, entre os críticos de Skinner, m esm o entre aqueles que eram

INDEX
bastante favoráveis às suas visões.

BOOKS
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9
DO MENTALISMO AO COGNITIVISMO

VlDA MENTAL E BEHAVIORISMO

Para os psicólogos contemporâneos, cuja maioria se define com o cognitivista,


ou ao menos com o especialista em ciências cognitivas, o antimentalismo obstinado

INDEX
de Skinner aparece com o sua maior falha, senão como seu pecado capital. Para
eles, o antimentalismo definitivamente deixou Skinner para trás, alheio aos avanços
recentes da psicologia, que se voltou de novo para o estudo da mente. A questão
não pode ser esclarecida sem colocar o antimentalismo de Skinner em seu contexto
original ou sem apontar do que o, cognitivismo trata e o que são seus problemas
internos atualmente. É de especial importância, pois Skinner gastou parte conside­
rável de seus escritos dos últimos vinte anos repetindo sua posição básica e refinando

BOOKS
seus argumentos contra os princípios cognítivistas.
O antimentalismo de Skinner deve ser entendido dentro do arcabouço do
behaviorismo e em relação ao seu próprio ramo, o behaviorismo radical. C o m o é
bem conhecido, a revolução behaviorista era essencialmente direcionada a fugir do
beco escuro em que se achava a psicologia na virada do século X X . Apesar de seu
respeito pelo rigor metodológico, a psicologia continuava a confiar na introspecção
como principal fonte de informação ou com o a principal fonte para coleta de dados,

GROUPS
relacionados a estados mentais ou à vida mental. A abordagem se mostrou insatisfa­
tória em muitos aspectos. Entre outros, a confiabilidade nos autorrelatos em apontar
os determinantes reais da conduta foi seriamente questionada pela psicanálise; psicó­
logos da escola de W ürzburg falharam em sua tentativa de elucidar processos de pen­
samento por meio de métodos introspectivos; estudantes do comportamento animal
não podiam contar com o progresso da psicologia científica hum ana, enquanto o
trabalho experimental com animais na fisiologia se mostrou mais e mais frutífero
para delinear leis gerais e para lidar, em uma segunda etapa, com o corpo humano.
Q uando Watson proclamou que a psicologia era a ciência do com portam ento,
ele estava cristalizando ideias que já haviam sido expressas de uma form a menos
assertiva por outros (especialmente por Pièron na França'70), ou que haviam sido

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elegantemente postas em prática, em bora com pouca elaboração epistemológica,


por Pavlov e sua escola. Foi um segundo passo no sentido da integração do campo
das ciências naturais, após a fundação da psicologia científica meio século antes.
Eventos observáveis e com portam entos eram enfatizados e estados mentais eram
deixados de lado. Em bora a nova visão de psicologia tenha se espalhado de forma
muito rápida e tenha se tornado amplamente aceita, o mentalismo não saiu de
cena, com o já observamos no capítulo i: estados, entidades e construtos mentais
ainda floresciam em muitas áreas da psicologia, sob nomes com o aptidões, atitudes,
necessidades, impulsos, traços e outros semelhantes. Aqueles psicólogos que conti­
nuaram a utilizar estes conceicos ou similares para explicar ações humanas nunca
foram behavioristas de fato, mesmo que tivessem definido, algumas vezes, quando
questionados, a psicologia como ciência do comportamento. Já vimos que o anti-
mentalismo de Skinner enfrentou esses abusos das “ ficções explicativas", as quais,

INDEX
para ele, tinham o efeito perverso de interromper o caminho para uma análise real
do que acontece por fornecer status causal a estados internos inferidos e incontrolá-
veis. Esta também foi sua principal objeção ao aparato psíquico da teoria freudiana,
embora ele reconhecesse a qualidade das observações de Freud e lhe desse mérito
em relação à abordagem determinista da psicologia hum ana (ver capítulo 5). O
contraste entre tais posições extremas está claro o bastante e torna os argumentos
pelo antimentalismo cristalinos, se ainda passíveis de debate.

BOOKS
Um a questão m uito mais sutil e muito mais importante em relação ao cresci­
mento recente do cognitivismo surgiu, entretanto, entre os próprios behavioristas.
Ela opôs os então chamados behavioristas metodológicos aos behavioristas radicais.
Eles diferem principalm ente pelo status dado aos eventos e estados mentais. O s
behavioristas metodológicos admitem que a vida mental não é diretamente acessível
ao escrutínio científico, enquanto assumem, mais ou menos explicitamente, que ela
é o que os psicólogos realmente gostariam de entender. Então eles se satisfazem em i
estudar o observável, acreditando no sucesso, embora limitado, e se conformando :

GROUPS
em se manterem para sempre na superfície das coisas.
O behaviorismo radical toma uma postura drasticamente diferente. Ele susten­
ta que a vida mental não é nada essencialmente distinta do com portam ento e que
|

não há qualquer princípio que leve à distinção entre o com portam ento observável e
o que se passa dentro do organismo, se é que a psicologia deve de fato lidar com isso
(discutimos o problem a da relação entre análise comportamental e neurobiológica
no capítulo 8). A distinção se deve apenas ao senso com um tradicional pré-científico
ou não científico ou a interpretações filosóficas, que não são mais relevantes para
uma abordagem científica da psicologia do que a explicação bíblica da criação era
para o real entendimento da origem das espécies. Naquela perspectiva, o estudo
do com portam ento é visto com o abrangendo tudo aquilo que deve ser conhecido
no nível psicológico. Ela não considera nenhum território impenetrável, para cuja

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exploração fossem necessárias ferramentas que estivessem além da competência da


ciência, um território em que se poderiam encontrar alguns agentes ou causas intan­
gíveis de fenômenos observados (que é a postura do behaviorismo metodológico).
O significado da palavra comportamento, nesse contexto, não se restringe a simples
ações motoras: ele também se estende ao com portam ento verbal, solução de proble­
mas e novidade.
N ão se pode esperar que essas posições estejam livres de dificuldades. Realm en­
te, dificuldades existem de ambos os lados, e elas possivelmente explicam, até certo
ponto, por que o behaviorismo radical foi fortemente rejeitado por muitos e por que
o behaviorismo m etodológico acabou gerando o cognitivismo.
Para os behavioristas metodológicos, duas posições são possíveis com relação ao
status da vida mental, O u ela é, em essência, inacessível à investigação científica, e os
psicólogos teriam que se satisfazer em estudar apenas suas manifestações explícitas

INDEX
no com portam ento observável: eles estariam condenados ao platonism o, por assim
dizer, fadados a contemplar a imagem das essências. O u se poderia esperar que as
limitações atuais fossem apenas temporárias, que o progresso técnico da ciência que­
braria, por fim, a fronteira e daria acesso à vida mental. Em bora os debates em torno
dos limites intransponíveis do conhecimento científico reapareçam repetidamente
ao longo da história de todas as ciências, os cientistas geralmente tendem a pensar de
forma confiante em seu próprio poder e deixar aberta a possibilidade de que, mais

BOOKS
tarde, poderão compreender, por fim, o que lhes está próxim o atualmente, C om o
veremos, o cognitivismo é em parte a evolução do behaviorismo m etodológico que
emergiu do progresso nos procedimentos experimentais, dando acesso a domínios
até então inacessíveis; mas, em outro aspecto, ele também relegou o behaviorismo ao
nível de uma simples expressão da vida mental mais profunda, finalmente revelada.
O behaviorismo radical também tem seus próprios problemas. Skinner insistiu
que suas objeções ao mentalismo não foram tanto em relação ao fato de que as coisas

GROUPS
a que o mentalismo se referia eram mentais, mas que, muito frequentemente, ele
destrói o caminho para uma explicação verdadeira. Skinner reconheceu que existem
tais coisas enquanto eventos internos (se quisermos evitar a palavra mental), que per­
tencem ao dom ínio do com portam ento. A pele, com o ele indica, não é a fronteira
importante. Porém, se o for, permanecem as questões: qual é o status desses eventos
internos e com o eles podem ser abordados? Com o devemos traçar os limites entre
aquilo com que podemos lidar dentro da análise do com portam ento e o que deve
ser deixado à fisiologia —depois da sugestão de Skinner, em outras ocasiões, de que
os processos mentais deveriam ser deixados para aqueles equipados para explorá-los
apropriadamente? N o caso mais simples, com o na fala encoberta, parece muito fácil
explicar o processo de internalizaçáo de um comportamento inicialmente aberto e
mesmo caracterizar tal “com portam ento interno” recorrendo a procedimentos sim­
ples, como aqueles utilizados por Vygotsky com crianças naquele caso particular.

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INDEX BOOKS GROUPS 17/6/2015

Poder-se-ia estender o mesmo argumento para “ver na ausência do estímulo visto” ,


ou outros casos de “com portam ento perceptivo" sem qualquer estímulo presente, ao
olhar a percepção com o ação, ao invés de cópias registradas a serem armazenadas,
mas, claramente, tal ação não é acessível à investigação com facilidade. Em algum
ponto, os psicólogos não dispõem de outro caminho, a não ser fazer inferências e
desenvolver procedimentos que deem máxima plausibilidade a suas inferências. Há
pouca dúvida de que o surgimento do conceito de “psicologia cognitiva” e a emer­
gência do movim ento “cognitivista” tiveram origem no problema das inferências.
M as o movim ento evoluiu em tantas direções, que devemos primeiramente tentar
analisar suas formas mutantes, antes de qualificar a posição.

COGNITIVISMOS: UMA TENTATIVA DE CLASSIFICAÇÃO QUÁDRUPLA

INDEX O surgimento do cognitivismo não deixou Skinner indiferente. Ele reagiu so­
bre muitos aspectos e de maneiras muito diferentes. Ele foi, algumas vezes, patético
e retórico, como no final de uma de suas conferências imitando o estilo de Zola em
seu famoso panfleto relacionado ao caso D reyfus;17' algumas vezes, irônico; outras,
erudito, com o em sua busca pela origem comportamental dos termos e conceitos
cognitivos;172 algumas vezes, desencantado e resignado, como em seu artigo “ W ha-

BOOKS
tever happened to psychology as the science o f behavior?” .173 Sua última conferência,
ministrada poucos dias antes de seu falecimento, cujo manuscrito ele completou um
dia antes, foi outro, particularmente firme, ataque ao cognitivismo, o qual ele não
hesitou em com parar ao criadonism o:

A ciência cognitiva é a ciência da criação na psicologia, à me­


dida que luta por manter a posição de uma mente ou self.'7*

GROUPS
Antes de resumir seus argumentos, será útil delinear o significado do termo
cognitivism o, que se tornou a palavra mágica da m oderna psicologia. Parece im ­
possível fornecer um a única definição ao que aparece, em análise, com o um rótulo
com um aplicado a coisas muito distintas. E difícil não chegar à conclusão de que há
cognitivismos, ao invés de um cognitivismo. Pode haver algumas mudanças de um
para outro, mas há diferenças suficientes para não confundi-los. A seguinte classifi­

17 1 Skinner (1985), reimpresso em 1987.


m Id. (1989a), reimpresso em 1989b.
173 ld. (1987a, reimpressão: 1989b).
17 4 U . (1990).

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cação é admitidamente uma tentativa,175 mas ajudará a analisar as críticas de Skinner,


que nem sempre se direcionam ao mesmo tipo de cognitivismo.
Parece apropriado distinguir quatro tipos de cognitivismo, caracterizados
por diferentes ênfases nos níveis m etodológico e epistemológico e com impactos
distintos sobre aspectos práticos e sociais das ciências psicológicas. Para facilitar a
referência, irei nomear esses quatro tipos de cognitivismo como metodológico, episte­
mológico, ético e institucional, respectivamente.
O cognitivismo metodológico segue perfeitamente a linha que o precedeu na tra­
dição da psicologia científica, baseado também no uso de procedimentos científicos
para aumentar o entendimento sobre uma determinada área da realidade. A ênfase em
processos internos (processamento de informação, representação, organização da me­
mória e assim por diante) reflete o fàto de que se progrediu na resolução do problema
da acessibilidade, um problema central enfrentado por toda ciência que se depara com

INDEX
os limites da observação e da plausibilidade da inferência. Novas técnicas foram desen­
volvidas, ou antigas técnicas foram melhoradas, que agora tornam possível o estudo
de fenômenos e processos até então inacessíveis ou simplesmente não imaginados (vi­
mos no capítulo 3 como procedimentos operantes contribuem para esses progressos).
Novas hipóteses foram formuladas, que visam a explicar as propriedades observadas
em dados previamente coletados. Novos modelos teóricos foram implementados para
integrar fatos que não se encaixavam em abordagens anteriores. Tudo isso constituiu

BOOKS
uma evolução, ao invés de uma revolução\ uma evolução cujas fases principais po­
dem ser facilmente identificadas no passado, incluindo o passado do behaviorismo.
Geralmente, Tolman leva o mérito por ter estabelecido importantes questões para a
explicação do comportamento intencional ou por ter proposto mais tarde, ainda mais
claramente antecipando as abordagens cognitivas, a noção de um mapa cognitivo na
análise da aprendizagem latente em procedimentos de labirintos com ratos. A maior
parte dos neobehavioristas se preocupava, de um modo explícito, com os processos

GROUPS
que ocorrem entre o estímulo e a resposta e recorreu, com sucesso variado, a variáveis
intervenientes. Skinner traçou a origem inicial da psicologia cognitiva, vista como
um ramo da psicologia científica americana advindo da tradição behaviorista, ao re­
curso de Tolman às variáveis intervenientes. N a revisão do livro de Laurence Smith,
Behaviorism and logicalpositivism (1987), reimpresso no Recent issuef76 como capítulo
10, página 109, ele comenta sobre Smith atribuindo a posição de Tolman à influência
à qual se submeteu em Viena, durante um ano sabático (1933-1934). Skinner sugere,
como alternativa plausível ou explicação suplementar, que Tolman pudesse ter sido

175 Para uma discussão mais elaborada para os vários tipos de cognitivism o nos diferences contextos, ver Richelle (1986a, 1987b)
e Richelle &í Fontaine (1986).

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influenciado pelo artigo de Skinner de 1931, que “ele havia lido com entusiasme
discutido com seu grupo” .
Tolm an e Skinner usaram fórmulas semelhantes para explicar a causaçáo <
com portam ento, exceto pelo status dos fatores adicionais — além do estímulo,
história passada e a hereditariedade. Skinner os considerou simplesmente “terct
ras variáveis” , enquanto Tolman os denominou “variáveis intervenientes” . Skinn
comenta: “Aquele pode ter sido o ponto em que a análise experimental do con
portamento se separou daquilo que viria a ser a psicologia cognitiva” .'77 Os artigt
fundamentais de Karl Lashley, especialmente sua famosa conferência sobre a ordei
serial do com portam ento, abriram o caminho para a noção de programa para
ação motora, que se revelou um dos conceitos mais úteis na pesquisa posterior er
psicofisiologia e psicologia das ações motoras.
A teorização de Hebb sobre o tipo de organização neural necessária para ;

INDEX
aprendizagem se revelou igualmente estimulante, se comparada às contribuições d>
Tolman ou Lashley, e ainda é no contexto atual, possivelmente além do cogniti
vismo, uma fonte de inspiração para os conexionistas. George Miller, Galanter «
Pribram, Broadbent e, logo depois, Neísser, seguiam os passos desses e de outros
importantes precursores quando estabeleceram as fundações da chamada psicologia
cognitiva. C om o quase todos os outros campos da ciência, ela se beneficiou ampla­
mente dos avanços computacionais, tanto como ferramenta técnica para experimen­
tar com uma eficiência sem precedentes (experimentos contemporâneos refinados

BOOKS
sobre os processos de atenção, por exemplo, não teriam sido possíveis antes de o
com putador se tornar parte de qualquer equipamento de laboratório) quanto como
fonte de metáforas explicativas, sugerindo modelos do funcionam ento subjetivo
suscetíveis à verificação em pírica (uma condição extremamente importante se os
modelos metafóricos se propõem a ser úteis). Observada à distância, descartando
por enquanto os conflitos quase ideológicos que algumas vezes opõem cognitivistas
e behavioristas, a pesquisa psicológica atual parece ser construída sobre o passado, o

GROUPS
que significa expandir o trabalho anterior. Isso precisa ser feito para que novas ques­
tões possam emergir e novas ferramentas sejam delineadas para resolvê-las. Nem
todos aqueles que estão atualmente engajados em tal pesquisa se sentem obcecados
por sua afiliação a qualquer escola ou seita e pouco se preocupam a respeito da
definição indiscutível do objeto da psicologia - com o muitos biólogos do passado
pouco se preocupavam sobre a essência da vida, preferindo olhar de perto para os
organismos vivos e progredir passo a passo em direção a um meíhor entendimento,
que acabaria finalmente por elucidar o conceito de vida.
O cognitivismo epistemológico, o qual poderia ser apropriadamente chamado
de cognitivismo radicaL vai um passo além — um passo importante. Ao invés de

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adicionar novos objetos àqueles já explorados, graças a novos processos genuínos e


modelos, o cognitivismo epistemológico m udou radicalmente o objeto de estudo da
psicologia: aos processos mentais é dada atenção exclusiva e o com portam ento é re­
legado ao status de expressão observável das atividades mentais, possivelmente ainda
útil - talvez não por muito tempo —para inferir o que se passa no interior, mas sem
qualquer interesse em si mesmo. Enquanto o behaviorismo pode ter sido acusado,
alguma vez, de ignorar a vida mental e a consciência, reduzindo-as a epifenôme-
nos do com portam ento, o cognitivismo epistemológico reverteu completamente
as perspectivas, entendendo o com portam ento com o mero subproduto de eventos
mentais. Um exemplo extremo de tal cognitivismo radical pode ser encontrado na
teoria de D ickinson da aprendizagem anim al,178 na qual o autor afirma que “m u­
danças comportamentais interessam apenas com o índices de que a aprendizagem
ocorreu e como indicadores da natureza das representações internas moldadas pela

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experiência” .179 As últimas, sob termos com o representação, processos mentais, etc.,
são os verdadeiros objetos de estudo da psicologia. Os comportamentos são consi­
derados apenas à medida que, no presente, inferências devem se basear em algum
dado observável. Supondo, porém, que alguém se proponha a ir diretamente às
representações mentais e tenha sucesso, podemos dispensar o comportamento. O
cognitivismo epistemológico claramente tomou a posição oposta ao behaviorismo
metodológico, especialmente na sua versão conhecida com o operacionismo. Este úl­

BOOKS
timo reconheceu que a vida mental é importante, mas que apenas comportamentos
observáveis são suscetíveis à análise científica. O cognitivismo epistemológico é mais
otimista; ele vai, sem hesitação, ao estudo da vida mental, utilizando os com porta­
mentos até onde eles puderem ajudar, com a predição de que eles serão, por fim,
completamente dispensados.
A relação do cognitivismo epistemológico com a neurobiologia leva a uma série
de questões críticas, algumas das quais foram tratadas no capítulo 8. Se nenhuma

GROUPS
ferramenta psicológica é especificamente prescrita a priori para o estudo das repre­
sentações mentais, há o risco de que se abandone a psicologia e se vá diretamente
à investigação neurobiológica, a qualquer momento em que os neurobiologistas

17B A teoria é exposta em detalhes em seu livro Contemporary a nim ai learning theory ( D i c k i n s o n , 1980), cujo título iluso­
riamente sugere que nós temos a teoria, uma afirmação obviamente superotimista e pretensiosa. Para construir aquela teoria
impressionantemente consistente, Dickinson teve de ignorar algumas dimensões importa.ntes da aprendizagem animal: pata citar
apenas um exemplo, a contribuição da etologia e da psicologia com parativa para os conceitos contemporâneos de aprendizagem
animal é totalmente om itida !o nome de l.orenz nem mesmo é m encionado; nem o são palavras-chave, com o testriçóes biológi­
cas. limitações específicas da espécie ou origens filogenéticas da aprendizagem individual). É interessante notar que o tradutor do
livro para o francês, G . Richard, ele próprio um competente expert na área, estava consciente das pretensões infundadas do título
e o converteu para o plural, L'apprentissage anim al, Théories contemporaines (1984), o qual, infelizmente, não é menos ilusório, pois
o livro é exclusivamente sobre uma teoria, i.e., a do autor.

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afirmem que têm acesso direto a elas.180 Isso náo seria um desastre mundial, apenas
o fim da ciência psicológica; mas a questão ainda deveria ser feita: a neurobiologia
pode progredir sem uma ciência do comportamento? O cognitivismo radical pode
apenas preservar a si mesmo do desaparecimento assumindo a posição funcionalista,
conform e apresentada por Johnson-Laird e outros que afirmam a perfeita indepen­
dência da análise cognitiva em relação ao nível neural. Isso significa, por fim, que as
contradições poderiam permanecer sem solução entre o nível neural e o cognitivo.
Desnecessário dizer que afirmações em defesa da ruptura radical em relação às esco­
las anteriores de pensamento são encontradas principalmente entre os cognitivistas
epistemo lógicos.
O cognitivismo ético está relacionado à reabilitação do controle autônom o do
agente psicológico, da racionalidade sobre as pulsóes instintivas, ou da vontade livre
sobre os determinantes inconscientes da conduta. Pode ser uma reação contra a

INDEX
visão freudiana, bem com o contra a visão darwiniana, de homem. Todas as teorias
psicológicas que consideraram seriamente as hipóteses deterministas e que tentaram,
com o Skinner o fez, reformular os conceitos de propósito, intenção, desejo, prefe­
rência ou escolha referindo-se a fatores ambientais e históricos, se depararam com a
fortaleza da vontade livre, porque estavam privando o sujeito de sua autonomia. O
cognitivismo ético a traz de volta, mesmo que apenas por meio da mágica das pala­
vras. As metáforas com putacionais deram renovada respeitabilidade a termos como

BOOKS
escolha, decisão, seleção, etc. Estes termos eram geralmente tomados da linguagem
leiga pelos primeiros cientistas computacionais, como nomes rápidos e fáceis, sem
qualquer consciência a respeito dos problemas que eles criaram na psicologia; mais
tarde, eles foram adotados pelos psicólogos cognitivistas com pouca consciência das
razões puramente pragmáticas de sua presença nas ciências computacionais.
O cognitivismo ético encontrou apoio em teorias recentemente elaboradas na
neurobiologia e na psicologia que enfatizam a causação descendente (versus causação

GROUPS
ascendente). Esta proveitosa distinção, ou visão bidirecional de causalidade, exem­
plificada por uma série de descrições convincentes em vários campos, alimentou
novas formulações da racionalidade e espiritualidade humanas, com o no dualismo
de Eccles ou no “mentalismo náo dualista” de Sperry.lSl Apelava especialmente para
os profissionais, e não surpreende que tenha invadido o campo da psicoterapia, no
qual técnicas de autocontrole parecem ser favoráveis. Q uando observado cuidadosa­
mente, ele apresenta m uito pouca semelhança com os cognitivismos metodológico e

180 Essa redução, ou dissolução, do psicológico ao mental, e então ao neurobiológico, foi claramente sugerida, por exemplo,
por C hangeux em seu livro popular The neuronal man (1983). Sua famosa afirmação “O homem náo precisa mais de mente. Ele se
satisfaz em ser um hom em neural” claramente descartou a psicologia cognitiva - frequentemente definida com o ciência d a mente
- como sem utilidade, à medida que a neurobiologia progredisse adentrando diretamente os mistérios do cérebro. Changeux
c o r rig iu su a s o p in iõ e s desde então c respondeu à acusação dc rc d u c io n is m o .
181 Eccles (1979) e Sperry (1983).

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epistemológico, o nível léxico mantendo uma unidade ilusória e confusa. D e modo


bastante estranho, algumas das terapias cognitivas emergiram das terapias compor-
tamentais, conforme indicam os rótulos híbridos de terapia comportamental-cogni-
tiva ou cognitivo-com portam ental.'82
Finalm ente, o cognitivism o institucional, em m inha classificação, se refere à
oposição explícita ou im plícita entre a cognição, de um lado, e m otivação, emoção
e afeto, de outro. A ênfase na cognição ocorreu frequentemente em concom itância
com a negligência ou o descarte da em oção e da m otivação. Esta não é por essência
uma distinção institucionalm ente fundam entada: vai m uito mais a fundo que isso.
M as possui importantes subprodutos institucionais à m edida que estabelece uma
distribuição de tarefas na psicologia acadêm ica e uma divisão no currículo que, se
me perm item fazer uma caricatura, reserva a cognição e a mente, com todo seu
atual prestígio, para a psicologia experimental e teórica, deixando a em oção e todas

INDEX
as outras questões confusas para aqueles que tratam dos problemas da psicologia
nos campos de aplicação. M uitos psicólogos experimentais agora tendem a pensar
a si mesmos com o “cognocientistas” , ao invés de psicólogos, e estão prontos para
se transferir para departam entos de ciência da com putação ou de ciências cogniti­
vas para exercer seus talentos. N ão surpreende, portanto, que os profissionais que
precisam, mais que nunca, lidar com pessoas sofrendo de problem as de natureza
essencialmente em ocional e m otivacional abandonem a ciência básica que não

BOOKS
lhes pode ser m uito útil. A recente divisão dentro da Associação Am ericana de
Psicologia (APA) - que resultou na criação de uma nova sociedade de psicólogos
acadêmicos e de pesquisa básica, com os profissionais perm anecendo com o grande
parte dos membros da A P A - é, em alguns aspectos, um episódio da revolução
cognitiva.

S k inn er

GROUPS
co ntra o s co g n itivism o s : eu a c u s o . ..

Utilizando essa classificação admitidamente imperfeita, retornemos a Skinner e


à sua posição em relação ao cognitivismo. Em bora ele não tenha explicitamente tra­
çado o tipo de distinção que eu fiz, não é difícil diferenciar, entre seus argumentos,
aqueles que se referem mais especificamente a cada tipo de cognitivism o, conform e
caracterizado anteriormente.
H á boas razões para pensar que, se o cognitivismo tivesse se reduzido ao seu
ramo metodológico, Skinner de modo algum teria se oposto a ele. Ele teria com en­
tado sobre o uso de certos termos mentalistas, com o o fez antes, mas não teria iden­
tificado qualquer novo perigo para a ciência do comportamento. M uito de acordo

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com a descrição que fizemos do cognitivismo metodológico, ele nota, na discuss


dos comentários de pares aos seus principais artigos reimpressos:

Muito do que se chama de ciência cognitiva é trabalho que f


realizado mais ou menos do mesmo modo antes daquela obi
mágica ser acrescentada.183

O u, em outra ocasião, na mesma linha:

Há muitos psicólogos cognitivistas que escáo fazendo pesqui


sa de qualidade.184

Além disso, ele reconhece que importantes descobertas ocorreram sob vária

INDEX
bandeiras, e que não é necessário estar em um clube privilegiado de analistas dc
com portam ento para contribuir para o progresso da ciência comportamental:

Muitos dos fatos, e mesmo alguns dos princípios, que os


psicólogos descobriram quando achavam que estavam desco­
brindo outra coisa são úteis. Podemos aceitar, por exemplo, o
que os psicofísicos nos dizem sobre resposta a estímulos sem

BOOKS
concordar que eles mostram uma relação matemática entre
os mundos mental e físico. Podemos aceitar muitos dos fatos
relatados pelos psicólogos cognitivistas sem acreditar que os
seus sujeitos estavam processando informação ou armazenan­
do representações ou regras.1®5

Podemos dispor ainda mais rapidamente do quarto tipo de cognitivismo, que


não foi um a preocupação para Skinner. U m a distinção exata entre cognição e emo­

GROUPS
ção ou cognição e motivação foi estranha ao seu trabalho empírico e teórico. Embora
ele tenha elaborado seu próprio modo de abordar questões motivacionais em termos
de propriedades reforçadoras, ele sempre devotou muita atenção aos subprodutos
emocionais dos controles aversivos em animais e humanos. A lém disso, comentou
repetidamente a respeito do lugar dos sentimentos na análise comportamental, mos­
trando que a preocupação com uma abordagem científica não altera sua importância

183 Skinner {1984c, p. 507).


184 Id. f i ^ b , p. 119).
185 Retirado de "W hatever happened to psychology as the science o f behavior?” (id., 1987a), reimpresso em Recent issues in the
analysis o f behavior (id.. rqSqb, p. 63).

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subjetiva.'86 Ele estava fortemente convencido de que a pesquisa básica sobre o com ­
portamento poderia ter aplicações sociais importantes e investiu muita energia em
mostrar em quais direções isso poderia ser feito (ver capítulos 14 e 15). O divórcio
entre pesquisa básica e prática poderia lhe parecer apenas com o um passo atrás.
As objeções de Skinner são endereçadas principalmente para o segundo e ter­
ceiro tipos de cognitivismo e seus ataques são especialmente fortes contra o cogni-
tivismo epistemológico. Seus argumentos são bem sumarizados em sua afirmação:

A psicologia cognitiva é frequentemente apresentada como


uma revolta contra o behaviorismo, mas não é uma revolta,
é um recuo.'87

Esse recuo é em direção a hábitos e concepções que haviam sido abandonados

INDEX
pela psicologia científica por meio de um esforço vigoroso para se libertar do senso
com um e das maneiras filosóficas de falar e explicar a conduta. Hábitos, em questão,
são essencialmente hábitos no uso com um da palavra; concepções dizem respeito ao
status dos eventos mentais.
Skinner aponta para a invasão de termos que tinham sido cuidadosamente
evitados no passado porque apresentavam muitos significados ou estavam conta­
minados com muitos usos linguísticos perdidos para se adequar a uma descrição

BOOKS
científica. Ele acusa

os cientistas cognitivos de afrouxar os padrões de definição


e pensamento lógico e de permitir uma inundação de es­
peculação característica da metafísica, literatura e contato
diário, especulação talvez adequada a tais áreas, mas inimiga
da ciência.’88

GROUPS
Para ele, uma das explicações para o sucesso da psicologia cognitiva é que ela
aceitou novamente as antigas formas de se falar sobre o ser humano, retomando sem
crítica o amplo uso de termos, tais com o intenção, crença, mente, representação e
muitos outros. Se observarmos a literatura psicológica atual, é difícil não concordar
com Skinner que a terminologia se tornou menos rígida. Para tomar apenas um dos
termos mais frequentes, representação, descobrimos que ela se refere a dezenas de

186 A questão dos sentim entos foi discutida em muitos textos de Skinner. U m de seus últimos artigos é de especial interesse,
publicado com o título de “The place o f feelings in lhe analysis o f behavior” (reimpresso com o capítulo i em Reccni issues,
id., 1989b). Foi escrito com o resposta a um outro exem plo de interpretação equivocada da posição behaviorista, i.e,, que ela
Supostamente negou os sentimentos. O caso é irônico, considerando que o equívoco clássico foi expresso por Johnson-Laird, um
cognitivista bem conhecido, cuja obra certamente nos diz muito menos sobre sentimentos que a dc Skinner.
187 ld. (1987b, p. 120).
188 Id. ibid., p. 111.

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coisas e conceitos diferentes, geralmente sem definição. Skinner sustenta que, em


muitos casos, esse novo estilo é desnecessário, e que termos comportamentais mais
diretos expressariam as coisas de forma mais clara. Ele reform ulou repetidamente
afirmações típicas dos psicólogos cognitivistas em seus próprios termos behavioristas,
com um resultado que deveria agradar àqueles que não desgostam da simplicidade.
A preocupação com as palavras utilizadas na psicologia sempre foi central na
reflexão de Skinner. Em um de seus principais artigos, publicado em 1945, ele lidou
com a “análise operacional dos termos psicológicos” . Não satisfeito com as limitações
impostas pelo operacionismo no estudo dos eventos privados, ele se pôs a explorar
com o os relatos verbais podem estar relacionados a estímulos e estados internos, e
apontou para o papel da com unidade verbal na modelagem da descrição do sujeito
a respeito de seu mundo privado. Esse artigo foi importante em dois aspectos. Pri­
meiro, ele deixou claro que Skinner estava abordando eventos privados, que os ope-

INDEX
racionistas não negavam, mas achavam impossível de estudar. Segundo, ele deixou a
base para elaboração futura de uma concepção de autoconhecimento e consciência
enraizada na interação do indivíduo com a comunidade verbal, uma visão que havia
sido desenvolvida de form a muito independente por V ygotsky e por Luria.1*9
U m dos últimos artigos de Skinner190 é completamente dedicado ao exercício
léxico de traçar a etimologia das palavras preferidas dos psicólogos cognitivistas.
Ele não teve dificuldade em mostrar que, em praticamente todos os casos, aqueles

BOOKS
termos, ou suas raízes etimológicas, se referem originalmente a com portam ento ao
invés de sentimentos ou estados da mente. Por exemplo, perceber originalmente
significa capturar (do latim percapere), com o compreender (no francês comprendre,
entender) significava agarrar ou se apoderar (as palavras ainda são utilizadas em seus
sentidos físicos e metafóricos) ou resolver, “ libertar ou deixar livre” . Devemos adm i­
tir que, embora interessante, tal investigação linguística realmente não demonstra
que todos aqueles termos forjados pelas linguagens naturais não se referem de fato a
eventos ou estados mentais; ela apenas revela, ou melhor, confirma, uma velha des­

GROUPS
coberta da linguística histórica, que eventos internos são primeiramente nomeados
e descritos por palavras que se referem a eventos externos, com o as abstrações são
inicialmente delineadas por termos concretos, por meio do mecanismo da metáfora.
O que Skinner estava fazendo naquela ocasião é ilustrativo de sua própria interpre­

189 A origem social (paradoxal) da autoconsciência foi enfatizada repetidamente por Skinner, especialmente no Verbal behavior
(1957), no qual ele aponta que o indivíduo se torna consciente através de um progressivo desenvolvimento de uma com unidade
verbal; a mesma ideia foi expressa por Luria, que, elaborando sobre as ideias de Vygotsky. viu a origem da consciência, a mais
alta form a de com portam ento autofregulado, com o estando náo nas profundezas de um organismo, mas nas modalidades
complexas que caracterizam a interação entre a criança c seu am biente social e na aquisição da linguagem (L urla , 1969); ver
Richelle (1974a, 1993).
190 “ The origins o f cognitive thought”, reimpresso em Recent issues in the analysts o f behavior (S k i k n e r , 1989b, capitulo 1).

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tação das origens do com portam ento autodescritivo e da autoconsciência, ao invés


de propriamente uma demonstração da irrelevância dos estados cognitivos.19'
Contudo, não se trata apenas de retomar o rigor verbal no discurso dos psi­
cólogos. As palavras usadas têm, nesse caso, profundas implicações - que são o nú­
cleo do cognitivismo epistemológico. Voltamos novamente à escolha crucial: são os
chamados processos cognitivos parte do com portam ento (são alguma coisa além de
comportamento) ou possuem status mental em si mesmos, sendo o com portam ento
mero subproduto? A posição de Skinner, claramente em favor da primeira possibili­
dade, pode ser compreendida em poucos argumentos principais:

i. A psicologia cognitiva, ao recorrer abundantemente e sem crítica a palavras cog­


nitivas” , atribui ao sujeito, animal ou hum ano, um conhecimento implícito ou ex­
plícito das regras, que estão, na verdade, na organização do ambiente do sujeito, ou,

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em alguns sentidos, na organização do com portam ento, mas não na cabeça do sujei­
to como entidade independente a ser posta para funcionar à vontade. Não há mais
razões para explicar o com portam ento discriminativo, ou classificação de conceitos,
ou reconhecimento facial em termos de “conhecimento” , que para explicar reações
imunológicas. E óbvio que, se há alguma ordem no universo - que é a suposição
fundamental da ciência tudo que gostarmos de descrever e explicar, devemos
descrever e explicar form ulando regras, mas elas não precisam ser atribuídas às coisas

BOOKS
descritas. A s propriedades físicas de uma bicicleta com binadas com aquelas do cor­
po hum ano fortemente determinam a organização do com portam ento de andar de
bicicleta, mas não ajuda em nada inserir regras distintas do próprio com portam ento
de andar de bicicleta ou que preceda sua ocorrência. A questão foi debatida particu­
larmente em relação ao uso da linguagem e pensamento, que deveremos considerar
em detalhes nos próximos dois capítulos. Em bora resistente ao abuso dos cognitivis-
tas do conhecimento das regras e da aplicação das regras, Skinner deu muita atenção

GROUPS
ao status das regras no sentido de instruções verbais que os sujeitos humanos podem
receber dos outros, ou podem usar para si mesmos, seja na melhoria da performance
motora, adquirindo com portam ento adequado sem risco, com o ao dirigir um carro
ou ao resolver problemas. Diz-se, então, que o com portam ento é “governado por re­
gras” , de um modo explícito, e à m edida que se pode dar ao com portam ento verbal
uma posição mais alta na hierarquia da organização do com portam ento, podemos
falar de uma causação descendente.

191 U m aspecto interessante do mapeamento dos itens léxicos para as realidades psicológicas é a diferença en.tr« as linguagens.
As palavras têm histórias diferentes em diferentes linguagens, mesmo quando proximam ente relacionadas, como podem ser 05
idiomas indo-europeus. Por exem plo, mente não carrega algumas das conotações que fazem esprit difícil de ser retomado pelos
psicólogos franceses, enquanto possui respeitabilidade adicional derivada de seu uso na recente filosofia da mente anglo-saxá.
Cogntçáo não possui praticamente nenhum passado na França e seria esclarecedor analisar suas propriedades semânticas em
comparação com connaiisanie e com knowledge.

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2. A psicologia cognitiva, provavelmente devido à influência invasiva da metáfora


com putacional, deu vida nova à velha teoria da cópia. Resumidamente, a teoria da
cópia afirma que, quando percebemos algo, fazemos um tipo de duplicata da coisa
percebida, que é armazenada de alguma form a em nossa cabeça; quando aprende­
mos algo, similarmente, as memórias são armazenadas em locais apropriados na
nossa mente, de onde as retiramos quando necessário e na medida de nossa capaci­
dade. A palavra cópia foi amplamente abandonada e substituída por termos mais de
acordo com a moda, com o representação. Skinner não esperou pelo crescimento do
cognitivismo para se opor à teoria da cópia aplicada à percepção e à m em ória/91 Ele
entendeu a percepção e a aprendizagem enquanto ação, ao invés de simples registro
do mundo externo. O organismo que percebe e memoriza é, obviamente, um or­
ganismo modificado, mas a mudança não consiste em adicionar uma percepção ou
uma m emória em algum lugar de armazenagem interna.

INDEX
A primazia da ação, náo apenas em agir sobre o mundo, mas também em cap­
turar informação dele através de canais sensoriais, não é ideia exclusiva de Skinner.
Ela aparece para muitos como uma conquista decisiva da psicologia científica. Foi
um aspecto central nas concepções de Janet e ainda mais nas de Piaget. C o m o se
sabe, Piaget relacionou as origens ontogenéticas do mais abstrato raciocínio lógico às
ações motoras e geralmente falava de atividadesperceptuais, ao invés de percepção. A
psicofisiologia sensorial deixara claro que inputs visuais ou outros tipos de input não

BOOKS
são, via de regra, simples registros de eventos físicos prontamente convertidos em
representação interna, mas processos ativos guiados por ajustes motores refinados.
O funcionam ento total do cérebro não pode ser entendido, assim com o seu rece­
bimento e processamento de informação externa não fazem nenhum sentido, se o
output com portam ental não se segue. A psicologia cognitiva nos acostumou tanto a
utilizar o conceito de representação de form a não crítica, que facilmente ignoramos
todas as suas implicações. Além de rejeitar a visão de que a percepção, a aprendiza­

GROUPS
gem e a resolução de problemas são ações, ela implica, com o corolário, que o mundo
externo possui organização inerente a si mesmo, que determina como seus vários
componentes serão representados dentro da mente. Em outras palavras, o mundo
externo é dado e o sujeito psicológico está lá para coletar e tratar as representações
dele. Paia Skinner, bem com o para muitos psicólogos náo pertencentes à escola
cognitivista de pensamento, o organismo é modificado ao longo de sua interação
com o ambiente, o que significa que o m undo ao redor não tem nenhuma existência
nem pode ser representado independentemente das ações do sujeito.

192 Ver, entre outras fontes, “ Behaviorism at fif t y ’ ’ ( S k i n n e r , 1963b), e a s natas adicionadas quando de s u a r e im p r e s s ã o como
capítulo 8 em Contingencies o f reinforcement (id., 1969b). Adm it idamente, o termo representação sc refere a entidades maLs sofisti­
cadas que a palavra cópia, e em alguns de seus usos técnicos pode ter pouco 1 ver com esta última. Mas, na maior p a r t e dos casos,
gera basicamente os mesmos problemas.

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Deve-se destacar que a dom inância das representações - ou, de form a mais
geral, dos estados puramente mentais - sobre a ação, que marcou duas décadas de
pensamento cognitivista, foi seriamente questionada no passado recente de dentro
da própria escola cognitivista. U m ataque especialmente forte contra a represen­
tação foi expresso por F. Varela, cujo interesse é, explicitamente, dar ao conceito
de ação prevalência sobre o conceito de representação. Ele insiste que as ciências
cognitivas devem retornar para as teorias interativas e propõe o conceito de “enação”
em lugar do de “ representação” .1'73 Enação claramente im plica que todo processo
cognitivo se fundam enta nas trocas com o mundo externo. Varela retoma as di­
mensões históricas (filogenética, ontogenética e cultural) do conhecimento - uma
reabilitação que também é, de certa forma, inerente ao conexionism o. Em um mapa
polar que mostre como os vários pensadores podem ser localizados em relação ao
cognitivismo tradicional e à teoria de emergência e ação defendida por Varela, pode-

INDEX
-se encontrar Piaget mais próxim o às ideias de Varela, um passo a mais distante do
cognitivismo mais tradicional com o exemplificado por Neisser na psicologia, por
C hom sky e Fodor na linguística e na epistemologia, e por H ubel e W iesel na neuro-
biologia. Varela redescobriu Piaget; ele poderia ter pensado em redescobrir Skinner.
O ponto aqui não é sugerir que as visões de Varela e outras semelhantes são
apenas ressurgimentos do behaviorismo. A ciência cognitiva atual obviamente se
direciona a questões diferentes e utiliza uma linguagem diferente: a ciência não volta

BOOKS
para estágios anteriores. O que está claro, entretanto, é que a recente mudança na
ênfase da representação para a ação implica uma reintegração do comportamento
em seu próprio campo e torna impossível enxergar o com portam ento meramente
com o um indicador potencialmente dispensável das representações.
Incidentalmente, é importante notar, nesse contexto, uma ausência quase
com pleta de interesse, entre os psicólogos cogmtívistas, na robótica com o uma
possível fonte de modelos inspiradores. Em geral, eles foram atraídos exclusivamen­

GROUPS
te pelos modelos oferecidos por computadores, aqueles com o utilizados na tarefa
clássica de armazenar grandes agrupamentos de informação e de aplicar a eles ope­
rações lógico-matemáticas mais ou menos complexas. A primeira vista, a robótica,
ao lidar com a ação sobre o mundo externo, movendo-se no tempo e no espaço, e
ajustando-se ao m undo real ao invés do abstrato, pareceria mais próxim a do estudo
de organismos vivos. C om as poucas exceções dos psicofisiologistas especializados
em habilidades motoras e problemas similares, os modelos robóticos foram com ­
pletamente ignorados. Se isso foi consequência de os cognitivistas terem colocado a
ênfase exclusiva sobre a representação às custas da ação ou de sua fascinação exclusi­
va pelo com putador e não pelos robôs é uma questão interessante. Está relacionada
com o problema tradicional na história da ciência: as teorias são direcionadas por

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metáforas (tecnológicas) disponíveis ou os modelos metafóricos são selecionados


para se ajustar às teorias?

3. A teoria da cópia inevitavelmente cai no problema de im plicar algum pequeno


ser — o bomúnculo — que irá perceber ou resgatar a cópia, o que ele poderá fazer
apenas fabricando outra cópia, e assim por diante, ad infinitum . Isso requer, em
algum ponto final, se o processo termina em algum mom ento, um agente irredutível
que deve necessariamente escapar de qudquer análise adicional. H á alguma lógica
na apelação de Fodor a um núcleo central irredutível náo suscetível à investigação
científica em seu retrato modular da mente: é uma consequência de um sistema
psicológico baseado em representações.194
Skinner, é claro, após uma carreira tentando explicar o comportamento sem
recorrer a agentes internos no comando, não estava pronto para aceitar sua res­

INDEX
surreição pelo cognitivismo. Suas objeções se dão no campo da teoria psicológica
básica (como acabamos de ver, há uma relação próxima, talvez inerente, entre as re­
presentações e o apelo a um agente autônomo) bem como no campo das aplicações
do conhecimento psicológico aos assuntos humanos. Elas são endereçadas tanto ao
cognitivismo epistemológico quanto ao que chamamos de cognitivismo ético.
Para Skinner, a concepção de seres humanos baseada na vontade livre e auto­
nom ia, na sua capacidade de decisão, provou ser ineficiente para resolver os pro­

BOOKS
blemas da humanidade. Ele implementou uma análise comportamental e um tipo
de história natural e cultural daquelas noções tradicionais e sugeriu que deveríamos
m udar o foco daquelas noções para as condições que induzem indivíduos ou grupos
a se engajarem em determ inado curso de ação e se sentirem livres, autocontrolados,
felizes. Ao encorajar novamente a velha ilusão do agente autônom o na mente hu­
mana, o cognitivismo ético favoreceu práticas de educação, psicoterapia e controle
social que apelam para forças internas dos indivíduos, enquanto desconsideram as
contingências que m odelaram, de fato, frequentemente de modo sutil, tais disposi­

GROUPS
ções mentais. A oposição de Skinner a ele aparecerá de form a mais completa quan­
do considerarmos sua análise das questões sociais, educação, tratamento psicológico
e controle político (parte IV ).

194 Ver, especialmente, Fodor (19 83,1986 , 6. ed.), mais especificamente, as partes IV', sobie os sistemas centrais, e V, contendo
conclusões gerais. Após ter sustentado, em termos engraçados, “A Primeira Lei de Fodor da não existência da Ciência Cognitiva” ,
i.e., “quanto mais global é um processo cognitivo, menos ele é entendido. Processos muito globais, com o raciocínio analógico,
nâo sáo entendidos de jeito nenhum” . E le insiste, na seção final de seu influente e controverso livro, que “se proorssos centrais
possuem, o tipo de propriedade que eu os atribuí, entáo eles sáo maus candidatos ao estudo científico” (id., 198), p. 127). E , mais
adiante: “Se, com o supus, os processos cognitivos centrais são não modulares, é uma notícia m uiro ruim para a ciência cognitiva"
(id. ibid., p. 128).

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10
A QUESTÃO DA LINGUAGEM

I n ter esse in icial em linguagem

Para aqueles que veem Skinner com o psicólogo de ratos, um capítulo sobre
linguagem pode parecer um pouco fora de lugar aqui. Pelo contrário, é uma questão

INDEX
centra], não apenas se desejamos descrever corretamente o pensamento de Skinner,
mas também para compreendermos a origem da maioria das interpretações equivo­
cadas amplamente difundidas a seu respeito e para capturarmos as peculiaridades
das atitudes em relação ao behaviorismo que se desenvolveram entre os psicólogos
nos últimos 30 anos. Ao discutir a contribuição de Skinner para o estudo do com ­
portamento verbal, se tornou impossível evitar a referência a Chom sky, pelo motivo
de que a m aior parte das pessoas conhece as ideias de Skinner apenas em segunda

BOOKS
mão, por meio das críticas destrutivas expressas pelo famoso linguista. Alguns deta­
lhes históricos serão úteis, de modo a esclarecer o caso.
Em 1957, Skinner publicou um denso livro intitulado Verbal behavior. C o ­
mentaremos mais à frente sobre seu conteúdo. E suficiente apontar aqui que isso
não foi, de forma alguma, resultado de algum interesse recente de Skinner pela área
para a qual ele estaria pouco preparado, nem foi realmente material inesperado para
aqueles que sabiam que Skinner vinha trabalhando nele por muitos anos. D e fato,

GROUPS
desde os dias iniciais de sua carreira, Skinner estava intrigado com problemas espe­
cíficos criados pelo com portam ento verbal em hum anos, incluindo suas produções
verbais criativas únicas na poesia e na prosa. Enquanto ocupado com experimenta­
ção com animais, ele permaneceu pensando sobre a questão e, por fim, a selecionou
com o tópico para as conferências W illiam Jam es, para as quais fora convidado a
ministrar em 1947, em Harvard. U m a prim eira versão confidencial do que se tor­
naria o livro Verbal behavior foi posta em circulação na época. Foi utilizada e citada
por George M iller em seu livro seminal Language and communication, publicado
em 1951 —de fato um trabalho de fundação em fornecer novo ímpeto para a então
estagnada psicologia da linguagem , bem com o em transmitir teoria de informação
para os psicólogos num estilo mais claro.

