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A pesquisa etnográfica e as especificidades da observação participante

Ada Kesea Guedes Bezerra 1

Resumo

A etnografia é um método de investigação e análise advindo da antropologia, mas


atualmente utilizado em pesquisas na sociologia, história, comunicação social, dentre
outras áreas do conhecimento que têm como objeto de investigação as diferentes
formas de sociabilidade, ritos, cultura, crenças e costumes de um determinado grupo
social. Este artigo tem como finalidade, portanto, apresentar uma breve explanação
sobre o desenvolvimento da etnografia enquanto atividade científica ao longo do tempo,
bem como apreender, através dos relatos de determinados autores, as especificidades
do trabalho de campo e de suas técnicas como o preparo teórico, a observação
participante, a coleta de dados, a inferência e a descrição densa dos fenômenos
investigados.

Palavras-chave: Etnografia; pesquisa de campo; observação participante.

Abstract

The ethnography is a method of research and analysis arising from anthropology,


currently used on researches within sociology, history, media, among other areas of
knowledge which take the different forms of social interaction, rituals, culture, beliefs and
customs of a particular social group as their objects of research. This article aims to
present a brief explanation about the development of ethnography as a scientific activity
throughout time, and learn, through the reports of some authors, the specificities of field
work and its technical and theoretical preparation, participant observation, data
collection, inference, and dense description of the phenomena investigated.

Key-words: Ethnography; field research; participant observation.

1
Jornalista, Mestre em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba - UFPB; Doutoranda em
Ciências Sociais pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG e Professora do Curso de
Comunicação Social – Hab. em Jornalismo das Faculdades Integradas de Patos – FIP. E-mail:
ada.guedes@gmail.com
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Introdução

A etnografia constitui um método de investigação próprio das ciências sociais


utilizado por excelência pela antropologia na obtenção e tratamento de dados a partir
do contato intersubjetivo entre o cientista social e a cultura e costumes de um
2
determinado grupo, ora seu objeto de estudo . Aplicado por excelência pela
antropologia, mas também nas áreas da sociologia, história e comunicação social,
dentre outros campos do saber é indicado tanto na compreensão da cultura de
sociedades primitivas quanto nas formas sociais contemporâneas de fenômenos
urbanos.
Marcada pelo trabalho de campo, a observação participante e a presença da
alteridade, o método exige práticas específicas no trato com o outro enquanto objeto de
estudo. Na prática, porém esta atividade é perpassada de detalhes, incidentes,
imprevistos e descobertas que se sobrepõe a uma descrição e conceituação em poucas
palavras.
Antropólogos, etnólogos e pesquisadores, apresentam em seus relatos as
nuances que cercam o trabalho de campo de maneira a exacerbar a “experiência” como
etapa crucial de cada trabalho. De fato, Roberto da Mata ao falar sobre como ter
“Anthropological Blues”, pontua a existência de três fases de uma pesquisa, a primeira,
denominada teórico-intelectual, seria o momento de contato com livros, teorias e
ensaios, um excesso de conhecimento teórico no qual o pesquisador encontra-se
totalmente separado do seu objeto de estudo; a segunda etapa, o período prático,
representa a antevéspera da pesquisa, na qual a concentração sai do universo da
teoria para os problemas concretos do cotidiano em campo, como será a forma de
estadia ou moradia, acesso a alimentação e medicamentos, contratação de auxiliares,
dentre outras questões; a terceira e última fase foi descrita pelo autor como etapa
pessoal ou existencial, a qual é “essencialmente globalizadora e integradora: ela deve
sintetizar a biografia com a teoria e a prática do mundo com a do ofício.” É o momento

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Vale mencionar a observação de James Clifford ao afirmar que o trabalho de campo não pode mais ser
associado apenas à Antropologia e que tais associações não devem ser consideradas permanentes, pois
na atualidade “os estilos de descrição cultural são historicamente limitados e estão vivendo importantes
metamorfoses”.
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da vivencia com a cultura do etnólogo e a do outro com todas as especificidades que


este contato venha gerar.
O autor concebe a última etapa, a da experiência, como a fase que abarca as
anteriores e ainda fornece o sentimento de apreensão e busca diante do novo. É o
momento revelador da pesquisa. E conclui pontuando a importância do anthropological
blues como o ato de “incorporar no campo mesmo das rotinas oficiais, já legitimadas
como parte do treinamento do antropólogo, aqueles aspectos extraordinários, sempre
prontos a emergir em todo o relacionamento humano.” (DA MATA, 1978, p. 27-28).
Com isto o autor trás em seu texto uma descrição de episódios curiosos de imprevistos
e mal-entendidos que constantemente cerceiam o trabalho de campo quanto maior a
distância entre as culturas e costumes do etnólogo e o ambiente onde se encontra.
Desde os primórdios da antropologia social, os livros e manuais refletiam uma
preocupação em estabelecer com precisão as práticas e rotinas de pesquisa para o
trabalho de campo. Considera-se, portanto, estes os ensinamentos oficiais enquanto os
relatos dos fatos extraordinários e curiosos como formas de ensinamentos
complementares que muitos pesquisadores consideram relevantes.
Lévi-Strauss (1991, p. 415-416) muito bem descreveu a importância da
experiência de campo inclusive como momento não somente do exercício, mas da
formação e educação do antropólogo;

