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ESTADO DO MARANHÃO

SECRETARIA DE ESTADO DOS DIREITOS HUMANOS ASSISTÊNCIA SOCIAL E CIDADANIA


FUNDAÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE-FUNAC/MA
Fonte do Bispo, Rua Cândido Ribeiro, nº 850, Centro, São Luís – MA / CEP: 65.015-910
Fone: (98) 3231-4738 / 3222-5041. Fax: (98) 3232-6484. E- mail: presidencia@funac.ma.gov.br
CNPJ nº. 05.632.559/0001-58

DIRETRIZES PARA O ATENDIMENTO


DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS:

Projeto Político Pedagógico

São Luis/MA
2012

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GOVERNADORA DO ESTADO DO MARANHÃO
ROSEANA SARNEY

SECRETARIA DE ESTADO DOS DIREITOS HUMANOS ASSISTÊNCIA SOCIAL


E CIDADANIA
LUIZA DE FÁTIMA AMORIM OLIVEIRA

PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


FLORIPES DE MARIA SILVA PINTO

DIRETORA ADMINISTRATIVO-FINANCEIRA
VÃNIA LÚCIA AROUCHA BRITO

DIRETORA TÉCNICA
RUTH MARY OLIVEIRA GONÇALVES

COORDENADORA DE PROGRAMAS SOCIOEDUCATIVOS


EUNICE DA CONCEIÇÃO FERNANDES

COORDENADORA DE ARTICULAÇÃO MUNICIPAL


DANIELLE FONSECA VERAS

ASSESSORIA DE PLANEJAMENTO E AÇÕES ESTRATÉGICAS


CLAUDIO JOSÉ BERNARDES

REVISÃO E AMPLIAÇÃO
EQUIPE TÉCNICA DA FUNAC

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 04
1 JUSTIFICATIVA..............................................................................................06
2 OBJETIVOS ...................................................................................................07
2.1 Geral ..............................................................................................................07
2.2 Específicos ...................................................................................................07
3- CONCEPÇÃO DE ADOLESCENTE EM CUMPRIMENTO DE MEDIDA........09
3.1 Natureza das Medidas Socioeducativas.....................................................11
4 FUNDAMENTOS TEÓRICOS NORTEADORES DA AÇÃO
SOCIOEDUCATIVA .................................................................................................13
5. PRINCÍPIOSTEÓRICOS NORTEADORES DA AÇÃO.................................18
6 PARÂMETROS DA PROPOSTA PEDAGÓGICA - Eixos Operacionais.....20
6.1 Educação........................................................................................................20
6.1.1 Educação Básica............................................................................................22
6.1.1.1Escolarização.................................................................................................24
6.1.2Profissionalização.............................................................................................29
6.2 Cultura, Esporte e Lazer................................................................................29
6.3 A arte como Princípio Formativo.....................................................................30
6.4 Assistência a Espiritualidade..........................................................................30
6.5Assistência a Saúde............................................................................................31
6.6Segurança ..........................................................................................................32
6.7 Atendimento às Famílias.................................................................................34
7 PRINCÍPIOS DA INCOMPLETUDE INSTITUCIONAL...................................35
8 METODOLOGIA DE GESTÃO.......................................................................36
9 RECURSOS HUMANOS................................................................................37
10 SISTEMA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO ......................................40
REFERÊNCIAS.......................................................................................................42

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APRESENTAÇÃO

A Fundação da Criança e do Adolescente-FUNAC, criada em conformidade


com a Lei nº 5.650/93, órgão do poder executivo estadual, vinculado à Secretaria de
Estado de Direitos Humanos e Assistência Social, é responsável pela execução da
política de atendimento a adolescente em conflito com a lei, tendo como parâmetro
aConstituição Federal/88, o Estatuto da Criança e do Adolescente, os parâmetros do
Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo- SINASE, a Lei 12.594/2012, o
Plano Estadual de Atendimento Socioeducativo, além de Normativas Internacionais
das quais o Brasil é signatário, tais como: Convenção da ONU, Regras de Beijing e
Diretrizes de Riad.
A execução das medidas socioeducativas a adolescentes autores de ato
infracional está prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente que oferece
também as principais diretrizes conceituais e legais para que as medidas cumpram o
seu objetivo de oportunizar a (re)construção do projeto de vida desses adolescentes
de forma a promover seu desenvolvimento pessoal e social a partir do
reconhecimento e valorização de suas potencialidades.
Neste sentido, a FUNAC, através de um esforço coletivo, envolvendo
discussão, reflexão, execução e sistematização das ações, iniciou no ano de 2007 o
processo de revisão do Projeto Político Pedagógico, sendo discutido pelos técnicos
das Unidades sob a Coordenação das Medidas Socioeducativas e consolidado
através de um Seminário com a participação dos Diretores e técnicos das Unidades,
Chefes de Setores e Programas, realizado no dia 02 de setembro do referido ano.
No ano de 2012, em virtude da aprovação da Lei nº 12.594 – SINASE,
identificou-se a necessidade de uma nova revisão do Projeto Político Pedagógico da
FUNAC com posterior encaminhamento para aprovação no Conselho Estadual de
Direitos da Criança e do Adolescente.
O Projeto Político Pedagógico contém os princípios e fundamentos teóricos
norteadores do atendimento socioeducativo executado por esta Fundação, bem
como os eixos estratégicos necessários ao cumprimento de sua função social, tendo
claro quais os objetivos da organização a serem atingidos e os instrumentos
pedagógicos a serem utilizados para o alcance desses objetivos.

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Nessa perspectiva, o Projeto Político Pedagógico se constitui um instrumento
teórico-metodológico a ser (re)construído, socializado e
implementadocotidianamente nas unidades de atendimento, visando contribuir com
maior eficiência e eficácia na execução das medidas socioeducativas.
Para tanto, convocamos todos os servidores da FUNAC a tornar realidade
esta diretriz de forma a garantir a proteção integral de que são destinatários os
adolescentes atendidos por esta Fundação, o que só será possível com a efetiva
participação e compromisso da comunidade socioeducativa.

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1. JUSTIFICATIVA

Segundo dados do Censo 2010, o Maranhão é o estado que tem,


proporcionalmente, a maior concentração de pessoas em condições extremas de
pobreza. Da população de 6,5 milhões de habitantes, 1,7 milhão está abaixo da linha
de miséria (ganham até R$ 70 por mês). Isso representa 25,7% dos habitantes —
mais que o triplo da média do país, que é de 8,5%. O Brasil, segundo o IBGE, tem
16 milhões de miseráveis e 10% desse total estão no Maranhão.
Diante desse quadro, a FUNAC, considera que a prática de atos infracionais
cometidos por adolescentes é permeada por um conjunto de fatores sociais,
econômicos, políticos e culturais, os quais devem ser considerados. Nessa
perspectiva as ações socioeducativas devem possibilitar aos adolescentes um
espaço pedagógico que os favoreçam pensar e criar possibilidades de superação
das condições que os levaram a cometer o ato infracional. De acordo com Antônio
Carlos Gomes da Costa“A medida socioeducativa é uma decisão; o programa
socioeducativo a ser desenvolvido junto ao adolescente é ação.”(COSTA,2006)
Para que a ação socioeducativa seja de fato desenvolvida conforme os
princípios do ECA e SINASE, faz-se necessário um esforço conjunto com as outras
políticas públicas. Nessa perspectiva, fomentar a participação permanente de outros
órgãos governamentais se constitui em uma das tarefas fundamentais de um projeto
sócio-pedagógico que vise a educação para a cidadania, desenvolvendo a auto-
confiança e a auto-estima desses adolescentes.
Os adolescentes necessitam de um ambiente propício para a garantia do
direito a educação, saúde física e mental, que promova sua preparação para o
trabalho e contenham atividades de lazer e cultura. Considera-se que a garantia do
direito a educação, ao esporte, a cultura, a religião, dentre outros, são fundamentais
para que os adolescentes possam ter condições de retornarem ao convívio familiar e
social.
Nesta perspectiva, a FUNAC-MA na busca de implementar esse trabalho
reelabora seu Projeto Político Pedagógico, sintonizado com a nova visão de mundo
e em permanente busca pela qualificação da execução das medidas
socioeducativas. Entretanto, para que as ações aconteçam torna-se imprescindível
que todos os envolvidos entendam o significado desse projeto e se comprometam
com o mesmo propósito.
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Em função do enfretamento dessa complexa problemática, a FUNAC, elege
como missão institucional garantir o cumprimento da política de atendimento
especial a adolescente em conflito com a lei, de forma articulada, promovendo o seu
desenvolvimento pessoal e social a partir da valorização de suas potencialidades e
habilidades.
Ressalta-se ainda, que para sua implementação deve-se considerar o
respeito aos direitos humanos e às diferenças, gestão democrática, crença na
possibilidade de transformação das pessoas, descentralização das ações,
intersetorialidade das políticas públicas, postura ética e transparência como valores
fundamentais dos sujeitos, responsáveis pela execução das medidas
socioeducativas.

2. OBJETIVOS
2.1 Geral

Desenvolver com qualidade o atendimento integral aos adolescentes em


cumprimento das medidas socioeducativas privativas e restritivas de liberdade, na
perspectiva da (re) construção do projeto de vida, em consonância com os preceitos
estabelecidos nas normativas internacionais das quais o Brasil é signatário,
Constituição Federal de 1988, ECA e SINASE.

