Você está na página 1de 34

ESTRATÉGIAS PARA O FORTALECIMENTO DA

ATENÇÃO NA SAÚDE DAS MULHERES EM SITUAÇÃO


DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E SEXUAL

Carmen Regina Delziovo


Stella R. Taquette
Mércia Gomes Oliveira de Carvalho
Elza Berger Salema Coelho
Caroline Schweitzer de Oliveira
Deise Warmling
Carolina Carvalho Bolsoni

Rede de apoio às
mulheres em situação de
violência doméstica

UFSC | 2022
ESTRATÉGIAS PARA O FORTALECIMENTO DA
ATENÇÃO NA SAÚDE DAS MULHERES EM SITUAÇÃO
DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E SEXUAL

Carmen Regina Delziovo


Stella R. Taquette
Mércia Gomes Oliveira de Carvalho
Elza Berger Salema Coelho
Caroline Schweitzer de Oliveira
Deise Warmling
Carolina Carvalho Bolsoni

Rede de apoio às
mulheres em situação de
violência doméstica

Florianópolis
UFSC | 2022
GOVERNO FEDERAL DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA ASSESSORIA PEDAGÓGICA
Ministério da Saúde Chefe do Departamento Márcia Regina Luz
Secretaria de Atenção à Saúde (SAS) Rodrigo Otávio Moretti-Pires
EQUIPE EXECUTIVA
Departamento de Ações
Subchefe do Departamento Gisélida Vieira
Programáticas e Estratégicas
Sheila Rubia Lindner Eurizon de Oliveira Neto
Coordenação-Geral de Saúde das Mulheres
GESTORA GERAL DO PROJETO REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA E ABNT
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Elza Berger Salema Coelho Eduard Marquardt
Reitor
Ubaldo Cesar Balthazar AUTORIA DO MATERIAL
Carmem Regina Delziovo
Pró-Reitor de Pós-graduação
Stella R. Taquette
Cristiane Derani
Mércia Gomes Oliveira de Carvalho
Pró-Reitor de Pesquisa Elza Berger Salema Coelho
Sebastião Roberto Soares Caroline Schweitzer de Oliveira
Deise Warmling
Pró-Reitor de Extensão
Carolina Carvalho Bolsoni
Rogério Cid Basto
REVISÃO DE CONTEÚDO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
Sheila Rubia Lindner
Diretor
Carmen Leontina Ojeda Ocampo Moré
Fabrício de Souza Neves
Scheila Krenkel
IDENTIDADE VISUAL E PROJETO GRÁFICO
Pedro Paulo Delpino
Nicole Alessandra Geller

ESQUEMÁTICOS, DIAGRAMAÇÃO E FINALIZAÇÃO


Laura Martins Rodrigues

DESENVOLVEDOR WEB
Dalvan Antônio de Campos
Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária responsável: Rosiane Maria CRB 14/1588
Naiane Cristina Salvi
Thiago Ângelo Gelaim V796 Violência doméstica contra mulheres: rede de apoio às mulheres em situação
de violência doméstica / Carmem Regina Delziovo... [et al.]. – Florianópolis:
Rodrigo Rodrigues Pires de Mello UFSC, 2022.
Jean Marcos da Silva 34 p. : il.
E-book (PDF)
Tcharlies Dejandir Schmitz
ISBN: 978-85-8328-081-1 
Paulo Alexsander Godoi Lefol
Vinícius Boff 1. Violência doméstica. 2. Violência contra as mulheres 3. Redes de apoio
social. I. Taquette, Estela Regina. II. Carvalho, Mércia Gomes Oliveira de. III.
Coelho, Elza Berger Salema. IV. Caroline, Schweitzer de. V. Warmling, Deise. VI.
FONTE PARA IMAGENS E ESQUEMÁTICOS Bolsoni, Carolina Carvalho. VII. Título.
CDU: 362.55
Unsplash, Rawpixel, Adobe Stock
Apresentação

Mulheres que vivenciam violência doméstica É preciso dizer NÃO à violência atuando na
não estão sozinhas, elas podem contar com informação e no apoio às mulheres, na educa-
uma rede de apoio e atenção. Estas mulheres ção dos meninos e meninas e reeducação dos
tem direito a atenção nos serviços de saúde, o homens e mulheres para relações não violentas.
que significa receber cuidado que as fortaleça
mostrando que são capazes de sair ou mesmo
MULHER, VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHA!
mudar o contexto vivido. Procure ajuda e se proteja.
Alguns preconceitos e ditos populares ainda Vamos dizer NÃO a todas
estão em nossa sociedade, podendo dificultar a as formas de violência!

revelação ou a denúncia de situações de violên-


cia doméstica. O conhecimento pode combater
essa prática que leva milhares de mulheres ao
sofrimento intenso, medo, humilhação e até a
morte.
Desta maneira, temos por objetivo ampliar
sua informação sobre os direitos das mulheres
vítimas de violência quanto aos serviços de
atenção e proteção. Assim, você pode pode ser
um ponto dessa rede, poderá ajudar mulheres a
mudarem suas vidas.
Apresentação..................................................................................... 5

UN1 ― O que é a violência doméstica?.................................................... 7


1.1 Você sabe o que é violência doméstica?.............................................8
1.2 Como a violência doméstica costuma se apresentar..........................11

UN2 ― Como ajudar mulheres em situação de violência doméstica?..........16

UN3 ― Os serviços que compõe a rede e atenção e proteção.....................22


3.1 Saúde..............................................................................................25
3.2 Assistência social............................................................................26
3.3 Segurança pública............................................................................26
3.4 Assistência jurídica..........................................................................28

Considerações finais..........................................................................31
Referências.......................................................................................32
O que é a violência doméstica?

UN1
UN1 O que é a violência doméstica?

1.1 Você sabe o que é


violência doméstica?