É por uma razão muito profunda, que se prende à própria natureza da


disciplina e ao caráter distintivo de seu objeto, que o antropólogo
necessita da experiência do campo. Para ele, ela não é nem um
objetivo de sua profissão, nem um remate de sua cultura, nem uma
aprendizagem técnica. Representa um momento crucial de sua
educação, antes do qual ele poderá possuir conhecimentos
descontínuos que jamais formarão um todo, e após o qual, somente,
estes conhecimentos se "prenderão" num conjunto orgânico e
adquirirão um sentido que lhes faltava anteriormente.

Em síntese, é possível afirmar que o método etnográfico pode ser entendido


como uma forma específica de atuar em que o pesquisador entra em contato com a
realidade vivida pelos pesquisados e compartilha seu universo, num exercício que vai
além de captar e descrever a lógica de suas representações e visão de mundo, mas
4

para, numa relação de troca, comparar suas próprias teorias e representações com as
deles a fim de obter um modelo inédito de entendimento, ou pelo menos um caminho
para estes, não previsto anteriormente. Mas, na verdade, ao observar relatos e
monografias modelos desta prática, percebe-se a complexidade dos vários aspectos,
imprevistos e desafios que cercam o trabalho do etnógrafo.
O que na prática se apresenta como tarefa difícil, pois as “interpretações
culturais” realizadas pelo pesquisador constituem ao final um relato escrito que deve
ser reconhecido e legitimado pela academia. Neste sentido, Clifford Geertz (1978, p.
15) ao definir o método, afirma que:

Segundo a opinião dos livros-textos, praticar a etnografia é estabelecer


relações, selecionar informantes, transcrever textos, levantar
genealogias, mapear campos, manter um diário e assim por diante.
Mas não são estas coisas, as técnicas e os processos determinados,
que definem o empreendimento. O que o define é um tipo de esforço
intelectual que ele representa: um risco elaborado para uma descrição
densa.

Geertz ilustra sua afirmação com o exemplo das piscadelas e enfatiza que uma
das características cruciais da descrição etnográfica é a interpretação, “o que ela
interpreta é o fluxo do discurso social e a interpretação envolvida consiste em tentar
salvar o ‘dito’ num tal discurso da sua possibilidade de extinguir-se e fixá-lo em formas
pesquisáveis”. (GEERTZ, 1978, p. 15).
Conforme destaca James Clifford (1998), tal exercício subjuga as dificuldades a
partir de seu lugar de autoridade como mecanismo científico de observação:

Analisando esta complexa transformação, deve-se ter em mente o fato


de que a etnografia está, do começo ao fim, imersa na escrita. Esta
escrita inclui, no mínimo, uma tradução da experiência para a forma
textual. O processo é complicado pela ação de múltiplas subjetividades
e constrangimentos políticos que estão acima do controle do escritor.
Em resposta a essas forças, a escrita etnográfica encena uma
estratégia específica de autoridade. Essa estratégia tem classicamente
envolvido uma afirmação, não questionada, no sentido de aparecer
como a provedora da verdade no texto. (CLIFFORD, 1998, p. 21-22).
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Deste lugar de autoridade, o exercício etnográfico se expressa após um longo


percurso em busca deste posto, pois até o final do século XIX, tanto o etnógrafo, quanto
o missionário ou o administrador apareciam como conhecedores da vida nativa, estes
últimos, antes de uma consagração científica da etnografia, algumas vezes mais ainda,
em detrimento do tempo maior de contato com a língua e costumes nativos. O que
contemplaremos melhor mais adiante.
Desta forma, o exercício etnográfico, caracterizado também pelo acúmulo do
conhecimento teórico e acadêmico, tem como ponto crucial o trabalho de campo, e
culmina com a escrita, tarefa não menos criteriosa. Neste texto, porém, a finalidade é
trazer um breve diálogo entre autores que trataram, sobretudo, sobre as especificidades
do trabalho de campo, tanto em suas ditas “rotinas oficiais” quanto em seus relatos
extraordinários, que tanto auxiliam o entendimento e preparação para esta atividade.
Antes, porém se faz relevante uma breve explanação sobre a etnografia enquanto
atividade científica ao longo do tempo.

