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7ª Edição

Rio de Janeiro
UFMBB
2017
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Todos os direitos reservados a União Feminina Missionária Batista


do Brasil. Proibida a reprodução total ou parcial por quaisquer meios
sem permissão por escrito da editora.

Coordenação editorial, revisão literária e editoração eletrônica:

Celina Veronese

Capa: oliverartelucas

Q3l Queiroz, Dinalva de Salles

Levanta e resplandece: biografia de Minnie Lou


Lanier / Dinalva de Salles Queiroz. – 7. ed. – Rio de Janeiro:
UFMBB, 2017.
40p. – 22 cm (Heróis Cristãos).
ISBN 978-85-7781-052-9

1. Lanier, Minnie Lou, 1915-1983 – Biografia missionária. 2.


Batistas – Biografias. 3. Biografia cristã. I. União Feminina
Missionária Batista do Brasil. II. Título. III. Série.

CDD - 266.0092

Índice para catálogo sistemático:


1. Batistas: Biografias: 922.6

Publicação da União Feminina Missionária Batista do Brasil


Rua Uruguai, 514 – Tijuca – Rio de Janeiro – RJ – 20510-060
Tel.: (21) 2570-2848
E-mail: pedidos@ufmbb.org.br
www.ufmbb.org.br

Reimpressão: 2018 (2.000)

7a edição: 2017 (1.000)

Impresso na Exklusiva Gráfica e Editora Ltda.


Para você,
oferecemos a biografia de Minnie Lou Lanier,
missionária norte-americana em nossa terra.
Em 1949, em obediência a uma chamada
divina, ela aceitou o desafio de viajar pelo
Brasil para ensinar as meninas das igrejas
batistas a amarem missões.
Com talento e simpatia, Minnie Lou
conquistou o coração das meninas e líderes
do seu tempo e, graças ao seu trabalho
dedicado, deixou-nos um grande legado:
a organização Mensageiras do Rei.

Divisão Nacional de Mensageiras do Rei


RECORDAÇÕES 7
A PEQUENA MINNIE LOU 8
TEMPOS DIFÍCEIS 11
DA FAZENDA PARA A CIDADE 13
CHAMADA E PREPARO 15
AVENTURAS MISSIONÁRIAS 18
LIDERANÇA NACIONAL DE MR 21
EXPERIÊNCIAS MARCANTES 25
UM POUCO DE HUMOR 27
A FIEL COLABORADORA 29
A AMIGA 31
MISSÃO CUMPRIDA 33

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ecordações
RRecordações
A jovem elegante atravessou a alameda de jaqueiras do Colégio Batista
Brasileiro, passou pelo grupo de estudantes do internato que conver-
sava à sombra de uma árvore e, com um sorriso, perguntou pela pre-
sidente da União de Estudantes Batistas. Não sei se foi aquele nosso
primeiro encontro. Lembro-me de tê-la visto, ou antes ou depois, nos
meus primeiros dias de Rio de Janeiro, em um culto da Igreja Batista de
Itacuruçá. Mas foi naquele momento que prestei atenção aos traços
daquele rosto sardento, de pequnos olhos muito azuis e vivos, ao so-
taque carregado e ao contraste entre o vestido marrom que usava e o
ruivo dos cabelos crespos e curtos. Olhou-me surpresa, sem dúvida, ao
ver entre o grupo de alunas, quase todas sulistas, os traços nordestinos
do meu rosto, sem perceber que sua imagem me fazia recordar da
boneca loura, muito branca, que fez os encantos da menina sertaneja.
– Quem é? – perguntei à colega a que se dirigia a americana.
Soube que se chamava “Miss” Minnie Lou Lanier, que era missionária,
que trabalhava na União Geral de Senhoras, hoje, União Feminina Mis-
sionária Batista do Brasil, e que dava aulas de Bíblia no Curso de Obrei-
ras do Colégio Batista, no qual ela era conselheira da União de Estudan-
tes Batistas. Soube, ainda, que estava organizando grupos que davam
atenção especial às adolescentes e pré-adolescentes de nossas igrejas.
Até concluir meu curso no Instituto de Treinamento Cristão, hoje CIEM,
eu já me havia tornado uma espécie de sua auxiliar durante minhas
férias, colaborando nas várias promoções do Departamento Nacional
de Mensageiras do Rei. Foram oportunidades inesquecíveis e de valor
para minha vida de estudante, quando, em contato com a pioneira da
organização no Brasil, aprendi a amar missões. Durante os anos em
que servi como missionária de Missões Nacionais, foi sempre motivo de
inspiração para minha vida poder acompanhar, de longe ou de perto, a
vida dedicada daquela que trouxe às nossas igrejas batistas o símbolo da
estrela, vivenciando ela própria os ideais da organização e obedecendo
à ordem divina: “Levanta-te, resplandece!”

7
QUENA
A PAEpequena
capítu
lo
MINMinnie LOU
NIELou
01
No dia 17 de junho de 1915, no lar de Patrick Henry Lanier e Martha
Elizabeth Lanier, conhecida na intimidade por Lizzie, nasceu mais um
bebê, o sexto da família, que recebeu o carinhoso nome de Minnie Lou.
Ela foi mais um presente divino para o lar dos Lanier. De fato, Deus
os havia abençoado ao longo dos anos. Eram proprietários de uma
grande fazenda no Estado de Georgia, nas proximidades da grande
cidade de Savannah, que foi adquirida pelo avô de Patrick no tempo
colonial dos Estados Unidos e que passou a pertencer a ele totalmente,
em parte por herança, em parte por compra aos demais herdeiros na
época da partilha.
Não foi fácil o início, pois a casa em que o Sr. Lanier cresceu, cons-
truída ainda pelos que traziam no sangue o ardor do pioneirismo, o
fogo destruiu. Naquela sólida habitação, deveria ser estabelecido o
lar de Patrick Henry e Elizabeth, um sonho, em parte, transformado
em cinzas. Mesmo assim, o casamento foi realizado na data prevista.
Nos primeiros anos, o jovem casal morou numa pequena casa feita de
troncos. Não foi à toa que aquele que veio a ser o pai de Minnie Lou
recebeu um dos mais famosos nomes da história dos Estados Unidos.
Chamava-se Patrick Henry o patriota pioneiro e corajoso que deu o gri-
to de “independência ou morte” para os americanos daquela parte do
Novo Mundo, em 1776. Patrick Henry Lanier também encarnava ardor
e bravura suficientes para honrar o nome que havia recebido. Acima de
tudo, possuía a mesma fé e a lealdade daqueles que, um dia, movidos
pelo desejo de liberdade religiosa e pelo sentimento de fidelidade a
Deus, deixaram a velha e querida Inglaterra.
Dois anos apenas se passaram, e os Lanier mudaram-se para a nova e
confortável residência: uma casa de madeira tirada, como a primeira,
da própria floresta da fazenda e construída no mesmo local da que se
havia queimado. Era bem ampla, com uma grande varanda na frente
e nos fundos, três quartos, sala de visitas, sala de jantar e uma grande
cozinha. Ligando a varanda da frente à dos fundos, havia um extenso