Você que convive com outras mulheres já


pode ter presenciado ação ou omissão baseada
no gênero que causou morte, lesão, sofrimento
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial. Quando isso acontece com pessoas
no espaço onde as pessoas convivem, tendo
elas vínculo familiar, ou não o ato é considerado
violência domestica.
O que se pode concluir? – a violência de gê-
O que é a violência baseada em gênero? nero é aquela imposta à mulher simplesmente
É a violência que envolve homens e por ela ser mulher – ou seja, por condição do
mulheres, sendo as mulheres, na sua
sexo feminino, e é, portanto, um padrão cultural.
maioria, as vítimas. Se origina a partir
É bom lembrar que, em certa medida, todas as
de relações de poder desiguais dentro
das famílias e comunidades. A violência mulheres enfrentam alguma discriminação de
é geralmente dirigida especificamente gênero (MP-BA, 2018).
contra as mulheres por diversas razões,
Procure lembrar se já esteve em uma ou
e as atinge desproporcionalmente (ONU,
mais das situações a seguir:
2005).

8
UN1 O que é a violência doméstica?

julgaram você pela roupa que vestia colocaram na sua cabeça que você Se você respondeu sim a uma ou mais das
teve medo de sair desacompanhada não tem racionalidade para chefia alternativas ao lado, bem-vinda ao clube da
em razão da cultura do estupro perguntaram se a sua irritação era TPM percepção.
insinuaram que não é decente esperaram que você resolvesse
ter desejo sexual a discussão com lágrimas
Você vive em uma sociedade machista
mediram sua honra pelo número sugeriram que você gosta é de dinheiro e já experimentou violência de gênero –
de parceiros sexuais e que um cartão de crédito soluciona ainda que simbólica!
pediram para você se cobrir enquanto qualquer crise
amamentava em público convenceram você de ser incapaz
A discriminação de gênero também impacta
cobraram padrão ideal de beleza de admirar e respeitar outra mulher
negativamente os homens. Será? Como é pos-
exigiram que você fosse bonita ou você notou a desproporcionalidade da
representação feminina na atividade política sível? — os estereótipos atribuídos às mulheres
inteligente – as duas coisas não dá!
pediram para você segurar o seu homem, encontram seus contrapontos naqueles atribuí-
acusaram você de mandona ou
histérica quando foi contundente porque o mercado está difícil dos aos homens, dos quais a sociedade exige
na defesa dos seus argumentos avaliaram sua inaptidão feminina prova de constante valentia e virilidade, negação
recebeu pagamento inferior pela para negócios, números, ciência da sensibilidade, possessividade, conquista pela
mesma função exercida por um homem ou condução de veículo automotor
força ou poder econômico e dominação pela
disseram que seu lugar é na cozinha incutiram na sua cabeça que ciúme
brutalidade — a cultura que oprime as mulheres
ou que um tanque de roupa suja é sinal de amor
e endossa a violência obsta que mulheres e
resolve qualquer depressão cantaram “um tapinha não dói”
homens vivam de forma livre e impede que am-
fizeram você acreditar que é a rainha juraram que sapo vira Príncipe Encantado se
bos atinjam potencial máximo, tanto no âmbito
do lar – daí você limpa e lava sozinha você tentar o suficiente (MP-BA, 2018)
o que todo mundo suja familiar como na vida pública, conforme suas

9
UN1 O que é a violência doméstica?

aptidões pessoais e características individuais


VIOLÊNCIA FÍSICA VIOLÊNCIA SEXUAL
(MP-BA, 2018).
Quais hipóteses configuram relação Empurrões, toques indesejados, Relação sexual não desejada, mediante
pegadas a força nos braços ou outras intimidação, ameaça, coação ou uso da
doméstica e familiar?
partes do corpo, beliscões, puxões de força. Induzir a comercializar ou a
Ý no âmbito da unidade doméstica (espaço cabelo, mordidas, queimaduras, chutes, utilizar, de qualquer modo, a
de convívio permanente de pessoas, com ou tapas, socos, tentativa de asfixia, sexualidade. Impedir o uso de método
sem vínculo familiar) ameaça com faca, e qualquer contato contraceptivo.
que produza dor, marcas, cortes,
Ý no âmbito da família (comunidade formada
hematomas, dentre outras situações
por indivíduos que são ou se consideram VIOLÊNCIA PATRIMONIAL
que atinja o corpo da mulher.
aparentados com laços naturais, afinidade ou Posse, retirada, destruição parcial ou
vontade expressa) total de seus objetos, a exemplo
VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA
Ý em qualquer relação íntima, com convivência celular, roupas, objetos pessoais, da
Conduta que cause prejuízo emocional casa, computador, carro etc..,
atual ou finda, independente de coabitação
e diminuição da autoestima ou que instrumentos de trabalho, documentos
A seguir alguns atos que configuram os pessoais, bens (imóveis, carros),
prejudique e que vise controlar suas
diferentes tipos de violência. ações, comportamentos, crenças e valores e direitos ou recursos
decisões da mulher, por meio de econômicos, incluindo os destinados a
ameaça, intimidação, constrangimento, satisfazer suas necessidades.
humilhação, manipulação, isolamento,
vigilância constante, perseguição,
VIOLÊNCIA MORAL
insulto, chantagem, ridicularização,
exploração e limitação do direito de Comportamento que configure calúnia,
ir e vir. difamação, ofensa/injúria.