1. A autoridade etnográfica – afirmação e reconfigurações

Entre a etapa do conhecimento teórico-intelectual e a escrita, os acontecimentos


se revelam de maneiras distintas ao pesquisador. Desde o fato de se apresentar a
aldeia, comunidade, grupo, dentre outros, é necessário uma compreensão da etnografia
enquanto prática. Esta tem seu percurso perpassado a priori por uma busca pela
autoridade e mudanças em suas formas, estilos e lugares de falas sobre a tradução da
experiência de campo para o relato textual.
É possível mencionar um ponto importante no tempo marcado por uma alteração
caracterizada pela redistribuição do poder colonial nas décadas de 60 e 70, a partir da
qual o Ocidente deixa de ser concebido como o único gerador de conhecimento
antropológico sobre o outro, até mesmo o ato de localizar o “outro” se reconfigura na
contemporaneidade.
É entre os anos de 1900 e 1960 que se estabelece uma concepção própria de
pesquisa de campo como norma difundida para a antropologia americana e européia
caracterizada pela presença do trabalho intensivo de especialistas sociais advindos das
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universidades e capacitados para de forma legítima relatar dados sobre povos exóticos.
Mais especificamente a partir da década de 30 esta definição de que as descrições
culturais deviam ser realizadas apenas por pesquisadores com formação acadêmica, já
se difundira internacionalmente de maneira consensual.
Já na década de 20, Malinowski marcara a validade e autoridade da experiência
de campo 3. Este autor trás como técnica diferenciada dos cientistas naturais o método
da observação participante compondo o perfil do novo “teórico-pesquisador de campo”
e do exercício etnográfico como modelo científico e literário, reconhecido e que
delegava ao pesquisador não apenas um lugar de tradutor de costumes, mas também
de provedor de teorias dentro da antropologia.
James Clifford (1998, p. 28) pontua quais foram as principais inovações
institucionais e metodológicas que promoveram um conhecimento mais rápido e
específico de outras culturas ao mesmo tempo em que assegura a autoridade científica
desta atividade na época. “Figuras de proa como Malinowski, Mead e Marcel Griaule,
transmitiram uma visão da etnografia como cientificamente rigorosa ao mesmo tempo
que heróica.” Mencionou a aceitação da presença em campo por um período menor
“que raramente excedia a dois anos” e concentrada em um domínio ou conteúdo
específicos, técnicas empregadas por Margaret Mead; igualmente destaca a inovação
da observação-participante como norma de pesquisa; e por fim a busca do
conhecimento não através de um relato completo e complexo dos costumes, mas do
conhecimento do todo através de descrições de uma ou mais de suas partes.

Estas inovações serviram para validar uma etnografia eficiente,


baseada na observação participante científica. Seus efeitos combinados
podem ser vistos claramente no que pode ser considerado o tour de
force da nova etnografia, Os nuer de Evans-Pritchard, publicado em
1940. Baseado em onze meses de pesquisa realizada em condições
quase impossíveis, Evans-Pritchard foi, todavia capaz de compor um
clássico. (CLIFFORD, 1998, p. 31).

3
Vale mencionar que a etnografia profissional começa a se delinear bem antes com a atuação de
cientistas naturais em pesquisas de campo se contrapondo ao trabalho de administradores, missionários
e demais religiosos. Com Franz Boas; A. C Haddon e Baldwin Spencer em fins dos anos 1890, o caráter
científico começa a permear estas práticas.
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Desta etapa de definição de metodologias e afirmação da autoridade científica,


seguem considerações e críticas levantadas por determinados autores, geralmente
relacionadas às subjetividades na interpretação, na presença da intuição e
consequentemente em elementos da escrita. Tanto a chamada autoridade experiencial
quanto o caráter interpretativo é perpassado por subjetividades, a primeira parece um
tanto vaga por ser caracterizada por insights e intuições enquanto a segunda trás a
tona por um lado, uma discussão sobre a separação da experiência e interpretação
com o momento da escrita de fato que geralmente ocorre na volta do campo, por outro
lado, evoca o caráter político dos indivíduos, uma vez que estes são dotados de
consciência, subjetividade e significados. É constante ainda a voz do autor
(pesquisador) como única na interpretação de uma cultura e por vezes da presença de
um interlocutor abstrato e generalizado.
Diante de tais questões, Clifford explica que “paradigmas de experiência e
interpretação estão dando lugar a paradigmas discursivos de diálogo e polifonia”, o que
marcam uma reconfiguração da autoridade etnográfica. As críticas neste momento
apontam para uma forma de escrita pautada em diálogos e espaço para as vozes do
nativo em detrimento de uma interpretação de uma realidade circunscrita e relatada a
partir da visão e da fala do pesquisador. Para Bakhtin, “as palavras da escrita
etnográfica, portanto, não podem ser pensadas como monológicas, como a legítima
declaração sobre, ou a interpretação de uma realidade abstraída e textualizada”.
Surgem então por volta dos anos 70 novas formas de relatos sobre o trabalho de
campo marcado pelo paradigma discursivo da escrita etnográfica, o modelo dialógico e
o polifônico juntam-se ao interpretativo e ao experiencial, que compõem modos de
autoridade possíveis na contemporaneidade. Clifford, sobre estes paradigmas, afirma
que nenhum é obsoleto ou puro.

Os processos experencial, interpretativo, dialógico e polifônico são


encontrados, de forma discordante, em cada etnografia, mas a
apresentação coerente pressupõe um modo controlador de autoridade.
Um argumento é que esta imposição de coerência a um processo
textual sem controle é agora inevitavelmente uma questão se escolha
estratégica. [...] Se a escrita etnográfica está viva, como acredito que
esteja, ela está em luta nos limites dessas possibilidades, ao mesmo
tempo que contra elas. (CLIFFORT, 1998, p. 58).
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O proposto para o exercício e a escrita etnográfica é, além de considerar estas


possibilidades, pensar em trabalhos que não se dirijam mais a um único perfil de leitor e
que forneça a este, várias possibilidades de leituras e interpretação. A teoria atual
propõe que o texto para ser eficaz precisa se distanciar de intenções do autor para se
concentrar na potencialidade criativa do leitor.