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I n t e r f e r ê n c ia de C h o m sk y

Logo depois que o livro de Skinner foi publicado, Chomsky, então um jo ­


vem linguista possivelmente conhecido nos círculos linguísticos por seu trabalho
sobre Estruturas sintáticas^ mas totalmente desconhecido pelos psicólogos, escreveu
uma revisão crítica incom um ente longa, publicada em Language, uma revista de
linguística.196 De modo muito inesperado, essas 30 pesadas páginas tiveram muitas
consequências importantes.
Primeiro, C hom sky se tornou repentinamente uma estrela entre os psicólogos,
que buscavam no seu trabalho, do tipo mais técnico em linguística formal, uma
fonte de inspiração. Em bora ele tenha também publicado dois capítulos altamente
técnicos no Handbook o f mathematical psychology,197 em coautoria com G . M iller —
definitivamente um descobridor excepcional de novas ideias e talentos - não pode

INDEX
haver dúvida de que tal material forte e pouco lido não poderia possivelmente ex­
plicar o crescimento rápido de sua popularidade nos departamentos de psicologia.
Segundo, C hom sky persuadiu seus leitores de que eles poderiam dispensar a
leitura do livro de Skinner. Afinal de contas, as 30 páginas de sua revisão eram
menos que as 600 páginas do Verbal behavior e foram escritas no estilo tipicamente
assertivo que o caracteriza, dando a suas afirmações um a aparência de verdade irrefu­
tável. O julgam ento de C hom sky foi absorvido pela maior parte dos psicolinguistas

BOOKS
importantes, com o exemplificado pela seguinte afirmação de Sinclair-D e Zwart:
“ C om o para as interpretações de Skinner (1957), baseadas em tais noções de força de
resposta e esquema de reforçamento, C hom sky (1959) demonstrou definitivamente a
falta de sentido dessas noções quando aplicadas ao com portam ento verbal” .198 Não é
algo raro que críticas obscureçam completamente o trabalho daqueles sobre os quais
comenta: algumas obras-primas literárias ou filosóficas tiveram que ser recuperadas
de tal esquecimento. O resultado foi que as questões levantadas por Skinner, que são
cruciais na psicologia da linguagem , embora possivelmente não linguísticas, foram

GROUPS
totalmente ignoradas por mais de uma década, enquanto as visões formalísticas de
C hom sky dom inaram a área. Em bora C hom sky deva ser reconhecido por seu papel
estimulador, é difícil avaliar em que medida e por quanto tempo sua influência
impediu os psicólogos de estudarem o com portam ento verbal do ponto de vista das
questões genuinamente psicológicas. Se eles tivessem üdo a contribuição de Skinner,
poderiam ter se poupado de devaneios sobre estruturas profundas.
Terceiro, a revisão de C hom sky foi destrutiva não apenas em relação à visão
de Skinner sobre o com portam ento verbal, mas ao behaviorismo com o um todo.

195 C hom sky (1957).


196 Id. (1959).
197 C hom sky & M iller (1963) e Miller & C hom sky (1963).
198 Z w art (1967).

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Isso foi afirmado, entre outros, por Mehler, na publicação da tradução francesa da
já famosa revisão: “ D e fato,” diz Mehler, 'o declínio do behaviorismo parece rela­
cionado ao crescimento da m oderna psicolinguística” .'9y Até certo ponto, isso soa
com o ilusão: para um observador neutro, o behaviorismo está longe de ser extinto
se considerarmos como sinais de vitalidade os usos variados e bem-sucedidos de seus
métodos, o alcance extenso e diversificado de suas aplicações e, por fim, a persistên­
cia de um grande número de índices tradicionais de atividade científica, tais como
revistas, sociedades e reuniões, todos envolvendo pessoas. E verdade, entretanto, que
Chom sky teve importante papel no crescimento do cognitivismo e especialmente na
retomada do status de respeito dos estados mentais, com o veremos ao analisar suas
críticas mais de perto.
D ada a tripla importância das críticas de Chomsky, e apesar do fato de que os
psicolinguistas se libertaram por alguns anos da influência de Chomsky, é necessário

INDEX
resumir os principais pontos de seu ataque a Skinner. Eles podem ser classificados
grosseiramente em duas categorias. Por um lado, C hom sky se opõe à extrapolação
de Skinner: do com portam ento animal, de natureza supostamente mais simples,
para a linguagem, uma atividade altamente com plexa e especificamente humana;
do laboratório, onde ele forjou seus conceitos, para a vida real, em que aqueles con­
ceitos não explicam a riqueza da conduta humana, especialmente em suas formas
linguísticas; do determinismo estreito, possivelmente aplicável a dados animais sim ­

BOOKS
ples, para um campo marcado por imprevisibilidade, produtividade e criatividade
individual, que escapam à análise causal tradicional. Estas são críticas clássicas à
abordagem científica, experimental, da atividade humana.
Por outro lado, ele argumenta contra a posição behaviorista, com o inadequa­
da para explicar a linguagem, e, ao fazer isso, ele aponta para características do
behaviorismo que podem descrever outros behaviorismos, mas certamente não a
posição de Skinner. Por exemplo, C hom sky argumenta em detalhes sobre o modelo

GROUPS
Estím ulo-Resposta, obviamente não um dos princípios de Skinner, e sobre redu­
ção de im pulso,200 um conceito completamente ausente na análise de Skinner. Ao
fazer tais confusões entre a visão de Skinner e as outras, e estando de outro modo
exclusivamente inclinado a uma explicação puramente formal da linguagem , não é
de se estranhar que C hom sky tenha falhado em compreender o tipo de abordagem
funcional do comportamento verbal que Skinner defendia; uma abordagem em li­
nhas totalmente diferentes das tentativas anteriores dentro da tradição da psicologia
científica americana.
Q uando examinado com algum cuidado sério, o texto de Chom sky levanta
algumas questões embaraçosas, dado que o autor é, presumivelmente, uma pessoa

199 M ehler (1969).


200 N. T.: “ drive reducntm ".

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excepcionalmente inteligente. Ele leu o livro todo, como se poderia esperar de um


revisor que escreve u m comentário táo longo? Se a resposta for sim, como poderia
ser possível ele interpretar equivocadamente ou distorcer as ideias de Skinner de tal
forma? C o m o ele poderia discutir em detalhes alguns pontos fundamentais - por
exemplo, falar de coisas ou pessoas nunca vistas - como se Skinner os tivesse igno­
rado, quando qualquer leitor do Verbal behavior irá se deparar com discussões deta­
lhadas precisamente sobre esses pontos? Deveria C hom sky ser ignorado ou culpado
por permitir de form a mais ou menos consciente a velha estratégia de construir um
espantalho de Skinner de modo a promover suas próprias ideias, ou mesmo por ter
tido alguma falha em relação à honestidade intelectual?

0 s ilê n c io de S k in n e r

INDEX
De fato, Skinner não se preocupou em responder: isto foi algumas vezes in­
terpretado com o confissão ou derrota,201 e provavelmente contribuiu para a difusão
do hábito, entre psicólogos e psicolinguistas, de confiar no texto de C hom sky sem
retomar o próprio livro de Skinner. Afinal de contas, C hom sky tivera a última
palavra e, presumivelmente, esta era a verdade. O silêncio de Skinner, todavia,
não significou a aceitação dos argumentos do linguista. Pelo contrário, refletiu sua

BOOKS
crença de que C hom sky não estava falando da mesma coisa e, em m inha visão, um
sentimento de que sua abordagem seria por fim adotada. Talvez ele tenha sentido
intuitivamente que um debate aberto com C hom sky era inútil, com pouca chance
de influenciá-lo e m udar sua mente.
Skinner raramente comentava sobre sua atitude, mas, em uma ocasião, ele ex­
plicitou seus motivos com humor. A passagem é necessariamente extensa. Skinner
falava a uma audiência de poetas e escritores na cidade de N ova York, em 19 7 1:201

GROUPS Deixem-me falar a vocês sobre Chomsky. Eu publiquei Verbal


behavior em 1957. Em 1958, eu recebi uma revisão datilogra­
fada de 55 páginas de alguém de quem nunca tinha ouvido
falar chamado Noam Chomsky. Li metade de uma dúzia de
páginas, percebi que não tinha entendido meu livro e não fui
além. Em 1959, recebi uma reimpressão da revista Language.
Era a revisão que eu já tinha lido, agora reduzida a 32 pági­
nas e novamente a descartei. Mas então, é claro, Chomsky

201 Proctor & Weeks (1990) argumentam que 2 ignorância de Skinner aos seus oponentes refletia sua pobreza intelectual., bem
com o a cegueira de um líder de seita a qualquer contradição. Discuti tal interpretação em Richelle (1991).
10 2 Verbal behavior (1957) c frequentemente citado nas memories de Skinner, especialmente em A matter o f consequences (Skin ­
n e r, 1983); a revisão de C hom sky é discutida no livro de i ‘j8 j, p. [53-154.

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começou a crescer. A gramática generativa se tornou a coisa


- e parecia ser uma coisa muito grande. Os linguistas sempre
tentaram tornar suas descobertas impactantes. Em uma déca­
da, tudo parecia depender da semântica; em outra década, da
análise do fonema. Nos anos 1960, era a gramática e a sintaxe,
e a revisão de Chomsky começou a ser amplamente citada e
reimpressa e se tornou, de fato, muito mais bem conhecida
que meu livro.
Finalmente, se fez a questão, por que não respondi a Chomsky?
Minhas razões, temo que mostrem uma falta de caráter. Em
primeiro lugar, eu também deveria ter que estudar profunda­
mente gramática generativa, que não era minha área [...]. Há
alguns anos, a revista Newsweek levou a discordância além,

INDEX
ultrapassando a linguística e o estruturalismo e chegando à
filosofia do século XVII. Fui considerado um discípulo mo­
derno de John Locke, para quem a mente começava como um
quadro limpo ou uma tabula rasa e que pensava que o conhe­
cimento era adquirido apenas pela experiência, enquanto se
dizia que Chomsky representava Descartes, o racionalista, que
não estava certo que existia até pensar sobre isso. A Newsweek

BOOKS
sugeriu que a batalha estava indo para o meu lado e a reação
dos gramáticos generativos foi tão violenta que a revista achou
necessário publicar quatro cartas pró-Chomsky. Cada uma re­
petia o equívoco comum a respeito de minha posição. Uma
implicava que eu era um psicólogo estímulo-resposta (o que
não sou) e outra que eu pensava que as pessoas eram muito
parecidas com os pombos (o que não penso). Uma outra ti­
nha ao menos um toque de inteligência. Voltando aos nossos

GROUPS
supostos progenitores do século XVII, o escritor advertiu a
Newsweek para “ Locke up Skinner and give Chomsky Descartes
blanche” .“ 3 Mas Chomsky não pode usar uma carte blanche,i04
é claro; é muito semelhante a uma tabula rasa

20} N . T.: Trocadilho com os nomes de Locke e Descartes rei acionando-os aos de Skinner e Chom sky: "crancafiar Skinner e dar
carta branca a C hom sky” .
10 4 N . T .: C arta branca.
105 Retirado de “A lecture on ‘having’ a poem” , conform e reimpressão em Cum ulative record ( S k i n n e r , 1972, p. 345-347).

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A n álise fu n cio n al versu s análise fo rm al do comportam ento verb al

Q ue C hom sky não entendeu direito é óbvio para qualquer leitor, mesmo sc
pensarmos apenas no primeiro capítulo do Verbal behavior. E um capítulo intro­
dutório, significativamente intitulado “ Um a análise funcional do com portam ento
verbal” . Este título segue imediatamente o título da seção da primeira parte do livro,
que é “ U m programa” . Skinner afirma claramente aquilo com que está lidando: não
linguagem, com o geralmente estudada pelos linguistas, mas com portam ento ver­
bal, que é uma atividade do indivíduo ao falar e/ou ouvir. Convencido da validade
heurística dos princípios do comportamento descobertos na pesquisa animal e espe­
cialmente da abordagem funcional, que visa a descrever as variáveis que contribuem
para a produção do comportamento, Skinner busca aplicá-los ao com portam ento
verbal. Ele não reivindica que está propondo uma teoria, nem reivindica delinear ar­

INDEX
gumentos empíricos da evidência experimental. C om o inequivocamente sustentado
no final do capítulo: “A presente extensão ao comportamento verbal é, portanto, um
exercício de interpretação ao invés de uma extrapolação quantitativa de resultados
experimentais rigorosos".“ 6
C hom sky não estava pronto para considerar tais visões, já tendo escolhido a
abordagem estritamente formal da linguagem e permaneceu definitivamente (deli­
beradamente?) cego à natureza da tentativa de Skinner ao se opor a qualquer estudo

BOOKS
científico do com portam ento verbal que fosse baseado na experimentação animal e
enquadrado em um conceito determinista da conduta humana. Ele também rejeitou
fortemente, ao longo de toda sua carreira, qualquer teoria do uso ou da aquisição
da linguagem que recorresse a variáveis ambientais e defendia, ao contrário, uma
concepção internalista, apelando para algum D ispositivo de Aquisição de Lingua­
gem interno, uma suposta estrutura ou m aquinaria cerebral preparada de forma
inata para adquirir e utilizar qualquer linguagem natural. Ele desenvolveu a curiosa
ideia de que a linguagem pode ser comparada, ou melhor, assimilada, a um órgão

GROUPS
anatômico, tal como o estômago ou o fígado, que não precisam de interação com o
ambiente para serem formados durante a embriogênese.207
Sob a dominante influência de Chomsky, por quase duas décadas, i.e., nos anos
1960 e 1970, a psicolinguística foi a arena para os debates sobre a questão formal
versus funcional e sobre a questão do internalismo radical. Não discutiremos este
últim o aqui, porque já conhecemos a posição geral de Skinner em relação à questão
inato versus adquirido. Em bora ele enfatizasse as variáveis ambientais, ele nunca ne­
gou o aparato genético dos animais ou humanos e teria acolhido, por isso, qualquer
evidência produzida pela moderna psicogenética. Mas ele sabia, com o todo psicólo­

206 ld. (1957, p. 11).


207 O caso foi levantado de uma forma especi ai mente não metafórica 110 debate com Piagei (P ia t elli -P a l m a r in i , 1980).

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go bem inform ado de hoje, que a controvérsia clássica entre ambientalismo radical
e inatismo radical havia perdido seu significado no contexto da m oderna genética.
C hom sky parece ter obstinadamente ignorado isso.
A questão formal versus funcional é um tema m uito com plicado na linguística
e na psicologia da linguagem e é de fato difícil tratá-la de um modo não técnico
sem cair em supersim plificaçóes; nem é fácil compreender o centro do proble­
ma sem um pouco da história das ciências envolvidas, que são vários campos da
linguística e alguns campos da psicologia. Tal explicação nos levaria m uito além
do escopo do presente capítulo. Lim itar-m e-ei a fornecer uma visão intuitiva do
debate, mas o leitor, se desinform ado, deveria ter em mente que as coisas são muito
mais complexas; por exemplo, quando eu oponho linguística e psicologia com o os
campos típicos da análise formal e da análise funcional, respectivamente, isso é, de
certa forma, uma supersimplificação, dado que nem todos os linguistas se limitam

INDEX
a explicações form ais e alguns psicólogos se tornaram muito formais!
Os linguistas, embora utilizem a produção dos falantes nativos como sua ma­
téria-prima, estão essencialmente interessados em explicar as propriedades de uma
determinada linguagem, como o chinês ou o inglês, ou de qualquer linguagem na­
tural, que é a ambição da linguística geral. Particularmente desde as propostas fun­
damentais de Saussure no início do século X X ,2,08 eles adotaram o que se chamou de
abordagem sincrônica, baseada na ideia de que as linguagens naturais funcionam, em

BOOKS
qualquer momento de sua história, como sistemas totais, cujas partes são todas inter­
dependentes e devem, portanto, ser descritas ou explicadas umas em relação às ou­
tras, ao invés de em relação a um estágio anterior de sua evolução, como sustentado
na abordagem tradicional da linguística histórica ou diacrõnica. Ao coletar exemplos
representativos de declarações verbais, os linguistas buscam descrever, do modo mais
adequado possível, as propriedades do material linguístico, e, se trabalham na linha
da linguística geral, abstrair propriedades comuns a todas as linguagens. Para esse
fim, eles geralmente se engajam em explicações formais de gramática (vistas como

GROUPS
conjuntos de regras vigentes no sistema de linguagem, não como prescrições norma­
tivas para a boa fala). Vários tipos de explicações com o estas, com vários níveis de ge­
neralidade, foram propostos ao longo da história da ciência linguística. Eles diferem,
entre outras coisas, em seu grau de abstração com relação às sequências de quaisquer
que fossem os elementos —sons, palavras, frases, etc. —componentes das declarações:
alguns se mantêm o mais próxim o possível da estrutura superficial; outros, argu­
mentando que tal estratégia não permite que muitas dificuldades importantes sejam
resolvidas, apelam para níveis inferidos, ou para estruturas mais profundas, depois
do conceito popularizado por Chomsky. Estruturas profundas devem ser evocadas,
argumentou Chomsky, caso se busque explicar sentenças com a mesma estrutura

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superficial, com valores obviamente diferentes, como em seus famosos exemplos:


“John is easy to please” versus “John is eager to please” .109 As teorias também diferem
na ênfase em um ou outro aspecto do material linguístico: a fonologia focou nos sons
básicos; a gramática generativa de C hom sky era centrada na sintaxe; outras teorias
priorizaram a semântica. Tudo isso é importante, mas não nos conta toda a história
sobre o que acontece quando as pessoas falam, o que, na maior pane dos casos,
significa falar uns aos outros. A linguagem é normalmente implementada na fala, na
“parole” como oposta à “ langue” , com o enfatizado por Saussure, usando a palavra
francesa que poderia ser apropriadamente expressa por “com portam ento verbal” .
O estudo da “parole” ou com portam ento verbal obviamente requer uma abor­
dagem funcional, ou seja, uma análise das variáveis que levam à produção ou à
recepção de uma certa declaração em uma certa ocasião. Em bora as coisas sejam
muito mais sutis que isso, é fácil representar do que trata uma análise funcional

INDEX
imaginando sob quais circunstâncias a mesma sentença simples, como por exemplo,
“eu gostaria de uma xícara de chá” , pode ser pronunciada. N o caso mais provável, o
falante estará fazendo um pedido num a cafétéria, ou respondendo ao seu anfitrião.
Ele pode também interromper repentinamente seu trabalho, porque sente sede, e
simplesmente dizer isso a si mesmo, ou a seus colegas, se tiver, enquanto se levanta
da cadeira e vai preparar algum chá. M as também poderia ser pronunciada como
um exercício de um estudante estrangeiro em uma aula de português, que a repete

BOOKS
depois do professor, ou pelo leitor desta página que a lê em voz alta para seu próprio
deleite. A declaração, formalmente definida, não foi modificada; o que m udou foi o
contexto e a função do que é dito naquele contexto particular. O contexto envolve
aspectos físicos e sociais, variáveis internas do sujeito (no caso de sentir sede) ou ex­
ternas (a presença da solicitação do anfitrião; o professor pedindo que o aluno repita;
o texto escrito). O que faz a diferença entre os quatro casos são aqueles eventos que
ocorrem antes, durante e depois de a sentença ser pronunciada.
D e form a oposta, a escolha de uma dada ocorrência pelo falante não é, como

GROUPS
defende Chomsky, uma questão de capricho, além das restrições impostas pelas re­
gras linguísticas; ela é obviamente determinada, mais um a vez, por fatores relacio­
nados ao contexto, à história do sujeito e da audiência, ao status social, ao sucesso
prévio ou antecipado em situações semelhantes, etc. U m a explicação gramatical
formal, linguística, não é suficiente para explicá-la. Por exemplo, um falante di­
zendo “ Sua Excelência seja abençoada por ter ouvido m inha hum ilde súplica” está
evidentemente de acordo com as regras do português, mas a seleção do estilo real em
terceira pessoa depende do contexto, uma variável extralinguística.
U m a diferença essencial entre a abordagem formal e funcional é que, na pri­
meira, todas as possibilidades podem ser consideradas, não há limite para o número

209 N . T.: 'fo ã ü é fácil de agradar’’ versus “João quer sempre agradar” .

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INDEX BOOKS GROUPS 17/6/2015

ou a com plexidade das declarações teoricamente possíveis, exceto que elas devem ser
aceitáveis na linguagem que está sendo considerada, enquanto na segunda apenas o
que realmente ocorre deve ser explicado. A abordagem formal opera no nível das po­
tencialidades; a abordagem funcional, no nível das realidades. Essa distinção básica
foi completamente ignorada por C hom sky quando ele argumentou que os estímulos
náo sáo importantes no que o falante decide dizer. Para citar um exemplo, que
agora é clássico no debate, pouco im porta para os psicólogos que uma infinidade de
declarações verbais (se choca com o papel de parede, eu pensei que você gostasse de obras
abstratas, nunca tinha visto isso, torto, pendurado muito baixo, bonito, horrível, etc.)
sáo possíveis na presença de um quadro pendurado em um salão; o que importa, e
precisa ser explicado, é que o falante real disse “ Holandês” , reagindo com sua própria
história a uma situação particular. Que outras declarações eram teoricamente possí­
veis não modifica as causas da resposta que foi de fato pronunciada.

INDEX E nsaio de S k inn er em interpretação

Com portam ento verbal era aquilo em que Skinner estava interessado. Ele cer­
tamente não negou que o trabalho dos linguistas e gramáticos fosse importante
(por razões cronológicas óbvias, ele não m encionou o trabalho de Chom sky em seu

BOOKS
livro), mas apontou para o fato de que eles tinham pouco a dizer sobre o que ele
pensava ser o dom ínio do psicólogo. Tam pouco estava satisfeito com as tentativas
anteriores de seus colegas psicólogos e tentou seu próprio caminho. Ele prim eira­
mente enfatizou o “episódio verbal total” , que tipicamente entende a linguagem
com o produzida e recebida em um contexto. Depois ele tenta construir sua própria
classificação funcional dos comportamentos verbais, utilizando novos rótulos total­
mente diferentes dos termos linguísticos: mando, para designar todo com portam en­

GROUPS
to verbal que lida com as ações do ouvinte em favor do falante (colocando de forma
mais concisa, “ reforçado pelo ouvinte’ ); tato, definido com o com portam ento verbal
que descreve parte do universo do sujeito; autoclítico, que se refere parcialmente às
unidades verbais que ocorrem por causa das ligações intraverbais (parte do conceito
de autoclítico recobre dependências gramaticais); e o com portam ento ecoico, que
é a simples reprodução do com portam ento verbal ouvido. Estas categorias náo se
apresentam sem nenhuma dificuldade própria, mas elas são dadas, vamos relembrar,
com o resultado de um “ensaio em interpretação” , náo como uma invenção decisiva.
Veremos que elas estavam direcionadas a uma questão central, com a qual outros
investigadores lidaram, incluindo alguns linguistas. Neste estágio, vamos enfatizar
um aspecto crucial dessas categorias, enquanto opostas às categorias formais: sua
estrutura não é rigorosamente definida, nem em detalhe, nem em padrão. U m man­
do pode ser uma forma verbal curta e imperativa, dando uma ordem, ou pode ser

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uma prolongada arenga política, engajando a audiência em um determ inado curso


de ação.
E claro, como os próprios sistemas linguísticos não foram inventados por causa
da linguística formal, mas emergiram de alguma evolução funcional no com porta­
mento dos organismos vivos, não é surpresa que eles contenham muitos elementos
(pode-se argumentar, de fato, que eles contêm apenas elementos) dotados de valor
funcional, qualquer que seja a descrição formal dada a eles. Formas verbais impera­
tivas, por exemplo, geralmente têm o valor funcional de mandos nas categorias de
Skinner. M as outras formas verbais apresentam função similar e são mais prováveis
em algumas situações: um freguês educado pode afirmar “ Este Bordeaux é excep­
cional” , levando a atenção do anfitrião para uma taça vazia, ao invés de ordenar:
“Você poderia encher a m inha taça?” . A análise funcional não pode ser mapeada de
nenhum modo simples sobre a análise formal.

INDEX
A QUESTÃO DA COMPETÊNCIA VERSUS A QUESTÃO DA PERFORMANCE
Poderia parecer, à prim eira vista, para um observador direto, que a distinção
entre análise funcional e formal soa com o correta e, uma vez reconhecida, não deve­
ria resultar em tensões conflitantes. C ontudo, muita confusão surgiu na linguística

BOOKS
contemporânea e na psicolinguística e, mais especificamente, no debate em torno de
C hom sky e Skinner, por causa dos conceitos opostos de C hom sky de competência e
de performance. Estes não são conceitos estritamente linguísticos, que pudessem ser
tomados, mais ou menos, com o sinônimos das noções de Saussure de langue como
oposta à parole.ll° Eles possuem implicações (ou, talvez, pretensões) psicológicas
muito mais profundas. Diz-se que os falantes possuem uma réplica internalizada
de suas regras de linguagem, definindo sua competência (linguística), que eles irão
implementar nas produções ou performances discursivas reais. Estas últimas são

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frequentemente pobres testemunhas das primeiras, porque a competência do sujeito
é dificultada pelas limitações das funções psicológicas envolvidas na performance,
tais com o memória, atenção, habilidades motoras vocais e articulatórias, emoção,
etc. U m a competência pessoal supostamente fornece uma capacidade cognitiva que,
em princípio, permite que o material linguístico seja utilizado ao aplicar as regras,
com o os linguistas fariam; isso implica, entre outras coisas, a capacidade de produzir
declarações de tamanho ilimitado, consistindo em uma infinidade de proposições
incrustadas. A gramática autoriza sentenças do tipo ‘‘O gato que pegou o rato que
com eu o queijo que foi deixado na mesa do café na cozinha morreu” . Elas sáo raras,
se alguma vez ditas, não (ou não apenas) porque sáo deselegantes em estilo, mas

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principalmente porque colocam uma carga excessiva na m emória e na decodifica-


çáo. Essa lacuna entre o aparato cognitivo, dotado de competência, e o com porta­
mento real, é de fato uma questão crucial que divide a abordagem formal típica de
C hom sky e a análise funcional proposta por Skinner.
Com petência se refere, com o vimos, a um conjunto internalizado de regras que
o indivíduo irá aplicar mais ou menos perfeitamente. Para Skinner, o sujeito que se
com porta não aplica regras, não mais que as células fazem em suas reações imuno-
lógicas: o que é feito, ou dito, pode ser descrito por meio de regras, no sentido de
que pode ser explicado por meio de leis —isto é, na verdade, tudo sobre o que trata
a ciência —, mas o sujeito não está extraindo da mente algum conjunto de regras
de modo a transformá-las, com mais ou menos sucesso, em comportamento. Uma
linguagem é certamente um sistema organizado que pode ser descrito consistente-
mente, e é isso que fazem os linguistas. Considerando que o com portam ento verbal

INDEX
individual é controlado por hábitos vigentes em uma com unidade verbal, as regras
definem as contingências linguísticas, não um maquinário internalizado distinto de
seus subprodutos verbais.
O debate nos traz de volta, é claro, à questão do mentalismo. As objeções de
Skinner às visões de Chom sky foram as mesmas que ele direcionou anteriormente
a todos os tipos de teorias mentalistas: qual é o status da entidade mental chamada
de “competência linguística” ? D e que material ela é feita e onde ela reside? M ais

BOOKS
importante, quem é o sujeito que a explora? De onde ele opera? Ele escapa à análise
científica? C om o podemos explicar esse sujeito e o que ele faz sem cair na regressáo
ao infinito do homúnculo?
Saussure foi esperto o bastante para se limitar, enquanto um linguista, ao es­
tudo da linguagem, da “ langue” , embora assumindo que ela é, de um modo ou de
outro, armazenada no cérebro do sujeito falante. Ele deixou em aberto o estudo
da “parole” , ou com portam ento verbal, admitindo que uma ciência com pleta da
linguagem - ele a chamou de sêméiologie - abrangendo ambos os aspectos, estaria

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completa apenas depois que os psicólogos, ou outros especialistas, implementassem
o estudo do com portam ento verbal. Ele não forneceu nenhum status neurobiológico
ou psicológico à “ langue” , nem defendeu que a contribuição do linguista tivesse
qualquer prioridade na explicação da “parole” . C hom sky tom ou uma postura to­
talmente diferente: dizia que a análise linguística formal era não apenas um pré-
-requisito para qualquer investigação psicológica do com portam ento verbal, mas
um conceito, i.e., competência, tipicamente derivada de tal análise, tinha também
status psicológico e mesmo neurobiológico.
Investigadores entusiasmados pertencentes à primeira geraçáo de psicolin-
guistas da era pós-Chom sky gastaram muito de seu tempo tentando demonstrar a
realidade psicológica das estruturas profundas e das transformações gramaticais con­
sideradas na gramática generativa. Suas tentativas foram , em geral, malsucedidas.

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Isso não descartou a validade da gramática generativa - questão deixada aos pró­
prios linguistas. Entretanto, demonstrou que uma explicação formal aparentemente
adequada do sistema linguístico, como essa, não precisaria ser útil na descrição do
funcionamento do sujeito quando fala ou ouve. Embora eles mantivessem alguma
distância de Chomsky, a maioria dos psicolinguistas permanecia dentro do m ovi­
mento cognitivo e realmente não adotou o tipo de abordagem funcional defendida
por Skinner. Alguns deles, todavia, se depararam com problemas similares e por fim
se voltaram para uma abordagem muito similar, embora ignorassem o parentesco
resultante.

A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM NA INFÂNCIA! A PEDRA DE TOQUE

Skinner rejeitou o conceito de competência linguística por causa de seu sta-


tus mentalista. A objeção estava logicamente na linha de sua posição teórica mais
constante. A inadequação do conceito para uso psicológico foi logo evidenciada,
ademais, no contexto empírico. Estudantes de aquisição de linguagem, apesar de
especialmente receptivos à mensagem de Chomsky, descobriram que não poderiam
chegar a lugar nenhum, metodologicamente, com a distinção entre competência e
performance. Competência, como vimos, é inferida da afirmação de que o falante
de uma dada linguagem internalizou a gramática daquela linguagem, que é apenas
uma entre as várias concretizações de algo mais abstrato, i.e., uma gramática geral
comum a todas as linguagens (que, por sua vez, supostamente possui sua contrapar-
te física correspondente no cérebro, tornando a linguagem literalmente comparável
a um órgão físico). A ligação entre a noção de gramática, enquanto uma descrição
linguística, e a noção de competência, com suas conotaçoes psicológicas, é provavel­
mente devida à metodologia tradicional utilizada pelos linguistas ao coletar dados
relevantes. D e forma geral, ao trabalhar com linguagens bem conhecidas, os linguis­
tas coletam declarações de sujeitos adultos normais e, quando há qualquer hesitação,
eles forjam uma sentença que propõem aos seus sujeitos, perguntando-lhes somente
se ela seria aceitável ou inaceitável em sua linguagem. Quando os linguistas traba­
lham em sua própria linguagem,21' como Chomsky, sobretudo, fez, por todos os
propósitos práticos, eles podem encurtar o processo ao utilizar a si mesmos como

2.n Seja para descrever sua gramática particiliar, ou para construir uma tir.irn alk.i geral, como o Icz C h o m sky. A legitim idade de
se utilizar apenas uma linguagem para capturar os chamados universais da linguagem e torm uLir uma gr.imarica geral foi questio ■
nada, c claro, por linguistas com in clin arão com parativa, que acreditam, com importantes argumentos, que uma gramática geta!
pode a|>enas ser derivada de esrudos comparativos cuidadosos. Podemos notar que uma questão sim ila r existiu por m uitos anos
na psicologia, em re k ç io à possibilidade de extra.t x is gerais a p a rrird o estudo de um a única espécie ou, conscqucntcm entc, de
d efin ir a psicologia específica de uma especie, digam os, os hum anos, sem uma investigação com parativa prévia. A psicologia cog­
nitiva, possivelmente após o modelo questionável de C h o m sky, negligenciou, m uito treqkictu emente. a dim ensão com parativa.
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sujeitos e simplesmente se referir a sua própria “ intuiçáo linguística” . Dessa forma,


eles podem dizer o que é parte da linguagem e o que não é.
Por razões óbvias, o m étodo náo funciona com crianças novas no estágio da
aquisição da linguagem. Elas não podem responder à pergunta de praxe “ Isso é
aceitável em sua linguagem?” . Sua linguagem não é estável, mas está em processo de
aquisição: sua forma irá se modificar dia a dia. As crianças produzem todos os tipos
de declarações que seriam rejeitadas por adultos, mas que são, àquela ocasião ao
menos, parte de sua linguagem. N ão há nenhum critério pelo qual uma escolha po­
deria ser feita entre aquelas declarações que presumivelmente refletem competência,
que deveriam ser retidas, e aquelas que pertencem à performance imperfeita e que
deveriam ser rejeitadas. A única solução consiste em reter tudo com o componente
legítimo da linguagem da criança e ignorar a distinção entre competência e perfor­
mance, porque lhe falta valor operacional.

INDEX
A contribuição da psicolinguística do desenvolvimento para a abordagem do
“episódio total” do com portam ento verbal foi mais importante. Aqueles que re­
gistram e tentam analisar as produções vocais dos bebês são confrontados com o
difícil problema de decodificar o que elas significam. Não é possível pedir a crianças
jovens, com o se faria com adultos normais, que parafraseiem, deem outra versão ou
comentem o que foi dito. O que as crianças dizem não é suficiente para explicar suas
produções, mesmo em termos puramente formais. Deve-se escutar e olhar para o

BOOKS
que lhes é dito, a quem elas falam, em que ocasião, em qual situação particular física
e social, com quais gestos ou mímicas, qual expressão em ocional ou ação motora e
com qual resultado. Considerar tais variáveis significa, é claro, voltar-se para uma
análise funcional, retirando a ênfase de um sistema linguístico abstrato e enfatizando
o sujeito que se comporta.
Esta foi uma mudança m uito importante na psicolinguística do desenvolvi­
mento nos anos 1970, com quase todos os pesquisadores com partilhando, sem ani-

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mosidades, a visão que havia sido defendida poucos anos antes por apenas alguns
precursores. Investigadores que adotaram essa nova linha, porque ela foi imposta
inexoravelmente pela matéria em estudo, vieram, em grande parte, dos círculos
chomskyanos mais radicais e não admitiriam nada em com um com os investiga­
dores de orientação behaviorista. Eles simplesmente foram confrontados com a
realidade, que os tornou behavioristas inconscientes de seu estilo behaviorista, as­
sim como M . Jourdain na comédia de M olière não tinha consciência de que estava
falando em prosa.
Este não é o lugar para detalhar a psicolinguística do desenvolvimento.112 Iremos
apontar três tópicos, característicos da evolução descrita anteriormente, por sua es­
pecial relevância para as questões básicas na análise funcional de Skinner: o conceito

212 Para uma abordagem mais técnica, ver Richelle (1971, 1976b) e M oreau & Richelle (1981).

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de episódio (social) total; a definição de categorias funcionais do comportamento


verbal; e a variável estímulo como uma estratégia de pesquisa para avaliar o sistema
linguístico da criança.
Sob a influência de Chomsky, fazia-se referência ao ambiente verbal de uma
criança vagamente como a comunidade linguística, responsável pelo fato de que ele
ou ela falaria, por fim, o inglês, ao invés do finlandês ou holandês. Suas características
não eram detalhadas além disso, pois era assumido que esse ambiente fornecia um
input geral que colocaria em atividade aquela parte da mente e do cérebro da criança
inatamente preparada para produzir linguagem. Era mesmo sugerido que o input
era mais frequentemente de boa qualidade —comparável na proporção das sentenças
mal formadas que geralmente podem ser observadas nas discussões entre linguistas!
mas que nada melhor era necessário, dada a importância relativamente secundária
dos fatores ambientais na aquisição da linguagem. N em todos os psicólogos esta­

INDEX
vam satisfeitos com aquela visão e observavam o ambiente linguístico em detalhes.
Eles identificaram cada um dos protagonistas geralmente em interação com a criança
(mãe, pai, outras crianças, etc.) e registraram sua fala juntamente com as produções
da criança. Descobriram características muito interessantes para a psicologia da apren­
dizagem. Adultos, ou outras crianças, se dirigindo a bebês, geralmente utilizam um
modo específico de fala, que foi chamada algumas vezes de baby-talk. Contrário a uma
intuição popular anterior, essa não é, de forma alguma, uma imitação da linguagem

BOOKS
da criança pelos adultos. E uma sublinguagem especial, universalmente utilizada pelos
adultos na situação de falar com bebês. O maternês, como foi chamado por Newport,
exibe propriedades formais peculiares: as declarações são mais lentas, com pausas mais
frequentes e longas; são pronunciadas em frequências mais altas, com mais ênfase em
contornos prosódicos; a sintaxe é melhor (isto é, com menos interrupções, sentenças
não finalizadas, etc.) e mais simples (com frases mais curtas e poucas subordinadas,
simplificação do sistema pronominal, etc.); é semanticamente muito redundante e

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contém um número limitado de itens léxicos, cuja seleção é obviamente ajustada ao
nível da criança; há o uso extensivo de formas diminutivas, marcadas com um valor
afetivo. Desconsiderando pequenas variações e traços ocasionais restritos a cada lin­
guagem natural particular, essa sublinguagem apresenta propriedades muito constan­
tes em todo o mundo, em ambos os sexos, em genitores e não genitores, em adultos
e outras crianças (a partir dos quatro anos de idade) que se dirigem a crianças mais
novas. Essas propriedades refletem procedimentos de ensino implícitos, que poderiam
ser tomados como exemplos de aplicação de princípios da psicologia da aprendiza'
gem à vida real. Todas as características formais citadas aqui (redundância, sintaxe
clara e simplificada, vocabulário limitado e assim por diante) podem ser analisadas
dessa forma. Nas mesmas linhas, é notável que tal sublinguagem seja constantemente
ajustada ao progresso da criança, sempre estando um pouco à frente, que é a própria
natureza de qualquer bom procedimento educacional, como corretamente observado

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por Vygotsky; e, nesse sentido, um instrumento muito mais adequado que os proce­
dimentos educacionais, nos quais se oferece às crianças um comportamento modelo
exatamente equiparável ao seu nível atual, ou, no outro extremo, já equiparável ao seu
nível final desejado, mas claramente muito distante do estágio presente.
Assim com o analisaram as propriedades formais das falas dos adultos com as
crianças, os psicólogos também observaram vários aspectos das interações verbais
que ocorrem entre uma criança e um adulto, apenas para descobrir outros procedi­
mentos de ensino explícitos. Por exemplo, aprovações e desaprovações são frequen­
tes na fala dos adultos a crianças. Elas obviamente possuem uma função reforça-
dora no com portam ento da criança. Elas parecem ser dadas mais de acordo com a
relevância semântica das declarações da criança do que de acordo com a correção
gramatical - uma indicação de que a prioridade dada por C hom sky à sintaxe não se
justifica, ao menos neste contexto. N a maioria dos casos, entretanto, a resposta dos

INDEX
adultos à criança não se lim ita a sim ou não, certo ou errado. O diálogo inclui várias
interações da parte do adulto que estendem a declaração imediatamente anterior da
criança, reform ulando o que ela disse, enquanto completam ou corrigem a sintaxe
ou a morfologia, ou colocam algum novo com ponente semântico. D e uma forma
mais ampla, o sistema reforçador sutil envolvido nas comunicações verbais iniciais é
baseado em reforçadores afetivos. M anter a conversação (significativa) é também um
ponto essencial. O com portam ento verbal aceitável em uma determinada com uni­

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dade linguística seria modelado não por aprovação explícita ou por correção de cada
trecho da produção gramatical da criança, mas induzindo muita conversa, fornecen­
do à criança uma ferramenta mais e mais eficiente para aumentar sua comunicação
com os outros. Um a análise refinada do episódio verbal total, para usar a expressão
de Skinner, revelou aspectos básicos da aquisição da linguagem e mostrou claramen­
te que qualquer que seja a natureza da disposição hum ana específica para dom inar a
linguagem natural e qualquer que seja sua parte na aquisição da linguagem, não se

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segue que os processos de aprendizagem não estejam atuando, em um importante
sentido, no desenvolvimento do com portam ento mais típico de nossa espécie.
Estudantes da linguagem infantil se depararam com aspectos funcionais da
com unicação verbal e levaram à identificação de com portam entos pré-verbais que
preparam o uso da linguagem adequada para lidar com o ambiente social. Várias
tentativas foram feitas para ordenar esses comportamentos pré-verbais e verbais, ao
se construírem classificações funcionais. Contribuições bem conhecidas nessa linha
são aquelas de H alliday e de Bates.113 N enhum deles, não mais que autores de outras
empreitadas paralelas, se referem a Skinner, embora tenham inspiração de Austin, o
famoso filósofo da linguagem , cujo trabalho sobre os atos de fala foram , sem dúvida,
seminais, mas possivelmente mais limitados em amplitude que o de Skinner. Por

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exemplo, Bates aplicou a classificação de Austin à evolução das sentenças impera­


tivas e declarativas, mostrando uma progressão de desenvolvimento da perlocução
para a ilocução e então para a locução. Atos perlocutórios e ilocutórios cobrem, na
terminologia de Austin, parte do que Skinner colocou junto sob o rótulo de man­
dos-214 E m sua muito detalhada análise do com portam ento pré-verbal e verbal inicial,
H alliday identifica o que chama de funções instrumentais, regulatórias e interativas,
que têm muito em com um , para dizer o m ínim o, com a categoria de mandos de
Skinner, enquanto as chamadas funções pessoais e informativas têm algo em com um
com o tato de Skinner. A similaridade entre as primeiras três funções e os mandos
se torna ainda mais impressionante no curso do desenvolvimento, em que H alliday
admite as dificuldades de estabelecer distinções exatas e agrupá-las sob o termo geral
de função pragmática.
A sobreposição não é, é claro, argumento para defender que essas classificações

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sáo de fato úteis. Elas se sobrepõem talvez apenas porque sejam pouco refinadas. Na
verdade, nenhuma das classificações disponíveis do com portam ento verbal parece
totalmente satisfatória e pode-se questionar se tentativas recentes realmente acres­
centaram algo de importante às categorias mais tradicionais, como as de Jakobson.
O famoso linguista costumava opor três funções primárias (i.e., conativa, referencial
e expressiva) e três secundárias (i.e., poética, fatica e metalinguística), com a função
conativa abrangendo as mesmas coisas que os mandos de Skinner e a função prag­

BOOKS
mática de Halliday.
Se quisermos colocar as coisas na perspectiva adequada, temos que estar cons­
cientes da preocupação persistente com os aspectos funcionais da linguagem dentro
do campo da linguística, muito antes que o estruturalismo, e por último Chomsky,
tentasse reduzir o estudo da linguagem a seus aspectos puramente formais. M uitos
linguistas antes e depois, mesmo aqueles que contribuíram para a análise formal de
um modo ou de outro, mantiveram um interesse no outro lado, o lado funcional.

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Antes de Jakobson, o próprio Saussure era sem dúvida um deles, quando visualizou
uma ciência mais geral da langue e da parole, como o foi o antropólogo-linguista
americano Sapir. O linguista francês Benveniste trabalhou o mesmo tema em sua
teoria da enunciação e, por fim, a pragmática moderna se desenvolveu com uma
ênfase de que a linguagem não pode ser explicada a menos que o contexto prático
de seu uso seja considerado. Tal evolução está vinculada, sem dúvida, às caracterís­
ticas intrínsecas das coisas estudadas, que, mais cedo ou mais tarde, a despeito de
afirmações teóricas opostas, impõem uma diferente e apropriada linha de ataque.
Não faria sentido dar crédito exclusivo a Skinner por ter previsto essa importante
virada; ele merece crédito, porém, por ter identificado insuficiências no trato do

2(4 N ó s om itim os aqui o importante e difícil problema da intencionalidade, cuja solução é muito diferente em Skinner e em
Austin.

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com portam ento verbal na sua época, especialmente da parte dos psicólogos, e por
ter afirmado, em seus próprios termos (que admitidamente não foram muito ampla­
mente recebidos), suas propostas, convergindo, nas questões essenciais, com outras
abordagens no moderno estudo da linguagem.
Importante apontar aqui que a linguística e a psicolinguística náo são os únicos
campos em que tal tipo de evolução ocorreu. Peia mesma época, a lógica experimen­
tou um movimento semelhante. Após ter sido negligenciada por um bom tempo,
a retórica, como era chamada pelos gregos antigos, recebeu atenção renovada sob o
nome de teoria da argumentação, como desenvolvida, entre outros, por Pereiman.1'5
N a tentativa de explicar as propriedades do discurso que o tornam eficiente, isto é,
persuasivo, ao invés de verdadeiro ou falso, a teoria da argumentação considera não
apenas o discurso em si mesmo, mas também a interação com a audiência, se aproxi­
mando de uma análise funcional e de uma interpretação substancialmente psicológica.

INDEX
Um último exemplo retirado da psicolinguística do desenvolvimento mostrará,
ironicamente, como a pesquisa cognitiva sobre as regras da linguagem infantil lança
mão precisamente do tipo de manipulação de estímulo que Chom sky havia decla­
rado irrelevante para as produções do sujeito falante. A linguagem de uma criança,
em qualquer nível de seu desenvolvimento, pode ser vista como uma aproximação
temporária e imperfeita do estágio final a ser alcançado, representado pela linguagem
adulta - um sistema sempre em mudança, se observado com cuidado. Esse era o

BOOKS
m odo típico com que o com portam ento de uma criança era visto antes de os espe­
cialistas em desenvolvimento imporem uma abordagem alternativa, na qual o com ­
portamento da criança é visto, em cada estágio de desenvolvimento, como exibindo
sua própria consistência, embora possa ser temporário no organismo em m udança.116
C om o pode um investigador descrever ou inferir as regras vigentes em estágios
sucessivos da linguagem de uma criança? U m exemplo simples irá nos dizer. O
uso de tempos e modos verbais em inglês, francês e na maioria das línguas indo-

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-europeias obedece a certas regras, entre as quais relações temporais adequadas geral­
mente têm prioridade: a form a verbal é primeiramente selecionada de acordo com o
tempo - presente, passado ou futuro - da ação ou estado descrito. O utros fatores são
considerados na explicação, mas são sentidos como secundários ao próprio tempo,
tais com o duração, repetição (iteração), status da ação real ou potencial, etc. Esses
são chamados aspectos pelos gramáticos e podem ser marcados pelos modos gra­
maticais, pelos tempos específicos ou formas verbais (e.g. em português: ele andou

215 Ver, entre oucras fontes. Pertlman & Oibrechts-Tyteca (1958).


2j6 A dificuldade crucial criada pela abordagem do desenvolvimento sempre foi, é claro, reconciliar a noção de consistência
estrutural em qualquer estágio do desenvolvimento e o fato de que o desenvolvimento é, por definição, um fluxo ininterrupto.
Um a solução, identificada por Piaget entre muitos outros, foi caracterizar um número limitado de estágios consistentes Ç‘itíiAes")
separados por períodos de transição sem consistência estrutural; por outro lado, enxergar o desenvolvimento com o um processo
continuamente em mudança (embora náo necessariamente uniformemente) torna extremamente difícil explicar consistência estru­
tural em qualquer momento. A psicologia do desenvolvimento ainda está em busca de sua própria cécnica de cálculo infinitesimal.
pela rua versus ele estava andando pela rua). O s métodos utilizados para descobrir
o que as regras vigentes são na linguagem da criança envolvem uma análise do*
aspectos não linguísticos dos atos de fala. O procedimento experimental é baseado
em um princípio muito simples: é apresentada à criança uma cena com objetos d
ou personagens e pede-se que ela a descreva em palavras (teste de produção), ou é
solicitada a interpretar, com os objetos e/ou personagens disponíveis, uma cena que
corresponda o m áxim o possível a uma sentença proposta pelo experimentador (teste
de compreensão). A o explorar o valor das formas verbais, um experimentador pode
apresentar à criança ações desempenhadas por pequenas bonecas ou animais, tais
com o ir para casa, pular cercas, derrubar algo ou alguém, etc. e convidar a criança
a descrever a cena, imediatamente após ou após um intervalo (por exemplo, i, 7 ou
25 segundos). As ações apresentadas podem diferir em duração, em seu aspecto con­
tínuo ou repetitivo, quanto ao resultado, quanto ao espaço abrangido, ou qualquer

INDEX
outra propriedade hipoteticamente importante na determinação da forma verbal
selecionada. O s resultados de tal experimento com crianças francesas revelaram que
elas utilizam formas verbais principalmente de acordo com fatores relacionados ao
aspecto ao invés de fatores referentes ao tempo.117 As formas verbais são selecionadas
de acordo com o caráter da ação a ser descrita - completa versus incompleta, bem-
-sucedida versus malsucedida, pontual versus duradoura ou repetitiva, etc.
C om o se pode ver, a investigação está relacionada a mudanças que ocorrem

BOOKS
nas declarações verbais quando aspectos específicos do estímulo são modificados.
O experimentador obtém material relevante do qual infere o sistema gramatical
típico do estágio de desenvolvimento da criança ao induzir pequenas mudanças no
estímulo; isto é, ao fazer o tipo de coisa que Chom sky, tão assertivamente, ridicula­
rizou em suas críticas ao Verbal behavior, descartando as características do estímulo
com o irrelevantes para a decisão do falante de produzir uma determinada declara­
ção. Tomando com o garantia que o que um falante diria em frente de uma pintura
seria determ inado exclusivamente pela própria vontade do falante, ele questionou

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ironicamente a interpretação de Skinner de que propriedades sutis da pintura ou
a situação como um todo podem induzir à resposta verbal “escola holandesa” . D e
acordo com Chom sky, com o já citado, o falante poderia muito bem ter dito “pen­
durado torto” , “ horrível” ou “não com bina com o papel de parede” .
Infelizmente, nenhum psicólogo de viés com portam ental implementou, à épo­
ca, um experimento em que os fatores situacionais pudessem ter sido muito bem
manipulados, de modo que as variáveis importantes na determinação da seleção
das respostas verbais pudessem ser identificadas. Q uão obliquamente deveria estar
posicionado o quadro da pintura para induzir um visitante educado à resposta “tor­
to” ao invés de “maravilhoso” ? Isto foi exatamente o que fez o experimentador na
investigação resumida no parágrafo anterior, em uma tradição de pesquisa que foi,
desde o início, vista claramente com o parte da abordagem cognitiva.

P o r que o Ve r b a l beh avio r ainda é ign o rad o ?

