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Ensino Fundamental - Anos Iniciais

Conhecimentos Regionais e Cultura local


Componentes Curriculares: História e Geografia

PROJETO
ÓRIA
NOSSA HISTA
NOSS E
IDENTIDAD
HINO DE BREVES

Dos Breves nasceu tua história


Homens de bril, bravos guerreiros
Que com mãos fortes, romperam barreiras
Para te erguer, às margens do rio.
Não foi em vão toda essa audácia
Para que hoje pudéssemos ver
os seus encantos, beleza rara
brilhante nesse imenso Brasil
Breves, nossa terra!
Breves, nosso chão!
Terra bendita, por Deus és querida
Breves, Breves do meu coração!
Dentro do peito, pulsa valente
O meu coração brevense
Lutarei sempre pra te ver melhor
Cidade linda
jóia do Marajó.

Autor: Josamarque Gomes de Souza


Ensino Fundamental - Anos Iniciais
Conhecimentos Regionais e Cultura local
Componentes Curriculares: História e Geografia

acordo com
De
BASE

a
NACION
AL COM
CURRIC UM
ULAR

HOMOLO
BNCC
GADA EM
LEI Nº 13 20/12/20
.415/201 17
7

Breves
Projeto Nossa História, Nossa Identidade
Breves-PA – Brasil – 2022
1ª Edição – 1ª Impressão
© Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia da Editora Tocantins,
poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados:
eletrônicos, mecânicos, fotográfi cos, gravação ou quaisquer outros.
Direção Editorial: Projeto Gráfico e Design:
César Vinicius Molina Jesiel Barros
Autor(a): Ilustrações:
Prof.ª Dra. Dione Leão Jesiel Barros
Revisão: Editoração Eletrônica:
Ana Cláudia Braga Jesiel Barros

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

iniciais

Breves-PA
Projeto Nossa História, Nossa Identidade

Breves – PA – Brasil – 2022


1ª edição – 1ª impressão
Direção Comercial: César Vínicius Molina, Fone: +55(63)99204.1460

Q ARSE 41 | Avenida LO 11 | SNº | Lote 18 | Plano Diretor Sul | Palmas-TO


CEP: 77.021-640 | CNPJ: 31.610.409/0001-53
APRESENTAÇÃO

Sabia que onde moramos conta um pouco sobre cada um de


nós? Pois é, faz parte das experiências, dos hábitos e das
características das pessoas. Quando conhecemos alguém, sempre
temos curiosidade em saber o lugar onde mora, pois essa informação
nos permite identificar seus costumes, o que gosta de fazer, suas
preferências e muito mais.
Aprender sobre o local em que se vive é também descobrir sobre
a própria identidade, pois o lugar de origem é o primeiro espaço em
que ocupamos. Você, por exemplo, tem informações sobre a sua
cidade – memórias, histórias, serviços, cultura, paisagens? A maioria
da população não!

E foi pensando nisso, com o desejo de aproximar as pessoas do


seu município, da sua cidade, da sua identidade individual e, assim,
contribuir para a formação de cidadãos comprometidos, que este
livro foi elaborado.

Está preparado para uma trilha de descobertas e aprendizados


sobre fatos geográficos, históricos, culturais e o “jeitinho” do nosso
povo? Então, vamos nessa!

Bons estudos!
BIOGRAFIA DO AUTOR
Dione do Socorro de Souza Leão
Formação: Graduação: Licenciatura e Bacharelado em
História; Especialização: Estudos Culturais da Amazônia
(UFPA); Mestrado: História Social da Amazônia
(UFPA);Doutorado: Antropologia Social (UFPA)
SUMÁRIO
UNIDADE I – VAMOS CONHECER O LUGAR ONDE VIVEMOS ?.........................07
Capítulo 1 - Nossa localização, clima e paisagens naturais ....................... 08
Capítulo 2 – O nosso clima..................................................................... 12
Capítulo 3 - Nosso relevo....................................................................... 14
Capítulo 4 - Nossos rios e afluentes........................................................ 17
Capítulo 5 - Nossa vegetação................................................................ 20

UNIDADE II – QUEM SOMOS ?....................................................... 25


Capítulo 6 - Indígenas: os primeiros habitantes.......................... 26
Capítulo 7- Portugueses: os colonizadores................................. 32
Capítulo 8 - Os africanos......................................................... 37
Capítulo 9 - Os judeus.............................................................. 42
Capítulo 10 - Os nordestinos ...................................................... 46

UNIDADE III – BREVES NO CONTEXTO DO PERÍODO IMPERIAL


E PRIMEIROS TEMPOS DA REPÚBLICA ........................................................ 55
Capítulo 11 - A participação de Breves no movimento Cabano ................. 56
Capítulo 12 - A população de breves, suas composições sociais e
a educação pública no período Imperial ................................................ 68
Capítulo 13 - De lugar dos Breves a cidade de Breves .............................. 78
Capítulo 14 - Breves nos primeiros tempos da república ........................... 86

UNIDADE IV – NOSSAS FORMAS DE SOBREVIVÊNCIA ..................... 101


Capítulo 15 - O negócio da borracha ......................................... 102
Capítulo 16 - O comércio de frutas, sementes, óleos vegetais
e arroz de várzea ..................................................................... 112
Capítulo 17 - O regatão e sua importância para os modos de
de vida ribeirinhos ................................................................... 118
Capítulo 18 - A indústria da madeira .......................................... 121

UNIDADE V – AS TRANSFORMAÇÕES NAS PAISAGENS


DO MUNICÍPIO DE 1950 A 1990 ................................................................ 135
Capítulo 19 - As transformações na paisagem de 1950 a 1960 ................... 136
Capítulo 20 - De 1970 a 1980, uma década de auge madeireiro,
o que mudou na paisagem de Breves ..................................................... 143

Referências Bibliográficas ..................................................................... 151


UNIDADE I
VAMOS CONHECER O
LUGAR ONDE VIVEMOS?
1 NOSSA LOCALIZAÇÃO, CLIMA E
PAISAGENS NATURAIS

Bre
esv

Mapa do Estado do Pará (IBGE)

Nós vivemos no município de habitantes, segundo informações


Breves, localizado no estado do d o I n s t i t u t o B ra s i l e i ro d e
Pará que por sua vez pertence à Geografia e Estatística (IBGE,
região Norte do Brasil. O Pará é 2021). A principal cidade do Pará
muito grande, tem uma área de é a capital Belém, que fica
1.247.954,320 km . Nele existem distante 221.36 km de Breves, o
144 municípios, dos quais inclui o que equivale a uma viagem de
nosso, Breves. No Pará existem aproximadamente 12 horas de
aproximadamente 8.777.124 barco e 1h5min. de avião.

08
1 NOSSA LOCALIZAÇÃO, CLIMA E
PAISAGENS NATURAIS
No Pará, fica o Arquipélago Gurupá, Melgaço, Muaná, Ponta
de Marajó, considerado o maior de Pedras, Portel, Salvaterra,
Arquipélago f lúvio-marítimo do S a n t a C r u z d o A ra ri , S ã o
mundo, formado por cerca de Sebastião da Boa Vista e Soure.
3.000 ilhas e ilhotas é banhado O Marajó é dividido em
pelo Rio Amazonas, Rio Tocantins Marajó Oriental que inclui os
e pelo Oceano Atlântico, sua municípios de Cachoeira do Arari,
e x t e n s ã o t e r ri t o ri a l é d e Chaves, Muaná, Ponta de Pedras,
aproximadamente 50.000 Km . Salvaterra, Santa Cruz do Arari e
N o A r q u i p é l a g o d e M a ra j ó , Soure, e Marajó Ocidental, o qual
e x i s t e m a p rox i m a d a m e n t e nosso município de Breves é
557.231 habitantes (IBGE, 2018) pertencente, juntamente com
nos 17 municípios a ele Afuá, Anajás, Bagre, Curralinho,
pertencente que são eles: Afuá, Gurupá, Melgaço, Portel e São
Anajás, Bagre, Breves, Cachoeira Sebastião da Boa Vista.
do Arari, Chaves, Curralinho,

Foto: mapa da mesorregião do Marajó. Fonte: mapa dos municípios do marajó - Bing images

09
1 NOSSA LOCALIZAÇÃO, CLIMA E
PAISAGENS NATURAIS
O município de Breves, como territorial de 9.566,572 km e uma
mencionado anteriormente é um população de aproximadamente
dos 144 municípios do Pará. Ou 104.280 habitantes (IBGE, 2021),
seja, vivemos em uma Ilha no lado divididos entre os espaços rurais e
Ocidental do Arquipélago de cidade, é o município mais
Marajó. Breves possui uma área populoso do arquipélago.

Foto: vista aérea da cidade de Breves. Fonte: breves pará - Bing images

Foto: vista aérea da cidade de Breves.


Fonte: Vídeo Institucional Cidade de Breves Marajó

10
1 NOSSA LOCALIZAÇÃO, CLIMA E
PAISAGENS NATURAIS
ATIVIDADES

Vamos relembrar o que aprendemos sobre o que acabamos de ler.

1-Onde estamos localizados?


_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
2-A qual estado pertencemos?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________

3-Como é formada a região do arquipélago do Marajó?


_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________

Atenção docentes: Orientar pesquisas em outras fontes relacionadas à geografia do


estado do Pará e à mesorregião do Marajó para apresentação de trabalhos em sala de
aula.

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2 O NOSSO CLIMA

Amazônia brasileira, a “menina dos olhos” (Foto: Wikipédia)

Extensão da Floresta Amazônica (Foto: Wikipédia)

No Pará, prevalece o clima pelas tradicionais chuvas da


equatorial, sofrendo algumas tarde, especialmente na capital
alterações, conforme as diversas Belém. Em Breves está incluído
regiões do Estado. Assim, na zona nesse clima que assume algumas
costeira, área metropolitana de características específicas, por
B e l é m e g ra n d e p a rt e d o exemplo, chove ao longo do ano
Arquipélago de Marajó, inteiro, sendo que o mês mais
apresenta-se um clima equatorial chuvoso é março e o menos
quente e úmido, que tem como chuvoso é setembro. A
c a r a c t e rí s t i c a p ri n c i p a l a temperatura varia de setembro a
ocorrência de muita chuva, sendo dezembro de 33° a 35 , outubro é
que em grande parte os o mês mais quente do ano com
moradores dessas regiões do máxima de 35°.
Estado, tem as rotinas marcadas

12
2 O NOSSO CLIMA

ATIVIDADES
Vamos relembrar o que aprendemos sobre o texto que acabamos de
ler.

1-Como é o nosso clima por aqui?


_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
2-Quais os meses do ano em que as chuvas são mais frequentes em nossa
região?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
3-Qual período do ano é mais quente e faz muito calor?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
4-O que acontece quando chove muito na nossa cidade?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
5-Como fica nossa região quando chega o verão?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________

Atenção professor (a): Orientar pesquisas em outras fontes relacionadas ao clima da


região Norte, estado do Pará e mesorregião do Marajó para apresentação da turma
através de dinâmicas em sala de aula.

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3 NOSSO RELEVO
NOSSO RELEVO

Relacionado ao relevo, as muitos processos de erosões de


f o r m a s o b s e r va d a s suas rochas sedimentares, sendo
predominantemente na crosta estas mais visíveis no Sul do Estado
terrestre do Estado do Pará, do Pará em áreas muito altas
incluem áreas formadas por como a Serra do Cachimbo e a de
Planaltos e Serras Cristalinas que Carajás.
sofreram ao longo de séculos,

Foto: Serra do Cachimbo Fonte:


https://projetorondon.defesa.gov.br/portal/index/noticia/id/142030/area/A/page/11/categoria/-1/module/default

Foto: Serra de Carajás


Fonte: https://www.oestadonet.com.br/noticia/12174/meio-seculo-de-exploracao-mineral-em-carajas/

14
3 NOSSO RELEVO
NOSSO RELEVO

Além desses apresenta-se relevos rebaixados são


também as Depressões e n c o n t ra d o s n a r e g i ã o d o
Interplanálticas composta por nordeste do Pará. Já os relevos de
colinas de rochas cristalizadas e baixas latitudes e planos são
morros mais baixos, localizados comuns no Arquipélago de
próximas da Linha do Equador; Os Marajó, e em áreas de rios como é
Planaltos Sedimentares o caso do município de Breves e
constituídos por grandes áreas de mangues do nordeste do Pará.

Fotos: J. Tadeu

Fotos: https://www.transportal.com.br/noticias/rodoviaria-fortaleza/ilha-de-marajo/

15
3 NOSSO RELEVO
NOSSO RELEVO

ATIVIDADES
Vamos relembrar o que aprendemos sobre o relevo do nosso estado
do Pará.

1-O que é o relevo?


_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
2-Quais as características do relevo do estado do Pará?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
3-Como é o relevo da região do Marajó?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
4-Cite as características do relevo de Breves.
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
5-Quais as características das áreas de rios como a nossa do município
de Breves?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________

É com você professor (a): Orientar pesquisas em outras fontes sobre as características
do relevo do estado do Pará, da região do Marajó e do município de Breves para
apresentação de trabalhos em sala de aula.

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4
3 NOSSOS RIOS E AFLUENTES
NOSSO RELEVO

No Pará, existem centenas Pará, destacam uma variedade de


de rios que com seus af luentes rios e af luentes de águas, claras,
c o n s t i t u e m vá ri a s b a c i a s brancas, cristalinas, escuras,
hidrográficas: Bacias do baixo barrentas, pretas, dependendo
Amazonas; Bacias da Calha dos materiais depositados em
Norte; Bacia da Costa Atlântica; seus leitos como folhas, areia,
Bacias de Portel-Marajó; Bacias ro c h a s , d e n t r e o u t ro s , q u e
de Tapajós; Bacia do Xingu; Bacia sustentam as formas de vida
de Tocantins Araguaia. Todas nessas regiões.
essas bacias hidrográficas do

Águas Cristalinas
https://www.pousadaboto.com.br/post/salvaterra-%C3%A9-o-
para%C3%ADso-dos-igarap%C3%A9s-no-maraj%C3%B3
águas claras
https://ufo.com.br/artigos/a-casuistica-ufologica-da-ilha-do-marajo

Encontro das Águas Escuras e Barrenta


https://pisa.tur.br/pacote/amazonia-belem-ilha-de-marajo-alter-do-chao-e-
Praias de água doce e salobra
amazon-juma-lodge
https://chickenorpasta.com.br/2022/dicas-viagem-ilha-marajo-para

17
4
3 NOSSOS RIOS E AFLUENTES
NOSSO RELEVO

O município de Breves é além deste podemos mencionar


composto por um conjunto de rios os rios Buiussu, Tajapuru, Jaburu,
e braços de rios navegáveis que Macacos, Jacaré Grande, dentre
denominamos estreitos, que ligam outros que são importantes para
as regiões de Breves com as interligar as pessoas e
demais cidades vizinhas como mercadorias ao município.
Bagre, Melgaço, Portel,
Curralinho, Anajás, Gurupá, até
as mais distantes como Belém,
Macapá e as cidades do Baixo
Amazonas.
O principal rio que corta a
cidade de Breves é o rio Parauaú,

Foto: estreitos de Breves, 2021.

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4
3 NOSSOS RIOS E AFLUENTES
NOSSO RELEVO

ATIVIDADES
Vamos relembrar o que aprendemos sobre os nossos rios.

1-O que é uma Bacia Hidrográfica?


_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
2-Quais bacias hidrográficas banham o estado do Pará?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
3-Qual é o principal rio de Breves?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
4-Relacione todos os rios que você conhece no município de Breves.
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
5-Para quê serve os nossos rios?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________

Atenção Professor (a): Vamos pesquisar sobre a variedade de cores das águas dos rios
que cercam o município de Breves e entender as razões científicas dessas variações.

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5
3 NOSSA VEGETAÇÃO
NOSSO RELEVO

No Pará podemos encontrar outras e formam uma cobertura


vários tipos de vegetação. Vamos f lorestal, impedindo grande parte
estudar sobre eles. da penetração de raios solares no
Floresta de Terra Firme: solo. Esse tipo de vegetação,
ocupam a maioria das áreas apresenta uma maior biodiver-
planálticas no estado do Pará. sidade de espécies por área,
Apresentam em sua composição c o m p o s t a p o r c a s t a n h e i ra ,
á r vo r e s d e g ra n d e p o rt e , angelim, acapu, bacurizeiro,
formando um dossel, ou seja, as p e q u i á z e i ro , m a ç a ra n d u b a ,
árvores tocam as copas umas nas andirobeira, dentre outras.

Foto: Árvore de Angelim Vermelho típicos das florestas de terra firme, 2019.
Fonte: https://amazonia.org.br/2020/02/apos-encontro-da-maior-arvore-da-amazonia-nova-expedicao-vai-mapear-mais-especies-gigantes/

F l o r e s t a d e Vá r z e a : árvores têm raízes mais


caracterizada como um tipo de resistentes que dos igapós e
ve g e t a ç ã o i n t e r m e d i á ri a , menores que as de terra firme.
ocupando áreas de planície
temporariamente alagadas. As

20
5
3 NOSSA VEGETAÇÃO
NOSSO RELEVO

As espécies destacadas palmeiras como: bacaba, miriti,


nesse tipo de vegetação são: a ç a í , s u m a ú m a , b u ç u z e i ro ,
mugubeira, seringueira, dentre outras.
palmulato, viroleira, samaúma, e,

Legenda: Floresta de Várzea


http://cristalinolodge.com.br/static/uploads/default_site/header_slideshow/3_southern_amazon/forest_flooded/CL120070317.jpg

Legenda: Floresta de Várzea


https://www.webambiente.cnptia.embrapa.br/webambiente/wiki/doku.php?id=webambiente:ff_amazonia_mata_de_varzea

Legenda: Floresta de Várzea


https://www.webambiente.cnptia.embrapa.br/webambiente/wiki/doku.php?id=webambiente:ff_amazonia_mata_de_varzea

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5
3 NOSSA VEGETAÇÃO
NOSSO RELEVO

F l o r e s t a d e T ra n s i ç ã o : troncos finos, sendo o babaçu,


nascem do encontro entre a uma palmeira nativa das regiões
floresta de terra firme e as de norte e nordeste do Brasil, a
várzeas, que apresentam árvores espécie mais presente nesse tipo
p o u c o d e s e n vo l v i d a s , c o m de bioma.

https://chc.org.br/artigo/o-fantastico-mundo-das-palmeiras/

Ve g e t a ç ã o P i o n e i ra : Savana ou cerrado
presente nas praias e dunas, amazônico: encontrados em
específicas de solos arenosos, é a diferentes áreas do sul, oeste,
vegetação de mangue, dos tipos extremo sul do Estado do Pará,
ve r m e l h o s , b ra n c o e p r e t o , dependendo da região,
existentes em solos pastosos ou destacam-se nesse tipo de
lamosos. ve g e t a ç ã o a s á r vo r e s d e
mangaba, caímbe, pequi e as
campinaranas.

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5
3 NOSSA VEGETAÇÃO
NOSSO RELEVO

Foto: Árvore de pequi do cerrado.