10
UN1 O que é a violência doméstica?

tes, apresenta comportamento tenso e acessos tranquilo entre o agressor e a mulher. A demons-
O estupro marital também é crime. Não
de raiva. tração de remorso permite que a mulher crie
há, na legislação brasileira, isenção para
a prática sexual forçada sob alegação de Nestes momentos é frequente o sentimento esperança de que o comportamento do agressor
débito conjugal. de culpa da mulher, que pode pensar que pode possa mudar e que o ato violento tenha sido um

Lembre-se de nunca subestimar uma


evitar esse tipo de atitude do agressor se ela episódio isolado. Por vezes, nesses momentos
ameaça, ou intimidação, fique atenta evitar determinado comportamento. A partir a mulher até se culpa e fantasia de que o com-
a qualquer sinal de agressão verbal, disso, a mulher vítima pode achar que existe portamento agressivo do companheiro pode ter
física, psicológica, sexual. E também se
justificativa para o comportamento violento do sido justificado.
alguém tentar usufruir do seu dinheiro
ou de seus bens ou tentar alguma outra
agressor, como se o motivo pra ele agir assim
forma de exploração. sempre fosse algum fator externo e não respon-
sabilidade dele mesmo. Este relacionamento se
materializa no ato violento do agressor contra
1.2 Como a violência doméstica
a mulher. Este ato de violência pode ter muitas
costuma se apresentar
formas: verbal, física, psicológica, sexual, moral
A violência pode acontecer com tempo ou patrimonial.
e intensidade diferenciada nas diferentes Nestas situações é possível identificar no
relações. agressor uma falta de controle e é comum que
Por vezes, a violência pode se manifestar de a mulher se sinta desorientada e não consiga re-
forma em que os comportamentos se repetem agir. O que acontece muitas vezes na sequência
que iniciam pelo aumento da tensão onde agres- é um comportamento arrependido e de reconci-
sor costuma se irritar com coisas insignifican- liação. É comum que esse seja um período mais

11
UN1 O que é a violência doméstica?

Como saber se o relacionamento Em alguns casos, a reprodução dessa


que você vive é abusivo?  Ele(a) te culpa constantemente por erros violência pode terminar em feminicídio, que é o
e comportamentos dele(a)? assassinato da mulher.
 Ele(a) é ciumento, possessivo e controlador?  Ele(a) maltrata os animais domésticos
para te amedrontar e mostrar o que pode O que é feminicídio?
 Ele(a) te xinga, deprecia ou tenta te fazer
passar por louca? fazer contigo?
O termo feminicídio significa assassinato de
 Ele(a) monitora teu celular, computador e  Ele(a) maltrata os filhos(as) para
mulheres por sua condição de gênero, levando
atividades? mostrar força ou para te punir?
em conta as relações de poder e a participação
 Ele(a) te isola de familiares e amigos?  Ele(a) pede perdão depois de um ato
violento, diz que não vai acontecer mais do Estado por ação ou omissão, devido à impu-
 Ele(a) te humilha publicamente? e pede para você “retirar a queixa”? nidade — o Brasil optou pelo termo feminicídio;
 Ele(a) controla sozinho(a) o dinheiro e as  Ele(a) faz um ou mais dos itens com a entrada em vigor da Lei 13.104/2015, o
despesas do casal? Mesmo quando o anteriores, mas diz que é por amor? Código Penal passou a dispor sobre essa mo-
dinheiro é fruto do seu trabalho?
dalidade referindo-se ao assassinato praticado
 Ele(a) te impede de estudar ou trabalhar?
contra a mulher por razões da condição de sexo
 Ele(a) te segura, empurra, chacoalha e bate
feminino em situação de:
de vez em quando?
1. Violência doméstica
 Quando ele(a) te agride, tenta colocar a
2. Menosprezo à condição de mulher
culpa em você? Diz que foi para te dar um
corretivo? Diz que você mereceu? 3. Discriminação à condição de mulher

 Ele(a) destrói bens e faz ameaças? (MP-BA, 2018).

Relação inspirada na campanha “Am I in an unhealthy relationship?”, produzida por


The Family Justice Center of Erie County, Nova Iorque, Estados Unidos.

12
UN1 O que é a violência doméstica?

Você pode se perguntar porque as mulheres


Matar (feminicício)
mantém este tipo de relacionamento?
Espancar e mutilar
MULHER, Alerta! São muitos os motivos:
TOME UMA ATITUDE Abusar sexualmente
Sua vida está Ý medo;
ANTES QUE SEJA Ameaçar de morte
em perigo
TARDE DEMAIS Ameaçar com armas Ý negação da realidade;
Confinar e prender Ý amor;
Chutar Ý sentimento de culpa;
Golpear Ý baixa autoestima;
Reaja! Denuncie
Empurrar Ý vergonha;
e peça ajuda
Machucar e agredir Ý sensação de impotência;
Destruir bens pessoais Ý esperança de que o(a) agressor(a) vai mudar;
Proibir e controlar Ý pressão social, de familiares ou filhos(as);
Intimidar e ameaçar Ý origem em lar onde a violência era o modelo;
Ofender e humilhar Cuidado, Ý dependência econômica;
Ciúmes excessivos a violência Ý temor de perder a guarda dos(as) filhos(as);
Ignorar está presente
Ý temor de perder o direito aos bens do casal;
Mentir e enganar
Ý gratidão a auxílio que recebeu no passado;
Chantagear
Amizades, dinheiro, Ý dependência emocional;
aparência, atividades, Ý isolamento;
celular, mídias sociais e etc VIOLENTÔMETRO Ý crenças religiosas ou culturais;
Ý afastamento do mercado de trabalho;
Adaptado de: Ministério Público do Estado da Bahia (2018)

13
UN1 O que é a violência doméstica?

Ý analfabetismo; Existem ditados populares que podem Mas atenção, esses argumentos são falsos
Ý problemas de saúde física ou mental; fazer com que consideremos situações de vio- e precisamos desmistificar e combatê-los em
Ý desconhecimento das opções de ajuda; lência como normais. nosso dia a dia. São eles:
Ý desconhecimento de que o abuso é crime.
(Lista inspirada no artigo “Fifty Obstacles to
Leaving, a.k.a., Why abuse victims stay.”, da
ativista americana Sarah M. Buel, 28-OCT
1.999 Colo. Law. 19).

É preciso compreender que a dificuldade


de agir ou reagir não é culpa da mulher,
mas decorre de um aprendizado emocio- Roupa suja se lava em casa.
nal criado pela própria situação de vio- A violência só acontece entre as famílias de
lência, este “aprendizado” é denominado baixa renda e com pouca instrução.
”síndrome do desamparo aprendido”.
A violência doméstica ocorre muito esporadicamente.
A violência doméstica é um problema exclusivamente familiar.
Além disso, apesar de grande parte da socie- Se a situação fosse realmente tão grave, as mulheres em
dade reprovar a violência contra as mulheres, situação de violência abandonariam seus parceiros autores de
alguns preconceitos e ditos populares estão violência.
ainda enraizados na nossa sociedade e podem Em briga de marido e mulher não se mete a colher.
dificultar a revelação ou a denúncia de situações
de violência doméstica pelas mulheres.