C o m o é que as ideias antecipatórias de Skinner não foram reconhecidas, nem


mesmo retrospectivamente, com o um reconhecim ento histórico, quando sabemos
quáo convergentes elas foram em relação às principais abordagens no cam po do
estudo da linguagem ? Referências a autoridades do passado se tornaram moda
depois do apelo de C hom sky à Gram ática de Port-Royal — e, mais tarde, o uso
de Fodor da frenologia de G all. Skinner ainda estava vivo, náo antigo o bastante
na história para servir com o referência de prestígio. Pior ainda, ele havia sido

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elim inado da cena dos sérios estudantes da linguagem . Poucos especialistas esta­
vam prontos para arriscar, entre seus pares, um a alusão a Skinner e ainda menos
para sugerir que ele previu alguns dos desenvolvimentos atuais da psicolinguística.
Exceções possivelmente podem ser contadas nos dedos de uma máo. Um a delas
foi o psicolinguista austríaco M oerk, cujo livro Pragmatic and semantic aspects o f
early language developmenf13 é uma das explicações mais equilibradas e completas
do desenvolvim ento publicadas pelos psicolinguistas nas últimas duas décadas. Ele

BOOKS
se atreve a notar que as conceitualizações de Skinner foram novamente aceitas em
(então) recente trabalho sobre linguagem , “enquanto o sistema de Skinner e sua
term inologia são ainda refutados na m aioria dos casos” .
O ataque de Chomsky, contudo, não é a história completa. Outros fatores,
relacionados a Skinner ou a seus estudantes, poderiam, penso eu, ser mencionados
com o tendo contribuído para a negligência quase geral do importante conteúdo do
Verbal behavior. Em primeiro lugar, o livro não gerou pesquisa empírica significativa

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entre os seguidores de Skinner. A maioria deles estava ocupada explorando escalas de
reforçamento em animais e não estavam prontos para mudar para atividades verbais
em humanos. Aqueles que o fizeram, o fizeram de form a ingênua e simplificada, se
lim itando a experimentos nos quais elementos do com portam ento verbal eram re­
forçados por um “ H um !” de aprovação do experimentador. O próprio Skinner não
se engajou em trabalho em pírico e seus estudantes foram quase totalmente ausentes
no rápido crescimento da área, marcado por um florescer repentino de criativos
procedimentos experimentais.
Um segundo fator foi a negligência, de Skinner e seus seguidores, em relação
à dimensão do desenvolvimento, como discutido no capítulo 7. C onform e vimos,
as teses de Chomsky, embora recepcionadas com entusiasmo pelo psicolinguistas
do desenvolvimento, rapidamente se revelaram especialmente inadequadas em sua.
área, na qual métodos de investigação, bem como questões teóricas, rapidamente
convergiram para o que Skinner havia sugerido anteriormente. Novamente, a negli­
gência em relação ao desenvolvimento aparece nesse contexto como a maior falha,
do pensamento de Skinner, dados os temas nos quais estava interessado e o tipo de
contribuição original que ele tinha a oferecer.
E m terceiro lugar, Skinner (e seus seguidores) foram ignorados pela maioria
dos psicolinguistas porque não deram muita atenção à fertilização cruzada entre a
psicologia e a linguística que ocorreu nos anos 1950 e 1960 e que sem dúvida recebeu
um impulso decisivo de Chomsky, qualquer que seja o valor intrínseco de sua teoria.
Partindo do que ele conhecia de linguística (mas é difícil avaliar com alguma preci­
são o quanto era isso),ZJ9 Skinner não estava satisfeito com o modo dela de resolver
problemas que ele visava como psicólogo. Ele não questionava a importância ou a

INDEX
legitimidade de seu trabalho (não mais do que ele fez em relação ao trabalho dos
neurofisiologistas). Ele observou explicitamente, ao discutir os autoclíticos, que estes
(ou ao menos a categoria que ele rotulou com o autoclíticos relacionais) eram o objeto
de estudo tradicional da gramática e da sintaxe. M as ele estava interessado em algo
diferente e, do que ele conhecia, de pouca relevância para elas. Talvez um olhar mais
próxim o à sua obra poderia ter revelado a Skinner a preocupação com as questões
que o próprio Skinner considerava cruciais. Este teria sido 0 caso com os linguistas

BOOKS
“clássicos” e mais ainda com alguns daqueles cuja obra levou, por fim, à pragmática
m oderna na época em que ele escreveu o Verbal behavior ou nos anos seguintes.
Para resumir, eu sustentaria que a contribuição de Skinner ao estudo da lingua­
gem foi importante, no sentido de que abriu novos caminhos para abordar aspectos
da psicologia da linguagem previamente inexplorados e pouco entendidos, e que ela
merece ser reabilitada. Ele estava correto quando afirm ou que a revisão crítica de
C hom sky “não acertou” . M as ele perdeu a chance de influenciar os psicolinguistas
contemporâneos ao se manter distante do diálogo interdisciplinar que se estabeleceu

GROUPS
entre os linguistas e os psicólogos, que, por fim, chegaram perto de suas próprias
visões por caminhos diferentes. Isso, é claro, é o que de fato conta no progresso do
conhecimento.

119 M uito poucos linguistas sáo citados no Verbal behavior e, quando o são, as citações são geri)m ente anedóricas, ao invés dc
focalizarem em pontos substanciais de sua teoria. Encontram os ocasiona]mente Jespersen ou Sapir, nunca Saussure, Bloom field
ou Jakobson.
11
PROCESSOS DO PENSAMENTO E CRIATIVIDADE

U ma abordagem com portam ental da cognição

Skinner não é usualmente visto como um expert na resolução de problemas e


outros processos cognitivos de ordem superior. Sente-se que sua contribuição para a

INDEX
psicologia termina no ponto onde começa a inteligência. Se seu trabalho com apren­
dizagem elementar em animais é reconhecido, de form a geral não lhe é dado mérito
por nenhum avanço significativo no campo do pensamento humano. Este juízo é
frequentemente expresso, é claro, por cognitivistas que descartam sua abordagem não
mentalista com o irrelevante para o entendimento das atividades intelectuais, hoje em
dia rotuladas mais de acordo com a moda, como cognição. M as é mais amplamente
compartilhado por muitos psicólogos que simplesmente notam que Skinner não

BOOKS
oferece m uito trabalho empírico naquela área. E verdade que Skinner não se engajou
em pesquisa experimental sobre resolução de problemas e questões similares. Sua
contribuição permaneceu, na mesma linha com o para o comportamento verbal, no
nível da interpretação. Ela foi igualmente não reconhecida, embora não tenha sido
tão fortemente atacada como o Verbal behavior foi por C hom sky; ela foi simplesmen­
te deixada de lado por especialistas da área, possivelmente porque eles já tinham uma
quantidade impressionante de dados experimentais para trabalhar e para incorporar

GROUPS
aos construtos teóricos, e também porque - conforme observação muito correta de
H unt210 ao comentar, em 1984, o artigo publicado em 1965 - Skinner não usou a
metáfora correta para pensamento. Ele extrapolou, a partir de estudos com animais,
o que implicitamente significa utilizar organismo animal como modelo, num tempo
em que a metáfora computacional já era a referência unanimemente adotada.
C o m o para a linguagem, o interesse em relação aos processos de pensamento
não era novo em Skinner; não era simplesmente uma resposta ao crescente interesse
na resolução de problemas na psicologia. O último capítulo de Verbal behavior era
dedicado ao Pensamento, bem com o um capítulo, em 1953, do Science and human

22.0 “U m estudo de caso de com o um artigo contendo boas ideias, apresentado pot um distinto cientisca, para uma audiência
apropriada, tivera quase nenhuma influência'' ( H u n t , 1984). O artigo de H unt é um comentário a convite de pares sobre “An
opcrant analysis o f problem -solving', reimpresso cm Behavioral a n d Brain Sciences t, antes, em Contingencies o f reinforcement
(S k jn n e r , 1969b).
behavior. Estes eram certamente produtos de uma reflexão iniciada no capítulo de
conclusão de The behavior o fo rg a n is m s Nessas páginas muito esclarecedoras - es­
clarecedoras também para o projeto intelectual de Skinner — ele se refere a "cogni­
ção” (sim, a palavra já estava lá, sob a pena de Skinner) com o um daqueles conceitos
que precisam ser abordados com o tipo de análise que ele utilizou em seu livro para
explicar alguns aspectos do com portam ento do rato - isto é, um daqueles conceitos
que devem ser tratados de um modo não mentalista se quisermos fornecer uma
descrição científica e uma explicação científica da realidade a qual se referem.

A descrição e a organização tradicionais do comportamento


representadas pelos conceitos de “vontade” , “cognição” , “ inte­
lecto” e assim por diante não podem ser aceitas na medida em
que fingem estar lidando com o mundo mental, mas o com­
portamento ao qual se aplicam esses termos é naturalmente
parte do objeto de estudo de uma ciência do comportamento.
O que se busca em tal ciência é um conjunto alternativo de
termos derivado de uma análise do comportamento e capaz
de fazer o mesmo trabalho. Nenhum esforço foi feito aqui
para traduzir conceitos mentalistas ou filosóficos para os
termos do presente sistema. O único valor da tradução seria
pedagógico.111

A maior parte de seus textos posteriores sobre o assunto foram , na verdade,


tentativas de tal tradução, e sem dúvidas foram feitas com intenção pedagógica. Elas
não devem ser avaliadas com referência à explosão de estudos empíricos e teóricos
no cam po da resolução de problemas do final dos anos 1950 até agora, mas como
resposta ao desafio de estender a abordagem behaviorista radical (como oposta à
metodológica) aos níveis mais complexos das atividades humanas. Se o desafio foi
resolvido, é uma questão em aberto; com o veremos adiante, aqui, com o no cam­
po da linguagem , observar à distância, de um modo não passional, pode revelar
prenúncios inesperados de, e convergências com , o trabalho atual implementado
dentro da abordagem cognitivista.
0 STATUS DO PENSAMENTO
Vamos caracterizar primeiro as principais características da “tradução” de Skin-
ner. A o discutir as convergências com Piaget, em um capítulo anterior, já apontamos
para a epistemologia geral enfatizada por Skinner, ancorada na ação, ao invés de
derivada das sensações, com o poderia ser esperado de um empirista - o que ele não
era, ao menos no sentido clássico. Este é o centro de sua análise do pensamento. E,
entretanto, fundamentalmente distinto do conceito de pensamento como proposto
em outras explicações behavioristas, especialmente na de Watson. O fundador do
behaviorismo, desconcertado com a aparência mental do pensamento, resolveu a
dificuldade assimilando o pensamento à fala subvocal. Fala pode ser tratada como
um com portam ento, se claramente de um tipo particular; e, caso se assuma que o
pensamento pode ser equiparado com a fala, podemos ir um passo adiante e tratar

INDEX
todo pensamento encoberto —e pensamento é mais frequentemente encoberto que
explícito —como subvocal, fala encoberta e, portanto, com o comportamento.
Skinner inequivocamente rejeitou essa visão. N um a análise sensata do com ­
portamento verbal direcionado a si mesmo, o falante e o ouvinte estando dentro
da mesma pele, ele discute o status da fala audível (aos outros) versus inaudível,
apontando para o valor econômico da fala subvocal, mas também para sua função
de evitar punição. Estas e outras variáveis explicam a distinção entre os dois níveis,

BOOKS
aberto e encoberto, mas, como ele conclui,

elas náo afetam muito outras propriedades (da fala). Elas não
sugerem que haja qualquer distinção importante entre os dois
níveis ou formas. Náo se ganha nada, portanto, ao identificar
pensamento com conversa inaudível. Isto foi feito em certa aná­
lise behaviorista inicial, aparentemente como um esforço para

GROUPS
encontrar substitutos para os chamados processos mentais.12’

O pensamento não é mais o precursor do com portam ento que a fala encoberta
é da fala aberta:

Não há um ponto em que seja útil traçar uma linha que


distingue pensamento de ação nesse contínuo (partindo do
comportamento aberto, verbal e não verbal, para o compor­
tamento encoberto, possivelmente inconsciente, novamente
verbal ou não verbal).214

223 Id. (1957, p. 457)-


224 Id. ibid., p. 438; parênteses sáo meus e resumem o conteúdo do parágrafo precedente.
A seguinte citação guarda a essência das visões de Skinner sobre o pensamento,
enquanto mostra claramente sua consciência a respeito dos diferentes níveis a serem
diferenciados ao lidar com processos humanos superiores. As sentenças finais ilus­
tram, mais uma vez, as convergências com Piaget:

A visão mais simples e mais satisfatória é que o pensamento é


simplesmente comportamento —verbal ou não verbal, aberto ou
encoberto. Ele não é nenhum processo misterioso responsável
pelo próprio comportamento em toda a complexidade de suas
relações de controle, em relação ao homem que se comporta
e ao ambiente em que ele vive. Os conceitos e métodos que
emergiram da análise do comportamento, verbal ou não, são
mais apropriados ao estudo do que foi tradicionalmente cha­

INDEX
mado de mente humana. Tradição e conveniência parecem
concordar em confinar a análise do pensamento humano ao
comportamento operante (como oposto aos reflexos, condi­
cionados ou não). Considerado dessa forma, o pensamento
não é uma causa mística ou um precursor de ação, ou um
ritual inacessível, mas a própria ação, sujeita à análise com os
conceitos e técnicas das ciências naturais, e a ser explicada,

BOOKS
por fim, em termos de variáveis de controle.125

E esta afirmação verdadeiramente “sistêmica” :

Podemos desconsiderar a incômoda dissecação do pensamen­


to humano no padrão familiar de (i) um homem que possui
(2) conhecimento do (3) mundo. Os homens são parte do mun­
do e eles interagem com outras partes dele, incluindo outros

GROUPS homens. À medida que seu comportamento muda, eles po­


dem interagir mais efetivamente, ganhando controle e poder.
Seu “conhecimento” é seu comportamento em relação a si
mesmo e ao resto do mundo e pode ser estudado como tal.116

215 Id. ibid.. p. 449, parênteses são meus.


126 Id. ibid., p. 451.
0 OPERANTE COMO RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

Em certo sentido, qualquer operante, no processo de sua emergência, pode


ser visto com o um caso simples de resolução de problemas; um organismo é con­
frontado com uma situação arranjada de tal modo que um dado com portam ento
produzirá comida, que é o que o sujeito está procurando no m om ento. O que ele
pode fazer é modificar a situação ou m odificar seu próprio modo de se com portar
na situação, em outras palavras, sua interação com o ambiente. Ele irá emitir, por
fim, um com portam ento adequado que será reforçado. Se a resposta não tiver sido
modelada, i.e., ensinada, ela pode ter sido produzida ‘ ao acaso” , uma das variações
comportamentais exibidas pelo sujeito que, com alegria, atinge o objetivo, i.e., re­
solve o problema. Um a vez emitida, a resposta será produzida novamente em situa­
ção semelhante e se tornará uma solução rapidamente disponível, autom ática, para

INDEX
o mesmo problema.
Isto não é tudo o que geralmente se leva em conta quando os psicólogos estu­
dam resolução de problemas em humanos. Achar a solução ao acaso pode ser visto
com o um bom resultado em tentativas randômicas - o fato de que o sujeito tenta,
ao invés de permanecer sem ação, já é uma parte importante da maior parte do com ­
portamento adaptativo operante, e essencial quando nenhum outro procedimento
está disponível - mas os humanos desenvolveram formas muito mais sofisticadas e

BOOKS
eficientes de resolver problemas. Skinner enfatizou duas dessas formas, que podem
ser chamadas de estratégias, estando a palavra livre de conotação mentalista. Um a
é a construção de estímulos discriminativos que modificam a situação ou o tipo de
interação que o sujeito tem com ela; a segunda é o recurso a descrições verbais e
instruções que Skinner cham ou de regras. Regras estão frequentemente envolvidas
na construção dos estímulos discriminativos, tanto que desembaraçar essas duas es­
tratégias nem sempre é fácil, mas as manteremos separadas para uma maior clareza.

GROUPS
N a resolução de um problema, o sujeito geralmente irá organizar, ao invés
de deixar ao acaso, as atividades exploratórias que farão a descoberta da solução
mais provável. Suponha que os sujeitos tenham de resolver um problema mecânico,
reparar um motor, por exemplo, ou montar as peças de um dispositivo. M anipular
o material aleatoriamente torna pouco provável encontrar a solução. O s sujeitos
observarão o material sistematicamente, talvez checando aquelas partes já obser­
vadas cuidadosamente; irão separar itens e os marcar enquanto tentam encaixá-los
no dispositivo; eles operarão sucessivas manipulações, das quais deixarão traços e
assim por diante. Ao longo de toda a história individual, “com portam entos precor-
rentes” mais ou menos generalizáveis se desenvolvem e podem ser satisfatoriamente
aplicados em uma ampla gama de problemas. Por exemplo, olhar para as coisas de
uma maneira nova — na linguagem de Piaget, estabelecendo uma descentração —
geralmente ajuda a encontrar a soluçáo; repartir o problema em componentes mais
simples algumas vezes prova ser efetivo, e assim em diante. A linguagem geralmente
estará envolvida no processo: descrevendo o que é observado, o que já foi feito, o
que poderia ser feito, são modos de mudar, na realidade ou em pensamento, aspec­
tos da situação até que a solução finalmente emerja. Tudo isso equivale a descrever as
contingências e descrever o próprio comportamento em relação a elas. Tal descrição
pode ser utilizada para controlar o próprio comportamento futuro, dessa forma
assumindo a função de regras.
Regras, na terminologia de Skinner, são declarações verbais (o que inclui qual­
quer das linguagens especializadas da ciência, conforme elaborado pela lógica e pela
matemática) que descrevem aspectos do mundo ou da relação do sujeito com o
mundo e que podem ser usadas eficientemente na ação. Elas têm papel fundamen­
tal na adaptação humana. Muitas delas são parte do contexto cultural, outras são
construídas pelo indivíduo ao lidar com o ambiente. O ensino é, em grande parte, a

INDEX
transmissão das regras para lidar com os vários tipos de domínios.

C om portam ento governado por r egras

A diferença entre o comportamento resultante da exposição direta às condições


físicas e sociais e o comportamento resultante do seguimento de regras é muito
importante. Skinner descreveu uma distinção básica entre o que ele chamou de

BOOKS
comportamento modelado pelas contingências e o comportamento governado por
regras. O primeiro se refere ao processo observado em animais e também em huma­
nos quando o comportamento é adquirido e mantido pela interação direta com o
mundo. Todos adquirimos vários tipos de habilidades dessa forma, tais como subir
uma escada ou guiar uma bicicleta. Mas esse processo muito natural tem o seu limite
quando ele vem a se adaptar a situações mais sofisticadas criadas pelos homens,
tais como dirigir um carro ou pilotar uma espaçonave, ou de atuar em situações

GROUPS
de alto risco. Tais adaptações são possíveis apenas recorrendo a instruções verbais
geralmente fornecidas por pessoas com conhecimento apropriado. Elas são típicas
do comportamento governado por regras.
As vantagens das regras, consideradas dessa forma, são numerosas e fáceis de
identificar. Como acabamos de ver no exemplo dado, elas permitem uma aquisição
segura de habilidades que exporiam o aprendiz a um risco alto e possivelmente fatal
se em contato direto com as contingências. Elas são econômicas, no sentido de que
elas poupam o indivíduo dos esforços (que consomem tempo e energia) de passar
sozinho pelos estágios que outros já desbravaram: elas encurtam uma importante
parte da aprendizagem individual. Elas são obviamente a base do caráter cumulativo
da cultura humana: nenhum de nós é capaz de reconstruir sozinho a matemática ou
a marcenaria; podemos, entretanto, assumir, a partir do atual estado da arte, uma
síntese do passado em um conjunto finito de regras. Existem vantagens quando
as regras sáo construídas pelo sujeito ao lidar com uma dada situação ou resolver
um problema. Elas são, é claro, a chave para a antecipação hipotética da ação, que
torna possível prever os resultados das várias estratégias, até que uma seja finalmente
selecionada como a solução mais apropriada. Elas tornam possível colocar o com­
portamento atual sob controle de consequências remotas. Um exemplo típico na
vida cotidiana é assinar apólices de seguro para se proteger dos riscos aos quais a
maioria daqueles que contratam seguro têm pouca probabilidade de serem expostos
ao longo de sua vida. Essas apólices seguem regras estabelecidas pelas companhias
de seguro, que baseiam suas estimativas em inferências estatísticas que se referem a
eventos raros, que um indivíduo geralmente não experiencia direta e frequentemen­
te o bastante para ficar sob controle das consequências concretas. Este é um caso
em que os humanos podem adotar um comportamento controlado por eventos de

INDEX
muito pouca probabilidade. Riscos ecológicos apresentam as mesmas propriedades
e a segurança será alcançada apenas quando as sociedades modernas genuinamente
tomarem decisóes baseadas nas estimativas das consequências remotas no futuro, e
portanto inefetivas no controle direto do comportamento.
O conceito de comportamento governado por regras está relacionado a um
problema fundamental clássico na psicologia, o problema de articular comporta­
mento verbal e não verbal. A medida que é dado ao comportamento verbal um

BOOKS
status superior na hierarquia dos comportamentos, o problema é geralmente colo­
cado em termos de controle da ação motora pela linguagem, ou, para usar a frase
de Luria, em termos de regulação do comportamento motor pela linguagem. No
sistema da psicologia cognitiva contemporânea, é um caso de causação descendente.
A importância dada a ele por Skinner reflete seu profundo interesse em uma das
características mais distintivas da psicologia humana e seria suficiente para descartar
a ideia de que ele pegou o rato como modelo para os seres humanos.

GROUPS
As regras oferecem uma alternativa para as contingências, mas o comportamen­
to emergente do controle pelas regras não é idêntico ao comportamento modelado
pelas contingências. O último mantém suas propriedades genuínas, que Skinner
caracterizou ao traçar um paralelo entre comportamento modelado pelas contin­
gências e comportamento governado por regras por um lado, e outras dicotomias
clássicas por outro. Comportamento governado por regras está mais do lado do
intelecto como oposto à emoção, do argumento lógico como oposto à intuição, da
deliberação como oposta ao impulso, do conhecimento como oposto à experiência,
da palavra como oposta à ação, da razão como oposta à fé, da verdade como oposta
à crença, da racionalidade como oposta à paixão, da consciência como oposta à in­
consciência, da cultura como oposta à natureza. Cada um desses contrastes captura
alguns dos aspectos da diferença que permanece mesmo quando o comportamento
derivado dos dois tipos de controle for idêntico à primeira vista. Sua origem e sua
história são diferentes e, portanto, eles possuem status funcionalmente diferentes. O
contraste se torna impressionante nos casos em que as regras podem facilmente ser
enunciadas, mas que náo conseguem controlar o comportamento. Skinner cita o
famoso exemplo de Pascal:

O maior filósofo do mundo, de pé em uma tábua maior que


o necessário para o sustentar, mas acima de um precipício,
será controlado por sua imaginação mesmo que sua razão o
convença de que está seguro. [Skinner comenta:] Não é sua
imaginação, mas contingências anteriores que evocam o com­
portamento de estar com medo (e algumas dessas contingên­
cias podem ser filogenéticas).127

INDEX
Todos experimentamos situações semelhantes, mesmo que menos dramáticas.
A descrição de um passo de dança, ou uma performance esportiva, não é necessaria­
mente tudo o que é necessário para reproduzi-los corretamente. Enunciar as regras
para a resolução de um problema matemático nem sempre é suficiente para que o
estudante o resolva. A relação entre as regras e a ação é complexa, e falar sobre com­
portamento governado por regras implica que o sujeito se comporta. A ação ainda é
uma parte essencial do processo.

BOOKS T en d ên cia s atuais na reso lução de pro blem as

Essas formulações sobre o pensamento e a resolução de problemas são relevan­


tes para as tendências atuais nessa área? Considerando que a área é agora parte da
psicologia cognitiva e que o cognitivismo definiu, em certa medida, sua identidade

GROUPS
por meio do contraste com o behaviorismo, não se pode esperar que estudantes
da resolução de problemas, ou, falando de forma mais geral, da inteligência, hoje
dessem algum mérito a Skinner por ele ter desenvolvido ideias fundamentais. Muito
frequentemente, eles simplesmente ignoram a sua contribuição - como ignoram
muitas outras contribuições, não behavioristas, que poderiam parecer surpreen­
dentemente modernas em muitos aspectos - ou, quando fazem referência a ela, a
descartam como irrelevante, por não ter dado o devido lugar aos estados e processos
mentais, tais como pensamento, intençáo, vontade e similares. Portanto, eles mos­
tram que o antigo debate não teve seu fim e também revelam que náo leram Skinner
cuidadosamente, se de alguma forma o leram. Se o tivessem feito, teriam descoberto

2 1 7 Isto. corno sum ário de pares de opostos que o precede, í retirado das notas estendidas ao artigo “A n operant analysis o f
ptoblem solvircg” , reimpresso em Skinner (1969b, p. 171). Parte do material dessas notas foi incluída de um a forma mais concisa
no artigo reimpresso no B ehavtorala n d Brain Sciences (S t e r n b e r g , 1984).
que Skinner nào nega a realidade por trás de termos como pensamento, intenção
ou vontade, mas que ele se recusa a tomá-los como entidades autoexplicativas e
como explicativas para os comportamentos os quais elas causariam. A posição deles
frequentemente pertence ao que eu chamei de cognitivismo epistemológico em um
capítulo anterior.
Nesse contexto, é interessante apontar exatamente a opinião de alguns comen­
tadores das ideias de Skinner sobre essa questão em particular. Farei referência a dois
deles, autoridades de prestígio no campo da inteligência. Para Robert J. Sternberg,
a explicação de Skinner para a resolução de problemas lhe pareceu, quando inicial­
mente a leu como estudante de graduação, como

uma análise a ser refutada, àquela época, pelo que eu acre­


ditava ser o cavaleiro branco da psicologia do processamen­

INDEX
to de informação. Ao fazer uma releitura, minha reação foi
muito diferente. Acredito que Skinner forneceu uma análise
genial da resolução de problemas que se direcionou apenas
a relativamente poucas das questões que eu c muitos outros
vemos como nossa principal preocupação hoje. Isto não quer
dizer que as nossos interesses estão certos e os de Skinner es­
tão errados - mas simplesmente que eles se direcionam a di­

BOOKS
ferentes aspectos do fenômeno da resolução de problemas.“ 8

As questões nas quais Sternberg está interessado não são, de fato, questões re­
cusadas por Skinner, mas redefinidas por ele, “de um modo” , acrescenta Sternberg,

que assume como verdadeiras respostas sem provas a certas


questões que eu quero ver respondidas. Assim, por exemplo,

GROUPS
ele afirma que “falar do propósito de uma ação é simplesmente
se referir a suas consequências características” (...). Eu não
creio que as intenções possam ser englobadas pelas consequên­
cias particulares (...).

As objeções de Sternberg se fundamentam no status dos eventos mentais, na


legitimidade de se ter uma categoria para pensamento ou intenção enquanto entida­
des ou processos mentais, distintos do comportamento. Ele retoma, como a maioria
dos cognitivistas, o vago uso mentalista dos termos que Skinner acreditava neces­
sário esclarecer ao propor uma análise funcional das realidades às quais se referem.
Sternberg compartilha a crença vigente, de novo cientificamente conceituada no
cognitivismo, de que essas realidades são de uma natureza diferente do com porta­
mento, mas a crença não é muito bem embasada contra as razões de Skinner para
não a compartilhar. M uitos biólogos e filósofos não acreditavam que a vida poderia
ter emergido de processos físico-químicos; ou não acreditavam que as espécies pu­
dessem ter evoluído através de um processo de seleção natural ao invés de terem
sido criadas pela vontade de um Deus. A ciência abalou muitas de nossas crenças,
e aquelas relacionadas à nossa autoimagem são mais persistentes que outras. N ão se
admira que elas reapareçam em qualquer ocasião possível antes de desaparecerem
para sempre.
Apesar das divergências básicas —que ele chama de “este senso de irrelevância” -
Sternberg admite que Skinner enfatizara aspetos da resolução de problemas lam en­
tavelmente ignorados pela psicologia do processamento de informação. O seguinte
parágrafo de seu comentário vale a pena ser citado integralmente:

INDEX (...) realmente achei que Skinner lidou com questões que
eu penso terem sido frequentemente deixadas de lado muito
rapidamente na primeira descarga de entusiasmo com a pes­
quisa do processamento de informação. Por exemplo, Skinner
mostra sensibilidade perfeita aos efeitos da situação sobre o
comportamento; os psicólogos do processamento de informa­

BOOKS
ção muitas vezes trataram as tarefas como se elas ocorressem
isoladamente, sem referência a uma variedade de restrições da
situação. Além disso, Skinner mostra um interesse pelas ques­
tões da aprendizagem que foram frequentemente ignoradas
ou justificadas pelos psicólogos do processamento de infor­
mação, mais recentemente, por meio de alegações de que os
experts diferem dos novatos em, ao que parece, pouco além do
conhecimento que eles utilizam para resolver os problemas.

GROUPSCertamente foram as suas estratégias superiores de aprendiza­


gem que os ajudaram a adquirir seu enorme conhecimento;
suspeito que Skinner teria mais a dizer sobre como essa apren­
dizagem ocorre do que aqueles que iniciam sua análise apenas
depois que a aprendizagem ocorre.119

Sternberg sem dúvida reflete o movim ento do pêndulo em direção a uma posi­
ção mais equilibrada a respeito da resolução de problemas.
Hunt, já citado anteriormente, vai um passo além ao traçar paralelos entre
o tratamento de Skinner à resolução de problemas e as formulações adotadas por
aJguns dos líderes influentes da área da psicologia cognitiva. Ele não hesita em usar
a expressão “representação interna” com o equivalente a “estímulo discriminativo” ,
especialmente para designar a nomeação do objetivo a ser atingido quando um su­
jeito se engaja na resolução de um problema e está apto a descrever a mudança que
ocorreria na situação com a solução. A importância desse passo é claramente exem­
plificada em simulações de resolução de problemas, nas quais os estudantes de cog­
nição recorrem aos conceitos da regra padrão-ação: um “padrão” P, nesse contexto,
é uma afirmação simbólica do estado final almejado, cuja presença na representação
interna do problema produz ação A . H unt observa:

Sistemas de produção podem parecer teíeologicamente dire­


cionados a um objetivo. De fato, eles são evocados por nossas
afirmações sobre o problema e seu objetivo. Os teóricos da

INDEX
aprendizagem dos anos 1940 e 1950 (e Skinner) tinham a no­
ção muito pobre de que a resolução de problemas poderia ser
descrita em termos de uma notação S =■> R. Psicólogos cog­
nitivos modernos acreditam que P => A é mais apropriado.
Skinner poderia reivindicar com razão que seu artigo tinha os
fundamentos da ideia moderna!250

BOOKS
O utra analogia se dá entre com portam entos precorrentes, construindo novos
estímulos discriminativos, e a manipulação de um sistema sim bólico físico pelo
moderno solucionador de problemas, H unt também aponta para uma semelhança
próxim a entre a ênfase de Skinner em nomear respostas e os aspectos da situação
e o papel da nomeação na form a com o os experts resolvem os problemas, em con­
traste com os novatos. Ele sugere que “não há razão para que C h i, Larkin e seus
colegas não tenham utilizado a linguagem de Skinner ao invés dos termos empres­

GROUPS
tados da ciência com putacional!” .131 Por fim, H unt sublinha as similaridades entre
a distinção entre com portam ento modelado pelas contingências e com portam ento
governado por regras e a distinção de Schneider e Shiffrin entre processamento
autom ático e controlado.
Essas observações são m uito relevantes porque seu autor trabalha dentro do
paradigma cognitivista e não tem nada a ganhar por se aventurar em uma reabi­
litação de Skinner. Elas simplesmente provêm de uma leitura lúcida e honesta da
obra de Skinner e da consciência de H unt de que profundas continuidades ligam
mesmo tendências sucessivas e aparentemente opostas na ciência psicológica —uma

230 H u nt (1984, p. 597).


231 Id. ibid.
consciência de que grande pane dos conflitos dentro da psicologia contemporânea, j
não passa de debates sobre metáforas. '

C omportamento criativo j
i
Em bora a resolução de problemas, no sentido clássico, por definiçáo sempre I
envolva alguma novidade, é amplamente aceito que ela pode ser submetida à análise ]
científica e poderia mesmo se admitir que ela pode ser adequadamente analisada ]
em termos comportamentais, como proposto por Skinner. U m a área da atividade j
hum ana superior, entretanto, certamente irá escapar para sempre a qualquer tenta- j
tiva de explicação causal; é o dom ínio da criatividade. N ão pareceria especialmente j

paradoxal sugerir que obras de arte, literatura ou música pudessem ser explicadas i

INDEX
dentro de um a teoria psicológica determinista principalmente interessada em con- i
dicionamento?
Desde os anos 1950, observa-se um amplo interesse em criatividade, nos círcu­
los educacionais, industriais e mesmo políticos. Isso náo foi exatamente uma súbica !
preocupação de uma sociedade opulenta com extrair o melhor dos seres humanos j
ao promover criação artística e intelectual. Foi, em grande medida, uma resposta
da sociedade americana à descoberta desconcertante de que uma potência rival, a

BOOKS
União Soviética, a havia precedido na corrida espacial. A educação e a indústria
foram culpadas por negligenciar a criatividade, que se tornou um tema importante
nas conversas, com o ocorrera com o petróleo vinte anos antes; ninguém fala sobre o
assunto até que haja escassez.
Apesar desse im pulso, a pesquisa psicológica em criatividade dificilmente nos
levou além das ideias tradicionais que definem a criatividade com o um tipo de facul­
dade mental, por fim a ser mensurável por meio de testes apropriados, ou como o fe­
liz resultado de atitudes mentais combinadas com circunstâncias favoráveis. Outros

GROUPS
preferiram considerá-la uma característica inata igualmente com partilhada por to­
dos os seres humanos, que floresceria melhor se intocada pelo controle educacional.
N os anos 1960, o mito da criatividade estava vinculado ao movimento da antiescola
na educação e com as abordagens náo diretivas na psicologia. Nessa perspectiva,
você não educa a criatividade, mas deve apenas deixá-la livre de qualquer controle.
Náo é necessário dizer que tais visões, essencialmente mentalistas, eram es­
tranhas a Skinner. Isso não significa que ele não estava interessado na questão da
criatividade. M as, com o se pode esperar, ele assumiu uma abordagem totalmente
diferente, que será facilmente entendida porque a influência da analogia evolucio­
nária foi bastante elucidada anteriormente. A o invés de tentar entender algum a fa­
culdade mental misteriosa que seria a fonte das produções criativas, Skinner preferiu
falar de com portam ento criativo, identificar as propriedades do com portam ento
que concordamos em classificar dessa forma e procurar as variáveis que permitem a
sua emergência em alguns indivíduos ou grupos, em alguns momentos da história,
em algumas culturas, etc. Ele não via razão para que tais comportamentos fossem
abordados de uma form a diferente daquela utilizada em relação a outros tipos de
comportamento.
Um a característica comum óbvia de todos os comportamentos criativos é que
eles implicam alguma novidade, um conceito que precisa ser definido, é claro, em rela­
ção a algum conjunto previamente definido: um comportamento observado em uma
criança pode ser novo se comparado com comportamento anterior —isto é novidade
de desenvolvimento, mas não comportamento criativo no sentido usual — e criação
artística geralmente implica novidade em relação a produções anteriores de uma dada
cultura (obras de arte inspiradas em outras culturas podem parecer criativas apenas
para os membros da cultura que foi influenciada e não para os membros da cultura

INDEX
que influenciou). Em algumas culturas humanas, produções criativas, sob condições
de aceitação, são altamente prezadas pela comunidade. Isso pode induzir indivíduos
a produzir objetos, textos, ou músicas, marcados pela novidade, pela qual eles serão
recompensados, não necessariamente com dinheiro, mas socialmente; não necessa­
riamente de forma imediata, mas num futuro remoto, algumas vezes póstumo; não
necessariamente de fora, mas por uma satisfação intrínseca por fazer uma nova parte
da obra. A seleção cultural age nesse caso para encorajar a diversidade.

BOOKS
Isso parece ser simplesmente um caso especial do processo geral inerente ao
com portam ento operante. O paralelo com a evolução biológica se aplica de uma
forma peculiarmente surpreendente ao com portam ento criativo, que resulta em
produções quase tão diversas e fascinantes quanto as espécies vivas. Longe de criar
uma dificuldade para uma teoria do com portam ento, a criatividade, ao contrário,
fornece uma ilustração excepcionalmente clara do que é tudo isso. A seguinte cita­
ção de Skinner resume o ponto:

GROUPS
Novidade e criatividade podem ocorrer num sistema comple­
tamente determinista. Um exemplo conveniente e arquetípico
é a teoria da evolução. As formas de vida na terra apresentam
uma variedade muito além daquela das obras de arte. A diver­
sidade já foi atribuída aos caprichos e extravagâncias de uma
mente criativa, mas Darwin propôs uma explicação alternati­
va. A palavra “origem” em The origin of species é importante,
porque o livro é essencialmente um estudo da originalidade.
A multiplicidade das formas vivas é explicada em termos de
mutação e seleção, sem apelo a qualquer plano anterior. Há
elementos semelhantes no comportamento do artista que
produz obras originais/32

Estamos longe da imagem de Skinner com o um defensor do conformismo. Ele


era, ao contrário, muito consciente de que a seleção de uma obra de arte, literatura,
ou ciência não necessariamente advém da maioria, nem dos contemporâneos: os
mecanismos culturais evoluíram de tal forma que também parecem operar a seleção
por meio do julgam ento de alguns poucos indivíduos, cuja opinião é, entretanto,
decisiva, ou com um atraso que pode se estender além de um a geração. Ele próprio
foi exposto a tantos e tão violentos ataques de seus pares, ou de pessoas leigas, que
teria saído de cena se não estivesse convicto de que estava certo, e que isso seria, um
dia, reconhecido. Ele pertencia àquela categoria de pessoas que, mesmo no campo
da ciência, em que o rigor é geralmente prezado às custas da fantasia, tomam como

INDEX
evidência de seu próprio valor o fato de que outros o tratam com o tolo. Importante
citar um artigo anedótico nesse contexto. Ele foi publicado em 1960 sob o título
de “ Pigeons in a pelican” . Ele conta a história do Pigeon project, um programa de
pesquisa aplicada que visava a explorar a possibilidade técnica de detectar ou guiar
mísseis utilizando organismos vivos (pombos). Skinner, então na Universidade de
M innesota (no início dos anos 1940), testou a capacidade do pom bo de responder
de tal modo a manter um míssil (o candidato era chamado de Pelicano) se movendo
em direção ao alvo. Foi realizado trabalho experimental, é claro, em um simulador.

BOOKS
Incidentalmente, essa pesquisa foi frequentemente mencionada mais tarde com o
evidência do envolvim ento de Skinner em assuntos militares, uma consequência
alegadamente lógica de sua postura teórica. A acusação parece ridícula quando se
pensa na época em que o projeto foi implementado, de envolvimento muito maior
de muitos cientistas americanos em projetos de pesquisa de defesa, e nos resultados.
Em bora os resultados fossem encorajadores, eles nunca alcançaram aplicações prá­
ticas nas operações militares por causa das soluções eletrônicas concorrentes encon­
tradas pelos engenheiros.
GROUPS
O parágrafo de conclusão do artigo é revelador do caráter de Skinner enquanto
um cientista e de sua concepção sobre a pesquisa criativa. Lê-se o que segue:

Se eu tivesse que concluir que as ideias malucas devem ser en­


corajadas, provavelmente diriam que a psicologia já teve mais
que sua parte delas. Se o teve, elas foram consideradas pelas
pessoas erradas. Reagindo contra os excessos de desonestida-
des psicológicas, os psicólogos desenvolveram uma preocupa­
ção enorme com a respeitabilidade científica. Eles constante­

232 D e “ Creating the creative artist", reimpresso no Cum ulative record (S k in n e r , 1972. p. 339).
mente advertem seus estudantes contra fatos questionáveis e
teorias sem sustentação. Como um resultado disso, uma tese
comum de Ph.D. é um modelo de prudência compulsiva,
avançando apenas as conclusões mais tímidas rigorosamente
cercadas por qualificações. Mas é exatamente o homem capaz
de tal cautela admirável que precisa de um toque de especu­
lação descontrolada. Possivelmente uma exposição generosa
à ficção científica psicológica ajudaria. Pode-se dizer que o
Project Pigeon fundamenta essa visão. Exceto em relação ao
seu objetivo confesso, ele foi, como eu vejo, muito produtivo;
e assim o foi porque, em larga medida, meus colegas e eu
sabíamos que, aos olhos do mundo, éramos loucos.2”

INDEX
Apontei na introdução deste livro que, em m inha longa experiência com o es­
tudante, Skinner foi o professor menos autoritário que eu já tive. Ele também era o
pesquisador mais criativo e ousado e ocasionalmente o mais inclinado à especulação
descontrolada. Provavelmente por isso devemos a ele tantos dados bem estabele­
cidos, propostas teóricas bem argumentadas e fontes estimulantes de especulação.

BOOKS
GROUPS

133 De “ Pigeon in a pelican” , reimpresso no Cum ulative record (id. ibid., p. 590).
INDEX
BOOKS
GROUPS
PARTE IV

INDEX
0 INTERESSE PELA VIDA REAL: UMA
AVENTURA EM DIREÇÃO À UTOPIA

BOOKS
GROUPS
INDEX
BOOKS
GROUPS
12
SAÚDE MENTAL

P sicologia c ien tífica no contexto clínico

A psicologia provavelmente se tornou mais bem conhecida pelas pessoas leigas


através de suas aplicações no tratamento de desordens psicológicas. Esse é o campo

INDEX
profissional dos psicólogos clínicos e psicoterapeutas (duas categorias que tendem
a se fundir na mesma pessoa). A área é frequentemente confundida, na opinião
pública, com a psicanálise e a tradição de Freud, mas, ao longo de todo o século
X X , muitas outras práticas se desenvolveram, algumas delas de origem freudiana,
outras de naturezas diferentes. Elas apresentam uma ampla gama de variações, em
relação aos procedimentos utilizados, quanto aos tipos de pacientes ou cliente aten­
didos, à filosofia subjacente e à referência feita (ou não) ao critério científico que

BOOKS
define a lógica para a estratégia terapêutica e avalia o resultado do tratamento. A
terapia com portam ental é uma das principais variedades, com um número de sub-
variedades, incluindo as terapias então denominadas comportamental-cogniciva ou
cognitivo-com portam ental, à prim eira vista uma fusão de certo modo inesperada.
A terapia comportamental surgiu antes da contribuição de Skinner: suas ori­
gens podem ser traçadas a Pavlov e a W atson.134 Porém, a influência de Skinner
foi decisiva, nos anos 1950, na rápida ampliaçáo daquilo que era visto com o uma

GROUPS
alternativa à psicodinâmica e à psicanálise. Seus principais textos sobre o assunto
são, mais uma vez, Science and human behavior e meia dúzia de artigos publicados na
mesma década. Sua contribuição foi dupla: por um lado, ele criticou alguns aspectos
da teoria de Freud; por outro, promoveu a análise experimental do com portam ento
com o uma possível ferramenta para se compreender e se modificar o com portam en­
to anormal.
V im os, no capítulo 5, o lugar de Freud nos textos de Skinner, que dá o devido
crédito ao fundador da psicanálise por sua pesquisa a respeito dos determinantes do
com portam ento hum ano, bem com o o culpa por sua teoria mentalista. A o recorrer
ao aparato psíquico, Freud reificou, enquanto entidades mentais, o que deveria,

13 4 Para um levantamento Histórico da terapia comportam ental, ver Kazdin {1978) e Schorr (1984).
na visão de Skinner, ser analisado em termos funcionais para um resultado mais
frutífero. Ele teve

um efeito prejudicial em seu estudo sobre o comportamento


enquanto uma variável dependente. Inevitavelmente, ele rou­
bou a cena. Pouca atenção foi dispensada ao comportamen­
to per se. O comportamento foi relegado à posição de mero
modo de expressão das atividades do aparato mental ou dos
sintomas de um distúrbio subjacente.w

Skinner argumenta, com o o fizeram outros críticos de Freud, que, ao recorrer a


estruturas psíquicas internas ao invés de manter o foco na sequência de eventos que
produziram o com portam ento neurótico, corre-se o risco de que parte da relação

INDEX
entre o com portam ento real e seus antecedentes na história individual seja perdida,
e, consequentemente, os esforços do terapeuta serão mais difíceis. Em bora os distúr­
bios psicológicos sejam vistos com o tendo sua origem nos detalhes da interação ini­
cial do indivíduo com o mundo social ao seu redor, eles são rapidamente, na teoria,
atribuídos a construtos, tais com o complexos, mecanismos de defesa, ou conflitos
entre os componentes da personalidade, o Id, o Ego e o Superego.
E importante enfatizar que Skinner nunca expressou qualquer objeçáo à ideia

BOOKS
de Freud de que problemas atuais derivam de eventos anteriores, mesmo sendo
a terapia com portam ental acusada frequentemente de ser a-histórica, no sentido
de que algumas vezes negligenciou o fato de que disfunções psicológicas frequen­
temente têm suas raízes num a parte (remota) da vida da pessoa. Essa nunca foi a
posição de Skinner e, em qualquer caso, é completamente estranha à psicologia
da aprendizagem, que está, por definição, interessada em com o um organismo é
modificado através do tem po.236 Entretanto, não há nenhuma razão para procurar
as causas dos distúrbios psicológicos exclusivamente nos estágios iniciais da vida.

GROUPS
H á muitos problemas psicológicos relacionados essencialmente a causas atuais ou
recentes na vida do indivíduo e muitos daqueles problemas que tiveram origem
em um passado remoto permaneceriam de im portância secundária e possivelmente
não seriam detectados se não fosse pelas condições presentes que contribuem para
amplificá-los e exacerbá-los. Um a consequência da abordagem psicodinâmica foi
que o tratamento focalizava na m udança do funcionam ento psíquico do paciente;
não se questionou se remover algumas das condições atuais ajudaria num a melhora

Skinner (1972, p. 243).


236 Esforços iniciais na terapia comporramental já reconheceram os determinantes históricos do com portam ento anorm al, por
exemplo, ao desenvolver procedimentos para extinguir com portam ento indesejado há m uito estabelecido, tal com o observado
nas fobias. A dessensibilização ainda é um dos procedimentos mais eficientes e amplam ente utilizados nos tratamentos compor-
tamencais aplicados a um tipo de desordem que provou ser especialmente resistente à abordagem psicanalitica.
mais rápida e efetiva. Foi assumido que se, no início, o mundo ao redor pode ter
sido responsável pelo problema do paciente, na época do tratamento o paciente náo
teria outra alternativa a não ser se ajustar ao mundo com o ele é.
Ao propor aplicar a pessoas psicologicamente doentes o mesmo tipo de análise
funcional do com portam ento que fora aplicada com sucesso a organismos normais,
Skinner estava sugerindo que a condição delas poderia ser mais bem entendida e que
elas poderiam ser finalmente ajudadas de form a mais eficiente que nunca. Deve-se
recordar que, na época em que Skinner entrou no campo da doença psicológica e do
tratamento, a psicologia clínica era dom inada pela tradição psicanalítica, que apre­
sentava elaborações teóricas extraordinariamente ricas, porém indicações e sucessos
terapêuticos m uito limitados, se comparados com o número e a variedade dos casos
que demandavam auxílio. Por outro lado, a psiquiatria estava apenas começando a
se beneficiar da recente descoberta das primeiras drogas psicotrópicas.

INDEX
Em bora seus ataques teóricos a Freud fossem claros o bastante, Skinner era
muito cauteloso em se aventurar no território dos psiquiatras e dos psicólogos clíni­
cos. N a introdução de um de seus artigos, ele honestamente enfatizou sua falta de
credenciais, se avaliado em termos de experiência clínica. Ele não tinha nenhuma
nova classificação das doenças mentais para oferecer e não questionaria a im portân­
cia da pesquisa em busca de correlatos ou causas biológicas da disfunção psicológica.
M as ele contribuiu para abalar algumas das confortáveis crenças na psiquiatria e na

BOOKS
psicopatologia ao apontar a possível importância dos fatores ambientais que deve­
riam ser cuidadosamente explorados antes de se atribuir ao paciente uma categoria
nosológica com um dado grau de severidade e prognósticos mais ou menos pessi­
mistas de melhora.