Fonte: http://www.cerratinga.org.br/pequi/

A VEGETAÇÃO DO MARAJÓ
A vegetação no arquipélago formações f lorestais incluem as
de Marajó é constituída por três f lorestas de várzea (predomi-
fisionomias diferentes: campos nantes), as f lorestas de igapó e as
naturais, f loresta tropical densa e f lorestas ombrófilas densas de
ve g e t a ç ã o p i o n e i ra c o m terras baixas (matas de terra
inf luência marinha. Os campos fi r m e ) . A ve g e t a ç ã o c o m
n a t u ra i s , p r e d o m i n a n t e s n a inf luência marinha inclui os
região, podem ser sazonalmente manguezais e extensas praias e
inundáveis ou campos de terra- restingas. Sendo que na região de
firme, conhecidos localmente Breves, prevalece a f loresta
como tesos, e que apresentam tropical densa com matas de terra
ve g e t a ç ã o d e s a va n a . A s firme e inundada (várzea).

Foto: Vegetação típica da região de Breves.


Fonte: floresta do marajó - Bing images

23
5
3 NOSSA VEGETAÇÃO
NOSSO RELEVO

ATIVIDADES
Vamos relembrar o que aprendemos sobre a nossa vegetação.

1-O que é vegetação?


_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
2-Quais os principais tipos de vegetação existentes na nossa região?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
3-Como é composta a vegetação do arquipélago de Marajó?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
4-Quais os tipos de vegetação existente no município de Breves?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
5-Qual o tipo de vegetação existente no local onde você mora?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________

Atividade docente: Orientar pesquisas em outras fontes relacionadas à geografia do


estado do Pará e mesorregião do Marajó para apresentação de trabalhos em sala de aula.

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UNIDADE II
QUEM SOMOS?
6 INDÍGENAS:
OS PRIMEIROS HABITANTES
Assim como no Brasil de urnas funerárias nas quais eram
modo geral, a história do Pará enterrados os chefes das tribos.
começou com os diversos grupos Por meio de estudo nessas urnas,
i n d í g e n a s q u e o c u p a va m o os arqueólogos descobriram que
território do Estado, a exemplo em muitas delas havia crânios mal
dos Tupinambás, Arauaques, formados, não porque nasceram
Tapajós, Condorizes, Jurunas, assim. Mas, pelo costume de
Cariatós, Aruãs, Pacajás, Mapuás, amarrar faixas nas cabeças dos
Anajás, Jacundás, Mundurukus, futuros chefes das tribos, desde
Gaviões e dezenas de outros que eram bebês. Ter o crânio
grupos. deformado na cultura deles, era
Sobre os indígenas do um sinal de status. Essa prática era
Marajó, por meio dos desenhos e muito utilizada pelos indígenas
formas da cerâmica utilitária, ou que habitavam a Cordilheira dos
seja, daquelas que usavam no seu Andes e chegou até o Marajó pela
dia-a-dia, como garrafas, vasos e ocorrência do contato entre os
louças, foi descoberto que estes, grupos, provando que não viviam
praticavam uma agricultura mais tão isolados como se pensa.
aperfeiçoada e tinham uma
organização social e política mais
complexa que outros grupos da
Amazônia.
Graças também a existência
de cemitérios indígenas e de
vestígios de antigas moradias, foi
possível verificar uma estratifi-
cação social, ou melhor, a
existência de desigualdades entre
os indígenas dessa região,
identificados nos desenhos das
Os povos indígenas e sua importância na História do Brasil 26
6 INDÍGENAS:
OS PRIMEIROS HABITANTES
E s t a é u r n a f u n e rá ri a
marajoara (cultura datada entre
400 e 1.400 AD) escavada pelos
arqueólogos Betty Meggers e
Clifford Evans, no ano de 1949. Foi
encontrada no sítio Guajará, na
localidade de Monte Carmelo, alto
rio Anajás. Atualmente, encontra-
se na Reserva Técnica Mário
Cerâmica Marajoara - Foto: de Lorena Porto Maia (2019).
Ferreira Simões,

A cerâmica marajoara, feita pelos indígenas da Ilha de Marajó, é a


27 mais antiga dentre as artes em cerâmica do Brasil.
6 INDÍGENAS:
OS PRIMEIROS HABITANTES
OS INDÍGENAS MAPUÁS
Vale dizer que as informa- n e g a t i va m e n t e p ro c u ra ra m
ções ainda são escassas sobre encobrir as diferenças entre as
esses grupos, que eram chamados formas de falar e viver desses
pelos portugueses com uma grupos.
denominação de “Nheengaíbas” Foi no rio Mapuá que os
em todo o Arquipélago de Marajó, missionários portugueses da
o que dificultou conhecer com Companhia de Jesus no séc. XVII,
mais detalhes os nossos primeiros e s t a b e l e c e ra m o p ri m e i ro
moradores do lado ocidental do aldeamento para catequizar os
arquipélago. Mas, porque os indígenas da região e áreas
portugueses chamavam todos de próximas. Porém, para que isso
Nheengaíbas? Pelo fato de não ocorresse foram feitas muitas
entenderem as línguas de todos os negociações entre o Cacique
grupos de indígenas que viviam Principal Piyé Mapuá e o padre
nos diferentes lugares do Jesuíta Antônio Vieira. Uma vez
Arquipélago de Marajó tanto do que os indígenas não aceitavam a
lado Oriental como do Ocidental, dominação e também não
a exemplo dos Aruãns, Sacacas, permitiam que as embarcações
Maruanás, Caias, Araris, Anajás, dos colonizadores navegassem
Muanás, Mapuás, Pacajás, dentre pelos estreitos de Breves.
outros grupos. Os portugueses

Ilustração: Povos indíginas do Brasil


28
6 INDÍGENAS:
OS PRIMEIROS HABITANTES
Como já foi mencionado um cemitério indígena com
antes, os estreitos de Breves ligam centenas de vestígios da presença
o Marajó ao Baixo Amazonas e dos Mapuás na região de Breves
para chegar nesse território era que comprovam a presença desse
preciso navegar pelos estreitos. grupo no município e garante que
No rio Mapuá, no lugar os indígenas são parte da nossa
denominado Vila Amélia, existe formação étnica e social.

Vila Amélia– Arquivo: Dione Leão – Registro em 26/05/2015.

S e n d o q u e a t ra j e t ó ri a utilizaram-se da guerra, da
histórica desses povos indígenas e e s c ra v i d ã o e d a s d o e n ç a s
de outros que habitavam o Pará, t ra z i d a s , p ro m ove n d o u m a
foi violentamente interrompida ve r d a d e i ra d e s t r u i ç ã o d o s
pelos colonizadores europeus, em p ri m e i ro s h a b i t a n t e s d e s s a
especial os portugueses que região.
motivados pela ideia de lucro,

29
6 INDÍGENAS:
OS PRIMEIROS HABITANTES
Por volta dos anos 2000, podemos destacar; o avanço de
existia uma população de garimpeiros, madeireiros, a
a p rox i m a d a m e n t e 3 7 . 6 8 1 construção de usinas hidrelétricas
habitantes indígenas no estado do e rodovias que cortam seus
Pará, sendo que 25.962 viviam nas territórios.
terras indígenas e 11.718 nas
cidades. Em 2010, 39.81 pessoas se
declaram indígenas no censo
divulgados pelo IBGE. Na
atualidade, ainda existem mais de
trinta grupos indígenas no Pará,
que enfrentam vários problemas
para sobreviverem em seus
t e r ri t ó ri o s , d e n t r e o s q u a i s

Foto: Povo Munduruku em coletiva de imprensa, em Brasília, 2019. Foto: Maurício Ângelo.

30
6 INDÍGENAS:
OS PRIMEIROS HABITANTES
ATIVIDADES
Agora vamos relembrar o que estudamos no texto que acabamos de
ler.

1-Segundo o texto, quais foram os primeiros habitantes do estado do


Pará?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
2- Quais os povos indígenas que fazem parte da formação do nosso
estado do Pará?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
3- Você conhece a história dos indígenas Mapuás?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
4-O que você conhece a respeito da cultura indígena?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
5-Relate sobre a importância desse estudo para a sua vida como
brevense e marajoara.
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________

31
7 OS PORTUGUESES:
COLONIZADORES
A forte presença portuguesa atualidade, de início eram uma
na Amazônia vem desde os ação militar, utilizada para
tempos que o Brasil era colônia de defender as terras pertencentes a
Portugal, quando a província do P o rt u g a l d a s i n va s õ e s d e
G rã o - P a rá e ra d i r e t a m e n t e estrangeiros, como os ingleses,
ligada à Coroa portuguesa. Sendo franceses e holandeses e com isso
que, o processo de colonização e p ro m ove r a o c u p a ç ã o d o
e x p l o ra ç ã o p o r t u g u e s a n o território. Assim, a ocupação
território atual do estado do Pará, militar era considerada como
iniciou com a construção do uma forma de mostrar para os
fortim do presépio em Belém no estrangeiros como os holandeses,
ano de 1616, comandado pelo franceses e ingleses, que vinham
c a p i t ã o - m o r d o g ove r n o invadindo o território, que essas
português Francisco Caldeira terras já estavam ocupadas por
Castelo Branco. Os fortins ou Portugal.
fortes como são chamados na

Foto: Museu do Forte do Presépio, Belém-PA, 2019.

32
7 OS PORTUGUESES:
COLONIZADORES
O s p ri m e i ro s r e g i s t ro s A primeira geração da família
oficiais da presença de europeus, Breves tem origem francesa.
mais especificamente portugue- Porém, os descendentes de
ses, na região de Breves, remete Manoel de Breves migraram para
ao ano de 1738, quando os Açores, pertencente ao domínio
fundadores de Breves receberam português e seu filho Antônio de
um lote de terras, deliberado pelo Souza Breves veio para o Brasil,
Capitão José de Nápole Telles de especificamente para Serra do
Menezes e fixaram-se em 1740 no Mar e da Mantiqueira em Piraí,
local. São João Marcos Itaguaí, Angra
dos Reis e locais adjacentes no
território do Rio de Janeiro, de
o n d e vi e ra m M a n o e l M a ri a
Fernandes Breves e Victoriano
Fernandes Breves, os primeiros a
ocuparem oficialmente a região
Norte. Sendo que o primeiro a
chegar em Breves foi Manoel
Maria Fernandes Breves, em
seguida veio Ângelo Fernandes
Breves, começando um pequeno
povoado. Manoel era solteiro e
Ângelo, casado com Inês de
Souza. Em suas terras, Manoel fez
roças e construiu um engenho que
denominou Santana. Com o
passar dos anos, outras famílias se
juntaram a eles, aumentando as
relações de trocas, alianças e
reciprocidades.

33 Imagem em desenho dos Irmãos Manoel Maria Fernandes Breves e Ângelo


Fernandes Breves. Pintura em tela do artista brevense J. Tadeu.
7 OS PORTUGUESES:
COLONIZADORES
Após quase um século Mapuá. Ela era neta de Joaquim
da doação das terras para os Nunes Horta. Um dos primeiros
irmãos Breves, o lugar Santana portugueses que chegaram a esse
d o s B r e ve s , f o i e l e v a d o à rio.
categoria de Freguesia com a Joaquim Nunes Horta veio
denominação de Santana dos com 14 anos de idade, juntamente
Breves. Em 1851, por meio da lei com o amigo, também português
provincial n 200, a freguesia João Pina, começaram a vida
ganhou status de Vila, e em 1882, a como comerciantes no Lago do
vila dos Breves, tornou Jacaré, compravam e vendiam
oficialmente a Cidade de Breves. borracha e demais mercadorias
Dentre as famílias de origem de primeira necessidade na
portuguesa ainda com região. Ele nasceu em 28 de
r e p r e s e n t a n t e s vi ve n d o n o s setembro de 1864 em Portugal e
espaços de Breves, podemos morreu em 1948 no rio Mapuá.
destacar: a família Horta, sendo Essas informações indicam que
uma das últimas descendentes ele chegou na região de Breves
diretas a Senhora Irene Horta, por volta de 1876, com o passar
moradora da margem esquerda dos anos casou-se com dona
do Lago do Jacaré, comunidade Josefina Pinto Horta com quem
Nossa Senhora de Nazaré, no rio constituiu família.

Fotografia de D. Irene Horta – Fotografia: Dione Leão, registro em


02/06/2016. 34
7 OS PORTUGUESES:
COLONIZADORES
No rio Mapuá, no lugar t ra b a l h a r n o c o m é r c i o d a
conhecido como Cantagalo, borracha e depois no negócio da
também viveu outra família de madeira.
origem portuguesa: Os Félix. O A fotografia a seguir mostra
primeiro a chegar foi o Sr. uma das casas em ruínas
Constantino Martins Félix, nascido ocupadas pela família Félix, para
no dia 22 de março de 1881 no ser mais específica, pelo Sr.
distrito de Castelo Branco em Sebastião Horta Félix, filho de
Portugal e falecido em 1959, no rio Constantino Martins Félix. A casa
Mapuá. Ele chegou ao Pará em está localizada no lugar
1902, provavelmente se deslocou conhecido como Cantagalo.
para Breves nesse período para

Foto: Casa do Sr. Sebastião Horta Félix (em ruínas) – localidade Cantagalo no Alto Mapuá, registro Dione Leão-2015.

A primeira casa da família cidade de Breves eram pequenos,


Félix foi construída na Vila médios e grandes comerciantes e
Amélia, no rio Mapuá, era uma proprietário de terras. Como já foi
propriedade com árvore de m e n c i o n a d o , o s p ri m e i ro s
seringueiras e porto de chegaram no século XVIII e a
embarcação, onde viveu a família segunda leva no século XIX que
até os filhos crescerem e casarem. vi e ra m p a ra t ra b a l h a r n o
A maioria dos portugueses que se comércio da borracha.
estabeleceram na zona rural e na

35
7 OS PORTUGUESES:
COLONIZADORES
ATIVIDADES
Agora vamos responder de acordo com o que aprendemos no texto.

1-Como os portugueses chegaram até a nossa região?


_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
2- Quais as primeiras famílias portuguesas a ocupar este lugar?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
3- Quem foram os irmãos Breves?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
4- Com qual objetivo os irmãos Breves vieram até a nossa região?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
5-Qual a importância dos irmãos Breves para a história do nosso
município?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________

Atenção Professor (a): Defina uma metodologia que possa aproximar o texto desse
capítulo com a existência, nos dias de atuais, das famílias citadas neste estudo, como por
exemplo: os Hortas, os Félix e outras de igual importância que surgirem no decorrer da
pesquisa.

36
8 OS AFRICANOS

É possível que os africanos por volta do século XVIII, no


tenham sido introduzidos no contexto da Era Pombalina (1755-
Arquipélago de Marajó, por volta 1778) quando Marquês de Pombal,
de 1644, no século XVII, junto com incentivou o uso da mão-de-obra
as primeiras cabeças de gado escrava africana, como solução
transportadas das Ilhas de Cabo para a substituição da indígena,
Verde. Mas, a maioria dos estudos por meio do tráfico, realizado
apontam dados oficiais, p e l a C o m p a n h i a G e ra l d o
indicando a incidência de C o m é r c i o d o G rã o - P a rá e
africanos na Amazônia brasileira Maranhão.

Fonte: Escravidão no Brasil disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Escravid%C3%A3o_no_Brasil

A Companhia Geral do Comércio lados do Arquipélago de Marajó.


d o G rã o - P a rá e M a ra n h ã o , A pesquisa levantada pelo Dr.
traficou por volta de 30.000 Agenor Sarraf Pacheco, em vários
africanos para o Grão-Pará. Foi autores da temática, apresentou
assim que o comércio de escravos a seguinte composição
se espalhou por todos os lugares populacional, por volta de 1839
da Amazônia e chegou até os dois em diferentes lugares do Marajó.

37
8 OS AFRICANOS

“ E m M u a n á d o s 3. 5 24 h a b i t a n t e s , 5 0 3 e r a m
escravos e 3.021 livres não identificados; Cachoeira do
Arari - 3.463 habitantes, 130 brancos, 531 escravos, 1.362
livres não identificados; Monsarás - 857 habitantes, 88
brancos, 249 escravos, 190 índios, 130 mestiços, 200
livres não identificados; Monforte - 664 habitantes, 33 brancos.
124 escravos, 367 índios, 140 mestiços; Salvaterra - 497
habitantes, 46 brancos, 31 escravos, 296 índios, 124 mestiços;
Soure - 366 habitantes, 26 brancos, 155 escravos, 44 índios, 141
mestiços; Breves – 227 habitantes, 80 escravos, 147 livres não
identificados e Melgaço 5.719 habitantes, distribuídos
entre 1.021 brancos, 1.140 escravos, 1.440 índios e 2.118
mestiços” (Baena, 2004).

Perceberam as referências junho de 1786, feita por frei


s o b r e B r e ve s ? A p e s q u i s a Caetano Brandão, então Bispo do
evidencia que nesse período Grão-Pará, na Era Pombalina,
m o ra va m e m B r e ve s 2 2 7 quando o mesmo menciona que
habitantes, sendo que destes 80 aportaram nessa data a um
eram escravos, 147 eram livres p e q u e n o p ovo a d o n o l u g a r
não identificados, ou seja, não foi d e n o m i n a d o B r e ve s , o q u a l
definido a etnia. Mas, a presença constava alguns moradores,
de escravos está clara. Para sendo esses pardos ou índios, o
reforçar, essa informação em que significa que já existia uma
outro contexto que é do século população resultante dos
XVIII é importante destacar a contatos de diferentes grupos
parada em Breves, no dia 12 de étnicos.

38
8 OS AFRICANOS

MAS AFINAL, COMO OS AFRICANOS CHEGARAM ATÉ A REGIÃO DE BREVES?


Já vimos que o tráfico de mesmo do povoado dos Breves,
escravos feito pela Companhia de que mais tarde se tornou a cidade
Comércio do Maranhão e Grão- d e B r e ve s , c o m p r a v a m o s
Pará, introduziu centenas deles no escravos. Essa foi uma das formas
Pará. Os grupos formados por de introdução de africanos em
grandes e médios produtores Breves, mas não foi a única.
rurais, comerciantes, profissionais Muitos chegaram como fugitivos
liberais dentre outros, das fazendas localizadas no
compravam os escravos Marajó oriental, onde existiam um
africanos, tornando-os suas n ú m e ro m a i o r d e e s c ra vo s ,
propriedades. Em Breves não foi trabalhando nas fazendas de
diferente, os grandes senhores de gado daquela região.
terras dos espaços rurais e até

SOBRE O MOVIMENTO DE FUGA DOS ESCRAVOS NO MARAJÓ

O movimento de fugas de
escravos era comum em Soure,
Gurupá, Chaves, dentre outras.
Por esse motivo, não era de se
estranhar que tivessem fugido
para Breves ou seguido para
outras direções pelos estreitos de
Breves, até chegar em lugares
mais distantes como Chaves na
fronteira Pará/Amapá/ Guiana
Francesa ou vice-versa.