14
UN1 O que é a violência doméstica?

Qualquer mulher pode ser vítima da


violência doméstica. Não importa se ela
é rica, pobre, branca ou negra; se vive
no campo ou na cidade, se é moderna
ou antiquada; católica, evangélica, ateia
ou umbandista e etc. Você já pensou?
Por que aceitamos piadas contra as
mulheres? Por que reproduzimos a
desigualdade entre homens e mulheres
na educação? Se todos comem e
sujam, por que só as mulheres têm que
cozinhar e limpar? Por que os homens
não agridem qualquer mulher, mas
agridem aquelas que consideram “sua
propriedade” ou sobre as quais pensam
“ter direitos” por serem (ou terem
sido) suas namoradas, companheiras,
esposas? (Fonte: MP-SP, 2018).

15
Como ajudar mulheres em
situação de violência doméstica?
UN2
UN2 Como ajudar mulheres em situação de violência doméstica?

Enquanto parte da comunidade, você pode ATENÇÃO!


apoiar a mulher vitima de violência doméstica Ý Você ouviu gritos e pedidos de socorro?
e contribuir na construção do seu plano de Ý conversou com as crianças?
proteção. Nesse sentido, procure identificar Ý ouviu os relatos da vítima sobre a violência
pessoas que possam auxiliar neste momento. sofrida e viu o estado emocional dela em
Sororidade é o primeiro passo para combater razão disso – desalento, dor, angústia,
a violência de gênero. lágrimas, desespero?

Sororidade vem da palavra latina soror,


que significa “irmã”. É um conceito
social e político que significa aliança
entre mulheres.
Ý Defende a identificação das mulheres
como semelhantes
Ý Prega a solidariedade e o apoio mútuo
Ý Estimula a consciência crítica sobre a
centralidade masculina
Ý Repele a competição gratuita e a
autodepreciação feminina
Ý Você pode praticar todos os dias sendo
mais generosa – um gesto de cada vez!
(MP-BA, 2018).

17
UN2 Como ajudar mulheres em situação de violência doméstica?

Ý recebeu ligação ou visita dela logo após os Ý faça sua parte como gesto de cidadania, Se você é vítima:
fatos – nervosa, chorando, pedindo apoio reprovação à violência de gênero e em prol Ý mesmo sendo difícil, em razão do medo, da
moral, acolhida, pouso para si e para os(as) de uma sociedade melhor. reconciliação, do desconforto emocional, da
filhos(as), ajuda financeira, companhia para ir Se você conhece ou convive com uma mulher dor, tente não destruir e/ou apagar provas –
à delegacia ou ao centro de saúde? em situação de violência, pode ajudar se dispon- deletar mensagens e fotografias, rasgar car-
Ý leu as mensagens no celular ou no do a ser testemunha ou informante – seja pre- tas, excluir relação de chamadas
computador? sencial do episódio criminoso ou simplesmente Ý saiba que a sua palavra é muito valorizada
Ý viu as lesões no corpo da vítima no ambiente conhecedor(a) da relação abusiva, do estado pelo sistema de justiça – ninguém melhor do
de trabalho ou em evento social? emocional da vítima em razão da violência ou que você pode descrever o drama cotidiano
Ý é membro da família e acompanha a rotina de das lesões aparentes. de um relacionamento abusivo e violento
sofrimento da vítima? Ý procure manter a coerência de sua narrativa
Ý conhece o comportamento violento do(a) Ý procure ajuda tão logo o delito tenha ocorrido
agressor(a)? Não existe mulher que gosta de apanhar – se há lesões aparentes,
Ý presenciou episódios anteriores de agressão O que existe é mulher Ý o atendimento imediato facilitará a elabora-
verbal ou física? humilhada demais ção do exame de corpo de delito e a lembran-
para denunciar, ça detalhada dos fatos
Se você respondeu sim a um ou mais dos
machucada demais Ý faça registro de foto ou vídeo das lesões
itens anteriores, então você pode ajudar:
para reagir, corporais e se não houve exame de corpo
Ý não julgue a mulher em situação de violência
com medo demais de delito direto, o prontuário do centro de
Ý se ela perdoou ou não o seu algoz em ocasião
para acusar saúde, do hospital ou atestado do médico em
anterior ou se ela pretende continuar a viver
consultório são registros admissíveis
com ele

18
UN2 Como ajudar mulheres em situação de violência doméstica?

Ý se há ameaça ou perturbação da tranquili- Ý conserve todos os escritos ameaçadores PLANO DE PROTEÇÃO


dade por meio de ligação telefônica, sms, e ofensivos – cartas, bilhetes, anotações,
O plano de proteção pode fazer a diferença
e-mail, redes sociais (Facebook, Instagram, mensagens se há constante perturbação da
na prevenção da ocorrência de lesões graves ou
Twitter, Tinder, Periscope e outros) e dispo- tranquilidade e/ou reiterado descumprimento
até mesmo de morte decorrentes da violência
sitivos multiplataforma (Whatsapp, Telegram, da medida protetiva, faça anotações desses
doméstica. Trazemos, a seguir, alguns exemplos
Viber e outros), imprima ou salve a imagem acontecimentos – em papel ou em meio
que podem servir como ponto de partida para
da tela para posterior impressão contendo as eletrônico – contendo datas, horários e locais
um plano de segurança.
chamadas recebidas e/ou mensagens dos acontecimentos, bem como dizeres e
atitudes do(a) agressor(a).
Se o autor da violência morar na
mesma casa que a vítima

Desenvolva estratégias que garantam a


segurança da mulher e demais dependentes,
Na nossa Constituição, vigora o caso tenha. Oriente para que a mulher identifique
princípio da presunção da inocência.
áreas de segurança na casa, onde não tenha
O que isso quer dizer? Ninguém pode
ser condenado sem provas. Por isso armas, facas ou outros objetos que podem ser
qualquer prova que você possa ter é utilizados para agressão física, e onde existam
importante (MP-BA, 2018). saídas rápidas. Se ela se sentir em risco, oriente
para que tenha os cuidados de:

19
UN2 Como ajudar mulheres em situação de violência doméstica?

ORIENTAÇÕES PARA O CASO DE RISCO

Nunca guardar armas com a intenção de


Se tiver carro, mantenha cópias das chaves do carro em um
utilizá-las como defesa. Elas podem facilmente
local seguro e acessível. Deixe-o abastecido e na posição de
ser usada contra você ou contra a mulher em
saída, de forma a evitar manobras.
situação de violência.