U ma abordagem pragmática do s sin to m as

GROUPS
Adm itidam ente, a abordagem de Skinner pode parecer teoricamente pobre,
se comparada com as especulações sobre as origens e estruturas da doença men­
tal nas várias orientações da psiquiatria e da psicopatologia. Era uma abordagem
essencialmente pragmática, principalmente em relação ao tratamento, com pouco
impacto direto sobre questões de classificação nosológica ou de etiologia. A hipótese
fundamental era m uito simples, até mesmo simplista, com o vista por profissionais
de algumas escolas de pensamento: conhecendo pouco a respeito da verdadeira na­
tureza e das causas das chamadas desordens mentais, não deveríamos focar muito
na definição das várias condições patológicas, mas nos concentrar na modificação
daqueles comportamentos que levam o indivíduo a ser rotulado com o um caso
psiquiátrico ou psicológico. Se aqueles comportamentos podem ser modificados fa­
voravelmente, por que se importar com classificação ou teoria? Por que insistir que
a desordem persiste, com o se ela fosse distinta dos com portam entos desordenados,
que são tomados como meros sintomas de um distúrbio subjacente?
A o aplicar a análise funcional ao com portam ento anormal, colocando a classi­
ficação nosológica entre parênteses, Skinner sugere que, em alguns casos, ele pode
ser explicado por meio de mecanismos simples em atuação no controle do com ­
portamento em geral, mas levados ao extremo, ou envolvidos em contingências
não usuais. Por exemplo, subprodutos emocionais de contingências aversivas, pos­
sivelmente adaptativos se não tivessem ultrapassado um certo nível, podem gerar
condições realmente anormais quando o controle aversivo é excessivo. O medo é
uma reação normal saudável, que ajuda a nos manter longe de situações perigosas,
mas se torna anormal quando os estímulos são tão ameaçadores, ou quando outros
fatores aumentam seu poder ameaçador a tal ponto, que é gerada uma fobia. M ui­
tos com portam entos “anormais” podem ser explicados por meio de mecanismos

INDEX
com portam entais “normais” , se evitarmos catalogá-los patologicamente e, ao invés
disso, analisarmos as condições que explicam sua origem e sua manutenção. Por
exemplo, adição à droga pode aparecer como fiiga ou esquiva de condições sociais
ou afetivas de outro modo intoleráveis; alguns estados depressivos podem ser en­
tendidos com o uma redução drástica do com portam ento em situações em que os
sujeitos perderam a chance de serem positivamente reforçados pelo que quer que
façam, eles param de interagir com o m undo ao seu redor porque nunca são bem-

BOOKS
-sucedidos; com portam ento agressivo em relação aos outros ou a si mesmo às vezes
tem com o única função atrair atenção social não obtida de outra forma. Este tipo
de análise retira a ênfase da categoria patológica e a coloca no contexto em que o
indivíduo viveu e está vivendo. Ela desloca a responsabilidade da personalidade do
sujeito ou da estrutura psicológica para o ambiente, geralmente o ambiente social.
Se a im portância de tais fatores ambientais é confirmada, m odifica radicalmente
a concepção total da desordem psicológica a ser considerada. Concluir-se-á, por
fim, que ela é um subproduto da sociedade ao invés de um distúrbio interno e,

GROUPS
naturalmente, se farão esforços para identificar e m odificar fatores sociais, ao invés
de se multiplicar o tratamento psicológico individual. A prevenção, m uito natural­
mente, tomará o lugar de prioridade sobre o tratamento. Se for m uito tarde para
m udar o com portam ento anormal gerado pela exposição a contingências anteriores
anormais, ou se for impossível modificá-lo alterando a situação presente, tudo o que
resta é prevenir danos psicológicos semelhantes para as pessoas no futuro. Apesar do
bom desenvolvimento dos procedimentos de tratamento na terapia do com porta­
mento nos anos 1950 e 1960, Skinner não se engajou muito na contribuição prática
para as técnicas de remediação. Ele estava mais atraído pelos efeitos de longo prazo
na saúde mental de um planejam ento cultural novo.
Com eçando com uma contribuição aparentemente modesta para a dificuldade
da área da psiquiatria e psicopatologia, Skinner defendeu posições muito simila­
res, embora por razões muito diferentes, àquelas defendidas na mesma época pelos
antipsiquiatras. O s antipsiquiatras sustentam que a psiquiatria é, em grande me­
dida, um instrumento social para isolar aqueles indivíduos com comportamentos
supostamente desviantes que tumultuariam a ordem social ou para evitar a respon­
sabilidade de m udar as condições sociais que geraram as desordens psicológicas,
colocando um rótulo médico naqueles indivíduos que sáo vítimas delas. Essa é uma
visão extrema, que fornece um papel causal exclusivo aos fatores sociais nas doen­
ças mentais. Skinner não foi tão longe e nunca negou a possível im portância dos
fatores biológicos, incluindo os genéticos, nas desordens psicopatológicas. M as ele
certamente contribuiu para apontar a inutilidade de se aumentar o cuidado médico
e psicológico para um número crescente de pacientes se sabemos, a partir de uma
análise com portam ental, que a fonte de suas desordens está principalm ente no am ­
biente social. Todos os esforços deveriam ser colocados na m udança desse ambiente

INDEX
ao invés de no treino de um número crescente de terapeutas.

T ratamento com portam ental d as d eso r d en s biologicam ente determ inad as

M esm o nos casos em que fatores genéticos ou outros fatores biológicos são
prováveis ou certamente a causa da desordem psicológica, a abordagem com porta­

BOOKS
mental no tratamento permanece importante, caso um tratamento biológico não
tenha sido descoberto ou mesmo após esse tratamento ter sido disponibilizado. A
engenharia genética era ainda uma criança quando Skinner tratou desses problemas
e, apesar do incrível progresso feito desde então, ela ainda não tem a solução para
a maior parte das doenças mentais geneticamente determinadas. O tratamento por
meio de medicamentos progrediu de forma similar desde o início dos anos 1950, mas
raramente é por si mesmo uma solução satisfatória se outros procedimentos, de na­

GROUPS
tureza psicológica, náo estiverem em combinação com o tratamento. E bem se sabe
que, algumas vezes, o tratamento medicamentoso pode contribuir para mascarar 0
problema real ao dar um status médico e biológico mais radical àquilo que é essen­
cialmente um problema sodocultural. Prescrever pílulas pode ser mais fácil e menos
custoso do que mudar as condições de habitação e de trabalho e tem a vantagem de
deixar a desordem dentro do paciente.
A o contrário do que se pensa geralmente, uma abordagem comportamental
(ou, para essa questão, qualquer abordagem psicológica) náo exclui uma aborda­
gem biológica, inclusive genética, da doença mental. Se o estado psicológico de um
indivíduo é anormal, ou se suas potencialidades sáo limitadas por causa de fatores
genéticos cujos efeitos não podem ser revertidos (um milagre talvez não impossível
no futuro, mas não atualmente acessível), não temos outro modo de ajudá-lo a não
ser colocando para funcionar todas as estratégias com portam entais possíveis. Este
princípio é fócil de entender no caso da deficiência mental. O retardo mental pod
ser relacionado, em um a lim itada proporção de casos, aos seus fatores gen ética
e, em uma m aior proporção, com variados graus de certeza, aos fatores biológica
relacionados às várias doenças orgânicas, condições de crescimento, nutrição, etc. C
único modo de compensar, infelizmente não perfeitamente, aqueles determinante
consiste em aplicar procedimentos comportamentais mais intensivamente e m ai
deliberadamente do que se faz usualmente com sujeitos normais - que acabarãc
por se ajustar ao seu ambiente mesmo com um m ínim o de intervenção externa
(educacional).

T é c n ic a s o p e r a n t e s n a t e r a p ia

INDEX
Se os tratamentos comportamentais já existiam antes de Skinner, ele lhes deu
um novo impulso, não apenas adentrando no debate teórico, mas os enriquecendo
com técnicas operantes. U m trabalho pioneiro de Fuller, em 1949, havia mostrado
a efetividade das técnicas operantes no caso de retardo severo. O próprio Skinner
supervisionou os estudos implementados por Lindsley com pacientes psicóticos
crônicos, demonstrando que eles eram sensíveis ao reforçamento positivo. Pouco
depois, um a abordagem operante foi aplicada por A yllon Òc Azrin em uma enferma­

BOOKS
ria psiquiátrica, sob o rótulo de “engenharia com por tamental” .237 Após uma análise
detalhada dos comportamentos apresentados por um grupo de pacientes crônicos e
um estudo dos possíveis reforçadores positivos, os investigadores organizaram uma
“econom ia de fichas” . Aplicando os princípios do laboratório, eles reforçavam - com
fichas cambiáveis por itens atrativos ou pela oportunidade de se engajar em alguma
atividade muito apreciada - comportamentos desejáveis que eram presumivelmente
bons para os pacientes, para outros internos e para os funcionários responsáveis por
eles. A organização geral da vida diária melhorou, a dependência dos pacientes em

GROUPS
relação ao corpo de funcionários dim inuiu e atividades construtivas e autônomas
aumentaram de acordo. N enhum a contingência aversiva foi utilizada, nem foram
impostas restrições. Com portam entos adequados foram modelados, tais com o se
apresentar para as refeições de acordo com uma escala regular, ou alimentar a si mes­
mo ao invés de depender de uma enfermeira; com portam entos indesejáveis foram
eliminados por meio de procedimentos de extinção, pela modelagem de com porta­
mentos concorrentes ou por saciação, como no caso de um paciente que colecionou
todas as revistas da enfermaria e as guardou embaixo do colchão: um grande número
de revistas foi tornado disponível e ele colecionou até que seu quarto estivesse cheio
delas e, por fim, abandonou sua mania. Enquanto o projeto era posto em prática
em um grupo, os princípios operantes eram aplicados individualmente: os com ­
portamentos eram prim eiro analisados, então modificados com base na observação
individual e na manipulação de contingências individuais.
Desde então, os terapeutas comportamentais elaboraram procedimentos cada
vez mais sofisticados, aplicados a indivíduos ou grupos, algumas vezes visando a
alterar o com portam ento alvo, por exemplo, autom utilação ou atividades agressivas»
algumas vezes construindo repertório até então ausente, cuja presença eliminaria ou
ofereceria um a alternativa à condição anormal. Procedimentos verbais, utilizando
instruções ou auto instruções, foram desenvolvidos. O campo de aplicação, inicial­
mente lim itado ao campo clássico das desordens mentais, foi estendido para incluir
muitos problemas de saúde em pessoas normais, tais com o obesidade, fum o, adição
e dificuldades familiares ou conjugais.
A s primeiras tentativas práticas ensejaram objeções e críticas que ainda são ou­

INDEX
vidas hoje, apesar da evidência empírica acumulada e dos argumentos repetidamen­
te elucidativos. A maior parte dessas objeções e críticas já tinham sido direcionadas
às propostas de Skinner.

O b je ç õ e s

BOOKS
Um a prim eira objeção, principalm ente daqueles que seguem a tradição psico-
dinâmica, é que, mesmo que as melhoras superficiais no com portam ento possam ser
observadas, a própria desordem não foi de fato curada. A objeção é baseada na teoria
de que comportamentos explícitos são apenas sintomas de condições internas mais
profundas, que devem ser removidas prim eiro para que os sintomas desapareçam.
Se eles desaparecem primeiro, por causa da ação direta sobre eles, deve-se supor que
estão apenas mascarados e que a desordem subjacente ainda está presente, pronta

GROUPS
para se manifestar de novo, por exemplo, no deslocamento —algum a outra expres­
são sintomática que toma o lugar do sintoma suprimido. O debate sobre a questão
geralmente segue para um diálogo de surdos, a menos que o oponente possa de­
monstrar a existência da condição interna inferida após o sintoma ter sido removido.
A objeção, entretanto, pode ser respondida em um estilo mais pragmático. As
desordens psicológicas geralmente não são uma questão de tudo ou nada. Elas não
podem ser comparadas a doenças infecciosas, que podem ser totalmente eliminadas
com antibióticos, ou a tumores bem localizados, que podem ser completamente re­
movidos cirurgicamente. Elas podem ser aliviadas em vários graus, alguns com por­
tamentos podem ser modificados, outros, não, e há frequentemente um alto risco de
reincidência. Portanto, à questão: “você realmente curou o paciente?” , o terapeuta
comportamental (como qualquer terapeuta honesto) responderá: “não tenho certe­
za, mas o que sei é que o paciente melhorou” . Esta afirmação não está baseada no
julgam ento intuitivo do próprio terapeuta, mas na evidência empírica de que o ob­
jetivo do tratamento, ou de uma parte do tratamento, explicitamente definido antes
de o tratamento começar, foi de fato alcançado. Essa é uma diferença importante
entre a terapia comportamental e outros tipos de psico terapias: os objetivos podem
ser menos ambiciosos, menos globais, mas são colocados claramente, então se pode
facilmente checar se o tratamento foi um sucesso ou um fracasso.
Um a segunda objeção tem a ver com a noção de controle. A palavra é familiar
na prosa de Skinner e é frequentemente utilizada no vocabulário dos terapeutas
comportamentals. A objeção não vem tanto da psicanálise quanto dos terapeutas da
tradição não diretiva rogeriana. Em bora se admita que apenas recompensas positivas
são utilizadas (alguns críticos obstinadamente se recusam a admitir isso, persistin­
do em comparar Skinner e os terapeutas comportamentais que trabalham na sua
linha com punidores perigosos, recorrendo a estimulações antiéticas com o choques

INDEX
elétricos!), a abordagem como um todo é rejeitada como tipicamente baseada no
controle deliberado pelo terapeuta do com portam ento do cliente. Primeiramente,
a objeção soa m uito forte, porque apela para nosso senso de respeito à liberdade do
paciente. Parece ainda mais forte quando também se argumenta que há formas al­
ternativas de tratamento disponíveis. Podemos defender procedimentos coercitivos
quando atingimos o mesmo fim com procedimentos permissivos? O fato de que o
controle é baseado em reforçamento positivo é geralmente visto como ainda mais

BOOKS
suspeito: a liberdade é ainda mais ameaçada quando o controle sobre ela é agradável.
Enquadrado nas questões éticas gerais das profissões médica e psicológica, o deba­
te é difícil e complexo. Alguns pacientes são simplesmente incapazes de expressar
seus próprios desejos em relação ao tratamento de que gostam: retardados severos,
alguns psicóticos ou idosos demenciados não podem ser deixados sem cuidados
por não poderem negociar seu tratamento. Nesses e em outros casos, terapeutas
comportamentais não prestam menos atenção a problemas éticos que outros; pelo
contrário, pode-se argumentar que eles aplicam padrões mais rigorosos, ao especifi­

GROUPS
car seus objetivos mais explicitamente e avaliar seus sucessos terapêuticos de acordo
com critério experimental. M as daremos crédito a terapeutas de todas as linhas com
a mesma preocupação ética. Àquela objeção, Skinner retruca de form a diferente:
aqueles que se opõem a técnicas de controle em prol de abordagens não diretivas
estão simplesmente trapaceando, porque não há nenhum tipo de intervenção psi­
cológica que possa reivindicar que não exerce influência sobre o com portam ento
do paciente. Aparentemente, técnicas não diretivas de fato recorrem a mecanismos
para o controle do com portam ento do outro, que podem ser detectados e descritos,
com o aqueles utilizados na análise com portam ental e nas terapias derivadas. O divã
psicanalítico, onde o paciente é convidado a dizer o que quer que venha à mente,
é tipicamente uma situação da qual todos os estímulos associados com a repressão
são provisoriamente removidos, com a consequência de que o pacienre será p o r fim
liberto das inibições perturbadoras. O diálogo face a face da terapia rogeriana, com
o terapeuta intervindo m uito pouco, e exclusivamente com sinais sutis de aprovação
e encorajamento, também cria condições favoráveis para aliviar inibições, aumentar
produções verbais e, através de reforçamento social ameno, restabelecer um senso
de autoestima, geralmente vinculado, entre outras coisas, à oportunidade de ser
ouvido. E claro que náo há nada de errado com esse tipo de controle, mas seria justo
afirmar claramente o que está acontecendo, ao invés de enganar o paciente com a
ilusão de liberdade. Afinal de contas, o paciente ou o cliente tem o direito de saber
sobre os processos envolvidos no tratamento. Eles podem escolher um determinado
processo, com o decidiriam a respeito de um a operação cirúrgica, porque é mais pro­
vavelmente efetivo, com duração racional e náo excessivamente caro, se comparado
a outros terapeutas em que os objetivos não são previamente definidos, a duração
não é limitada e o custo, portanto, incerto. Práticas éticas atuais na terapia com por-

INDEX
tamentaJ geralmente incluem um contrato claro e justo com os pacientes: eles são
informados a respeito de até onde deveriam ir com o terapeuta, quais serão os me-
canismos envolvidos e qual é sua parte do processo terapêutico. Isso pode explicar o
sucesso das terapias comportamentais por todo o m undo: os clientes utilizaram sua
liberdade para escolher o que consideraram ser o tratamento mais promissor.
A essa altura, deve-se esclarecer que os méritos dos outros tratamentos náo
são, de form a alguma, rejeitados. As opiniões diferem em relação à real natureza das

BOOKS
desordens psicológicas bem com o em relação aos melhores métodos para reduzi-las.
Nenhum a teoria ou prática proposta até agora pode reivindicar validade universal.
Devem os nos recordar que, com o frequentemente ocorreu na história da medicina
para as doenças orgânicas, um tratamento pode ser efetivo por outras razões além
daquelas imaginadas por seus usuários; pode-se provar o equívoco de algumas teo­
rias, mas também a eficiência do tratamento derivado delas e, pelo contrário, algu­
mas teorias podem estar corretas, mas o tratamento derivado delas, sem qualquer

GROUPS
efeito. H oje em dia, os clínicos tendem a adotar uma abordagem eclética, reconhe­
cendo que alguns casos se beneficiam mais com um tipo de tratamento, outros, com
outro tipo. Isso não é inconsistência; pelo contrário, é a posição mais ética e mais
pragmática, dadas as limitações do nosso entendim ento atual. Tal ecletismo não é
estranho à própria posição “mente aberta” de Skinner, conforme expresso nas se­
guintes sentenças, apontando para algumas similaridades básicas entre a abordagem
com portam ental e a psicodinâmica:

Fatores causais importantes no entendimento da doença


mental devem, todavia, ser encontrados entre as variáveis in­
dependentes para as quais o psicólogo caracteristicamente se
volta. Uma condição emocional excessiva, um modo perigoso
de fuga da ansiedade, uma preocupação perturbadora com
sexo, ou um entusiasmo excessivo com jogos de azar podem
ser nada mais que casos extremos dos efeitos das condições
ambientais. Esses aspectos da história pessoal e do ambien­
te atual do indivíduo são comumente considerados como
pertencentes ao reino da psicologia e dentro do campo de
atuação das técnicas psicológicas. Modos de comportamento
característicos da doença mental podem ser simplesmente o
resultado de uma história de reforçamento, de uma condição
não usual de privação ou saciação, ou de uma circunstância
emocionalmente excitante. Exceto pelo fato de que eles são
perturbadores ou perigosos, eles não podem ser diferenciados
do resto do comportamento do indivíduo. Considerando que
é este o caso, a etiologia da doença mental e a possibilidade

INDEX
de análise e terapia residem no campo próprio da psicologia.
(Nesse ponto, uma intersecção com a psicodinâmica é óbvia.
A distinção entre a visão psicológica e a psicodinâmica não é
basicamente uma distinção a respeito do objeto de estudo ou
do alcance dos fatores estudados. A distinção é principalmen­
te de método e é possível que esses dois campos venham a se
fundir por fim, ou que se tornem ao menos muito proxima­

BOOKS
mente associados.)138

PsiCOTERAPIA E CONTROLES SOCIAIS

E m sua análise do processo psicoterapêutico, Skinner insiste em seu papel de


corrigir no indivíduo as consequências danosas dos vários controles sociais, políticos,

GROUPS
econômicos, religiosos e muito frequentemente de natureza punitiva. As psicotera-
pias estão compensando os controles negativos exercidos por outras agências. N um
certo sentido, implicam , quase que necessariamente, um questionamento daqueles
controles. Elas são, de certa forma, inevitavelmente subversivas e podem, contudo,
preencher essa função de formas diferentes. A mesma sociedade, isto é, o mesmo
conjunto de agências de controle, gera os pacientes e os terapeutas, e há o risco de
que os últimos sintam que seu papel é adequar os primeiros às normas sociais. O
lado subversivo inerente a todos os projetos psicoterapêuticos, então, abre espaço
para o conformismo. A história dos principais métodos de intervenção psicológica

!}& De “Psychology in the understanding of mental disease", em Cumulative record ( S k i n n e r , 197Z, p. 252). Reimpresso de
Kruse (1957).
mostra que eles alimentaram duas tendências divergentes, uma favorecendo o ajus­
tamento e a reinserçáo do indivíduo e outra prom ovendo a sua libertação.
O que é paradoxal é que essas escolas de psicoterapia que se fundamentam
nos recursos internos do sujeito e que não tornam os controles explícitos são espe­
cialmente expostas a serem sustentadas pelas agências de controle, cujos excessos as
tornaram necessárias. A o enfatizar a autonomia do indivíduo, elas estão, na verdade,
apoiando os próprios controles que elas deveriam, ao contrário, expor, se estão com ­
prometidas com corrigir seus efeitos. A principal tarefa da psicoterapia, assim como
a principal tarefa da medicina, consiste idealmente em tornar a si mesmo inútil, ao
provocar as mudanças necessárias para evitar os problemas que ela tenta remediar.
Está na natureza das psicoterapias mentalistas manter o que deveriam eliminar, com
o benefício de que, ao fazer isso, perpetuam a si mesmas. O s excessos dos vários
poderes na sociedade são a origem dos problemas psicológicos e indiretamente das

INDEX
práticas psicoterapêuticas que tentam resolvê-los nos indivíduos, e elas próprias se
tornam um poder entre outros.

A bo rd agem experim ental d as terapias

A contribuição de Skinner para a psicoterapia certamente foi um meio de se

BOOKS
introduzir uma orientaçáo experimental num campo que era deixado, tradicio­
nalmente, à intuição e em patia dos clínicos. Essa foi a ênfase com um em todas as
ramificações das terapias com portam entais, mas o impulso dado por Skinner em
relação a isso foi decisivo. Primeiramente, ele am pliou o escopo dos conceitos e
procedimentos relevantes transferidos do laboratório para as situações clínicas. Isso
não se deve unicamente à influência de Skinner, mas ele fez muitas com plem en-
tações às contribuições já feitas por outros, de Pavlov a Liddell, Harlow, M iller ou
Seligm an. E m segundo lugar, forneceu suas credenciais à abordagem experimental

GROUPS
do com portam ento in d ivid u a l e Skinner contribuiu am plam ente para os estu­
dos com sujeito único com o parte dos reconhecidos delineamentos experimentais,
aplicáveis no tratamento com portam ental. Esse aspecto pode parecer secundário
às questões centrais dos tratamentos psicológicos, mas foi de uma im portância
fundam ental. A psicologia experimental foi dom inada pela obsessão m etodológica
de traçar leis gerais a partir de estudos de grupos, desenvolvendo, para esse fim,
sofisticados delineamentos experimentais e procedimentos estatísticos apropriados.
O fato de que o com portam ento ocorre em organismos individuais e que suas
variáveis controladoras devem ser procuradas foi amplam ente negligenciado pelo
ensino e pela pesquisa ortodoxa. O s experimentadores concediam aos profissionais
clínicos a exclusividade dos indivíduos, adm itidam ente não receptivos a uma aná­
lise rigorosa. Essa oposição não favoreceu a interação mútua entre o laboratório e a
clínica. C om o vim os anteriorm ente, Skinner adotou uma postura com pletam ente
diferente ao levar a cabo, em seu laboratório, trabalho experimental com organis­
mos individuais, um risco acadêmico na época em que todos os psicólogos reco­
nhecidos que trabalhavam nos laboratórios animais estavam estudando grupos de
sujeitos. Seus procedimentos experimentais eram fortes o bastante para demonstrar
que o com portam ento pode ser m odificado por uma determ inada variável, retomar
seu estado inicial com a retirada da variável, m odificado mais uma vez e assim por
diante. O delineamento A -B -A , simples, mas m uito convincente, se fundam enta
na alternância de um a linha de base A para um estado m odificado B, seguido por
um retorno a A . Isso foi amplam ente utilizado no estudo experimental dos efeitos
das drogas sobre o com portam ento, e é fácil perceber com o pode ser facilmente
utilizado no tratamento, incluindo tratamento psicológico (com a condição im ­
portante e óbvia de que os efeitos da variável em estudo são reversíveis). O utros

INDEX
delineamentos aplicáveis a sujeitos únicos — que é a regra no trabalho clínico -
estão disponíveis, mas náo precisam ser detalhados aqui. O ponto im portante é
que o próprio tratamento com portam ental é entendido com o um experimento, no
qual os terapeutas devem demonstrar que eles de fato estão fazendo o que afirmam
estar fazendo.
E m terceiro lugar, na mesma linha, a definição clara dos objetivos finais ou
parciais do tratamento é rambém um aspecto muito importante da abordagem ex­

BOOKS
perimental da psicoterapia. D efinir os objetivos tom a possível avaliar os resultados.
Essa foi uma preocupação crucial do movim ento da terapia do com portam ento. A
avaliação da ação terapêutica pode ser feita apenas se os objetivos estiverem clara­
mente enunciados de início. Isso implica mais que a mera empatia pelo sofrimento
do paciente; não é nada menos que a enunciação das mudanças desejadas. Grande
progresso foi feito no tratamento psicológico desde que os estudos de validação pas­
saram a ser implementados sistematicamente. A avaliação dos resultados, entretanto,
não se tornou um controle de rotina na maior parte das práticas psicoterapêuticas,

GROUPS
uma negligência que seria considerada antiétíca na medicina. Todavia, é inerente
aos métodos da terapia com portam ental, ao menos conform e Skinner os imagina.
13
EDUCAÇÃO

U m p recu rso r

A educação é um outro campo em que a contribuição de Skinner talvez tenha


ocorrido à frente de seu rempo. Ele foi mais bem conhecido nos anos i960 e, desde

INDEX
então, foi atacado de form a ampla e forte, por sua proposta de utilização de m áqui­
nas de ensino. Ele teve a ideia de construir dispositivos eletromecânicos não caros,
que foram rejeitados, porque se dizia que desumanizavam as escolas. Poucos anos
depois, o com putador pessoal barato foi popularizado e as companhias investiram
tempo e esforço em todos os tipos de ensino ou aprendizagem auxiliados por com ­
putador, que receberam aceitação ampla e não crítica, com muito poucas objeções
éticas. O trabalho pioneiro de Skinner é raramente reconhecido nesse contexto. Os

BOOKS
princípios aplicados são aqueles que ele duramente se esforçou para implementar em
engenhocas caseiras e testou com seus próprios estudantes.
A s máquinas de ensino, porém, foram apenas uma parte de um interesse mais
amplo e persistente por problemas educacionais. Em seu último livro de coletânea
de artigos publicado em vid a/39 ele abriu o capítulo intitulado “A escola do futuro’’
sustentando o direito de repetir a si mesmo a citação de Borges: “ O que posso fazer
aos 71, além de plagiar a m im mesmo?” e se referindo a seus textos sobre educação

GROUPS
nos 30 anos anteriores. Sua cronologia tinha um a falha, pois subestimava aproxim a­
damente 10 anos, quando, pela primeira vez, expressou suas visões sobre educação
em partes importantes de seu romance Walden Two,240 e discutiu posteriormente a
questão no Science and human behavior}41 M uitos artigos publicados ou lidos em
conferências desde 1954 estão incluídos, juntam ente com material novo, no livro
The technology o f teaching*1 e ele continuou a se engajar em debates educacionais até
o fim de sua carreira.
E necessário distinguir dois níveis ao caracterizar as visões de Skinner em rela­
ção à educação. Muitas de suas reflexões são parte de suas visões mais amplas sobre

239 Skinner {1989b).


240 Id. (194S) - ver capítulo [4 desse mesmo livro, especialmente páginas 187-189.
241 Id. (1953).
242 Id. (1968).
sociedade e cultura e, com o tais, estão relacionadas à função das agências sociais,
o tipo de controle vigente para alcançar seus objetivos, sucessos ou falhas medidos
com referência a seus objetivos explícitos, ou com referência a consequências de
ordem superior, incluindo a sobrevivência da cultura ou da espécie; a questão do
contracontrole. Tudo isso num nível geral e de fato muito ambicioso. As máquinas
de ensino estão em um nível diferente, mais técnico, intim amente relacionado à
psicologia da aprendizagem propriamente. A questão de Skinner é: dada a escolha
dos objetivos educacionais, especialmente no sistema escolar, estamos aplicando o
que sabemos a respeito de processos de aprendizagem de modo a maximizar os
resultados? Devemos lidar primeiro com esse aspecto mais técnico.

M áq u inas d e en sino

INDEXSkinner certa vez observou uma aula de aritmética na escola de uma de suas
filhas e ficou chocado com o fato de que quase todas as leis da aprendizagem de­
rivadas do laboratório experimental estavam sendo constantemente violadas. Ele
não culpou a professora; ela estava de fato entre as mais bem treinadas e devotadas.
Ela simplesmente realizava seu trabalho em um contexto que náo tinha nenhum
poder para mudar, aplicando métodos que se acreditava serem adequados, mas que

BOOKS
eram obviamente ineficientes. D e modo que as potencialidades de 20 jovens valiosos
organismos estavam perdidas. Skinner pensou sobre o problema e o resultado foi o
delineamento das máquinas de ensino e da instrução programada.
A pesquisa por soluções práticas, concretas, precisa ser enfatizada. Skinner di­
vergiu muito de seu tempo por seu trabalho em laboratório e por suas reflexões
teóricas para se engajar na construção de mecanismos de ensino mecânicos eficien­
tes, em bora primitivos. A maioria dos psicólogos famosos se envolveu, em alguma
época de sua carreira, com problemas educacionais; eles escreveram e discutiram a

GROUPS
respeito das melhorias esperadas na educação considerando o conhecimento psico­
lógico, especialmente suas próprias contribuições; frequentemente foram chamados
de experts, pois sabiam mais a respeito da criança, dos processos de aprendizagem,
dos mecanismos cognitivos, do crescimento da mente e assim por diante que os
professores comuns que faziam o seu melhor aplicando as regras do senso com um .
C ontudo, raramente se engajaram de fato no trabalho prático.
O que estava errado com a situação de sala de auia, analisada do ponto de vista
de um psicólogo da aprendizagem? (Há, claramente, outros pontos de vista que
também poderiam ajudar na identificação dos problemas e na sugestão de soluções,
por exemplo, os pontos de vista dos psicólogos do desenvolvimento, psicólogos so­
ciais, de especialistas em resolução de problemas; mas dado que as escolas são locais
onde os pupilos ou estudantes aprendem, todos esses pontos de vista diferentes são
relevantes apenas na medida em que trazem uma contribuição para uma aprendi­
zagem melhor.) O s problemas identificados por Skinner devem ser entendidos, é
claro, considerando o seu conceito de processo de aprendizagem, como caracteriza­
do nos capítulos precedentes. Se relembramos a im portância de um organismo ser
ativo para poder aprender qualquer coisa, o principal defeito da classe tradicional
é que os alunos têm poucas ocasiões para produzir ativa e explicitamente respostas
que possam ser seguidas de avaliação clara. Essa é simplesmente uma consequência
da razão entre professor e alunos, do lugar atribuído ao ensino m onólogo (o estilo
ex-cathedra das universidades). N ão apenas o número total de oportunidades para
toda a classe é excessivamente pequeno, mas é proporcionalmente ainda menor, e
próxim o a zero, para alguns alunos da classe - para aqueles que, por várias razões, se
esquivam das questões do professor.
Não ser ativo nas respostas dá poucas chances para ser recompensado, ou re­

INDEX
forçado. Reforçam ento no contexto escolar pode significar receber aprovação social
do professor, ou o reconhecimento dos pares, conseguir boas notas, atingir o sucesso
final, ter acesso ao próxim o passo no treinamento em direção a uma profissão, etc.
Recompensas remotas no tempo podem ser mediadas por sinais mais imediatos,
com o nos reforçadores secundários utilizados no laboratório. N as atividades inte­
lectuais, conhecer os resultados, algumas vezes chamados feedback, é em si mesmo
reforçador e o próprio sucesso parece funcionar com o um reforçador intrínseco,

BOOKS
como já mostrado em macacos que trabalham com problemas de manipulação sem
qualquer outra recompensa além do acesso ao problema seguinte.143 Infelizmente,
os reforçadores escolares são escassos e são disponibilizados de forma inconsistente.
Esse é um segundo defeito importante.
Um terceiro defeito está no nivelamento das diferenças individuais. U m pro­
fessor confrontado com duas dúzias de alunos não consegue ajustar os métodos de
ensino ao nível particular de cada um deles. O professor pode adotar uma postura
média, adaptada à média, os melhores alunos permanecendo entediados e os piores

GROUPS
ficando perdidos; ou se ajustar aos melhores ou aos piores, causando mais aborre­
cimentos por razões opostas. Skinner, que se posicionou contra experimentos de
grupo e estudou aprendizagem em indivíduos, nos quais ela de fato ocorre, não
poderia estar satisfeito com o desperdício inerente ao ensino não individualizado.
Finalmente, Skinner sentiu que o sistema escolar não aproveita os avanços
tecnológicos que poderiam ser utilizados para aliviar o trabalho dos professores e
liberá-los para os aspectos mais atraentes do trabalho. U m a boa parte do tempo do
professor na escola é gasta com a transmissão de informação básica que poderia ser
fornecida tão eficientemente, ou mesmo mais eficientemente, com a utilização de

243 Esse é apenas um exem plo clássico, de H arlow (1959), de manutenção de atividade apenas pela oportunidade de o organismo
dar continuidade a ela, ou de ser estimulado, ou de explorar.
outras técnicas. Escolas não conseguem desenvolver ricos intercâmbios entre pro­
fessores e alunos» do tipo que só pode acontecer entre pessoas, pois muito tempo <
gasto com o ensino de tabuada em aritmética, ou com o nome e o lugar dos ossoj

na anatomia. Essas são informações importantes, mas poderiam ser transmitidas


sem mobilizar o professor durante horas. O resultado é que professores e alunos são
facilmente frustrados, tendo poucas ocasiões para discutir problemas encontrados
nas várias áreas de ensino.244
Parte da solução foram as máquinas de ensino. A ideia já havia sido elaborada
nos anos 1920 por Pressey, um educador americano. Eía não possuía, porém, todas
as características que Skinner considerava importantes para colocar em seu próprio
projeto. Muitas versões experimentais foram delineadas, uma das quais foi utilizada
para ensinar a graduandos de Harvard parte do próprio curso de Skinner.
O assunto em questão estava dividido em um grande número de pequenos

INDEX
itens ou quadros (um uso anterior da palavra que viria a se tornar parte do léxico
cognitivista), organizados de um modo progressivo —de acordo com a suposta lógica
do aprendiz, ao invés da lógica do material. Cada passo consistia em uma ou várias
proposições e uma questão a que o estudante deveria responder escrevendo no espa­
ço acessível de uma tira de papel. Os itens eram dispostos radialmente em um disco
e apresentados um por vez através de uma janela. O s alunos não poderiam passar
ao próximo quadro sem antes terem respondido àquele apresentado. Eles poderiam

BOOKS
comparar suas respostas à correta, dando notas a si mesmos, as quais eram regis­
tradas automaticamente. A máquina m antinha o registro dos quadros respondidos
erroneamente, que seriam apresentados novamente em uma nova aprendizagem do
mesmo material até que o dom ínio completo fosse alcançado.
A m áquina remediava vários dos defeitos observados em sala de aula. Os alunos
trabalhavam em seu próprio ritmo e eram livres para repetir — e, na verdade, enco­
rajados a repetir - seções do material que ainda não tivessem dom inado. Eles per­
maneciam ativos durante todo o processo, suas próprias respostas sendo a condição

GROUPS
para se mover ao próxim o passo. Eles recebiam reforçamento imediato por terem a
chance de checar suas respostas. Além do mais, eles poderiam trabalhar no tempo
mais conveniente para eles e tanto quanto gostassem. O professor, liberado da tarefa
de ensinar aquele material em particular, estava livre para formas de intercâmbio
mais estimulantes.
Skinner tinha sua própria concepção sobre o que um bom program a deve­
ria ser. Por exemplo, ele insistiu em construir o com portam ento requerido com o
m ínim o possível de erros, o ideal sendo a aprendizagem sem erros. Isso era objeto
de debate entre os especialistas da primeira geração, alguns deles argumentando,

244 Alguns professores, seguindo filosofias da educação que dão pouco peso para a transmissão de habilidades básicas, esco­
lheram se concentrar naqueles aspectos mais motivadores da tarefi, tais com o discussão com os estudantes, deixando ao acaso a
aquisição das habilidades básicas.
pelo contrário, que os erros tinham algumas virtudes e que em nenhum caso eles
poderiam ser com pletam ente eliminados na prática. Deve-se adm itir que o am ­
biente da vida natural não fornece muitas ocasiões para a aprendizagem sem erros
e que a educação deveria preparar para a vida real, que im plica algum a tolerância à
falha ou à frustração. Poderia ser aconselhável manter um certo grau de tensão em
atividades com o a resolução de problemas, para que o indivíduo não desista por
causa do tédio quando as coisas são fáceis e não desafiadoras o bastante. E m termos
práticos, delinear programas sem erro para todos os estudantes individuais não é
viável; uma estratégia melhor consiste em ter um program a que exija uma média
alta, com retornos para correção em vários pontos para aqueles que encontrarem
dificuldades. Essa importante questão é uma daquelas que, em princípio, podem
ser decididas em piricam ente.
Skinner também enfatizou a im portância de uma progressão muito gradual no

INDEX
programa, passando o estudante, passo a passo, de uma dificuldade para a próxima.
C o m o regra geral, é pedagogia conhecida, à qual muito poucas pessoas se oporiam.
Q uando se trata de casos práticos, entretanto, nem sempre é fácil definir quão pe­
queno ou quão grande o passo deveria ser. Fragmentação excessiva poderia ser tão
contraproducente quanto quadros excessivamente longos. Alguns se opuseram às
máquinas de ensino porque elas deixam pouco espaço para uma visão sintética do
material a ser assimilado. Skinner teria concordado que o tamanho dos passos po­

BOOKS
deria variar de acordo com o objetivo a ser alcançado e que, novamente, soluções
deveriam ser encontradas através de investigação experimental.
M áquinas de ensino não possuíam qualquer poder mágico na mente de Skin­
ner. Ele falava de tecnologia do ensino não tanto porque máquinas estavam envol­
vidas, mas porque ele visualizava aquela contribuição para a educação enquanto
ciência aplicada, a ser comparada com o campo da engenharia em sua relação com
a física ou a quím ica básicas. Ele via a m áquina com o uma simples exploração do

GROUPS
progresso tecnológico moderno, paralela às mudanças que se seguiram à invenção de
Gutenberg da imprensa móvel. Ele desenvolveu por fim, como muitos outros fize­
ram depois dele, versões sem m áquina da instrução program ada, na form a de textos
programados. Seu próprio curso, implementado sobre suas máquinas de ensino, foi
mais tarde publicado nessa form a.145 M as, quando as máquinas estão disponíveis
a um custo razoável, elas fornecem a possibilidade de programar o material e de
autoavaliação que as tornam altamente preferíveis aos livros.
O b je ç õ e s e o bstácu lo s

M áquinas de ensino e instrução programada tiveram seus defensores entusias­


mados. Vários projetos de pesquisa foram implementados e vários tipos de dispositi­
vos foram propostos nos anos seguintes às publicações iniciais de Skinner. O desen­
volvim ento dos computadores, que levaria por fim à presente era de computadores
pessoais baratos para todos, rapidamente tornou as empreitadas tecnológicas iniciais
obsoletas. Porém houve um período intermediário em que a nova tecnologia com ­
putacional era muito pesada e m uito cara para suprir as demandas das aplicações
educacionais. As poucas tentativas de comercializar versões não computacionais fa­
lharam, provavelmente por causa dos investimentos excessivos exigidos com retorno
incerto. E os retornos foram incertos porque o sistema educacional com o um todo
não estava receptivo à nova proposta.

INDEX
A ameaça à posição do professor era obviamente uma objeção importante. M á­
quinas realizando trabalhos humanos são prontamente aceitas quando são vistas
com o aliviadoras do aborrecimento do trabalho despraze roso e desde que não resul­
tem na supressão dos empregos. Este último risco é geralmente a fonte das reações
corporativistas, que, no caso das máquinas de ensino, não eram expressas como tais,
mas disfarçadas sob argumentos mais nobres, como repelir o perigo da educação
desumanizada.

BOOKS
O utra importante objeção era que a aprendizagem na escola é mais do que acu­
mulação passo a passo de níveis de performance relacionados a temas específicos. H á
uma crença antiga e persistente nos círculos educacionais de que o ensino significa
desenvolver ou construir faculdades mentais de alguma natureza geral que serão mais
tarde utilizadas na vida ou nas atividades profissionais. A abordagem cognitiva, dan­
do uma nova aparência aos construtos mentais, assumiu essa concepção tradicional
da educação escolar preocupada em treinar a mente, inculcar julgamento, prover ao
estudante competência matemática ou literária, desenvolver a criatividade, etc. Todas

GROUPS
essas finalidades são distintas da performance objetivamente definida; elas parecem
mais ambiciosas e nobres, mas são essencialmente mais vagas. Apesar da insistência
de muitos educadores em finalidades do ensino objetivamente definidas, de modo
que possa ser claramente decidido se elas foram ou não alcançadas, o sistema escolar
se mantém funcionando com a suposição de que a educação intelectual é garantida
quando atividades mentais gerais são supostamente desenvolvidas nos alunos.
O sistema educacional é paradoxal, no sentido em que é, em alguns aspectos,
excessivamente inerte e não receptivo a novidades ou reformas e, ainda, algumas ve­
zes, m uito pronto a adotar as práticas mais infundadas, que rapidamente se tornam
moda. Fascinação por novos métodos ou ideias é geralmente o resultado de influên­
cia econôm ica ou política, ao invés de consequência da pesquisa objetiva. As m áqui­
nas de ensino não eram populares não apenas por causa das objeções já citadas, mas
porque seu sucesso iria requerer pesquisa extensiva e uma abordagem experimental
que nem o sistema escolar nem as agências econômicas estavam dispostos a adotar
naquela época. Programar material para ser aprendido não é simplesmente dividi-lo
e organizá-lo de modo que pareça apropriado ao programador; significa ajustá-lo ao
estudante e aos processos e ritmo da aprendizagem individuais. Isso apenas pode ser
feito ao se testar o program a nos estudantes e ao corrigi-lo conforme necessário. N ão
é uma tarefa fácil, nem pode ser implementada rapidamente, e foi um obstáculo
para o uso extensivo das primeiras máquinas de ensino. Pode-se imaginar o trabalho
e o tempo necessários para se m odificar uma dúzia de itens na apresentação radial
na máquina de Holland e Skinner.

C o m p u t a d o r e s : “ m á q u in a s d e e n sin o id e a is ”

INDEX
Esses problemas técnicos foram resolvidos pelo computador, a “m áquina de
ensino ideal” , com o o próprio Skinner chamou em 1989. Ele invadiu a vida moderna
e a escola não é uma exceção. Entretanto, a atenção aos aspectos psicológicos do
seu uso para o ensino nem sempre se equipara ao seu potencial técnico. Skinner
corretamente observou, no mesmo artigo recente, que

BOOKS
(...) [o computador] ainda tende a ser utilizado como um
substituto para um conferencista e para ensinar como pro­
fessores de classes grandes fazem. Ele pode trazer a “vida real”
para dentro da sala de aula, ao menos na forma esquemática.
Essa é uma forma em que ele é utilizado na indústria. Em­
pregados não podem ser ensinados a agir apropriadamente
durante um derretimento numa usina nuclear criando-se der-
retimentos reais, mas derretimentos podem ser simulados em

GROUPS
computadores. Computadores podem ensinar melhor, con­
tudo, levando o estudante através de programas instrucionais
cuidadosamente preparados. Eles podem dar dicas ou deixas
para comportamentos e reforçá-los imediatamente. Além dis­
so, computadores podem mover o estudante para o próximo
passo apropriado. Esses aspectos são essenciais para um bom
ensino. São o que um tutor com um ou dois estudantes pode­
ria fazer e o que professores de classes maiores simplesmente
não conseguem.1415

246 Skinner (1989b, p. 94).


Skinner aponta a diferença entre o uso efetivo do treinamento assistido por
com putador na indústria e seu uso frequentemente ineficiente nas escolas. O con­
traste é evidente e é devido à diferença nas consequências de um manejo bom ou
ruim entre os dois ambientes. Fatores econômicos levam a indústria a esperar retor­
no dos investimentos com treinamento e, portanto, séria pesquisa preliminar, bem
com o testes contínuos de validação, são implementados com m uita disposição. As
agências responsáveis pelo ensino escolar tradicionalmente não despendem muitos
esforços ou dinheiro a estudos de validação de método, embora frequentemente
finjam apoiar avaliação objetiva de práticas de ensino.
A maioria das escolas de hoje dispõe de computadores. N em todos os pro­
fessores sabem o que fazer com eles, além de ajudar seus colegas de matemática.
C om o ferramentas de ensino potenciais, eles estão, obviamente, subempregados.
Especialmente nas séries iniciais, eles ainda são amplamente utilizados com material

INDEX
com um , não com programas de ensino de fato. O custo financeiro do equipamento
foi aceito (as companhias de informática tiveram mais influência sobre os elabora­
do res da política educacional do que o teve Skinner!), mas a pesquisa psicológica e
didática necessária para justificar o investimento foi ignorada. O lhando para trás,
ao final de sua vida, para o que aconteceu com sua ideia seminal de delegar parte
do ensino a máquinas, Skinner pôde apenas lamentar que ela ainda não tinha sido
generalizada, enquanto a m áquina disponível, o computador, oferecia possibilidades

BOOKS
incomensuráveis,
A última sentença do trecho citado reflete, mais uma vez, o interesse de Skinner
com o indivíduo: máquinas de ensino, ao contrário de uma das mais fortes objeções
iniciais, não é uma form a de rebaixar a educação; elas são uma forma de ajustar o
ensino ao indivíduo, que se beneficiará da melhor educação possível; uma ambição
perfeitamente compatível com o ideal de não deixar ninguém fora da escola. O
respeito às diferenças individuais, além de ser alcançado pelas máquinas de ensino,

GROUPS
é parte da filosofia geral da educação de Skinner. Trataremos agora de alguns prin­
cípios fundamentais dela.

0 SISTEMA ESCOLAR QUESTIONADO

Skinner era muito crítico do sistema escolar na sociedade ocidental. Enquanto


cientista, ele não poderia aceitar que certos defeitos fossem perpetuados, quando
sabemos com o remediá-los aplicando o conhecimento científico. C om o psicólogo
da aprendizagem, ele não conseguia entender por que mesmo princípios básicos da
aprendizagem eram negligenciados, enquanto princípios de higiene elementar são
aplicados rotineiramente nos cuidados médicos. Enquanto uma mente pragmatica­
mente orientada, ele não poderia se satisfazer com a ineficiência geral do sistema,
como evidenciado pela taxa de falhas e pelo baixo nível generalizado de habilidades
científicas ou outras depois de completar a educação escolar. C om o um oponente
dos controles aversivos e da punição, ele estava chocado com a frequência com que
as escolas ainda recorrem a controles punitivos. C om o um pensador interessado no
futuro do m undo, estava preocupado com o nivelamento inferiorizante das dife­
renças individuais e com a resultante perda dos talentos e potencialidades originais.
C om o um individualista, ele estava infeliz com as restrições do regime educacional,
que não deixam espaço para conquistas pessoais.
As críticas que Skinner direcionou ao sistema escolar têm alguns pontos em
com um com aquelas expressas por outros pensadores na mesma época. Alguns deles
concluíram que, se as escolas não são boas, devemos nos livrar delas.247 Essa posi­
ção estava baseada na crença de que o ser humano, se deixado sem restrições, se
desenvolveria naturalmente em direção à autorrealização, mostrando curiosidade

INDEX
pelo conhecimento, am or pela beleza e altruísmo. Se a escola não apenas falhou em
construir essas características, mas impediu seu crescimento normal, devemos dis-
pensá-la. O movimento antiescola, como ilustrado por Illich, chegou a proclamar a
natureza ditatorial do sistema escolar, visto como uma form a de opressão. A filosofia
subjacente dá crédito aos homens pelo que são e pelo que podem se tornar. Skinner
criticava muito o movimento, especialmente quando ele era apoiado de dentro das
escolas por alguns professores no final dos anos 1960, início dos anos 1970: “A escola

BOOKS
livre não é escola. Sua filosofia sinaliza a abdicação do professor” .248
Skinner, confiante com o era na ação do ambiente, e descrente nas fontes autô­
nomas da autorrealização, adotou uma postura diametralmente oposta: uma cultura
hum ana, sendo caracterizada pela transmissão de com portam entos adquiridos, in­
clui, por definição, agências educacionais de um outro tipo; não faz sentido negar
isso, mas em algum ponto é útil avaliar com o essas agências realmente cum prem as
promessas feitas. Escolas, ou instituições educacionais, não devem ser suprimidas;

GROUPS
elas devem ser mudadas de acordo com objetivos mais bem definidos e com o recur­
so a métodos mais adequados para alcançá-los.
Isso não significa consentir procedimentos mais autoritários. Pelo contrário,
recursos punitivos, físicos ou morais, devem, de fato, ser eliminados. Skinner sem­
pre foi contra o controle punitivo e defendeu o uso exclusivo de incentivos posi­
tivos. Ele argumentou que as punições podem reduzir ou abolir com portam ento
indesejável enquanto estão atuando, mas ele reaparece quando são descontinuadas.
Além disso, a educação não está interessada essencialmente em suprim ir com porta­
mentos existentes, mas sim em m odelar ou construir novos com portam entos: para

247 Essa foi a posição radical defendida por Ivan Illich (1970).
248 Retirado de um artigo intitulado "The free and h a p p y student” ( S k i n n e r , 1973), reimpresso em 1978, que contém uma
discussão irônica d a ideologia d a desistência.
esse fim, reforçadores positivos são muito mais poderosos e eles não geram, com o as
punições, respostas emocionais que geralmente são inimigas das aquisições ricas e
refinadas em qualquer campo de conhecimento ou de habilidades. Escola e apren­
dizagem deveriam ser tornadas atraentes.
Considerando o que sabemos da teoria psicológica de Skinner, podemos con­
siderar que ele não poderia conceber uma boa aprendizagem escolar a menos que o
estudante seja ativo. Essa era uma das características das máquinas de ensino, mas
o conceito deveria invadir todos os aspectos da educação.
E verdade que, antes e paralelamente a Skinner, muitos educadores defenderam
a ideia de que as escolas deveriam ser atrativas e ativas. Em muitos casos, porém, eles
enfatizaram aspectos de certa form a superficiais na tentativa de implementar essas
características. Instalações agradáveis (embora plausivelmente um importante fator,
prontamente aceito por bancos e lojas, mas não m uito considerados em relação

INDEX
às construções escolares) podem atrair estudantes para a escola, com o as animadas
atividades em grupo podem manter as crianças ativas ao longo dos dias de escola.
Skinner não se opõe, mas ele insiste que esses não deveriam ser tomados como sinais
suficientes de sucesso. Devem os ter certeza de que a atratividade, ressaltada com as­
pectos irrelevantes, puramente contextuais, não se sobrepôs aos principais objetivos
das escolas - isto é, dotar os alunos de conhecimento e habilidade específicos, que
podem ser aplicados na vida real. A principal diferença, se é que ela existe, entre

BOOKS
Skinner e os principais defensores das escolas ativas é que ele manteve a ênfase na de­
finição inequívoca dos objetivos e na busca por técnicas eficientes para alcançá-los.
Ele não tinha qualquer objeção à ideia de que aulas de matemática poderiam ser um
acontecimento social divertido, propiciando que os estudantes, por fim, resolvam
adequadamente os problemas matemáticos. Isso não necessariamente é alcançado
porque a aula foi uma festa memorável. Skinner sempre esteve consciente do perigo
de se confundir aspectos da vida escolar acessórios, embora positivos, com a verda­
deira realização dos objetivos.