2. A observação participante

A cultura pensada como um conjunto de comportamentos, costumes, hábitos,


rituais e crenças, de certa forma determina o poder da observação. A presença do
pesquisador como observador-participante ficou estabelecida como metodologia
legítima a partir de Malinowski que questionou a validade das informações de
informantes nativos, por vezes perpassadas de interesses ou interpretações diversas,
além do mais, a observação criteriosa por parte do pesquisador se faz a partir de certos
métodos e desprendidas de interesses.
Existe uma série de relatos contando detalhes da presença e atuação do
interprete ou do informante, figuras indispensáveis ao trabalho de campo, mas que
exigem certos cuidados e atenção do pesquisador. Gerald D. Berreman e William
Foote-Whyte são dois autores que apresentam de forma detalhada, em seus textos
descrições relevantes sobre este personagem tão importante da pesquisa de campo.
Suas pesquisas diferenciam-se, sobretudo em sua natureza, finalidade e local. A
primeira realizada em uma aldeia camponesa no Himalaia na Índia Setentrional e a
segunda, de caráter urbano, em um bairro norte-americano marcado pela imigração
italiana e a presença de gangsters. A relação que pode ser estabelecida entre os dois
trabalhos consiste na prática da observação participante e nas especificidades narradas
por estes etnógrafos que fornecem histórias reveladoras sobre a inserção do
pesquisador em campo, o contato com os “nativos” e as conseqüências da presença do
interprete/assistente.
Gerald Berreman relata em seu texto “Behind many Mask, The society of applied
antrhopology” de 1962, determinados aspectos de sua pesquisa realizada na Índia,
entre os anos de 1957 e 1958. Para o autor a experiência humana empreendia num
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trabalho como este constitui tarefa científica que deve constar em qualquer relato.
Sirkanda, o local da pesquisa é uma aldeia camponesa do baixo Himalaia onde viviam
os Paharis das montanhas, um local de sociedade extremamente fechada e
estratificada 4
na qual estranhos eram abertamente rejeitados ou ignorados. Este fato
decorria geralmente da figura do estranho estar relacionada a missionários ou a
agentes do governo que cobravam impostos sobre as produções e terras. Os primeiros
impasses decorreram de suspeitas de que o pesquisador representava uma dessas
“ameaças” aos aldeões.
Mesmo desfeitas estas primeiras suspeitas, o pesquisador conta que meses se
passaram até obter certa confiança por parte dos moradores. Acompanhado de seu
assistente-interprete, um brâmane de origem humilde e já experiente neste tipo de
trabalho, encontrou resistências por parte da população local até que em um dado
episódio pôde se apresentar como pesquisador a partir de um discurso que aferiu o
orgulho dos aldeões como paharis indianos de uma nação independente, geradora de
recursos e mundialmente respeitada, após 1947. Mesmo depois de tal discurso a
aceitação do interlocutor seguiu-se aos poucos e sem maior entusiasmo, baseado
muito mais num episódio específico que consistiu na aceitação deste por parte de um
brâmane que se mostrava hostil no momento do impasse e o aceitou publicamente.
Este ato é que surtiu o efeito esperado muito mais devido ao contexto em que
aconteceu, ou seja, publicamente e depois de um bom espaço de tempo da presença
dos pesquisadores na aldeia. O curioso é que o autor afirma que o ato do brâmane que
o desafiou o fez por necessidade de reconhecimento público, pois ao se opor ao
pesquisador publicamente e exigir deste uma explicação ganhara automaticamente
notoriedade da mesma forma que aceitando sua explicação justificava sua suposta
imponência.
Outro fato importante e que o autor bem o faz ao enunciar, foi a preocupação
que se seguiu, dos homens da aldeia em relação às mulheres, fato que só se encerrou

4
Na aldeia viviam pessoas de castas altas (rajput e brâmanes) e de castas baixas (achut, os intocáveis).
Os primeiros expressamente numerosos dominam o poder político, os recursos econômicos e a diferença
de castas através dos rituais. Vale mencionar que entre estes aldeões as diferenças sociais, políticas e
rituais são grandes, porém a diferença econômica é relativamente nula.
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após o pesquisador e seu assistente trazer suas respectivas esposas e filhos ao


conhecimento da aldeia.
Mas o relato mais notável, dentre muitos outros, foram as conseqüências da
troca do assistente, pois o primeiro, Sharma, o brâmane adoeceu tornando impossível
sua permanência na aldeia, foi quando um segundo assistente, um professor
mulçumano denominado Mohammed sem nenhuma familiaridade com pesquisas
etnográficas proporciona uma maior aproximação com as castas baixas. Gerald
Berreman explica porque este grupo era reticente e fugidio.