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corredor. Deus recompensava o trabalho dos seus servos, conceden-
do-lhes habitação adequada, onde nasceriam os filhos daquela feliz
união: Martha Alma, a mais velha; Oscar, o segundo; Montague, o ter-
ceiro; Leona Elizabeth, a quarta; Ouida, a quinta; Minnie Lou, a sexta;
Ana, a sétima; Sidney, o caçula. Todos, exceto Ana, herdaram olhos
azuis do pai. Ana tinha lindos olhos castanhos, iguais aos da mãe.
Tendo vivido seus primeiros doze anos na fazenda, Minnie Lou teve
uma infância feliz e despreocupada, deliciando-se com as belezas
naturais que a cercavam e participando das tarefas normais da vida
no campo. As terras da fazenda eram excelentes para a agricultura.
No tempo do plantio, o pai e os irmãos mais velhos trabalhavam com
dedicação para que, na época certa, a colheita fosse boa. Legumes,
frutas, batatas, verduras, enfim, todos os produtos da terra eram colhi-
dos e, para garantir a alimentação durante o longo inverno, tudo o que
poderia se estragar era colocado em conserva por processos caseiros
especiais. No período da ceifa, a família inteira trabalhava, inclusive o
os filhos menores. A participação de todos, sempre com muita alegria
e animação, unia cada vez mais os Lanier, que possuíam muitos bens
materiais e bem poderiam dispensar o trabalho das crianças menores,
mas que não o faziam por sentirem necessidade de desenvolver em
seus dependentes, desde muito cedo, o espírito de trabalho e de união,
para que se tornassem pessoas úteis.
A vida corria às mil maravilhas para a pequena Minnie Lou, pois, além
do carinho familiar, contava com os encantos da natureza. Havia um
lindo jardim ao redor da casa, que produzia flores aos montes. Tam-
bém havia árvores de todas as espécies, formando alamedas que
embelezavam o ambiente, produziam frutos deliciosos e forneciam
sombra à vontade. O Sr. Patrick Henry construiu um caramanchão,
onde cresceu uma enorme parreira. No verão, era aquele o lugar predi-
leto de Minnie Lou e suas irmãs mais novas nas horas de lazer. Outras
atrações eram a pesca e o banho no rio e no córrego que passavam
pela fazenda. Quase que diariamente, nos dias de verão, as crianças
passavam horas inesquecíveis no transparente córrego. O rio era mais
perigoso, porque nele havia um desagradável habitante: um jacaré
enorme. Quando as crianças tinham permissão para tomar banho no
rio, o que raramente acontecia, o Sr. Patrick sempre ficava vigiando
com uma espingarda nas mãos, pronto para atirar. Assim, as crianças
sentiam-se seguras sob a proteção zelosa do bondoso pai.
A fazenda, embora bem localizada, ficava fora da rota do correio, de
modo que a caixa postal dos Lanier ficava a quase dois quilômetros da

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casa em que moravam. Diariamente, o carteiro passava de automóvel
e ali depositava a correspondência, bem como o jornal do dia, que che-
gava à cidade mais próxima pelo trem da manhã. Ainda bem pequena,
Minnie Lou recebeu a tarefa de ir sozinha buscar a correspondência
e o jornal todos os dias. A estrada era pública e segura, de modo que,
enquanto as meninas maiores realizavam tarefas mais difíceis, a pe-
quena Minnie Lou trabalhava também, contribuindo para manter a
família bem informada. O telefone, por algum tempo, e o carro, espe-
cialmente, ajudaram muito. As compras podiam ser feitas na pequena
cidade vizinha, Pembroke, e, quando necessário, em Savannah, que
ficava a 50 quilômetros.
Com apenas seis anos de idade, Minnie Lou já frequentava a escola pú-
blica que servia àquela região rural. No verão, especialmente nos dias
quentes, as crianças podiam ir à escola descalças e com roupas bem
leves. Dessa maneira, a caminhada era muito agradável, ao contrário
do que acontecia na estação fria, quando tinham que ir muito bem
agasalhadas. Algumas vezes, quando o Sr. Lanier ia fazer compras na
cidade, tendo que interromper os trabalhos na fazenda, as crianças po-
diam se dar ao luxo de ir à escola de carroça puxada por cavalos. Como
era divertido! Sempre que isso acontecia, passavam pela casa de uma
tia que morava a meio caminho da escola e davam carona aos primos.
A escola funcionava numa única sala, com uma só professora para
vários alunos de diferentes níveis de escolaridade, que ficavam sepa-
rados por grupos. A professora distribuía as tarefas e supervisionava
os estudos, orientando ora os mais adiantados, ora os mais atrasados.
Apesar disso, havia muita ordem e respeito, e ninguém tinha o direito
de conversar com o colega ou de fazer uma pergunta sem a permissão
da professora. Para ter tal permissão, o aluno levantava o braço direito
e, respeitosamente, aguardava a ordem para se levantar ou para se
dirigir a alguém na sala.