Deixar que os amigos e os vizinhos saibam da Orientar os filhos, filhas e dependentes a nunca se
situação. Desenvolver um código (sinal) visual envolverem na violência entre a mulher e o parceiro. Planeje
para quando precisar da ajuda deles; por com os filhos sinais ou um código, que indiquem quando
exemplo, colocar uma toalha branca na janela. devem sair de casa para se proteger e/ou procurar ajuda.

Se a violência for inevitável, é preciso definir uma meta de


Guardar sempre consigo os números de ação: correr para um canto e agachar-se com o rosto
telefone de socorro. Se tiver um telefone, protegido e os braços em volta de cada lado da cabeça, com
procure mantê-lo ao alcance da mão. Se não os dedos entrelaçados. Não correr para o local onde as
tem, localize o telefone mais próximo. crianças estejam. Elas podem acabar sendo também
agredidas ou usadas como forma de ameaça ou chantagem.

Fonte: (USP, 2018).

20
UN2 Como ajudar mulheres em situação de violência doméstica?

O QUE FAZER QUANDO PRECISAR SAIR DE CASA POR CAUSA DA VIOLÊNCIA?

Separar um pacote de roupas e objetos de Contar a situação para pessoas em quem confia,
primeira necessidade seus e das crianças. como: amigos e vizinhos. Planejar com elas um
Guardar com vizinhos ou amigos, para pegá-lo esquema de proteção e combine algumas
no caso de ter que abandonar a casa. formas de sinalizar que está em perigo.

Guardar cópias de documentos importantes em Faça acordo com algum(a) vizinha(o) ou com
local seguro: certidões de nascimento e quem possa confiar, e combine um código de
casamento, identidade, carteira profissional, comunicação para situações de emergência,
listas de telefones, documentos escolares etc. como: “Quando eu falar uma palavra específica,
busque ajuda imediata”.

Guardar em local seguro, ou pedir para


alguém de confiança guardar algum dinheiro, Planejar como fugir de casa em segurança,
caso precise sair de casa às pressas. conversar com alguém da rede de apoio e se
informar se poderá ficar hospedada com eles,
caso necessário.
Tente guardar por escrito, com as datas e horários,
todos os episódios de violência física, psicológica
ou sexual que esteja sofrendo. Isso pode ser muito
útil se quiser ajuda da polícia e da justiça.

Fonte: (USP, 2018).

21
Os serviços que compõe a rede
de atenção e proteção
UN3
UN3 Os serviços que compõe a rede de atenção e proteção

A seguir, apresentamos informações sobre os acolhe, informa e orienta mulheres em situ-


serviços que compõem a rede de atenção e pro- ação de violência. Porém, quando se trata
teção às mulheres vítimas de violência domés- de violência psicológica ou moral, o contato
tica. A Lei Maria da Penha afirma que o Poder deve ser feito pela mulher que a sofreu, exce-
Público deve desenvolver políticas que garantam to quando esta é menor de idade ou tutelada.
condições para que as mulheres possam superar Quando há violência física grave ou sexual,
a situação de violência doméstica e familiar. qualquer pessoa pode efetuar o registro.
Essa atitude muitas vezes contribui na prote-
Onde conseguir ajuda em situações de violência?
ção da mulher agredida e de seus familiares.
Ý procure os órgãos públicos – saúde, assis-
tência social, segurança pública e justiça – Saiba que não há apenas a solução criminal
para conhecer os equipamentos disponíveis para seu caso – há alternativas psicossociais e
(por exemplo, casa da mulher brasileira, ca- providências nos Juízos Cível e de Família, inclu-
sas de passagem, casas-abrigo, CAM, CRAS, sive indenização por danos materiais e morais.
CREAS, CAPs, unidades de saúde e varas judi- Solicite medidas protetivas elas não são apenas
ciais, promotorias, defensorias e delegacias um pedaço de papel, porque:
especializadas); 1. facilitam o acionamento de emergência
Ý não tenha vergonha de pedir ajuda, inclusive via 190;
psicológica se necessário; 2. marcam a data a partir da qual o(a) agres-
Ý ligue para a CENTRAL DE ATENDIMENTO À sor(a) deve se afastar ou se abster de apro-
MULHER – LIGUE 180, que funciona 24 horas, ximação e contato, sob pena de decretação
todos os dias da semana, e recebe relatos, de prisão preventiva (MP-BA, 2018).