2.2 Específicos

 Proporcionar aos adolescentes a garantia de seus direitos, através da realização


de ações educativas, formativas, esportivas e de lazer que contribua pra o
resgate de sua identidade por meio da valorização de suas potencialidades
enquanto sujeitos de direitos, em plena fase de desenvolvimento.
 Construir regras coletivas que favoreçam uma vivência pautada em princípios
éticos e solidários em todos os envolvidos no cumprimento da medida
socioeducativa;
 Assegurar o acesso do adolescente à educação escolar e desenvolver
estratégias que favoreçam a profissionalização propiciando a inserção no
mercado de trabalho;

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 Desenvolver o processo de mobilização e sensibilização de órgãos públicos
visando a parcerias e inserção dos egressos de internação no mercado de
trabalho;
 Garantir acompanhamento e encaminhamento sistemático do público egresso da
medida de internação aos benefícios e demais ações das políticas públicas
tendo em vista a diminuição de reincidência;
 Articular junto à secretaria de saúde visando garantir o atendimento de saúde
segundo a Portaria Interministerial MS/SEDH/SPM nº 1.426 de 14/07/2004 e a
Portaria de Atenção à Saúde nº 340 de 14/07/2004 que estabelecem normas
para operacionalização de saúde dos adolescentes em conflito com a lei, em
regime de internação e internação provisória masculina e feminina;
 Agilizar os procedimentos jurídicos junto dos órgãos competentes a fim de
garantir o cumprimento da medida dentro do prazo determinado pelo ECA;
 Assegurar ao adolescente autor de ato infracional o acesso a atividades culturais
de caráter educativo que possibilite mudanças de atitudes e comportamento e,
sobretudo que contribua para a construção de projeto de vida.
 Proporcionar um processo de formação contínua do corpo funcional das
Unidades, instrumentalizando a prática dialogada, critica participativa,
democrática, criativa, contextualizada e voltada para a construção de
aprendizagem significativa, tendo como referência os procedimentos da Política
de Proteção Institucional sob a articulação da Divisão de Capacitação.
 Garantir uma ação socioeducativa através do atendimento personalizado,
individual e em pequenos grupos, favorecendo o desenvolvimento da auto-
estima, o protagonismo juvenil e o resgate dos vínculos afetivos familiares e
comunitários.
 Acompanhar sistematicamente as famílias dos adolescentes em cumprimento de
medidas privativa de liberdade por meio de ações e atividades que favoreçam a
participação ativa e qualitativa da família no processo sócioeducativo
possibilitando o fortalecimento dos vínculos familiares.
 Articular as políticas públicas de educação, saúde, trabalho, previdência social,
assistência social, cultura, esporte, lazer com propósito de garantir a inclusão de
adolescentes e famílias.

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3- CONCEPÇÃO DE ADOLESCENTE EM CUMPRIMENTO DE MEDIDA
Conforme determina o Estatuto da Criança e do Adolescente, o adolescente é
concebido como pessoa em processo de desenvolvimento, sujeito de direito e
destinatário de proteção integral. Nessa condição, de pessoa em processo de
desenvolvimento, cabe ao órgão responsável pela operacionalização das medidas, a
missão de protegê-lo, cujo processo se dá a partir de um conjunto de ações que,
propicia a educação formal, a profissionalização, saúde e demais direitos
assegurados legalmente. Esta legislação restringe a fase da adolescência entre os
12 e 18 anos de idade.
Compreende-se ainda adolescência como uma fase de transição da infância
para a vida adulta, momento em que o indivíduo molda a sua identidade, faz suas
escolhas, e se prepara para o ingresso do mundo adulto, podendo-se afirmar que a
adolescência é um período de constantes transformações no corpo, na mente e na
vida social. Com todas essas mudanças, é natural que os adolescentes sintam-se
angustiados e não saibam lidar com tais transformações. Assim, é importante que os
adultos compreendam com clareza estas mudanças, para não tratar pequenos
eventos como grandes problemas ou recriminar o adolescente por atos e fatos que
não dependem do seu controle. Nesse período é importante que os familiares e
profissionais contribuam para o fortalecimento da auto-estima do adolescente,
afirmando que a beleza não está relacionada única e exclusivamente às
características físicas, mas principalmente aos sentimentos e ao caráter das
pessoas.
Quanto às transformações sociais, acontecem das mais diversas maneiras,
influenciadas por uma série de variáveis: culturais, estruturais, familiar, condição
sócio-econômica, entre outras. Todos esses fatores determinam formas distintas de
vivenciar a adolescência, uma vez que a construção da identidade é pessoal e
social, acontecendo através de troca entre o indivíduo e o meio em que está
inserido.
Sua condição de sujeito de direito, implica considerar o seu protagonismo
ativo nos processos decisórios que diz respeito ao seu projeto de vida, garantindo
assim o respeito à sua autonomia, no contexto do cumprimento das normas legais.
O adolescente autor de ato infracional como é ser eminentemente social, tem
o seu desenvolvimento constituído nas e pelas relações sociais. Nesse sentido,

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acredita-se na possibilidade de mudança daquele adolescente cuja sociedade insiste
em dizer que não há jeito para si. Parafraseando Costa (2006):

Um ato infracional cometido por adolescente por mais grave que seja,
nunca é o todo de um ser humano. Haverá sempre além das dificuldades
especifica outras dimensões a serem trabalhadas... Será necessário
descobrir neste adolescente aptidão e capacidades que apenas um
balanço criterioso e sensível permitirá despertar e desenvolver.

É necessário reconhecer o adolescente como sujeito com potencial para


superar suas limitações e fazer exigências possíveis de serem realizadas pelos
adolescentes, respeitando sua condição peculiar e seus direitos.
A adolescência é uma fase de busca da maturidade, na medida em que nada
é estável nem definitivo, é uma fase também, de novas sensações, e experiências
antes desconhecidas. Para aqueles que a acompanham, a exemplo dos pais, esta
etapa é percebida como uma fase difícil no processo de educação dos filhos. A
adolescência é um processo caracterizado por conflitos internos que exige do
adolescente a elaboração e a ressignificação de identidade, imagem corporal,
relação com a família e com a sociedade. Portanto, é um período rico de
experiências estruturantes da identidade do ser humano. As relações sociais,
culturais, históricas e econômicas da sociedade, são decisivas na constituição da
adolescência. Para o pleno desenvolvimento das pessoas que se encontram nessa
fase da adolescência, é essencial que sejam fornecidas condições sociais
adequadas à consecução de todos os direitos a elas atribuídos.
Assim, para compreender o adolescente, tanto em seu desenvolvimento
pessoal quanto na sua relação com o mundo, é preciso olhar para ele de vários
ângulos, que inclua não só as transformações biológicas e psicológicas, de
importância fundamental, mas também o contexto sócio-econômico, cultural e
histórico, no qual ele está inserido, pois a questão das desigualdades e injustiças
sociais repercute profundamente na adolescência.
Nesse cenário, o ato infracional compõe um quadro de situações vivenciadas
pelo adolescente, onde muitos são oriundos de famílias vitimadas pela exclusão
social, em decorrência da ausência ou precariedade de políticas públicas
direcionadas especificamente, aos adolescentes e jovens, bem como a falta de
compreensão da sociedade, do Estado e da família, contrariando sua condição de

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sujeito de direito, pessoa em condição peculiar de desenvolvimento e
conseqüentemente todos os direitos inerente a pessoa humana.
Percebe-se que no geral o ato infracional cometido por adolescentes oriundos
de famílias vulnerabilizadas, dar-se-á pela precariedade das condições sócio-
econômicas, desprovidas de expectativas educacionais e de inserção no mundo do
trabalho. Muitas vezes, vítimas de agressão física, da violência sexual, da
discriminação, cuja organização familiar, normalmente apresenta-se com relações
conflituosas onde a carência afetiva e material fazem com que ingressem no mundo
da droga, do crime e da violência, conforme, enfatiza Costa (2006,p.24):

Imerso, por um lado, nas solicitações da mídia que, a todo o


momento, coloca-o diante de apelos cada vez mais amplos, profundos e
sutis ao consumo desenfreado de bens e serviços. Por outro lado, num
contexto inibidor de oportunidades reais de inclusão, ele vê restringirem-se
cada vez mais suas possibilidades de acesso aos objetos de um desejo
que se universaliza.

Esses fatores contribuem para o crescente aumento de adolescentes e jovens


infratores, requerendo uma política de atendimento socioeducativo de caráter
inclusivo, que contribua para desenvolver valores e fortalecer a humanização,
tornando-os sujeitos de direitos e protagonistas de sua história.

3.1 Natureza das Medidas Sócioeducativas

O Estatuto da Criança e do Adolescente define que as medidas


socioeducativas serão aplicadas aos adolescentes em conflito com a lei,
considerando a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da
infração.
Sabe-se que as medidas socioeducativas possuem um caráter sancionatório
e ao mesmo tempo, um caráter pedagógico, devendo assim contribuir para o
desenvolvimento pessoal e social dos adolescentes em cumprimento das medidas
socioeducativas. Assim, comportam aspectos de natureza coercitiva e educativa,
levando o adolescente a reconhecer e reparar o erro cometido.
Desse modo, as medidas socioeducativas têm o propósito de assegurar
oportunidades, visando garantir o conjunto de direitos, oportunizando a inserção do
adolescente na vida social, fato que só será possível a partir de um conjunto de
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ações que propiciem a educação formal, profissionalização, saúde, lazer e demais
direitos assegurados legalmente de forma a concretizar o disposto na Constituição
Federal em seu Artigo 5º que estabelece a igualdade de todos perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza e a garantia do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade.