Nossos informantes eram fundamentalmente aldeões de casta alta, que


pretendiam nos impressionar com a sua quase total conformidade aos
padrões de comportamento e crença dos membros das castas altas dos
vales. Os membros das castas baixas eram respeitosos e reticentes,
frente a nós, principalmente, como descobrimos, porque um de nós era
brâmane e éramos estreitamente identificados com os poderosos
aldeões de casta alta. (BERREMAN, 1980, p. 136).

Berreman relata que o primeiro informante chegava a influenciar a conversa


quando se tratava de apresentar a um americano (o etnógrafo) uma imagem de seu
próprio povo, por outro lado, as conversas com a presença de Mohammed começaram
a se mostrar reveladoras com os membros das castas baixas. O fato deste comer carne
e beber bebidas alcoólicas foi um motivo de aproximação pois os pesquisadores
começaram a saber de festas freqüentes que serviam bebidas, e por vezes de caráter
inter-castas e com o tempo também passaram a ser convidados para estes eventos
onde estranhos eram excluídos.
Somente a partir da inesperada troca de assistente, é que o pesquisador pôde
transitar entre os grupos da aldeia e chegar a informações importantes, principalmente
porque os membros das castas baixas não apresentavam tanta resistência como os de
castas altas, pois estes últimos tinham uma impressão a manter enquanto os intocáveis
não temiam em revelar os chamados “segredos” que detinham por servirem certas
vezes os membros de casta alta.
Em sua análise, Berreman trata exatamente do controle de impressões e afirma:
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O etnógrafo surge diante de seus sujeitos como um intruso


desconhecido, geralmente inesperado e frequentemente indesejado. As
impressões que estes têm dele determinarão o tipo e a validez dos
dados aos quais será capaz de ter acesso e, portanto, o grau de
sucesso de seu trabalho. Entre si, o etnógrafo e seus sujeitos são,
simultaneamente, atores e público. Têm que julgar os motivos e demais
atributos de uns e de outros com base em contato breve, mas intenso,
e, em seguida, decidir que definição de si mesmos e da situação
circundante desejam projetar; o que revelarão e o que ocultarão, e
como será melhor faze-lo. Cada um tentará dar ao outro a impressão
que melhor serve aos seus interesses, tal como os vê. (BERREMAN,
1980, p. 141).

Neste caso em particular, a postura dos interpretes-assistentes também era


afetada pelo controle de impressões, pois enquanto Sharma buscava controlar as
impressões do etnógrafo a respeito de sua gente e do hinduísmo, Mohammed, o
mulçumano mantinha pouco envolvimento com o sistema de castas e, portanto pouco
interesse pessoal na impressão que o etnógrafo pudesse ter sobre os costumes
religiosos da aldeia. Enquanto o primeiro mantinha uma preocupação em manter seu
status pessoal, o mulçumano preocupava-se com a impressão dos aldeões com a
equipe de etnógrafos. Sharma direcionava a conversa inclusive para evitar
constrangimentos enquanto o segundo assistente deixava o pesquisador mais livre
atendo-se apenas a sua atividade de interprete.
Apesar de um distanciamento das castas altas por estar acompanhado de um
“intocável”, o pesquisador pôde tomar conhecimento inclusive das relações inter-castas;
dos segredos das castas altas, uma vez que os membros de castas baixas não tinham
nenhum constrangimento em revelar; e ainda de uma separação dentro das castas
baixas.
É possível afirmar que os resultados da pesquisa não seriam os mesmo se não
tivesse acontecido a “troca” de assistentes, por outro lado, ficou claro quais eram os
atores capaz de revelar segredos e por fim, que nem sempre o fator identificação
influencia no contato com os sujeitos, mas o tempo suficiente de permanência em
campo é sempre necessário. O texto de Berreman é extremamente revelador quanto as
questões eventuais e inesperadas de um trabalho de campo; é essencial ao
conhecimento das primeiras relações entre pesquisador e grupo pesquisado e
12

descritivo analítico quanto as nuances do controle das impressões e de como lidar com
os atores e seus segredos em campo.
O outro trabalho aqui mencionado “Sociedade de esquina: a estrutura social de
uma área urbana pobre e degradada” de William Foote-Whyte originalmente publicado
em 1943 diferencia-se sobremaneira do texto anterior por se tratar de uma pesquisa
realizada no espaço urbano, em meio ao tempo e espaço do pesquisador 5. Consiste
numa extensa pesquisa de campo com observação participante em um distrito de
pequeno porte localizado em Boston nos Estados Unidos. Este estudo traz uma
brilhante apreensão da realidade vivida por um grupo situado numa região marcada
pela imigração italiana e pelas condições de vida precárias em relação ao resto da
sociedade. Neste cenário o autor desvenda a relação das pessoas com o mundo da
política e do crime. Tendo como enfoque as redes sociais, o autor percebe os vínculos
de lealdade dentro da esfera política, a peculiar relação destes indivíduos com os
favores e o dinheiro e ainda as práticas eleitorais e de corrupção e obrigações mútuas
que cercavam os atores sociais.
De duração maior, esta pesquisa foi realizada em três anos, o autor muda-se
para o bairro e é necessário um longo período de negociação para sua inserção nesse
“grupo”. Com redefinição de objetivos, o pesquisador comete algumas gafes
reincidentes a este tipo de trabalho e como tantos outros, percebe que é fundamental a
presença de um intermediário para realizar sua observação. Apresenta de maneira
clara a importância de um "Doc", termo empregado para definir um informante-chave,
que constitui neste trabalho uma espécie de mediador, capaz de garantir o acesso à
localidade revelando-se também um conselheiro e protetor, alertando e defendendo o
pesquisador de eventos inesperados próprios ao trabalho de campo.
A entrada do autor no grupo estudado a princípio não carecia de explicações
enquanto esse esteve acompanhado de seu informante. Diferente da experiência de
Berreman no Himalaia, em “Cornerville”, nome fictício dado ao local da pesquisa de
Foote-White, havia um certo desinteresse pelo motivo real daquele estranho no bairro.