23
UN3 Os serviços que compõe a rede de atenção e proteção

Articulação entre os serviços Serviços não especializados


de enfrentamento de violência Serviços especializados vinculados à Justiça, Segurança Pública, Assistência Social e Saúde
contra as mulheres
Serviços especializados de atendimento à mulher vinculados aos organismos de políticas
para as mulheres

Assistência Social Segurança Pública


Núcleo/
Ligue  Polícia Rodoviária
Casa Abrigo Posto/Seção
180 Federal
 Centro de Referência de de Atendimento à
 Instituto Médico Legal
Assistência Social [CRAS] Mulher
Centro de Referência  Polícia Civil
 Serviços de abrigamento/ Centro DEAM - Delegacia
Especializado de  Polícia Federal
acolhimento de Referência Especializada de
Serviço Social  Polícia Militar
de Atendimento Atendimento à Mulher
[CREAS]  Bombeiros
às Mulheres

Juizados
Núcleo da
 Defensoria Pública especializados
Mulher  Hospitais gerais
 Ministério Público Serviços de atenção
Promotorias (casa do  Unidades de Pronto
 Juizado Criminal Cível às pessoas em
especializadas migrante) Atendimento
 Posto de atendimento situação de
violência sexual  Unidades Básicas de
humanizado nos Defensorias
Ouvidoria Saúde
aeroportos(tráfico de pessoas) especiliazadas

Justiça Saúde

24
UN3 Os serviços que compõe a rede de atenção e proteção

3.1 Saúde
nal de saúde que tiver mais confiança; este vai Atenção Psicossocial (CAPS). Este serviço pode
Na área da saúde todos os serviços devem ouvir e poderá, junto com a mulher, decidir qual o ser acionado para o atendimento caso a mulher
acolher mulheres em situação de violência, e, a melhor encaminhamento para a mesma. esteja em sofrimento psicológico, mental, ou
partir da escuta do relato da mulher em situação O acolhimento e o respeito são direitos das para o seu parceiro, caso ele tenha necessida-
de violência, realizar o atendimento – e se neces- mulheres que sofrem violência quando procuram des de cuidados na saúde mental, decorrentes
sário, o encaminhamento para outros serviços, os serviços de saúde. A violência também é um ou não do uso de álcool ou outras drogas.
avaliando o grau de risco e estabelecendo um problema de saúde! Para as situações que demandem atendimen-
processo de cuidado, com respeito às decisões Os serviços de saúde ofertam para mulheres to nos serviços de urgência e emergência, a re-
da mulher, sem julgamentos. vítimas de violência — cuidados em saúde, aco- ferência pode ser de uma UBS para uma Unidade
Se a mulher estiver sofrendo violência domés- lhimento, escuta, encaminhamento para a rede, de Pronto Atendimento (UPA) ou para o hospital.
tica, pode procurar uma Unidade Básica de Saúde profilaxias no caso de violência sexual. Entre as situações que precisam de atendimento
(UBS), preferencialmente a mais próxima da sua Outra possibilidade de encaminhamento den- de urgência e emergência estão especialmente
residência. Na UBS ela deve procurar o profissio- tro do setor saúde é o atendimento no Centro de as violências físicas e sexuais.
Muitos municípios têm também serviços es-
pecializados na área da saúde para a atenção a
Muitas UBS têm atendimento compartilhado
mulheres em situação de violência. Nestes ser-
com os Núcleos Ampliados de Saúde da
Família (NASF). Muitas destas equipes têm viços atuam profissionais médicos, enfermeiros,
profissionais psicólogos e assistentes psicólogos, entre outros, como parte da equipe
sociais que podem contribuir no apoio para de referência para elaboração de um plano de
que a mulher tome a melhor decisão para a
cuidados e o acompanhamento.
sua vida dentro do plano de cuidados.

25
UN3 Os serviços que compõe a rede de atenção e proteção

Serviço de Proteção e Atendimento Especiali-


Se a mulher sofreu violência sexual
zado a Famílias e Indivíduos (PAEFI), podendo
nas últimas 72 horas (3 dias), deve
procurar imediatamente um hospital ou ofertar outros serviços, como Abordagem Social
serviço especializado em atendimento e Serviço para Pessoas com Deficiência, Pes-
de violência sexual para fazer as soas Idosas e Suas Famílias. Além de orientar
profilaxias das Infecções Sexualmente
e encaminhar para os serviços da assistência
Transmissíveis (ISTs) e da gravidez.
social ou demais serviços públicos existentes
no município, no CREAS também poderá obter
Para além da saúde, outros serviços de informações, orientação jurídica e apoio no
atendimento podem ser acionados para o aten- acesso à sua documentação pessoal.
dimento, entre eles, os da assistência social, da Da mesma forma, é na assistência social que
segurança e da justiça. está o Serviço de Acolhimento Provisório para
Mulheres em Situação de Violência. Este serviço
3.2 Assistência social
oferece acolhimento provisório para mulheres assegurar o acesso aos programas sociais de
Na assistência social os Centros de Refe- adultas que tenham sofrido violência doméstica, alimentação, educação, emprego e renda.
rência Especializados de Assistência Social sofrimento físico, sexual, psicológico ou moral,
3.3 Segurança pública
(CREAS) são unidades públicas da política e que precisam se afastar de sua casa por sofrer
de Assistência Social onde são atendidas as ameaças e correr risco de morte. A mulher poderá Na segurança pública encontram-se as
famílias e as pessoas que estão em situação de ser acolhida juntamente com seus filhos(as) e Delegacias Especializadas no Atendimento as
risco social ou tiveram seus direitos violados. dependentes em domicílios com seu endereço Mulheres (DEAM) em situação de violência. As
A unidade deve, obrigatoriamente, ofertar o protegido. O serviço social é responsável por DEAMs compõem a estrutura da Polícia Civil,