10
s difíceis
mpodifíceis
TeTempos capítu
lo
02

Era novembro, véspera do Dia de Ação de Graças, data muito espera-


da, pois a família de Minnie Lou deveria participar das celebrações no
templo, para agradecer as bênçãos recebidas de Deus.
Os efeitos do outono, que chegava ao fim, deixavam suas marcas nas
árvores nuas. Eram dias de calor indiano, como são chamados os dias
de calor no inverno ou no outono, nos Estados Unidos. As crianças
aproveitavam para vestir as agradáveis roupas leves do verão.
Muito cedo, o Sr. Lanier havia saído para fazer compras na cidade.
Assim, os cavalos e a carroça ficaram disponíveis, e as crianças não
teriam de ir à escola a pé. Partiram mais cedo para dar uma passadinha
na casa da tia em tempo dar aos primos uma carona e, especialmente,
para saborear a deliciosa garapa, comer melado e pegar cana para a
hora do recreio na escola, pois era época de moagem.
Enquanto lotavam a carroça, o tio de Minnie Lou, olhando para o hori-
zonte na direção da casa do cunhado, viu uma fumaça, que subia como
se algo estivesse queimando. Por haver uma boa distância entre as duas
propriedades, era difícil saber o que estava acontecendo. Mas os irmãos
de Minnie Lou, orientados pelo tio, voltaram para casa, já que o pai es-
tava ausente. As meninas, com os primos, seguiram a pé até a escola.
Oscar e Montague encontraram a casa totalmente destruída. D. Lizzie
conseguiu salvar uma cadeira, que havia trazido da casa dos pais, e
um colchão de penas de ganso, feito pela mãe dela para o enxoval de
casamento. Também o carro, que o Sr. Lanier não havia usado para ir
à cidade, escapou do incêndio, pois a garagem ficava longe da casa.
O cenário era muito triste. Mas, naquela véspera do Dia de Ação de Gra-
ças, muitos louvores foram dados antecipadamente porque ninguém
havia perdido a vida. Os caçulas escaparam pela providência divina.
O incêndio aconteceu quando D. Lizzie foi cedo ordenhar as vacas e
deixou Ana, de quatro anos, e Sidney, de dois, no quarto. Em meio ao tra-

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balho, o cachorro, que a seguiu até o curral, começou a latir. Pensando
que fosse por causa de alguém que passava na estrada, ela não se preo-
cupou logo. Mas, sendo que o cachorro insistia em latir, largou o serviço
e foi dar uma espiada. Horrorizada, viu a casa em chamas. Pensando no
pior, correu para tirar os filhos do quarto trancado. As crianças, ao verem
o perigo e não conseguindo abrir a porta, haviam se escondido atrás de
um grande baú, cobrindo-se com cobertores. D. Lizzie conseguiu tirá-las
de lá sem qualquer queimadura instantes antes de cair o teto.
Logo que perceberam a fumaça, os vizinhos acudiram, mas a distância
não permitiu que chegassem a tempo de evitar a destruição. Mesmo
assim, prestaram solidariedade à corajosa mãe, que exigia a presença
das filhas. Um vizinho, então, foi de carro à escola, e um rapazinho, tam-
bém aluno, entrou para dar a notícia. E o interessante é que, mesmo
naquelas circunstâncias, o respeito à ordem estabelecida foi mantido.
O mensageiro sentou-se em seu próprio lugar na grande sala, levantou
a mão em sinal de que precisava falar e, ao receber permissão, foi até a
carteira da pequena Minnie Lou e deu a terrível notícia. Sem saber como
agir e muito tímida para se aproximar da professora, ela começou a
chorar alto, sendo logo percebida pelas irmãs mais velhas, que também
começaram a chorar, antes mesmo de serem informadas do que de fato
havia acontecido, pois logo se lembraram da fumaça que haviam visto.
Dispensadas das aulas, as meninas correram para casa e encontraram
D. Lizzie inconsolável, junto aos escombros da casa. Por algum tempo,
todos choraram alto. Minnie Lou, com seis anos de idade, embora
quisesse fazer sua parte, não conseguiu ser solidária nas lágrimas por
muito tempo naquela hora de dor. Ficou aliviada quando viu que uma
das irmãs estava olhando tranquilamente para o fundo de um poço.
Aproximou-se dela desconfiada e, suspirando de alívio, perguntou:
– Mana, você também já parou de chorar?
Agora, a família Lanier estava sem casa, sem outras roupas além das
que tinham no corpo, sem móveis e sem utensílios domésticos. Os
bondosos vizinhos, no entanto, já estavam providenciando o mais
necessário para aquela situação de emergência.
Por algum tempo, até ser construída a nova casa, Minnie Lou, Elizabeth
e Ouida ficaram na casa da tia, próxima à fazenda. Os pais e os irmãos
mais velhos acomodaram-se numa das granjas. A irmã mais velha e
os dois irmãos menores foram para a casa de uma tia que morava a
quinze quilômetros. Foi durante essa visita forçada que Martha Alma
conheceu o rapaz com quem se casou um ano depois.

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da fa z e
Da fazenda
n da
pa raa a
para cidade
cidade capítu

03
lo

Morando na fazenda, a pequena Minnie Lou não podia, como as crian-


ças das famílias cristãs da cidade, frequentar a Escola Bíblica Dominical,
mas sempre lia a grande e ilustrada Bíblia da família. Gostava de fazer
isso a sós, em seu quarto, e também com todos os membros da famí-
lia, reunidos na ampla e confortável sala de jantar, na hora do café da
manhã, bem cedinho. A porta, no inverno sempre fechada por causa
do frio, tinha a parte superior de vidro fosco. O sol avermelhado da
aurora, através daquele vidro, dava um efeito muito bonito, que con-
tribuía para tornar o ambiente muito agradável naqueles momentos
de culto em família.
Do lado materno, os parentes de Minnie Lou eram crentes fiéis, mem-
bros da Igreja Batista Primitiva, e os pais dela também se consideravam
batistas. Assim, duas ou três vezes por ano, a menina tinha o privilégio
de ir à igreja. Eram ocasiões muito especiais, que ela aguardava com
ansiedade.
Aos 12 anos, finalmente, Minnie Lou mudou-se com sua família para a
cidade. A nova residência ficava bem perto de um grande templo ba-
tista, onde se reunia uma grande igreja de cerca de cinco mil membros.
Estava ali sua oportunidade de participar regularmente dos cultos.
Nesse tempo, a União Feminina Missionária não tinha uma organiza-
ção missionária específica para as pré-adolescentes e as adolescentes,
pois ainda não havia sido criada a organização Mensageiras do Rei.
Certo dia, Minnie Lou estava numa classe da Escola Bíblica Dominical,
quando a professora pediu-lhe que orasse em voz alta. Nova no am-
biente e muito tímida em seus primeiros contatos com a igreja, levou
um choque tão grande, que mal conseguiu, com a voz trêmula e o
coração aos pulos, balbuciar algumas palavras. Depois disso, resolveu
não voltar mais à igreja, pois temia que se repetisse a desagradável e
assustadora experiência que a havia deixado profundamente enver-
gonhada. É que, naquele tempo, além de tímida e sem a experiência
social das meninas da cidade, Minnie Lou ainda não havia tido um