A politica de atendimento ao adolescente em conflito com a lei, é de


responsabilidade do Estado e deve obrigatoriamente, garantir as
condições (art 94) de ações que visem o fortalecimento dos vínculos
familiares de modo a garantir ao adolescente acesso a oportunidades que
lhe proporcionem superar sua condição de exclusão e construir valores
positivos de participação na vida familiar e social. (BRASIL, CF 1988)

Na perspectiva de garantir um atendimento de qualidade aos adolescestes


em cumprimento de medidas e que tenha como fundamento o respeito aos direitos
humanos, a FUNAC conta em sua estrutura organizacional com 08 (oito) Programas
de execução das medidas socioeducativas localizadas nos municípios de São Luis,
São José de Ribamar e Imperatriz, bem como 03 (três) ações de apoio à execução.
Conforme especificação abaixo:

Nº Programas de Atendimento Natureza do Localização


Atendimento
01 Centro Integrado Atendimento inicial São Luís
02 Centro da Juventude Canaã Provisória São Luís
03 Centro da Juventude Semear Provisória Imperatriz
04 Centro Juventude Esperança Internação Masculina São José de
Ribamar
05 Centro da Juventude Alto da Internação Masculina São Luís
Esperança
06 Centro Juventude Florescer Internação Feminina São Luís
07 Centro da Juventude Nova Semiliberdade São Luís
Jerusalém masculina
08 Centro da Juventude Cidadã Semiliberdade Imperatriz
09 Atendimento à família Fortalecimento dos
vínculos familiares
10 Atendimento a egressos Egressos
11 Núcleo de profissionalização Capacitação
profissional

Importante destacar que as Unidades de atendimentos acima relacionadas


trabalham com o conceito de socioeducação ou educação social, que visa o
aprendizado para o convívio social, para o exercício da cidadania. Assim, considera-
se como maior desafio do trabalho socioeducativo com os adolescentes autores de
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atos infracionais o desenvolvimento de novas competências pessoais, e relacionais,
produtivas e cognitivas.

4. FUNDAMENTOS TEÓRICOS NORTEADORES DA AÇÃO SOCIOEDUCATIVA

O Projeto Politico Pedagógico se constitui um instrumento ordenador da ação


e gestão do atendimento socioeducativo de qualquer organização. No âmbito das
Unidades de atendimento enseja intencionalmente o desempenho do papel
educativo exercido pelos profissionais que desenvolvem a educação daqueles que
são sujeitos e objetos do seu trabalho.
O projeto destina-se a um público alvo específico: adolescentes e jovens em
conflito com a lei, de ambos os sexos, em cumprimento de medida sócioeducativa
nas Unidades de Atendimento da FUNAC, na faixa etária de 12 a 18,
excepcionalmente aos 21 anos. Em sua maioria apresentam história de vida
permeada por sentimentos de medo, angústia, revolta, preconceitos, insegurança,
solidão, desrespeito e outros determinantes que impuseram experiências
traumáticas causando atitudes de violência que provocaram a prática de atos
infracionais, culminando na perda de um de seus bens mais preciosos que é a
liberdade humana.
Considerando o contexto dessa realidade, o processo educativo a ser
desenvolvido por esta Fundação deverá se apoiar em procedimentos que favoreçam
transformações de atitudes e comportamentos, mentalidades, valores sociais,
possibilitanto o acesso a escolarização, saúde, a profissionalização e aos valores
culturais e sociais, desenvolvendo um processo educativo consubstanciado na
humanização.
Este Projeto Politico Pedagógico traz em seu bojo um referencial teórico-
metodológico como norteador das ações no ambito do trabalho socioeducativo, pois,
toda e qualquer ação implica reflexão e adoção de referenciais teóricos. Não há
como fazê-lo sem ter a compreensão de uma visão de mundo e uma sólida reflexão
de cunho teórico-metodológico.
Com base nessa compreensão, destacam-se as contribuições teóricas a
seguir, numa perspectiva de que as Unidades de Atendimento e execução das
medidas socioeducativas da Fundação se constituam um espaço acolhedor,

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motivador, inovador, incentivador da participação, da formação humana, da
criatividade, da cooperação, do diálogo, da iniciativa pessoal e coletiva.
Nesse contexto, a ação socioeducativa do presente projeto, está
consubstanciado na Pedagogia da Presença e na Pedagogia Amigoniana.
A primeira está baseada no ideário do educador Antonio Carlos Gomes da
Costa, cuja orientação básica desta pedagogia é resgatar o que há de positivo na
conduta dos jovens em dificuldades, sem rotulá-los, nem classificá-los em categorias
baseadas apenas nas suas deficiências, ajudando a vencerem as dificuldades
pessoais e a reconciliarem-se consigo mesmo e com os outros, condição necessária
para mudança de sua forma de inserção na sociedade. Para o autor “Fazer-se
presente na vida do educando é o dado fundamental da ação educativa dirigida ao
adolescente em situação de dificuldade pessoal e social. A presença é o conceito
central, o instrumento-chave e o objetivo maior desta pedagogia (Costa,2001.p 23).
Nesta concepção, a função essencial e permanente do educador é :
comunicar ao jovem, elementos capazes de permitir-lhe compreender-se e aceitar-
se e compreender e aceitar os demais, reafirmando assim, a finalidade maior do
processo educacional, inclusive daqueles privados de liberdade, que deve ser a
formação para a cidadania. O referido autor enfatiza que a pedagogia da presença:
“convoca para a ação a pessoa humana, o educador e o cidadão. E é nesta ultima
condição que cabe ao educador empenhar-se também no sentido daquelas
mudanças amplas e profundas, tendo como horizontes de seus esforços a historia
de seu povo” (2001,p. 37).
Nesse aspecto o autor chama a atenção para a importância do compromisso
político que deve ser assumido pelo educador. Nessa perspectiva o autor ressalta
que:

O socioeducador deve ter um conceito de homem, de mundo, do


significado e do sentido da ação socioeducativa para a construção de um
mundo melhor, mais justo, mais humano. [...] trata-se uma atitude básica
diante do educando (COSTA, 2006).

Para o referido autor, a ação socioeducativa deve primar pelo


desenvolvimento de competências relacionadas a ser e conviver e sobretudo, para o
desenvolvimento do adolescente em direção ao seu desenvolvimento pessoal e
social , organizado a partir de três práticas básicas a saber: a docencia, a vivência e
presença educativa, esta última se constitui a pedra angular da pedagogia da
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presença. Para a ação socioeducativa ressalta, todas as atitudes , posturas, gestos,
ações da equipe de educadores deve favorecer o crescimento do educando como
pessoa, cidadão ou futuro profissional.
Nesse sentido, a pedagogia da presença representa um passo na direção do
esforço, que se faz necessário para a melhoria da qualidade da ação
socioeducativa, bem como, da relação significativa entre educador e educando. Em
consonância com essa perspectiva, a pedagogia da presencia metodologicamente,
diz que o educador tem que se educar para escutar e observar o conjunto dos
acontecimentos que transcorrem desde o inicio do cumprimento da medida do
adolescente até a sua saída e, ação educativa dentro da unidade de atendimento
deve contemplar desde o horário do lenvantar até o horário do recolhimento.
A Pedagogia Amigoniana como prática da “Reeducação” se situa no âmbito
da Pedagogia Geral. Denominada AMIGONIANA por se originar da experiência
desenvolvida pela Congregação dos Religiosos Terciários Capuchinhos, através da
visão de Dom Luis Amigó e Ferrer, fundamenta-se no campo especifico da
“Reeducação”. A Pedagogia Amigoniana traduz uma ação educativa centrada no
indivíduo e, busca, a partir de concepções humanistas de homem, sociedade e
mundo, levar ao adolescente em cumprimento de medidas sócioeducativas, os
meios necessários à elaboração do seu próprio projeto de vida.
Tem como concepção fundamental a compreensão do homem enquanto ser
integral, sujeito protagonista de sua própria vida, participante de um contexto
histórico e ambiental com potencialidades. Nesse percurso encontra-se em um
processo permanente de reconstrução marcado por tropeços e conquistas.
Para a pedagogia amigoniana não interessa lembrar que o adolescente está
cumprindo uma medida, mas sim vivendo um processo educativo com possibilidades
reais de crescimento. Para atingir esse crescimento, é estabelecido um método
progressivo, por etapas, que se desenvolve paulatinamente sustentado por um
regime disciplinar e de acompanhamento individualizado e personalizado.
Historicamente a pedagogia amigoniana tem evoluído ao tempo. Entretanto,
alguns elementos considerados básicos se mantém. Estes podem se constituírem
em pontos de referência para programas de atendimento ao adolescente em conflito
com a lei a saber:
 Elaboração de uma estrutura do processo de crescimento pessoal por níveis;

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 Estruturação no programa dos espaços de comunicação e de participação de
todos os membros;
 Construção e desenvolvimento da rotina pedagógica, atividades e projetos a
desenvolver dentro e fora da instituição,
 Acompanhamento a família;
 Elaboração e delineamento de abordagens intereducativas sócio-
terapêuticas, de acordo com as características da população;
 Estruturação da rotina pedagógica;
 Realização de programas paralelos que se assemelhem á vida cotidiana, tais
como; escola, oficinas profissionalizantes, celebração de datas especiais e
atividades externas;
 Estruturação de atividades de projeção e saídas da instituição;
 Seleção e capacitação de pessoal de forma continua.
È importante lembrar que, a influência da pedagogia amigoniana no Brasil
data de 1977, trazida por religiosos provenientes da Colômbia, pais em que essa
experiência havia dado certo. Hoje no Brasil, são duas as instituições citadas como
referências no atendimento socioeducativo, uma situada em Belo Horizonte e a outra
em Brasília. A exemplo de outros Estados, a FUNAC, está considerando estas
contribuições para o redimensionamento de suas ações socioeducativas no âmbito
de suas unidades de atendimento.
Da mesma forma a Pedagogia da Presença, vem se constituindo referencia
no trabalho desenvolvido com adolescentes autores de atos infracionais,
conquistando cada vez mais espaço entre os profissionais envolvidos no trabalho
socioeducativo. O autor, quando consultor do MEC, elaborou os Parâmetros
Curriculares da ação socioeducativa, uma importante contribuição para a melhoria
do trabalho socioeducativo.
Ambas correntes compartilham da mesma visão de mundo, de homem e de
educação. Acreditam na possibilidade de construção de um mundo justo, igualitário,
onde todos possam conviver sem preconceito de origem, raça, cor, idade e qualquer
outra forma de discriminação.
Estas partem de uma concepção humanista de homem, considerando-o como
agente de transformação e como um ser capaz de se transformar, construir novas
relações sociais e materiais com capacidade de desenvolver-se de forma autônoma,