26
UN3 Os serviços que compõe a rede de atenção e proteção

órgão integrante do Sistema de Segurança Pú- Mulher (DEAM) mais próxima de sua residência. de corpo de delito. A delegacia vai iniciar um
blica de cada estado. À Polícia Civil compete Este registro pode ser feito pela mulher sozinha inquérito policial para apurar os fatos, ouvir
as ações de prevenção, registro de ocorrências, ou acompanhada por alguém da sua confiança testemunhas e reunir provas. Esta investigação
investigação e repressão de atos ou condutas (BRASIL, 2010). será encaminhada ao promotor de justiça. Se for
baseadas no gênero que configurem crime e Se for uma situação de emergência, telefone solicitada medida protetiva na delegacia, a polí-
infrações penais cometidos contra mulheres para o número 190 e peça apoio da polícia. Neste cia deve encaminhar ao juiz em até 48h, e o juiz
em situação de violência, devem ser feitas por último caso, será atendida pela polícia militar. É também tem o prazo de até 48 horas para decidir
meio de acolhimento com escuta ativa, reali- importante a mulher ser bastante direta na ex- se irá aplicar medidas protetivas de urgência.
zada preferencialmente por delegadas, e por plicação da gravidade e a urgência da situação.
equipe de agentes policiais, profissionalmente
E o que vai acontecer na delegacia
qualificados e atentos ao fenômeno da violência
quando fizer o BO?
de gênero, nos termos da Lei Maria da Penha,
nº 11.340, de 07 de agosto de 2006, a qual cria A autoridade policial irá registrar seu relato. É
mecanismos para coibir a violência doméstica e importante fornecer todos os detalhes, como o
familiar contra mulheres. tipo de agressão, se teve ameaças, se o autor da
Ao sofrer violência doméstica, a mulher deve agressão possui armas, se a violência também
relatar a ocorrência dos fatos para efetuar o atinge filhos(as) ou dependentes, e indicar
registro do Boletim de Ocorrência (BO) contra o pessoas que testemunharam a agressão ou
autor da violência, caso seja a vontade dela; para agressões anteriores.
isso, pode comparecer a uma Delegacia comum Em seguida, será encaminhada para o Insti-
ou à Delegacia de Atendimento Especializado à tuto Médico Legal (IML) para realizar um exame

27
UN3 Os serviços que compõe a rede de atenção e proteção

Para pedir a medida protetiva, a mulher não vítima, pelo motivo de se tratar um crime de ação Mulher junto ao Ministério Público. Em alguns
precisa estar acompanhada de advogado. Além penal incondicionada. Em outras palavras, se municípios este serviço de referência está ligado
disso, pode solicitar a medida protetiva na realizado o BO nos casos de lesão corporal, não à assistência social ou à saúde. Para saber se
delegacia, na promotoria de justiça e também há como retirar o mesmo. Isso quer dizer que a este serviço existe no seu município, telefone
na defensoria pública. partir do Boletim de Ocorrência o processo não para o número 180 e pergunte.
dependerá da representação da vítima, ou seja,
3.4 Assistência jurídica
A medida protetiva é muito importante independe da manifestação da mulher à justiça
para evitar que o autor da violência dará o seguimento do fluxo no andamento do Lei nº 11.340/2006, conhecida como Lei
realize atos ainda mais violentos, e por processo judicial. Maria da Penha, diz que a mulher em situação
isso a denúncia e o BO são importantes.
Caso a mulher não queira procurar a polícia de violência doméstica tem direito à assistência
ou esteja insegura se quer mesmo fazer a jurídica em todos os momentos. Esta pode
Para a mulher acima de 18 anos de idade denúncia policial, ela pode procurar serviços procurar advogado ou, caso não possa pagar, é
a decisão de realizar o Boletim de Ocorrência de orientação jurídica ou psicológica, como seu direito ter acesso à Defensoria Pública do
Policial (BO) deve ser dela, salvo nos casos de os Centros Especializados de Atendimento à Estado ou um órgão que preste esse serviço gra-
risco de morte ou em que haja lesões físicas tuitamente, para ser acompanhada no processo
graves. cível e/ou criminal. A mulher não perde seus
Com relação ao Boletim de Ocorrência Policial direitos se precisar sair de casa para evitar a
(BO), é importante destacar que nos casos de violência. Nessas situações, deve procurar a
crime de lesão corporal no âmbito da violência autoridade policial e pedir proteção, transporte
doméstica, conforme Art. 129 do Código Penal para um lugar seguro e escolta para retirada dos
Brasileiro, este não é passível de retratação pela pertences da casa.

28
UN3 Os serviços que compõe a rede de atenção e proteção

Na defensoria as mulheres podem acessar tendo a violência, ele pode ser preso. Além disso, forma, estas prisões são temporárias. No final
orientações sobre os direitos que lhes são asse- o juiz pode pedir a prisão preventiva se houver do processo criminal o autor da violência pode
gurados (integridade, guarda de filhos, pensão necessidade e para garantir o cumprimento das ser condenado à prisão. Dentre as principais
alimentícia, acesso a programas sociais etc.), medidas protetivas de urgência. De qualquer medidas protetivas, destacam-se:
as situações que podem levar à prisão do autor
da violência, encaminhamento a atendimento
AÇÕES PROTETIVAS
psicossocial, entre outras atribuições.
Ao Ministério Público cabe representar a
Encaminhamento para programa de Suspensão da posse ou restrição de
sociedade na denúncia e busca de responsabili- proteção ou atendimento. posse de armas do autor de violência.
zação cível e criminal do autor da violência, so-
Pagamento de pensão alimentícia Proibição de contato com a vítima,
licitar medidas protetivas em defesa da mulher, para a mulher e/ou dependentes. seus familiares e testemunhas, por
requisitar força policial e serviços públicos de qualquer meio de comunicação
Restituição de bens indevidamente
saúde, de educação, de assistência social e de (telefone, e-mail, redes sociais).
retirados pelo autor de violência.
segurança, entre outros. Por sua vez, cabe a este Proibição do autor de violência de
Suspensão das procurações conferidas
serviço fiscalizar os estabelecimentos públicos frequentar determinados lugares.
pela mulher ao autor de violência.
e particulares de atendimento à mulher em situa- Restrição ou suspensão de visitas aos
Proibição temporária para celebração
ção de violência doméstica e adotar as medidas filhos ou demais dependentes.
de contratos de compra, venda e
administrativas ou judiciais cabíveis no tocante locação de bens em comum. Proibição da divulgação/ compartilha-
a quaisquer irregularidades constatadas. mento de fotos e/ou vídeos íntimos,
O afastamento do autor da violência
envolvendo a mulher, em redes
Se ao denunciar o autor da violência, e se a do lar, domicílio, ou local de
sociais ou qualquer outro meio.
polícia chegar enquanto o mesmo estiver come- convivência com a vítima.

29
UN3 Os serviços que compõe a rede de atenção e proteção

forma de violência, a violência institucional.