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encontro real com Jesus Cristo. Foi só mais tarde, no silêncio do seu
quarto, lendo a velha e querida Bíblia ilustrada, que ela sentiu o peso
dos seus pecados, confessou-os e sentiu a graça do perdão. Aos 17
anos de idade, ela voltou à igreja para dar sua pública profissão de fé.
Dessa vez foi bem diferente, porque paz e alegria extravasavam do seu
coração, e a experiência da conversão lhe dava a segurança que antes
não possuía.
A mudança dos Lanier para a cidade aconteceu durante o tempo em
que seu país enfrentava uma crise econômica muito grande. Numa
época tão difícil e com os filhos estudando, os recursos da fazenda e
o dinheiro economizado para suprir as necessidades da família não
eram suficientes para pagar as despesas pessoais de todos na cidade
grande. Os filhos precisavam ajudar. Minnie Lou, então, logo pensou:
“Estou ficando mocinha e também preciso fazer a minha parte. O que
poderei fazer para ganhar algum dinheiro e não depender em tudo do
papai?” Perto de sua casa, havia uma senhora que tinha um salão de
beleza. Minnie Lou via como as freguesas recebiam cuidados especiais
para melhorar sua aparência e concluiu que gostaria de aprender a
arte de embelezar cabelos. Foi com esse interesse que passou a ajudar
a vizinha. Aprendeu a cortar, enrolar e encrespar cabelos. A vizinha
gostava imensamente do auxílio que recebia. Desse modo, Minnie
Lou continuou a ajudá-la durante algum tempo. Trabalhava com tanta
habilidade, que algumas freguesas passaram a preferir seus serviços,
indo procurá-la em sua própria casa. Então, de repente, Minnie Lou
teve que improvisar um salão de beleza. Assim, durante os anos do
ensino fundamental, essa atividade paralela aos estudos tomava-lhe
grande parte do tempo e garantia-lhe o suficiente para suas despesas
pessoais e contribuições para a igreja.
Tendo concluído o ensino fundamental, Minnie Lou conseguiu traba-
lho numa loja, no setor de contabilidade. Agora tinha um emprego de
verdade e, após ter adquirido experiência, passou a receber um salário
bem compensador. Era muito bom trabalhar, ser útil, mas era ainda
bem melhor sentir-se filha de Deus e participante em sua obra.

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amada
chChamada
reparo
e eppreparo capítu

04
lo

Integrada nos trabalhos de sua igreja desde o dia da sua pública profis-
são de fé, Minnie Lou logo passou a fazer parte da organização para as
jovens que havia em sua igreja. Muito contribuiu para isso a simpatia
da líder, pessoa espiritual e jeitosa, que soube levar suas lideradas a
terem uma vida cristã mais comprometida com o Senhor. Certa vez, ela
escreveu uma carta a cada uma das jovens, o que resultou em consa-
gração de vidas, fortalecendo muito aquela organização. Nesse tempo,
Minnie Lou ainda não pensava em ser missionária. Como é normal
acontecer com toda jovem, ela sonhava encontrar um companheiro,
formar seu próprio lar, ter filhos, enfim, constituir uma família feliz.
Mas Deus tinha outros planos para sua vida.
Com a idade de 19 anos, Minnie Lou participou de um congresso na-
cional para as jovens batistas do seu país. Foi uma experiência muito
marcante, pois teve seu primeiro contato com missionários e com pes-
soas cristãs de outras terras. Sua chamada para o trabalho missionário,
entretanto, só aconteceu cinco anos mais tarde, em 1939.
Era um dia chuvoso. Mesmo assim, visitava sua igreja uma missionária
independente, que trabalhava no Brasil. Chamava-se Pearl Bigle. Ela
realizava, no Estado do Rio Grande do Sul, um trabalho parecido com o
das Casas da Amizade, prestando serviços nas favelas. Pearl Bigle pre-
cisava muito de uma auxiliar, que seria sustentada por uma das igrejas
do seu estado natal. Falou muito sobre o Brasil e, especialmente, sobre
as necessidades espirituais dos brasileiros e a grande oportunidade
que seu campo de trabalho, o Rio Grande do Sul, oferecia a quem se
dispusesse a testemunhar de Cristo, em obediência à grande comis-
são. Não fez apelo. Mesmo assim, o Espírito Santo tocou no íntimo de
Minnie Lou de tal maneira, que, naquele dia, ela ficou sabendo qual era
a vontade de Deus para sua vida.
Antes de voltar ao Brasil, Pearl Bigle procurou Minnie Lou e convidou-a
para ser sua ajudante no campo missionário. Entretanto, ouvindo os
conselhos do seu pastor, Minnie Lou decidiu preparar-se melhor an-