5
Trata-se do versado exercício pontuado por Da Matta de transformar o familiar em exótico, na intenção
de se distanciar, “tirar a capa de membro de uma classe e de um grupo social específico” para então
perceber o exótico, dentro do que é tão facilmente assimilado pela familiaridade e constância no cotidiano
de nossas instituições.
13

Comecei com uma explicação um tanto elaborada. Eu estaria


estudando a história social de Cornerville, mas possuía uma nova
perspectiva. Ao invés de trabalhar do passado para o presente, estava
buscando o conhecimento exaustivo das condições atuais para depois
partir do presente em direção ao passado. Eu estava muito satisfeito
com esta explicação, mas ninguém parecia dar importância a ela. [...]
Logo descobri que as pessoas estavam desenvolvendo a sua própria
explicação sobre mim: eu estava escrevendo um livro sobre Cornerville.
Como esclarecimento isso podia parecer inteiramente vago e, no
entanto, era suficiente. Descobri que a minha aceitação no bairro
dependia muito mais das relações pessoais que desenvolvesse do que
das explicações que pudesse dar. Escrever um livro sobre Cornerville
seria bom ou não, dependendo da opinião expressa a respeito de
minha pessoa. Se eu fosse uma boa pessoa, o projeto era bom, se não
fosse, nenhuma explicação poderia convencê-los de quer o livro era
uma boa idéia. (FOOTE-WHYTE, 1980, p. 79).

Desta forma, é possível afirmar que cada experiência traz suas especificidades e
que o cuidado com a observação dos costumes e a inserção do pesquisador no grupo
ou localidade deve ser de maneira apropriada. Neste caso, o autor declara: “aprendi, a
importância crucial de obter o apoio de indivíduos-chaves em todos os grupos ou
organizações que estivesse estudando”. Foote-Whyte percebeu que explicar sua
presença a líderes dos grupos e ganhar a confiança destes surtia um melhor efeito, pois
seu próprio “Doc” ao ser questionado sobre ele, respondia as perguntas e restabelecia
a confiança no que fosse preciso. Aos poucos seu informante passou desta para a
qualidade de colaborador da pesquisa ao contribuir com discussões e idéias sobre as
propostas e finalidades do trabalho e particularmente sobre como se aproximar dos
moradores, como e quando deveria perguntar ou calar.
Apesar de se tratar de uma pesquisa urbana e ter uma certa familiaridade com
os costumes dos moradores, nota-se uma série de nuances e contratempos que
permeiam o contato do pesquisador com os moradores de uma região marcada pela
presença de grupos internos e consequentemente de líderes e questões adversas
como questões políticas e presença de pessoas ligadas a máfia italiana.
Mas, uma questão que carece ser mencionada foi o grau de envolvimento do
pesquisador com os hábitos dos moradores, Foote-Whyte conta o quanto seu
comportamento foi afetado por este convívio.
14

Descobri que as pessoas não esperavam que eu fosse igual a elas; na


verdade, sentiam-se atraídas e satisfeitas pelo fato de me acharem
diferente, contanto que eu tivesse amizades por elas. Em conseqüência
parei de esforçar-me por uma interação completa. Ainda assim meu
comportamento foi afetado pela vida na rua. Quando John Howard veio
pela primeira vez de Harvard para colaborar no estudo de Cornerville
notou imediatamente que me expressava em Cornerville de modo
diferente do usual em Harvard. O problema não era o emprego de
palavrão ou obscenidades, nem de expressões gramaticais incorretas.
Eu me expressava de um modo que me parecia natural, mas o que era
natural em Cornerville não o era em Harvard. Em Cornerville eu falava
mais entusiasticamente, engolindo os finais e gesticulando muito.
(FOOTE-WHYTE, 1980, p. 82-83).