39 Escravo fugindo de seus donos


8 OS AFRICANOS

E s s a s f u g a s p a ra e s s e s diferentes espaços de rios e


lugares ou outros desconhecidos f lorestas para trabalhar na extra-
em meios às matas e rios, difíceis ção de borracha. Na década de
de serem encontrados pelas 1960, há registros de memórias e
autoridades da época, ou pelos documentos de um grupo de
donos, pois sabiam os grupos pretos residentes na estrada
sociais com os quais era mais Breves-Arapijó, no lugar definido
c o n fi á ve l s e r e l a c i o n a r e nos documentos cartoriais como
misturavam-se a eles, gerando Colônia, deixando muitos
laços mais confiáveis de amizade descendentes entre nós.
e solidariedade, sustentaram suas Desse modo, africanos e seus
f a m í l i a s r e t i ra n d o o s b e n s descendentes, assim como os
necessários a sobrevivência indígenas reinventaram novas
principalmente da natureza que formas de subsistências e
os cercava. m a n i f e s t a ç õ e s c u l t u ra i s n o
Dessa forma, no lado município de Breves, contribuindo
ocidental do Arquipélago de em todos os sentidos com a nossa
Marajó, onde estamos incluídos, rica história.
assim como em outros locais da
A m a z ô n i a , f o i r e g i s t ra d o a
existência de mocambos, tipos de
comunidades formadas por
pretos, índios, cafuzos e pardos,
geralmente fugitivos. Por volta do
século XVIII foi registrado a
existência de quatro mocambos
no rio Macacos, município de
Breves.
No século XIX e XX, muitos
nordestinos descendentes de
africanos chegaram ao município
de Breves e espalharam-se pelos

40
8 OS AFRICANOS

ATIVIDADES
Agora vamos relembrar o que vimos no texto sobre a chegada dos
africanos em nossa região do Marajó.

1-Como os africanos chegaram até o Marajó?


_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
2- Com quê objetivo eles foram trazidos para esta região?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
3-Qual a sua importância na formação da nossa identidade de povo
marajoara?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
4- Como se deu a fuga dos escravos dentro do arquipélago de Marajó?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
5-Vamos entender um pouco mais sobre o período de escravidão no
Brasil.
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________

Atenção Professor (a): Vamos fazer uma breve viagem pelo continente africano,
entender sobre a forma como os negros foram introduzidos no Brasil e orientar os alunos a
buscar em outras fontes mais informações sobre o período de escravidão no Brasil.

41
9 OS JUDEUS

Os judeus, vindos do Breves. Encontramos a presença


Marrocos, não deixaram muitos da família Athias, Bacessat,
registros de suas históricas na Gabbay, Roffé, Farache, Sarraf e
região de Breves. As informações Chocron. Sendo que vivendo em
colhidas no cartório de imóveis Breves na atualidade somente
foram muito importantes para existem descendentes dos
identificar quem eram algumas F a ra c h e , S a r ra f , C h o c ro n e
das famílias que viviam em Bothebol.

Fonte: Reprodução - Blog da Família Roffé, ano de 1922, disponível em https:/ /porta-retrato-ap.blogspot.com.br/

O s m o t i vo s q u e l e vo u promissão - a Eretz Amazônia",


centenas de judeus-marroquinos d i a n t e d a a b e r t u ra d o R i o
a migrarem para a Amazônia de Amazonas à livre navegação que
modo geral foi a pobreza, fome, eles chegaram. A grande maioria
perseguição religiosa, de “judeus-marroquinos” veio de
discriminação, destruição de lugares como Tânger, Tetuan, Fez,
sinagogas. Foi na Amazônia Rabat, Salé, Marrakesh, Arcila,
d u ra n t e a p ri m e i ra f a s e d a Larache, Ceuta e Melilla.
b o r ra c h a " a n ova t e r ra d a
42
9 OS JUDEUS

Dentre esses lugares da espanhol). Vieram ainda de Lisbôa


Amazônia, estava a região de e outras cidades portuguesas”
Breves para onde se deslocaram (Bentes 1987).
famílias como Athias, Roffé Íria Chocron, ao recontar as
Zagury, Sarraf, Farat, Lancy e h i s t ó ri a s d o a vô , A b ra h a m
Gabbay” algumas já menciona- Chocron, repassadas pelas tias
das na página anterior. a o s m a i s n ovo s d a f a m í l i a ,
A vinda da família Athias explicou que no começo dos
para Breves, ocorreu por volta de negócios antes de montar uma
1850, quando aconteceu o auge casa de comércio na Vila São
do negócio da borracha. A Miguel dos Macacos, o avô era
maioria vieram do norte da regatão, um comerciante que
Á f ri c a , n o c a s o d e B r e ve s vendia vários tipos de
especialmente de Tanger, Tetuan m e r c a d o ri a s n o s b a r c o s . O
no Marrocos. Pertenciam “a regatão viajava pelos rios de
comunidades sefaraditas (do Breves fazendo comércios com os
hebraico Sefarad – que significa ribeirinhos.

43
9 OS JUDEUS

Essa prática de comércio foi exportação”. Nesse trabalho de


largamente utilizada pelos judeus Abraham Chocron, as explica-
na região amazônica. Utilizando ç õ e s r e l e m b ra d a s p o r Í ri a
de embarcações “conhecidas Chocron, nos mostra que esse tipo
c o m o b a t e l õ e s e i g a ri t é s de comércio permitia aos
revendiam mercadorias nos moradores da região do rio
distantes seringais em troca de Macacos a oportunidade de
borracha, castanha, bálsamo de adquirirem mercadorias
copaíba, sorva, balata, o ri g i n á ri a s d o M a r ro c o s ,
ucuquirana, peles e couros de atendendo uma clientela que
animais silvestres, dentre outros incluía muitos conterrâneos
gêneros regionais de judeus e os demais moradores.

44
9 OS JUDEUS

ATIVIDADES
Aqui vamos entender um pouco sobre a presença dos Judeu-
marroquinos em Breves.

1-Segundo o texto, quais foram as famílias de Judeu-marroquinos que


aportaram em Breves?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
2- Com qual objetivo vieram para a nossa região?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
3- Você conhece pessoas pertencentes a alguma dessas famílias
citadas?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
4- Vamos conhecer um pouco como é a cultura dos emigrantes Judeu-
marroquinos?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
5-Comente sobre a forma de comércio introduzida por eles nos rios de
Breves.
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________

Atenção Professor (a): Após a realização das leituras e pesquisas sobre este tema, vamos
realizar a culminância deste estudo, convidando algum membro dessas famílias de Judeu-
marroquinos que ainda residem em Breves para uma conversa sobre seus antepassados
com a turma.

45
10 OS NORDESTINOS

O Nordeste foi a região


brasileira que mais enviou pessoas
para o estado do Pará,
principalmente no século XIX,
após as secas de 1877 a 1879.
Estima-se que por volta de 17.000
m i g ra n t e s n o r d e s t i n o s s e
deslocaram para o Estado. Entre
os anos de 1899 a 1900, chegou à
cidade de Belém algo em torno de
8.000 pessoas, estabelecendo-se
na sua maior parte, nas áreas
próximas a estrada de ferro de
Bragança, a nordeste de Belém,
onde estavam localizados os
núcleos coloniais apoiados pelo
governo (Muniz 1916; Cancela
2011).
Os registros da Companhia
de Vapores do Ceará, também
apontam que entre os anos de
1869 a 1900, aproximadamente
300.000 teriam deixado o Ceará.
E, destes, cerca de 255.526 (85%)
vieram para a Amazônia. Os
demais foram para o Sul e Sudeste
do país, mais precisamente para
os estados do Rio de Janeiro, São
Paulo e Espírito Santo. (Cancela
2011).

46
10 OS NORDESTINOS

VOCÊS TÊM UMA IDEIA DE QUANTOS NORDESTINOS VIERAM PARA BREVES?


Não há como dizer vieram muitos nordestinos, na sua
e x a t a m e n t e o n ú m e ro d e grande maioria para trabalhar
nordestinos que vieram para como seringueiros na extração do
Breves, porém as pesquisas de látex, especificamente para os
Leão (2018) realizadas nos livros espaços rurais de Breves, onde
de óbitos e casamentos do existiam muitas estradas de
C a r t ó ri o M a t o s e m B r e ve s seringueiras, embora também
mostraram que no período de tenham ocupado os espaços da
1890 a 1979 foi registrada nas cidade.
margens de dezenas de rios da O s n o r d e s t i n o s v i e ra m
região do município, como motivados pelas ofertas do
Mapuá, rio Jaburu, rio Mututi, rio governo federal de trabalho nas
Macacos, rio Ituquara e Curumu, o áreas de seringais. Mas, não
total de 151 famílias de podemos generalizar, pois essa
nordestinos, sendo que 11 eram da forma de descrever os nordesti-
Paraíba, 106 do Ceará, 24 do Rio nos sob a ideia do trabalho é
Grande do Norte, 05 do apenas uma das representações
Maranhão, 04 de Pernambuco e 01 da realidade em que eles viviam,
da Bahia. mas escondem outras formas de
Como podemos notar, viver dessas pessoas.

47
10 OS NORDESTINOS

Vamos conhecer algumas A sua história foi relembrada pela


dessas famílias que chegaram nos filha Dona Vitória de Paula de 102
finais do século XIX e início do anos. Ela disse que ele “cortava
século XX, no município de seringa” se referindo aos cortes
Breves. que os trabalhadores davam nas
O Cearense Antônio de árvores de seringueira para
Paula, originário da cidade de retirar o látex, a matéria prima
Viçosa, estado do Ceará chegou para a produção de borracha,
ao rio Mapuá no início do século vendida para o mercado nacional
XX, para trabalhar nos seringais. e internacional.

48
10 OS NORDESTINOS

Veio a convite de Antônio muitos desafios para a


J o a q u i m N a s c i m e n t o , o u t ro sobrevivência. Ao casar-se com a
nordestino, comerciante que vivia mãe de Dona Vitória, aprendeu a
n o ri o M a p u á . E ra s o l t e i ro , trabalhar na roça, produzindo
acreditava que ganharia muito farinha para o consumo e para o
d i n h e i ro r e t i ra n d o l á t e x d a mercado local. Além de caçar,
seringueira. pescar e fazer artesanato de
Logo que chegou conheceu cestos, paneiros e peneiras com
uma nova realidade de viver no fibras de meritizeiro, jupati e
município de Breves e enfrentou arumã.

Foto: Casa de Dona Vitória Nogueira – rio Mapuá 2017 – Fotografia: Sebastião

O u t ro n o r d e s t i n o q u e mudarem para o rio Macacos no


podemos destacar foi Leontino da município de Breves foi a busca de
Costa Barros, Originário da “riqueza” dos primeiros tempos
capital do Ceará, Fortaleza. da borracha.
Segundo o neto Augusto Barros
( f a l e c i d o ) , o s m o t i vo s q u e
levaram a família Barros a se
49
10 OS NORDESTINOS

Nesse sentido, a chegada no cartório de imóveis da compra


desse ramo da família Barros, de uma casa no bairro centro,
provavelmente se deu no final do indicando os interesses com a
século XIX, pois em 1907, o Sr. cidade. Até a atualidade existem
Leontino da Costa Barros já tinha descendentes desta família
certo prestígio social na região, morando em Breves.
foi empossado ao cargo de vogal A família do Sr. Antônio
da nova sede do município, a vila Joaquim Nascimento que
de Antônio Lemos, no dia 13 de residiam no Porto Cumaru, rio
maio de 1907, perante a presença Mapuá, foi muito mencionada
do então intendente municipal, pelos antigos moradores de
coronel Lourenço de Matos Borges Breves como uma das primeiras
(Costa 2000). famílias de nordestinos a
A família morou nos espaços chegarem ao município e que
rurais até aproximadamente a trouxeram outros conterrâneos
década de 1920, pois há registro para esta região do rio Mapuá.

Foto: Comunidade Santa Rita – Porto Cumaru, 2015 – Fotografia: Dione Leão.

50
10 OS NORDESTINOS

O Sr. Antônio Joaquim Antônio Bahia e sua mulher Dona


Nascimento; morou no Cumaru, Rosa Francisca Bahia, residentes
São Gabriel e por último no no rio Mapuá, uma posse de terras
Cururu, onde veio a falecer. devidamente registrada
Porém, antes disso, manteve um denominada Nazareth, à margem
papel consolidado de patrão na esquerda do rio Mapuá.
região. Nos documentos
cartoriais, as transações de terras
realizadas por ele vão de 1932, a
1942, onde estão registrados
propriedades em vários locais do
rio Mapuá, como a propriedade
adquirida por escritura em 1941,
denominado São Paulo antiga-
mente Ribeiro. Adquiriu ainda
outras terras no rio Canaticu,
Laguinho, Jupati e Lago do Socó.
Outra família de nordestino,
c i t a d a p e l o s m o ra d o r e s d e
Breves, foi a de José Nobre, um
dos grandes seringalistas da
região, morava no rio Mapuá. Nas
m e m ó ri a s d e D o n a V i t ó ri a
Nogueira, ele tinha uma grande
propriedade com casa e barracão
no igarapé remédio.
Nas documentações, apenas
uma referência sobre o Sr. José
Nobre, datada do ano de 1905,
quando adquiriu de Leopoldo

51
10 OS NORDESTINOS

Desse modo, os nordestinos da seringa, nem todos eram


que vieram na primeira fase da seringueiros pobres, muitos se
exploração da borracha na destacaram como comerciantes
Amazônia, século XIX, foram na região de Breves.
apresentados por seus descen- Em resumo, a nossa
dentes com a ajuda das formação étnica e social, contou
informações dos documentos com a participação de diferentes
cartoriais por meio dos quais grupos de pessoas, desde
conhecemos os lugares onde indígenas, portugueses,
alguns moravam, principalmente africanos, judeu-marroquinos,
nos espaços rurais. Na cidade nordestinos. Em poucos casos,
foram mencionados nos cartórios, franceses e ingleses. O que nos
os coronéis Sucupira e Evangelista tornou uma população plural,
como os maiores proprietários do resultante de vários contatos e
século XIX de casas e terrenos no c o m u m a c u l t u ra ri c a e m
bairro centro. Apesar de estarem diversidade.
diretamente ligados ao negócio

52
10 OS NORDESTINOS

ATIVIDADES
Vamos relembrar o que aprendemos sobre a presença dos
nordestinos no Marajó.

1-Após ler este capítulo você consegue dizer de onde vieram os


primeiros nordestinos para Breves?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
2- Qual o objetivo dos primeiros nordestinos que chegaram à nossa
região?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
3- Você conhece pessoas pertencentes a alguma dessas famílias de
nordestinos citadas neste capítulo?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
4- Vamos conhecer um pouco como é a cultura dos nordestinos?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
5-Comente sobre a forma de comércio introduzida por eles em Breves.
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________

Atenção Professor (a): Após a realização da leitura deste capítulo, vamos organizar em
trabalhos de grupos a apresentação das características dos nordestinos, a partir da sua
cultura e costumes.

53
UNIDADE III
BREVES NO CONTEXTO DO PERÍODO IMPERIAL
E
PRIMEIROS TEMPOS DA REPÚBLICA
11 A PARTICIPAÇÃO DE BREVES
NO MOVIMENTO CABANO

Imagem ilustrativa das ações de revolta dos cabanos em Belém do Grão Pará. Fonte:
http://cstpsol.com/home/index.php/2020/01/08/185-anos-do-triunfo-do-movimento-cabano/

N o s é c u l o X I X , o B ra s i l governo de D. Pedro I, iniciou-se


politicamente passou a ser uma em 1822 com a proclamação da
monarquia. Nós dividimos esse i n d e p e n d ê n c i a d o B ra s i l e
período em duas fases: O Primeiro terminou em 1831, quando o
Império ou Primeiro Reinado, imperador D. Pedro I abdicou, ou
quando o Brasil foi governado seja, renunciou o governo do
pelo imperador D. Pedro I, filho de Brasil em favor de seu filho Pedro
D. João VI, rei de Portugal. O de Alcântara, o seu sucessor.

56
11 A PARTICIPAÇÃO DE BREVES
NO MOVIMENTO CABANO

D. Pedro I, o primeiro imperador do Brasil.Fonte: https://www.infoescola.com/biografias/dom-pedro-i/

No ano de 1840, aos 14 anos d u ra n t e o g o l p e e q u a n d o


de idade Pedro de Alcântara, foi retornou para o Rio de Janeiro no
coroado o novo imperador do d i a d e 1 6 d e n ove m b ro , f o i
Brasil, com a nominação de D. informado que sua família deveria
Pedro II, iniciando o período do abandonar o Brasil em até 24
Segundo Reinado ou Segundo horas. Então, não havia outra
Império. O período terminou em 15 saída a não ser embarcar para
de novembro de 1889, após 49 Portugal, foi o que fizeram no dia
anos de reinado, quando o 17 de novembro de 1889. Desde
imperador estava bem idoso e então, não voltou mais ao Brasil.
sofreu um golpe militar, iniciado Morreu na França, em
p o r M a r e c h a l D e o d o ro d a decorrência de uma pneumonia
Fonseca. D. Pedro II e a família em 1891.
real estavam em Petrópolis
57
11 A PARTICIPAÇÃO DE BREVES
NO MOVIMENTO CABANO
Como foi possível notar, palmeiras, provavelmente palha
foram mais de sessenta anos de de buçuzeiro e troncos e paredes
monarquia no Brasil. Esse período também, assoalho de palmeiras
envolveu muitos acontecimentos. cortadas ao meio. Sobre os
Em alguns momentos Breves, moradores, deram destaque para
aparece dentro de aconteci- a figura das mulheres, ao mostrar
mentos marcantes, em outros as que a maioria se ocupava do
informações são apenas locais. a rt e s a n a t o d e c e râ m i c a ,
Os registros mais antigos, datam principalmente da fabricação de
de três anos antes do início do louças de barro. Eles modelavam
Primeiro Reinado. cântaros (vasos para beber água,
As notícias que temos de também conhecido como
Breves nesse período vêm de moringas) e tigelas feitas à mão
alguns viajantes europeus que livre, com grande habilidade. Um
passaram pela região. Em 1819, deles trouxe notícias sobre os
por exemplo, destacaram ser este primeiros habitantes de Breves: os
um lugar muito pequeno e simples indígenas. Disse ter encontrado
com aproximadamente 30 ou 40 uma velha índia, pintando em
casas, feitas com materiais pratos de cerâmica, gravuras de
retirados das f lorestas da região, animais como galos e pombos.
tipo cobertura de folhas de

58
11 A PARTICIPAÇÃO DE BREVES
NO MOVIMENTO CABANO
Outras informações sobre a uma ligação mais forte e direta
Breves, vamos encontrar somente de comerciantes portugueses e
alguns anos mais tarde, dessa vez brasileiros do Grão-Pará com
o destaque vai para um dos Portugal e não com o governo
maiores eventos do século XIX no brasileiro. Esse grupo agia dessa
P a rá , o c o r ri d o e m 1 8 3 5 : a forma, pois era formado por
Cabanagem. homens ricos e poderosos que
Antes de mencionar a temiam perder muitos dos
participação de Breves neste privilégios adquiridos ao longo de
e ve n t o h i s t ó ri c o , va m o s anos, por isso o grupo apoiava a
relembrar alguns acontecimentos c o n t i n u i d a d e d o i m p é ri o
anteriores como a adesão do p o rt u g u ê s n o E s t a d o e n ã o
Estado do Grão-Pará à indepen- aceitava a independência do
dência do Brasil, ocorrido devido Brasil de Portugal.