GROUPS
É por isso que, para Skinner, um ingrediente essencial para um ensino efetivo é
deixar o estudante encontrar seu próprio prazer e satisfação na própria atividade de
aprendizagem. O progresso na aquisição do conhecimento deveria rapidamente se
tornar reforçamehto intrínseco, com o ele o chamou. Isso pode ser feito apenas através
do dom ínio do que é aprendido, por meio da efetiva resolução de problemas, que,
por sua vez, implica progressiva e cuidadosa instrução adequada ao ritmo do aluno.
Skinner frequentemente foi culpado por sua suposta intenção de se ver livre do
professor, mas ele esclareceu, em muitas ocasiões, que isso não era, de form a alguma,
parte de sua abordagem. Pelo contrário, ele estava especialmente lúcido ao diagnos­
ticar os problemas dos professores nas escolas modernas. Espera-se que eles produ­
zam resultados perfeitos, em número e em qualidade, mas não lhes são fornecidas
as mínim as condições para isso. Eles são mal pagos, têm um trabalho subvalorizado
socialmente e, mesmo supondo que esses fatores não lhes sejam importantes, eles
não dispõem das condições técnicas para o sucesso: têm de lidar com um grande
número de alunos em sala de aula, não recebem recursos adequados para garantir
um bom ensino, recebem pouco apoio para tentar novos métodos e, ainda mais
desencorajador, não lhes é dito exatamente qual tipo de resultado será considerado
bom. Pagar aos professores salários muito mais altos ou contratar muitos outros não
é uma solução: Skinner, de form a bastante realista, estava consciente de que o orça­
mento educacional das nações modernas não pode se expandir indefinidamente. Se
há alguma chance de os professores receberem melhores salários, é demonstrando
melhor produtividade: gostem ou não, a educação tem seus aspectos econômicos
que não podem ser evitados ou ignorados. Até lá, devemos fazer melhor com os
mesmos recursos, essencialmente os utilizando de forma diferente.
Para que os estudantes aprendam mais no mesmo tempo gasto na escola, Skin­

INDEX
ner enfatizou, obstinadamente, regras simples, contrastando-as com as propostas
sofisticadas da psicologia cognitiva, que podem ser reduzidas a afirmações triviais.
Em um artigo intitulado “ The shame o f Am erican education” , inicialmente publi­
cado em 1984, ele criticou fortemente o vazio da proposta educacional cognitiva e,
então, form ulou, mais uma vez, seus próprios princípios simples, abrangidos pelos
quatro pontos seguintes:

BOOKS
1. Seja claro a respeito do que deverá ser ensinado. l 4 9 Significa enfatizar,
mais uma vez, uma pedagogia baseada na definição de objetivos, uma
linha que fora desenvolvida por muitos educadores proeminentes dos
anos 1960, mas que perdeu espaço para o retomo de objetivos frouxa­
mente definidos, na linha da tradição mentalista.
2. Ensine primeiro as coisas básicas... Isso soa muíto trivial, mas algumas
abordagens do ensino, principalmente de ciências e de matemática, ten­

GROUPS
taram, como Skinner comenta, passar rapidamente para o que é con­
siderado o estado mais geral alcançado naquela área. Um exemplo é a
“nova matemática” : nova matemática não foi introduzida depois de uma
demonstração empírica de que as crianças aprendiam melhor matemáti­
ca daquela forma, mas por causa dos argumentos de alguns matemáticos
de que, tendo aprendido os aspectos mais gerais da matemática, os alu­
nos não teriam problemas ao adentrar qualquer ramo especializado. Isso,
entretanto, nunca fora estabelecido. O que está em questão aqui, admi-
tidamente muito difícil, é como decidir quais são essas “coisas básicas”
que devem ser ensinadas primeiro. Novamente, a lógica do objeto de

14 9 G rifos nos pontos de 1 a 4 são reproduções de Skinner (1987b, p. 112 - 114 ).


estudo, como entendida por um expert na área, pode ser completamente
alienada da lógica da aprendizagem individual.
3. Programe a matéria. Isso foi explicado em detalhes anteriormente, com
relação às máquinas de ensino.
4. Pare defazer todos os estudantes avançarem na mesma proporção.

O últim o ponto nos traz de volta à consideração das diferenças individuais. Ele
merece os comentários finais deste capítulo.

D ifer en ç a s in terjnd ivid u ais , diversid ade e atividades criativas

Por causa das conotações errôneas da palavra condicionamento e por causa das ;

INDEX
persistentes interpretações equivocadas do pensamento de Skinner; por causa da con­
fusão entre o termo máquinas de ensino e princípios educacionais mecanicistas, ge­
ralmente não se aceita que Skinner foi um defensor do indivíduo. Contudo, ele o foi,
e com convicção, como abundantemente testemunhado em seus textos ao longo de
muitos anos. Seu respeito pelas diferenças individuais tinha muitas facetas. O foco no
indivíduo fora uma de suas atitudes mais características no laboratório, o separando
da tradição da psicologia experimental americana de seu tempo, que perdurou, de­

BOOKS
pois dele, na maior parte das investigações dentro da escola de psicologia cognitiva,
implementadas, via de regra, em grupos de sujeitos ao invés de em indivíduos. Mui­
tos estudantes que estão sujeitos ao mesmo sistema ao longo de seus anos escolares \
experimentam os mesmos sentimentos negativos de não lhes ser permitido alcançar i
o que seus próprios talentos permitiriam ou de serem deixados para trás porque não j

puderam se manter na média. C om o já dito, o controle negativo foi rejeitado pela éti- j

ca de Skinner, com base em argumentos científicos. A felicidade individual converge \

GROUPS
aqui com o futuro da espécie: a educação, como interessada no futuro da sociedade, 1
deveria ter como objetivo a preservação da diversidade, que é reconhecida como um :
fator essencial para a sobrevivência, no sentido darwiniano.
A importância dada por Skinner às diferenças individuais é bem exemplificada
nas discussões detalhadas em Technology o f teaching anteriormente citado e, entre
muitas outras, na seguinte passagem:

A falha em estabelecer diferenças entre os estudantes é talvez


a maior fonte de ineficiência na educação. Apesar dos expe­
rimentos heroicos em sistemas com múltiplas possibilidades
de trajerória e em escolas sem divisão por séries, ainda é prá­
tica padrão para grandes grupos de estudantes progredir na
mesma velocidade, utilizando o mesmo material e atingin­
do o mesmo padrão para passar de uma série à próxima. A
velocidade é apropriada ao estudante mediano ou medíocre.
Aqueles que poderiam progredir mais rápido perdem o in­
teresse e o tempo: aqueles que deveriam progredir mais len­
tamente ficam para trás e perdem o interesse por uma razão
diferente (...). As consequências infelizes desse sistema foram
agravadas pelo uso dos meios de comunicação de massa. A
televisão alcança um grande número de estudantes, mas o
ganho aparente é mais do que compensado pelo fato de que
todos eles progridem na mesma velocidade. Não são apenas
as diferenças entre os estudantes que estão em questão. Um
estudante pode progredir na mesma velocidade em muitas
áreas, embora consiga ir mais rápido em uma e devesse ir

INDEX
mais devagar em outra. Pouco ou nenhum espaço é deixado
para talentos ou interesses idiossincráticos, apesar do fato dc
que muitos homens distintos mostraram uma singularidade
não muito distante daquela do idiot savant.
Problemas desse tipo são, sem dúvida, enormes, mas podem
ser solucionados. {...)
Ao suplementar as histórias ambientais defeituosas e ao ter

BOOKS
certeza de que contingências instrucionais são completas e
efetivas, uma tecnologia do ensino solucionará muitos dos
problemas criados pelas diferenças entre os estudantes. En­
tretanto, ela não reduzirá todos os estudantes a um único
padrão. Pelo contrário, descobrirá e enfatizará diferença gené­
tica genuína. Se estiver baseada em uma política inteligente,
também planejará contingências ambientais de modo a gerar
a diversidade mais promissora.250

GROUPS
O tema da diversidade na educação, em sua relação com a dinâmica da cultura,
é extensivamente elaborado em outros trechos no mesmo livro:

Uma política planejada para maximizar a força de uma cultura


deve encorajar novidade e diversidade. E verdade que muitas
culturas, como muitas espécies, sobreviveram sem mudanças
apreciáveis por longos períodos de tempo, mas as culturas e as
espécies aumentam a sua força com relação a um espectro mais
amplo de contingências quando sujeitas a variação e seleção
(...) aqueles que encorajam o estudante a investigar, a desco­
brir por si mesmo e a serem originais de outras formas estão
ampliando o suprimento de mutações que contribuem para
a evolução de uma cultura. Embora algumas mutações sejam
inúteis, ou mesmo prejudiciais, a diversidade é essencial. O
mesmo princípio se aplica à política educacional. Uma ampla
gama de objetivos, derivados de uma ampla gama de condi­
ções que determinam o que deve ser ensinado, é particular­
mente uma provável fonte de diversidade entre os estudantes.
A diversidade não é, contudo, um forte aspecto na política
atual. A uniformização parece ser uma consequência mais pro­
vável dos currículos, programas, requisitos e padrões impostos
sobre os sistemas educacionais pelos governos, pais, emprega­

INDEX
dos e outras agências mantenedoras. Nós não nos preocupa­
mos com uniformização, conforme notamos, à medida que sa­
bemos que tais especificações não serão atingidas, mas ensino
ineficaz é apenas uma solução temporária. Como também o
são as fontes não planejadas de diversidade. Diferentes escolas
ensinam coisas diferentes de formas diferentes, os professores
são diferentes e os alunos possuem histórias genéticas e am­

BOOKS
bientais diferentes. A diversidade resultante tem, sem dúvida,
valor de sobrevivência, mas, a íongo prazo, uma diversidade
efetiva deve ser planejada. Não há qualquer virtude no acaso
enquanto tal, nem podemos confiar nele. As vantagens de uma
diversidade planejada foram abundantemente demonstradas
na ciência. Os homens primeiro aprenderam sobre o mundo
através de contatos acidentais, sob condições acidentais e, por­
tanto, apenas dentro do escopo do acaso. Os métodos científi­

GROUPScos estão amplamente interessados no aumento da diversidade


das condições sob as quais as coisas são conhecidas/51

Encorajar a diversidade é a chave para educar estudantes para serem criativos.


Por definição, náo podemos ensinar o próprio com portam ento criativo, porque não
o conhecemos antes de ver sua ocorrência ou seu produto. A solução náo é detec­
tar supostas “personalidades criativas” utilizando testes de criatividade; há pouca
evidência de que a criatividade seja uma característica dos indivíduos que possa ser
inferida de forma válida das respostas a tais instrumentos. Se há quaisquer talentos
individuais que preparam para a criatividade na arte, literatura ou ciência, quanto
mais as pessoas são ensinadas a desempenhar essas atividades, mais chances existem
para tais talentos emergirem. Skinner cita Diderot, um de seus autores favoritos:

As outras coisas sendo iguais, uma cultura terá mais chances


de descobrir um artista original se ela induz muitas pessoas
a pintar quadros, ou de conhecer um grande compositor se
induz muitas pessoas a compor. Grandes jogadores de xadrez
tendem a se originar em culturas que encorajam o jogo de xa­
drez, como grandes matemáticos vêm de culturas que encora­
jam a matemática. As contingências de reforçamento positivo
e negativo que encoraj am atividade em uma determinada área
sem dúvida permitem muito comportamento medíocre, mas
a mediocridade, como disse Diderot, é valiosa apenas porque

INDEX
dá uma chance para que o gênio se descubra.151

Em contraste com a pedagogia da criatividade que prevaleceu nos anos 1960


e 1970, de acordo com a qual a criatividade não é algo que possa ser ensinado,
mas apenas liberado,153 Skinner enfatizou a necessidade de dom ínio técnico em uma
dada área antes que o com portam ento criativo possa emergir. Ele criticou a crença
ingênua de que brincadeiras livres com tintas, com argila ou outro material, com

BOOKS
notas, etc. eventualmente dariam origem a grandes pintores, escultores ou músicos.
Ele via a criação artística e musical com o m uito semelhante à transmissão das habi­
lidades artesanais, um dom ínio em que as leis da aprendizagem foram por séculos
muito habilidosa e eficientemente aplicadas pela intuição. Ele afirmou sua visão
mais uma vez em um de seus últimos textos sobre educação:

A origem de milhões de espécies devia ser encontrada não em


um ato de criação, mas na seleção de variações de outro modo

GROUPS
náo relacionadas. Indivíduos verdadeiramente criativos, se é
que algum existe, se comportam de formas que são seleciona­
das pelo reforçamento, mas as variações devem ocorrer para
serem selecionadas. Algumas variações podem ser acidentais,
mas os estudantes podem aprender a aumentar a quantidade
delas, e, nesse sentido, a serem mais criativos. Como todas as

252 ld. ibid., p. 182-183; a referência a D iderot é de Le neveu de ramcau.


253 Essa ideia foi implicitamente a base para várias práticas na educação artística e musical, bem com o foi explicitamente
proposta pelos especialistas mais famosos em educação; um caso importante é o influente pensador educacional francês Bertrand
Schwartz (1973).
pessoas criativas do passado, entretanto, eles primeiro devem
aprender algo com que possam ser criativos.154

Isso está longe do conceito de estudante robotizado que Skinner teria prom o­
vido.

INDEX
BOOKS
GROUPS

254 Em “ Program med instruction revisited” , reimpresso em Recent issues ( S k in n e r , 1989b, p. 97-103). Para outros detalhes a
respeito da visáo de Skinner sobre a educação, e mais especificamente sobre a questão da diversidade, ver Richelle (1979, 1986b).
14
SOCIEDADE E UTOPIA

U ma AVENTURA PELA FILOSOFIA SOCIAL

Voltar-nos-emos agora para o que foi chamado de ideologia de Skinner. Ela é,


com razão, o aspecto da obra de Skinner no qual o leitor leigo está mais interessado,

INDEX
mas a essência da ideologia de Skinner pode ser difícil de alcançar, se deixada sozinha
à avaliação e à crítica, sem um conhecimento prévio claro dos conceitos metodológi­
cos e teóricos dos quais é derivada, ou dos quais se afirma ser derivada. Por essa ra­
zão, eu devotei grande parte dos capítulos anteriores para a discussão da consciência,
do com portam ento verbal, da criatividade, da educação, da psicoterapia, etc. - isso,
espero, será suficiente para descartar o argumento clássico contra a filosofia social
de Skinner, i.e., que o homem não é um rato nem um pombo. Porém, uma série de

BOOKS
questões ainda são feitas em relação aos textos sociopolíticos de Skinner.
Eles derivam de dados e conceitos científicos de form a tão lógica quanto o
autor reivindica? Eles não são, pelo contrário, extrapolações vagas e perigosas, ou,
menos visivelmente, um produto da infiltração de uma ideologia sem nenhuma
relação com qualquer evidência científica? Recorreu-se à ciência com o uma máscara
para a ideologia?
N um outro nível, menos fundamental, pode-se questionar: Skinner não está

GROUPS
simplesmente ignorando várias dimensões essenciais da realidade social, de modo
que qualquer tentativa de m udar a sociedade de acordo com suas visões seria com ­
pletamente inútil e fadada ao fracasso? Esse é outro modo de perguntar se a passagem
da análise experimental do com portam ento hum ano para a ação política é possível.
Se quisermos responder a essas questões, devemos primeiro olhar de perto
aqueles textos de Skinner que refletem sua visão sobre essas questões. Q uaisquer
que sejam as respostas dadas dali em diante, teremos que adm itir que os “textos
ideológicos” de um cientista merecem atenção. Q uando um hom em da ciência ex­
pressa desse modo as preocupações com o mundo ao seu redor, não deveríamos ficar
indiferentes. Os cientistas são frequentemente acusados de se isolar em uma torre
de marfim; quando um deles se esforça para sair, isso pode merecer atenção. Em
1930, Freud escreveu um pequeno livro intitulado O mal-estar na civilização. Sem
dúvida, Freud tinha a convicção de que suas ideias, com o expressas no livro, estavam
intim amente relacionadas à sua experiência clínica e à sua teoria psicanalítica. Se cal
convicção tinha fundam ento ou não, se a relação era tão óbvia para o leitor quanoo
o era para ele, podem não ser questões cruciais se comparadas com a mensagem do
livro em si. Ele merece leitura e reflexão cuidadosas. O mesmo se sustenta em relação
a Beyond freedom and dignity,í55 de Skinner: mesmo se os argumentos e propostas
expostos no livro têm pouco fundamento na análise científica, lá estão eles, e são
provocadores o bastante para não deixar ninguém indiferente.
Eles obviamente abalaram várias personalidades importantes, como exemplifi­
cado pelas citações selecionadas reproduzidas no início do capítulo i, às quais muitas
outras devem ser acrescentadas. A s reações em geral eram fortemente negativas. Eram
condenações indiscriminadas, e convidavam futuros leitores a aderirem ao mesmo
e forte argumento e, dessa form a, protegerem a si mesmos da infecção por uma
praga tão perigosa. Críticos e comentadores disputavam para dissuadir as pessoas de

INDEX
1er o Beyondfreedom and dignity, com o C hom sky havia conseguido anteriormente
em relação ao Verbal behavior. M ais do que isso, a suspeita foi por fim transferida
para o uso dos métodos operantes na pesquisa de laboratório. Por exemplo, um
revisor da revista mensal de prestígio Le Monde de l'Education, publicada em Paris,
dedicou um artigo longo e essencialmente elogioso a um estudo sobre desenvolvi­
mento cognitivo no qual questões levantadas pela teoria de Piaget eram abordadas
por meio de métodos derivados dos procedimentos do laboratório operante. A o

BOOKS
final da sua revisão, achou necessário insistir: “ Q ualquer psicólogo ou educador
interessado em desenvolvimento cognitivo deveria 1er esse estudo ( ...) mesmo que,
por razóes éticas ou políticas, não possa deixar de ter algumas suspeitas em relação aos
princípios skinnerianos\^é Ela sem dúvida tinha em mente aqueles princípios sobre
os quais as visões sociais de Skinner estão baseadas, não os princípios subjacentes aos
procedimentos experimentais científicos aplicados pelos autores - que dificilmente
poderiam provocar qualquer suspeita de natureza ética ou política. Vejamos quais
são esses princípios perturbadores.

GROUPS
Duas principais obras, conform e já mencionamos, estão disponíveis para nos
ajudar a construir nosso próprio julgamento. A primeira, Beyond freedom and dig­
nity, é um ensaio. Foi publicada em 1971, traduzida rapidamente para várias línguas
e amplamente divulgada. E uma discussão crítica de uma série de noções que têm
papel central no nosso sistema social. Skinner desenvolve uma visão dos seres hum a­
nos e dos agentes causais que determinam a conduta humana que abala muitos dos
princípios aceitos e que fundamentam a sociedade moderna. Ele também denuncia
algumas ilusões em que a vida social e política estão atualmente baseadas. Nenhum

*55 Skinner (1971a).


256 A rtigo assinado por Evelyne Laurent (1976) sobre o livro de Botson Sc D eliège (1975). G rifos são meus. Para um exem plo da
abordagem e do material apresentados nesse livro publicado apenas em francês, ver Richelle (1977a).
plano de ação prática é oferecido; o livro não é, de forma alguma, uma plataforma
política. Também não se trata de um manifesto revolucionário, nem de uma pro­
clamação reformista. O leitor bem-disposto que não está familiarizado com a obra
de Skinner provavelmente questionará: “ O que podemos fazer com isso no mundo
real? Q ue tipo de sociedade Skinner construiria de fato se lhe fosse dada uma chance
de modelar a hum anidade com o modelou ratos e pombos no laboratório?” . Aqueles
que depreciam as ideias do autor reivindicam que têm a resposta e que ela é apavo­
rante: o mundo de Skinner seria semelhante a um vasto campo de concentração ou
a alguma form a ainda não vista de totalitarismo. A um prospecto tão horrível, eles
opóem a felicidade inegável (para eles) de nossa sociedade, ou, com o uma alternati­
va, seu próprio sonho utópico, que geralmente náo se preocupam em qualificar em
termos práticos. Assim , Chom sky prevê que

INDEX
numa sociedade decente, trabalho socialmente necessário e
desprazeroso seria dividido igualmente e, além disso, as pes­
soas teriam, como um direito inalienável, a oportunidade
mais ampla possível para trabalhar naquilo que as interessa.
Elas podem ser “reforçadas” por autorrespeito se elas fize­
rem seu trabalho da melhor forma possível em relação à sua
habilidade, ou se seu trabalho beneficia aqueles aos quais se

BOOKS
relacionam por vínculos de amizade, simpatia e solidariedade.
Tais noções são comumente objeto de zombaria - como era
comum, num período anterior, ridicularizar a ideia absurda
de que um camponês tem os mesmos direitos inalienáveis que
um nobre. Sempre houve, e sem dúvida sempre haverá, pes­
soas que náo podem conceber a possibilidade de que as coisas
poderiam ser diferentes daquilo que elas são.257

GROUPS
M as Skinner também, muito antes de Chom sky, form ulou seu sonho. E ele foi
longe o suficiente para nos mostrar com o aquele sonho poderia ser posto em prática,
não escrevendo um programa político, mas com pondo um romance utópico. O
gênero é admitidamente menos prático, embora possa ser de maior significância.

W a ld en T wo

O título desse romance utópico se refere ao nome de um lago - Walden -


perto de C oncord, Massachusetts, onde o escritor americano do século X IX H enry
D avid Thoreau se retirou por um ano para experimentar a vida solitária, algo entn
Robinson Crusoé e um ecologista moderno. Sem discorrer sobre a afiliação literária
entre Thoreau e Skinner, é necessário notar que Thoreau é também o autor de uma
pequena peça em prosa intitulada On civil disobedience, em que argumenta co n tn
o direito do estado de aumentar taxas excessivamente (não é necessário dizer que o
que era excessivo para ele pareceria muito tolerável para nós).
Walden Two foi escrito quase um quarto de século antes de Beyondfreedom and
digníty. Q uando foi inicialmente publicado em 1948, fez um sucesso moderado.
Levou alguns anos até se cornar um best-seller, mas, desde então, vendeu mais dc
um milháo de cópias em inglês e foi traduzido para muitas línguas. O francês, lín­
gua mãe do presente autor, infelizmente não está entre elas; por algumas razóes, as
editoras estavam relutantes, sendo o argumento oficialmente colocado de que náo
se trata de uma obra-prim a literária. D ificilm ente isso pode ser considerado uma

INDEX
boa razão, pois a excelência literária certamente não é um critério para decidir quais
livros deveriam ser traduzidos, mas estou pronto a admitir que Walden Two não é
a melhor obra de Skinner em relação ao estilo. D aria preferência, sem hesitação, a
alguns capítulos de seus textos estritamente científicos. Mas essa não é a questão. O
que é de interesse aqui é o planejamento utópico de Skinner de uma sociedade ideal,
o tipo de sociedade que ele teria proposto, ou imposto, se lhe fosse concedida total
autoridade. Seria ela próxima a um campo de concentração ou à sociedade decente

BOOKS
almejada por Chomsky?
O enredo que fornece o pano de fundo para a descrição das regras sociais em
Walden Two náo tem muita im portância e precisa apenas ser esboçado aqui: ele
prepara o terreno para um tour guiado. Os visitantes: dois jovens homens com suas
namoradas; Burris, um professor de psicologia que deixou suas obrigações acadêmi­
cas para acompanhá-los; um colega de Burris chamado Castle, historiador e cético.
O guia: Frazier, fundador da com unidade. O lugar: um grande vilarejo, chamado
W alden Two, onde 2.000 pessoas de todas as idades vivem juntas de acordo com os

GROUPS
princípios desenvolvidos por Frazier. A época: a visita ocorre ao final da Segunda
Guerra. O s dois jovens acabaram de ser dispensados do exército. Estão há pouco
tempo de volta da Europa em uma sociedade americana com a forte esperança da­
queles que estiveram lutando — esperança de que encontrarão na paz a justificação
dos pesados sacrifícios dos tempos de guerra. Pouco após seu retorno, a fé no futuro
deu lugar a uma amarga frustração: a sociedade americana do pós-guerra está uma
bagunça. Esse é o estado de coisas que os induz a ter contato novamente com o
antigo professor Burris e de pedir sua ajuda para localizar a comunidade de Frazier.
E claro que o seu descontentamento é 0 de Skinner: nessa época, ele já estava insa­
tisfeito com as ilusões de liberdade e de justiça social que eram oferecidas ao povo
americano com o frutos a vitória. Se Skinner, em 1945, escreveu uma utopia ao invés
de um programa de ação política, é porque, em sua visáo, as abordagens clássicas
da política condenavam ao fracasso qualquer tentativa de mudar realmente as coisas
num sentido positivo:

Você não pode progredir em direção à B o a V id a através da


ação política! N e m sob qualqu er form a atual de governo! ( ...)
O que você precisa é de um tipo de C o m itê de A ção N ão
Política: m anter distância da política e do governo exceto para
propósitos práticos e tem porários. N ão é lugar para hom ens
de boa vontade e visão.
C o m o uso atual do term o, governo significa poder — prin ­
cipalm ente o poder de forçar a obediência. A s práticas de
governo sáo as que eram de se esperar — eles usam a força e
a am eaça de força. M as isso é in com patível com a felicidade

INDEX
perm anente - conhecem os o bastante da natureza hum ana
para ter certeza disso. N ão se pode forçar alguém a ser feliz.
[Isso foi Frazier falando.]
M as certam ente houve m uitos hom ens felizes sob governos de
um o u outro tipo. [Essa é a objeção de Burris.]
N ão por cama do governo - apesar dele. A lgum as filosofias
de vida fizeram os hom ens felizes, sim , porqu e estabeleceram

BOOKS
prin cípios que eu quero considerar seriam ente com o prin ­
cípios de governo. M as essas filosofias surgiram de rebeldes.
G overn os que utilizam a força se baseiam em princípios ruins
de engenharia hum ana. N e m estão aptos a m elhorar com base
em tais princípios, o u descobrir suas inadequações, porque
não estáo aptos a acu m ular qualqu er corpo de con hecim en­
to próxim o à ciência. T u d o o que pode ser feito com o “ m e­

GROUPS
lhoria” é tirar o poder de um grupo e transferir para outro.
N u n ca é possível planejar ou im plem entar experim entos para
investigar o m elhor uso do poder ou com o dispensá-lo. Isso
seria fatal. O s governos devem sem pre estar certos - eles não
podem experim entar porque não podem adm itir dúvidas ou
question am en tos/58

Isso tem um sabor de anarquia, não? —com o o próprio Castle observou depois
de algum tempo de conversa.
M as vamos deixar a ideologia por enquanto e seguir nossos visitantes em seu
passeio por Walden Two.
T r a b a lh o : 2 4 h o r a s p o r sem ana e uma e s c a la f le x í v e l

Walden Two é uma com unidade agrícola. Sobrevive com uma economia semi*
fechada. E necessário encontrar, entre seus próprios membros, a força de trabalho
para levar a cabo a variedade de tarefas que devem ser feitas em qualquer grupo
social. Todos os membros da com unidade que estão fisicamente aptos são convoca­
dos a trabalhar poucas horas por dia pela com unidade. Três ou quatro horas serão
suficientes, como se esclarecerá. Eles recebem em troca todos os bens e benefícicn
conseguidos com a organização social na qual vivem: moradia, comida, vestuário,
educação, cuidados médicos, acesso livre a todos os tipos de atividades livres dc
lazer; em resumo, eles desfrutam de um estilo de vida que se compara ao padrão
dos cidadãos americanos, embora muito diferente em vários aspectos e muito mais
gratificante. C om o isso pode acontecer, se o tempo total de trabalho, no sentido

INDEX
usual da palavra, é reduzido para aproximadamente quarenta por cento?
D e fato, essas quatro horas diárias por pessoa se tornam muito mais produtivas
na escala da população como um todo do que as oito horas exigidas em nossa socie­
dade. Primeiramente, com o se sabe, a produtividade é mais alta no início do dia de
trabalho; as tarefas são desempenhadas com mais rapidez quando não há obrigação
de se manter trabalhando além de um certo lim ite de tempo com o objetivo de se
adequar a uma escala preestabelecida. Em segundo lugar, as pessoas que trabalham

BOOKS
para si mesmas, ao invés de para outra pessoa ou com panhia, trabalham melhor e
são mais velozes. Isso é o que ocorre em Walden Two: a propriedade privada não
existe na com unidade e não há espaço para se explorar o trabalho do outro. Terceiro,
se todos os indivíduos trabalham em média quatro horas por dia, o m ontante total
de tempo utilizado para o trabalho na população total excede metade do tempo
total dedicado ao trabalho num a população equivalente trabalhando oito horas por
dia em nossa sociedade. A razão para isso é m uito simples: todos trabalham em
Walden Two. N ão há classe privilegiada; não há aposentadoria prematura; não há

GROUPS
alcoolistas, nem delinquentes, muito poucos doentes; por últim o, mas não me­
nos importante, não há desemprego, subproduto de um planejam ento defeituoso.
“ N inguém é pago para ficar à toa a fim de manter padrões de trabalho. Nossas
crianças começam a trabalhar cedo - moderadamente, mas felizes” .159
O utro ganho no tempo de trabalho é obtido pela racionalização das tarefas,
recorrendo a habilidades e competências apropriadas e m elhorando permanente­
mente as capacidades e as habilidades de todos. W alden Two também dispensa
vários empregos que simplesmente não têm lugar, pois não há necessidade para
eles: não há bancos, nem empresas de propaganda, nem com panhias de seguro -
seguro não é necessário porque a com unidade protege seus membros contra todos
os riscos graves, tais com o doenças, debilidades, a velhice, e assim por diante. Ela
também dispensa os excessos de facilidades de todos os tipos, restaurantes, lojas,
bares, teatros, transporte, atualmente encontradas nas cidades modernas.
Por fim — e este não é o últim o mérito de Walden Tw o - as mulheres têm
uma condição completamente diferente se comparada com a sociedade mais ampla
(lembre-se, estamos em meados dos anos 1940). O trabalho doméstico tradicional
foi drasticamente m odificado, racionalizado e automatizado, de m odo que mais
da metade do tempo das mulheres é livre para outras atividades mais gratificantes.
Esse é apenas um aspecto da vida fem inina em Walden Two. Retomaremos outros
aspectos mais à frente.
Walden Two é caracterizada por obrigações de trabalho moderadas e por um
padráo de vida viável. Para essas duas características andarem juntas, uma terceira é
necessária, uma drástica elim inação do desperdício. A consciência de e a luta contra

INDEX
os hábitos de desperdício de nossa sociedade de consumo - que desde então se tor­
naram as premissas dos movimentos ecológicos - eram centrais para a mensagem de
Skinner desde 1945. O s habitantes de Walden Two

( ...) praticam o prin cípio de Thoreau de evitar possessões


desnecessárias. T horeau apontou que um trabalhador m édio
de C o n co rd trabalhava dez o u quinze anos de sua vida apenas

BOOKS
p aia ter um teto sobre sua cabeça. N ó s poderíam os dizer, com
segurança, dez sem anas. A com ida [destes] é farta e saudável,
m as não cara. H á pouca o u n enhu m a inutilização ou desper­
dício na distribuição o u no arm azenam ento e nenhu m devido
a cálculos equivocados das necessidades. O m esm o é verdade
para outros produtos. [Eles] náo sentem a pressão de p ro m o­
ções que estim ulam con sum o desnecessário.160

GROUPS
Bons programas de rádio são realizados e transmitidos livremente para todos os
membros, mesmo após terem sido limpos dos anúncios comerciais!
A redução do tempo de trabalho não é a única inovação da organização laborai
de Walden Two. A lém dessa diferença qualitativa, o trabalho é também qualitativa­
mente melhor, por causa de duas outras características: a cada membro é oferecida
uma ampla variedade de tarefas e uma form a engenhosa de escala flexível é praticada.
O s membros não são escalados para trabalhar um número definido de horas,
mas para cum prir um número definido de créditos. C ada tarefa a ser desempenhada
recebe um determinado valor de crédito, que é função, entre outras coisas, de quão
atrativa ela é e, consequentemente, da frequência com que é escolhida. Um a tarefa
que é geralmente considerada desagradável, tal com o lim par o chão ou lavar a louça,
tem maior valor de crédito do que uma tarefa agradável e, portanto, muito concor­
rida, como a manutenção das flores do jardim . Aqueles que querem preencher suas
obrigações rapidamente e desfrutar mais tempo de lazer podem escolher trabalhar
não mais que duas horas em uma tarefa com alto valor de crédito. Esse valor, é
claro, não é fixado de form a definitiva, mas é ajustado de acordo com as escolhas
feitas com base na oferta/procura. As tarefas são, com poucas exceções, oferecidas a
todos e são intercambiáveis, o que não significa que as pessoas espontaneamente não
desenvolverão muita habilidade no campo de sua escolha e tenderão a desenvolver
tarefas apropriadas à sua competência.
Sempre que possível, o trabalho pode ser feito a qualquer hora do dia. O con­
ceito “das 9 às 17 horas” é desconhecido em Walden Two. Isso proporciona outro
modo de evitar a m onotonia. Todos são livres para adequar sua tarefa a escalas mais

INDEX
flexíveis. O trabalho, bem com o as refeições e as atividades de lazer, ocorre ao longo
de todo o dia. Rom per as escalas desse modo traz duas importantes consequências.
As facilidades comuns são completamente exploradas: não há necessidade de se cons­
truírem amplas salas de jantar, ou um grande número de banheiros ou de quadras de
tênis, de modo que todos os usuários possam ser acomodados simultaneamente nas
horas de pico. Pequenas salas de jantar, um número limitado de banheiros, quadras
de tênis, etc. serão suficientes. H á ainda outra vantagem com isso: ao contrário do

BOOKS
que acontece quando os restaurantes coletivos esperam servir 2 mil refeições entre
12 e 14 horas, ou quando os cinemas ficam abertos apenas das 19 às 23 horas, as pes­
soas não form am multidões em Walden Two. M ultidões são caras, ocasionalmente
perigosas, e, mais importante, não são propícias às mais valiosas formas de relações
sociais (Skinner era, vamos relembrar, um individualista).
H á ainda outra regra na organização do trabalho que precisa ser observada.
C ada membro deve cum prir parte de seus créditos na form a de trabalho físico,

GROUPS
quaisquer que sejam suas inclinações e competências específicas. Essa regra garante
um equilíbrio, no nível individual e com unitário, entre os dois aspectos da produ­
tividade. Também evita o risco de ter uma casta de “trabalhadores intelectuais” que
decidem com o organizar os trabalhos dos “trabalhadores braçais” sem conhecerem
de perto esses trabalhos.
Todas essas regulamentações resultam em redução, alívio e simplificação do tra­
balho exigido para a sobrevivência da com unidade; a intenção delas não é suprimir
o trabalho. A filosofia geral subjacente ao sistema é claramente resumida na seguinte
declaração de Frazier:

N áo há nada de errado com o trabalho pesado e não estamos


interessados em evitá-lo. A penas evitam os trabalho não cria­
tivo e desinteressante. Se pudéssem os satisfazer nossas neces­
sidades sem precisar trabalhar pesado, o faríamos, mas isso
nunca foi possível, a não ser por meio de alguma forma de
escravidão e não vejo como isso pode ser feito se todos temos
que trabalhar e dividir da mesma forma. O que questionamos
é que o trabalho de um homem não pode exigir demais de sua
força ou ameaçar sua felicidade. Nossas energias podem então
se voltar para a arte, a ciência, os jogos, o exercício das habili­
dades, a satisfação das curiosidades, a conquista da natureza, a
conquista do homem - do próprio homem, nunca do outro.
Criamos lazer sem escravidão (...).iÉI

P o d e ría m o s e star m a is p e rto d a so c ie d a d e d e ce n te a lm e ja d a p o r C h o m s k y ? Isso


se to rn a rá a in d a m ais c o n v in c e n te q u a n d o o b se rv a rm o s as fo rm a s c o m o as pessoas

INDEX
g a sta m seu te m p o d e lazer em W a ld e n T w o .

A r te e c iên cia em W ald en T wo

W a ld e n T w o p ro p o rc io n a a seus m e m b ro s as m e lh o re s fa c ilid a d e s p a ra p ra tic a r


e d e s fru ta r as artes. O s p ré d io s são d e c o ra d o s c o m q u a d ro s e d e se n h o s d e artistas lo ­

BOOKS
cais, q u e p o d e m m u ito b e m ser c o m p a ra d o s a o b ras e x ib id a s em g alerias de arte c o m
b o a re p u ta ç ã o . F itas e in s tru m e n to s fic a m d isp o n ív e is p a ra os m ú sic o s a m a d o re s e,
d e q u a rte to s d e co rd as a o rq u e stra s s in fô n ic a s o u c o ra is, h á u m a v a rie d a d e d e g ru p o s
m u sic a is de alta q u a lid a d e . E s s a p ro life ra ç ã o d e a tiv id a d e s c riativas é s u b p ro d u to d e
c o n d iç õ e s fa v o rá v e is à su a e m e rg ê n c ia : te m p o d e lazer a m p lia d o , c o m p e tiç ã o sem
r iv a lid a d e , d is p o n ib ilid a d e d e fa c ilid a d e s té cn icas e , s o b re tu d o , u m c o n te x to so cia l
n o q u a l artistas e m ú s ic o s e n c o n tra m p ú b lic o . E ssas c o n d iç õ e s são de fa to m u ito

GROUPS
m a is e fe tivas d o q u e h o n ra ria s o c a sio n a is e p rê m io s o fe re c id o s a p o u c o s in d iv íd u o s
c ria tiv o s em u m a so c ie d a d e c o m p e titiv a .

Prêmios apenas atingem a superfície. Não é possível incenti­


var arte apenas com dinheiro. O que você precisa é de uma
cultura. Você precisa de uma oportunidade real para jovens
artistas. A carreira precisa ser economicamente atraente e so­
cialmente aceitável e prêmios não farão isso. E você precisa de
apreciação —deve haver audiências, não para pagar as contas,
mas para o próprio prazer, Considerando tudo isso, realmente
sabemos muito sobre o que é necessário. Devemos chegar ao
artista antes de ele provar seu m érito. U m a cultura m uito pro­
dutiva deve estim ular um grande núm ero de jovens e novatos»
A filantropia não é capaz disso. E la pode produzir poucas
grandes obras de arte, m as é apenas um com eço.261

A lé m d a arte e d a m ú s ic a e, é c la ro , d o s e sp o rte s e d o s jo g o s , o s m e m b ro s de
W a ld e n T w o d isp õ e m d e u m a o u tra a tiv id a d e d e lazer: a p e sq u isa cie n tífic a . S e vá­
rio s tip o s d e p e s q u is a te c n o ló g ic a - e sse n c ia lm e n te p e s q u is a a p lic a d a p a ra m e lh o ra r
as p rá tic a s a g ríc o la s, a e d u c a ç ã o , a saú d e, a tra n sfo rm a ç ã o in d u s tria l d e a lg u m a s
m a té ria s-p rim a s - e stão listad as en tre as a tiv id a d e s n ecessárias e, e n q u a n to tais, fo r­
n e c e m c ré d ito s d e tra b a lh o , a p e sq u isa b ásica é c o n sid e ra d a a tiv id a d e de te m p o
d e lazer. E s s a n ã o é, d e m o d o a lg u m , u m m e io d e n e g lig e n c iá -la . C o m o nas artes,
c o n d iç õ e s a d e q u a d a s p re v a le c e m : as p essoas têm m u it o te m p o e su as m en tes estão

INDEX
n o ta v e lm e n te liv re s; c o m o re su lta d o , a c ria tiv id a d e c ie n tífic a é m u ito m a io r d o q u e
em m u ito s lu g are s o n d e a p e sq u isa b ásica está o rg a n iz a d a d e fo r m a p ro fissio n a l.
P o d e -se q u e s tio n a r se as in s titu iç õ e s re a lm e n te e x iste m e m n o ssa so c ie d a d e , o n d e a
p e sq u isa p u r a é im p le m e n ta d a se m q u e os c ie n tista s te n h a m q u e p a g a r p o r seu d i­
re ito de p e s q u is a r liv re m e n te n a m e d id a em q u e a c e ita m ta m b é m tarefas u tilitá ria s.
N a é p o c a em q u e W a ld e n T w o fo i e scrito , esse tip o d e q u e stã o p o d e ria te r p a re c id o
m u ito c rític a e m relação à o rg a n iz a ç ã o d a c iê n c ia n o s E s ta d o s U n id o s. E r a u m a

BOOKS
p re m o n iç ã o d o r u m o q u e d esd e e n tã o to m a ria m as p o lític a s p a ra a c iê n c ia em to d o s
os p aíse s o c id e n ta is c o n te m p o râ n e o s .
E x is te , à p rim e ir a v ista , a lg o d e su rp re e n d e n te n o fa to d e q u e a c r ia tiv id a d e
in d iv id u a l é e n c o ra ja d a , n ã o p o r m e ra e x o rta ç ã o , m a s a rr a n ja n d o u m a m b ie n te a l­
ta m e n te fa v o rá v e l e m u m a c o m u n id a d e p la n e ja d a p o r u m b e h a v io ris ta c o m b ase
n as leis d o c o n d ic io n a m e n to . S e as c o n o ta ç õ e s u su ais d a p a la v ra e stiv e re m c o rre tas,
p o d e -s e e sp e ra r u m c o n ju n to d e seres id ê n tic o s , to d o s se c o m p o r ta n d o e x a ta m e n te
d a m e s m a fo r m a to ta lm e n te p re v isív e l, cu ja s vid a s se d e se n ro la ria m p o r u m c a m i­

GROUPS
n h o e strita m e n te p ré -p r o g ra m a d o , c o m o fig u ra d o e m a lg u m a fic ç ã o fu tu rista . Mas,
ao c o n trá r io , a ên fase está n a d iv e rs id a d e , n a to le râ n c ia às id io ssin c ra sia s, n a re c e p ti­
v id a d e à m u d a n ç a . N ã o d e v e m o s e sq u e ce r q u e W a ld e n T w o n ã o é a im p le m e n ta ç ã o
d e a lg u m a te o ria de g o v e rn o im p o s ta so b re s u je ito s m a is o u m e n o s b en e v o le n te s,
m a s u m e x p e rim e n to d e p la n e ja m e n to c u ltu ra l n o q u a l a sa tisfa ç ã o d o in d iv íd u o é
o fu n d a m e n to d o e q u ilíb rio so c ia l, e a d iv e rs id a d e é v is ta c o m o a m e lh o r g a ra n tia
d e v ita lid a d e .
E s s a d iv e rs id a d e in e sp e ra d a im p re ss io n a o v is ita n te d e W a ld e n T w o c o m relação
ao v e s tu á rio fe m in in o . A o in vé s d e se a d a p ta r às m o d a s d a estação , q u e m u d a q u a tro
vezes p o r a n o , m a s q u e to r n a as m u lh e re s to d a s se m e lh a n te s, as m u lh e re s se v e ste m
da forma com o se sentem melhor. N ão há uma compulsão sem fim para modificar
os guarda-roupas apenas para estar na moda. N ão é necessário dizer que a vantagem
financeira é importante. Porém, mais importante, isso não impede que as mulheres
cuidem de seu charme e de sua beleza: com o elas não estão limitadas à moda que
muito frequentemente não lhes cai bem, evitam o ridículo que é geralmente o resul­
tado de seguir a m oda a qualquer custo; elas podem se dedicar a características mais
pessoais de suas personalidades. Por conseguinte, a pequena comunidade de Walden
Two oferece o espetáculo mais prazeroso de uma sociedade cosmopolita, na qual a
variedade de vestuário é tolerada e admirada:

Aqui não estamos tanto à mercê de planejadores comerciais


e muitas de nossas mulheres conseguem ficar muito bonitas
simplesmente porque não se lhes exige que fiquem dentro

INDEX
de limites estreitos (...). Seguir a moda não é um processo
natural, mas uma mudança manipulada que destrói a beleza
do vestido do último ano de modo a torná-lo desnecessário.
Opomo-nos a isso ao ampliar nossos gostos. Mas a mudança
necessária ainda não aconteceu em você. Um dia você enten­
derá o que estou dizendo. Alguns detalhes que agora parecem
fora de moda e que, apesar do que você diz, devem prejudicar

BOOKS
sua apreciação, tenderão a parecer naturais e agradáveis. Você
descobrirá que uma linha ou característica nunca é datada em
si mesma, da mesma forma como você acaba por considerar
belo um vestido de outro país que inicialmente havia conside­
rado brega ou feio.2é3

GROUPS
E d u cação versu s seleção

As crianças em Walden Two demonstram felicidade, atividade e curiosidade.


Não há necessidade de lhes im por o conteúdo de um currículo escolar. E suficiente
ensinar-lhes técnicas de aprendizagem e pensamento e, além disso, fornecer a elas
oportunidades de aprender e com aconselhamentos ocasionais, quando solicitado
por elas. São necessários menos professores, mas a educação é melhor.
N ão há um currículo definido, com passos preestabelecidos; não há turmas
por idade, nenhum tipo de escola compartimentalizada. C ad a criança tem a opor­
tunidade de se desenvolver em seu próprio ritm o, de cultivar suas aptidões e inte­
resses. Encontrará na com unidade a ajuda necessária. A educação é parte da vida
de cada um. Os membros de W alden Two nunca param de aprender, com o nunca
se recusam a ensinar seus colegas. A qui a educação é permanente por toda a vida,
m uito antes de a ideia —a prática é outra história —tornar-se popular com o o é hoje.
Grande parte do que uma criança ou adolescente acaba por aprender é adquiri­
do ao longo de suas atividades da vida real. Oficinas, laboratórios, salas de estudo, li­
vrarias com espaço para leitura, ao invés de salas de aula, estão disponíveis. As portas
e janelas dessas construções são abertas, de modo que as crianças possam entrar e sair
livremente, sem tensão, de uma form a autodisciplinada. Elas vivem em grupos, cada
um a delas sendo estimulada por crianças mais velhas. Elas tomam conta de seus pró­
prios quartos. Essa autonomia é introduzida progressivamente: depois da completa
dependência da amamentação, o controle educacional é esvanecido gradualmente
até os 13 anos, ou então, quando o adolescente está praticamente integrado à vida
adulta, com responsabilidades de adulto.

INDEX
A punição está banida da educação e do treinamento moral. Um a criança nun­
ca experimenta situações desprazerosas ou adversidades com o resultado de uma in­
tervenção deliberada de um professor ou de alguma outra autoridade adulta. C om o
a adversidade é, de qualquer modo, um fato da vida, as crianças precisam estar
preparadas para ela, mas com recurso a métodos que progressivamente as permitam
lidar com isso.

BOOKS
Na maioria das culturas, as crianças se deparam com abor­
recimentos e infortúnios de magnitude sem controle (...).
Todos sabemos o que acontece. Poucas crianças conseguem
sair disso, particularmente aquelas que tiveram a infelicidade
em doses que poderiam ser digeridas. Elas se tornam bravos
homens. Outros se tornam sádicos ou masoquistas com graus
variados de patologia. Não tendo conquistado um ambiente
que provoca dor, se tornam preocupadas com a dor e fazem

GROUPS uma arte indireta disso. Outros se submetem - e esperam her­


dar a terra. As práticas tradicionais são admitidamente me­
lhores do que nada (...). Espartanos ou puritanos - ninguém
pode questionar o feliz resultado final. Mas o sistema total
permanece apoiado no princípio não econômico da seleção.
A escola pública inglesa do século X IX produziu bravos ho­
mens — ao estabelecer barreiras quase insustentáveis e fazer
o máximo dos poucos que conseguiram superá-las. Mas se­
leção não é educação. Seu cultivo de homens bravos sempre
será pequeno e o gasto, enorme. Como todos os princípios
primitivos, a seleção substitui a educação apenas através de
um uso esbanjador do material. Multiplique excessivamente e
selecione com rigor (...). Em Walden Two temos um objetivo
diferente. Fazemos de cada homem um bravo homem. Todos
eles superam as barreiras. Alguns exigem mais preparação que
outros, mas todos eles superam. O uso tradicional da adversi­
dade é selecionar o forte. Nós controlamos a adversidade para
construir a força.164

Prefere-se a cooperação à competição, e essa escolha é crucial para os métodos


educacionais.

Nós cuidadosamente evitamos qualquer alegria em um triun­


fo pessoal que signifique a falha pessoal de alguma outra pes­
soa. Não temos prazer no sofisma, na disputa, na dialética.

INDEX
Não usamos o motivo da dominação, porque estamos sempre
pensando no grupo como um todo. Triunfo sobre a natureza e
sobre si mesmo, sim. Mas, sobre os outros, jamais.165

Opomo-nos à competição pessoal. Não encorajamos jogos


competitivos, por exemplo, com a exceção de tênis ou xadrez,
onde o exercício da habilidade é tão importante quanto o re­

BOOKS
sultado do jogo: e, mesmo assim, nunca temos campeonatos.
Nunca marcamos qualquer membro por aprovação especial.
Deve haver uma outra fonte de satisfação no trabalho ou no
jogo e consideramos uma conquista como muito trivial. Um
triunfo sobre o outro nunca é um fato louvável.166

O sistema educacional em Walden Two é, evidentemente, planejado de acordo


com o descontentamento de Skinner em relação ao sistema educacional vigente em

GROUPS
seu país. Sendo professor e parte do próprio sistema, ele questiona, uma clara visão
náo muito com um , a utilidade das provas e das notas, a eficiência da aprendizagem
por meio de aulas expositivas, a premissa de um currículo universal imposto a todas
as crianças, igualmente limitadas a estudar matérias e ler livros nos quais não têm
qualquer interesse. N a narrativa, Burris não reflete espontaneamente sobre todos
esses problemas: de fato, ele responde às questões postas por um grupo de garotas,
bem preparadas pela educação de Walden Two para fazer questões relevantes e de
certo modo embaraçosas.