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tes de deixar o seu país. Foi, portanto, com a firme convicção de que
Deus a queria como missionária no Brasil, que ela voltou aos estudos.
Não foi fácil, pois, além de ter que deixar o emprego, que lhe dava boa
renda, aparentemente, não havia os recursos necessários para o seu
sustento. Os Estados Unidos viviam os últimos anos da grande depres-
são econômica, que atingira em cheio a população, inclusive a família
de Minnie Lou, que estava sem condições de assumir as despesas com
seus estudos. Só mesmo a convicção da chamada divina e a certeza de
que Deus não apenas convoca, mas também abre as portas e supre as
necessidades, deram-lhe forças suficientes para enfrentar essa nova
situação.
Tendo tomado conhecimento da decisão de Minnie Lou, sua igreja de-
cidiu responsabilizar-se por parte de suas despesas durante os quatro
anos na universidade. A outra parte foi conseguida por meio de uma
pequena mensalidade paga pelo Governo, em troca de serviços presta-
dos na própria escola. Nos primeiros meses, o serviço foi duro. Minnie
Lou precisava acordar às cinco horas da manhã para varrer as salas de
aula e os compridos corredores da escola. Mas logo a situação melho-
rou, pois tendo sido informada de sua experiência em contabilidade
e observando sua viva inteligência, seu senso de responsabilidade e
seu comportamento exemplar, a administração logo a convidou para
trabalhar na tesouraria da universidade. Com isso, estava garantido o
dinheiro suficiente para o pagamento das mensalidades. Uma peque-
na ajuda vinda de membros da família e o auxílio da igreja garantiam
as compras de livros e as despesas pessoais. Com muita gratidão,
Minnie Lou contava com o dólar quinzenal que seu irmão e esposa lhe
enviavam fielmente. A venda dos livros usados no ano anterior ajudava
muito na compra de material para o ano seguinte.
Vencida a primeira etapa de complementação dos estudos, ao concluir
o curso na Universidade Tift-College, na Georgia, Minnie Lou ingressou
no Seminário Teológico Batista do Sul, em Louisville, Kentucky. A União
Feminina Missionária Batista do seu estado pagou seus estudos e, para
as despesas pessoais, nas horas vagas, trabalhava na secretaria de uma
igreja. Foi mais uma oportunidade de treinamento para os cargos que
exerceria futuramente no campo missionário. Nessa época, também
lhe valeu muito sua habilidade de cabeleireira. Cuidando dos cabelos de
outras alunas, fez crescer seu círculo de amizades, além de receber, vez
por outra, recompensa em dinheiro pelos favores prestados.
Mesmo tendo que trabalhar para conseguir seu próprio sustento,
Minnie Lou nunca se descuidou de manter sua comunhão com Deus e

16
de se dedicar aos livros. Os estudos sobre a história da Igreja e as ne-
cessidades espirituais dos povos estrangeiros despertavam nela cada
vez mais o amor pela obra missionária. Durante os anos de preparo,
diziam-lhe que seria quase impossível ser enviada ao Brasil. A Junta
de Richmond estava cada vez mais interessada nos países orientais,
especialmente na China, que por tanto tempo havia estado com suas
portas fechadas aos estrangeiros. Apesar de todas essas informações
negativas, em seu íntimo, a jovem Minnie Lou sentia que as portas se
abririam para seu ministério no Brasil, país que não lhe saía da mente
e do coração desde que havia se sentido chamada de Deus para a obra
missionária.
Devidamente preparada e disposta a fazer a vontade de Deus onde
quer que fosse, Minnie Lou ficou aguardando a decisão da Junta de
Richmond. Finalmente, todo o processo de nomeação chegou ao fim.
Que alegria! Seu campo missionário seria mesmo o Brasil. Isso lhe
causou profunda emoção.
Corria o ano de 1945, e com ele voltava a paz, interrompida durante
a Segunda Guerra Mundial. A família de Minnie Lou aguardava a che-
gada de Sidney, o caçula, que estivera servindo no Pacífico durante
três anos. Ele se encontrava nas Filipinas e não podia voltar para casa
imediatamente, pois fora designado para integrar as tropas do exército
de ocupação no Japão. D. Lizzie não podia admitir que a filha partisse
para tão longe antes da chegada do irmão. Portanto, a viagem, que
havia sido marcada para outubro, com a permissão da Junta, foi adiada
para novembro.
Naquela época, era difícil receber notícias de parentes distantes. Mas,
tendo sido informada de que parte das tropas de ocupação estava
chegando, a família Lanier juntou-se à grande multidão que, ansiosa,
aguardava no cais do porto. Mas, para surpresa de todos, Sidney não
estava entre os que regressavam. E agora? Minnie Lou sentiu que não
poderia mais esperar. Deveria viajar na data prorrogada, mas faria isso
com imenso pesar. No entanto, para alegria de toda a família, Sidney
chegou de surpresa trinta e seis horas antes do embarque de Minnie
Lou. Desse modo, mais uma vez, Deus abençoava aquela nobre famí-
lia, que agora entregava uma de suas filhas para outro tipo de guerra:
a guerra contra o mal, com as armas do evangelho. Uma guerra cuja
finalidade era a de dar vida, ao invés de ceifá-la, levando a esperança
do evangelho da paz e fazendo brilhar, com o poder de Deus, a luz das
boas novas de salvação na terra do Cruzeiro do Sul.

17
aventuras
missmissionárias
aventuras
ionárias
capítu
lo

05
Para tomar o avião que a traria para o Brasil, acompanhada dos pais
e de mais três membros da família, Minnie Lou viajou de carro para
Miami, no Estado da Flórida. Foi uma viagem muito divertida e, tanto
no percurso, quanto nos dias passados ali, ela pôde sentir o quanto
era amada pelos familiares e pôde observar como se esforçavam para
alegrá-la e tranquilizá-la, para tornar menos difícil a separação.
O avião que traria Minnie Lou ao Brasil saiu de Miami no dia 7 de no-
vembro de 1945, com 21 passageiros a bordo. Sua primeira escala em
solo brasileiro foi na cidade de Belém do Pará, no dia 9, às 16 horas,
depois de ter feito escalas em Havana (Cuba), Porto Príncipe (Haiti),
Cidade Trujilla (República Dominicana), São Tomás e São João (duas
ilhas), Trinidad e nas capitais das Guianas: Georgetown, Suriname e
Caiena. Hoje, o mesmo trajeto é feito em poucas horas. Na década de
40, no entanto, antes de chegar à maravilhosa cidade do Rio de Janei-
ro, onde deveria permanecer, Minnie Lou teve que passar por essas
inúmeras escalas, além de pernoites em três diferentes cidades, duas
delas aqui mesmo no Brasil.
Durante a viagem, cercada de pessoas que falavam inglês, Minnie Lou
sentiu-se muito à vontade. Em Belém, experimentou pela primeira
vez o nosso guaraná, que passou a ser o refrigerante brasileiro de sua
preferência. Em Fortaleza, depois de uma escala em São Luís, resistin-
do um pouco, jantou sopa de feijão preto. Foi também em Fortaleza
que se separou da última companheira de viagem com quem podia
conversar. Então, começou a sentir-se muito só.
De Fortaleza até chegar a seu destino, o avião ainda fez escalas em
Natal, Recife, Manaus, Canavieiras e Vitória. No final do dia, no entan-
to, ao desembarcar do avião no Rio de Janeiro, teve uma surpresa:
Mãos abanando e rostos sorridentes a aguardavam no aeroporto. Lá
estavam os missionários conterrâneos: Minnie Landrum (já falecida),
então Secretária Executiva da União Geral de Senhoras do Brasil (hoje