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solidaria, crítica e reflexiva acerca da realidade.
Concebem a educação, como um dos mecanismos principais de
desenvolvimento humano em seus aspectos pessoal, produtivo e cognitivo,
preparando o individuo também, para sua inserção no mundo do trabalho de forma
qualificada e com condições de participar de forma positiva na construção de uma
sociedade onde todos tenham acesso aos bens e serviços na garantia da cidadania.
Portanto, é papel da educação preparar o homem para a vida.
Ressalta-se que Práticas Restaurativas e a Política de Proteção Institucional
constituem elementos que também fundamentarão as ações destinadas aos
adolescente em cumprimento de medida socioeducativa privativa e restritiva de
liberdade atendidos pela FUNAC.
As práticas restaurativas, consubstanciadas nas normativas nacionais e
internacionais, atinentes ao trato com adolescente autor de ato infracional, visam
criar na comunidade socioeducativa um ambiente seguro, protetor e
instrumentalizado com ferramentas restaurativas, baseado no respeito mútuo e na
cultura da paz.
Já a Política de Proteção no espaço institucional tem como finalidade garantir
um ambiente protetivo aos adolescentes em cumprimento de medida
socioeducativa, capaz de resguardar os direitos garantidos nas normativas, em um
ambiente democrático, participativo e de respeito aos direitos humanos.
Atendendo, ainda, as diretrizes pedagógicas do SINASE, na execução das
medidas socioeducativas, adota-se como estratégia de atendimento ao adolescente
três fases, a saber:

a) Fase inicial: compreende o período de acolhimento, de


reconhecimento e de elaboração por parte dos adolescentes do
processo de convivência individual e grupal, tendo como base as
metas estabelecidas no Plano de Atendimento Individual – PIA;

b) Fase intermediária: consiste no período de compartilhamento em que


o adolescente apresenta avanços relacionados nas metas
consensuadas no PIA;

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c) Fase conclusiva: período em que o adolescente deve apresentar
clareza e conscientização das metas conquistadas em seu processo
socioeducativo.

É com base nos pressupostos mencionados que se fundamentam as ações


socioeducativas a serem desenvolvidas pela FUNAC. Nesse sentido, os
pressupostos aqui apresentados nortearão a construção dos Planos de Ação das
atividades educativas a serem desenvolvidas nas unidades, bem como quaisquer
outros documentos relacionados ao atendimento.

5. PRINCÍPIOS NORTEADORES DA AÇÃO SOCIOEDUCATIVA

Historicamente, o atendimento ao adolescente em cumprimento de medida é


marcada por um caráter de cunho punitivo em detrimento do educativo, a exemplo
do Código de Menores aprovado com a lei de nº 6.697 de 1979, fruto de uma
ditadura militar. Segundo Volpi (2001), o caráter mais perverso do Código de Menor
e de sua fundante Doutrina da Situação Irregular estava na homogeneização da
categoria “menores”, em que adolescentes autores de infrações penais e
adolescentes vítimas de diversas formas de violência eram tratados igualmente por
uma ação concreta de caráter penal eufemisticamente denominada de tutelar.
Esse panorama legal só começa a se modificar no final da década de oitenta
e inicio dos anos noventa com uma intensa articulação social culminando com a
aprovação da Constituição Federal de 1988, em seu artigo 227, baseada na
Doutrina da Proteção Integral, originada na proposta de Convenção Internacional
sobre os Direitos da Criança da ONU.
Em consonância com os princípios constitucionais, tem início o processo de
elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente, muda-se a concepção de
infância e adolescência, passa-se a compreendê-los como sujeitos de direito,
pessoas em desenvolvimento. Para Volpi (2001 p.32), a historia brasileira do
atendimento aos direitos da criança e do adolescente a partir desse feito histórico,
coordenado pelo DCA, passa a ser dividida entre antes e depois do Estatuto da
Criança e do Adolescente
Essa nova configuração, no atendimento a criança e ao adolescente,
reconhece a existência de um novo sujeito político e social com garantias de direitos,

18
impõe mudanças significativas na metodologia de atendimento, estabelece a
prevalência de um processo socioeducativo em que o adolescente em cumprimento
de medida seja respeitado na sua dignidade como pessoa humana e estimulado a
desenvolver sua criatividade e potencialidades.
Essa etapa de responsabilização inaugurada pelo ECA, coloca a necessidade
da construção de diretrizes pedagógicas para o atendimento ao adolescente em
conflito com a lei, o que é contemplado com os parâmetros do Sistema Nacional de
Atendimento Socioeducativo- SINASE, publicado em junho 2006.
Com base nas diretrizes e orientações definidas pelo Sistema Nacional de
Atendimento Socioeducativo - SINASE, a proposta educativa da Fundação da
Criança e do Adolescente está fundamentada nos seguintes princípios:

 Fortalecer o processo pedagógico do atendimento em detrimento do caráter


sancionatório voltado para desenvolvimento do adolescente com um ser único e
em fase de desenvolvimento;
 Respeito aos direitos humanos como princípio e condição indispensável a uma
convivência coletiva, ética e democrática
 Valorizar as atividades artística- culturais como forma de aprendizagem
estimulando o processo de interação e integração do adolescente dentro das
unidades, que também, deverá ser realizado considerando os conhecimentos, as
experiências dos adolescentes;
 Reconhecer e vivenciar durante o atendimento socioeducativo os valores da,
solidariedade, justiça social, responsabilidade e respeito à diversidade cultural,
religiosa, étnico-racial, de gênero e sexual, que são valores norteadores da
construção coletiva dos direitos e responsabilidades;
 O educador como agente de mudanças deverá adotar posturas e atitudes que
evidencie sua crença na capacidade de transformação do adolescente, em sua
condição peculiar de pessoa em desenvolvimento;
 Disciplina como meio fundamental para realização da ação socioeducativa,
construindo regras claras de convivência coletiva;
 Protagonismo juvenil como forma de valorização de sua participação no processo
constituição como sujeitos autônomos, críticos, criativos, dotados de iniciativa.
 Participação efetiva da família durante o cumprimento da medida socioeducativa

19
e no acompanhamento do desenvolvimento pessoal e social do adolescente.
 Fortalecimento do núcleo familiar por meio do resgate e o fortalecimento dos
laços afetivos;
 Trabalho pautado pelo princípio da incompletude institucional, visando
complementação das ações e responsabilidades dos órgãos de natureza pública
que deve ser viabilizado por articulações permanentes;
 Prática de atendimento, individual e coletivo de acordo com as necessidades dos
adolescentes em cumprimento de medidas.
 Atendimento eminentemente de caráter pedagógico voltado a ressignificação de
valores.
 Formação continuada dos profissionais através de ações que sejam pertinentes
ao trabalho socioeducativo,voltado para o desenvolvimento das competências
pessoais, sociais, produtivas e cognitivas dos adolescentes;
 Respeito ao devido processo legal para o adolescente acusado de prática de ato
infracional;
 Atendimento especializado para adolescentes com deficiência e saúde mental;
 Ênfase no trabalho coletivo com embasamento teórico que possibilite a
compreensão dos desafios a serem enfrentados;
 Gestão democrática e participativa.

6. PARÂMETROS DA PROPOSTA PEDAGÓGICA – Eixos Estratégicos

A concretização do projeto politico pedagógico se consubstancia numa prática


que de fato garanta aos adolescentes e jovens atendidos por esta Fundação, seus
direitos de pessoa humana.
Nesta perspectiva, o presente projeto tem como referenciais básicos os
seguintes eixos estratégicos:

6. 1 Educação

Educar não significa somente a transferência de conhecimento, mas sim,


conscientização e testemunho de vida, pois a educação é para a vida. Isso significa
o reconhecimento das possibilidades de transformação pessoal e social.

20
Nessa perspectiva, definir objetivos claros no âmbito da educação é definir
prioridade, pois historicamente a educação sempre visou à formação humana.
Portanto, constitui-se em um dos fenômenos próprios do ser humano.
Assim sendo, a definição dos objetivos educacionais depende das prioridades
dadas pelas circunstancias em que se desenvolve o processo educativo. Logo, a
compreensão da natureza da educação passa pela compreensão das necessidades
do ser humano.
A educação é uma prática social que tem como uma de suas finalidades
inserir os sujeitos no universo social e cultural, envolvendo, mais diretamente, os
aspectos simbólicos da existência humana. Ela trabalha, fundamentalmente, com
conceitos e valores.
Em face dessa constatação, a educação se constitui em um processo
permanente com o qual todos nós estamos envolvidos na medida em que permeia
todos os espaços. Portanto, não há uma única forma e nem um único modelo de
educação, assim como a escola não é o único espaço, nem o professor o único
praticante.
Entretanto, existe um espaço que por sua especificidade se diferencia dos
demais espaços: a escola e, consequentemente, a sala de aula. A existência desse
espaço se caracteriza pela necessidade da transmissão e produção do
conhecimento sistematizado, pois toda ação educativa nesse espaço se dirige a um
ser humano singular, o educando, e é dirigida por outro ser humano singular, o
educador, em condições também singulares. Assim sendo, concorda-se com Saviani
(2005 p.13), ao enfatizar que: o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e
intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade.
Sobre a educação formal, o ECA enfatiza que:

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno


desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho, assegurando-lhes: I – igualdade de condições
para o acesso e permanência na escola.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB, Lei nº 9394/96, art.
4º, afirma que “o dever do Estado com educação escolar pública será efetivado
mediante a garantia de Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os
que a ele não tiveram acesso na idade própria universalização do Ensino Médio
gratuito.”
Também o SINASE, ao tratar do eixo educação a ser desenvolvido em
21
entidades ou programas que executam a internação e internação provisória,
argumenta sobre a garantia do acesso a todos os níveis de educação formal pelos
adolescentes inseridos no atendimento socioeducativo, podendo, ainda, haver
unidade escolar localizada no interior do programa, ser vinculada à escola existente
na comunidade ou haver inclusão na rede pública externa.
Em razão da singularidade do público atendido por esta Fundação, entende-
se por educação o ato de investir na humanidade do adolescente a partir de um
atendimento também humanizado e, sobretudo, acredita-se na possibilidade de
transformação do educando por meio da ação educativa baseada nos princípios da
cooperação e da solidariedade humana.
Sob essa ótica, a educação não se resume a uma relação específica entre o
socioeducador e o socioeducando. A diferença que se faz numa atuação concreta
entre aqueles que institucionalmente estão como educadores e aqueles que
institucionalmente estão como educandos, é que os educadores devem ter
conhecimentos específicos e aprofundados sobre concepções, teorias e
metodologias que subsidiem o trabalho educativo nas unidades de atendimento.
Quanto ao educando, cabe ao Estado oferecer as condições para a sua inserção na
escola, considerando sua especificidade, garantindo o acesso do adolescente a
educação escolar e desenvolvendo estratégias que favoreçam a sua permanência
em sala de aula.

6.1.1 Educação Básica

De acordo com a LDB, a educação básica é formada pela educação infantil,


ensino fundamental e ensino médio, além das modalidades de ensino. Quanto à
modalidade da Educação de Jovens e Adultos -EJA, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação, em seu artigo 37, destaca que a mesma será destinada àqueles que não
tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental na idade própria.
O Ensino Fundamental objetiva, conforme a lei citada, desenvolver a
capacidade do aluno para aprender; o domínio da leitura, da escrita e do cálculo; a
compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das
artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; a formação de atitudes e
valores; e o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade

22
humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social. E em seu
currículo deve estar incluso, obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das
crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz o ECA.
Considerando o Ensino Médio como ultima etapa da Educação Básica, tem
como uma de suas finalidades a preparação básica para o trabalho e a cidadania do
educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com
flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores. Deve
adotar, ainda, metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa dos
estudantes.
Já a Educação de Jovens e Adultos, é destinada àqueles que não tiveram
acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria,
consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de
trabalho, mediante cursos e exames. Os exames deverão ser realizados no nível de
conclusão do ensino fundamental, para os maiores de quinze anos, e no nível de
conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos. No exame, devem ser
considerados também os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos
por meios informais.
Nessa direção, as contribuições teóricas e metodológicas de alguns
educadores brasileiros, a exemplo de Paulo Freire, podem ajudar na compreensão
do trabalho socioeducativo, em função da especificidade e complexidade do publico
atendido. Interessante, observar o que Freire (1997), diz sobre o ato educativo:

Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível. O meu papel no


mundo não é só o de quem constata o que ocorre, mas também o de quem
intervém como sujeito de ocorrências. Não sou apenas objeto da história,
mas seu sujeito igualmente. No mundo da História da Cultura, da Política,
contato não para me adaptar, mas para mudar”.

Em consonância com essa concepção, de que a mudança é possível por isso


necessária, é que se pretende organizar o processo educativo dentro das unidades
de atendimento, de acordo com os níveis e ou modalidade de ensino.
Nessa perspectiva, deve-se manter uma articulação com as Secretarias de
Educação Estadual e Municipal para o ensino fundamental e médio e ou parcerias
para modalidades alternativas, levando em consideração a idade, as condições de
desenvolvimentos dos adolescentes e jovens envolvidos no processo e a cultura que
lhes é inerente.
23
6.1.1.1 Escolarização

A educação formal será ofertada conforme preconiza o SINASE. Para isso, as


atividades desenvolvidas serão de responsabilidade compartilhada entre FUNAC e
Secretarias de Educação, no sentido de atender aos socioeducandos em seu direito
fundamental de acesso ao ensino obrigatório e gratuito.
Tendo em vista que a maioria dos adolescentes em cumprimento de medida
socioeducativa, atendidos pela fundação, não está na idade própria do ensino
regular, conforme dados estatísticos disponíveis nos relatórios anuais da FUNAC, a
Educação de Jovens e Adultos (EJA) que é a modalidade oferecida pelo Estado do
Maranhão destinada ao público que não teve acesso ou continuidade do ensino na
idade própria, deverá ser ofertada aos adolescentes da referida medida que
apresentarem essa característica.
Todavia, não está descartada a necessidade de discussão com a política de
educação sobre as especificidades, inclusive metodológicas, a serem destinadas ao
público em privação ou restrição de liberdade. Ressalta-se, ainda, que àqueles que
não se adequarem ao perfil de aluno a ser contemplado com a EJA deverá ser
garantida a freqüência ao ensino regular.
A especificidade de cada medida também deverá ser pensada e detalhada
nas propostas pedagógicas de cada uma delas e firmada em convênio com as
Secretarias de Educação.
Na internação, a escolarização acontecerá, no espaço das unidades, embora
se considere o que o parâmetro do SINASE afirma quando se deve “estabelecer
uma progressividade para a realização de atividades externas (SINASE, 2006).”
Contudo, deverão ser observados, no adolescente, os seguintes critérios para
escolarização externa: fase de atendimento, comportamento e avaliação minuciosa
realizada por toda a equipe educativa que o acompanha e comunicação ao juizado
responsável. Além disso, será analisada a logística de segurança para a efetivação
das saídas dos adolescentes.
Já a escolarização para os adolescentes em cumprimento de Semiliberdade
deverá acontecer em escolas do entorno da unidade. Para a medida provisória, o
tempo de internação é fundamental para a definição de procedimentos
metodológicos diferenciados. Como definido na LDB, a EJA e os exames para
certificação do Ensino Fundamental e Ensino Médio constituem propostas que,

24
atualmente, devem contemplar os adolescentes da medida cautelar.
As unidades de internação e internação provisória, por sua vez,
disponibilizarão o espaço para funcionamento das salas de aula e se
responsabilizarão pela solicitação das matrículas à escola; solicitação, aos pais e/ou
responsáveis, de documentos necessários para compor o dossiê escolar; formação
das turmas, observando critérios de segurança; e material escolar básico como
caderno, lápis, etc. quando não for disponibilizado para os determinados níveis ou
modalidade de ensino.
Assim, o estado ou município, através das Secretarias de Educação e da
escola pertencente ao entorno das unidades, deverá oferecer, ainda: igualdade de
atendimento em relação àqueles que fazem uso regular da escola; efetivação da
matrícula de todos os socioeducandos; quadro de professores com perfil adequado
ao público; serviços administrativos e pedagógicos, como documentação,
supervisão, apoio pedagógico, avaliação e participação em conselhos; material
didático (livros e demais materiais oferecidos aos alunos que não cumprem medida
socioeducativa); participação em eventos escolares; dentre outros que forem
pertinentes.
No que diz respeito à qualidade do ensino, é imprescindível a realização
periódica de reuniões sistemáticas entre escola e unidades a fim de que sejam
discutidos: proposta pedagógica, política adotada pela Secretaria de Educação
responsável, planejamento, avaliação da comunidade escolar, procedimentos a
serem adotados pelos envolvidos na ação educativa, formação e participação de
representantes dos adolescentes e de toda a equipe educativa em conselho escolar;
etc.
A estrutura e organização atual do ensino público, considerando aspectos
como, por exemplo: carga-horária, questões curriculares e demais especificidades,
também devem ser alvo de análise a fim de que se adéquem à realidade do
atendimento socioeducativo.
No tocante aos conteúdos a serem executados, estes deverão estar em
acordo com as determinações nacionais para cada nível de ensino, dentre elas os
Parâmetros Curriculares Nacionais e demais Diretrizes Nacionais, além da Proposta
Estadual ou Municipal de Educação correspondente à cada nível ou modalidade.
Ressalta-se que o seguimento de tais referenciais não exclui a consideração da

25
realidade exposta pelo público ao qual se destina o presente projeto, devendo ser
construídas as adequações sob forma de registro documental, seguidas das devidas
regulamentações legais.
Os princípios da interdisciplinaridade e transversalidade também estão
subjacentes às ações pedagógicas a serem desenvolvidas, o que só reafirma a
importância da articulação não apenas das áreas de conhecimento, mas das
atividades planejadas pelos vários profissionais do Centro e, portanto, de todos os
sujeitos envolvidos nas mesmas.
A difusão de temáticas que não estão necessariamente ligadas a uma única
área de conhecimento, como por exemplo: ética e respeito, orientação sexual, temas
locais, dentre outros que se fizerem necessários no decorrer da prática pedagógica,
fundamenta a opção de trabalho com temas transversais.
Sobre a transversalidade, os Parâmetros Curriculares Nacionais da
Educação, afirmam que:
Por tratarem de questões sociais, os Temas Transversais têm natureza
diferente das áreas convencionais. Sua complexidade faz com que
nenhuma das áreas, isoladamente, seja suficiente para abordá-los. Ao
contrário, a problemática dos Temas Transversais atravessa os diferentes
campos do conhecimento... Diante disso optou-se por integrá-las no
currículo por meio do que se chama de transversalidade: pretende-se que
esses temas integrem as áreas convencionais de forma a estarem
presentes em todas elas, relacionando-as às questões da atualidade (PCN)

Assim, sugere-se para o trabalho da transversalidade, embora com os


mesmos possam ser pensadas atividades específicas ou direcionadas, os seguintes
temas: Adolescência, Estatuto da Criança e do Adolescente, Regimento Interno,
protagonismo juvenil, gravidez, aborto, nascimento de filho/a, responsabilidade
paterna e materna, responsabilidade de cuidado com irmãos e filhos, saída precoce
de casa, sexualidade e vida sexual, doenças sexualmente transmissíveis, namoro,
casamento e separação, deficiência, violência física e psicológica, exploração
sexual, abandono, trabalho infantil e padrões de gênero, raça e etnia; bem como
outros que se fizerem necessários.
Os professores que adentrarem o sistema socioeducativo no qual a fundação
está inserida, deverão estar vinculados às Secretarias de Educação, lotados em
escolas próximas às unidades ou nas próprias unidades, havendo anexo escolar
regulamentado. Tal procedimento deve ser adotado inclusive para a internação
provisória.