264 Id.ibid., p. [13-114.


265 id.ibid., p. 112.
266 Id.ibid., p. 169.
D e fato, as práticas educacionais as quais Skinner critica e que ele conserta na
sociedade imaginária de sua Utopia foram repetidamente denunciadas, desde então,
em outros contextos, incluindo o m ovim ento estudantil de 1968 e por uma série
de reformas (econtrarreformas) na maioria dos países ocidentais. C om o vimos no
capítulo 13, Skinner mais tarde elaborou suas visões críticas sobre educação escolar e
desenvolveu sua abordagem alternativa em termos de tecnologia do ensino.

L iberação da m ulher

A organização da com unidade modifica drasticamente o papel da família.


A qui, novamente, Skinner é guiado por sua percepção de uma evolução social que
ocorre sob seus olhos:

INDEX A história significante de nosso tempo é a história da fraqueza


crescente da família. O declínio do lar como meio de perpe­
tuar uma cultura, a luta pela igualdade feminina, incluindo
seu direito de escolher profissões além de dona de casa ou
babá, a extraordinária consequência do controle de natalidade
e a separação prática entre sexo e parentalidade, o reconheci­

BOOKS
mento social do divórcio, a questão crítica da relação de san­
gue ou raça - tudo isso é parte da mesma área. E dificilmente
você pode considerá-la estagnada.267

Esse aspecto da organização social é, sem dúvida, um dos mais difíceis e delica­
dos. E aqui, ainda mais que em qualquer outro dom ínio, Walden Two é um campo
de experimentos sempre aberto para m elhoria e mudança. Ele não oferece qualquer

GROUPS
solução definitiva ou rigidamente fixada. A importância tradicional da família en­
quanto unidade econômica, socioafetiva e educacional é completamente reconheci­
da; mas também se reconhece que a família náo é mais capaz de desempenhar essas
funções. A lgo deve ser feito no nível da comunidade.
O casamento é m antido e náo é menos permanente que em qualquer outro
lugar (lembre-se de que o divórcio estava se tornando mais frequente e mais aceito
na sociedade americana logo após a segunda guerra mundial). D e fato, os vínculos
conjugais são mais resistentes nas condições particulares de vida de Walden Two.
U m detalhe interessante é o direito de todos os membros, casados ou não casados,
de viver em quarto individual. É claro que náo há nenhuma obrigação e, de fato, al-
guns casais preferem viver sob o mesmo teto, mas geralmente os indivíduos casados
continuam a viver mais ou menos permanentemente em seu próprio quarto.

Muitos de nossos visitantes supõem que uma comunidade


significa o sacrifício da privacidade. Pelo contrário, possibi­
litamos cuidadosamente muito mais privacidade pessoal do
que provavelmente se encontra no resto do mundo. Pode-se
ficar sozinho aqui sempre que se deseja. O quarto de um ho­
mem é seu castelo. E o de uma mulher também,168

Isso se assemelha à preocupação de V irginia W oolf, simbolicamente apreendida


no título de seu ensaio feminista A roorn ofones ow n.^ O direito à residência indivi­
dual» talvez de form a paradoxal, contribui para fidelidade e afeição duradouras. Não

INDEX
elimina a atração possível em relação a outros parceiros sexuais, com os problemas
resultantes para o parceiro abandonado. Entretanto, outros aspectos da vida diária
ajudam a resolver esses problemas e a reduzir as consequências indesejáveis. Rela­
cionamentos amigáveis e afetuosos entre pessoas de sexos opostos são amplamente
encorajados e ninguém espera que eles levem, via de regra, à intim idade sexual. (De
novo, lembre-se que estamos em 1945!) É claro que algumas vezes isso acontece, mas,
neste caso, o parceiro abandonado não corre o risco de repentinamente se encontrar

BOOKS
completamente isolado e perdido no mundo. Norm almente, a pessoa estabeleceu
muitos laços afetivos altamente satisfatórios com os membros da com unidade, que
compensam a perda da pessoa amada. Além disso, a pessoa está protegida de qual­
quer tipo de fofoca: fofocar sobre assuntos da vida privada é algo totalmente desco­
nhecido em W aldenTw o (uma proposição tipicamente utópica!).
Por outro lado, a educação no campo da afetividade objetivou reduzir senti­
mentos de ciúm e, de falha irreparável, de perda de autoestima. Atenuar algumas
formas de reações emocionais tem vantagens além do dom ínio do amor. Contribui

GROUPS
para m inim izar as tensões interindividuais bem como os conflitos internos. C o m o a
maior parte dos psicólogos modernos, Skinner reconhece o valor estimulante de um
certo nível ideal de despertar de emoções positivas, com o alegria ou amor; mas ele
também enfatiza insistentemente as consequências geralmente negativas da raiva, do
ódio, da dor e do medo. Tais emoções sem dúvida tiveram uma função na evolução
remota dos seres humanos, ou de seus ancestrais biológicos, mas não são mais úteis
na vida moderna. C om o podem tais emoções e sentimentos relacionados ser redu­
zidos? Exortar as pessoas a não se entregar a eles não funcionará e puni-las também
não será muito efetivo. Devem-se arranjar condições nas quais esses sentimentos e

268 ld. íbid., p. 139.


269 W o o lf(1929).
emoções não ocorrerão. Por exemplo, para cada escolha crucial da vida, com o esco­
lher um a profissão ou um parceiro afetivo, a cada indivíduo deveriam ser oferecida*
várias possibilidades atrativas:

O fato é que é muito improvável que qualquer um em Wai-


den Two coloque seu coração tão firmemente em uma dire­
ção que o torne infeliz se não for bem-sucedido. Isso é válida
para a escolha de uma garota ou de uma profissão. O ciúme
é quase desconhecido entre nós e por uma simples razão: nós
possibilitamos uma ampla experiência e muitas alternativa»
atraentes. O sentimento terno de “único” tem menos a vei
com a constância do coração do que com a singularidade de
oportunidade.170

INDEX Isso não implica que conseguimos tudo o que queremos.


Claro que não. Mas o ciúme não ajudaria. Em um mundo
competitivo, há alguma vantagem nele. Ele dá energia para se
enfrentar uma condição de frustração. O impulso e a energia
adicional são uma vantagem. De fato, em um mundo com­
petitivo, as emoções trabalham muito bem. Veja a singular

BOOKS
falta de sucesso do homem acomodado. Ele desfruta de uma
vida mais serena, mas é menos provável que seja frutífera. O
mundo não está pronto para simples pacifismo ou humildade
crista, para citar dois casos relevantes. Antes que você possa,
com segurança, dispensar as emoções destrutivas e desneces­
sárias, deve estar certo de que elas não são mais necessárias.
“ Como teremos certeza de que o ciúme náo é necessário em
Walden Two?” , eu disse. “ Em Walden Two, os problemas náo

GROUPS
podem ser resolvidos por meio de ataques aos outros” , disse
Frazier em caráter definitivo.171

Voltemos à família. O casamento em Walden Two geralmente ocorre muito


mais cedo que em nossa sociedade, mas deve ser relembrado que a educação leva os
adolescentes m uito mais cedo à idade adulta. O s planejadores de Walden Two não
estão muito preocupados com as possíveis consequências do casamento precoce no
crescimento populacional (na época em que a contracepção não era tão simples nem
tão difundida com o atualmente).

17 0 Skinner (1948, p. 54).


271 Id. ibid., p. 102-103.
Não é soluçáo para o problema malthusiano diminuir a taxa
de natalidade daqueles que o entendem. Pelo contrário, preci­
samos expandir a cultura que reconhece a necessidade do con­
trole de natalidade. Se você argumentar que nós deveríamos
dar um exemplo, você deve provar para mim que nós todos
náo seremos extintos antes de o exemplo ser seguido. Não,
nosso programa genético é vital. Não nos preocupamos com a
taxa de natalidade, ou suas consequências,1’ 1

A estrutura com unitária de Walden Two certamente enfraquece as relações


entre pais e filhos. M as esse não é, de form a alguma, um subproduto indesejável:
as relações familiares são tradicionalmente m uito fechadas e muito restritivas para
garantir uma educação adequada para todas as crianças. O lar familiar, com os

INDEX
pais exaustos de seus trabalhos e com frequência com pletam ente despreparados
para suas responsabilidades educacionais, não é lugar ideal para se educarem as
crianças. Laços afetivos, quando são muito próximos e m uito complexos, são fre­
quentemente fonte de conflitos e, por fim, de problemas persistentes. Apesar dessas
dificuldades, a exclusividade da célula fam iliar é causa de frustração para aqueles
que estão privados dela: crianças sem pais e adultos sem crianças. Em Walden Two,
os tipos de laços afetivos que são típicos das relações entre pais e filhos se estendem

BOOKS
a todo o grupo e são típicos das relações entre adultos e crianças. Ser órfão ou filho
de pais separados não é mais um trauma. D e form a similar, a esterilidade não é uma
m aldição: ela não impede que as pessoas se relacionem com as crianças, de forma
tão variada e gratificante com o o fariam os pais naturais. Nesse contexto, a esterili­
dade deliberada, estritamente voluntária, da parte dos indivíduos que apresentam
riscos genéticos, não aparece com o uma renúncia dramática. Dá-se menos ênfase
aos laços sanguíneos, em favor dos laços afetivos de natureza mais psicocultural. A
filiação biológica pode, por fim , ser ignorada.

GROUPS
E sobre o perigo de as relações frouxas, distanciadas, entre crianças e seus pais,
terem efeitos adversos sobre o desenvolvimento da personalidade, sobre os processos
de identificação, sobre os sentimentos de segurança, sobre todos aqueles aspectos
do bem-estar psicológico geralmente considerados como derivados da qualidade do
cuidado parental? Frazier corretamente observa:

Sabemos muito pouco sobre o que acontece na identificação.


Ninguém nunca fez uma análise científica cuidadosa. A evi­
dência não é verdadeiramente experimental. Vimos os proces­
sos em funcionamento apenas em nosso padrão de estrutura

17 2 ld. ibid., p. 136-137.


familiar. O modelo freudiano pode se dever às peculiaridadi
daquela estrutura ou mesmo às excentricidades dos membio
da família. Tudo o que realmente sabemos é que as criança
tendem a imitar os adultos em gestos e maneirismos e em
atitudes e relações pessoais, Elas fazem isso aqui, mas se a a
trutura familiar for modificada, o efeito será muito diferente
Nossas crianças são cuidadas por diferentes pessoas. Não i
cuidado institucional, mas afeição genuína. Nossos membrai
não trabalham exageradamente e não são forçados a trabalhai
em algo em que não têm qualquer talento ou inclinação. O
que a criança imita é um tipo de adulto feliz essencial.273

O leitor familiarizado com a psicologia terá notado a ênfase na distinção entre

INDEX
“cuidado institucional” , que é o tipo de cuidado que uma criança provavelmente
receberia na melhor creche possível, num hospital infantil, etc. e “afeto genuíno".
C o m poucas exceções, especialistas em cuidados infantis e psicólogos do desenvol­
vim ento não estavam realmente conscientes da distinção até o famoso relato de
B ow lby sobre cuidados maternos e saúde mental, publicado em 1951. Walden Two
foi escrito, lembre-se, em 1945. E o autor não tinha qualquer qualificação acadêmica
em cuidado e desenvolvimento infantil, sendo conhecido com o “psicólogo de rato” .
Skinner também antecipou a evolução posterior das práticas educacionais na

BOOKS
sociedade americana em relação ao papel dos adultos homens. Em Walden Two,
os adultos especificamente encarregados das jovens crianças pertencem a ambos os
sexos e o equilíbrio entre eles foi cuidadosamente observado na creche, bem como
na escola. Desse m odo, problemas resultantes da relação assimétrica com a mãe
estão eliminados.
Para as crianças nascidas e criadas na com unidade de Walden Two, os senti­
mentos de insegurança são desconhecidos, tão comuns entre as crianças criadas por

GROUPS
um a “mãe estressada ou passional, ou que vivem com pais briguentos, ou que são
mandadas para a escola sem estarem preparadas para os ajustes necessários, ou que
são deixadas para se arranjar com crianças de diferentes níveis culturais” .174
Substituir a com unidade pela família m udou drasticamente as condições das
vidas das mulheres. O u, mais precisamente, a preocupação com o status das mu­
lheres na sociedade levou o fundador de Walden Two a modelar um novo estilo de
relacionamento conjugal e parental. Essa preocupação era a preocupação de Fred
Skinner e pode ter sido sua principal motivação para escrever Walden Two. D e fato,
está listada em primeiro entre as “ insatisfações pessoais” que o levaram a se voltar

273 Id. ibid., p. J44-145.


274 ld . ibid., p. 145.
para esse gênero literário não usual. Estas são suas próprias palavras no prefácio da
nova impressão de Walden Two, publicada em 1976:

Eu tinha visto minha esposa e suas amigas lutando para se


livrar da vida doméstica, fazendo caretas de aversão quando
imprimiam “dona de casa” nos espaços das fichas para pedido
de emprego.175

Sem consentir interpretações psicológicas que não têm lugar neste livro, acredi­
to ser importante m encionar um detalhe, para mostrar quão persistente foi essa pre­
ocupação para Skinner. O prefácio de 19 76 foi reimpresso em uma coleção de artigos
publicada em 1978 com o título de Reflections on behaviorism and society; o livro é
dedicado à sua esposa, Eve, em uma pequena dedicatória, metade em francês, “ Para

INDEX
Eve, renée” - “renée” , um adjetivo e um nome próprio, que significa “renascida(o)
A importância do tema do status das mulheres em Walden Two, poucos anos antes de
Kate M illet e o M ovim ento de Liberação Feminina, foi amplamente ignorado e isso
faz a citação de alguns parágrafos das palavras de Frazier apropriada:

O mundo teve algum progresso quanto à emancipação das


mulheres, mas a igualdade ainda está muito distante. Há pou­

BOOKS
cas culturas atualmente nas quais os direitos das mulheres são
respeitados. A América é um dos talvez três ou quatro países
nos quais algum progresso foi feito. Mesmo assim, muito
poucas mulheres americanas têm a independência econômica
e a liberdade cultural dos homens americanos. O que o casa­
mento comum de classe média acrescenta? Bem, concorda-se
com que o marido irá fornecer proteção, vestuário, alimenta­
ção, e talvez algum divertimento, enquanto a esposa trabalha­

GROUPS
rá como cozinheira e faxineira e dará à luz e criará as crianças.
O homem é racionalmente livre para escolher ou mudar de
trabalho; a mulher não tem escolha, a náo ser aceitar ou negli­
genciar seu destino. Ela tem uma reivindicação legítima para
apoio, ele tem uma reivindicação legítima para um certo tipo
de trabalho.
Para tornar a questão pior, educamos nossas mulheres como
se elas fossem iguais e lhes prometemos igualdade. Não é
de se espantar que elas sejam rapidamente desiludidas? A
solução atual é reviver os slogans e sentimentos que fizeram

175 Retirado do texto reimpresso em Reflections on behaviorism a n d society (id., 1978, p. $6).
o sistema funcionar no passado, A boa esposa deve conside­
rar uma honra e um privilégio trabalhar na cozinha, fazer
as camas todo dia, dar banho nas crianças. Eia é levada a
acredirar que ela é necessária, que ela tem a responsabilidade
pelo cuidado da felicidade e da saúde de seu marido e tam­
bém das crianças. Esse é o tratamento antiquado da dona de
casa neurótica: reconciliá-la com o seu destino! Mas a mu­
lher inteligente vê além disso, não importa quão dificilmente
ela queira acreditar. Ela sabe muito bem que outra pessoa
poderia fazer as camas, fazer a comida e lavar a roupa, e sua
família não veria diferença. O papel de mãe ela quer desem­
penhar por si mesma, mas isso não tem mais ligação com seu
trabalho diário do que o papel do pai com seu crabalho no

INDEX
escritório, na fábrica, ou no campo.
Aqui, não há razão para sentir que ninguém depende de
ninguém. Cada um de nós é necessário na mesma medida,
que é muito pequena. A comunidade permanecerá tão tran­
quila amanhã, mesmo que um de nós morra hoje à noite.
Não podemos, portanto, obter muita satisfação por se sentir
importante. Mas há satisfações que compensam. Cada um

BOOKS
de nós é necessário enquanto pessoa à medida que somos
amados como pessoas. Nenhuma mulher sente satisfação de
sentir que fará falta tanto quanto uma cozinheira que partiu
ou uma lavadeira. Em um mundo de completa igualdade
econômica, você obtém e mantém os afetos que você merece.
Você não pode comprar o amor com presentes ou favores,
não pode manter um amor criando uma criança inadequada
e não pode estar seguro no amor servindo como uma boa

GROUPS lavadeira ou um bom provedor.276

As dificuldades encontradas para transformar profundamente o status da mu­


lher não foram ignoradas pelo fundador da com unidade:

Aqueles que afirmam ganhar mais são mais difíceis de con­


vencer. Isso também é verdade para o trabalhador explorado -
e pela mesma razão. Ambos foram mantidos em seus lugares,
náo por força externa, mas muito mais sutilmente por um
sistema de crenças implantado dentro de suas peles.277

Incidentalmente, o leitor terá notado a referência behaviorista à internaliza-


ção...

A DEMOCRACIA É DEMOCRACIA?
Esses sáo apenas alguns poucos aspectos da vida em Walden Two, naquela pe­
quena fração da humanidade que afastou com sucesso a maldição do trabalho e
utilizou o tempo ganho dessa forma com atividades criativas. Eu náo revisei todos
os detalhes da visita, durante a qual, fortuitamente, nunca encontramos bêbados, ou

INDEX
delinquentes, ou depressivos. Não vimos nenhuma prisão ou hospital psiquiátrico,
náo porque a visita guiada estaria restrita aos lugares de interesse oficialmente defi­
nidos como tais para os visitantes, mas porque simplesmente não há nenhum. De
onde vem essa harmonia ideal? Quem governa, e como?
Contrário à maioria dos sonhos sociais, a Utopia de Skinner não se fundamenta
em virtudes inatas da natureza humana, até então inutilizadas ou reprimidas. Skin­
ner não acredita em tais virtudes, náo mais que nos vícios incuráveis. As virtudes,

BOOKS
bem como a felicidade, emergem das condições nas quais as pessoas vivem. Essas
condições favoráveis não podem ser definidas de antemão e de uma vez por todas
na fórmula absoluta de uma ideologia. Elas devem ser buscadas posteriormente e de
forma empírica e permanentemente reajustadas, Walden Two não é governada com
base em uma doutrina política, mas em uma atitude experimental. Por causa disso,
enquanto organização comunitária, ela nunca para de mudar e de ser mudada, pois
seus membros nunca param de mudar seus hábitos comportamentais.
Qualquer problema que surja é solucionado por meio de tentativas e a solução

GROUPS
dada está sempre aberta à correção, de acordo com os resultados observados. Se ela
se mostra inapropriada — isto é, se as pessoas interessadas não estão satisfeitas com
ela - outra solução será buscada e experimentada. Como no laboratório, os sujeitos
estão sempre certos: se eles não se comportam como esperado ou desejado, não po­
dem levar a culpa; os administradores - ou experimentadores - são os responsáveis
por suas predições ruins.
A pesquisa por condições ótimas, favoráveis ao equilíbrio de toda a comuni­
dade por meio da satisfação de cada um de seus membros, está na mão de um time
de planejadores ou gerentes. Seu cargo especial lhes é imposto apenas por sua com­
petência. Eles não são expostos às tentações comuns dos políticos obcecados pelas

277 Id. ibid-, p. 148.


próximas eleições: seu trabalho é estritamente limitado no tempo, a um m áximo de
io anos. Em qualquer caso, que tipo de privilégios eles poderiam pensar em manter?
D inheiro está fora de uso em Walden Two; propriedades individuais não existem;
obras de arte estáo disponíveis a todos; cada membro tem bastante tempo livre para
o lazer; e os indivíduos com o papel de gerenciar as responsabilidades não recebera
qualquer atenção especial ou honraria. E se há qualquer satisfação verdadeira em do­
minar outras pessoas, não há lugar para isso, porque força e coerção foram excluídas
dos princípios sóbre os quais Walden Two é administrada.
Os administradores, cujas qualidades pessoais e virtudes foram modeladas pela
educação e são mantidas pelas circunstâncias atuais, não foram escolhidos pelo voto
popular. Walden Two não é um regime democrático, no sentido em que os estados
modernos, e especialmente os Estados Unidos, são chamados de democráticos. Fra-
zier (ou Skinner) denuncia vigorosamente a ilusão democrática, a “ fraude sagrada” ,

INDEX
um “arremedo” , no qual votar se tornou um “ instrumento para culpar as pessoas
pelas condições” ; no qual a única garantia é que a maioria não será despoticamente
governada” ; no qual “a maioria resolve o problema de acordo com sua satisfação
e a minoria pode se danar” ; no qual as pessoas não são convidadas a votar ‘ por
um dado estado de coisas, mas por um hom em que afirma estar apto a alcançar
aquele estado” / 78 C om certeza, se os países democráticos aparecessem como regimes
democráticos reais, nos quais os representantes fossem realmente eleitos por sua

BOOKS
competência e estivessem de fato sob controle dos eleitores, poderíamos estar perto
da sociedade ideal. M as a m aioria dos estados modernos oferece apenas a caricatura
daquele ideal:

O governo de Walden Two possui as virtudes da democracia,


mas nenhum dos defeitos. Está mais próximo da teoria ou
da intenção da democracia do que a prática real na América
atual. A vontade das pessoas é cuidadosamente averiguada.

GROUPS Não temos campanhas eleitorais para falsificar questões ou


obscurecê-las com apelos emocionais, mas um estudo cuida­
doso da satisfação com a vida comunitária é realizado. Cada
membro tem um canal direto através do qual ele pode pro­
testar com os Gerentes ou mesmo com os Planejadores. E
esses protestos são levados táo a sério quanto o piloto de um
avião o faz quando o motor faz um barulho sinalizando que
há algo de errado. Não precisamos de leis ou de força policial
que nos levem a prestar atenção em um motor defeituoso.
Também não precisamos de leis para que o gerente de uma
fábrica de laticínios preste atenção em uma epidemia ocor­
rendo entre as vacas. De forma semelhante, nossos Gerentes
Comportamentais e Culturais náo precisam ser levados a
considerar as queixas. Uma queixa é uma roda a ser lubrifica­
da ou um cano quebrado a ser consertado.179

A democracia, com o a vivemos no mundo ocidental, demonstrou suas vanta­


gens sobre sistemas políticos baseados na força e na exploração. Mas ela teve o seu
tempo, ao menos na forma que tomou, e devemos estar conscientes de suas limitações
atuais e estar prontos para irmos além delas se de fato quisermos enfrentar os proble­
mas que mesmo a coerçáo pode não ser capaz de resolver. O que está errado com a
atual democracia é que ela é baseada em uma concepção errônea da natureza humana;

INDEX
A filosofia do laissez-faire, que confia na bondade inerente e na
sabedoria do homem comum, é incompatível com o fato ob­
servado de que os homens se tornam bons ou maus, espertos
ou insensatos de acordo com o ambiente em que cresceram.1®0

Inevitavelmente surge a questão, e ela aparece na conversa entre o fundador


da comunidade e seus visitantes: isso não é Fascismo? Se adotarmos a liberdade

BOOKS
semântica tão com um no discurso político atual e utilizarmos a palavra de forma
não crítica para nomear qualquer tipo de organização social que diverge da pseu-
dodemocracia ocidental ou dos sistemas pseudoigualitários de obediência M arxis­
ta que colapsaram recentemente, com o uma “form a conveniente de acabar com
qualquer tentativa de melhorar uma democracia laissez-faire” , então, talvez, Walden
Two devesse ser rotulada de “fascista” . Se, entretanto, sentirmos ser mais apropriado
reservar o termo para designar regimes totalitários, geralmente baseados no poder
individual ou oligárquico, recorrendo à força ou exploração de um grupo sobre os

GROUPS
outros com o princípios fundam entais de governo, então ele náo pode seriamente
ser aplicado a uma pequena comunidade onde uma porção de homens e m ulhe­
res tem o cargo, por um período lim itado, e sem qualquer benefício pessoal, de
administrar a vida pública pela satisfação de todos recorrendo exclusivamente ao
uso de consequências positivas. Q uando um estágio é alcançado em que os regimes
democráticos não estão mais aptos a resolver efetivamente os problemas dos quais
depende a sobrevivência da sociedade, a melhor estratégia para o totalitarismo é
manter a ilusão de democracia.

279 Id. ibid., p. 269.


280 Id. ibid., p. 273.
Alguns irão insistir que é fascismo apesar do fato de que não há déspotas, nem
exploração, todos os membros são iguais e recebem sua parte na riqueza com um , os
direitos do indivíduo são respeitados, as pessoas são felizes; fascismo porque todas
essas características da organização social são consequência de um arranjo delibera­
do, ao invés de ser produto de livre escolha.
Liberdade: aqui está a palavra mágica, a principal objeção. O conceito está
claro o bastante para se recusar a entrar em Waiden Two? Em que medida os sis­
temas sociais que estamos mantendo realmente se baseiam na liberdade? E o que
exatamente queremos dizer com liberdade? N ão é necessário ler pesados tratados de
filosofia para entender que a palavra não abrange um conceito único, consistente.
E necessário apenas ouvir as declarações dos candidatos no dia anterior à eleição
presidencial.
Skinner não elaborou uma análise da liberdade em Waiden Two. Ele dedicaria

INDEX
a isso, um quarto de século mais tarde, seu ensaio Beyondfreedom and dignity. D e­
vemos voltar a este livro no próxim o capítulo para aprofundar sua visão sobre esse
problema central. Contudo, ele já modelou as premissas nas palavras de Frazier. Tao
Jogo se aceite observar a conduta hum ana de maneira científica, espera-se que ela
obedeça a leis. Então, a questão é: que leis regem aqueles comportamentos, aquelas
situações, aqueles sentimentos e ideias aos quais, com vários sentidos de acordo com
o tempo e o lugar, o termo liberdade se aplica?

BOOKS
GROUPS
15
LIBERDADE, FINALMENTE...

P sic o lo g ia : a c iê n c ia a m b iv a len t e

Skinner tinha 75 anos quando publicou um ensaio que tornou seu nome am­
plamente conhecido entre os leitores leigos. O título era provocativo e pode ter

INDEX
estimulado reações negativas ao livro: Beyondjreedom and dignitf*' soou com o uma
negação de dois valores básicos de nossa sociedade. Liberdade é um termo mágico,
com um sabor de absolutismo; nós preferimos pensar que nada pode estar, que
ninguém pode ir além da liberdade.
“Além” não estava originalmente no título. Enquanto estava preparando o li­
vro, Skinner se referia a ele simplesmente com o “ Liberdade e D ignidade” . Ele o
menciona frequentemente, com esse título em suas anotações entre 1965 e 1970.

BOOKS
A mudança veio, e isso ocorre com frequência, após uma discussão com a editora.
Skinner sugeriu, com o um título mais apropriado, o que acabou aparecendo na
capa. C om o ele diz em sua autobiografia, ele estava

consciente de que estava pegando emprestado do Além do bem


e do mal, de Nietzche, e do Além do princípio do prazer, de
Freud. Parecia certo, Gotdieb [o editor] gostou, e deixamos

GROUPS
ficar. Provavelmente foi responsável por grande parte da con­
trovérsia sobre o livro e muito possivelmente por seu sucesso.
Contudo, é ilusório. Enquanto cientista, eu não penso nas
pessoas como agentes iniciadores livres a serem honradas por
suas conquistas. Mas eu estava propondo mudanças nas prá­
ticas sociais que as fariam se sentir mais livres como nunca e
conquistar ainda mais.282

D e um ponto de vista científico, interessado na busca de determinantes para


o que ocorre na natureza, o conceito de liberdade sempre foi um enigma. M uitos

281 N . T.: “Além da liberdade e da dignidade” , cuja versão foi publicada em português sob o tículo de O mico da Uberdade.
282 Skinner (1983, p. 310-311).
cientistas nos campos das ciências naturais, tais com o a física e a química, deixaram
a questão para os filósofos ou teólogos, admitindo que eles não possuem, a partir
da informação em seu próprio dom ínio, o conhecimento necessário para decidir;
eles não descartam a ideia de que os humanos são feitos de uma matéria diferente
e escapam das restrições das leis naturais. M uitos outros, ao mesmo tempo em que
não entram em aspectos técnicos do debate, assumiriam que os seres humanos,
sendo parte da natureza, obedecem a leis naturais. O problema se torna crucial, é
claro, na ciência psicológica, porque um campo dificilmente pode ser uma ciência se
seu objeto de estudo não é abordado com a hipótese de que pode ser descrito e ex­
plicado com base em regular idades. Desse modo, poderia parecer que qualquer um
que se defina com o um psicólogo científico deveria pertencer à segunda categoria de
cientistas - aqueles que assumem que as ações humanas podem ser explicadas cau-

INDEX
salmente. N a verdade, muitos psicólogos estão mais próximos da prim eira categoria,
e enquanto eles usam discurso aparentemente científico, paradoxalmente mantêm a
crença de que as ações humanas provêm das decisões autônomas do self, do agente
interno ou de algum núcleo irredutível do sujeito, não passível à explicação cientí­
fica. O debate foi intenso ao longo da história da psicologia, mas talvez esteja mais
intenso que nunca. D e fato, ele reapareceu, explicitamente ou não, na maioria das
discussões filosóficas sobre inteligência artificial versus natural.
Skinner, é claro, está, sem dúvida, entre aqueles para quem a ciência psicológica

BOOKS
não pode ter outro objetivo senão a busca das relações causais no comportamento (ou,
em relação àquele assunto, na cognição). Para dtá-lo novamente: “ Enquanto cientista,
eu não imagino as pessoas como agentes iniciadores livres” .28’ Abordar a psicologia
como uma ciência implica uma postura determinista, quaisquer que sejam as mudan­
ças por que passou o conceito de determinismo no século X IX .
Tal posição de Skinner não deveria nos incomodar mais do que a de qualquer
outro psicólogo científico. Se incom oda, é porque ele a levou explicitamente às úl­

GROUPS
timas consequências lógicas, algo que poucos fizeram. Não é incom um para psicó­
logos aplicar sua crença científica dentro de seu laboratório, ao estudar problemas
bem definidos e limitados, mas ignorar as implicações de sua escolha no nível de
uma teoria geral da conduta humana; se questionados, provavelmente não se com ­
prometeriam a apostar na afirmação da ciência, ao contrário, estariam prontos a dar
crédito a visões alternativas, como aquelas filosoficamente orientadas propostas sob
o título de fenomenologia ou psicologia humanista. C o m o Konrad Lorez afirmou:

Provavelmente a razão pela qual as pessoas temem tanto as


considerações causais é que elas estão aterrorizadas com medo

2^3 N . T.: não há citação desta no originaJ.


de que a percepção das causas dos fenômenos materiais possa
expor o livre arbítrio como uma ilusão/84

U m co n ce ito fle x ív e l

A palavra liberdade é utilizada atualmente e foi usada no passado recente com


significados diferentes e igualmente mal definidos. Ela é parte dos slogans políti­
cos nos mais diversos e opostos lados e é utilizada com o argumento comercial na
propaganda de todos os tipos de produto, sejam carros, roupas ou cigarros, com
várias, mas igualmente atrativas, conotações. E m nome da liberdade, nações e gru­
pos lutaram para se em ancipar ou para impedir que outros se emancipassem. A
mesma palavra se aplica a questões de privacidade individual, de direitos humanos,

INDEX
de economia de mercado, de possibilidades de escolha ao com prar bens, ao escolher
uma com panhia ou uma residência, ao utilizar o próprio dinheiro, se engajar em
esportes de risco, dirigir em alta velocidade nas autoestradas, etc. E óbvio que ela
não se refere a nenhum a propriedade unificadora com um a contextos e situações
táo díspares. Ao se deparar com tal estado de coisas, um linguista legitimamente se
engajaria em uma investigação semântica, a fim de caracterizar todos esses diferentes
usos da mesma palavra, para traçar a origem de cada uso particular na história pas­

BOOKS
sada de nossas linguagens e de nossa cultura. U m psicólogo é igualmente habilitado
para conduzir uma investigação similar e para buscar a história natural e cultural da
liberdade. Foi exatamente isso que Skinner tentou, com a consequência de que ele
veio a denunciar muitos dos mitos vinculados ao conceito em nossa autoimagem
e em nossos sistemas políticos e sociais. Beyondfreedom and dignity não é uma des­
truição, nem uma negação de algumas coisas importantes às quais essas palavras se
referem, é um ensaio que visa a analisar lucidamente do que trata a liberdade, ao
identificar algumas das contradições em nossa paixão pela liberdade, ao alertar a

GROUPS
humanidade sobre a possibilidade de consequências autodestrutivas de nossa vene­
ração acrítica pela liberdade e ao ajudar os seres humanos a se sentirem mais livres,
enquanto permanecem conscientes da importância de perpetuar tal sentimento para
as gerações futuras.

L iberd ad e para ganhar . .. ou perder

Essa é, em resumo, a mensagem de Beyondfreedom and dignity. Ela será retoma­


da com alguma profundidade mais à frente, mas, antes de extrair a essência daquele
controverso livro, é necessário mencionar um texto mais simples sobre liberdade,
porque ele compreende, em um estilo irônico e na form a de parábola, parte da
análise encontrada em Beyond freedom and dignity. O artigo de duas páginas foi
publicado no New York Times em 1977 com o título de “ Freedom, at last, from the
burden o f taxation” .185
E sobre algo familiar a muitas pessoas que vivem na Europa, tanto quanto,
senão mais, para aquelas que vivem na América, i.e., as loterias. Feitas pelo estado,
com o bem se sabe, sáo outra forma de arrecadar dinheiro dos cidadáos, que parecem
aceitá-las mais prontamente que aos impostos. Skinner argumenta ironicamente que
o recurso às loterias poderia muito bem ser desenvolvido a tal ponto que permitiria
nos livrarmos dos impostos e que as loterias poderiam ser utilizadas extensivamente
pelas agências, como o Pentágono, que precisam de m uito dinheiro, mas que não
gostam de ser controladas de perto sobre a finalidade do dinheiro. Apontando para

INDEX
o fato de que as pessoas não nascem jogadores, mas se tornam jogadores se expostas
a contingências apropriadas, ele sugere que nós deveríamos treiná-las desde cedo a
participar “voluntariamente” , financiando o estado e todas as possíveis agências. Esse
é um caso extremo de uma ilusão de liberdade nos indivíduos de fato fortemente
induzidos a dar “ livremente” — ao menos até onde vão seus sentimentos — muito
mais dinheiro do que dariam através de uma obrigação (aversiva) para o pagamento
de taxas. Para um observador, as condições responsáveis pelo com portam ento de

BOOKS
jogo estão claras o suficiente e paradoxalmente o comportamento é mantido apesar
do fato de que, no total, as perdas excedem de longe os ganhos. Isso aponta para a
força do reforçamento intermitente, esticada ad infinitum nos seres humanos graças
à sua capacidade mental de antecipar possíveis recompensas que, na realidade, nunca
acontecem. O jogo pode evoluir para algo próximo ao vício, outro caso que ilustra a
ambiguidade das relações entre os conceitos de causação, reforçamento negativo ou
positivo, controle e liberdade.

GROUPS
U m a diferença fundamental entre as loterias e os impostos é que comprar bi­
lhetes é sentido com o uma ação espontânea iniciada pela decisão do indivíduo, en­
quanto o imposto de renda é estabelecido exteriormente e deve ser pago, gostemos
ou não. Os organizadores dos jogos e das loterias populares estimaram corretamente
quão importante é para as pessoas sentir que controlam suas próprias ações. O su­
cesso das loterias numéricas ou bingos é provavelmente devido ao fato de que, ao
escrever os números de sua escolha, os jogadores sentem que estão controlando a
sorte com mais certeza do que se comprassem um bilhete no qual o número já está
impresso. D e forma parecida, sentimo-nos livres quando vamos fazer compras e
levamos todos os tipos de bens de luxo, embora seja do conhecimento de todos,
talvez do nosso próprio conhecimento, que nosso com portam ento de consumir é

285 O artigo foi reimpresso e m Reflections on behaviorism a n d society, capítulo 18 ( S k i n n e r , 1978}.


em parte determinado pelas campanhas publicitárias. O mesmo é verdade quando
elegemos líderes políticos: quaisquer que sejam os fatores, em alguma m edida bem
identificados, que controlam externamente nossa decisão, o simples fato de que
escrevemos nossa escolha e a colocamos na urna é subjetivamente suficiente para
preservar a sustentação da liberdade.

A QUESTÃO DA UBERDADE E 0 FUTURO DO MUNDO

Para Skinner, o que está em questão em uma análise crítica do conceito de liber­
dade não é apenas um velho problema filosófico ainda debatido entre os psicólogos
modernos. É nada menos que o futuro do mundo. O livro Beyondjreedom and dignity
não começa com uma apresentação acadêmica das várias visões sobre os conceitos

INDEX
mencionados no título. Ele é aberto com uma evocação dos “terríveis problemas”
com os quais a humanidade se depara, i.e., explosão populacional, holocausto nu­
clear, fome mundial, poluição do meio ambiente, esgotamento dos recursos. Os seres
humanos não parecem estar realmente prontos para lidar com isso de forma eficiente
e consistente. M esm o assim, eles possuem as ferramentas tecnológicas que permiti­
riam a solução, ao menos em parte, desses problemas. O crescimento demográfico
pode ser dim inuído com o controle de natalidade, a fome pode ser aliviada com a

BOOKS
melhor distribuição da comida disponível e as lavouras podem ser melhoradas com
uma política agrícola adequada, a poluição ambiental pode ser reduzida com solu­
ções alternativas na indústria, transporte e produção de energia. São feitos esforços
na direção correta, mas eles parecem irremediavelmente fora de proporção em re­
lação aos crescentes problemas que tentam enfrentar. Tal incapacidade, argumenta
Skinner, não é devida à nossa falta de possibilidades técnicas; ela decorre de nossa
relutância a nos colocarmos nas perspectivas corretas. Insistimos em nos enxergar
como criaturas privilegiadas dotadas de poder ilimitado sobre o mundo à nossa volta

GROUPS
e em traçar linhas de ação a partir de nossas mentes, por meio de processos de livre
arbítrio. Em bora esteja claro que todos os problemas dramáticos que enfrentamos
hoje não podem ser resolvidos a menos que os seres humanos mudem drasticamente
seus comportamentos, ainda recorremos à boa vontade e à mudança de mentalidade
com o se fossem pré-requisitos para alcançar as soluções. Somos cegos ao fato de que
tal recurso à “mudança de mentalidade” tem sido a estratégia tradicional, mas que ela
falhou completamente e ela falhou porque os comportamentos não são subprodutos
da vontade ou da mente humana: eles são os resultados da interação dos seres huma­
nos com o seu ambiente. A consciência a respeito dessa interdependência básica é a
condição inicial para resolvermos os problemas contemporâneos, antes que seja tarde
demais. Considerando que os seres humanos não aceitarão que eles não são seres
perfeitamente autônomos, agindo a partir de uma iniciativa interna soberana, eles
estarão expostos a tornar seu próprio mundo gradativamente mais perigoso para si
mesmos enquanto creem que ainda o estão controlando em benefício próprio.
O próprio Skinner apontou que essa visão dos seres humanos é responsável por
mais um ferim ento à autoestima, depois daqueles feitos por Copérnico, D arw in e
Freud. N ão foi fácil aceitar que a Terra não é o centro do universo, ou que a hum a­
nidade não nasceu diretamente das mãos de Deus, mas que evoluiu depois de um
longo processo, com form as simples de vida evoluindo para formas complexas, e
nenhum a delas com direito à eternidade. A o menos Copérnico e D arw in não aba­
laram nosso orgulho de sermos seres verdadeiramente racionais, até que Freud nos
mostrou que o que fazemos, sentimos e até mesmo pensamos se deve à confusão de
forças emocionais obscuras ao invés de sermos governado pelo exercício consciente
da razão. M as a autonomia, em certo sentido, foi preservada: tudo o que vem de
dentro, das profundezas de nosso ser, todo o restante do nosso “self” se mantendo

INDEX
indom ado pela racionalidade. Skinner dá o próximo golpe: razão ou paixão, somos
o resultado com portam ental das interações entre nosso organismo físico, com o dado
no nascimento, e o ambiente físico e social no qual nossa história individual ocorre.
D e form a alguma nossos com portam entos emergem de alguma liberdade individual
toda poderosa e misteriosa.
Tal m udança não é facilmente admitida, especialmente porque a liberdade se
tornou um conceito mágico. Ela tem sido usada na história recente da hum ani­

BOOKS
dade para elim inar restrições óbvias, mas ela pode se revelar, por sua persistência
fetichista, o obstáculo verdadeiro para nos libertarmos dos perigos que ameaçam
a sociedade m oderna e possivelmente a própria espécie humana. É preciso tentar
descrever, depois de Skinner, a que tipos de “situações comportamentais” se refere o
conceito de liberdade.

A LUTA PELA UBERDADE.' UMA HISTÓRIA NATURAL E CULTURAL


GROUPS
E m um nível muito simples, os animais obviamente agem para escapar de al­
gumas situações, que lhes são presumivelmente aversivas. Por exemplo, eles se esqui­
vam dos estímulos de dor. Dessa forma, eles se “ libertam” da dor; de form a similar,
de restrições físicas não usuais, que os tornam vulneráveis ao perigo. Eles também
agem para evitar situações que podem causar dor. Se, por alguma razão, as respostas
adaptativas chamadas de fuga ou esquiva são evitadas, pode-se dizer que o animal
tem sua liberdade limitada. M as deveríamos colocar isso ao contrário e dizer que o
conceito de liberdade tem suas raízes biológicas no com portam ento prim itivo de
fuga ou esquiva.
A espécie hum ana teve sua parcela de situações aversivas e uma grande parte de
seu desenvolvimento cultural consistiu em um a fuga progressiva delas. As tecnolo­
gias humanas mais antigas foram delineadas para enfrentar predadores, proteger do
mau tempo, seja o frio ou o calor extremo, ou para curar doenças e assim por diante.
O ambiente cultural, por sua vez, implicou, provavelmente desde muito cedo,
vários controles aversivos de natureza social e não física. Investigadores da história
e da pré-história podem, algumas vezes, traçar sua origem de forma plausível. Na
maioria das estruturas políticas, alguns grupos ou indivíduos sofrem controles aver­
sivos de outros: uma casta ou classe explora a outra como força de trabalho com a
ameaça de castigos, privação de comida ou salário, ou de exclusão da felicidade após
a morte. O poder político fortalece a lei aplicando multas, colocando na cadeia,
suprimindo bens ou privilégios. Não há dúvida de que esses controles aversivos de
origem cultural levam a respostas de fuga ou esquiva similares àquelas provocadas
por estimulação aversiva física. Os movimentos pela liberdade que emergiram em
muitos lugares ao longo da história são, em essência, comportamentos de fuga. Eles

INDEX
sáo apenas muito mais complexos que as respostas animais, envolvendo complexas
estruturas sociais e representações simbólicas. Eles tiveram, por fim, formulações
em filosofias da liberdade ou da liberação, como aquelas elaboradas no século XVIII
e depois nas sociedades ocidentais. Essas filosofias, entretanto, não limitaram seu
conceito de liberdade à eliminação dos controles aversivos. Elas defendiam o direito
individual de desfrutar da liberdade. Indo um passo adiante, elas definiram a liber­
dade não simplesmente como um direito, que implica que pode ser relacionada a

BOOKS
situações reais —liberdade para votar, para expressar publicamente a própria opinião,
para praticar uma religião, etc. mas como um tipo de característica inerente ao
indivíduo que só poderia florescer completamente por meio da supressão de todos
os controles.
Tal exaltação de um conceito abstrato, quase metafísico, de liberdade, embora
tenha contribuído positivamente para libertar as pessoas das várias restrições, teve
duas consequências peculiares. Por um lado, em alguns sistemas sociais ou ideo­
logias políticas, contribuiu para a afirmação dos direitos ilimitados do indivíduo

GROUPS
como um princípio fundamental que inevitavelmente gera, mais cedo ou mais tar­
de, novas restrições para os outros: este é o caso no direito individual ilimitado de
ganho financeiro em economias de mercado completamente livres (nas quais leis e
regulamentações tendem a não definir ou garantir direitos positivos, mas a limitá-
-los de modo a minimizar os efeitos perversos da liberdade individual). Por outro
lado, o conceito passou de uma ideia perfeitamente sensata de que deveríamos nos
livrar dos controles aversivos para a discutível ideia de que qualquer controle deve
ser banido, ou, em outras palavras, de que todos os tipos de controle são aversivos
por definição: são felizes aqueles cujas ações e pensamentos advêm livremente de si
mesmos, não devendo nada a ninguém.
Agora se admitimos, com base em uma análise científica, que tal autonomia é ilu­
sória, que a ação humana não pode ser concebida independentemente de suas origens
e consequências em um complexo ambiente social e físico, sugerir que qualquer con­
trole possa ser descartado como estranho à liberdade é negar aqueles fatores que de feto
controlam os indivíduos quando se imagina que eles estáo livres de todos os controles.
A defesa da liberdade, portanto, não significa nada além de passar para um estágio em
que os controles estejam menos visíveis, entre os quais os controles aversivos se mo­
vem de forma sub-reptícia. Paradoxalmente, a liberdade acaba por gerar a escravidão.
Os mecanismos utilizados para nos induzir ao consumo em nossa sociedade são um
exemplo típico. O vício, qualquer que seja seu objeto, droga, trabalho, dinheiro, etc.,
refere-se exatamente a esse tipo de processo.

M érito e dignidade

INDEX
Voltemo-nos para a dignidade. Os seres humanos autônomos são dotados de
outra propriedade: eles são louvados por suas próprias ações e pensamentos. É-lhes
dado mérito se são bons e responsabilidade se são maus. Quanto mais misteriosas as
proezas e mais difíceis de entender, mais ganham mérito.
Contudo, ao analisar as causas, inevitavelmente retiramos o mérito e a respon­
sabilidade. Isso é bem visível na evolução da lei criminal. A medida que nosso conhe­
cimento a respeito dos fatores que contribuem para gerar os delitos se desenvolveu, a

BOOKS
noção de responsabilidade limitada ou atenuada emergiu e alguns criminosos foram
reconhecidos como não responsáveis. A responsabilidade individual foi substituída
ou por fatores biológicos, como a hereditariedade ou as condições patológicas, ou
por causas sociais, sejam elas o ambiente social imediato no qual o indivíduo foi
criado, ou a sociedade como um todo, que permitiu que um determinado contexto
social se desenvolvesse. Quando olhamos para as causas e identificamos algumas
delas, não podemos mais sustentar que o indivíduo é completa e exclusivamente

GROUPS
responsável por suas ações, cuja origem deve, obviamente, ser encontrada em outro
lugar. Daí a ideia de que a repressão não traz nenhuma solução real para a crimina­
lidade e é, na melhor das hipóteses, um meio legítimo de autoproteção para a socie­
dade. Em longo prazo, a única solução real é a prevenção: ela consiste em organizar
a sociedade de algum outro modo, a fim de evitar os fatores geradores do crime.
Enquanto a busca por fatores causais se tornou mais ou menos aceita quando
se lida com comportamento desviante, de modo que aqueles que agem assim são
vistos como vítimas ao invés de culpados, não tomamos a mesma atitude quando
comportamentos positivos estão em questão. Gostamos de ter o mérito total por
eles. Preferimos atribuir a um bom trabalhador um senso de dever e zelo e a vontade
de desempenhar bem as tarefas, ao invés de explicar a excelente performance pelo
salário ou pelo status que ele proporciona, ou mesmo pelo tipo de satisfação derivada
de fazer um produto de qualidade. Preferimos dizer de uma pessoa honesta que suas
boas ações surgem da virtude ao invés de relacioná-las à história educacional que
construiu a pessoa ou de identificar os tipos de reforçadores que a mantêm se com ­
portando bem. Pessoas autônomas resistem a todas as tentativas de analisar as causas
de seu com portam ento, de modo que podem preservar seus méritos, do mesmo
modo que resistem a todos os esforços de desmistificar a liberdade, com medo de
perder essa qualidade valiosa.
Em suas críticas da liberdade e da dignidade, Skinner usa argumentos paralelos
à sua crítica ao mentalismo na psicologia científica. A esse respeito, as visões expres­
sas em Beyondfreedom and dignity aparecem com o uma versão aplicada à vida diária,
uma versão política e social de uma das premissas centrais de seu behaviorismo. A s­
sim como o mentalismo é o principal obstáculo para o progresso da análise científi­
ca, ela [a liberdade em sua forma tradicional] impede qualquer solução eficiente para
os problemas que a hum anidade precisa enfrentar atualmente. Am bos os aspectos

INDEX
são, para Skinner, fortemente relacionados.