18
UFMBB); o Dr. J. J. Cowsert e sua esposa (já falecidos), que se tornaram
seus vizinhos por mais de uma década; o Pr. Edgar Hallock (já falecido);
Dorine Hawkins (já falecida); Albertina Meador, que ficou pouco tempo
no Brasil, pois veio a falecer muito jovem ainda, vítima de febre tifoide,
depois de dois anos em Vitória, Espírito Santo.
Apesar da saudade de sua família e de sua pátria, além das diferenças
culturais, não foi difícil para Minnie Lou gostar do Brasil. Passadas em
companhia de D. Minnie Landrum, as primeiras três semanas foram
muito agradáveis. Os encantos da cidade do Rio de Janeiro, particu-
larmente do bairro da Tijuca, onde ficou hospedada, causaram-lhe
a melhor das impressões. Embora não pudesse entender a fala do
povo, por meio do calor dos cumprimentos e da expressão amiga dos
rostos sorridentes dos novos irmãos e das demais pessoas com quem
ia tendo contato, ela podia sentir que estava entre gente muito amiga
e comunicativa.
Chegou a época do Natal, o primeiro que Minnie Lou iria passar lon-
ge dos seus familiares. Era tudo tão diferente! Em vez de neve, sol
brilhante e muito calor. No lugar de casacos pesados, roupas leves
e claras. Quantas árvores floridas na Avenida Maracanã! Minnie Lou
não pôde conter-se e, na véspera do grande dia, colheu algumas flores
para enfeitar a mesa que havia sido encarregada de preparar. À noite,
participando do culto especial na Igreja Batista de Itacuruçá, viveu
momentos de grande alegria ao identificar a música dos vibrantes
cânticos natalinos. Embora não pudesse entender a letra dos hinos ou
qualquer palavra do sermão, estava feliz, pois havia sido por amor e
em obediência ao seu Mestre e Senhor, cujo aniversário estava sendo
comemorado, que havia deixado tudo o que lhe era mais caro para
vir ao Brasil. Foi membro daquela igreja por 12 anos, durante os quais
sempre se sentiu entre irmãos amorosos e amigos verdadeiros.
Até aprender a nova língua, Minnie Lou teve que se dedicar quase que
exclusivamente aos estudos. Naquela época, a Junta de Richmond en-
viava ao novo missionário dez dólares mensais, além do salário, para
pagar um professor particular. Esse valor dava para pagar apenas três
aulas por semana. Minnie Lou, então, passou a lecionar inglês em troca
de aulas de português. Assim, em pouco tempo, já podia se comunicar,
embora com sotaque bem carregado e dicção imperfeita. Mesmo de-
pois de toda a experiência que seu trabalho lhe havia proporcionado,
quando comentava sobre seu progresso no domínio da nossa língua,
ela costumava dizer: “Os resultados demonstram que não aprendi o
suficiente.” É que, apesar de ter aprendido a lidar muito bem com as

19
dificuldades da língua portuguesa, a ponto de falar fluentemente e de
escrever muito bem, nunca chegou a pronunciar corretamente deter-
minadas palavras do nosso vocabulário, o que é muito natural aconte-
cer com estrangeiros que aprendem uma nova língua na idade adulta.
Minnie Lou estava ansiosa para trabalhar e ficou muito feliz quando
recebeu um convite para ajudar no escritório da Missão Batista do Sul,
tarefa para a qual estava preparada, graças à prática que havia adqui-
rido. Logo depois, o Secretário da Junta de Richmond para a América
Latina veio passar um ano no Rio de Janeiro, e Minnie Lou foi designada
para ser sua secretária durante aquele ano. Depois da saída do Dr. Gill,
ela continuou a ajudar no escritório da Missão, no setor de tesouraria.
Fez isso até 1948.

20
lid e r a
liderança
n ç a
na ciona
nacional delmrde mr capítu

06
lo

Em 1949, Minnie Lou começou a trabalhar com a União Feminina Mis-


sionária Batista do Brasil, que na época se chamava União Geral de Se-
nhoras. Até então, as meninas de nove a 15 anos eram encaminhadas
à Sociedade de Crianças (hoje, Amigos de Missões) ou à Sociedade de
Moças, quando não ficavam sem participar de qualquer organização
missionária. Nesse ano, porém, foi criada para elas a organização Men-
sageiras do Rei. Minnie Lou, tendo sido eleita a primeira Líder Nacional
das Mensageiras do Rei, foi quem iniciou esse trabalho no Brasil.
Nos dois primeiros anos, o desenvolvimento da organização não foi
grande. Eram apenas três as primeiras organizações: uma na Igreja
Batista de Itacuruçá, outra na Igreja Batista da Tijuca e outra no Colégio
Batista, as três na cidade do Rio de Janeiro.
Devido à falta de literatura para a nova organização, foi necessário pre-
parar todo o material, traduzir artigos e escrever programas. O primeiro
manual também teve que ser traduzido com o auxílio de uma comissão.
Em 1950, foi realizado o primeiro acampamento de Mensageiras do
Rei. Foi nas dependências do Instituto de Treinamento Cristão, hoje,
Centro Integrado de Educação e Missões (CIEM), no Rio de Janeiro.
Participaram desse acampamento, levando inspiração às mensageiras,
o Pr. David Gomes, então pastor da Igreja Batista da Tijuca, e o jovem
casal Pr. Tiago e Creusa Lima, recém-nomeados missionários da Junta
de Missões Estrangeiras, atual Junta de Missões Mundiais.
No início do trabalho, Minnie Lou teve que viajar muito para divulgar a
organização. Falava às igrejas, incentivando-as a organizarem Mensa-
geiras do Rei. Além disso, orientava e preparava a liderança. Graças ao
seu esforço, em 1951, na Assembleia Anual da União Geral de Senho-
ras, ao apresentar seu relatório, com muita alegria, ela pôde anunciar a
existência de 35 organizações. Era de fato um começo muito animador.
No início, a organização nem sempre era bem recebida, pois muitos se
preocupavam com o fato de haver, no antigo sistema de graduação, o