26
Esses profissionais deverão ser lotados por formação correspondente a cada
área de conhecimento, bem como possuir perfil para o atendimento socioeducativo
como descrito no documento “Perfil de Professores”, o qual foi resultado de
construção coletiva dos envolvidos na escolarização das medidas.
Cabe, portanto, aos professores, planejar as atividades afins, utilizando-se de
materiais didáticos diversificados que estimulem os adolescentes e favoreça o
processo de ensino-aprendizagem dentro das unidades de atendimento.
Caberá aos pedagogos das unidades, acompanhar, monitorar e avaliar a
evolução de cada educando na escolarização, através de reuniões sistemáticas com
professores, direção geral da escola e das unidades, bem como auxiliar os
professores nas questões pedagógicas.
Deverá ainda ser facilitado o acesso a bibliotecas estruturadas com apoio das
Secretarias de Educação ou outros no intuito de incentivar o hábito pela leitura
transformadora.
Quanto à formação continuada dos professores é de responsabilidade das
secretarias de educação, em conjunto com a FUNAC e ou outras instituições,
promover momentos formativos acerca de temáticas necessárias ao fazer educativo
nas unidades.

6.1.2 Profissionalização

O trabalho historicamente tem sido considerado como categoria básica, a


relação fundamental, mediante a qual se estrutura o modo humano de subsistência.
É pelo trabalho que o homem constrói a sua existência. Entretanto, na atual
conjuntura, a luta pela sobrevivência tem feito com que se privilegie o suprimento
das necessidades elementares em detrimento dos valores humanos, dada a pouca
importância ao trabalho como principio educativo, transformando-o em uma mera
ocupação produtiva.
Portanto, é necessário que se compreenda a profissionalização como um
direito à cidadania e não somente, como qualificação para o mercado de trabalho.
Para Lessa (2007, p. 142)
“O trabalho é, pois, a categoria fundante do mundo dos homens porque, em
primeiro lugar, atende á necessidade primeira de toda sociabilidade: a
produção dos meios de produção e de subsistência sem os quais nenhuma
vida social poderia existir. Em segundo lugar, porque o faz de tal modo que
27
já apresenta, desde o seu primeiro momento, aquela que será a
determinação ontológica decisiva do ser social, qual seja, a de, ao
transformar o mundo natural, os seres humanos também transformam a sua
própria natureza, o que resulta na criação incessante de novas
possibilidades e necessidades históricas, tanto sociais como individuais,
tanto objetivas com subjetivas.

O autor ressalta que o trabalho está diretamente ligado com a natureza da


educação e que o desenvolvimento humano se constitui a partir da evolução das
relações que os homens estabelecem entre si. Esta é a forma mais rica porque o
trabalho é o elemento fundante do ser humano.
É com base nessa compreensão que o Núcleo de Profissionalização, em
conjunto com instituições e órgãos que executam a qualificação profissional e a
política do trabalho no âmbito estadual, deverá incorporar em suas ações valores e
atitudes que promovam a dimensão da cidadania, superando o simples domínio de
habilidades.
Apesar dos Parâmetros para a formação do socioeducador PFS.(2006),
enfatizar que a educação profissional deve buscar desenvolver nos jovens, as
habilidades básicas, específicas que lhes permitam a aquisição dos conteúdos,
habilidades e competências necessárias para conquistar e manter uma ocupação,
defende-se uma qualificação que supere a visão meramente econômica, mostrando
também a importância do trabalho como um valor formativo, fonte importante da
dimensão humana. Segundo Volpi (2008), a concepção de trabalho deve valorizar
os aspectos pedagógicos necessários ao desenvolvimento pessoal e social do
educando, e não somente, a valorização de seu aspecto produtivo.
Dessa forma, a profissionalização estabelecida no Estatuto da Criança e do
Adolescente e na lei de Diretrizes e Bases da Educação é entendida como o
caminho para a emancipação humana, englobando numa mesma proposta a
articulação entre as formas de expressão, produção e organização social,
considerando que a necessidade mais concreta está sempre vinculada ao trabalho e
este ao pensar, para não se tornar uma atividade alienante.
A execução das ações de qualificação profissional se efetivarão através de
parcerias com instituições de reconhecida capacidade técnico-pedagógica, que
deverão considerar a especificidade do público alvo, a adoção de metodologias
apropriadas e adequadas ao atendimento do adolescente em cumprimento de
medida, desenvolvendo a qualificação profissional compatível com os interesses dos

28
educandos, vocações locais, demandas do mercado de trabalho, condições físicas e
materiais da instituição.

6.2 Cultura, Esporte e Lazer

A cultura, esporte e lazer se integram ao projeto pedagógico na perspectiva


do atendimento integral aos educandos pela sua natureza educativa estimuladora,
indutora e promotora de hábitos e padrões que propiciem a criatividade,
participação, o respeito às diferenças, a amizade e inclusão social, enquanto espaço
de construção coletiva de um processo educativo.
As atividades de cultura, esporte e lazer também se constituem em um
espaço privilegiado para expressão dos sentimentos e emoções com a intenção de
promoção e recuperação da saúde física e mental, além de ensino de valores,
lideranças, tolerâncias e, sobretudo a disciplina.
Nesta perspectiva as atividades propostas serão realizadas no dia-a-dia e
levarão em conta as peculiaridades e particularidades das manifestações da cultura
popular regional e local, as diversas formas de expressão artísticas (capoeira, hip
hop, pintura em tela, artes cênicas, literatura, artes plásticas, músicas, orquestra de
batuque, grafitagem, artesanatos, teatro etc...) que se concretizarão através de:
oficinas, mostras, exposições, apresentações, festivais, dentre outros.
Portanto, a realização das atividades esportivas e de lazer (futebol, basquete,
ping-pong, voley, dama e xadrez), como parte do processo socioeducativo, é
também um importante instrumento de construção de cidadania e espaço
privilegiado para o desenvolvimento do socioeducando. No cotidiano das Unidades
serão concretizadas práticas esportivas e culturais diversificadas, dentro de um
espaço de respeito e que possibilite a participação de todos, inclusive a integração
na comunidade que está inserida.
Essas atividades pedagógicas serão desenvolvidas diariamente por
profissionais habilitados e acompanhadas pelo setor técnico pedagógico que deverá
sondar as atividades de interesse dos adolescentes em cumprimento de medidas.
Será também promovida a exibição de filmes, cuja seleção obedecerá critérios
educativos. Dentro dessas atividades caberão, ainda, oficinas temáticas relevantes
para o desenvolvimento individual e coletivo dos socioeducandos.

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6.3 A arte como Princípio Formativo

A FUNAC compreende que a arte, como princípio educativo e formativo,


possibilita aos adolescentes expressarem suas vivências, além de proporcionar a
valorização de suas habilidades, potencialidades e criatividade. Ressalta-se ainda,
que as atividades artísticas são capazes de balancear de forma correta a disciplina
necessária para o exercício pleno da liberdade criativa.
Nessa perspectiva, a FUNAC entende que as diversas linguagens artísticas
promovidas através de oficinas de artes visuais, música, dança e teatro, despertam
a valorização e o interesse dos adolescentes pela arte e cultura como meio de
inclusão social e favorecimento de suas potencialidades artísticas.
Dentro do processo educativo, deve-se considerar a valorização da identidade
cultural dos adolescentes como forma de resgate e fortalecimento de seus
condicionamentos sócio-culturais,contribuindo para a ampliação de seu
conhecimento de forma criativa, além disso, constitui também em uma oportunidade
de inserção no mundo do trabalho.

6.4 Assistência a Espiritualidade

O artigo 3° do ECA ressalta os direitos fundamentais inerentes à pessoa


humana e, portanto, à criança e ao adolescente, evidenciando, ainda a proteção
integral para estes. O referido artigo também trata das oportunidades destinadas a
esse público, as quais devem lhes facultar, dentre outros, o desenvolvimento
espiritual.
Isto se estende aos artigos 94 e 124 da mesma lei que descrevem,
respectivamente, obrigações aos programas de internação e direitos do adolescente
privado de liberdade. Neles, consta a assistência religiosa àqueles que desejarem,
de acordo com suas crenças.
O SINASE também propõe o oferecimento de atividades de espiritualidade,
respeitando o interesse dos adolescentes em participar.
Com isso, a espiritualidade se constitui como um aspecto importante no
trabalho socioeducativo, na medida que promove a vivência de sentimentos e
perspectivas que transcendem o mundo concreto e imediato, fortalecendo a fé que

30
atua como instrumento do processo de mudança e crescimento humano e espiritual
do educando. Diante desse entendimento os adolescentes e jovens terão o direito
de cumprir os preceitos de sua religião, participar de cultos, ter em seu poder livros
ou objetos de culto ou instrução religiosa, de acordo com seus credos.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso (1998),
tem com objetivo a valorização da diversidade cultural presente na sociedade, além
de facilitar a compreensão das formas que exprimem o transcendente na superação
da finitude humana e que determinam, subjacente, o processo histórico da
humanidade. Alem disso, possibilita ainda, o esclarecimento sobre o direito a
diferença na construção de estruturas religiosas que têm na liberdade de culto o seu
valor inalienável.
O atendimento religioso será realizado em parceria com as instituições
religiosas, as quais deverão apresentar suas propostas de trabalho a fim de serem
acompanhadas pela equipe técnica das unidades.