L ib e r d a d e co n tr a s i m esm a

Por que a ideia de seres humanos autônomos e as noções de liberdade e dig­


nidade que a fundam entam são tão difíceis de erradicar? Talvez a razáo seja, como

BOOKS
muitas filosofias e ideologias afirmam, que ela realmente define a grandeza dos seres
humanos contra o reducionismo das abordagens científicas. Este argumento, para
Skinner, é um disfarce para a verdade. A própria razão para sua persistência é o fato
de ser uma ficção útil para aqueles que estão no poder. E um instrumento dos mais
sutis, pois engana com a ilusão de escapar do poder.
A o longo da história humana, com o já observado, recorreu-se amplamente
a controles aversivos explícitos: punições físicas e torturas sancionaram o sujeito
que não se mostrava tão produtivo quanto o esperado, o culpado que se recusava

GROUPS
a confessar o crime, o crente que passava direto da ortodoxia para a heresia, as
pessoas conquistadas que se recusavam a se submeter. O s efeitos geralmente foram
rápidos e evidentes, mas eles não mudaram em profundidade o com portam ento dos
indivíduos na direção desejada. O herege trazido de volta ao dogmatism o à força
nunca será o mais confiável dos crentes, nem o escravo que trabalha sob o açoite será
um colaborador confiável. Além do mais, punições são muito visíveis e produzem
reações de fuga ou esquiva. Elas contêm, por assim dizer, as sementes de seu próprio
fim. Seus resultados, impostos externamente à força, são alheios ao sujeito, que não
é responsável por eles e não reivindica qualquer mérito. A o contrário, o sujeito sente
que sua revolta é justificada.
U m a solução m uito melhor consiste em tornar o controle menos evidente,
menos decifrável e menos obviamente externo ao sujeito. Se, tirando vantagem das
possibilidades oferecidas pelas atividades simbólicas, os mecanismos punitivos sãoj
transferidos para dentro do sujeito, o objetivo será alcançado: o controle não ser£
menos eficiente, mas será atribuído à pessoa autônoma, que terá todo mérito ou
responsabilidade por ele. Corretamente internalizada, a ameaça do inferno eterno
não é menos eficiente do que a tortura imposta pelo inquisidor, e o Superego de
forma vantajosa, ao menos do ponto de vista da autoridade que foi transferida para
dentro do sujeito, substitui a punição física dos pais. Aqueles que realmente detêm
o poder tem um duplo benefício com a mudança: a carga e os riscos são aliviados
(os tiranos ameaçam ser destronados se seus sujeitos se insurgem contra eles, mas
não se lutam contra sua própria consciência); em segundo lugar, aqueles que estão
no poder mantêm a crença na liberdade e responsabilidade dos próprios sujeitos (se
eles conseguem ser vitoriosos por sua própria força de vontade, serão honrados por
isso; se foram derrotados, serão culpados por sua própria fraqueza). Pode-se perceber

INDEX
aqui como a pessoa autônoma, de fato, contribui para manter formas não explícitas
de controles aversivos. Freud nos ensinou a identificar a origem e os mecanismos
da internalização dos controles punitivos, mas parece que nem suas próprias lições
nem as várias interpretações sociopolíticas que foram feitas desde então por seus
discípulos conseguiram destronar a pessoa autônoma. Isso deveria ser tomado como
evidência de que nós não funcionamos sem esse ser?
Aqueles no poder têm ainda outra vantagem com a ideia da pessoa autônoma:

BOOKS
eles a utilizam para sua própria absolvição.

O controlador pode fugir da responsabilidade se ele mantém


a posição de que o próprio indivíduo está no controle. O
professor que confere mérito ao estudante por sua aprendiza­
gem pode também culpá-lo por não aprender. O pai que dá
mérito à criança por suas conquistas pode também culpá-la

GROUPS por seus erros. Nem o professor nem o pai podem ser respon­
sabilizados.286

O mesmo é válido para os governos. Se eles descartam a pessoa autônoma, têm


que assumir completa responsabilidade em caso de falha em sua política. Skinner
nos lembra, nesse contexto, a evolução da União Soviética, conforme análise de
Bauer:

Imediatamente após a revolução, o governo poderia argumen­


tar que, se muitos russos eram mal-educados, improdutivos,
se comportavam mal e eram infelizes, era porque o ambiente
havia levado a isso. O novo governo modificaria o ambien­
te fazendo uso dos reflexos condicionados de Pavlov e tudo
ficaria bem. Mas, no início dos anos 1930, o governo teve a
sua chance e muitos russos ainda náo estavam explicitamente
mais bem informados, mais produtivos, com melhor compor-
tamento ou mais felizes. A íinha oficial foi então modificada
e Pavlov não era mais apoiado. Uma psicologia fortemente
teleológica a substituiu: caberia ao cidadão russo conseguir a
educação, trabalhar de forma produtiva, se comportar bem e
ser feliz. O educador russo deveria ter certeza de que ele acei­
taria essa responsabilidade, mas sem condicioná-ío. Os suces­
sos da Segunda Guerra Mundial recuperaram a confiança no
princípio anterior, entretanto; o governo teve sucesso afinal

INDEX
de contas. Poderia não ser ainda completamente efetivo, mas
estava se movendo na direção correta. Pavlov voltou à cena.187

Talvez pudesse ser aplicado 0 mesmo tipo de análise ao atual ressurgimento do


mentalismo na psicologia cognitiva, estabelecendo um paralelo com a incapacidade
dos governos de realmente resolver os problemas pendentes e com sua crescente
tendência a esconder seu controle sob a suposta delegação do poder aos cidadãos nas

BOOKS
estruturas democráticas. Está claro que nossas sociedades não estão isentas de tais
formas de absolvição. Essas últimas têm um papel dos n\ais importantes à medida
que se beneficiam das doutrinas oficiais da liberdade e da responsabilidade política.
Se a crise do petróleo não fosse resolvida por uma redução geral do consumo de
energia, os governos poderiam sempre culpar seus cidadãos por sua falta de respon­
sabilidade cívica, sua inclinação ao desperdício, sua falta de previdência. E, se os
cidadãos acusam o governo de descuido, o governo pode argumentar que ganhou
o mandato por meio do voto dos cidadãos; então, de qualquer forma, os cidadãos

GROUPS
podem apenas culpar a si mesmos. A pessoa autônoma aparece com o o álibi indis­
pensável da irresponsabilidade do poder.
A o exacerbar a crença das pessoas em sua autonomia, consolida-se, na verdade,
a sua escravidão. A esse respeito, as doutrinas não diretivas popularizadas por várias
escolas psicológicas e sociológicas podem dever seu sucesso ao fato de que, apesar das
aparências, elas serviram extremamente bem aos poderes vigentes.

Permissividade, náo é, entretanto, uma política; é o abandono


da política e suas vantagens aparentes são ilusórias. Recusar-se
a controlar é deixar o controle náo para a própria pessoa, mas
para as outras partes dos ambientes sociais e náo sociais.288

M e NTALISMO COMO UMA FERRAMENTA DE PODER

Aqueles que governam confiando nas pessoas autônomas não precisam se pre­
ocupar com mudar as condições nas quais as pessoas vivem. O que conta é mudar
as mentalidades, como apontado pelo famoso texto que afirma que as guerras se
originam nas mentes das pessoas’69 - bem como todas as outras coisas incômodas de
que gostam de reclamar. Paradoxalmente, esforços para mudar as mentes parecem
ser legítimos, enquanto esforços para mudar as ações e sentimentos por meio da
modificação do ambiente parecem uma violação de sua liberdade:

INDEX E um fato surpreendente que aqueles que se opõem mais vio­


lentamente à manipulação do comportamento fazem, porém,
os esforços mais vigorosos para manipular mentes. Evidente­
mente, liberdade e dignidade sáo ameaçadas apenas quando
o comportamento é modificado pela modificação física do
ambiente. Não Há nenhuma ameaça quando os estados men­

BOOKS
tais considerados responsáveis pelo comportamento sáo mo­
dificados, possivelmente porque o homem autônomo possui
poderes miraculosos que o habilitam a se entregar ou a resistir.
Ainda bem que aqueles que se opõem à manipulação do com­
portamento se sentem livres para manipular mentes, pois caso
contrário teriam que permanecer calados/90

GROUPS
Dessa forma, aqueles que se restringem a modificar mentes estão fadados a mudar
nada, talvez porque lhes seja vantajoso não mudar nada. Apelando para a “confiança
renovada na democracia” como um remédio para a crise dos sistemas democráticos,
é provável que as coisas sejam deixadas como estão; o que precisa ser mudado são as
condições da prática da democracia, uma questão de contingências políticas, não de
estados mentais.

2S8 Id. ibid., p. 84.


289 A afirmação original da U n e sc o é: “As guerras começam nas mentes dos hom em ". Skinner com entou da seguinte maneira:
“ ( ...) Portanto, é nas mentes dos homens que a defesa da paz deve ser construída” , apontando para o fato de que as guerras têm
muitas causas identificáveis que poderiam ser modificadas mais facilm ente do que as mentes dos homens, modeladas após aquelas
condições. Ver Reflections on behaviorism a n d society (id., 1978, p. 91).
19 0 Id. (1971a, p. 91-32).
N a maioria dos casos, aqueles que mantêm os outros acreditando no mito da
liberdade e da dignidade são especialistas no controle de seus com portam entos de
um m odo mais direto e eficiente, para sua própria vantagem. Líderes políticos e ne­
gociantes de armas cooperam na celebração de virtudes patrióticas, enquanto condi­
cionam obediência militar no estilo mais prático. Aqueles que detêm o poder econô­
mico fazem uso das campanhas publicitárias com slogans que evocam a liberdade, o
direito do indivíduo de satisfazer seus desejos, de impor sua vontade, etc. enquanto
estabelecem deliberadamente e recorrem com esperteza e de form a perversa a leis
de controle do com portam ento, práticas de consumo focadas em seus produtos. As
grandes religiões espiritualistas nunca falharam em basear sua autoridade em regras
altamente práticas de conduta da vida diária. Em todos esses casos, a arte do poder
consiste em disfarçar para os indivíduos os verdadeiros determinantes de seus atos,
fazendo com que acreditem que eles se originam em sua própria mente livre. Jamais

INDEX
os consumidores estão mais fortemente sob controle do que quando acreditam que
sáo reis. Jam ais uma doutrina é mais firmemente imposta do que quando seus segui­
dores se sentem dotados de livre arbítrio.
Agora, se as pessoas sáo felizes com a ilusão da autonomia, por que deveríamos
nos preocupar? Por que insistir em torná-las conscientes dos controles existentes
escondidos? A resposta para Skinner é direta: nada menos está em questáo que a so­
brevivência da cultura humana, ou, mais simplesmente, da humanidade. A mistura

BOOKS
de uma ilusão de liberdade e de controles inteligentemente disfarçados, dando um ao
outro suporte recíproco, não nos ajuda a resolver os problemas terríveis com os quais
somos confrontados. A o nos satisfazer com o atual estado de coisas, deixamos à hu­
manidade o tipo de controle realmente em uso e a expomos ao mais incerto futuro.
U m a solução aparentemente simples seria nos livrarmos de todos os tipos de
controle, de modo que a verdadeira liberdade possa florescer. Esta foi a proposta
clássica dos movim entos anarquistas e dos vários tipos de idealistas. Isso funcionaria
se os seres humanos fossem criaturas cujas ações pudessem não depender de nada

GROUPS
nem de ninguém. M as se eles não sáo menos dependentes do que outros organis­
mos daquelas condições que contribuíram para sua história, como espécie e como
indivíduos, a solução é o mesmo que abandonar seu destino à sorte. Skinner não
hesita aqui em usar uma fórmula que irritou muitos de seus leitores e que provocou
a acusação de ser um profeta da ordem estabelecida: “ O que precisamos não é de
menos controle, mas de mais controle” . M ais controle, porém de um tipo totalmen­
te diferente. “ N ão podemos escolher um modo de vida em que não haja controle.
Podemos apenas mudar as condições do controle” / 91
Seria de fato absurdo não colocar em prática nosso conhecimento sobre como
induzir os com portam entos hum anos que resolveriam alguns de nossos problemas
mais sérios. Não culparíamos médicos se não aplicassem seu conhecimento a respei­
to das causas e da prevenção de uma doença para interromper sua propagação? Sc
o conhecimento científico apresenta alguma vantagem para a humanidade, é preci­
samente a de nos habilitar a identificar fatores determinantes que controlam nossas
vidas e daí nos fornecer o único modo de controlá-los. Esse é o único significado real
da liberdade no atual estágio da evolução.
Quando Skinner sugere “mais controle” , ele não quer dizer aumentar os con­
troles aversivos negativos. Consistentemente, ele denuncia estes últimos, ao longo
de seus textos, a ponto de ser culpado, por fim, de ser mais um moralista que um
experimentador. Ele quer dizer aumentar os controles explícitos, claramente iden­
tificados, planejados para alcançar objetivos claramente definidos e modificados
conforme o necessário após os testes práticos; e, mais importante para ele, uma
generalização de controles positivos. Reconhecemos aqui os princípios vigentes em

INDEX
Walden Two. Nada poderia ser mais distante de manter a ordem estabelecida. De
fato, as propostas de Skinner são nada menos que subversivas em comparação com
nossos hábitos atuais. Se implementadas, elas acabariam igualmente com: governos
principalmente baseados em controles aversivos, apenas amenizados pela pressão,
por sua vez aversiva, de grupos de cidadãos; sistemas educacionais, dos quais, apesar
das pretensões de atratividade, a maioria dos alunos fugiria se não fossem obrigados
a se submeter; sistemas econômicos que nos incitam a desperdiçar recursos com

BOOKS
o argumento de que as necessidades devem ser satisfeitas, necessidades que foram
criadas com o propósito de encorajar o consumo. O controle skinneriano começa­
ria com profundas mudanças, de fato. Certamente traria um tipo de ordem, mas
drasticamente diferente, como enfatizado na comunidade utópica de Walden Two:
a ordem de uma sociedade formada por pessoas felizes, contentes com a satisfação
de suas necessidades vitais, produtora de arte e de ciência em suas horas de lazer
e com um senso de responsabilidade com o futuro de seus descendentes. Se há
qualquer objeção a esse tipo de controle, é apenas por causa de uma generalização

GROUPS
a partir de uma ordem baseada na coerção para todos os tipos de ordem, apesar de
positivos os controles envolvidos. Isso é esquecer que a vida, incluindo a vida social
e histórica dos animais humanos, não é nada além de ordem e, possivelmente, uma
ordem muito transitória no universo, cuja preservação pode agora estar nas mãos
da humanidade.

S o brevivência como um valor último

Skinner estava consciente de que não se pode planejar a ordem social sem algum
critério e, embora os controles positivos devam normalmente gerar indivíduos feli­
zes, ele não era ingênuo o bastante para acreditar que a “ busca da felicidade” , como
está na constituição americana, pudesse ser um valor seguro. Preocupado com o era
com os problemas vitais do nosso tempo, ele não poderia pensar em qualquer critério
mais decisivo do que a sobrevivência da espécie, o que significa, sendo a humanidade
uma espécie essencialmente cultural, a sobrevivência da cultura. Ele não estava de­
fendendo a perpetuação de uma cultura em particular. Se ele foi acusado de trabalhar
pelo triunfo do modo de vida americano, foi apenas por uma leitura simplificada de
suas palavras (Spiro Agnew, em sua época, náo se equivocou a respeito disso191). As
culturas humanas, com o espécies vivas, de um ponto de vista absoluto, não apresen­
tam diferenças de valor, ou seja, uma não tem mais valor que outra. Elas não podem
ser julgadas por qualquer outro critério, exceto pela sobrevivência. E a sobrevivência
nunca é eternamente garantida para nenhuma delas: o que aparece como vantagem
hoje pode se tornar uma ameaça amanhá. A filosofia social de Skinner é claramente
fundamentada na biologia.

INDEX
O fato de que uma determ inada cultura perpetua a si mesma, ao se m odi­
ficar ou ao manter a mesma estrutura, depende de várias condições, geralm en­
te impossíveis de diferenciar. H á pouca duvida de que qualquer sistema cultural
contém mecanismos que induzem seus membros a se com portarem de modo a
favorecer sua sobrevivência. Se tais mecanismos, como é frequentemente o caso,
são principalm ente baseados em controle aversivo, é provável que eles, mais cedo
ou mais tarde, gerem oposição dos indivíduos ou grupos, que lutarão por seus

BOOKS
próprios interesses às custas da cultura. E m algum sentido, recorrer a controles
aversivos é provavelmente inevitável. A vida sociai talvez im plique sempre algum
ripo de com prom isso entre as demandas da organização coletiva e os interesses do
indivíduo. Ela im plica algum a renúncia a reforçadores individuais positivos. Freud
pensava que a cultura, que é a característica distintiva da hum anidade, não pode se
desenvolver a menos que os impulsos individuais sejam reprimidos, a menos que o
princípio de realidade se sobreponha ao princípio de prazer, com a consequência de
que a cultura é, por definição, fonte de conflitos inter e intraindividuais.

GROUPS
Skinner com partilha com Freud a ideia de que não há acordo entre os fins da
sociedade e a satisfação do indivíduo. M as enquanto para Freud a repressão era a base
da civilização, para Skinner ela é apenas uma das possíveis formas de acordo, embora
seja a mais difundida, talvez por ser a mais simples e óbvia. Entretanto náo há nada
de essencial nela, apenas é uma característica histórica. Outras formas podem ser
descritas, nas quais objetivos coletivos seriam alcançados através de reforçamento
positivo de comportamentos individuais. Enquanto Freud mostra um pessimismo
absoluto, Skinner adota um otimismo condicional. Condicional porque não existe
qualquer garantia de que a hum anidade se engajará nesse curso de ação: o progresso,
como sabemos, não é inerente à evolução, seja ela cultural ou biológica. M as ao

292 Ver a cicação do então vice-presidente dos Estados U nidos no capitulo 1.


menos o que conhecemos a respeito do comportamento não exclui algum tipo de
acordo equilibrado baseado no reforçamento positivo. Isso tem pouco a ver, é claro,
com libertar os seres humanos das forças das pulsões - o conceito de natureza huma­
na não está vinculado, para Skinner, com o de libido - é essencialmente um ajuste
recíproco entre o individual e o social. A repressão é substituída pela regulação.

P roteção do indivíduo

Podemos esperar, de uma cultura planejada, mesmo que seja baseada exclusi­
vamente em controle positivo, algo além da robotização, de uma homogeneização
geral dos indivíduos e finalmente da negação dos direitos individuais? Skinner, é cla­
ro, estava muito preocupado com essa importante questão. Não apenas porque ela é

INDEX
central em suas reflexões científicas e filosóficas, mas porque ele próprio era, muito
profundamente, um individualista. Já sabemos, a partir de nossa visita a Walden
Two, qual era sua resposta. E também sabemos que a resposta está de acordo com
sua visão de uma ciência da humanidade, modelada segundo uma filosofia biológi­
ca. Qualquer planejamento cultural sensato deve estar direcionado para preservar e
estimular a diversidade. O tema da diversidade é recorrente nos textos científicos de
Skinner. Ele é claramente enunciado em Beyondfreedom and dignity, como ilustrado

BOOKS
na seguinte passagem:

Se uma cultura planejada significa uniformidade ou dis­


ciplina, ela age contra a evolução. Se os homens são muito
semelhantes, teriam menos chances de descobrir ou planejar
novas práticas e uma cultura que tornasse as pessoas muito
semelhantes, o máximo possível, pode se ver em um padrão
do qual não haveria escapatória. Isso seria um mau planeja­

GROUPS mento, mas, se buscamos variedade, não podemos recair no


acidental. Muitas culturas acidentais estiveram marcadas por
uniformidade e disciplina. As exigências da administração dos
sistemas governamental, religioso e econômico alimentam a
uniformidade, porque ela simplifica o problema do contro­
le. Os sistemas educacionais tradicionais especificam o que o
estudanre deve aprender, em que idade e administram testes
para se certificar de que as especificações são atingidas. As leis
das religiões e dos governos são geralmente muito explícitas e
dão pouco espaço para diversidade ou mudança. A única es­
perança é uma diversificação planejada, na qual a importância
da variedade é reconhecida. A criação de plantas e animais vai
em direção à uniformidade quando a uniformidade é im por­
tante (como na simplificação da agricultura e criação animal),
mas também requer uma diversidade planejada.193

Skinner é um crítico da civilização atual, que aparece com o uma empreitada


gigante em direção à padronização sob o disfarce da liberdade individual. O lhando
para a evolução da cultura em termos similares à evolução biológica, ele vê a varie­
dade com o a m elhor “garantia de sobrevivência” .
E claro que a diversidade planejada não significa programar cada indivíduo
em detalhes, mas arranjar condições sob as quais a diversidade é favorecida, como
ela obviamente o foi em alguns períodos privilegiados da história da humanidade,
notadamente no campo das artes, com a emulação prevalecendo sobre a competição
e com o contexto social propiciando amplas oportunidades à produção artística em

INDEX
todos os níveis de competência.
N a cultura, com o na biologia, a diversidade é a condição para a individualida­
de. Ela também é, desde os estágios mais elementares dos organismos vivos, a regra
universal. A reprodução estrita do mesmo é a exceção (embora o hom em tenha
conseguido isso experimentalmente), mas ela tem pouco, se é que tem algum, valor
de sobrevivência. C om o Skinner aponta, a uniformidade pode ser recomendável
em algumas situações, com o na facilitação da agricultura ou na criação animal. M as

BOOKS
os engenheiros genéticos inteligentemente preservam as sementes das espécies não
utilizadas atualmente, porque elas poderiam salvar o mundo se as espécies atuais, em
uso por causa de suas vantagens presentes, fossem vítimas de algum desastre futuro.
A diversidade com o um projeto cultural deliberado se tornou extremamente
importante num mundo onde as pessoas tendem a ser modeladas no mesmo molde,
porque as distâncias foram abolidas e porque o poder econômico e político progres­
sivamente se concentrou nas mãos de uma única tradição cultural. Até o século X X ,
a diversidade cultural era tão notável quanto a diversidade biológica, e os antropó­

GROUPS
logos poderiam descrever uma ampla gama de padrões culturais. Eles conseguiram
chamar a atenção para o interesse em tal variedade e mesmo para o conceito de
relativismo cultural, mas paradoxalmente em uma época em que a variedade estava
desaparecendo da superfície da terra e em que o relativismo cultural tinha perdido
quase toda a sua relevância, com exceção da relevância turística.
A DIMENSÃO TEMPORAL
O utra fonte importante de dificuldade no planejamento de uma cultura que
alcançasse os requisitos para a sobrevivência da hum anidade é o conflito entre o
interesse imediato do indivíduo e a necessidade de considerar, em qualquer projeto
cultural sensato, consequências de longo prazo. Recompensa imediata parece mais
natural e mais eficiente que satisfação postergada. Claram ente, os problemas que
estamos enfrentando, na maioria dos casos, não afetam os indivíduos imediatamen­
te, talvez nem mesmo durante sua vida. Em bora não haja problema em colocar o
com portam ento, seja hum ano ou animal, sob controle de reforçamento imediato,
recompensa atrasada é muito mais difícil. As espécies animais são suscetíveis a ela
apenas dentro de limites de tempo muito estritos e por meio de um a história de con­
tingências muito sistemática. Felizmente, os humanos desenvolveram, com o uso da

INDEX
linguagem e das representações simbólicas em geral, capacidades sem precedentes
para avaliar recompensas de tal modo que a satisfação postergada será preferida em
relação a uma satisfação mais imediata, se constatado que a primeira vale mais. Os
seres humanos aprenderam a viver com as perspectivas de tempo que se estendem à
toda a sua vida e até mesmo às gerações futuras. M uitos fatores determinam a anteci­
pação das ações humanas de longo prazo, incluindo a comparação dos benefícios de
ambos os tipos de recompensa (imediata versus atrasada), a intensidade da aprovação

BOOKS
ou desaprovação social de ambas as condutas, a probabilidade de que a recompensa
atrasada será obtida e será apreciada, etc. As ideologias religiosas e políticas tradi­
cionalmente recorreram à ameaça da punição eterna, ou à promessa de felicidade
futura, para induzir as pessoas a se com portarem de determinado modo pela satis­
fação futura enquanto renunciam a recompensas imediatas. Em ambos os casos, a
punição imediata ou sua ameaça foram acrescentadas para garantir o controle. Os
hereges eram condenados ao fogo eterno, mas também eram, para tornar as coisas
mais certas, sujeitos à tortura imediata. Aos cidadãos da União Soviética de Stalin

GROUPS
era prom etido o triunfo da feliz sociedade sem classes, mas eram enviados ao G ulag
se demonstrassem pouco zelo na parte que lhes cabia da luta. Sabemos que os seres
humanos tendem a se libertar de tais controles aversivos, como a história recente
demonstrou mais uma vez. O s controles religiosos e políticos desse tipo colapsaram
e poderiam ter sobrevivido apenas por meio do uso cego da força.
Realmente não podemos esperar resolver os problemas do mundo de hoje
recorrendo às mesmas práticas, mas ficamos com a tarefa terrivelmente difícil de
fazer com que os seres humanos ajam em função de contingências de longo prazo,
considerando que eles recentemente se libertaram de muitos dos controles similar­
mente direcionados a consequências muito atrasadas. A tarefa em si não é fácil. E
é com plicada ainda mais pelo fato de que a sociedade moderna, enquanto valoriza,
em alguns contextos, a antecipação do futuro - investindo em vários esquemas de
segurança, por exemplo, ou na educação - encoraja, em muitos aspectos, a satisfa­
ção imediata. C om prar à prestação se tornou prática geral, propiciando a aquisição
imediata dos bens desejados sem a necessidade de se calcular como pagar por eles. A
ação política está essencialmente sob controle das próximas eleições, gerando uma
perspectiva de tempo que raramente se estende para além de três ou quatro anos,
enquanto a maioria das questões importantes requer antecipação e planejam ento de
longo prazo. Levou anos até que os avisos dos ecologistas fossem, por fim, levados
a sério, e ainda recebem, de alguns políticos, apenas apoio da boca pra fora. Há
poucos sinais de que estamos indo em direção a uma sociedade que encontrará seu
próprio equilíbrio ~ e, seus membros, a felicidade - ao funcionar sob controle de
contingências de longo prazo. Skinner estava consciente de que essa é de fato uma
das questões mais cruciais do mundo atual, e ele apontou insistentemente para isso;
ele pode não ter form ulado soluções práticas completamente satisfatórias, mas quem

INDEX
as formulará, considerando os fatores que prevalecem atualmente?

CONTRACONTROLE

As soluções inevitavelmente im plicam planejamento de longo prazo, e a palavra


planejamento, por sua vez, implica algum tipo de controle por aqueles que delineiam

BOOKS
os planos sobre aqueles que serão expostos a eles. Q uem irá controlar? Skinner de
forma alguma sugeriu uma form a de totalitarismo. Pelo contrário, sua análise visa a
acabar com os abusos de poder por meio de um conhecimento claro dos processos
comportamentais. Ele certamente nunca propôs que uma nova classe de legisladores,
tecnocratas do comportamento, deveria se apossar das responsabilidades políticas.
Seu planejamento cultural não deixa lugar para uma casta permanente de especialis­
tas intocados. Ele apenas propôs que toda política, por definição lidando com pes­

GROUPS
soas, deveria considerar o que a ciência nos diz sobre o com portam ento hum ano, ao
invés de ignorá-la ou mesmo de ir à direção oposta, como é frequentemente o caso.
Skinner nos avisa: enquanto estamos discutindo quem deveria controlar, ou
enquanto fazemos oposição à ideia de controle, outros de fato controlam, sem de­
mora, e se beneficiam de nossa procrastinação. A escolha não é entre controle e
liberdade, mas entre controle explícito e encoberto. Isso inevitavelmente íeva ao
despotismo? Vam os relembrar que a organização social de Walden Two garantia um
funcionam ento harm onioso independentemente da personalidade do fundador, ou
dos gerentes de qualquer época. Carreiras vitalícias de gerenciamento foram extintas
ao se limitar o tempo no cargo; o abuso individual do poder foi evitado ao se dar
uma estrutura colegiada a todas as agências de decisão e ao elim inar todas as possibi­
lidades de benefício pessoal ao ter um cargo público. Essas são medidas elementares
de contracontrole.
Essa é, de fato, a parte mais importante da filosofia social de Skinner. Tornar os
controles vigentes explícitos é o pré-requisito para qualquer organização social se ela
deve corrigir a si mesma e exercer contracontrole:

O planejador de uma cultura fica sob a mira, porque o plane­


jamento explícito implica controle (se apenas o controle exer­
cido pelo planejador). A questão é frequentemente formulada
com a pergunta: Quem deve controlar? E a questão é colo­
cada como se a resposta fosse necessariamente ameaçadora.
Para prevenir o mau uso do poder de controle, entretanto,
não devemos olhar para o próprio controlador, mas para as
contingências sob as quais ele se engaja no controle.194

INDEX
O grande problema é arranjar contracontrole efetivo e, dessa
forma, proporcionar importantes consequências relacionadas
ao comportamento do controlador.295

Todo controle é recíproco e o intercâmbio entre controle e


contracontrole é essencial na evolução de uma cultura/96

BOOKS
E claro que atacar práticas de controle é uma forma de con­
tracontrole. Pode ter benefícios incomensuráveis se práticas
de controle melhores forem selecionadas. Mas a literatura da
liberdade e da dignidade cometeu o erro de supor que elas
estão suprimindo o controle ao invés de o estarem corrigin­
do. O controle recíproco através do qual uma cultura evolui
é então abalado. Recusar-se a exercer o controle disponível

GROUPS
porque, em algum sentido, qualquer forma de controle é
errada é não permitir formas possivelmente importantes de
contracontrole. Vimos algumas das consequências. Medidas
punitivas, que a literatura da liberdade e da dignidade ajudou
a eliminar, são, ao invés disso, promovidas. Uma preferência
por métodos que tornam o controle náo explícito ou que o
permitem ser disfarçado condenou aqueles que estão na po­
sição de exercer contracontrole positivo ao uso de medidas
fracas. Essa poderia ser uma mutação cultural letal.197

294 Id. ibid., p. 168.


295 Id. ibid., p. t7i.
296 Id. ibid., p. c8i.
297 Id. ibid., p. r8i.
A história oferece muitos exemplos de mecanismos e agentes de contracontrole.
C onfrontado com o poder baseado em métodos aversivos, o próprio contracontro­
le frequentemente assume características aversivas, com o insurreição, greve violenta
ou fraude, o que ameaça o poder e acaba por conseguir lim itá-lo, mas geralmente
contribui para manter suas técnicas repressivas. Em regimes parlamentaristas, a
oposição tem um papel mais decisivo no contracontrole. A liberdade de imprensa,
ou, generalizando, de expressão e inform ação, tem uma função de contracontrole
cada vez que revela abuso de poder. Associações de consumidores, quando boi­
cotam um produto, exercem contracontrole sobre produtores inescrupulosos. D e
um m odo mais sutil, os alunos exercem contracontrole sobre seus professores, que
(idealmente) ajustam seus métodos se os alunos não entendem o conteúdo. O rato
de laboratório, de form a similar, modela o com portam ento do experimentador!
Tal regulação recíproca é possível apenas se as ações dos controladores continuam

INDEX
a depender das consequências que produzem sobre os controlados. Se o ensino
depende mais de uma agência reguladora centralizada, ela própria distante da vida
escolar diária e sem nenhum contato direto com os alunos, eles perderão toda a
influência /io contracontrole:

Controle e contracontrole tendem a se deslocar quando o


controle é tomado por agências organizadas. Contingências

BOOKS
informais são sujeitas a rápidos ajustes à medida que seus efei­
tos mudam, mas as contingências que as organizações deixam
para os especialistas podem se manter intocadas por muitas
das consequências.198

Aiguns grupos de pessoas perdem completamente qualquer form a de contra­


controle. M edidas sociais supostamente em seu favor podem, por m uito tem po, ir a
uma direção aberrante sem qualquer correção. O contracontrole pode surgir apenas
de uma terceira via:
GROUPS
Alguns exemplos clássicos de falta de equilíbrio entre controle

contracontrole se torna, desse modo, inefetivo. Hospitais para


psicóticos e lares para retardados, órfãos e idosos são caracteri­
zados por um contracontrole fraco, porque aqueles que estáo
preocupados com o bem-estar de tais pessoas frequentemente
não sabem o que está acontecendo.2"

298 Id. ibid., p. 17 1.


299 Id. ibid., p. 171.
U m governo exclusivamente baseado em métodos positivos não teria razão
para temer que seus métodos de controle pudessem ser descobertos: ao contrário,
ele se beneficiaria de sua revelação. Por sua vez, a enunciação do controle é uma con­
dição para o contracontrole. O contracontrole implica, por um lado, que as açóes
daqueles que estão no governo permaneçam, tanto quanto possível, sob o controle
das consequências que têm nas pessoas controladas. A responsabilidade política não
é uma virtude; ela provém de um arranjo adequado das relações entre aqueles que
governam e aqueles que são governados. A busca por tal arranjo parece ser central
na atual crise observada nas nações ocidentais. Skinner sugere que ele será alcançado
apenas se aqueles que estão no poder pararem de entreter os cidadãos com a ilusão
da liberdade e se os cidadãos pararem de sacrificar o controle real de suas vidas por
essa ilusão.

INDEX POLÍTICA EXPERIMENTAL

A pós essa apresentação admitidamente incom pleta das visões de Skinner sobre
a realidade social, ou Utopia social, com o podemos concluir? Espero que aqueles
que conheciam Skinner apenas de segunda mão tenham descoberto uma aborda­
gem dos assuntos humanos muito diferente da imagem transmitida por difamadores

BOOKS
com o aqueles citados no capítulo i. Interpretações equivocadas foram especialmente
numerosas e distorcidas com relação aos textos sociofilosóficos de Skinner. Talvez
os críticos tenham sido algumas vezes sinceros, mas equivocados principalmente
pela falta de preparação. Um deles reclama sobre o uso da expressão “contingên­
cias de reforçamento” em Beyondfreedom and dignity. E com o reclamar do uso do
termo “relatividade” em um ensaio de física, ou de “seleção” em um livro popular
de biologia. O utros podem ter sido enviesados por uma apresentação incorreta do

GROUPS
pensamento científico de Skinner retirada de manuais de psicologia e não podem ser
culpados por tom ar com o certo o que autoridades da área escreveram sobre Skinner.
Todavia, as verdadeiras razoes de por que as ideias políticas de Skinner geraram tal
oposição violenta devem ser procuradas em outra direção. É simplesmente porque
elas são perturbadoras em relação a todas as ideologias ou práticas existentes. D e
fato, nenhum dos esquemas políticos atualmente no poder (ou no poder na época
em que ele escreveu Walden Two ou Beyondfreedom and dignity), ou os atuais candi­
datos ao poder, escapam de sua crítica. Suas críticas perturbam aqueles que mantêm
o controle, bem com o aqueles que o buscam, ou aqueles que gostam de pensar
que não são controlados, mas livres. Tudo isso é uma reação emocional e não deve
interferir na questão principal.
Um a questão deve, entretanto, ser colocada: as visões de Skinner são baseadas
cientificamente, com o ele afirma? Se sim, essa base científica é séria? Se for o caso,
ela leva necessariamente e de forma legítima a essa concepção?
N ão há dúvida de que os dados, os métodos e os conceitos referenciados por
Skinner são parte do dom ínio da ciência, com o oposta à religião, arte ou magia. Os
dados podem ser verificados ou rejeitados; os métodos, melhorados ou modificados;
os conceitos, elaborados ou abandonados; tudo enquanto resultado da atividade
científica normal e, é claro, sem relação com o que o próprio Skinner pensava.
Q ualquer que seja a importância das contribuições individuais, a ciência é desperso­
nalizada, e seu progresso não está diretamente vinculado ao respeito por aqueles que
as fizeram. Skinner se referia à ciência séria, o que não significa, é claro, ciência de­
finitiva ou completa, simplesmente porque não existe ciência definitiva e completa.
O trabalho científico é sempre uma aproximação e os cientistas sabem que o que eles

INDEX
descobrem nada mais é do que uma maior aproximação ou uma correção de erros.
A base científica séria é, neste caso, suficiente para se chegar às conclusões práticas
que Skinner delineou a partir dela? As ideias sociopolíticas derivam legitimamente,
se não necessariamente, dos dados empíricos e dos conceitos teóricos?
Essa não é uma questão fácil, pois chega a nada menos que o julgam ento
da validade de uma proposta para aplicação científica em um caso específico. A
única validação convincente consistiria em testar, mas alguém poderia querer uma

BOOKS
validação antes do teste. Q ualquer aplicação científica envolve risco, se comparada
com sua referência experimental, porque sempre ocorre em um contexto que não
foi, nem pode ser, purificado de todos os fatores que são elim inados no laboratório.
Um a estimativa do risco é certamente crucial, mas os riscos devem ser assumidos
se a ação precisa ser implementada. Parece sensato adiar a aplicação se a distância
entre o conhecimento básico e a aplicação parece m uito grande. Pode-se pensar
que esse é o caso do projeto de Skinner; pode-se argumentar que, apesar de sua
sinceridade e boa vontade em ajudar a hum anidade, seus fundam entos científicos

GROUPS
são m uito fragmentários, m uito restritos aos animais de laboratório e m uito pouco
integrados ao conhecim ento proveniente de outras fontes para legitimar qualquer
aplicação. Pode-se sugerir que prim eiro eles devam ser consolidados, que devam
convergir com outros ramos das ciências humanas, para que uma teoria mais geral
possa por fim emergir e que pudesse autorizar uma extrapolação para a cultura
humana. H á pouco a dizer a respeito de tal posição prudente, modesta e respeitosa.
M as ela pode conter mais risco, de fato, que a visão oposta. Isso porque algumas
situações não podem ser resolvidas se ninguém assume o risco de interferir com
qualquer que seja a informação limitada disponível. Talvez as possibilidades de
sucesso sejam mais limitadas, mas a certeza de desastre é total se nada for feito.
Para quem opta por adiar a ação, pode-se perguntar: em que ponto, em qual ní­
vel de informação, você achará conveniente por em prática o conhecimento científico
sobre o comportamento nos assuntos humanos? Deveriam os estudantes do com por­
tamento seguir sua pesquisa básica indefinidamente e ver o que acontece? Nesse meio
tempo, os problemas terão piorado e o mundo continuará a mudar sob a influência
de outras ciências que náo têm a mesma preocupação com o mau uso de suas tecno­
logias. A medicina moderna progrediu em passos curtos, reduzindo as infecções com
hábitos triviais de higiene antes de os antibióticos serem descobertos. Seria melhor ter
esperado por Flem ing antes de recomendar que os cirurgiões, obstetras e enfermeiras
lavassem as suas máos?
Para outros, a decisão de náo se engajar em aplicações da psicologia aos assun­
tos humanos náo é temporária, é definitiva. Eles sustentam que a distância entre o
conhecimento científico e a complexidade da vida social nunca será preenchida. A
ciência pode observar, descrever, talvez explicar, mas nada mais: a história hum ana
escapa de toda predição ou controle, incluindo o controle cientificamente funda­

INDEX
mentado. Essa posição contemplativa é amplamente difundida entre os psicólogos
atuais. Ela tem múltiplas origens, que não irei comentar aqui. É suficiente apontar
para uma de suas consequências. Ela alimenta um ramo que vem ganhando força
nos últimos anos, que é oposto à aventura científica e, de forma mais geral, aos
esforços humanos em direção à racionalidade. Nessas linhas, a oposição à aplicação
do conhecimento científico à vida social não é que nosso conhecimento atual é insu­
ficiente, mas que o conhecimento científico é perigoso (e quanto mais desenvolvido,

BOOKS
mais perigoso).
Ninguém negaria que o progresso na ciência indiretamente trouxe uma série de
dificuldades imprevistas (embora nem sempre imprevisíveis). Mas não há qualquer
indicação de que elas serão resolvidas se dermos as costas para a ciência. A ciência
poderia também ser o único caminho. D e qualquer m odo, ela teve um papel pe­
queno no direcionamento das questões humanas. Devemos nos satisfazer com esse
estado de coisas? Devemos

GROUPSprosseguir, como fizemos no passado, com o que aprendemos


a partir da experiência pessoal ou daquelas coleções de expe­
riências pessoais chamadas de história, ou com as destilações
da experiência encontrada na sabedoria popular e nas leis prá­
ticas da experiência? Elas estiveram disponíveis por séculos e
tudo o que temos para mostrar por elas é o estado do mundo
de hoje.*50

Skinner não hesita entre escolher a ciência ou evitar sua aplicaçáo, com o ex­
presso no seguinte texto, que é uma resposta à acusação de supersimplificação:

300 Id. ibid., p. 4.


A interpretação do complexo mundo das questões humanas
em termos de uma análise experimental é, sem dúvida, com
frequência supersimplificada. Pretensões foram exageradas e
limitações negligenciadas. Mas a supersimplificação realmente
grande é o tradicional apelo aos estados mentais, sentimentos
e outros aspectos do homem autônomo que a análise do com­
portamento está substituindo. A facilidade com que explica­
ções mentalistas podem ser prontamente inventadas talvez
seja o melhor indicador de quão pouca atenção deveríamos
dar a elas. £ o mesmo pode ser dito das práticas tradicionais.
A tecnologia que emergiu da análise experimental deveria ser
avaliada apenas em comparação com o que é feito de outras
maneiras. O que, afinal de contas, temos para mostrar para o

INDEX
bom senso pré-científico ou não científico, ou para o senso
comum, ou para os insights obtidos na experiência pessoal?
E a ciência ou nada, e a única solução para a simplificação é
aprender a lidar com as complexidades.
Uma ciência do comportamento ainda não está pronta para
resolver todos os nossos problemas, mas é uma ciência em
progresso e sua adequabilidade final não pode ser julgada nes­

BOOKS
te momento. Quando as críticas afirmam que ela náo pode
explicar este ou aquele aspecto do comportamento humano,
geralmente subentende-se que ela nunca estará pronta para
isso, mas a análise continua a se desenvolver e está de fato
muito mais avançada do que seus críticos em geral imaginam.
O importante não é tanto como resolver um problema, mas
sim como buscar a solução, Os cientistas que apresentaram ao
presidente Roosevelt uma proposta de construir uma bomba

GROUPS
tão poderosa que acabaria com a Segunda Guerra Mundial em
poucos dias não poderiam afirmar que sabiam como construí-
-la. Tudo o que poderiam dizer era que sabiam como descobrir.
Os problemas comportamentais a serem resolvidos no mundo
atual são sem dúvida mais complexos do que o uso prático da
fissão nuclear e a ciência básica, de forma alguma tão avança­
da, porém sabemos onde começar a buscar as soluções.30'

Vamos supor que falta seriedade nos fundamentos científicos defendidos por
Skinner ou que, na melhor das hipóteses, eles não autorizem de form a sensata as

301 Id. ibid., p. 16 0 -16 1.


concepções de humanidade e sociedade provenientes deles. C om o avaliaríamos,
neste caso, seus textos sociofilosóficos? Vários críticos de Skinner propuseram vê-los
com o peças de uma argumentação pseudocientífica em favor do regime estabeleci­
do. Essa interpretação é dificilmente sustentada após uma leitura honesta dos textos.
Q uantos americanos, especialmente os intelectuais, logo após a Segunda Guerra,
se aventurariam a questionar seu sistema político e sua sociedade com o Skinner fez
em Walden Twoí Q ue partido político assumiria o risco de propor a seus membros
uma reflexão sobre Beyondfreedom and dignity sem expor a si mesmo a críticas in­
ternas insuportáveis? N ão encontramos mais nenhum fundam ento para a acusação
contrária de corromper os valores básicos da sociedade americana — lembrem-se
da opinião de Spiro Agnew, citada no capítulo i. As razões pelas quais as visões de
Skinner foram tão fortemente atacadas ou tão obstinadamente ignoradas devem ser
encontradas no fato de que elas não se encaixam facilmente nas categorias políticas

INDEX
e ideológicas com uns.
A filosofia social de Skinner estava, segundo sua própria visão, ancorada no
conhecimento científico, com todo o relativismo que isso implica. C om o tal, ela
era discutida muito estritamente dentro da teoria psicológica que ele havia desen­
volvido e apresentada com o uma tentativa, sujeita à revisão, com o qualquer outra
empreitada cientificamente baseada. Também foi a resposta para a ansiedade nas­
cida da observação de nossa sociedade, afluente com o é, mas incapaz de lidar com

BOOKS
problemas importantes, em bora eles tenham sido claramente identificados. Skinner
não era ingênuo o bastante para acreditar que suas ideias poderiam, algum dia, ser
completamente implementadas na vida real. Todavia, de fato esperava que as pessoas
fossem suficientemente inteligentes, numa época em que a ciência é aparentemente
m uito adorada, para aplicar parte de sua mensagem. Ele teria ficado muito feliz ao
menos com alguns testes experimentais, na vida real, de algumas de suas sugestões.
Um de seus últimos artigos revelou, ao invés disso, desencanto. Podemos apenas
reproduzir a pergunta que ele usou com o título: Por que não estamos agindo para
salvar o mundo?
GROUPS
CONCLUSÃO

Este livro pretende ser uma introdução ao trabalho de Skinner. Agora é tem­
po de os leitores explorarem a rica produção do últim o behaviorista, como alguns
insistem em chamá-lo. Espero que as apresentações simplistas das contribuições de
Skinner para a psicologia deem lugar a uma avaliação mais equilibrada. O argumen­

INDEX
to, ao longo dos capítulos precedentes, foi abundantemente ilustrado com citações
dos textos de Skinner, que transmitem pensamento rigoroso e sutil, frequentemente
provocativo, e, quando se volta para questões sociais, francamente generoso. Isso
está em contraste, é claro, com as afirmações depreciativas de críticos influentes que
caracterizam a escrita de Skinner com o destituída de conteúdo científico, obsoleta,
ou socialmente perigosa. N ão há nada a se ganhar com a condenação, com tais
juízos simplificados, de um cientista cujo lugar na história da psicologia não pode

BOOKS
ser negado. Se ele estava errado (e, em ciência, de certo modo ninguém afirmaria
estar completamente ou definitivamente certo), isso pode ser discutido apenas ao
examinar de perto o que ele escreveu e fez. Espero que o leitor esteja agora mais bem
preparado para realizar uma análise não enviesada daquilo que Skinner tinha em
mente e revelado em seu com portam ento verbal explícito.
Acho mais importante que psicólogos, especialmente jovens psicólogos, co­
loquem seu trabalho atual em perspectiva e desenvolvam a consciência das raízes
históricas de sua área. M uito frequentemente, com o observei anteriormente, os

GROUPS
psicólogos estão inclinados a considerar o presente com o uma época excepcional
de avanço evolutivo. Talvez os psicólogos de todas as gerações tenham o mesmo
sentimento, os discípulos de Skinner não sendo exceção. Sem dúvida, a psicologia
atual é animadora e certamente eu náo desencorajaria aqueles que estão nessa ciência
fascinante a aproveitá-la. C ontudo, isso não pode impedir, mesmo que seja apenas
pela exatidão científica, um a avaliação correta de seus vínculos com o passado.
C om relação a Skinner, isso significa tom ar sua contribuição com o aquilo que
ela foi —isto é, um importante passo na construção da psicologia moderna, ao invés
de um obstáculo ao seu desenvolvimento.
C o m o um membro do movim ento behaviorista, Skinner participou da aus­
teridade metodológica que contribuiu para o novo exame das questões que a psi­
cologia introspectiva, na virada do século X X , havia levado para becos escuros.
C om o principal representante do behaviorismo radical, que elaborou os princípios
behavioristas básicos até suas consequências lógicas extremas, ele poderia levar o
mérito de ter apresentado, às críticas de seus oponentes, posições bem claras contra
as quais argumentar e sobre as quais eles poderiam talvez construir e lapidar sua
própria contrateoria. A autoconfiança e o entusiasmo deles não deveriam, entretan­
to, esconder o fato de que muitas das questões às quais Skinner devotou seus textos
teóricos e metodológicos não estão definitivamente solucionadas pelas tendências
contemporâneas que adotaram uma postura oposta. O status dos eventos mentais,
do propósito e da intencionalidade, das relações entre cérebro, com portam ento e
mente, ainda não foi elucidado de uma vez por todas: estas e muitas outras questões
ainda permanecem entre nós, e podem permanecer ainda por algum tempo, mesmo
que, admitidamente, algum progresso tenha sido feito tecnicamente. As formulações
de Skinner permanecem como um material bom e firme para aqueles que preferem

INDEX
uma abordagem aprofundada de questões difíceis a afirmações autossatisfatórias de
suas próprias crenças.
C om o um notável experimentador, Skinner proporcionou ao laboratório psi­
cológico procedimentos de múltiplos propósitos sem precedentes e foi um pioneiro
na automatização do controle experimental, muito antes de os computadores pes­
soais se tornarem o aparelho popular de hoje. C o m o os avanços técnicos têm um
papel crucial no progresso de uma ciência e com o a “ Caixa de Skinner” penetrou

BOOKS
nos laboratórios em uma variedade de especialidades comportamentais e biológicas,
o atual estado dos estudos comportamentais devem algo a Skinner.
Em bora se pudesse ter estendido o exercício para outros cientistas e outras es­
colas de pensamento, o paralelo que fizemos com Pavlov, Freud, Piaget e Lorenz
esclareceu um pouco as relações entre a obra de Skinner e alguns dos maiores ra­
mos da psicologia europeia no século X X . O s comentários sobre as concepções de
Skinner se reservaram, via de regra, de forma muito limitada, a mantê-lo dentro da

GROUPS
constelação behaviorista, com pouca atenção às suas singularidades em comparação
a outros behavioristas e negligenciaram completamente as convergências explícitas
ou não com outras tradições. Encontram os um pensador menos próximo a Pavlov
do que geralmente se imagina; um admirador de Freud, embora radicalmente crítico
de algumas das visões dos psicanalistas; surpreendentemente convergente com Piaget
naquilo que poderia ser chamado de selecionismo interacionista; muito aberto às
objeçóes de Lorenz à sua própria explicação do comportamento. Apesar de, em certo
sentido, ter seguido sua linha com um a obstinação sistemática, Skinner continuou
a investigar territórios do conhecimento que outros estavam explorando ao mesmo
tempo, embora sob um ângulo diferente. A o invés do pensador ultrapassado pintado
por alguns de seus oponentes, encontramos um precursor cujo defeito, em algumas
questões, era estar à frente de seu tempo. Isso é especialmente verdade em relação à
sua contribuição para o estudo do com portam ento verbal, que, paradoxalmente, foi
o mais violentamente atacado como irrelevante ou obsoleto e era, portanto, indire­
tamente, uma das causas de seu descrédito.
Tendo feito esse balanço, poderia se questionar em que m edida as contribui­
ções de Skinner para a psicologia sobreviverão. N inguém , é claro, pode predizer
isso. Se adotamos uma visão cumulativa de ciência, ao invés de enxergá-la como
uma sucessão de revoluções destrutivas, podemos ter certeza de que suas contri­
buições técnicas permanecerão como parte das ferramentas metodológicas dos
psicólogos. Esperaríamos também um adequado reconhecimento histórico de sua
contribuição teórica para o progresso da ciência psicológica, após o triunfalismo de
algumas escolas de pensamento contemporâneas ter se acalmado. Se os psicólogos
do futuro retomarão algumas premissas da teoria de Skinner com o fonte de inspira­
ção - com o C hom sky recorreu à gramática de Port-Royal, ou com o Fodor recorreu
a G all - é uma outra questão; a resposta dependerá, entre outras coisas, da evolução

INDEX
dos debates atuais nas ciências cognitivas e nas neurociências e, mais especificamen­
te, da resolução das contradições persistentes na questão mente-cérebro.
O futuro da filosofia social de Skinner é uma outra questão. Em bora seus
principais livros nessa linha tenham sido best-sellers por algum tempo e, com o tais,
produziram discussões animadas, principalm ente em jornais e revistas, eles de fato
nunca receberam atenção de especialistas em ciência política, social e econômica.
N em foram tomados, ao menos explicitamente, com o fonte de inspiração por po­

BOOKS
líticos. N a visão de muitos, este é o destino que eles merecem. Lendo-os de forma
honesta e cuidadosa, nosso sentimento foi muito diferente, e esperamos que o leitor
compartilhe, se não as ideias de Skinner, nossa curiosidade pelo que elas realmente
são. Adm itidam ente, os problemas do mundo de hoje são muito complexos para
se esperar que sua solução esteja em algumas centenas de páginas escritas por um
psicólogo. M as a inadequação flagrante das ações tomadas e das soluções propostas
nos convidam , mais do que nunca, a olhar para elas de uma maneira diferente, nova.
Nessa busca, a abordagem de Skinner ainda precisa ser explorada. N ão iremos resu­

GROUPS
m ir a apresentação que fizemos de Walden Two> Beyondfreedom and dígnity e outros
textos nos últimos capítulos deste livro. E suficiente apontar um importante aspecto
da mensagem de Skinner, que é metodológica ao invés de ideológica: se realmente
quisermos solucionar os problemas sociais, devemos olhar para os próprios proble­
mas e não, com o os políticos fazem nas nossas sociedades modernas, como parte do
poder que eles podem ganhar ou perder ao tom ar determinada atitude. Para a de­
mocracia sobreviver, ela deve se engajar em abordagens mais racionais —deveríamos
dizer experimentais? - aos problemas que ela enfrenta, ela deveria se tornar definiti­
vamente centrada no problem a e não centrada em partidos ou personalidades. Isso
certamente simplificaria a tarefa. Afinal de contas, a visão de m undo de um cientista
visa essencialmente a tornar as coisas mais simples para que possamos entendê-las
melhor e agir mais eficientemente sobre elas. Isso pode ajudar algumas vezes.
Deixem os as últimas palavras a Skinner. A primeira citação é de seu artigo
sobre “ Walden Two revisited” e enfatiza mais uma vez a preocupação com o futuro
das gerações vindouras. A segunda é de um artigo intitulado “ H um an behavior and
democracy” e é sobre contracontrole, que sabemos ser a questão central em nossas
atuais democracias.