21
passo (etapa) de rainha. Achavam que, indiretamente, isso incentivava
a vaidade entre as adolescentes. Outros eram contra o uso de vestidos
longos nos programas de reconhecimento. E havia aqueles que se opu-
nham ao uso da coroa, símbolo do passo de rainha, mesmo que fosse
só por um instante, pois tão logo eram coroadas, instruídas por Minnie
Lou, ao som do hino “Coroai”, do Cantor Cristão, as rainhas colocavam
suas coroas sobre uma Bíblia aberta, enquanto diziam: “Coroai o Rei dos
reis”. Com esse gesto simbólico, depositavam suas coroas aos pés de
seu Mestre e Senhor, a quem estavam aprendendo a amar e glorificar.
Sempre pronta a fazer adaptações de acordo com o local, conforme
Romanos 14.19, revestida da sabedoria do alto, Minnie Lou ouvia e res-
peitava a opinião da liderança das igrejas que visitava. Desse modo, foi
ganhando a simpatia e a confiança de todos, até mesmo daqueles que se
haviam colocado contra a organização por motivos como os que foram
citados. E assim, novas organizações foram surgindo em todo o País.
Entre as meninas que participavam das organizações recém-criadas,
percebia-se entusiasmo, maior conhecimento bíblico e consagração de
vidas. Quando voltavam dos acampamentos, tinham experiências no-
vas para contar aos pais e à igreja! As atividades da igreja e o estudo da
Bíblia passavam a ter um novo sentido, pois queriam alcançar os passos
superiores do sistema de graduação. E os programas realizados na orga-
nização, quando os cinco ideais das MR eram destacados e vivenciados,
também as inspirava. E mais: O contato com missionários, que narravam
suas experiências nos campos do sertão do Brasil, na Bolívia ou em Por-
tugal (únicos países estrangeiros onde os batistas brasileiros mantinham
missionários naquele tempo), despertava nas meninas um grande amor
por missões. Todos esses foram fatores que contribuíram grandemente
para a aceitação do trabalho nas igrejas. Uma organização que trazia
resultados como esses não poderia ser combatida. Antes, merecia ser
aceita e divulgada, o que foi acontecendo de maneira maravilhosa nas
igrejas onde havia um grupo de mulheres comprometidas com missões.
Consciente de sua responsabilidade em ajudar as adolescentes e as
pré-adolescentes ao alcance das igrejas batistas do Brasil, Minnie Lou
viajava constantemente, ora para atender a solicitações de auxílio que
recebia de igrejas locais, ora para fazer promoção do trabalho nos
diversos estados do Brasil. Para tanto, teve que viajar em transporte
de todo tipo: charrete, jipe, trem, avião comercial, avião missionário,
barco, ônibus... Para ir às igrejas mais próximas, dentro do então Distri-
to Federal, que atualmente é a cidade do Rio de Janeiro, ela dirigia sua
Kombi azul-claro, presente da Missão para facilitar seu trabalho. Com

22
cartazes, coroas, cetros, octógonos, papéis coloridos, fitas, bonecas ca-
racterizadas, câmera, equipamentos para projeção de imagens, enfim,
com tanto material, só mesmo uma Kombi para levar tudo.
Os acampamentos, sempre aguardados com entusiasmo, tinham que
ser planejados com muita antecedência. No início, não havia lugares
apropriados para sua realização. Os colégios batistas, o ITC (hoje,
CIEM), o SEC e outras instituições de nossa denominação cediam suas
instalações na época das férias. E assim, com muita improvisação,
poucos recursos, o apoio da União Geral de Senhoras e o dedicado tra-
balho da Líder Nacional, o trabalho ia sendo realizado e os resultados
eram animadores. Em cada acampamento, havia inúmeras decisões
ao lado de Cristo, e muitas mensageiras atendiam ao apelo para a obra
missionária ou para serem mais fiéis no cumprimento da vontade de
Deus. Geralmente, esses momentos especiais, quando eram ouvidos
testemunhos, aconteciam em cultos ao redor de uma fogueira.
O primeiro acampamento realizado no Sítio do Sossego, foi um marco
na história da organização. O local não apresentava ainda as instala-
ções necessárias e praticamente nenhum conforto. Os banheiros eram
bem primitivos, e não havia equipamento suficiente para o refeitório e
a cozinha. A viagem de Niterói, RJ, até o Sítio era feita em carroceria de
caminhão, mas as meninas gostavam tanto da experiência, que, quando
passaram a viajar de trem, diziam que era mais divertido ir de caminhão.
Pouco a pouco, o Sítio do Sossego foi passando por consideráveis me-
lhorias. Com uma oferta vinda dos Estados Unidos, Minnie Lou pagou
a construção de banheiros no centro da propriedade. E a União Geral
de Senhoras comprou muitas panelas, travessas, tigelas, colheres e
outros utensílios para a cozinha e o refeitório.
Na revista Mensageira do Rei (hoje, Aventura Missionária), no primeiro
trimestre de 1969, ano em que se comemorou o vigésimo aniversário
da organização, Edna Pinto de Moraes, a líder que substituiu Minnie
Lou, assim descreveu o Sítio do Sossego: “É um dos recantos mais apre-
ciados, por causa da exuberante beleza natural. Possui cabines com nomes
de animais e camas do tipo beliche com três andares cada uma. Atualmen-
te, dispõe de duas piscinas, sendo uma pequena, para crianças. Ao lado do
salão de cultos, ouve-se o murmúrio de uma cascata, que jorra sua água
cristalina incessantemente. Todo o encanto daquele local de acampamen-
tos nacionais convida cada pessoa a pensar na grandeza de Deus.”
Para comemorar os 15 anos de existência da organização, o Departa-
mento Nacional de MR realizou o primeiro acampamento nacional só