59
11 A PARTICIPAÇÃO DE BREVES
NO MOVIMENTO CABANO

Pará celebra uma data importante na sua história: a Adesão do Estado à Independência do Brasil. A ruptura com
Portugal aconteceu em 1823, somente um ano depois de o Brasil se tornar independente.

Mesmo não aceitando, o situação, estimulou uma


movimento dos portugueses reviravolta na política do Grão-
contra a independência do Brasil, Pará. Nas eleições de 1823 para o
ganhou força, em 1821, quando Senado e Câmara o grupo de
este grupo de portugueses, portugueses, não conseguiu
apoiados por alguns brasileiros eleger a maioria no senado. Os
contrários à independência, brasileiros tornaram-se a maioria.
tomou o poder e evitou a adesão A disputa entre os dois grupos
do Pará. Assim em 1822 todo o ficou mais forte. Porém, o governo
Brasil já estava independente, imperial brasileiro, após um golpe
mas o Pará não, continuava sobre político, conseguiu forçar a
o domínio de Portugal. assinatura da adesão do Pará à
No entanto, um ano depois, a independência do Brasil.

60
11 A PARTICIPAÇÃO DE BREVES
NO MOVIMENTO CABANO
Mesmo com a independência
do Brasil, a elite da província do
Grão-Pará, formada por
portugueses ricos, pretendia se
manter no poder. Os brasileiros
ricos, na sua maioria, acredita-
vam que o governo de D. Pedro I,
poderia mudar a situação política
deles, aumentando seu poder e
diminuindo os privilégios da elite
portuguesa.
Mas, acontece que o Pará,
era uma província com muitos
grupos sociais, não somente os
portugueses e brasileiros ricos.
Existia, uma maioria da popula-
ção, composta por pessoas
pobres que também queriam
melhorias na qualidade de vida.
Assim, indígenas, mestiços,
africanos que viviam precaria-
mente às margens dos rios em
construções generalizadas de
c a b a n a s , t a m b é m e s t a va m
descontentes com o governo do
imperador brasileiro e tinham
interesse em participar das
rebeliões e instalar em Belém um
governo popular e independente
que representassem também seus
interesses.
A mais sangrenta insurreição do império, o mais importante movimento
61 popular da história do Brasil.
11 A PARTICIPAÇÃO DE BREVES
NO MOVIMENTO CABANO
Além deles, proprietários qualidade de vida, durante o
r u ra i s e u r b a n o s e a l g u n s governo de Clemente Malcher.
membros da Igreja Católica, Entretanto, as principais medidas
também já tinham se mostrado desse presidente, deu prioridade
em favor de um governo indepen- para os portugueses. Chegando
dente do império no Pará. O apoio ao ponto de prender os próprios
desses grupos deu mais força ao c a b a n o s q u e m a n i f e s t a ra m
movimento revolucionário da contra as suas ideias de governo.
cabanagem. Por isso, podemos Por isso, o governo não durou
dizer que esse movimento não foi muito, em menos de dois meses o
homogêneo, ou seja, havia muitas primeiro presidente cabano foi
diferenças entre seus participan- deposto.
tes, pois cada grupo tinha
interesses próprios, conforme seu
nível social.
A data oficial do início da
cabanagem foi 07 de Janeiro de
1935, quando os cabanos
invadiram a cidade de Belém,
saindo-se vitoriosos, e instalaram
ali o primeiro governo cabano,
tendo em Clemente Malcher seu
primeiro presidente. Porém,
como dito antes, os diferentes
interesses dos participantes do
movimento, o presidente cabano,
não atendeu as expectativas dos
grupos menos favorecidos, que
acreditavam na melhoria da

62
11 A PARTICIPAÇÃO DE BREVES
NO MOVIMENTO CABANO
Em 1935, foi empossado o governo cabano independente de
segundo presidente, Francisco Belém, mas que foi contido pelo
V i n a g r e , m a i s u m a ve z u m presidente. O fato desagradou a
conjunto de ações do então maioria dos revoltosos, que
presidente mostrou não estar de invadiram a cidade e prenderam o
acordo com os interesses da presidente Francisco Vinagre.
maioria dos revolucionários Após esse acontecimento, a
cabanos. Francisco Vinagre se cidade de Belém foi novamente
mostrou contra a separação da invadida pelos cabanos, que mais
p roví n c i a d o G rã o - P a rá d o uma vez, saíram-se vitoriosos e
império brasileiro, punindo os escolheram um novo presidente
p r ó p ri o s c a b a n o s q u e n ã o para dar continuidade ao governo
concordavam com ele. Na cidade revolucionário, desta vez assumiu
de Cametá foi instaurado um Eduardo Angelim.

Índios e negros se juntaram em 1835 na província do Grão-Pará, que


63 aderiu à Independência quase um ano depois da proclamação
11 A PARTICIPAÇÃO DE BREVES
NO MOVIMENTO CABANO

Índios e negros se juntaram em 1835 na província do Grão-Pará, que aderiu à


Independência quase um ano depois da proclamação

Mais uma vez, suas ações cabanos deixaram a capital e


também demonstraram a defesa foram para o interior do Estado,
de seus próprios interesses, visto embrenhando-se nas matas e
que era um proprietário de terras pequenos povoados. Eduardo
e preferiu aderir à monarquia e Angelim foi preso.
desarmar o movimento cabano, É nesse contexto de revolta
negociando com o governo do que o município de Breves, é
p e rí o d o r e g e n c i a l o fi m d o inserido no movimento. Seguindo
movimento. o que disse o pesquisador
Desse modo, a cidade de Theodoro Braga (1919), Breves
Belém sofrendo com uma aparece em meio as documenta-
epidemia e falta de suprimentos, ções que lhe deram base para
foi dominada por militares e s c r e ve r s o b r e a a ç ã o d o s
r e p r e s e n t a n t e s d o g ove r n o cabanos na região.
regencial, os revolucionários

64
11 A PARTICIPAÇÃO DE BREVES
NO MOVIMENTO CABANO
O autor cita uma série de Igarapé-Miry e Anapú.
correspondências oficiais do No entanto, não existem
Padre Prudêncio José das Mercês mais detalhes de como o
Tavares, juiz de paz e defensor da movimento agiu em Breves. Sabe-
vila de Cametá com o Marechal se que ainda na atualidade, em
M a n o e l J o rg e R o d ri g u e s , vários lugares dos espaços rurais,
presidente da Província do Pará. muitas histórias foram passadas
Dentre as documentações, de geração em geração,
destaca-se um ofício de 04 de mencionando a presença dos
setembro de 1835 no qual o padre cabanos na região.
Prudêncio, descreveu a situação
vivida pelo resto da província,
assolada pelo terror, destacando
que inúmeras famílias e mais de
mil cidadãos de Igarapé-Miry,
Anapú, Oeiras e da capital,
a b a n d o n a ra m s u a s c a s a s e
vieram procurar refúgio na vila
dos Breves, porém não estavam
seguros por falta de armas e
mantimentos.
Para amenizar a situação, o
Padre Prudêncio, mandou para
Breves a barca Independência, a
fim de proteger algumas canoas
que estavam paradas no rio com
medo dos cabanos. Assim, a
embarcação foi enviada para
Breves e socorreu os habitantes, Pe. Prudêncio José das Mercês Tavares, Comandante
do Exército Anti-Cabano de Cametá.
juntamente com os refugiados de Instituto Histórico e Geográfico do Pará

65
11 A PARTICIPAÇÃO DE BREVES
NO MOVIMENTO CABANO
Alguns relatos ainda ref A partir daí o movimento
letem o caráter violento do não teve força para realizar a
movimento, outros associam o r e vo l u ç ã o q u e s e u s l í d e r e s
cabano a ideias de tesouros sonhavam principalmente os
enterrados em potes por eles em g r u p o s m e n o s f a vo r e c i d o s ,
toda a região, uma espécie de terminando a revolução em 1840.
lenda, na qual o cabano escolhia Mas, a luta cabana é sempre
em sonho uma pessoa para lembrada como sinônimo de
receber o tesouro, pois o mesmo resistência até a atualidade,
enterrou e não conseguiu voltar mencionada como uma das
mais para pegá-lo. grandes revoltas do período
regencial por ter envolvido um
Sabe-se que permaneceram
número enorme de participantes
em Breves, por um ano. Pois, o
de diferentes classes sociais do
último registro oficial apareceu
Pará e ter se espalhado também
em 1836, quando abandonaram a
pelos espaços de rios e f lorestas
r e g i ã o , d e p o i s d a s vi t ó ri a s
do interior do Estado, desper-
alcançadas entre os dias 20, 21, 22
tando em homens comuns o
de novembro do ano de 1835 na
interesse de lutar por seus ideais.
capital Belém.

66
Imagem: Representação em pintura da Cabanagem em lugares de rios e florestas.
Fonte: https://www.appai.org.br/conhecendo-a-cabanagem/
11 A PARTICIPAÇÃO DE BREVES
NO MOVIMENTO CABANO
ATIVIDADES
Atividades: Vamos relembrar o que aprendemos em relação ao
período Imperial e os primeiros tempos da República.

1-O que foi o período imperial no Brasil?


_________________________________________________________
_________________________________________________________
2-Por que o estado do Pará foi a última província a se integrar ao Brasil?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
3-O que foi a revolta dos Cabanos?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
4-Qual a real motivação para a mobilização dos cabanos?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
5-Como o nosso município de Breves aparece nesse contexto da
Cabanagem?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________

Atenção Professor (a): Vamos orientar nossos alunos a buscarem mais informações em
fontes diversas relacionadas à história do Pará, com foco no período apontado neste
capítulo.

67
12
A POPULAÇÃO DE BREVES, SUAS COMPOSIÇÕES
SOCIAIS E A EDUCAÇÃO PÚBLICA NO PERÍODO IMPERIAL

Ilustração: Período Brasil Imperial

“Sobre os moradores de Breves, podemos dizer


que as fontes pesquisadas, indicaram contagens e
algumas informações sobre a composição social
dos brevenses, a partir de 1839. Neste ano viviam
em Breves 237 moradores, no lugar equivalente a cidade
do presente. Nossos antecedentes tinham hábitos rurais,
sendo que os homens cultivam mandioca, pescavam,
extraíam óleo, resina da árvore de breu e estopa (fibras)
das florestas. Já as mulheres trabalhavam no artesanato
de cerâmica, pintando cuia e confeccionando
louça de cozinha, bacias, jarros e outras peças de
barro” (Baena, 2004).

68
12
A POPULAÇÃO DE BREVES, SUAS COMPOSIÇÕES
SOCIAIS E A EDUCAÇÃO PÚBLICA NO PERÍODO IMPERIAL
Interessante, notar que
havia uma divisão de trabalho por
s e x o , o s p a p e i s e ra m b e m
definidos. Na atualidade, alguns
desses hábitos ainda são
preservados, o que demonstra
uma tradição nos modos de
trabalhar e produzir alimentos, a
exemplo do cultivo da mandioca
para a produção de farinha,
hábito de pescar e a prática do
extrativismo. Com r e l a ç ã o a o
a rt e s a n a t o d e c e râ m i c a ,
e n c o n t ra m o s e vi d ê n c i a s d a
produção até os anos de 1870, o
que significa que a extração de
borracha, tenha alterado este
ritmo de trabalho.

69 Mulheres indígenas no cultivo e colheita da Mandioca


12
A POPULAÇÃO DE BREVES, SUAS COMPOSIÇÕES
SOCIAIS E A EDUCAÇÃO PÚBLICA NO PERÍODO IMPERIAL
Por volta de 1840, outros escala de crescimento no ano de
n ú m e ro s , a p r e s e n t a m u m a 1862, a população do município
dimensão do crescimento contava com 2.996 pessoas livres
populacional na cidade de Breves, e 209 escravos, um total geral de
que de 237 moradores em 1839, 3.205 habitantes.
passou para aproximadamente Em 1889 a população do
mil habitantes. Já referente ao município tinha saltou para 12.593
município, em 1841, existiam 5.865 habitantes.
habitantes, sendo que 5.449 eram
livres e 416 eram escravos.
Em 1855, o município tinha
534 escravos, destes 258 homens e
276 eram mulheres. Em uma
Popolução

Ano

70
12
A POPULAÇÃO DE BREVES, SUAS COMPOSIÇÕES
SOCIAIS E A EDUCAÇÃO PÚBLICA NO PERÍODO IMPERIAL
Desse modo, podemos última evidência foi no ano de
observar que a população teve 1839 pelo registro de um viajante.
um acentuado crescimento no Porém, aparecem os africanos
município de Breves, destacando- escravos como parte da nossa
se os últimos anos, isso se deve ao composição étnica. Nós vamos
f a t o d a e n t ra d a d e m u i t o s ter notícias deles até 1888, quando
migrantes nordestinos e se tornaram livres. No entanto,
portugueses que a partir de 1870 desde os finais de 1880, existem
viveram para trabalhar nos solicitações de envio de verba por
negócios da borracha. parte da Câmara de Breves ao
É muito importante observar governo provincial para indenizar
que dentro dessa composição os proprietários de africanos
populacional, não encontramos a escravizados.
presença de indígenas mais, a

71 Ilustração: Composição Étnica


12
A POPULAÇÃO DE BREVES, SUAS COMPOSIÇÕES
SOCIAIS E A EDUCAÇÃO PÚBLICA NO PERÍODO IMPERIAL
REFERÊNCIAS SOBRE A EDUCAÇÃO PÚBLICA NOS TEMPOS DO IMPÉRIO
Outro tema, porém dentro e o descaso com a educação
d o c o n t e x t o i m p e ri a l , q u e escolar de crianças das classes
surgiram como destaquem nas populares. As escolas do século
pesquisas sobre Breves estão XIX estavam dentro de um padrão
relacionadas à educação formal. criado no Brasil, de acordo com o
Embora sejam poucos os sistema imperial.
registros, cabe mencioná-los. Em P o r e s s e m o t i vo , n ã o
1835, existem passagens nas p o d e m o s p e n s a r q u e e ra m
documentações sobre a criação parecidas com as nossas, nem em
d e u m a e s c o l a p ri m á ri a n a e s t r u t u ra , t a m p o u c o c o m o
freguesia de Breves. Uma questão espaços de inclusão.
muito importante para
compreendermos as dificuldades

Ilustração: Sala de Aula no Período Imperial


72
12
A POPULAÇÃO DE BREVES, SUAS COMPOSIÇÕES
SOCIAIS E A EDUCAÇÃO PÚBLICA NO PERÍODO IMPERIAL
Ao contrário, nesse tempo as
elites eram agrárias, ou seja,
formada pelos donos de terras,
produtores dos espaços rurais. Em
Breves não era diferente. Não
existia um interesse maior do
estado, em criar muitas escolas,
em vista desse não ser o interesse
das elites para as classes menos
favorecidas. Essas crianças eram
inseridas muito cedo no trabalho e
estudar atrapalhava a produção.
Apenas os filhos de uma pequena
m i n o ri a c o m m a i s p o s s e s ,
frequentavam a escola.

Outros registros aparecem


em 1860, quando foram criadas
escolas primárias em Breves, que
na atualidade corresponde
aproximadamente ao ensino de 1
ao 5 ano, público e obrigatório.
Ou seja, os alunos aprendiam
somente a ler e escrever, não
h a vi a c o n t i n u i d a d e . O q u e
somente veio ocorrer nos anos de
1960, um século depois.

73
12
A POPULAÇÃO DE BREVES, SUAS COMPOSIÇÕES
SOCIAIS E A EDUCAÇÃO PÚBLICA NO PERÍODO IMPERIAL
Em 1863, o número de escolas decimais, frações, proporções e
públicas, aumentou para três, geometria, elas não podiam ver
sendo duas na vila de Santana dos nada além das quatro operações
Breves e uma no rio Tajapuru. Até básicas. A educação das meninas
então, as escolas eram separadas era mais limitada que a dos
por sexo, havendo a escola de meninos e também envolvia
meninos e de meninas, uma aprender afazeres do lar como
característica da educação nos podemos ver na imagem a seguir,
tempos do império. não é de Breves, mas serve para
A p ri m e i ra g ra n d e l e i visualizarmos como era a sala de
educacional do Brasil, de 1827, aula do período em outros lugares
determinava que, nas “escolas de do Brasil, a exemplo de São Paulo,
primeiras letras” do Império, logicamente que vivíamos um
meninos e meninas estudassem outro contexto econômico e
separados e tivessem ensinos social e nossas escolas eram
diferentes. Em matemática, as diferentes. Mas, o currículo era o
meninas tinham menos lições do mesmo para todo o império.
que os meninos. Enquanto eles Notem que as meninas estão
aprendiam adição, subtração, aprendendo a bordar.
multiplicação, divisão, números

Imagem: Escola para meninas em São Paulo no século XIX.


Fonte: https://www.poder360.com.br/brasil/brasil-imperial-considerava-que-meninas-eram-intelectualmente-limitadas/ 74
12
A POPULAÇÃO DE BREVES, SUAS COMPOSIÇÕES
SOCIAIS E A EDUCAÇÃO PÚBLICA NO PERÍODO IMPERIAL
No Senado, Visconde de possível. Nas palavras dele, as
Cayru foi um dos defensores de meninas não tinham capacidade
que o ensino de matemática das intelectual para ir muito longe:
meninas fosse o mais enxuto

“Sobre as contas, são bastante para as


meninas as quatro espécies (operações), que
não estão fora do seu alcance e lhes podem ser
de constante uso na vida. O seu uso de razão é muito
pouco desenvolvido para poderem entender e
praticar operações ulteriores e mais difíceis de
aritmética e geometria. Estou convencido de que é
em vão lutar contra a natureza”
(Westin, 2020).

Dessa forma, Breves seguia o


mesmo padrão de mentalidade do
i m p é ri o , p o u c a s m e n i n a s
Somente em 1910, uma lei
aprenderam a ler e escrever,
autorizou o funcionamento de
principalmente nos espaços
e s c o l a s m i s t a s e m B r e ve s ,
rurais. A maioria casava muito
meninos e meninas estudando na
cedo e era inserida no mundo
mesma sala, como ocorre na
adulto, não sobrando tempo e
atualidade.
nem liberdade para estudarem.
Muitos são os relatos de nossas
avós e bisavós que morreram
analfabetas, devido as
dificuldades de estudar na
infância e adolescência.

75
12
A POPULAÇÃO DE BREVES, SUAS COMPOSIÇÕES
SOCIAIS E A EDUCAÇÃO PÚBLICA NO PERÍODO IMPERIAL
ATIVIDADES
Atividades: : Neste capítulo vimos sobre a composição social da
população brevense e os espaços de educação nos tempos do
Império.