Agora se reconhece amplamente que mudanças maiores


devem ser feitas no [nosso] modo de vida, Não apenas não
podemos encarar o resto do mundo enquanto consumimos e
poluímos dessa forma, não podemos por muito tempo enca­
rar a nós mesmos enquanto temos conhecimento da violência
e do caos em que vivemos. A escolha é clara: ou não fazemos
nada e permitimos que um futuro miserável e provavelmente

INDEX
catastrófico nos atinja ou usamos nosso conhecimento sobre
comportamento humano para criar um ambiente social em
que vivamos vidas produtivas e criativas e fazemos isso sem
por em risco as chances de que aqueles que nos seguirem serão
capazes de fazer o mesmo.3“

Sem dúvida continuarão a existir agências governamentais e

BOOKS
econômicas, organizações e instituições, porque elas têm suas
funções próprias, mas não lhes deveria ser dada concessão
exclusiva. Um ambiente social funciona com mais sucesso,
pelo indivíduo, pelo grupo e pela espécie se, na medida do
possível, as pessoas controlam diretamente as pessoas.303

GROUPS

302 D e Reflections on behaviorism a n d society (id., 1978, p. 66). Reim presso <ie um novo prefácio a uma nova impressão de Walden
Two de 1976. A palavra entre colchetes substitui “americano” .
303 Id. ibid., p. 15. Reimpresso de Psychology Today, setembro de 1977.
ÍNDICE REMISSIVO

A
Ação 28, 29, 47, 65, 67, 99, 100, 102, 103, 104, 10 5,119 , 120, 12 1,12 5 ,12 7 , i32> ^ 4. 142,
143, 144, 154, 157, 161, 162, 167, 16 8 ,16 9 ,17 0 , 17 1,17 2 , 173, 175, 189, 194, 203, 2ii, 213, 214,
215, 238, 239, 241, 249, 253, 257

INDEX
Ação política 211, 214, 215, 253
Ação seletiva 10 0 ,10 3 ,10 4 ,12 0 ,12 1,12 7
Acomodação 101
Adição 51, 53, 92,186» 189
Adição à droga 186
Afetividade 225
Agente interno 236

BOOKS
Ambiçóes literárias 33
Ambientalismo 29, u i, 151
Ambiente social 31,14 0 ,159 , 186,187, 242, 264
Análise experimental 15, 78, 79, 82, 134,183, 211, 259
Análise formal 150
Análise funcional 15 0 ,15 1,15 2 ,15 4 ,15 5 ,15 7 ,16 1,17 3 ,18 5 ,18 6
Analogia evolucionária 68,102, 106, 119 ,12 0 ,12 1,12 2 ,12 3 ,12 5 ,12 7 ,17 6
Antecipação 28, 171, 252, 253
Antimentalismo
Aparato mental
Aparato psíquico
28
77, 81, 83, 84,184
130,183
GROUPS
Aplicação 35, 36, 4 3 ,10 0 ,13 7 ,14 1,15 8 ,18 9 , 257, 258
Aprendizagem 25, 36, 37, 63, 6% 66, 68, 70, 72, 73, 75, 80, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 96,
98, 99,100, io i, 10 6 ,10 7, u i, 115 ,12 2 ,12 4 ,12 5 ,12 6 ,12 7 ,13 3 ,13 4 ,13 5 ,14 2 ,15 8 ,15 9 ,16 5 ,17 0 ,
17 4 ,17 5 ,18 4 ,19 5 ,19 6 ,19 7 ,19 8 ,19 9 , 200, 201, 202, 204, 206, 209, 221, 223, 244
Aprendizagem instrumental 65
Aprendizagem sem erros 198,199
Aquisição de linguagem 150
Argumentação 97, 161, 260
Armas nucleares 41
Arte 3 3 ,12 1,17 0 ,17 6 ,17 7 ,17 8 , 208, 219, 220, 222, 232, 247, 248, 257
Artificial 45, 63, 236
Aspectos 12 ,15 , 23, 24, 26 , 27, 28, 31, 34, 43, 44, 59, 75, 7 6, 77, 81, 92, 93, 96, 9 8 ,10 0 ,112,
115 ,116 ,12 2 ,12 3 ,12 5 ,12 9 ,13 2 ,13 3 ,13 7 ,14 0 ,15 2 ,15 5 ,15 9 ,16 0 , 161, 16 2 ,16 4 ,16 6 ,17 0 ,17 1,17 2 ,
173,175, 18 3,19 2,19 7,19 8 , 200, 2oi, 204, 205, 216, 217, 218, 225, 227, 231, 236, 243, 253, 259
Assimilação 101
Assuntos humanos 25, 84,144, 256, 258
Ataques pessoais 38
Autobiografia 31, 40, 7 6, 97, 235
Autoclítico 153
Autoconhecimento 140
Autoconsciência 14 0 ,14 1
Autocontrole 77,136

INDEX
Autodescrição 80
Autoestima 191, 2 15 ,14 0
Autoestimulação (intracerebral) 53
Autoinstruçóes 189
Autonomia 118 ,13 6 ,14 4 ,19 3, 222, 240, 241, 245, 247

BOOKS
Behaviorismo metodológico 131,135
Behaviorismo radical - Comportamentalismo radical 2 7 ,10 3 ,1 06 , 10 8 ,10 9 ,112 ,12 9 ,13 0 ,
131, 262
Berço 39
Biologia 89,102, u i, 112 ,119 ,12 0 ,12 2 , 249, 251, 256

c
Caixa-preta 112 ,113 ,115 ,118
Campo de concentração
Carga genética
Casamento
89
224, 226, 229
GROUPS 21, 213, 214

Causaçào 3 4 ,10 7 ,13 4 ,13 6 ,14 1,17 1, 238


Cérebro 53> 64, 78, 84,109, m , 112 ,113 ,115 , i i 6 , 117, i i 8 , 123, 12 5,126 ,136 , 142,155,156,
158, 262, 263
Ciência n , 12 ,13 ,19 , 20, 22, 25, 26, 27, 28, 31, 33, 41, 43, 44, 67, 77, 89, 95, 9 7,10 0 , 101,
112 ,114 ,116 ,117 , i i 8 > 12 0 ,12 2 ,12 3 ,12 8 ,12 9 ,13 0 ,13 1,13 2 ,13 3 ,13 4 ,13 6 ,13 7 ,13 8 ,13 9 ,14 1,14 3 ,

14 4 ,15 1,15 5 ,16 0 ,16 6 ,17 0 ,17 4 ,17 5 ,17 8 ,19 9 , 208, u i , 215, 219, 220, 236, 248, 250, 253, 257,
258, 259, 260, 261, 262, 263
Ciúme 225,226
Civilização 85, 89, 211, 249, 251
Classificação nosológica 185, 186
Cognição 54, 55, 8 3 ,10 9 ,12 5 ,13 7 ,13 8 ,16 5 ,16 6 ,17 5 , 236
Cognição animal 54, 55
Cognitivismo 11, 23, 27, 29, 82, 83, 8 4 ,112 ,118 ,12 9 ,13 0 ,13 1,13 2 ,13 3 ,13 4 ,13 5 ,13 6 ,13 7 ,13 8 ,
13 9 ,14 1,14 2 , 14 3 ,144>147’ 172» 173»Í74
Cognitivismo epistemológico 83, 8 4 ,118 ,13 4 ,13 5 ,13 9 ,14 1,14 4 ,17 3
Cognitivismo ético 8 4 ,136 ,14 4
Cognitivismo institucional *37
Cognitivismo metodológico 133,138
Cognitivismo radical+A89 134,135,136
Cognocientistas 137
Competência 58, 59 ,13 1,15 4 ,15 5,15 6 ,15 7 , 200, 218, 231, 232, 251
Competência linguística 155,156

INDEX
Competição 219, 223, 251
Complexos 2 6 ,10 1,16 6 , 184, 227, 241, 259, 263
Comportamento 13, 15,19 , 20, 25, 26, 27, 28, 29, 33, 34, 35, 36, 37, 40, 41, 43, 44, 45, 46,
47, 48, 49, 50, 58,59, 63, 65, 66, 67, 68, 73, 75, 76, 77, 78, 79, 8o, 81, 82, 83, 84, 87, 88, 89,
90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 98, 9 9 ,10 0 ,10 1,10 2 ,10 3 ,10 4 ,10 5 ,10 6 ,10 7 , u i, 112 ,113, 114 ,115,
116 ,117 ,118 ,119 ,12 0 ,12 1,12 3 ,12 5 ,12 6 ,12 7 ,12 8 ,12 9 ,13 0 ,13 1,13 2 ,13 3 ,13 4 , 135,136, 137,138,
139,140, 141,14 3, 144, 145, 146, 147,150 , 152, 153, 154,155, 157,158,159, 160, 161, 163, 165,

BOOKS
16 6 ,16 7 ,16 8 ,16 9 ,17 0 ,17 1,17 2 ,17 3 ,17 4 ,17 5 ,17 6 ,17 7 ,17 8 ,18 3 ,18 4 ,18 5 ,18 6 ,18 9 , 190,192,
193, 194, 198, 203, 208, 209, 211, 236, 238, 240, 242, 243, 245, 246, 247, 250, 252, 253, 254,
255, 258, 259, 261, 262, 264
Comportamento adjundvo 94
Comportamento agressivo 95,186
Comportamento animal 25, 27, 29, 84, 87, 89, 92, 96, 100, 115, 119 ,129 , 147
Comportamento anormal 37, 183, 184, 186
Comportamento autodescritivo 141
Comportamento criativo
Comportamento de consumir
Comportamento desviante 242
GROUPS
12 1,17 6 ,17 7 , 208, 209
238

Comportamento ecoico 153


Comportamento específico da espécie 89, 92, 9 4 ,12 3 ,12 6
Comportamento espontâneo 45, 104
Comportamento estereotipado 68
Comportamento governado por regras 170, 17 1,17 2 , 175
Comportamento humano 25, 26, 33, 34, 35, 40, 41, 75, 76, 77, 99, 119, 183, 211, 253, 259,
264
Comportamento intencional 133
Comportamento interno 131
Comportamento modelado pelas contingências 170, 171, 175
Comportamento operante 44, 68, 73, 88, 107, 12 0 ,121, 127, 16 8,177
Comportamentos p recorrentes 169, 175
Comportamento verbal 13, 35, 80, 131, 141, 145, 146, 147, 150, 152, 153, 155, 157, 158, 159,
160, i6 i> 16 3 ,16 5 ,16 7 ,17 1, 211, 261, 262
Comunicação 159,207
Comunidade linguística 158,159
Condicionamento 19, 20, 34, 39, 43, 45, 51, 53, 57, 63, 64, 65, 66, 68, 72, 73, 88, 90, 91,
9 3 ,10 1,10 4 ,113 ,119 ,17 6 , 206, 220
Condicionamento operante 19, 20, 34, 43, 45, 51, 53, 63, 64, 65, 66, 72, 73, 93, 101, 104,
113,119
Condicionamento respondente 65, 72
Condicionamento tipo II 72

INDEX
Conduta 27, 41, 77, 78, 80, 82, 84, 96,129, 136, 139 ,14 7,150 , 212, 234, 236, 247
Conexionismo 143
Conflitos 37, 8 4 ,13 4 ,17 6 ,18 4 , 225, 227, 249
Conhecimento 25, 33, 41, 79, 84, 9 8 ,10 1,10 4 ,10 5 ,113 ,115 ,12 3 ,12 4 ,13 1,14 1,14 3 ,14 4 ,14 9 ,
164, 168, 170, 171, 174 ,19 6 , 202, 203, 204, 211, 215, 236, 238, 242, 247, 248, 253, 257, 258,
260, 262, 264
Conhecimento científico 41, 124, 131, 202, 248, 257, 258, 260

BOOKS
Consciência 22, 24, 77, 79, 84, 87, ioo, 115, 125, 135, 136, 140 ,157, 168, 17 1,17 5 ,17 6 , 211,
217, 239, 244, 261
Consequências 19, 40, 45, 63, 65, 121, 127,146 , 17 1,17 3 ,19 2 ,19 6 , 202, 207, 218, 225, 226,
227, 233, 236, 237, 241, 242, 252, 254, 255, 256, 258, 262
Consequências de longo prazo 252
Consequências remotas 171
Consumo 92, 95, 217, 242, 245, 247, 248

GROUPS
Contexto 11,12 ,14 , 22, 32, 64, 66, 67, 83, 87, 91, 9 3 ,10 1,10 2 , n 2, 118 ,120, 123, 125, 129,
13 1,14 3 ,15 1,15 2 ,15 3 ,15 6 ,15 9 ,16 0 ,16 4 ,17 0 ,17 3 ,17 5 ,17 8 , 18 6 ,19 5 ,19 6 ,19 7, 219, 227, 242,
244, 251, 257
Contingências aversivas 186
Contingências de longo prazo 252, 253
Contingências de reforçamento 36, 46, 47, 67, 79, 209, 256
Contracontrole 196, 253, 254, 255, 256, 264
Contrato 191
Controle 9 ,19 , 20, 26, 38, 44, 45, 48, 49, 63, 67, 68, 80, 83, 91, 9 2 ,117 ,12 7 ,12 8 ,13 6 ,14 4 ,
16 8 ,17 1, 176, 186, 190, 19 1,19 2 ,19 3 ,19 4 ,19 6 , 203, 206, 222, 224, 227, 232, 238, 239, 241,
242, 243, 244, 245, 246, 247, 248, 249, 250, 252, 253, 254, 255, 256, 258, 262
Controle aversivo 186, 249
Controle experimental 26, 9 1,117 ,12 8 , 262
Controle pelas consequências 19, 45,127
Controles sociais 192
Cooperação 223
Cópia 9 9 ,10 4 ,14 2 , 144
Crença 20, 21, 41, 77,139 , 148, 1 7 1 , 173, 174, 200, 203, 209, 236, 244, 245
Crescimento demográfico 41, 239
Criacionismo 132
Criatividade 68, 70 ,10 9 , 147, 17 6 ,177, 200, 208, 209, 211, 220
Críticas 20, 22, 23, 24, 27,40, 47, 68, 9 5 ,111,112 ,13 3 ,13 5 ,14 5 ,14 6 ,14 7 ,16 2 ,18 9 , 203, 224,
243, 256, 259, 260, 262
Cronobiologia 57
Cronometria mental 43, 44
Cultura 20, 2i, 22, 26, 38, 80, 90, 122, 170, 171, 177, 196, 203, 207, 208, 209, 219, 220,

INDEX
224, 22y, 237, 247, 249, 250, 251, 252, 254, 257

D
Darwinismo 119, 122
Deficiência mental 188
Déficits sensoriais 50
Definição de objetivos 205

BOOKS
Democracia 232, 233, 246, 263
Descentração 169
Desenvolvimento 13, 25, 36, 50, 51, 57,58, 59, 70, 72, 88, 89, 92, 95, 9 9 ,10 0 ,10 1,10 3 ,10 6 ,
10 7 ,112 ,114 ,116 ,12 3 ,12 4 » 12 5 ,12 6 ,14 0 ,15 7 ,15 9 ,16 0 , 161, i6z, 16 3 ,16 4 , 1 7 7 , 18 6 ,19(3, 200,
212, 227» 228> 24O, 26i
Desenvolvimento cognitivo 59, 9 9 ,10 0 ,10 7 , 212
Desordens 81, 183, 18 5,18 7,18 9 ,19 1
Desordens psicológicas/distúrbios psicológicos 183, 187, 189, 191
Despotismo
Determinismo
Detratores 39
253
126,147, 236
GROUPS
Diferenças individuais 197, 202, 203, 206
Dignidade 20, 21, 235, 242, 243, 24 6> 247, 254
Discriminação 49
Diversidade 64, 67, 88, 89, 123,125, 126, 177, 206, 207, 208, 210, 220, 250, 251
Doenças mentais 185, 187
Droga 50, 51, 53, 54,186, 242
Drogas psicotrópicas 50,185
Dualismo 118, 136
E
Economia de fichas 188
Educação 13, 36, 37, 38, 40, 7 8 ,10 0 ,14 4 ,17 6 ,19 5 ,19 6 ,19 8 ,19 9 , zoo, 202, 203, 204, 205,
206, 207, 209, 210, 211, 216, 220, 221, 222, 223, 224, 225, Zl 6, 2 2 J , 2 } 2 , 245, 253
Emancipação das mulheres 229
Emoção 35, 8 3 ,13 7 ,13 8 ,15 4 ,17 1
Empirismo 105, 126
Enação 143
Engenharia comportamental 188
Engenharia genética 187
Entidades mentais 78, 8 1,119 , 183
Epistemologia 10 3 ,12 3 ,14 3 ,16 7
Escola (sistema escolar) 11,12 ,19 , 26, 29, 32, 37, 75, 81, 8 9 ,10 0 ,10 3 ,12 9 ,13 0 ,13 4 ,14 2 ,14 3 ,

INDEX
162,195, 196,197, 200, 201, 202, 203, 204, 205, 206, 221, 222, 228
Esgotamento de recursos 41
Esquema de intervalo fixo 94
Esquema de razão 53
Esquemas/escalas de reforçamento 48, 88, 252, 256
Estabilização seletiva 125
Estados internos 5 0 ,5 2 ,115 ,13 0 ,14 0

BOOKS
Estados mentais 26, 52,119 ,129 , 130 ,14 0 ,14 7 , 246, 259
Estável 39, 68,157
Estereotipia 66
Estímulo 24,30, 44, 4 6, 48,50, 51,55, 56, 63,64,65, 8 8 ,9 2 ,9 9 ,10 3 ,10 4 ,113 ,114 ,116 ,13 2 ,
13 3 ,13 4 ,14 9 ,15 8 ,16 1,16 2 ,17 5
Estímulos discriminativos 169, 175
Estrutura 29, 45, 47, 92, 9 9 ,15 0 ,151,153 ,18 6 , 227, 228, 249, 253
Estruturalismo 99
Estruturas profundas
Estudos com sujeito único
GROUPS
146,155
193
Etologia 13, 27, 38, 47, 87, 90, 92, 93, 96, ioij 123,126 ,135
Eventos internos 2 8 ,116 ,13 1,14 0
Eventos mentais 28, 29, 135,139, 173, 262
Eventos observáveis 28
Eventos privados 140
Evitação 46
Evolução 12, 24, 38, 45, 67, 81, 87, 90, 92, 93, 94, 95, 96, 99, 101, 102, 106, 107, 119, 120,
12 2 ,12 3 ,12 4 ,12 6 , 13 1,13 3 ,15 1,15 4 ,15 7 ,16 0 ,16 1,17 7 , 208, 224, 225, 228, 242, 244, 248, 249,
250, 251, 254, 263
Evolução biológica 45, 67, 93, 94, 95, 96, 10 1,10 7 ,119 , 120,122, 177, 251
Evolução cultural 122, 126
Expert 8 4 ,118 ,135,16 5, 206
Exploração 9,50, 6 8 ,131,19 9 , 233, 234
Explosão populacional 239
Extrapolação 8 7 ,14 7 ,15 0 , 257

F
Fala subvocal 98, 167
Família 32, 224, 226, 228, 230
Fascismo 233
Fatores biológicos 187,188, 242
Fenocópia 10 2,10 6
Fenomenologia 236

INDEX
Ficções explicativas 29,130
Filogenia 93
Filosofia social 12 ,19 , 43, 211, 249, 254, 260, 263
Fisiologia 25, 8 7 ,113 ,1 14 ,115 ,1 16 ,11 7 ,1 18 ,1 2 9 ,1 3 1
Fome 28, 239
Frenologia 163
Fuga 46, 6 5,18 6 ,19 1, 240, 241, 243

BOOKS
Função 28, 37,53, 56, 57, 7 2 ,15 2 ,15 4 ,15 9 ,16 0 ,16 7 ,17 0 ,18 6 ,19 2 » 196, 217, 225, 252, 255
Função conativa 160
Função pragmática 160
Funcionalismo 118
Futuro (da sociedade) 12 0 ,16 1,17 0 ,17 1,17 7 ,18 6 ,18 7 ,19 5 , 203, 206, 214, 239, 247, 248,
251, 252, 263, 264

G
Generalidade entre espécies
Gênio 38,209
Geradores de diversidade
88

125,126
GROUPS
Governo 21, 215, 220, 232, 233, 244» 245, 256
Gramática generativa 149, 152,155,156
Grupo de Yale 75, 79, 81
Guerra 214, 245, 259, 260

H
Habilidades motoras 143,154
Heresia 243
História (do pensamento científico) 12, 29, 31, 32, 37, 39, 40, 43, 67, 80, 81, 82, 83, 94,
95, 96, 9 9 ,10 1, 102, 107, 112 ,113 , 115, 117, 118 ,119 ,12 0 ,12 2 ,12 3 ,13 1,13 4 ,14 3 , 144, 151, 152,
153, 163, 169, 172, 177, 178, 184, 191, 192, 222, 224, 236, 237, 240, 241, 243, 247, 251, 252,
255, 258, 261
Holocausto nuclear 239
Homúnculo 144

I
Identificação 9 5 ,111,15 9 ,19 6 , 227
Ideologia 21, 203, 211, 215, 231
Uocução 160
Imagens mentais 55, 57
Individualidade 251

INDEX
Infância 32
Inovação 217
Instrução programada z$, 196,199, 200
Inteligência 29, 101, 14 9 ,16 5 ,17 2 ,17 3 , 236
Intenção 12 ,115 ,119 ,12 0 ,13 6 ,13 9 ,16 6 ,17 2 ,17 3 , 204, 218, 232
Intencionalidade 160,262
Interacionista 29,262

BOOKS
Intemalização 131, 231, 244
Interpretações equivocadas 23, 68,103,145, 206
Introspecção 26, 79,129

J
Jogadores (gamblers) 209, 238

L
Lazer
Lei do efeito
Liberdade
65 GROUPS
33, 216, 218, 219, 220, 232, 248

20, 21, 22,41, 6 5 ,7 8 ,9 1,10 2 ,12 6 ,19 0 ,19 1, 214, 229,233,234,235,237, 238, 239,
240, 241, 242, 243, 244, 245, 246, 247, 248, 251, 253, 254, 255, 256
Libido 250
Limiares de vibração 50
Limiares diferenciais 49
Linguagem 47,55,59, 63, 6 4 ,10 1,10 2 ,10 9 ,12 0 ,13 6 ,14 0 ,14 1,14 3 ,14 5 ,14 6 ,14 7 , 150,151,
15 2 ,15 3 ,15 4 ,15 5 ,15 6 ,15 7 ,15 8 ,15 9 ,16 0 ,16 1,16 2 ,16 3 ,16 4 ,16 5 ,16 6 ,16 9 ,17 0 ,17 1,17 5 , 252
Linguística 77, 8 2 ,10 1,14 0 ,14 3 ,14 6 , T49,15 1,15 2 ,15 4 ,15 5 ,15 6 ,15 7 ,15 8 ,15 9 ,16 0 ,16 1,16 4
Literatura 29, 33, 34, 35, 38, 81, 9 0 ,13 9 ,17 6 ,17 8 , 208, 254
Livro-texto programado 37
Locução 160
Loterias 238

M
Mando 153
Manipulandum 44,45
Mapa cognitivo 28,133
Máquinas de ensino 36 ,19 5 ,19 6 ,19 8 ,19 9 , 200, 201, 202, 204, 206
Matemática 138,170, 200, 202, 204, 205, 209
Maternês 158
Mau comportamento 90
Mecanismos de defesa 79,184
Memória 2 9 ,115 ,12 5 ,12 6 ,13 3 ,14 2 ,15 4 ,15 5

INDEX
Mentalismo 29» 77, 99,112,119» 13 0 ,13 1,136 ,155 , 243, 245
Mente 19, 26, 29, 38, 41, 55, 59, 78, 83, 99, 103, 105, 113, 114, 118 ,123, 129, 132, 136, 137,
13 9 ,14 0 ,14 1,14 2 ,14 4 ,14 8 ,14 9 ,15 1,15 5 ,15 8 , 168,17 7 ,19 0 ,19 1,19 6 ,19 9 , 200, 202, 212, 239,
247, 261, 262, 263
Mente e cérebro 78
Mérito 119 ,13 0 ,13 3 ,16 5 ,17 2 , 217, 220, 242, 243, 244, 262
Metáfora 8o, 83, m , 12 4 ,14 0 ,14 2 ,16 5

BOOKS
Métodos introspectivos 129
Modelagem 45, 6 8 ,12 0 ,14 0 ,18 8
Modelagem do operante 45
Modelo Estímulo-Resposta 147
Modo de vida americano 249
Modular 144
Motivação 36, 39, 7 0 ,13 7 ,13 8 , 228
Movimento antiescola 203
Mulheres

N
32, 217, 220, 221, 228, 229, 233
GROUPS
Necessidade 28, 29, 4 1,10 0 ,113 ,114 ,12 0 , 209, 216, 218, 221, 227, 252, 253
Neurobiologia 84,118,125,135» 136,143
Neurociências 113 ,115 ,117 ,118 ,119 , 263
Neurofarmacologia 115
Neurofisiologia 2$, 112, 114 ,115, 116 ,117 ,118
Neuroquímica 112 ,115
Novidade 2 7 ,12 1,12 6 ,13 1,17 6 ,17 7 , 207
O
Obesidade 189
Observação 33, 43, 67, 80, 91, 92, 94, 116, 133, 165, 189, 260
Operacionismo 135,140
Organização do trabalho 218
Orientação experimental 193
Originalidade 97, 177

P
Pacientes psicóticos 188
Padrões Fixos de Ação 121
Pensamento 9, 11, 12, 19, 24, 26, 27, 28, 29, 32, 34, 35, 37, 38, 75, 89, 98, 102, 103, u i, 115,
120,122, 125,127, 129, 136,139, 141,142, 143, 145,164,165, 16 7 ,16 8 ,17 0 , 172, 173, 185, 206,

INDEX
221, 256, 261, 262, 263
Percepção 55, 84, 104, 115, 117, 125, 126, 132, 142, 224, 237
Percepção (como ação) 132
Performance 141,154, 156, 157, 172, 200, 242
Perlocução 160
Permissividade 245
Personalidade 24, 29, 37, 38,184,186, 227, 253

BOOKS
Perspectiva de tempo (temporal) 253
Pesquisa básica 81, 83, 137, 139, 220, 258
Pesquisa científica 9
Platonismo 131
Poesia 145
Política experimental 256
Poluição 41, 239
Pós-efeitos 55
Prática
GROUPS
12, 26, 41, 45, 53, 55, 83, 130, 139, 186, 188, 191, 199, 206, 213, 222, 224, 232, 246,
247, 253, 257
Prêmios 219
Pressões seletivas 119
Prevenção 1S6, 242, 248
Privacidade 225, 237
Problemas dos professores 204
Processamento de informação 112, 133, 142, 173, 174
Processos mentais 56, 79, 83, n8, 131, 135,167, 172,173
Programa (motor) 37, 90, ioo, 127, 134, 150, 178,198,199, 201, 213, 214, 227
Propósito 59, 92, 104, 119, 120, 121, 124,136, 173, 248, 262
Psicanálise 75, 76, 77, 78, 8\, 82, 83, 84,120, 129, 183,190
Psicodinãmica 183,184, 189,191, 192
Psicofisica 26, 49
Psicolinguistica 77, 147, 150, 154, 157, 161, 163
Psicolinguistica do desenvolvimento 157, 161
Psicologia clínica 37,185
Psicologia cogn itiva 28, 43, 44, 55, 77, 132, 133, 134, 13 6 ,13 9 ,14 1, 14 2 ,15 6 , 171, 172, 175,
205, 206, 245
Psicologia comparativa 57, 87,135
Psicologia do tempo 57
Psicologia europeia 26, 262
Psicologia experimental 25, 43, 137, 193, 206
Psicologia francesa 27
Psicologia geral 57, 87

INDEX
Psicologia humanista 236
Psicologia introspectiva 261
Psicopatologia 37, 78,185,186
Psicoterapia 37, 78, 84,136,14 4, 193,194, 211
Psiquiatria 90,185, 186, 1S7
Pulsões 136, 250
Punição 11, 22, 47, 79, 80, 167, 203, 222, 244, 252

BOOKS
Puzzle box 65

Q
Questóes éticas 190

R
Racionalidade 84, 136, 171, 240, 258
Recompensa imediata 252
Recompensas
Recursos
4 7,19 0 , 238, 252
GROUPS
35, 41, 58,193, 203, 205, 239, 248
Reforçador positivo 44
Reforçamento 29, 36, 45, 46, 47, 48, 49, 53, 54, 58, 67, 70, 79, 88, 92, 94, 114, 121, 127,
146, 163,188, 190, 19 1,19 2, 198, 204, 209, 238, 249, 250, 252, 256
Reforçamento intermitente 238
Reforçamento intrínseco 204
Refutação 123
Regra de padrão-ação 175
Regras 138,141, 151, 152, 154, 155, i6r> 162, 169, 170, 171, 172, 175, 196, 205, 214, 247
Regulação 58, 171, 250, 255
Regulações temporais do comportamento 58
Relativismo cultural 251
Religiões 247,250
Relógios internos 57
Remediação 186
Repertório específico da espécie 90, 94
Representação 13 3 ,13 5 ,13 9 ,14 2 ,14 3 ,17 5
Representação interna 142,175
Repressáo 79, 8 0 ,116 ,19 0 , 242, 249, 250
Resolução de problemas 2 6, 68, 70, 72, 8 4 ,14 2 ,16 5 ,1 66,16 9 ,17 2 ,17 3 ,17 4 ,17 5 ,17 6 ,19 6 ,
199, 204
Respeitabilidade científica 128,178
Responsabilidade 9 5,186,187, 230, 242, 244, 245, 248, 256
Responsabilidade política 245, 256

INDEX
Resposta 20, 23, 24, 30, 37, 44, 45, 4 6, 47, 48, 49, 53, 57, 58, 60, 64, 65, 66 , 6 7 , 68, 70,
76, 88, 91, 92, 99, 10 3,10 4 ,10 5 , 10 7 ,113 ,114 , H7> 118 ,119 ,12 6 ,13 3 , 138, 139,146, 148,149,
15 3 ,15 9 ,16 2 ,16 5 ,16 6 ,16 9 ,17 6 , 213, 247, 250, 254, 258, 260, 263
Resultados experimentais 150
Retórica 161
Revolução cognitiva 137
Ritmos biológicos 58,59

BOOKS
Robótica 143
Robotização 20,250
Romance utópico 25, 33, 35, 213
Rotação mental 56

S
Sala de aula, 36,196,198, 201, 205
Saúde mental 18 6, 228
Seleção
GROUPS
13, 45, 67, 68, 93, 9 4 ,10 4 ,10 7 ,119 » 12 0 ,12 1,12 3 ,12 4 ,12 5 ,12 6 ,12 7 ,13 6 , 152, 158,
162, 174, 177, 178, 207, 209, 122, 256
Seleção cultural 177
Seleção natural 120, 123, 124, 174
Selecionismo 10 8 ,125 ,127, 262
Self 125,132, 236, 240
Sensação 49, 105
Sintaxe 149,152, i$ 8 ,159,164
Sintomas 77, 84,184 ,18 6,189
Sistema de Segundo Sinal 64
Skinnerianos 12, 22, 82, 212
Sobrevivência 20> 9 5 ,12 1,19 6 , 206, 208, 218, 233, 247, 249, 251, 252
Sociedade americana 22 ,176 , 214, 224, 228, 260
Sociobiologia 96
Superego 184,244

T
Tato 153,160
Taxa de natalidade 227
Taxa de respostas 48, 49, 66, 88
Técnicas de laboratório 113
Técnicas operantes 49» 57» 59, 90, 115, 188
Tecnologia do ensino 36 , 199, 207, 224
Tempo ii, 12 ,13 , 23, 25, 27, 33, 34, 36, 37, 38, 43, 46, 47, 48, 4 9 ,55 ,5 6 , 57» 58,59, 60, 65,
66 , 68, 75, 79, 80, 81, 87, 89, 90, 91, 92, 94, 9 5 ,10 1,117 ,12 1,12 5 ,13 5 ,14 3 ,14 6 ,15 5 ,16 1,16 2 ,

INDEX
165, 170, 184, 195, 196, 197, 198, 201, 205, 2o6, 207, 214, 215, 21 6, 217, 218, 219, 220, 224,
231, 232, 233, 234, 236, 24I, 249, 252, 253, 255, 258, 261, 262, 263, 264
Tempo de reação 43
Tendência instintiva 90, 91, 94
Teoria da enunciação 160
Teoria da evolução 177
Teoria da evolução (ver evolução) 119 ,17 7

BOOKS
Teorias 21, 22, 23, 73, 75, 9 7 ,10 0 ,10 1,10 3 ,10 6 ,10 7 ,13 6 ,14 3 ,14 4 ,15 2 , 155 ,179 ,19 1
Teorias inatistas 101
Terapia comportamental 37, 40, 80, 8 1,13 7 ,18 3 ,18 4 ,19 0 ,19 1,19 4
Terapia rogeriana 191
Terapias cognitivas 137
Terminologia 13 9 ,16 0 ,16 3 ,17 0
Termos 19, 37, 46, 72, 79, 82, 99, 105, 106, 107, n6, 125, 132,135, 136, 137,138, 139, 140,
14 1,14 2 ,14 4 ,15 3 ,15 7 ,16 1,16 6 ,1 6 8 ,17 1,17 3 ,17 5 ,17 6 ,17 7 ,18 4 ,18 5 ,19 9 , 213, 224, 251, 259
Termos psicológicos
Topografia
Tortura
45
244,252
140
GROUPS
Totalitarismo 213, 233, 253
Trabalho 9 ,1 2 ,14 ,15 ,19 , 20, 22, 23, 24, 27, 29,31, 32, 33, 34, 35, 36,57, 58, 64, 65, 66, 67,
68, 73, 75, 76, 77, 79, 80, 8i, 82, 87, 88, 89, 90, 94, 9 7 ,10 0 ,1 0 1,10 4 ,1 13 ,114 ,115 ,117 ,118 ,
123, 12 5 ,12 7 ,12 9 ,13 4 ,13 8 , 145, 146,152, 153,159, 16 3 ,16 4 ,16 5 ,16 6 , 178, 18 7 ,18 8 ,19 4 ,19 5,
196, I97, 200, 201, 204, 213, 216, 217, 218, 219, 220, 223, 229, 23O, 23I, 232, 24I, 242, 257, 26l
Transformações gramaticais 155
Tratamento 23, 39, 40, 47, 49, 5 1,12 0 ,12 7 , 144,174, 183, 184, 185,186, 187, 19 0 ,19 1, 193,
194 ,230
Tratamento comportamental 193,194
Tratamento por meio de medicamentos 187
Turno de trabalho 57

u
Uniformização 208
Utopia 35, 181, 214

V
Variabilidade 69, 70, 71, 7 2 ,10 7
Variação 68, 107, 119, 121,125, 127, 128, 207
Variação (comportamen tal) 68, 127
Variação-seleção 127
Variáveis intervenientes 133, 134

INDEX
Variável 46
Variedade 43, 49, 67, 69, 88, 174, 177, 185, 216, 217, 219, 221, 250, 251, 262
Vida mental 12 9 ,13 0 ,13 1, 135
Vontade 29, 45, 63, 64, 84, n6, 119, 136, 141, (44, 162, 166, 172, 173, 174, 215, 232, 239,
242, 244, 247, 257
Vontade livre 45, 136, 144

BOOKS
w
WaldenTwo 25, 35, 40, 75, 195, 214, 215, 216, 217, 218, 219, 220, 221, 222, 223, 224, 225,
226, 227, 228, 229, 231, 232, 233, 234, 248, 250, 253, 256, 260, 263, 264

GROUPS
ÍNDICE REMISSIVO POR AUTOR

A
Agnew, S. 21, 23, 249, 260
Alexander, F. 81,105
Allan, L. 59

INDEX
Austin, J. L. 159,160
Ayllon, T. 188
Azrin, N. H. 188

B
Bacon, F. 32, 76
Bates, E. 159 ,160

BOOKS
Bauer, R. 244
Bernard 50
Bernard, C. 50
Blackman, D. E. 15, 59
Bloomfield, L. 164
Blue, Y. 34
Boring, G. E. 34
Botson, C. 212
Boulanger, B.
Bover, M.
Breland, K.
100
91
69, 72
GROUPS
Bronckart, J. P. 162
Bruner, J. 14, 36
Bunge, M. 11

c
Catania, A. C. 23
Cervantes, M. 76
Changeux, J. P. 108,113, 119, 125, 136
Chaplin, C. 32
Chi, M. T. H. 175
Chomsky, N. 13, 21, 22, 23, 24, 35, 76, 77, 143,145, 146, 147, 14 8 ,14 9 ,15 0 , 151, 152, 153,
154, 155, 156, 158, 159, l6o, 161, 162, 163, 164, 165, 212, 213, 214, 219, 263
Colpaert, F. C . 51
Cooper, L. A. 56
Copérnico, N . 240
Croiier, W. J . 34 ,114

D
Darwin, C. 22, 42, 76, 119 ,12 0 ,12 3 , 124 ,17 7, 240
Davis, H. 114
Delius, J. D. 56, 57
Dennis, W. 117

INDEX
Descartes, R. 76,149
Dews, P. B. 32
Dickinson, A. 84, 135
Diderot, D. 38, 209
Dilthey, W. 26
Dollard, J. 37, 75
Donders, F. C. 43

BOOKS
Dreyfus, A. 132
Dupoux, E. 108

E
Eccles, J. C. 118, i2j, 136
Edelman, G . M. 12 5,126 ,127
Einstein, A. 123,124
Eliot, T. S. 76

F
Ferster, C. 36,12 7
GROUPS
Fodor, J. A. 143,14 4 ,16 3, 263
Fontaine, O . 133
Forbes, A. 114
Fraisse, P. 38
Frankenheim, J. F. 51
Freud, S. 12 ,14 , 28, 38, 42, 75, jé , 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 9 5,130 ,18 3,18 4 ,18 5 ,
211, 235, 240, 244, 249, 262
Friedman, W. 59
G
Galanter, E. 134
Galileu, G. 22, 42
Gail, F, J. 163, 263
Galton, E 76
Gardner, H. 83
Gibbon, J. 59
Glennon, R. A. 51
Goethe, von, J. W. 103
Gottlieb, R. 235
Graulich, A. M . 14
Gray, J. A. 47
Gutenberg, J. 199

H
Hager, J. L.
Hall, M .
INDEX
Halliday, M. A. K.
Harlow, H. E
Hebb, D. O.
92
35,113

193,197
134
159,160

BOOKS
Hermstein, R. J. 13, 93
Hinde, R. A. 92
Hirschhorn, I. D. 51, 53
Holland, J. G . 37,199, 201
Hollard, V. D. 56, 57
Hubei, D. H. 143
Hull, C. L. 27, 66, 75, 79, 81, 87, 98, 99
Hunt, E. 16 5,174 ,175
Huxley, A. 35
GROUPS
I
Illich, I. 203
Inhelder, B. 13, 100

J
Jackson, J. L. 59
Jakobson, R. i6o> 164
James, W. 35, 76,145
Janet, P. 14, 27, *8, 142
Järbe, T. U. C. 51
Jespersen, O. 164
Johnson-Laird, P. 118,139
Jones, E. 12

K
Kazdin, A. E. 37,183
Konorski,J. 65
Kruse, H. D. 81, 192

L
Lacan,J. 82
Lambercier, M . 13
Lancelot, M . 20

INDEX
Larkin, J. H. 175
Lashley, K. S. 134
Laurent, E. 212
Lea, S. E. G. 92
Le Ny, J. E 129
Lejeune, H. 15, 58, 59, 6o> 92
Levin, H. 40

BOOKS
Liddell, H. 193
Lindsley, O. R. 188
Locke, J. 105, 149
Lorenz, K. 19, 27, 29, 38, 76, 77, 88, 89, 90, 93, 95, 119 ,113 ,12 6 ,12 7 , 135, 237, 262
Lowe, C. E 15
Luciano Soriano, M. 15
Luria, A. R. 14 0 ,17 !

M
Macar, E 59
GROUPS
Macintosh, N . 126
MacLean, P. D. 84
Magnus, R. 113
Marr, D. 117, 118
Marx, K. 76
Maurissen, J. P. J. 50, 51
Mehler, J. 108,147
Michon, J. A. 59
Millet, K. 229
Milner, P. M . 53
Moerk, E. L. 163
Monod, J. 123,124
Moreau M. L. 157
Morse, H. 94
Moscovici, S, 21, 22

N
Neisser, U. 76, 134, 143
Newton, I. 38
Nietzche, E 235
Nouchi, E 22

INDEX
Odling-Smee, E J. 123
Olbrechts-Tyteca, L. 161
Olds, J. 53

P
Pavlov, I. P. 19, 26, 37, 49, 58, 63, 64, 65, 66, 73, 76, 77, 126, 130, 183, 193, 245, 262
Perelman, C. 161

BOOKS
Pérez Alvarez, M . 15
Piaget, J. 13 ,14 ,19 , 23, 27, 29, 36, 38, 77, 81, 82, 94, 97, 98, 99,100, lo i, 102, 103,104, 106,
107, 108, 119, 12 3,124 ,125, 126, 127, 142, 143,150, 161, 167, t68, 169, 212, 262
Pickens, R. 53
Piéron, H. 26, 27
Plotkin, H. 122, 123, 127
Popper, K. R. 31, 118 ,12 3,12 4 ,12 5
Pouthas, V. 59
Pressey, S.
Pribram, K.
198
134
GROUPS
Proctor, R. W. 12, 24, 34, 148
Proust, M. 33, 38, 80

R
Rescorla, R. A. 126
Rey, A. 13
Richard, G. 135
Richelle, M. 12 ,14 ,15 , 58, 69, 77, 79, 81, 83, 90, 92, 10 0 ,117 ,13 3 ,14 0 ,14 8 ,15 7 , 210, 212
Roales-Nieto, J. 15
Rogers, C. 76
Rousseau, J.-J. 76
Rumbaugh, D. M . 55
Russell, B. 33, 76
Ruwet, J. C. 90

S
Sapir, E. 16 0 ,16 4
Saussure, E 15 1,15 2 ,15 4 ,15 5 ,16 0 ,16 4
Schneider 175
Schorr, A. 12, 37,183
Schwartz, B. 209
Seligman, M . E. P. 92,193
Shakespeare, W. 32, 76

INDEX
Shephard, R. N . 56
Sherrington, C. S. 113
Shiffrin, R- M . 175
Sh river, E. 40
Simmelhag, V. L. 6 9 ,127
Sinclair, H. 10 0 ,14 6
Skinner, D. 39, 40

BOOKS
Slangen, J. L. 51
Smith, L. 133
Sperry, R. 136
Staddon, J. E. 6 9 ,12 6 ,12 7
Stendhal 38
Sternberg, R. J. 17 2 ,17 3 ,17 4
Stevenson-Hinde, J. 92

GROUPS
Sutherland, N. S. 22
Swammerdam, J. 113

T
Thompson, T. 53
Thoreau, H . D. 35, 214, 217
Thorndike, E. L. 19, 36, 65, 76, 8 7 ,119 ,12 0 ,12 1,12 6
Thorpe, W. H. 89
Thurstone, L. L. 36
Tirelli, E. 54
Tissot, R. 38
Tolman, E. C. 27, 28, 87,133,134
Trollope, A. 76
V
Van Parijs, P. 123
Varela, F. 143
Vonèche, J. J. 21, 22, 23
Vygotsky, L. S. 13 1,14 0

w
Waddington 94
Wallon, H. 14
Watson, J. B. 19, 25, 26, 27, 28, 33, 34, 37, 7 6, 78, 82, 9 8 ,10 2 ,12 9 ,16 7 ,18 3
Weeks, D. J. 12, 24, 34,148
Wertheimer, M . 14
Whytt, R. 113

INDEX
Wiesel, T. N . 143
Williams, J. 55
Woolf, V. 225

Z
Zola, E. 132

BOOKS
GROUPS
INDEX
BOOKS
GROUPS
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INDEX
BOOKS
GROUPS

Este livro fo i im pressa em setem bro de 20 14 pela G ráfica C om p acta em São Carlos/SP.
0 livro trata de im portantes questões
científicas e filosóficas que envolvem
B. F. Skinner, um d o s principais nomes da
-"alise do comportamento (experimental
c aplicada) e fundador do behaviorismo
radicai. 0 autor da obra, Marc Richelle, é
um renomado estudioso d o s te x to s
skinnerianos e reconhecido por sua
leitura não dogmática em razão do amplo
conhecimento de filosofia e de outras
abordagens da psicologia. Publicada
originalmente em língua inglesa, sua
tradução possibilitará que estu diosos
e curiosos a respeito d e sse polêmico
cientista estadunidense tenham acesso

INDEX
a esta análise crítica, extremamente
relevante, elaborada por Richelle, que foi
aluno de Skinner e de Piaget. Além de
desfazer m itos (bons e ruins) sobre
Skinner, Richelle nos brinda com uma
leitura fácil e prazerosa, apesar da
complexidade d o s a ssu n to s tratados.

BOOKS
Leitura indispensável a quem queira falar
Skinner, bem ou mal. Uma honesta e
didática releitura d o s principais
aspe ctos de sua obra.

GROUPS
Marc N. Richelle nasceu em 1 9 3 0 na Bélgica.
É mestre em Filosofia e Letras pela
Universidade de Liège, 19 5 2 ; mestre em
Psicologia pela Universidade de Genebra,
1 9 5 4 , e PhD em Psicologia, Liège, 1 9 59. Foi
membro honorário da Fundação Educacional
Belgo-Americana em Harvard, no
Departamento de Psicologia Experimental,
entre 1 9 5 Ô e 1 959, onde Skinner estava
lecionando. Professor emérito da
Universidade de Liège, Bélgica, em Psicologia
Experimental. É membro e presidente
honorário da Real Academia de Ciências da
Bélgica. Possui mais de 2 5 0 publicações,
incluindo 21 livros (como autor, coautor ou
editor), em francês, inglês, espanhol e
hebraico. Ministrou palestras e cursos, a

INDEX
convite, em mais de 5 0 universidades na
Europa e nas Américas. Recebeu o título de
doutor honoris causa das Universidades
de Lille (Charles de Gaulle), Genebra, Coimbra,
Lerida e Lisboa. É membro estrangeiro da
Academia das Ciências de Lisboa e da
Real Academia de Ciências Morais e Políticas
de Madri. Em 1 990, ganhou o Prêmio

BOOKS
Quinquenal Ernest-John Solvay do Fundo
Nacional da Pesquisa Científica (FNRS),
maior prêmio científico da Bélgica.

GROUPS

edUFSCar
Editora da Universidade Federal
de S ã o Carlos
ww w.ed itora.ufsca r.br
ed ufscar(g)ufsca r.br
(16)3351 Ô137
twitter: <g)EdUFS Car
facebook:facebook.com/editora.edufscar
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