6.5 Atendimento a Saúde


A saúde faz parte do rol de direitos fundamentais de responsabilidade do
Estado, da família e da comunidade, devendo estes garanti-la com absoluta
prioridade para as crianças e os adolescentes. Portanto, as ações e serviços para a
promoção, proteção e recuperação da saúde devem ser efetivados de maneira
igualitária, não admitindo qualquer tipo de pré-conceito para seu usufruto.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 7º, estabelece que “a
criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a
efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência”.
No contexto da ação socioeducativa, as demandas no campo da saúde
devem ser compartilhadas com as Secretarias de Saúde Municipal e Estadual em
cumprimento ao que determina a Portaria Interministerial MS/SEDH/SPM nº 1.426
de 14/07/2004 e a Portaria de Atenção à Saúde nº 340 de 14/07/2004 que
estabelecem normas para operacionalização de saúde dos adolescentes em conflito
com a lei, em regime de internação e internação provisória.
É imprescindível ainda, a garantia do acesso e tratamento de qualidade, a
nível de ambulatório de saúde mental, dos centros de atendimento psicossocial e

31
outros espaços da rede de atenção á saúde, conforme a lei de nº10216/2001, para
que as ações previstas nesse Projeto possam se efetivar, considerando que no
contexto das Unidades constata-se um número significativo de adolescentes e
jovens que apresentam problemas de saúde, sendo os mais citados:
 Doenças infecto-contagiosas e parasitárias, sendo mais freqüentes a
escabiose;
 Doenças sexualmente transmissíveis;
 Distúrbios psicossociais (de aprendizagem, baixa auto-estima);
 Problemas odontológicos.
É importante, pois, promover espaços que propiciem a participação e trocas
de experiências, além de garantir atendimento de casos mais complexos através da
rede de referencia municipal e estadual de saúde.
Além dos atendimentos médicos, odontológicos e campanhas de vacinação,
mensalmente os adolescentes deverão participar de oficinas temáticas que
favoreçam a vivência, a discussão e a reflexão coletiva sobre os seguintes temas:
 Corpo e auto cuidado;
 Auto-estima e auto-conhecimento;
 Relações de gênero;
 Relações étnico-raciais;
 Cultura da paz;
 Relacionamentos sociais: família, escola, turma, namoro;
 Prevenção ao abuso de álcool, tabaco e outras drogas;
 Violência doméstica e social, com recorte de gênero;
 Violência e abuso sexual, com recorte de gênero;
 Alimentação, nutrição e modos de vida saudável;
 Desenvolvimento de habilidades: negociação, comunicação, resolução de
conflitos, tomada de decisão.
 prevenção e tratamento de DST e AIDS,
 saúde sexual e reprodutiva
 saúde bucal
 saúde mental.

O desenvolvimento dessas atividades observará também o calendário local,

32
regional e nacional das diversas instituições envolvidas na promoção, proteção e
recuperação da saúde dos adolescentes.

6.6 Segurança
As unidades de atendimento da Funac serão norteados por um Plano de
Segurança Institucional, interno e externo, a ser elaborado juntamente com a
Secretaria de Estado de Segurança Pública e Polícia Militar, conforme determina o
SINASE, visando garantir a segurança de todos que se encontram no atendimento
socioeducativo.
Investir na prevenção e gerenciamento das situações-limite (brigas, fugas,
motins, rebelião, quebradeiras, agressões, incêndio, invasões, dentre outros);
orientar as ações do cotidiano; solucionar e gerenciar as situações mencionadas,
constituem ações a serem contempladas no referido Plano.
Outro aspecto relevante diz respeito à adoção de medidas que considerem os
três níveis de riscos para a integridade física, psicológica e moral dos adolescentes,
a saber: o relacionamento dos adolescentes com os profissionais, entre os
adolescentes e entre adolescente e a realidade externa, como orienta o SINASE.
Junto a isso, a constante comunicação (informação, discussão, dentre outros) com
toda a comunidade socioeducativa proporcionará melhor desempenho dos
trabalhos, além de contribuir para a diminuição das situações de conflito.
Vale ressaltar que as Unidades adotarão práticas restaurativas (círculos de
paz) como ferramenta de trabalho que contribui na resolução dos conflitos e na
implantação da cultura de paz, bem como os princípios da Política de Proteção no
Espaço Institucional, proporcionando um espaço seguro para a comunidade
socioeducativa.
Para assegurar a tranquilidade do trabalho educativo nas unidades de
cumprimento de medidas se investirá ainda na segurança externa para diminuir os
riscos de invasão e evasões, devendo a mesma ser diuturna, realizada sob a
responsabilidade do Estado através do órgão competente, a Secretaria de
Segurança Pública, a quem cabe promover a segurança através de agentes com
preparo ético e técnico-profissional para desempenhar a função.
As Unidades deverão ser dotadas de estrutura física arquitetônica que
satisfaça as condições de habitabilidade, com estruturação de espaços para o

33
desenvolvimento de um cotidiano educativo, em conformidade com o SINASE.

6.7 Atendimento às Famílias


Na transição entre a infância e a idade adulta uma das instituições
fundamentais é a família, além da escola e o trabalho. Se uma dessas instituições
não funciona, o adolescente é prejudicado em seu desenvolvimento e construção de
seu projeto de vida. Com relação aos adolescentes em regime de privação de
liberdade é significativo o papel da família no acompanhamento da ação
socioeducativa .
Desse modo, a família é o primeiro espaço de formação de valores afetivos,
morais, educacionais e culturais que dão suporte a estruturação do caráter e da
personalidade do indivíduo. O acompanhamento da família no desenvolvimento
desse processo educativo faz a diferença no processo e nos resultados. Ele é
decisivo desde a infância e no decorrer da pré-adolescência e adolescência. É,
portanto, muito importante no equilíbrio emocional da criança e do jovem.
Centrado neste foco de importância, é primordial compartilhar a ação
educativa com a família reatando e fortalecendo os laços afetivos, desenvolvendo
uma relação de compromisso tanto do adolescente/jovem quanto de sua família.
Quanto ao atendimento familiar, este deve ser desenvolvido a partir de
conceitos ampliados de família ou de arranjos familiares, nas modalidades individual
e grupal; bem como através de métodos que primem pela qualificação das relações
afetivas, das condições de sobrevivência e do acesso às políticas públicas pelos
integrantes do núcleo familiar; além da realização das visitas domiciliares, de
atividades de integração para as famílias dos adolescentes, inclusive os de outros
municípios, e do trabalho com temáticas relevantes e necessárias.
Nesta perspectiva, o atendimento à família realizado pelas equipes técnicas
das Unidades de Internação, em conjunto com Programa de Apoio a Família da
FUNAC exige, dentre outras, as seguintes atividades:

 Assistência e acompanhamento psicossocial;


 Atendimento individual e grupal;
 Visitas domiciliares;
 Realização de terapia familiar;
 Intervenção grupal através de vivências terapêuticas e Terapia Comunitária e
grupo de formação qualidade na interação familiar;
34
 Informação, orientação e encaminhamento das famílias aos bens e serviços que
viabilizem a melhoria das condições de vida (programas assistenciais, moradia,
saúde, educação);
 Articulação com CREAS, CRAS e ou Conselhos Tutelares dos Municípios para
acompanhamento e atendimento à família dos adolescentes em medida de
privação de liberdade;
 Atividades socioeducativas, culturais e de lazer;

Nesse atendimento à família, as unidades contam com o apoio e assessoria


do Programa de Apoio à Família, no sentido de unificar uma proposta para fortalecer
o atendimento familiar, no seu território de origem e residência de forma articulada
com os CRAS e CREAS.
As ações desenvolvidas no âmbito familiar devem possibilitar-lhes condições
de melhoria da qualidade de vida, contribuindo para construção de sua própria
cidadania, através da garantia aos pais do acesso às informações que possibilitem a
redefinição dos papéis sociais dos seus integrantes e o fortalecimento dos laços
familiares, conforme preceitua o Estatuto da Criança e do Adolescente e o SINASE.

7- PRINCIPIO DA INCOMPLETUDE INSTITUCIONAL

35
O ECA determina em seu artigo 4º(1990), que: É dever da família, da
comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta
prioridade, a efetivação dos direitos referentes á vida, á saúde, a alimentação, á
educação, ao esporte, ao laser, a profissionalização, á cultura, á dignidade, ao
respeito, á liberdade e á convivência familiar e comunitária. Tarefa essa, que
demanda a efetiva participação dos sistemas e políticas de educação, saúde,
trabalho, previdência social, assistência social, cultura, esporte, lazer, segurança
pública, entre outras, para e efetivação da proteção integral de que são destinatários
os adolescentes.
Segundo o SINASE, a incompletude institucional é um principio fundamental
norteador de todo o direito da adolescência que deve permear a pratica dos
programas socioeducativos e da rede de serviços.
Dessa forma, a FUNAC promoverá a articulação no âmbito dos órgãos
gestores das Políticas Públicas e do Sistema de Garantia de Direitos, no sentido de
viabilizar os serviços e os materiais indispensáveis à garantia de direitos dos
adolescentes em cumprimento de medidas.
Para tanto, a Política Pública destinada a inclusão dos adolescentes em
cumprimento de medida deste Estado, deverá acontecer de forma articulada nos
diferentes órgãos, através dos termos de compromisso.