1-Quais os dados sobre a composição da população de Breves no início


do século XIX?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
2-Quais as atividades eram desenvolvidas por homens?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
3-Quais as atividades eram desenvolvidas por mulheres?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
4-Como se dava o acesso à educação no período?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
5-Qual sua visão sobre o acesso à educação contido neste capítulo?
Discorra.
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________

Atenção Professor (a): Devemos orientar nossos alunos para irem além da leitura e
produzir algo que represente sua percepção em relação à forma de educação contida no
texto. A produção pode ser textual, mas também em artes como desenhos e encenação
teatral, contando que se tenha aprendizagem, com uma visão crítica sobre o que
aconteceu conforme a história nos apresenta.

76
12 DE LUGAR DOS BREVES A CIDADE DE BREVES

A p o p u l a ç ã o d e B r e ve s cional, também ocasionou em


apresentou um significativo m u d a n ç a s n a e s t r u t u ra d o
aumento populacional no século município e por conta disso,
XIX, período do Império Brasileiro. mudou de categoria, até se tornar
Todo esse crescimento popula- uma cidade.

VAMOS ESTUDAR MAIS UM POUCO SOBRE ESSAS MUDANÇAS...

ACONTECEU ASSIM: Em 1851, ficou extinta a freguesia de


Melgaço, passando a fazer parte da nova freguesia de
Santana dos Breves, como capela filial. Sendo que
neste mesmo ano um enorme passo foi dado, devido
ao destaque da freguesia de Breves, em 25 de
outubro, a povoação de Santana dos Breves foi
elevada à categoria de vila. Por conta desse passo
dado, o governo provincial do Pará, ordenou que a
câmara municipal passasse a funcionar na vila de
Santana dos Breves e não mais em Melgaço.

77
13 DE LUGAR DOS BREVES A CIDADE DE BREVES

O governo então permitiu Diante desse acontecimento, uma


que se alugasse uma casa para m o ra d o ra c o n h e c i d a c o m o
realizar as sessões da câmara. Um Saturnina Tereza, que se dizia
cidadão denominado Joaquim da herdeira legítima das terras dos
Silva Baima, ofereceu por um Breves, requereu para si os
tempo de dois anos uma casa na direitos de propriedade da área, o
vila dos Breves para funcionar as que foi negado por ofício em 1855
sessões da câmara municipal. No pelo governo provincial. Não
entanto, a compra de um lugar sabemos exatamente o grau de
d e fi n i t i vo p a ra a C â m a ra , parentesco dela com os irmãos
somente ocorrerá em 1875, com a Breves, uma vez que ela não
aquisição da casa do Sr. Bonifácio carregava o sobrenome deles.
da Silva Monteiro, situada na Rua Porém a mesma possuía uma
Rêgo Barros. carta de doação dada por D. João
Outras alterações começa- VI, rei de Portugal aos irmãos
ram a ocorrer no espaço da vila, Breves, por esse motivo, ela
após a elevação. Alguns alegava que a vila foi erguida em
indivíduos solicitaram a câmara cima de sua propriedade. O certo
d e B r e ve s t e r r e n o s p a ra é que ainda existe muito a se
construírem suas casas no local. investigar sobre a família Breves.

Imagem: Reprodução
78
13 DE LUGAR DOS BREVES A CIDADE DE BREVES

O GOVERNO PROVINCIAL, TAMBÉM NÃO PERMITIU QUE A POSSE DAS


TERRAS FICASSE COM A CÂMARA E PASSOU A TOMAR CONTA DAS
TERRAS DA VILA ORDENANDO QUE A CÂMARA SÓ PODERIA EXECUTAR
AS ORDENS PARA CONSTRUÇÃO APENAS DE PRAÇAS, RUAS,
TRAVESSAS, PONTES, LOGRADOUROS PÚBLICO

Desde 1851, as documen- depois de muitas solicitações de


tações destacadas nas pesquisas verbas por parte da Câmara de
de Braga (1919), demonstraram Breves para o governo provincial,
mudanças nos espaços da cidade, significando uma preocupação
mesmo que sejam lentas, com a segurança da população,
demarcaram a construção de haja vista que quando um lugar
novas estruturas para atender as cresce, problemas de todas as
demandas da população. Nesse o r d e n s s u rg e m n a m e s m a
ano, por exemplo, foi construída proporção.
a primeira cadeia de Breves,

79
13 DE LUGAR DOS BREVES A CIDADE DE BREVES

Nesse sentido, a justiça P a e s d e C a r va l h o . Ta m b é m


também ganhou em 1891, uma indicando que havia um anterior a
n ova c a s a d e c a d e i a , u m a este, ainda sem informações de
estação policial, três cartórios e onde estava localizado.
um juiz fixo para o município. A necessidade de um novo
cemitério pode ser explicada pela
falta de cuidados básicos com a
população, pois em 1846,
solicitou-se o envio de vacinas ao
governo provincial para a vila, a
qual não foi atendida, trazendo
danos graves para os moradores
que foram acometidos de uma
grave epidemia de sezão (cólera,
Foto: Reprodução Cemitério
peste, tifo, gripe e varíola),
Outra transformação, surgi- sepultando diariamente uma
da a partir desse crescimento grande quantidade de gente,
populacional, ocorreu em 1860 tanto na igreja matriz como em
com o início de um novo cemitério outros lugares da redondeza,
para a vila, levando a crer de se onde existiam cemitérios. O que
tratar do cemitério Santa Izabel, se sabe é que não foi possível
localizado atrás do hospital da achar remédio para tal
cidade, nas mediações da rua calamidade.

80
13 DE LUGAR DOS BREVES A CIDADE DE BREVES

Em 1872, um novo docu- relatos de descendentes de


mento solicita a transferência do nordestinos que vieram para
cemitério Santa Izabel para outro Breves, afirmaram que era a
lugar, dando a entender que já doença que mais matava esse
tinha seus espaços todos grupo. A malária na atualidade
ocupados. Em muitas solicitações ainda é uma doença muito
encaminhadas pela Câmara da perigosa na região de Marajó e
vila para o governo provincial, em toda a Amazônia, embora
aparecem algumas direcionadas exista um maior controle e
novamente para compra de medicações próprias para a
vacinas e para a prevenção de doença, o que evita números
varíola. elevados de óbitos, mas ainda se
Além da varíola, a malária trata de um grande problema
era a doença que mais preocu- sanitário, principalmente para os
pava as autoridades locais, moradores dos espaços rurais.

81
13 DE LUGAR DOS BREVES A CIDADE DE BREVES

ABERTURA DE NOVAS RUAS NA VILA DOS BREVES

Avançando mais um pouco mais afastados para construir o


na história, chegando ao ano de matadouro como o igarapé
1 8 6 5 , va m o s a c o m p a n h a r a goiabal onde foi construído o
abertura de novas ruas, primeiro matadouro da cidade.
construção de praças públicas e
perfuração de poços públicos
para a população da vila, além da
construção do primeiro
matadouro público de Breves, um
sinal de que a vila se alargava
t a m b é m p a ra e s s e l a d o . O
crescimento populacional fazia o
governo, procurar por lugares

82
13 DE LUGAR DOS BREVES A CIDADE DE BREVES

A LUZ ERA DE LAMPIÕES


Outra observação impor-
tante sobre este período da
história é sobre a energia. A vila
não tinha energia elétrica nesse
tempo, era iluminada por meio de
lampiões. Documentos antigos
comprovam que no ano de 1869 a
vila adquiriu 30 deles com as
armações completas que serviam
p a ra a i l u m i n a ç ã o p ú b l i c a .
Inclusive existia um funcionário
público, responsável por este
ofício. O mesmo tinha a tarefa de
abastecer com óleo de baleia os
lampiões e os acendia no início da
noite e os apagava ao amanhe-
cer.

83 Imagem: Reprodução de lampiões sendo acesos para períodos noturnos


13 DE LUGAR DOS BREVES A CIDADE DE BREVES

BREVES SE TORNA CIDADE EM 1882


Vamos passar de 1869 para capítulo, aliado a outras formas
1882, mais precisamente para o de produção, e a localização
dia 02 de novembro daquele ano, geográfica de Breves, fez surgir
quando Breves deixa de ser uma na cidade novos serviços que
vila e é elevada à categoria de somente existiam em espaços
cidade. Um marco significativo urbanos, algo determinante para
d e m o n s t ra o s e u d e s t a q u e esta mudança e também para
histórico na região de Marajó. A entender sobre a Breves da
riqueza gerada pela produção da atualidade.
borracha que vamos acompanhar
com mais detalhes em outro

84
13 DE LUGAR DOS BREVES A CIDADE DE BREVES

ATIVIDADES
Atividades: Agora vamos ref letir sobre o que aprendemos em rela-
ção às mudanças que elevaram Breves de vila à cidade.

1-Como se deu essa transformação?


_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
2-Quais os fatores permitiram o crescimento da vila dos Breves?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
3-Como era a relação da vila dos Breves com o governo da Província do
Pará?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
4-Como as ruas da vila dos Breves eram iluminadas durante a noite?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
5-Em que ano a vila dos Breves foi elevada à condição de cidade de
Breves?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________

Atenção Professor (a): Vamos orientar nossos alunos para buscarem novas fontes de
pesquisas, com o intuito de investigar mais sobre essas transformações. Realize atividades
que possa contextualizar sobre os motivos que elevaram a vila dos Breves à condição de
cidade.

85
14 BREVES NOS PRIMEIROS TEMPOS DA REPÚBLICA

Em 1889 a Câmara Municipal Não se sabe, se a sede da


foi dissolvida, foi criado no intendência, continuou
município de Breves um conselho funcionando na Câmara
de intendência municipal, Municipal nesses primeiros anos
composto de sete membros sob a de atuação no município. O que
presidência de um deles, sabemos é que em 1895, foi
nomeados pelo governador do construído um edifício para o
estado. No mesmo ano, na data de paço municipal da cidade de
26 de novembro o município Breves, onde ficava os Intende-
aderiu ao novo regime governa- ntes, espécie de representantes
mental: a República. O dia foi do governo, como se fossem
marcado por uma cerimônia, prefeitos.
acompanhada pelas autoridades
civis e militares do município.

Reprodução: O Brasil Republicano


86
14 BREVES NOS PRIMEIROS TEMPOS DA REPÚBLICA

CORONELISMO: POLÍTICA, ECONOMIA E PODER


Os primeiros tempos da Era um governo para poucas
República no Brasil, também pessoas das elites, neste caso
conhecida como República Velha, grandes proprietários rurais do
iniciaram-se em 1889 com a ramo do café e da pecuária. No
Proclamação da República e caso da Amazônia, onde Breves
durou até a Revolução de 1930. está inserida, eles eram os donos
Durante a República Velha o dos seringais e negociantes da
Brasil teve 13 presidentes, que b o r ra c h a . P o p u l a r m e n t e ,
eram eleitos para mandatos de conhecidos como coronéis de
q u a t ro a n o s , s e m d i r e i t o à barranco. Homens de muito
reeleição. prestígio social, político e
econômico nas localidades de
Politicamente foi um tempo
suas propriedades rurais, apare-
marcado pelo coronelismo, pela
c e ra m i n ú m e ra s ve z e s n o s
política dos governadores e a
documentos cartoriais,
política do café com leite,
n e g o c i a n d o t e r ra s e m t o d o
sistemas esses que procuravam
município de Breves.
manter as oligarquias no poder.

Deodoro da Floriano Prudente de Campos Rodrigues


Fonseca Peixoto Morais Sales Alves Afonso Pena

Nilo Hermes Venceslau Delfim Epitácio Artur Washington


Peçanha da Fonseca Brás Moreira Pessoa Bernardes Luís

87
14 BREVES NOS PRIMEIROS TEMPOS DA REPÚBLICA

COMITIVA DA PRIMEIRA EXPOSIÇÃO NACIONAL DE BORRACHA

Coronel
Lourenço Borges Coronel
Pereira da Silva

Coronel
Dr. Pedro de Toledo Bertino de Miranda

Estes homens compravam as De 1891 a 1894 - Tenente


patentes de coronéis e por isso Coronel José Maria de Cabral.
tinham o poder de mando no lugar De 1894 a 1897 - Coronel
onde viviam. Eles controlavam o Amado Joaquim da Silva
voto, dominavam a economia e
De 1897 a 1900 - Coronel
até as coisas da justiça. Em Breves
Fulgêncio Mariano de Andrade
muitos deles se destacaram no
campo da política e se tornaram De 1903 a 1906 - Coronel
intendentes da República, desde Lourenço de Mattos Borges.
que foi instituída no Brasil. Pode- De 1906 a 1909 - Coronel
mos observar essas afirmações Lourenço de Matos Borges.
por meio da lista de intendentes De 1909 a 1912 - Coronel
que se estabeleceram no poder Lourenço de Matos Borges.
em Breves de 1891 a 1912.

88
14 BREVES NOS PRIMEIROS TEMPOS DA REPÚBLICA

O mais atuante deles foi o e parte de um grupo de republi-


Coronel Lourenço de Mattos canos atuantes no meio político,
Borges. O mesmo seguia uma que incluía figuras conhecidas
tendência organizada dentro da c o m o L a u ro S o d r é , J u s t o
política do Pará, ele era apoiador Chermont e Antônio Lemos.

Lauro Sodré Justo Chermont Antônio Lemos

Dentre esses políticos, o que No ano de 1899, nota-se uma


mais teve mais inf luência em preocupação com o paisagismo
Breves foi Antônio Lemos. Ele da cidade. Verbas são enviadas
exercia o cargo de chefe interino pelo governo provinciano para a
do Partido Republicano do Pará arborização do espaço urbano.
(PRP). Parece uma observação simples,
Para entendermos melhor o mas não é, significava algo não
contexto em que todas essas ocorrido antes, já que Breves, era
transformações estavam uma cidade cercada de árvores,
ocorrendo, vamos retomar a mas a partir de 1900, muitas
atenção para os espaços que construções e consequentemente
s e r vi ra m d e p a l c o p a ra o s a derrubada das f lorestas nativas
acontecimentos marcantes desse começam a preocupar as
período, a começar pela cidade. autoridades da cidade.

89
14 BREVES NOS PRIMEIROS TEMPOS DA REPÚBLICA

PRA VOCÊ
FICAR SABENDO...

Em 1900, Breves tinha uma população de 17.799 habitantes,


sendo 9.479 homens e 8.320 mulheres. Aumentando em 1901
para 19.662 habitantes. Para somar outras informações a essas.
Existiam em Breves, 3.347 pessoas solteiras, 1714 casadas, 190
viúvos. Sobre as ocupações em Breves, existiam 185 artistas,
301 comerciantes, 34 empregados no comércio, 34
empregados públicos, 4.683 lavradores, 03 magistrados, 01
médico e 01 farmacêutico.

CURIOSIDADE
O ano é 1901... São concedidas à intendência as terras
devolutas para aumentar o patrimônio da cidade com a
abertura de 04 ruas, 04 travessas, construção de três praças
públicas. Neste tempo, o patrimônio de Breves incluía 12
sobrados (casas), 77 casas térreo, 05 lojas de tecidos com
tabernas (comércio), 01 loja, 02 padarias, 01 açougue, 02
botequins, 04 canoas de regatão, 03 trapiches, 01 barbearia, 02
telheiros, 20 barracas, 04 edifícios públicos, 01 igreja, 01
capela, 05 tabernas, 01 farmácia drogaria, 01 casa de bilhar, 01
tipografia. (Braga, 1919).

90
14 BREVES NOS PRIMEIROS TEMPOS DA REPÚBLICA

Na diversidade de profissões P a ra a t e n d e r a s n ova s


da época, chama atenção a realidades da intendência, em
quantidade de artistas, o número 1904, foi construído o prédio da
alto de comerciantes atuando, o atual Prefeitura Municipal de
que confirma o poder deste grupo Breves, onde também funcionou a
em Breves. Além da maioria dos Câmara Municipal, no governo do
trabalhadores serem lavradores, Coronel Lourenço de Mattos
outro ponto a destacar é que até Guerra, tornando-se prefeitura
e s s e p e rí o d o a m a i o ri a d a somente em 1942.
população de Breves, morava nos
espaços rurais e vivia da prática
da agricultura familiar.

Imagem: Prédio da Prefeitura Municipal de Breves, onde também funcionou a Câmara Municipal.
Fonte: https://www.ferias.tur.br/fotogr/181415/imagensdacidadedebreves-pa/breves/

91
14 BREVES NOS PRIMEIROS TEMPOS DA REPÚBLICA

Em 1906, a força do Partido marcou uma passagem


Republicano do Pará do qual o importante na história da sede do
Coronel Lourenço Borges fazia município que até então, era
parte, ganhou destaque nos cidade de Breves.
acontecimentos políticos e

EM 1906 A SEDE DA CIDADE DE BREVES FOI PARA ANTÔNIO LEMOS


A justificativa para tal se deu rio Tajapuru que em seguida se
porque na atual sede da cidade de tornou cidade de Antônio Lemos,
Breves havia muitos problemas de denominação dada em
s a ú d e p ú b l i c a , t o r n a ra m o homenagem ao intendente de
ambiente insalubre, difíceis de Belém Antônio José de Lemos,
continuar morando. Diante disso, político que governou Belém entre
o Conselho Municipal que tinha a os anos 1897 e 1911 e era o chefe do
responsabilidade de administrar a Partido Republicano do Pará
cidade, pediu ao governo da (PRP), a quem o Coronel Lourenço
província para que a sede de de Mattos Borges e uma elite
Breves fosse transferida para e n d i n h e i ra d a f o r m a d a p o r
outra localidade. O pedido foi comerciantes locais, profissionais
concedido pelo Congresso do liberais e funcionários públicos do
Estado do Pará. Assim, a sede do município de Breves, deviam
município da cidade de Breves foi obediência e fidelidade.
trocada para a Ilha de Nazaré, no

92
Foto: Imagem da Vila de Antônio Lemos para onde foi transferida
a sede da cidade de Breves em 1906. (arquivo Dione Leão).
14 BREVES NOS PRIMEIROS TEMPOS DA REPÚBLICA

O intendente de Belém Antônio José de Lemos, homenageado com o seu nome na nova sede da cidade
de Breves. (Fonte: internet e redes sociais sobre o tema).

93 Vila de Antônio Lemos, ilha de Nazaré, Rio Tajapurú Breves Marajó Pará
14 BREVES NOS PRIMEIROS TEMPOS DA REPÚBLICA

Com essa mudança para a paravam regularmente ali. A


cidade de Antônio Lemos muito se cidade contava com muitos
lucrou na economia, na saúde e no prédios particulares e públicos
progresso do município de Breves. municipais. Tinha várias ruas,
A população da nova sede era de praças, avenidas, travessas.
800 habitantes. O comércio era Todas as ruas eram arborizadas
movimentado com a existência com palmeiras. Estas ruas tinham
de vários estabelecimentos, as seguintes denominações: Rua
dentro os quais a casa comercial Augusto Montenegro; Avenida
de C. Miranda, Irmão e C e n t ra l ; A ve n i d a H u e t d e
comandita, um dos principais Bacellar; Avenida Barão do Rio
importadores em grande escala B ra n c o e a i n d a F ra n c i s c o
do sul do Brasil (Braga, 1919). Figueiredo, Dr. Fausto Cardoso.
Além disso, a navegação N a e s t r u t u ra f í s i c a , a
facilitada pelo rio Tajapuru, onde existência de trapiches públicos e
a cidade se encontrava, era um particulares facilitava a
local de passagem de vapores de atracação de embarcações como
vá ri o s t a m a n h o s , o s q u a i s vapores, barcos e lanchas.