Este relato ensina que o pesquisador não deve querer se mostrar igual ao grupo
pesquisado e ter em mente que também é constantemente observado. Com o tempo, a
aproximação se fez inevitável, a ajuda a certas tarefas dos moradores como o auxílio
perante uma entrevista de emprego ou companhia a uma incubência passa a tornar-se
rotina, porém, o empréstimo de dinheiro por parte do pesquisador, pode prejudicar o
crescimento da ligação.
A observação participante implica saber ouvir, escutar, ver, fazer uso de todos os
sentidos. É preciso ponderar sobre o momento certo para perguntas e por vezes
esperar mais do que o imaginado. As entrevistas formais são muitas vezes
desnecessárias, devendo a coleta de informações não se restringir a isso. Com o tempo
os dados podem vir ao pesquisador sem que ele faça qualquer esforço para obtê-los e
isto pode ajudar significativamente na manutenção do relacionamento estabelecido.
Este trabalho é referência nos estudos da chamada “antropologia da política” 6
e
é perpassado pela observação participante e como visto, de ensinamentos sobre esta
atividade. Sabe-se que diversos trabalhos podem ser mencionados como modelos de
estudos sobre temas urbanos, o que faz deste um exemplo, é exatamente a capacidade
de desvendar o que aparentemente não está escondido, mas que o autor consegue
desnudar em seu relato, como a relação entre os políticos e suas bases; as nuances da
disputa entre candidatos e particularmente os resultados obtidos com a observação dos

6
Termo utilizado atualmente em vez da expressão “antropologia política” na qual o termo política podia
ser confundido com uma adjetivação enquanto o termo antropologia da política refere-se exatamente a
um campo específico de investigação e não a uma posição ideológica. Ver em: KUSCHNIR, Karina.
Antropologia da política. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
15

comícios políticos e seus rituais adjacentes. Ao descrever o dia da eleição, por


exemplo, Foote-Whyte expõe as formas de controle sobre os eleitores – o que se
mostra bem singular nesta cidade - e os esquemas de corrupção e fraude, tudo com
riqueza de detalhes. Revela-se ainda um manual da prática etnográfica, das
especificidades que podem surgir em campo e, sobretudo, da capacidade de perceber
além do familiar, pois conforme Da Matta, nem sempre o que vemos e convivemos é
necessariamente conhecido.

3. Estudos urbanos – observação participante no espaço “familiar”

Os fenômenos e as práticas dos indivíduos em suas atividades urbanas, em


organizações modernas e cidades são campos de investigação cada vez mais presente
nesta área, a antropologia urbana tem contribuído para compreender a natureza
complexa dessas realidades sociais e culturais. Neste contexto, o grau de
familiaridade com o objeto de estudo é tido por muitos como um empecilho, se for
considerado igual a conhecimento. Diferentes autores falam da preocupação constante
com a necessidade de uma “distância mínima” do objeto investigado que garanta a
objetividade, mas é certo que essa premissa não é compartilhada por toda a
comunidade acadêmica onde prevalece ainda a noção de que é inevitável a existência
de um envolvimento com o objeto de estudo e que este fato não constitui na verdade
um empecilho ou que automaticamente relegue falhas ou tropeços ao trabalho.
É evidente que observar uma comunidade dita primitiva é uma tarefa distinta de
observar um fenômeno de uma sociedade moderna, contudo, as práticas etnográficas
têm suas bases independentes de tal distinção. Gilberto Velho já alertara sobre a
questão da distância social e psicológica assim como Roberto da Mata apontara suas
“fórmulas” de transformar o exótico em familiar e o familiar em exótico.
Apesar da concepção da antropologia estar relacionada ao estudo dos povos
primitivos, o homem moderno e suas práticas constituem objeto de investigação
igualmente interessante e de certa forma mais “acessível” ao estudo. A vida e a cultura
urbanas por mais variadas e complexas que sejam, mas em sua observação
presenciamos os mesmos métodos de observação despendidos em estudos clássicos
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sobre povos exóticos e sociedades primitivas, como os trabalhos de antropólogos tais


como Willian Foote-Whyte, sendo este contemplado em alguns poucos aspectos neste
texto e Robert Ezra Park, dentre outros.
Gilberto Velho ao contemplar esta questão, afirma que “o que sempre vemos e
encontramos pode ser familiar, mas não é necessariamente conhecido e o que não
vemos e encontramos pode ser exótico, mas até certo ponto conhecido” e destaca a
complexidade do fator “distância” diante do objeto de estudo.

Da janela do meu apartamento vejo na rua um grupo de nordestinos,


trabalhadores de construção civil enquanto a alguns metros adiante
conversam alguns surfistas. Na padaria há uma fila de empregadas
domésticas, três senhoras de classe média conversam na porta do
prédio em frente; dois militares atravessam a rua. Não há dúvida de que
todos estes indivíduos e grupos fazem parte da paisagem, do cenário
da rua, de modo geralestou habituado com a sua presença, há uma
familiaridade. Mas, por outro lado, o meu conhecimento a respeito de
suas vidas, hábitos, crenças, valores é altamente diferenciado. Não só
o meu grau de familiaridade, nos termos de Da Matta, está longe de ser
homogêneo, como o de conhecimento é muito desigual. No entanto,
todos não só fazem parte de minha sociedade, mas são meus
contemporâneos e vizinhos. (VELHO, 1978, p. 39).