8 METODOLOGIA DE GESTÃO

A FUNAC adota conforme o SINASE, a Gestão Participativa, cuja postura


esta associada no compartilhamento de responsabilidades e participação de todos
os atores que integram a execução do atendimento socioeducativo.
Esta organização dispõe do responsável legal pela instituição, Diretoria
Técnica, Diretoria administrativa e financeira, Coordenação dos Programas
Socioeducativos, Coordenadores dos diferentes setores e um corpo de diretores dos
Programas de Atendimento Socioeducativos que deverão formar um grupo gestor.
O grupo gestor promoverá reuniões sistemáticas para acompanhamento,
monitoramento e deliberações de assuntos necessários ao funcionamento do órgão
através de assembléias mensais estabelecendo uma interlocução dos demais
setores do órgão.

36
Os diretores de unidades por sua vez, promoverão encontros sistemáticos de
trabalho para encaminhamento do atendimento socioeducativo e demais
procedimentos que dizem respeito ao adolescente e a atuação dos profissionais
junto aos mesmos.
Com base nessa fundamentação a FUNAC, por meio das unidades de
atendimento, realizará suas ações a partir dos seguintes procedimentos
metodológicos:
 Formulação de manual de funções, contendo a descrição das funções e
competências dos profissionais que compõem a equipe de trabalho;
 Formulação do Manual de Normas e Procedimentos dos Servidores;
 Definição de Normas e Procedimentos dos adolescentes (Manual do
Adolescente);
 Formação do Conselho Pedagógico, espaço democrático para tomada de
decisões compostas por representantes da direção das Unidades, equipe
técnica, auxiliares técnicos pedagógicos e outros;
 Elaboração e acompanhamento do plano individual de atendimento –PIA;
 Desenvolvimento de estudo de caso;
 Estudos sociais que subsidiam os relatórios psicossociais encaminhados aos
juízes de comarcas;
 Registro das ações desenvolvidas e consolidação de relatórios com dados
qualitativos e estatísticos;
 Monitoramento e avaliação das ações.

9 RECURSOS HUMANOS
O trabalho socioeducativo será desenvolvido na perspectiva da
interdisciplinaridade, embora com funções, atribuições e responsabilidades
diferenciadas, porém com o mesmo fim, ou seja, execução da medida
socioeducativa de cada adolescente. Todos os profissionais da Instituição, sem
exceção, são educadores e, como tal, devem pautar seu comportamento de
permanentes aprendizes.
A equipe socioeducativa das Unidades será composta por profissionais com
perfis e habilidades específicas para atuação no sistema socioeducativo, onde cada
um em sua área de atuação, seja capaz de interagir com os adolescentes,

37
pautando-se nos princípios dos direitos humanos definidos no SINASE.
Todos os profissionais que farão parte do atendimento deverão passar por um
processo seletivo, preferencialmente concurso público, conforme determinação do
SINASE e Resolução Nº 07/2007, do Conselho da Criança e do Adolescente –
CEDCA/MA, e as recomendações dos procedimentos da Política de Proteção
Institucional da FUNAC.
A equipe de profissionais de nível superior para o atendimento de 40
adolescentes será composta por: Diretor, Coordenador Técnico, Coordenador
Pedagógico, Assistentes Sociais, Psicólogos, Pedagogo, Advogado, Terapeuta
Ocupacional, Enfermeiro, Educador Físico e Socioeducadores.
A função de Socioeducador tem as suas especificidades e particularidades,
por atuar com um público exclusivo: adolescente em conflito com a lei. O SINASE
apresenta algumas atribuições desse funcionário, quais sejam: desenvolver
atividades relativas à preservação da integridade física e psicológica dos
adolescentes e funcionários; e atividades pedagógicas específicas.
A quantidade de profissionais das unidades será proporcional à capacidade
de adolescentes. Para tanto, é imprescindível ter como fundamento organizacional
dos recursos humanos o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo.
A equipe de profissionais de nível médio é formada por: Agentes de
Segurança, Instrutor de Informática, Artesanato, Cerâmica, Horticultura, Hip Hop,
Auxiliar de Consultório Dentário, Auxiliares de Enfermagem, Auxiliares
Administrativos e Recepcionistas.
Para a composição dos funcionários de nível fundamental são necessários os
seguintes profissionais: Vigilantes, Cozinheiras, Almoxarifes, Auxiliares de Serviços
Gerais, entre outros, caso seja requisitado.
Já os cargos em comissão deverão ser ocupados por profissionais de nível
médio e superior, preferencialmente, com conhecimento e experiência na área da
infância e juventude.
Toda a comunidade socioeducativa atuará no sentido de prevalecer o caráter
sócio-pedagógico em detrimento do caráter corretivo/repressor, de forma que o
respeito mútuo e a disciplina sejam peças-chaves no desenvolvimento das
atividades. Nesse sentido, os documentos como Regimento Interno, Manual de
Funções, Manual do Adolescente e Manual de Segurança serão seguidos por todos,

38
sem nenhuma restrição, somente dessa maneira é possível que todos sejam
capazes de atuarem com a mesma linguagem.
Portanto, as capacitações e formações constituem-se em mecanismos de
suma importância no processo socioeducativo. Estas deverão ser realizadas tanto
pelo Núcleo de Capacitação da Fundação da Criança e do Adolescente, como por
instituições credenciadas para esse fim.
As ações formativas seguirão as seguintes etapas: capacitação introdutória,
específico para os profissionais que irão ingressar no atendimento socioeducativo;
formação continuada, destinada para o aperfeiçoamento contínuo dos funcionários,
e supervisão externa, coordenadas por especialistas extra-institucionais que fazem
parte dos órgãos de controle externo, com vistas à promoção dos princípios ético-
políticos da comunidade socioeducativa, conforme determina o SINASE.
Além dessas ações, todos os funcionários deverão ser submetidos a cada
três mêses a treinamentos práticos de segurança combate a incêndio e a prestação
de atendimento de primeiros socorros, em consonância com o SINASE. Para tanto,
as unidades deverão dispor dos equipamentos para esse tipo de intervenção caso
seja necessário.
Outra ação importante para a capacitação dos profissionais, diz respeito ao
treinamento sistemático para atuar com eficiência e eficácia nas situações-limites do
atendimento, o que envolve técnicas de abordagem, técnicas de negociação, entre
outras.
Caso o profissional não se adéque as normas estabelecidas pela instituição,
este deverá ser imediatamente substituído por outro, e, portanto, este último,
passará por todo o processo seletivo e formativo.
Os profissionais que atuam na FUNAC contarão também com as ações do
Projeto “CuidarPara Melhor Cuidar” que visa contribuir para a promoção da vida e da
qualidade emocional dos servidores/cuidadores , por meio da operacionalização de
técnicas de resgate e reforço da alta auto-estima como estímulo ao reconhecimento
de seus recursos pessoais e raízes culturais enquanto instrumentos de
transformação pessoal, social e de fortalecimento dos vínculos de pertencimento
familiar e comunitário.

39
10 SISTEMA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO

A avaliação como uma ferramenta construtiva contribui para melhorias e


inovações e permite identificar possibilidades, orientar, justificar, escolher e tomar
decisões a partir de experiências vivenciadas dentro de um processo de reflexão
permanente, tornando-se, portanto, um instrumento valioso para o aperfeiçoamento
e continuidade das ações do Projeto Político Pedagógico.
Assim o Projeto será sistematicamente monitorado e avaliado pelo coletivo
dos profissionais envolvendo também a participação dos adolescentes e famílias de
forma a aferir indicadores de eficiência, eficácia e efetividade social com destaque
para os aspectos:
 Direitos humanos:
Alimentação,vestuário,higiene pessoal,documentação civil,documentação
escolar,escolarização,profissionalização,esporte,cultura,lazer,saúde,assistência
espiritual,respeito e dignidade,direitos sexuais e reprodutivos,direitos políticos.
 Ambiente físico e infraestrutura:
Capacidade física,salubridade,refeitório,dormitórios,banheiros,espaço para
escolarização,espaço para atendimento a saúde,espaço para práticas de
esporte,cultura e lazer,espaço para atendimento técnico, espaço para oficinas,
espaço para visitas intimas, espaço ecumênico, equipamentos e segurança.
 Atendimento socioeducativo:
Atendimento familiar, atendimento técnico, encaminhamento para a rede de
atendimento, atendimento ao egresso em caso de internação e Plano Individual de
Atendimento-PIA.
 Gestão e recursos humanos:
Capacidade de gestão, planejamento e projeto pedagógico, formação e
capacitação de recursos humanos, plano de cargos e salários, supervisão e apoio
de assessorias externas, fluxo de atendimento socioeducativo, coleta e registro de
dados e informações, redução do índice de reincidência, avaliação e parcerias.
As ações empreendidas deverão verificar em que grau os programas/projetos
e ou serviços estão sendo executados e ou prestados em relação ao programado;
se os objetivos estão sendo atingidos e com que qualidade; se a concepção
pedagógica e princípios educativos estão sendo considerados; o nível de satisfação

40
dos adolescentes, educadores e famílias.
Os resultados obtidos serão registrados em instrumentais próprios, e servirão
de base para a tomada de decisão do órgão gestor, a Fundação da Criança e do
Adolescente, identificando possibilidades e os obstáculos a enfrentar.
Neste processo de monitoramento e avaliação torna-se necessário também,
adotar a prática da supervisão e avaliação externa de modo a permitir o seu
acompanhamento a partir de uma perspectiva mais distanciada do cotidiano das
Unidades.
Nesse sentido, o processo de avaliação precisa estar presente em todos os
movimentos de construção do projeto político pedagógico que precisa ser
estruturado sistematicamente.

41
REFERÊNCIAS

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Comunidade Educativa. / Coordenação Técnica Antonio Carlos Gomes da
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_____________________Parâmetro para a Formação do Socioeducador: uma


proposta inicial para reflexão e debates / Coordenação Técnica Antonio Carlos
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