Imagem: TAJAPURU rio do Marajó


94
14 BREVES NOS PRIMEIROS TEMPOS DA REPÚBLICA

Com essas informações decisão. Isso se confirma através


descritas nos estudos sobre este dos documentos informativos
assunto é possível entender que os encontrados que fazem
motivos da mudança de sede do referências a este período. Por
município, não se explicavam mais que se destacasse a
somente por uma questão de estrutura da cidade de Antônio
saúde pública ou insalubridade Lemos, as documentações
como se justificou ao congresso pesquisadas comprovam que a
do Pará e governo provincial, cidade de Breves era muito mais
existiam interesses políticos e bem estruturada (Braga, 1919).
e c o n ô m i c o s e n vo l ve n d o a

95 iaçA od amruT ad ainôzamA ad sohniriebiR :oãçartsulI


14 BREVES NOS PRIMEIROS TEMPOS DA REPÚBLICA

Em 1909, Antônio Lemos foi com três anos depois, a Lei


nomeada cidade e foi instalada Municipal n 240, de 18 de março
em 17 de dezembro do mesmo de 1912, devolveu para a cidade de
ano, não conseguindo, Breves, o seu lugar de sede do
entretanto, conservar-se sede do município.
Município por muito tempo, pois

PRA VOCÊ
FICAR SABENDO...

Foi a Lei Municipal n 240, de 18 de março de 1912, que transferiu


a sede do município de volta para a cidade de Breves.

Quando ocorreu a mudança decadência, tanto que 1908, uma


da sede do município para a lei autorizou a demolir os que
cidade de Antônio Lemos, Breves estavam em ruínas. Somente a
enfrentou uma fase muito ruim partir de 1912, quando a cidade
para a cidade e seus moradores se volta a ser a sede do município, foi
resumindo a uma subprefeitura. possível acompanhar um retorno
Seu poder político foi descen- ao crescimento do espaço
tralizado, foram criadas várias urbano.
subprefeituras como a da cidade O retorno da sede do
de Antônio Lemos, do Furo do município para Breves coincide
Boiussu, a do rio Macacos, rio com o processo de desaceleração
Mapuá, rio Aramã, rio Jacare- dos negócios da borracha na
zinho, Curumu, Ituquara, Furo do r e g i ã o , q u a n d o o s g ra n d e s
Gil e Mututi. comerciantes do ramo instalados
A situação levou muitos na sua maioria nos espaços rurais,
prédios públicos municipais à sentem a crise no comércio.

96
14 BREVES NOS PRIMEIROS TEMPOS DA REPÚBLICA

A PRIMEIRA SERRARIA NA REGIÃO DE BREVES


Em 1910, com o declínio da uma serraria a vapor na cidade de
borracha, criou-se a Lei de Antônio Lemos, e em 1917
n ú m e ro 2 1 1 q u e a u t o ri z a o aconteceu a instalação da
intendente a gratificar quem primeira madeireira na região de
estiver interessado em montar Breves.

Imagem ilustrativa de madeiras em toras no porto de uma serraria no interior de Breves. (arquivo: Dione Leão).

A madeira começava a cenário político, a força de


aparecer no cenário econômico Getúlio Vargas a partir de 1930,
do município que no ano de 1925 marcou também a história do esta
teve instalada na sede da cidade do Pará, fazendo despontar o
uma grande empresa do ramo, político de nome Joaquim de
desabrochando em Breves um Magalhães Cardoso Barata.
novo momento na sua história. No

97
14 BREVES NOS PRIMEIROS TEMPOS DA REPÚBLICA

O estado teve vários admi- adeptos e dividia a preferência da


nistradores no período em que população no estado. Em Breves,
Vargas esteve no poder totalitário um grupo de profissionais liberais
do Brasil, mas coube a Magalhães e comerciantes o apoiava. Por
Barata duas passagens no poder esse motivo, durante todos os
em território paraense durante o a n o s e m q u e p a rt i c i p o u d o
período de intervenções federais. cenário político no Pará, o mesmo
Esse político tinha muitos visitava Breves.

Imagem: Obra da artista brevense Necy Balieiro, retratando o momento da chegada de Joaquim Magalhães Barata em uma de suas visitas
ao município de Breves na década de 1950. A obra faz parte da coleção da artista lançada no livro “Breves Memórias” em 2022.

A a rt i s t a p l á s t i c a N e c y finais da década de 1950, quando


Balieiro, relembra em uma de suas este ainda era um político atuante
obras um desses momentos de no estado. Barata vinha de avião
visita de Magalhães Barata na estilo catalina, modelo hidro
cidade de Breves, lançada como anfíbio, que pousava no rio,
parte do Livro de sua autoria d e s e m b a r c a va n o t ra p i c h e
“Breves Memórias”. A arte retrata municipal e seguia sua agenda na
um momento provavelmente nos cidade.

98
14 BREVES NOS PRIMEIROS TEMPOS DA REPÚBLICA

ATIVIDADES
Atividades: Vamos aprofundar nosso conhecimento sobre a cidade
de Breves nos primeiros tempos da República.

1-Cite os alguns acontecimentos que marcaram a cidade de Breves


nestes primeiros tempos da República.
_________________________________________________________
_________________________________________________________
2-Como foi a atuação dos coronéis na política, economia e no poder
nesses tempos?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
3-Quais foram os principais coronéis de Breves citados neste capítulo e
em que período exerceram o poder?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
4-Em que ano a sede da cidade de Breves foi transferida para a Vila de
Antônio Lemos e em qual data o seu retorno foi estabelecido para o
lugar de origem?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
5-Em que ano e por qual motivo foi instalada a primeira serraria
madeireira na região de Breves?
_________________________________________________________
_________________________________________________________

Atenção Professor (a): Vamos dividir nossa turma em cinco grupos, distribuindo a cada
grupo um tema diferente, com base nas perguntas desta atividade. Em seguida, mobilizar
as condições necessárias para que os alunos possam buscar as respostas possíveis e
apresentar de forma objetiva e clara a percepção do grupo em relação aos
acontecimentos.

99
UNIDADE IV
NOSSAS FORMAS DE SOBREVIVÊNCIA
15 O NEGÓCIO DA BORRACHA

Imagem: Divulgação do processo da


coleta do látex das seringueiras.

Imagem ilustrativa: Seringueiro extraindo látex da seringueira.


Fonte: http://www.historia-brasil.com/republica/ciclo-borracha.htm

O ciclo da borracha e a extração do látex, matéria-prima da borracha.


102
15 O NEGÓCIO DA BORRACHA

A extração da borracha é produção. Ela quebrava bastante


uma atividade que começou a ser quando exposta a temperaturas
praticada pelos indígenas da baixas. Então, a partir de 1839, o
América, bem antes da cientista Charles Goodyear,
colonização europeia do século d e s e n vo l ve u a t é c n i c a d e
XVI. Da seringueira eles retiravam vulcanização que aumentou a
um líquido branco que ficou qualidade do produto. A partir de
conhecido como látex, quando então, a borracha ganhou muito
coagulado transformava-se na espaço no mundo na produção de
borracha natural. Os indígenas da p n e u s , p ri m e i ra m e n t e p a ra
América central usavam na bicicletas. Depois ganhou outros
fabricação de potes, calçados e usos, como por exemplo, na
bolas para jogar. Por esse motivo, produção de correias,
no início do século XVII, os mangueiras, materiais cirúrgicos,
espanhóis já conheciam seu pneus de automóveis, aviões e
processo de fabricação. t a n t o s o u t ro s p ro d u t o s q u e
No século XVII, os cientistas conhecemos hoje em dia
franceses começaram a utilizar a produzidos a partir do láte x.
b o r ra c h a n a p ro d u ç ã o d e
sapatos. Após os anos 1750, no
Brasil a borracha natural também
foi utilizada na produção de
botas, para o exército português.
Em 1770, a borracha ficou famosa
na produção de apagador, sim
estamos falando da borracha
e s c o l a r q u e vo c ê s u t i l i z a m
bastante na sala de aula para
apagar os escritos de lápis grafite.
Porém, a borracha apresentava
alguns problemas e limitações na

103 Foto: Divulgação: O ciclo da borracha


15 O NEGÓCIO DA BORRACHA

E ONDE BREVES ENTRA NESSA HISTÓRIA?


A Amazônia onde vivemos destacou na produção do látex,
foi durante muito tempo uma das tornando-se juntamente com os
g ra n d e s á r e a s d e c u l t i vo e municípios de Anajás, Melgaço e
extração do látex, tornou-se Gurupá, responsável pela maior
período de 1870 a 1912 a maior parte da borracha produzida no
produtora e exportadora do arquipélago de Marajó. Sendo que
produto no mundo. em 1870, 1896 e 1897, liderou a
posição de maior produtor do
Belém e Manaus desenvol-
artigo na região (Braga, 1919).
veram seus espaços urbanos
Muito embora o auge da
nesse período. A cidade de Breves
produção tenha ocorrido em 1900,
também está inserida neste
a cidade conseguiu manter essa
contexto, pois foi um dos
liderança até 1910 (Weinstein,
municípios que mais se
1993). Assim, o período de 1870 a
destacaram na produção de
1 9 1 5 m a r c o u o p ro c e s s o d e
borracha. É essa história que
expansão e apogeu da economia
vamos contar para você a partir
da borracha no município de
de agora.
Breves.
No século XIX, Breves se

AGO-SET SET-DEZ JAN-FEV MAR-JUN JUL


Hora de abrir ou Sangria começa, As sementes caem e a É o auge da produção, As folhas caem,
balancear o painel mas ainda pinga pouco produção começa caneca cheia tempo da parada

104
Ciclo da extração do látex.
Produção se dá ao longo de quase todo o ano. Arte: Marina Mendes da Rocha
15 O NEGÓCIO DA BORRACHA

Em Breves, a extração, p ro d u ç ã o p a ra o s vá ri o s
p ro d u ç ã o e n e g o c i a ç ã o d a comerciantes da região,
borracha eram feitas da seguinte dispersos pelos principais rios de
forma: o seringueiro extraía a Breves que revendiam o produto
b o r ra c h a d a s á r vo r e s d e para regatões da capital. Cabe
seringueiras, eram na sua maioria mencionar que o negócio da
pessoas muito pobres financeira- borracha era algo específico dos
mente, dentre os quais podemos espaços rurais. Nesse sentido, os
destacar os nordestinos e os grandes comerciantes de Breves
moradores nativos dos espaços viviam em vilas, juntamente com
rurais, descendentes de as suas famílias e agregados.
indígenas. Eles entregavam a

Esse sistema é conhecido na história como aviamento, ou seja, o


comerciante recebia as bolas de borracha já defumadas dos
seringueiros, mas, dificilmente pagava o produto com dinheiro em
espécie.

105 Exploração da borracha silvestre, através do extrativismo.


15 O NEGÓCIO DA BORRACHA

COMO FUNCIONAVA O AVIAMENTO?


Eles davam uma espécie de forma de pagamento. A entrega
crédito no seu comércio para o desses produtos era feita no geral
seringueiro para comprarem ali de quinze em quinze dias, “uma
mesmo os produtos necessários à quinzena” como chamavam.
sua sobrevivência, destacando-se Acontece que os comerciantes
os gêneros básicos e alimentação, a b u s a va m n o va l o r d e s s e s
incluindo também o querosene, produtos que vendiam e isso fazia
c o m b u s t í ve l u t i l i z a d o p a ra com que os seringueiros ficassem
acender lamparinas e lampiões, e s e m p r e d e ve n d o p a ra o s
recebiam seus produtos como comerciantes.

Ilustração: Troca de Mercadorias


106
15 O NEGÓCIO DA BORRACHA

Foto Divulgação: Barcos Regatões, responsáveis pela embarcação dos produtos de extrativismo.

N o t e , q u e c o m o e ra m daqueles produtos que vimos


pessoas com poucos recursos anteriormente.
financeiros, não tinham condições Muitos comerciantes da
de pegar a borracha, colocar em borracha eram chamados de
uma embarcação e ir até Belém patrões. Na história da Amazônia,
para vender diretamente nas os mais influentes eram chamados
casas exportadoras. Desse modo, coronéis, muitos fizeram riqueza
existia uma relação de depen- n a r e g i ã o n e s s e p e rí o d o ,
dência muito forte entre os aumentando consideravelmente o
seringueiros e os comerciantes da patrimônio na região de Breves,
r e g i ã o d e B r e ve s . E ra m o s através da compra de terrenos e
aviadores de Breves que faziam a casas na cidade e nos espaços
borracha chegar até as casas r u ra i s . E l e s a s s o c i a va m o s
exportadoras em Belém, levando negócios da borracha com outras
diretamente ou entregando aos atividades e tinham enorme
barcos regatões que passavam poder político, alguns chegaram a
nos portos para embarcar o ser intendentes, foi o caso do
produto. Assim, a borracha da C o ro n e l L o u r e ç o d e M a t t o s
região de Breves, era exportada Borges.
para o exterior para a fabricação

107
15 O NEGÓCIO DA BORRACHA

PRA VOCÊ
FICAR SABENDO...

A partir de 1913, o negócio da borracha declinou no Brasil. A


Amazônia toda sentiu o golpe na economia. A partir de 1915, a
crise também chegou ao município de Breves, afetando a
produção e a comercialização desse produto. Encerrando a
primeira fase da borracha na região.

Até que em 1939, algo mercado europeu, disso dependia


inesperado acontece: começa a a produção de armas, de botas,
Segunda Guerra Mundial (1939- d e a u t o m ó ve i s p ro d u t o s
1945). Nesse tempo, o Japão necessários para vencerem a
ocupou as áreas que produziam guerra. Por conta disso, em 1942,
borracha para a Europa, dificulta- Estados Unidos e Brasil assinaram
ndo o acesso do produto para os a c o r d o s p a ra f o r n e c e r a
países aliados (Estados unidos, borracha ao grupo dos aliados.
F ra n ç a , I n g l a t e r ra e U n i ã o Acontece que grande parte dos
S ov i é t i c a ) . F o i e n t ã o , q u e antigos seringais da região de
recorreram novamente ao Brasil Breves e da Amazônia de modo
para vender a borracha para o geral já havia sido abandonado.

108
15 O NEGÓCIO DA BORRACHA

Em Breves, os seringais 1942, fora criado o Banco de


r e t o m a ra m a e x t ra ç ã o d a Crédito da Borracha S.A (BCB),
borracha. O governo investiu com investimento das verbas dos
verbas federais para que isso Norte-Americanos que detinha
ocorresse. Com isso muitos 40% de suas ações. Agora era o
moradores dos espaços rurais BCB que dava assistência aos
voltaram a extrair látex da produtores da borracha
s e ri n g u e i ra . M a s a g o ra a s interessados em fazer as
relações comerciais eram outras, negociações do produto.
bem diferentes das anteriores. Em
VAMOS ENTENDER COMO FUNCIONAVA NA PRÁTICA ESSAS NEGOCIAÇÕES
A partir do caso da Vila de borracha diretamente com a
Corcovado, próxima de Breves. empresa que recolhia a produção
Nesse lugar, existia uma fábrica de pequenos produtores rurais de
de beneficiamento da borracha toda a região de Breves para
de propriedade do empresário enviar para o resto do Brasil,
carioca Áthila Bebiano, no local, o através de navios de grande porte
governo implantou uma agência que transportavam a mercadoria
do Banco de Crédito da Borracha para os destinos finais.
(BCB) para realizar o comércio da

109 Imagem frontal da Vila de Corcovado nos tempos de


funcionamento da fábrica de borracha. (arquivo Dione Leão).
15 O NEGÓCIO DA BORRACHA

Como observamos, por meio permaneceu ainda com traços


do esforço conjunto dos governos que o caracterizavam como no
brasileiro e americano o setor foi início do século XX, quando a
novamente aquecido. Após a produção estivera no auge,
g u e r ra , m u i t o s s e ri n g u e i ro s retomando antigas formas de
continuaram na mata e o sistema comercialização.

O cultivo de seringueiras. A espécie é uma árvore nativa da região norte do Brasil


110
15 O NEGÓCIO DA BORRACHA

ATIVIDADES

Vamos mergulhar na história para aprendermos como foi o período


do ciclo econômico da borracha.

1-Como se deu o período do ciclo da borracha na Amazônia?


_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
2-E onde Breves entra nessa história?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
3-O que era o aviamento?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
4- Quais as características do aviamento?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
5-Quais as influências da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) na
retomada do negócio da borracha na Amazônia?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________

Atenção Professor (a): Vamos orientar nossos alunos (a) para aprofundar esta pesquisa
sobre o ciclo da borracha na Amazônia a partir de novas leituras, mas em seguida, junto
com eles (a) vamos identificar qual localidade mais próxima da sua escola viveu as
experiências relacionadas ao negócio da borracha e as práticas do aviamento.

111
16 O COMÉRCIO DE FRUTAS, SEMENTES,
ÓLEOS VEGETAIS E ARROZ DE VÁRZEA

óleo arroz de
sementes
vegetal várzea

A p ro d u ç ã o v i n d a d o s por todos nós. Um deles é o açaí.


espaços rurais sempre foi muito Te n h o c e r t e z a q u e v o c ê s
importante para sustentar os conhecem muito bem, pois é
moradores da cidade de Breves. talvez o produto mais conhecido e
São produtos muito apreciados consumido na nossa região.

Colheita de Açai para venda in natura


112
16 O COMÉRCIO DE FRUTAS, SEMENTES,
ÓLEOS VEGETAIS E ARROZ DE VÁRZEA
O açaí que consumimos na Recentemente se instalou em
cidade vem na sua maioria dos Breves uma fábrica de produção
espaços rurais, onde a produção é de polpa de açaí na estrada
vasta e chega até a cidade Breves-Arapijó, cujo os donos são
através do transporte f luvial. Pela de Minas Gerais, para onde
manhã é possível acompanhar a deverá seguir o açaí de Breves
chegada de embarcações de industrializado. A tendência para
todos os rios de Breves. As que negócios desse tipo
embarcações na sua maioria aumentem na região é muito
ancoram na Feira do açaí, onde o grande devido ao valor comercial
p ro d u t o é ve n d i d o p a ra a s do açaí no Brasil e no mercado
centenas de batedeiras em pontos exterior. Isso faz com que o preço
d e ve n d a s e s p a l h a d o s p e l a do produto aumente bastante na
cidade. cidade, pois isso já é sentido no
nosso cotidiano.