O vínculo conjugal não precisa ser for- VOCÊ SABIA?
Pode-se recorrer à Procuradoria de Justiça do
mal, contempla inclusive ex-namorados/ A Lei nº 12.015/2009, que trata sobre
parceiros e também ex-namoradas/ Crimes contra a Dignidade Sexual, con- Estado e ao Ministério Público para registrar
parceiras. Esta lei se estende a todas as sidera como crime de estupro de vulne- uma denúncia, ou formalizar a reclamação sobre
mulheres, sejam heterossexuais, lésbi- rável, independentemente do sexo da o atendimento inadequado recebido por meio do
cas, bissexuais, travestis ou transexuais, vítima, qualquer tipo de relacionamento
Ligue 180.
desde que se identifiquem como mulhe- sexual (conjunção carnal ou outro ato
res, independente do seu sexo biológico libidinoso) com crianças e adolescentes
ou orientação sexual. com idade inferior a 14 anos. É crime
também a prática de tais atos diante
de menores de 14 anos ou a indução a
Caso a pessoa em situação de violência presenciá-los (BRASIL, 2009).
tenha menos de 18 anos de idade, o profissional
que lhe atendeu tem a obrigação de comunicar
ao Conselho Tutelar e/ou ao Ministério Público Caso a mulher receba atendimento inadequa-
para que as medidas de proteção sejam do, discriminatório ou depreciativo nos serviços
promovidas. Da mesma forma, se a mulher públicos da rede intersetorial de atenção a
tiver mais de 60 anos de idade, o profissional pessoas em situação de violência (Delegacias,
que realizar o atendimento deve informar o Centros de Referência, Abrigos, etc.), esta situ-
Conselho do Idoso ou ao Ministério Público. ação deve ser registrada, pois se trata de uma

30
Considerações finais

Desejamos que com as informações que trouxemos, você faça parte da


rede de apoio às mulheres em situação de violência doméstica. Entendemos
que o conhecimento faz a diferença no enfrentamento desse grave problema,
que é a violência doméstica.
Por fim, nosso pedido é que você compartilhe essas informações para que
mulheres, que sofreram ou não com a violência, para transmitir o conhecimento
sobre o tema e assim apoiar outras mulheres.

31
Referências de violência. Departamento de Medicina Preventiva da

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo;


BARROS, E. N. Prevalência e fatores associados à violência
University of Bristol, 2018.
por parceiro íntimo em mulheres de uma comunidade em

Recife/Pernambuco, Brasil. Ciênc. saúde colet., v. 21, n. D’OLIVEIRA, A. F. P. L.; SCHRAIBER, L. B et al. Manual para

2, fev. 2016. Disponível em: <https://www.scielosp.org/ profissionais de saúde sobre como atender mulheres

scielo.php?pid=S1413-81232016000200591&script=sci_ em situação de violência. Departamento de Medicina

arttext&tlng=en>. Acesso em: 30 jan. 2019. Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de

São Paulo; University of Bristol, 2018.


BRASIL. Presidência da República. Lei n. 12.015, de 7 de

agosto de 2009. Disponível em: <http://www.planalto. FERREIRA, R. M. et al. Características de saúde

gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12015.htm>. de mulheres em situação de violência doméstica

Acesso em: 17 dez. 2018. abrigadas em uma unidade de proteção estadual.

Ciênc. saúde colet., v. 21, n. 12, dez. 2016. Disponível


BRASIL. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
em: <https://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S1413-
e Ministério da Justiça e Cidadania (2016). Central de
81232016001203937&script=sci_arttext>. Acesso em: 30
Atendimento à Mulher – Ligue 180: Balanço Anual 2016.
jan. 2019.
Disponível em: <https://www.compromissoe

atitude.org.br/wp-content/uploads/2017/06/Balanco- LEITE, F. M. C. et al. Violência contra a mulher em

Anual-180_2016.pdf> Acesso em: 17 dez. 2018. Vitória, Espírito Santo, Brasil. Rev. Saúde Pública, v. 51,

2017. Disponível em: <http://www.rsp.fsp.usp.br/artigo/


D’OLIVEIRA, A. F. P. L.; SCHRAIBER, L. B et al. Guia
violencia-contra-a-mulher-em-vitoria-espirito-santo-
para orientação específica a mulheres em situação
brasil/>. Acesso em: 30 jan. 2019.

32
MELO, Z. M.; SILVA, D. M.; CALDAS, M. T. Violência TONELI, F. M. J.; BEIRAS, Ad.; RIED, J. Homens autores

Intrafamiliar: crime contra a mulher na área metropolitana de violência contra mulheres: políticas públicas, desafios

do Recife. Psicol. Estud., v. 14, n. 1, p. 111-9, 2009. e intervenções possíveis na América Latina e Portugal.

Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, v. 51, n. 1, p.


MINISTÉRIO PUBLICO DO ESTADO DA BAHIA. Mulher, vire
174-193, nov. 2017.
a pagina. Projeto GEDEM, 2018.

VIEIRA, Luiza Jane Eyre de Souza et al. Fatores de risco


OPAS. Folha informativa - Violência contra as mulheres.
para violência contra a mulher no contexto doméstico
2017. Disponível em: <https://www.paho.org/bra/index.
e coletivo. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?option=com_content&view=article&id=5669:folha-
php?script=sci_arttext&pid=S0104-1290
informativa-violencia-contra-as-mulheres&Itemid=820>.
2008000300012>. Acesso em: 31 jan. 2019.
Acesso em: 31 jan. 2019.

SANTOS, S.C.T.. et al. Mulher: Vire a página ... e seja

protagonista de um final feliz. Promotoria de Justiça de

Enfrentamento à Violência Doméstica (GEVID). Ministério

Público do Estado de São Paulo. 5ª edição (2018).

SOARES, B. M. Enfrentando a violência doméstica

contra a mulher: orientações práticas para profissionais

e voluntários. Secretaria Especial de Políticas para

Mulheres. Brasília, 2005.

33
UFSC | 2022

Você também pode gostar