Na verdade, o convívio com os indivíduos numa sociedade, ou mesmo uma certa


‘paisagem social’, para usar o termo do autor, apresenta-se de forma familiar, de
maneira a ser possível uma classificação dos sujeitos em categorias mais gerais, fato
que não significa, porém, que esta visualização permita uma compreensão da lógica de
suas relações. O autor menciona ainda que este “conhecimento” pode ser dificultado
por esta “aproximação” com o objeto investigado.

O meu conhecimento pode estar seriamente comprometido pela rotina,


hábitos, estereótipos. Logo, posso ter um mapa, mas não
compreendendo necessariamente os princípios e mecanismos que o
organizam. O processo de descoberta e análise do que é familiar pode,
sem dúvida, envolver dificuldades diferentes do que em relação ao que
é exótico. Em princípio dispomos de mapas mais complexos e
cristalizados para nossa vida cotidiana do que em relação a grupos ou
sociedades distantes ou afastados. (VELHO, 1978, p. 41).
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A realidade, seja esta familiar ou exótica, como em outros termos pontuado pelos
autores aqui mencionados, é sempre filtrada sob algum ponto de vista do observador,
ou seja, a investigação etnográfica é sempre interpretativa.

4. Considerações finais

Um relato etnográfico está sempre perpassado de interpretações, seja sua


escrita marcada pelo caráter dialógico ou polifônico, o relato não deixa de se apresentar
enquanto resultado de uma interpretação de uma objetividade relativa.
Perante a subjetividade das relações sociais e mesmo da contingência da mente
humana, é aceitável que novas perspectivas e opiniões acadêmicas surjam e
redimensione a discussão sobre o exercício e a escrita etnográfica, porém o indiscutível
é a importância da presença em campo do pesquisador por tempo suficiente e
acompanhado de informantes ou assistentes, considerando é claro as subjetividades e
papel social também deste personagem dentro da sociedade em que atua.
Vale ressaltar, lembrando os dois estudos considerados aqui especificamente,
que foi percebido tanto na pesquisa de Gerald Berreman quanto no relato de Foote-
Whyte, que “quando o pesquisador está tentando participar de mais de um grupo, seu
trabalho se complica”. (FOOTE-WHYTE, 1980, p. 84). Existem conflitos dentro de uma
organização social, e o pesquisador de campo precisa estar preparado e por vezes se
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definir como o caso descrito em “Sociedade de Esquina” e a eminente troca de
informantes na pesquisa de Berreman no Himalaia.
Uma observação detalhada aos relatos destes dois autores possibilitou também
uma compreensão da atividade etnográfica tanto junto a uma aldeia indiana fechada a
entrada de estranhos, extremamente estratificada e com costumes totalmente
diferentes do pesquisador quanto em um relato resultante do trabalho de campo em
uma sociedade urbana com sujeitos característicos do cotidiano do pesquisador. Não
obstante os detalhes diferenciados, as pesquisas fornecem dados para a compreensão

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Dois grupos cercavam o cotidiano do pesquisador em Cornerville: Os “Nortons” e o “clube comunidade
Italiana”. Em uma partida de boliche entre os dois grupos, a torcida do pesquisador se evidenciou para os
Nortons. Igualmente quando defendeu os rapazes deste grupo de provocações de outro rapaz e ainda ao
participar de uma disputa de baseball ganhando a confiança e identificação dos mesmos.
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da observação participante, suas especificidades, rotinas científicas, adversidades e


experiência humana.
Exemplos repletos de detalhes valiosos para as diferentes etapas da pesquisa de
campo, que podem ser apreendidos tanto para a atividade etnográfica de estudos
antropológicos, como para investigações jornalísticas, sociológicas, historiográficas, etc.
Trata-se de um método recorrente às pesquisas nas ciências sociais e humanas, que
requerem um contato direto entre investigador e pesquisados, e como as relações
humanas são perpassadas por subjetividades, fica evidente a necessidade de técnicas
de aproximação, bem como da busca da neutralidade por parte do pesquisador.
Técnicas reveladas prioritariamente a partir da experiência e dos relatos de
conhecedores da atividade da pesquisa de campo.

Referências bibliográficas

BERREMAN, Gerald. Por detrás de muitas máscaras. In: Desvendando máscaras


sociais. 2ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora, 1980.

CLIFFORD, A Experiência Etnográfica - Antropologia e Literatura no século XX. Rio


de Janeiro: Editora UFRJ. 1998. (Org. José Reginaldo Santos Gonçalves).

DA MATTA, Roberto. O Ofício de Etnólogo, ou como ter “Anthropological Blues”.


In: Edson de Oliveira Nunes (Org.). A aventura Sociológica. Rio de Janeiro: Zahar,
1978.

KUSCHNIR, Karina. Antropologia da Política. Rio de janeiro: Zahar, 2007.

VELHO, Gilberto. Observando o Familiar. In: Edson de Oliveira Nunes (Org.). A


aventura Sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

WHYTE, William Foote. Sociedade de Esquina: a estrutura social de uma área urbana
pobre e degradada. Tradução de Maria Lucia de Oliveira. Rio de Janeiro, Jorge Zahar,
2005.

. Treinando a observação Participante. In: Desvendando


máscaras sociais. 2ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora, 1980.

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