113 Fábrica de Açaí, situada às margens do rio Jaburu, no mesmo local onde funcionava
a indústria madeireira Mainardi.
16 O COMÉRCIO DE FRUTAS, SEMENTES,
ÓLEOS VEGETAIS E ARROZ DE VÁRZEA
Em Breves, por meio dos rios região.
e portos, outros produtos como A realidade de Breves até os
sementes oleaginosas, peles e anos de 1940 aproximadamente,
carnes de animais silvestres, era de uma maioria de habitantes
cruzavam os estreitos de Breves residindo nos espaços rurais e que
em embarcações de variados se dedicavam à extração e ao
tamanhos para serem negociados cultivo de vários produtos das
em diferentes lugares, tanto na f lorestas e sobreviviam do seu
cidade como no mundo. Nós já consumo e venda.
apresentamos a vocês a borracha
que está incluída, também entre No verão os moradores
o s p ro d u t o s q u e ve m d a s abriam roçados de mandioca,
f lorestas. milho, arroz, feijão, melancia,
jerimum, banana, maxixe, dentre
Em 1939, o jornal Estado do outros. Além de pescar e caçar
Pará ressaltou a grande complementavam a alimentação
va ri e d a d e d e p ro d u t o s q u e c o m p e q u e n a s c ri a ç õ e s d e
compunham a economia local de galinhas, porcos e patos.
Breves nesta década, destacando Trabalhavam ainda com a lenha e
as sementes oleaginosas, a palha de buçu.
madeira de lei, o timbó e outras
raízes consideradas preciosas na

114
16 O COMÉRCIO DE FRUTAS, SEMENTES,
ÓLEOS VEGETAIS E ARROZ DE VÁRZEA

No município as suas reservas de


óleos vegetais são inesgotáveis e
durarão enquanto durarem as suas
impenetráveis florestas de
andirobeiras, de jupatys, de
murumurús, de babassú, de
pracaxys e de tantas outras
árvores produtoras de amêndoas
oleaginosas, que são tiradas das
mattas pelas marés devassante, em
cujos remansos são recolhidos e
levados ao balelão (embarcação)
do negociante ribeirinho

Imagem ilustrativa do Jornal O estado do Pará e o texto da reportagem sobre Breves em 1939

Nota-se, portanto, que as unguentos medicinais. Segundo


matas do município eram ricas em a l g u n s t e s t e m u n h o s , o u t ra s
espécies do extrativismo vegetal, espécies de árvores como a
geralmente utilizadas na indústria ucuúba serviam mais ao mercado
de cosméticos, na produção de nacional na fabricação de velas e
essências vegetais, dentre os do murumuru extraía-se um óleo
mencionados acima na reporta- vegetal largamente utilizado na
gem estavam alguns produtos indústria de cosmético nacional.
bastante utilizados pela popula- Situação semelhante ocorria não
ção como a andiroba, a copaíba, somente em Breves, mas em
a mamona e o pracaxy, usados outros lugares da Amazônia
ainda nos dias de hoje como também.
115
16 O COMÉRCIO DE FRUTAS, SEMENTES,
ÓLEOS VEGETAIS E ARROZ DE VÁRZEA
A PRODUÇÃO DE ARROZ EM DESTAQUE NA DÉCADA DE 1960

plantação arroz arroz


de arroz com casca descascado

A produção do arroz de diversos rios do município. Na


várzea também foi de grande cidade, funcionou uma indústria
destaque na economia do de beneficiamento do arroz de
município de Breves e teve seu várzea, mas depois passou a
ápice na década de 1960. Um dos funcionar no lugar uma fábrica de
maiores fornecedores do produto palmito denominada de Caiçara.
na zona urbana foi seu Raimundo O comércio do palmito também
Tu p i n a m b á , u m p r o m i s s o r teve seu destaque na economia de
comerciante da região. Sua Breves no período em que a
indústria de beneficiamento madeira começou a alçar sua
localizava-se na rua presidente importância na economia na
Getúlio Vargas em um perímetro década de 1970, diminuindo sua
mais afastado da cidade. Já no produção a partir da década de
espaço rural, os comerciantes 1990.
e s t a va m d i s p e r s o s e n t r e o s

116
16 O COMÉRCIO DE FRUTAS, SEMENTES,
ÓLEOS VEGETAIS E ARROZ DE VÁRZEA
ATIVIDADES
Atividades: Aqui vamos aprofundar nosso conhecimento sobre o
comércio de frutas, sementes, óleos vegetais e o arroz de várzea no
município de Breves no período estudado.

1-Quais os principais produtos vegetais comercializados em Breves nas


décadas de 1950 a 1970?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
2-Qual a importância desses produtos vegetais para a economia do
município naquele período?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
3-Qual a importância da extração vegetal para a economia nos dias
atuais?
_________________________________________________________
________________________________________________________
4-Você sabia que Breves já foi destaque na produção de arroz de
várzea?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
5-Como você ver a produção agrícola no município de Breves nos dias
atuais?
_________________________________________________________
_________________________________________________________

Atenção Professor (a): Vamos realizar um estudo crítico sobre a capacidade do nosso
município de produzir alimentos nos dias atuais. Vamos entender a partir da merenda
escolar, dos produtos vendidos nas feiras municipais e nos comércios de alimentos e frutas,
quais dos produtos mais consumidos são produzidos em nosso município e quais vêm de
fora. Vamos procurar saber dos órgãos públicos competentes o que está sendo feito para
que Breves volte a se destacar novamente como um grande produtor agrícola no futuro.

117
17
O REGATÃO E SUA IMPORTÂNCIA PARA OS MODOS
DE VIDA RIBEIRINHOS

Ilustração: Regatões negociando mercadorias

As sementes e tantos outros destinos. O Sr. Idevaldo Paes antes


produtos ribeirinhos chegavam à de se transformar em um dos
capital Belém pelas mãos de grandes comerciantes locais,
centenas de regatões começou seus negócios como
(comerciantes) que compravam a regatão, sua trajetória nesse
produção local diretamente nas ramo foi recontada por Idevaldo
casas dos ribeirinhos espalhados Paes Filho.
pelos rios do município.
O regatão era muito
importante para economia local,
uma vez que conseguia levar
m e r c a d o ri a s ú t e i s p a ra o s
moradores como: bacias, louças,
tecidos, alimentos variados,
d e n t r e o u t ro s p ro d u t o s , e
comprar dos moradores dos
e s p a ç o s r u ra i s t u d o o q u e
produziam e levar para outros

Regatões vindo buscar e negociar mercadorias em povoados ribeirinhos


118
17
O REGATÃO E SUA IMPORTÂNCIA PARA OS MODOS
DE VIDA RIBEIRINHOS

“Papai foi regatão, ele ia até Belém, pegava uma


mercadoria, principalmente estiva, e aí vinha por
Abaetetuba, pegava a famosa cachaça, se abastecia lá e
vinha embora; a viagem dele era até o baixo amazonas. Então,
ele montou o comércio de estiva aqui, mas ele voltou a viajar
com venda de novo, comprou um barco, o Oriente, e passava
até de mês viajando; eu me lembro bem que a gente ficava só
com a nossa mãe, porque naquele tempo o regatão era assim,
quando ele vinha ele trazia estiva e trocava com borracha,
couro de jacuruxi, jacaré, onça.”
(Idevaldo Paes Filho).

119
17
O REGATÃO E SUA IMPORTÂNCIA PARA OS MODOS
DE VIDA RIBEIRINHOS

ATIVIDADES
Atividades: A partir do que acabamos de ler, vamos produzir um
texto de no mínimo 15 e no máximo 20 linhas sobre a figura do
“regatão” na história do município de Breves.
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_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
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_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________

Atenção Professor (a): É hora de orientar nossos alunos (a) para uma releitura do texto
com bastante atenção, além de fazer uma detalhada explicação sobre o tema, para
posterior iniciar a atividade. É importante também identificar se há na escola, ou na
comunidade próxima, alguém que tenha vivenciado este tempo e que possa falar sobre a
figura do regatão em sala de aula.

120
18 A INDÚSTRIA DA MADEIRA

Imagem: As instalações da BISA S/A na década de 1960, segundo as memórias retratadas em pintura de tela da
artista brevense Necy Balieiro, como parte da coleção de obras que estão no livro “Breves Memórias” de autoria da
artista, lançado em 2022.’

A primeira madeireira do n o m e n c l a t u ra p a ra B r e ve s
município de Breves foi instalada Industrial Sociedade Anônima,
em 1917, na vila Antônio Lemos. Na conhecida pela população como
cidade foi a empresa Moinhos de BISA.
Breves Ltda., fundada em 1925,
que mais tarde mudou a

121
18 A INDÚSTRIA DA MADEIRA

O porto da empresa era muito uma pequena parte do patrimônio


movimentado com a presença de industrial dessa empresa na
navios de diferentes cidade de Breves, situado à
nacionalidades que faziam o A ve n i d a P r e s i d e n t e G e t ú l i o
embarque da madeira que seria Vargas, localizado ao lado da
e x p o r t a d a p a ra d i f e r e n t e s Igreja Matriz de Breves, embora
lugares do planeta. hoje não seja possível visualizar
A empresa foi desativada na sua forma original que está
década de 1970, mas ainda existe escondida por trás da fachada da
Loja Marajó Tecidos.

Imagem: Galpão da madeireira - Breves Indústria Sociedade Anônima (BISA) na década de 1960. (arquivo: Dione Leão).

Imagem da Loja Marajó Tecidos que ocupa parte do galpão da antiga Breves Industrial Sociedade Anônima-BISA nos dias atuais.
Fonte: https://nicelocal.br.com/breves/shops/type/tissue/

122
18 A INDÚSTRIA DA MADEIRA

A área da mencionada A área da empresa era


e m p r e s a o c u p a va t o d o u m composta por: um galpão
quarteirão da Avenida Presidente destinado às instalações de
Getúlio, o terreno onde foi energia e oficinas; um galpão
construída foi comprado da destinado às instalações da
prefeitura em 1924, o mesmo serraria; uma casa destinada às
equivale a uma quadra da rua. A instalações de estufa (secagem
área ocupada pela empresa da madeira); um prédio destinado
compreendia a antiga Avenida aos restaurantes; um prédio
Coronel Amado (atual Presidente destinado à escola e um trapiche
Getúlio Vargas) pela frente, a construído em madeira de lei
Praça da Matriz (esquina com a utilizado para atracação de
atual Av. Rio Branco) pelo lado embarcações.
direito, a Travessa São Sebastião Notem que a empresa era
(em frente à Praça Dário Furtado) g ra n d e s e c o n s i d e ra r m o s o
pelo lado esquerdo, a Rua Dr. tamanho da cidade de Breves
Assis (atualmente Wilson Frazão) naqueles tempos. Os moradores
pelos fundos. Mas, não parou por mais antigos que trabalharam na
aí, em 1950 a empresa ampliou BISA, mencionaram a importância
novamente o patrimônio ao econômica da empresa para a
comprar da prefeitura municipal região, uma vez que empregava a
de Breves, um prédio conhecido m a i o ri a d o s m o ra d o r e s d a
por porto Getúlio Vargas, às cidade.
margens do rio Parauaú.

123
Imagem: Trabalhadores da BISA, em cima de monte de moinha
(serragem de madeira), na década de 1950. (arquivo Dione Leão).
18 A INDÚSTRIA DA MADEIRA

N a B I SA t ra b a l h a va m falência sob a gerência de


centenas de pessoas, a maioria americanos, saindo do cenário
moradores locais, mas também madeireiro antes do auge dos
r e g i s t ro u - s e a p r e s e n ç a d e negócios na região. Sabe-se que a
migrantes de vária naciona- empresa não pagou as
5lidades. É o caso, do gerente indenizações trabalhistas dos
Archibal Roy Cox, citado no operários, e por conta disso os
documento como o procurador seus bens foram leiloados pela
da empresa na região, casado, Junta Trabalhista de Breves,
n a t u ra l d a I n g l a t e r ra , c o m ficando o patrimônio nas mãos de
moradia fixa na cidade de Breves e m p r e s á ri o s l o c a i s q u e a o s
e o português Joaquim Rodrigues poucos foram vendendo lotes de
Leite, operário da empresa. terras para moradores,
Em 1972 a empresa abriu principalmente das classes mais
abastadas de Breves.

Legenda: Toras de madeiras das madeireiras, década de 1950. (arquivo: Dione Leão).

124
18 A INDÚSTRIA DA MADEIRA

As informações apresenta- produzindo 44% do valor da


das também ajudam a entender a transformação industrial (VTI) do
instalação de madeireiras do Sul setor. Conforme informações do
do país na região de Breves, pois IBGE, em 1970 existiam 61
e s s a a ç ã o e s t á d e n t ro d o indústrias madeireiras na região
contexto do desenvolvimento da dos furos, empregando 1.109
indústria madeireira no estado do p e s s o a s . E m 1 9 7 5 e ra m 9 4
P a rá n a d é c a d a d e 1 9 7 0 , indústrias com 1.400 empregados,
inf luenciada tanto pela exaustão e em 1980 o número de indústrias
das reservas madeireiras naturais aumentou significativamente
na mata atlântica do Sudeste e para 515 com 4.079 empregados
nos pinheirais do Sul do país, como (Scholz, 2002).
pela abertura da Amazônia, que
começou nos anos de 1970,
possibilitando o deslocamento
d e s s a s e m p r e s a s d e o u t ra s
regiões para o Norte (Scholz,
2002).
Nesse período, a microrre-
g i ã o d o s f u ro s d e B r e ve s
destacou-se nesse comércio,

125
18 A INDÚSTRIA DA MADEIRA

Nos finais dos anos de 1950, por madeireiros na região para


segundo dados do IBGE (1957), a instalarem seus empreendi-
extração da madeira era a maior mentos ocorreu entre os anos de
atividade econômica do 1959 a 1975. Nesse período, os
município, destacando-se na livros de transcrições de imóveis,
exportação do produto. O total r e g i s t ra ra m a c o m p ra d e
era de cinco serrarias na cidade, propriedades nos espaços rurais
com portos particulares para o d e B r e ve s d e c i d a d ã o s d a
embarque do produto que era Tchecoslováquia, Estados Unidos,
exportado para Portugal. Sendo Espanha e Itália e do sul do Brasil.
que o auge de compra de terrenos

Foto Divulgação: Madeira: Uma das principais economias da Região


126
18 A INDÚSTRIA DA MADEIRA

período de 1980 a 1990


demonstraram que as maiores
q u e i x a s d o s t ra b a l h a d o r e s ,
relacionavam-se à insatisfação
com o pagamento adequado nas
indenizações. Ainda podemos
destacar as péssimas condições
d e t ra b a l h o a q u e e s t a va m
submetidos os trabalhadores
como podemos observar na
fotografia ao lado da década de
1950. Os homens trabalhavam sem
qualquer equipamento de
proteção, principalmente no
rosto. Estavam expostos ao risco
de acidentes todo o tempo, o que
de fato acontecia. Os relatos dos
trabalhadores mais antigos da
Imagem: Trabalhadores da indústria de madeira, década de 1950. BISA destacaram uma série de
(arquivo: Dione Leão).
acidentes, alguns terminando em
Como podemos observar, a óbito.
indústria madeireira dominava a O u t ro p ro b l e m a e ra a
produção em Breves, mas é exposição ao veneno utilizado
importante entender que apesar para proteger a madeira do
de gerar emprego e renda para o cupim, ou outras pragas. Ao
m u n i c í p i o , a m a i o ri a d a inalarem, adoeciam, sendo a
população empregada, não tuberculose a que mais atacava
recebia direitos trabalhistas os trabalhadores braçais.
adequadamente, documentos da
Junta Trabalhista de Breves no

127
18 A INDÚSTRIA DA MADEIRA

MADEIREIRAS EM DESTAQUE NOS ESPAÇOS RURAIS

VILA SÃO MIGUEL


DO RIO MACACOS
estavam a Salma, Comig, Capeme, Xilo

VILA DE
ANTÔNIO LEMOS
estavam a Madeiras da Amazônia S.A (MADASA), Vipasa, São Luís
Madeira S.A (SALUMASA), Diana Pallucci, Empresa Tropical Indústria e
Comércio.

VILA DE CORCOVADO

estava a Madeireira Santa Mônica.

Todas elas foram extintas.


Até meados de 1980,
existiam mais de 150 indústrias
madeireiras na região, exporta-
ndo madeiras beneficiadas para a
I n g l a t e r ra , E s t a d o s U n i d o s ,
Portugal, Irlanda, Venezuela,
Dinamarca, Porto Rico, etc., das
quais destacava-se a Madenorte
S.A (Ramos, 1996).

128
18 A INDÚSTRIA DA MADEIRA

A MADENORTE S.A, A ROBCO E A MAINARDI

Imagem: Foto aérea da indústria madeireira Mainardi, às margens do


rio Jaburu na década de 1980. (arquivo: Dione Leão).

A empresa Mainardi estava da empresa, a madeireira Global


localizada no rio Jaburu no empregava 569 trabalhadores
m u n i c í p i o d e B r e ve s e f o i com aproximadamente 1600
implantada na década de 1970. As moradores na vila de propriedade
primeiras denominações eram: da empresa.
Porto Norsul, Madeiras Acará S. A. Na comunidade ribeirinha,
e Madeiras Minardi Ltda, com as aos arredores da instalação da
estruturas físicas destas, foi madeireira viviam até 2011 quase
t ra n s f o r m a d a n a i n d ú s t ri a 2500 moradores ligados direta ou
madeireira “Mainardi LTDA”. indiretamente à empresa.
Em 2011 a Mainardi Ltda, foi As atividades da Mainardi
incorporada pela Global, e a encerram-se em 2017, por conta
Mainardi passou a ser somente o da necessidade de adequação às
nome do posto alfandegário de questões ambientais. (Cristo,
despacho de madeira. Nesse ano, 2007)
de acordo com um dos gerentes

129
18 A INDÚSTRIA DA MADEIRA

Sobre a Madenorte S. A. foi 2000, despencou quase que


instalada em 1970 em Breves, completamente.
produzia laminados e A empresa Madenorte,
compensados para o mercado dentre tantas outras
nacional e internacional. Estava estabelecidas em Breves, se
localizada às margens do rio r e t i ro u d e vi d o à s p r e s s õ e s
Parauaú. Foi uma das maiores ambientais de países como os
empregadoras da região de Estados Unidos e as ONGs
Breves e por muito tempo, ativa internacionais sobre a
na economia do município. A exploração desenfreada da
mesma abriu falência na primeira madeira feita na sua maioria de
década do ano 2000, demitindo forma ilegal. Esses países
mais de 1.500 funcionários em exigiram que o Instituto Brasileiro
Breves. O desemprego e danos d o M e i o A m b i e n t e - I BA M A
ambientais em toda a região solicitasse da Madenorte e de
foram as principais heranças da outras empresas instaladas em
empresa. No ano de 1970, 89% do Breves, um Plano de Manejo
emprego industrial em Breves Ambiental-PMA para só assim
dependia da indústria madeireira; continuarem funcionando.
em 1980 caiu para 83% e nos anos

Foto Divulgação: Madeira retirada e estocada para transporte e manejo.


130
18 A INDÚSTRIA DA MADEIRA

Imagem: Transporte de Madeiras. Fonte: https://g1.globo.com/pa/

Como a maioria não disponi- nado, a exemplo da Madenorte e


bilizava deste instrumento, o da ROBCO, esta última estava
setor madeireiro entrou em crise, localizada na frente da cidade de
gerando um grande número de Breves. Nas vilas dos espaços
demissões e o fechamento de rurais como a Lawton no rio
muitas empresas. Em decorrência Tajapuru, as ruínas da serraria
disso, Breves assistiu a uma das com muitos maquinários ainda
maiores crises econômicas dos estão no mesmo lugar, como
últimos tempos. forma de lembrar um período
Na paisagem ainda da áureo das negociações do
atualidade é possível ver parte do produto na região de Breves.
patrimônio industrial abando-

131
18 A INDÚSTRIA DA MADEIRA

Imagem: Parte do patrimônio da empresa ROBCO, às margens do rio Parauaú, ainda resiste ao tempo, 2014. (foto: Dione Leão).

132
18 A INDÚSTRIA DA MADEIRA

ATIVIDADES
Atividades: Aqui vamos ref letir e aprofundar sobre o histórico papel
da Indústria madeireira em Breves, a partir dos seguintes
questionamentos:

1-Em que ano se instalou a primeira madeireira em Breves?


_________________________________________________________
_________________________________________________________
2-Qual a importância do comércio da madeira para a economia de
Breves no período estudado?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
3-Quais as principais madeireiras tivemos em nosso município?
_________________________________________________________
________________________________________________________
4-Qual o principal legado deixado pela extração de madeira no
município de Breves e região?
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
5-Como ainda acontece a extração e comercialização de madeira no
município?
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________

Atenção Professor (a): Sobre este tema, cabe mobilizar junto à sua escola e ao órgão
gestor municipal, as condições e estrutura para possibilitar aos alunos que visite pelo
menos um dos locais onde funcionaram as maiores indústrias de madeiras da região. Cabe
à escola, escolher o local mais próximo e apresentar este universo de histórias grandiosas
e curiosas vividas em um tempo recente.

133
Arte J. Tadeu
UNIDADE v
AS TRANSFORMAÇÕES NAS PAISAGENS
DO MUNICÍPIO DE 1950 A 1990

Arte J. Tadeu
19 AS TRANSFORMAÇÕES NA PAISAGEM DE 1950 A 1960

Imagem: Vista parcial da frente da cidade de Breves em 1964. (arquivo Dione Leão).

Desde os anos de 1920, o O contexto dos aconteci-


espaço da cidade e os espaços mentos é essencial para
rurais, começaram a sofrer entendermos como as paisagens
alterações com a nova realidade foram transformadas.
vi vi d a c o m a p ro d u ç ã o d a Primeiramente, em 1950, a cidade
madeira. Vimos nos capítulos ainda era pequena, se comparada
anteriores que foi a partir de 1917 à atualidade. Nesta década,
que a primeira madeireira se lugares como Antônio Lemos que
instalou no município e a partir de já mostramos anteriormente, São
então, o cotidiano das Miguel dos Macacos e Curumu,
populações foram sendo t o r n a ra m - s e i m p o rt a n t e s
modificados. As memórias de distritos, sendo a cidade o distrito
nossos pais, avós e bisavós, os sede do município. Ao todo o
documentos escritos, as pinturas, município de Breves contava,
as fotografias, são as principais segundo informações do IBGE em
fontes de informação do passado 1950, com 28.675 habitantes e em
de Breves. 1960 com 32.613 habitantes.

136
19 AS TRANSFORMAÇÕES NA PAISAGEM DE 1950 A 1960

A partir de pesquisas nos A m é ri c o C a r n e i ro B ra s i l ,


atos legislativos da Câmara importante político regional, que
Municipal, encontramos algumas foi prefeito municipal por duas
referências sobre a paisagem do vezes, entre 1939 e 1942. Sendo
espaço urbano de Breves. Em novamente eleito para o mesmo
documentos da década de 1950, a cargo que ocupou de 1955 a 1959.
cidade estava sob o governo de

Imagem: Igreja de Santana nos anos 1950. (arquivo Dione Leão).

A segunda fase do governo Breves, localizado na rua da


de Américo Brasil em Breves é frente ou Avenida Presidente
lembrada pelos moradores mais Getúlio Vargas, era um prédio
antigos como um período em que com tais características, tanto
a cidade mudou significativa- que perdeu a função de mercado
m e n t e , a d q u i ri n d o a r e s d e para abrigar o Banco de Crédito
modernidade, inclusive com a da Amazônia S.A, antigo BCB, que
construção de prédios de por uma decisão do governo
alvenaria de acordo com as federal na década de 1950,
tendências arquitetônicas ampliou o financiamento para
nacionais. outras atividades produtivas,
O Mercado Municipal de incluindo a madeira.

137
19 AS TRANSFORMAÇÕES NA PAISAGEM DE 1950 A 1960

Imagem: Banco de Crédito da Amazônia, década de 1950 (arquivo: Dione Leão).

Mesmo diante da construção O que diferenciava a casa de


vista como moderna para os pessoas de classe baixa para a de
padrões da época de uma cidade c l a s s e m é d i a e ra o t i p o d e
ribeirinha, existiam outras de madeira e a cobertura da casa.
alvenaria no mesmo padrão nesse Até mesmo as casas comerciais
perímetro da cidade, pois era m a i s c o n h e c i d a s e ra m d e
onde moravam as famílias com madeira. Veja a descrição feita
maior poder aquisitivo de Breves. por um funcionário do Banco do
No entanto, a maioria das Brasil nos finais dos anos de 1960,
casas era construída de madeira. da casa em que morou na Avenida
Presidente Getúlio Vargas.

138
19 AS TRANSFORMAÇÕES NA PAISAGEM DE 1950 A 1960

“Uma casa bem modesta, propriedade do comerciante


Raimundo Tupinambá, construída em madeira, coberta de
telhas de barro e situada na periferia da cidade. Embora na
rua da frente, confrontada pelo rio. Por causa da maré, a
casa tinha o piso elevado e o trecho da rua era servido por
uma extensa ponte de duas tábuas, chamada de “estiva”. Não era
forrada; a instalação elétrica limitava-se a uns poucos “bicos” de
luz e a “casinha” ficava lá no fundo do quintal. Para se usar a latrina
era preciso caminhar não menos de 30 metros sobre outra
“estiva”, de um metro de altura, cuidando para não
despencar no terreno alagadiço embaixo. Essa residência,
como tantas outras de sua categoria, era uma habitação
insalubre” (Garcia, 1996).

No olhar do morador era


uma habitação insalubre, porém
para o padrão da cidade na
época, era uma casa em boas
condições de viver, visto que a
maioria das habitações das
classes baixas era coberta de
palhas de buçu e com madeira
bruta e de péssima qualidade. A
cidade ainda tinha muitas pontes
nesse período. Até nos dias atuais
são comuns os relatos dos
moradores sobre a lama e a
existência das pontes nas áreas
mais periféricas na década de
1980.

139 Foto: Registro de antigas residências nas proximidades do centro de Breves


19 AS TRANSFORMAÇÕES NA PAISAGEM DE 1950 A 1960

Imagem: Colégio Santo Agostinho na década de 1950. Espaço cercado apenas por árvores. (arquivo: Dione Leão).

Nestes tempos as construção diferenciada, uma


madeireiras já faziam parte da arquitetura de origem europeia,
paisagem da Rua Presidente c o m p a ra d a a s d a s f á b ri c a s
G e t ú l i o Va r g a s , c o m o j á inglesa dos séculos XVII e XVIII,
mencionado anteriormente. A como podemos observar na arte
exemplo da Breves industrial ilustrativa abaixo.
Sociedade Anônima (BISA), uma

140
Imagem ilustrativa que mostra em forma de desenho as instalações da Breves
Industria Sociedade Anônima – BISA em pleno funcionamento.
19 AS TRANSFORMAÇÕES NA PAISAGEM DE 1950 A 1960

Neste caso podemos dizer resultado de muitas ideias e


que a paisagem da cidade e dos experiências vivenciadas ao
espaços rurais de Breves, foi ao longo do tempo. Até as décadas
longo do tempo sendo modelada de 1950 e 1960, a cidade era
pelas transformações naturais, asfaltada somente nas mediações
pelo trabalho do homem e pelos das residências das elites e dos
valores construídos historicamen- patrimônios religiosos, a exemplo
te por essas pessoas. Ou seja, a da Igreja Matriz, ou nos espaços
paisagem da cidade e suas administrativos, a exemplo da
modificações são sempre o Câmara Municipal e da Prefeitura.

141
19 AS TRANSFORMAÇÕES NA PAISAGEM DE 1950 A 1960

ATIVIDADES
Atividades: É hora de vermos aqui o que aprendemos sobre as
transformações na paisagem da cidade de Breves nos anos de 1950 a
1960.

1-Como era nossa cidade de Breves nos anos de 1950?


_________________________________________________________
_________________________________________________________
2-Como é possível retratar a realidade visual da nossa cidade naquele
período?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
3-Quais as localidades se tornaram distritos do município de Breves
durante esses anos?
_________________________________________________________
________________________________________________________
4-Qual a quantidade de habitantes nos anos de 1950 e nos anos de 1960?
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
5-Qual a principal diferença daquele tempo para os dias atuais na
paisagem da cidade de Breves?
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________

Atenção Professor (a): Vamos incentivar a turma a buscar mais informações sobre essas
alterações da paisagem da cidade, bem como orientá-los sobre a importância de
entender como se deu o crescimento populacional da cidade de Breves e
consequentemente a expansão do espaço urbano da cidade.

142
20
DE 1970 A 1980, UMA DÉCADA DE AUGE MADEIREIRO,
O QUE MUDOU NA PAISAGEM DE BREVES

Imagem: Pavimentação de parte da orla da cidade em frente ao mercado municipal na década de 1970,
pertencente ao arquivo pessoal de Wilson Câmara Frazão Neto e Cláudio Frazão.

A medida que a indústria nordestinos, as décadas de 1970 e


madeireira se desenvolvia, as 1980 registraram a chegada de
paisagens da cidade e dos m i g ra n t e s d o S u l d o B ra s i l ,
espaços rurais transformavam-se América do Norte, Inglaterra,
cada vez mais. O desenvolvi- Espanha e Itália, pessoas que na
mento econômico forçou uma sua maioria eram os donos das
melhoria das estruturas da cidade empresas ou representantes.
p a ra r e c e b e r m i g ra n t e s d e Na década de 1970, a BISA foi
diferentes lugares do Brasil, vendida para os norte-
atraídos pela riqueza que a americanos. A principal espécie
madeira gerava para os de madeira a ser exportada
e m p r e s á ri o s d o ra m o . A o passou a ser a virola. A paisagem
c o n t rá ri o d a s m i g ra ç õ e s da frente da cidade mudou
anteriores concentradas nos bastante com a troca de donos.

143
20
DE 1970 A 1980, UMA DÉCADA DE AUGE MADEIREIRO,
O QUE MUDOU NA PAISAGEM DE BREVES

Os antigos donos portugue- frente as estruturas da empresa.


ses estavam acostumados a
Na rua da frente da BISA,
i n t e ra g i r c o m a s o c i e d a d e
além da montanha de serragem,
brevense em tempos de festas
era comum muitas toras de
religiosas, em almoços na casa
árvores empilhadas. A população
dos moradores do bairro centro,
de Breves acostumada com a
enquanto que os norte-
situação trafegava normalmente
americanos não mantnham essa
entre as tábuas entesouradas,
interação social com os
expostas ao veneno. As crianças
b r e ve n s e s . E s t a va m m a i s
sempre conseguiam enganar os
interessados nos lucros que o
seguranças e entravam para
negócio poderia render. Tanto é
brincar nos trilhos que carrega-
verdade que após a chegada
vam as madeiras do rio para
deles, passou a ser comum na
dentro da serraria e vice-versa.
frente da cidade muitas jangadas
e n t u l h a n d o o ri o . A l é m d a s
inúmeras estruturas para colocar
a madeira serrada para secar nas
conhecidas “tesouras” depois de
a madeira já ter recebido um
banho de veneno vindo direto da
China.
A BISA exigia um ritmo
acelerado dos operários na
produção e como resultado
acumulava um volume muita
grande de serragem, formando
uma montanha de moinha que
obstruía a Avenida Rio Branco em

144
Imagem: Mulheres em pose para fotografia entre as toras
de madeira empilhadas na década de 1970.
20
DE 1970 A 1980, UMA DÉCADA DE AUGE MADEIREIRO,
O QUE MUDOU NA PAISAGEM DE BREVES
As décadas de 1970 e 1980 1980 a população subiu para
compreendem o auge da 55.749. Por conta disso, a cidade
produção de madeira em Breves. começou a se estruturar de forma
Esse foi o período que mais mais rápida, principalmente com
recebeu migrantes das áreas a melhoria no saneamento básico
rurais de Breves. Muitas famílias porque as ruas sempre ficavam
vieram para tentar a vida na alagadas no período de chuvas e
cidade e proporcionar acesso à m u i t a a r e i a n o ve rã o . A
educação para os filhos. As pavimentação foi intensificada
madeireiras ofereciam emprego p ri n c i p a l m e n t e n a s r u a s d o
para quem chegasse e absorviam centro. Sem esquecer a melhoria
toda a mão-de-obra disponível. A n a á r e a p o rt u á ri a c o m a
população deu seu maior salto no c o n s t r u ç ã o d e p o rt o s m a i s
crescimento. Em 1970 moravam adequados para receber os
no município 38. 234 pessoas. Em visitantes.

Imagem: Trecho da pavimentação da orla portuária, próximo ao Trapiche Municipal na década de 1970.
Fotografia pertencente aos arquivos de Wilson Câmara Frazão Neto.

145
20
DE 1970 A 1980, UMA DÉCADA DE AUGE MADEIREIRO,
O QUE MUDOU NA PAISAGEM DE BREVES

Imagem: Pavimentação de trecho da orla portuária na década de 1970, pertencente aos arquivos de Wilson Frazão Neto.

Imagem: Trapiche de madeira construído na década de 1980, foto cedida por Wilson Câmara Frazão Neto e Cláudio Frazão.

146
20
DE 1970 A 1980, UMA DÉCADA DE AUGE MADEIREIRO,
O QUE MUDOU NA PAISAGEM DE BREVES
Referências ao processo de Foi nesse período que a
pavimentação de diversas ruas e cidade se expandiu para todos os
do cais de acostamento da cidade lados. Até então existia somente
foram encontradas em decretos um bairro em Breves. Depois
da Câmara Municipal de Breves surgiram os bairros Cidade Nova,
do ano de 1971, assinado pelo Aeroporto, Castanheira, Santa
então prefeito João Messias dos Cruz, Riacho Doce e Bandeirantes
Santos. Além dele, destacaram-se que posteriormente se
nas duas décadas os prefeitos transformou no bairro Parque
C a r l o s E s t á c i o e G e r vá s i o Universitário, onde na atualidade
Bandeira, que tiveram mandatos abriga o entorno da Universidade
consecutivos. Federal do Pará.

A IMPLANTAÇÃO DE UM NÚCLEO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ – UFPA


EM BREVES (1990).
Nos anos de 1980, a município, mas ainda não
sociedade brevense já contava dispunha de nenhuma
com muitas escolas em todo em o universidade.

147 Imagem: Movimento Universidade Já, década de 1980. (arquivo: Dione Leão).
20
DE 1970 A 1980, UMA DÉCADA DE AUGE MADEIREIRO,
O QUE MUDOU NA PAISAGEM DE BREVES
Os movimentos se em parceria com o poder público
i n t e n s i fi c a ra m p a ra q u e a municipal da época e obtiveram a
Universidade Federal do Pará partir de seu insistente movimento
implantasse um núcleo em Breves, essa importante conquista que
o que veio a ocorrer na década de c e rt a m e n t e r e vo l u c i o n o u a
1990 quando alunos brevenses que história da educação em Breves e
se deslocavam para estudar no nos municípios do Marajó de
município de Soure resolveram f lorestas nas décadas seguintes.
mobilizar a sociedade brevense

Campus UFPA Marajó/Breves atualmente

A década de 1990, ainda é finais, vamos acompanhar o início


marcada pelo crescimento da crise da madeira na região que
econômico e das fronteiras da se estendeu para os anos 2000.
cidade. Porém, nos seus anos

148
20
DE 1970 A 1980, UMA DÉCADA DE AUGE MADEIREIRO,
O QUE MUDOU NA PAISAGEM DE BREVES

IBAMA em ação no município de Breves-PA na apreensão de madeiras irregulares.

Os motivos mais evidentes assim continuar suas atividades.


p a ra o o c o r ri d o e s t ã o n a s Como a maioria das indústrias
pressões ambientais de países não disponibilizava de um PMA, o
como os Estados Unidos e as ONGs setor madeireiro entrou em crise,
internacionais sobre a explora- gerando um grande número de
ção da madeira em Breves que demissões e o fechamento de
vinha sendo feita de forma ilegal. muitas empresas. Em decorrência
Esses países exigiram que o disso, Breves assistiu a uma das
governo brasileiro através do maiores crises econômicas dos
IBAMA solicitasse das empresas últimos tempos em consequência
instaladas em Breves, um Plano de d o f e c h a m e n t o d e g ra n d e s
Manejo Ambiental – PMA para só empresas madeireiras da região.

149
20
DE 1970 A 1980, UMA DÉCADA DE AUGE MADEIREIRO,
O QUE MUDOU NA PAISAGEM DE BREVES
ATIVIDADES
Atividades: Vamos observar e conhecer mais sobre as mudanças que
aconteceram na cidade de Breves em uma década de auge da
madeira (1970 a 1980).
1-Você consegue definir o que é desenvolvimento?
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
2-Qual a importância da madeira para o desenvolvimento de Breves na
década de 1970 a 1980?
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
3-A partir do quê você aprendeu no texto, quais os principais
acontecimentos marcaram o crescimento da cidade nesse período?
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
4-Quais os principais motivos que levaram ao declínio do comercio da
madeira na região de Breves?
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
5-Qual acontecimento social marcou o município de Breves e região do
Marajó de f lorestas no ano de 1990?
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________

Atenção Professor (a): É muito importante aprofundar este tema. Para isso precisamos
trabalhar com nossos alunos (a) em duas frentes de pesquisas que possam nos ajudar a
entender sobre essa questão do desenvolvimento da cidade.
Primeira frente: Identificar no município, tanto na cidade quanto no meio rural, sobre
quais os traços de desenvolvimento econômico a partir da extração da madeira ainda
existem em nossa comunidade.
Segunda frente: Ref letir sobre qual a importância da implantação de uma universidade
para o crescimento de um município. A partir disso, realize a socialização, sempre com o
objetivo de promover a capacidade crítica da turma em relação aos diferentes modelos
de desenvolvimento existentes no mundo.

150
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1993.

152
"A pintura que tem medida de 1,20 x 80cm
retrata a beleza do amanhecer em nossa
cidade, que já nas primeiras horas do dia recebe
de várias partes de nossa região, embarcações
de todos os portes, trazendo e levando pessoas
e bens de consumo, fortalecendo assim a
economia da nossa cidade.A pintura mostra
também em destaque a Igreja Matriz de
Santana, que ainda é o mais belo cartão postal
de nossa querida cidade de Breves".

José Tadeu Ferreira de Araújo - artista plástico


brevense.

153
Ensino Fundamental - Anos Iniciais
Conhecimentos Regionais e Cultura local
Componentes Curriculares: História e Geografia

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