23
para rainhas, intitulado Corte Real. Onze estados brasileiros se fize-
ram representar com várias mensageiras: Amazonas, Pernambuco,
Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Bahia, Espírito Santo, Minas
Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e o antigo Estado da Guanabara
(hoje, cidade do Rio de Janeiro). O número de rainhas presentes dava
uma ideia do progresso da organização. O trabalho e o testemunho
pessoal de tantas adolescentes revelavam a Minnie Lou que aquelas
mensageiras eram, de fato, vidas resplandecentes que se levantavam
para glorificar a Deus. Com isso, ela ficava muito feliz, pois sentia que
estava empregando seus talentos e seu vigor no preparo das futuras
líderes das organizações de nossas igrejas, das missionárias, daquelas
que substituiriam sua geração na propagação do reino de Deus.
Lucia Margarida Pereira de Brito, que foi missionária e Diretora Exe-
cutiva da União Feminina Missionária Batista do Brasil, pertenceu à
organização. É dela esta declaração: “Conheci Minnie Lou quando era
mensageira do Rei, no acampamento que se realizou em 1955, no Instituto
de Treinamento Cristão (ITC), hoje, CIEM. Guardo no meu coração boas
recordações daquele acampamento. Lá tive o prazer de conhecer uma
equipe maravilhosa, que trabalhou para que Deus falasse aos nossos cora-
ções. Sempre sorridente, Minnie Lou estava à frente de cada atividade. Foi
naquela ocasião que a chama de missões acendeu-se em meu coração, e,
anos mais tarde, senti a chamada missionária. Minnie Lou estava presente
em cada atividade das Mensageiras do Rei de que eu participava. Assim, fui
me desenvolvendo no conhecimento bíblico e missionário, tendo sempre a
figura dela a me lembrar missões, amor e alegria no serviço do Rei. Quando
ingressei no ITC, lá encontrei Minnie Lou como professora, servindo com
alegria no preparo de jovens para a obra do Senhor. Além de sua alegria
em servir a Deus, notava-se nela outras duas características: a humildade
com que servia e sua capacidade de valorizar as pessoas, incentivando-as
a também servirem com alegria. Por 21 anos, servi em Missões Nacionais,
e por 32, como Diretora Executiva da União Feminina Missionária Batista
do Brasil. Hoje, olho para trás e dou graças a Deus pela vida da pioneira de
Mensageiras do Rei no Brasil. Foi nessa organização que abri meus olhos e
vi, através das “Janelas Abertas”, tema do acampamento do qual participei,
os horizontes que me fizeram descobrir a vontade de Deus para minha vida.”
Poderiam ser registrados aqui muitos outros depoimentos de ex-men-
sageiras que tiveram o privilégio de conhecer Minnie Lou e que, hoje,
atuam nos campos missionários ou em suas próprias igrejas, sendo
verdadeiros refletores da luz do evangelho e dando continuidade ao
abençoado trabalho que ela iniciou e que tão fielmente realizou.

24
ex p e r iê n
experiências
c ia s
arcantes
mmarcantes capítu

07
lo

Certa vez, ao ser entrevistada, com os olhos brilhando de emoção por


causa das boas lembranças, Minnie Lou relatou algumas de suas ex-
periências, muitas delas vividas em contato direto com mensageiras
do Rei em vários estados do Brasil. Dentre as experiências que lhe
trouxeram muita alegria, ela destacou duas. É dela o texto que segue:
“D. Fany Luper, em 1953, convidou-me para uma semana de estudos com
as Mensageiras do Rei da Primeira Igreja Batista de Curitiba, PR. No final
da semana, no sábado, eu deveria dirigir o programa de promoção. Tudo
correu bem, inclusive as provas e os ensaios. Contudo, meia hora antes de
iniciarmos o programa, quando o templo ainda estava praticamente vazio,
desabou um enorme temporal. As mensageiras, o pastor e a líder estavam
presentes, mas não havia assistentes. O pastor sugeriu que adiássemos o
programa para domingo à noite. Quando já estávamos convencidos de que
o jeito seria mesmo adiar, vimos todas as mensageiras ajoelhadas, com seus
vestidos longos. Estavam todas orando. Elas pediam a Deus que se manifes-
tasse, fazendo com que a chuva parasse, para que o programa pudesse ser
realizado naquela noite mesmo. Parece incrível, mas, em poucos minutos, o
temporal passou completamente, os convidados foram chegando e o templo
ficou lotado. Com um atraso de apenas trinta minutos, tive o privilégio de co-
roar várias rainhas, entre elas, uma adolescente muito viva, chamada Marle-
ne Serrão, que, mais tarde, ao lado do seu esposo, serviu como missionária
de Missões Nacionais. Depois, como líder autêntica, trabalhou na cidade do
Rio de Janeiro durante o tempo em que seu esposo, o Pr. Samuel Mitt, serviu
como Secretário Executivo da Junta de Missões Nacionais. Posteriormente,
o casal Mitt atuou em campos da Junta de Missões Mundiais. Interessante é
que, em 1973, vinte anos depois, tive o privilégio de coroar também a filha
daquela mensageira que, ajoelhada, havia demonstrado ter aprendido a
viver em Cristo pela oração. Senti-me profundamente recompensada.”
Ao lado do seu esposo, D. Marlene Mitt viveu seus últimos anos em sua
cidade natal, onde continuou se destacando como líder consagrada
ao Senhor.

25
Segue outro depoimento de Minnie Lou:
“Em julho de 1966, sob a liderança de Loecy Cordeiro de Souza, mais de
cem mensageiras, todas elas da Igreja Batista de Acari, Rio de Janeiro,
aguardavam seu programa de promoção. Do grande grupo, vinte e nove
estavam alcançando os passos superiores. Deslumbrantes, aguardavam
a hora do início do programa, quando um temporal fez cair um fio da rede
elétrica na rua onde fica o templo. Chegou, então, a triste notícia de que
o conserto só poderia ser feito no dia seguinte. O pastor, diante daquela
situação, considerando o grande grupo e a importância do trabalho, su-
geriu que o programa fosse adiado. A reação imediata das mensageiras
foi contrária. Pediram que o programa fosse realizado mesmo no escuro,
porque não estavam interessadas em serem vistas, mas sim em glorificar
a Deus. O programa foi realizado à luz de querosene e, na minha opinião,
foi um dos mais lindos a que já assisti durante a minha vida, talvez por
sentir que as mensageiras não estavam apenas cumprindo as exigências
dos passos ao pé da letra, pois acabavam de dar uma bela demonstração
de que os ideais da organização estavam sendo alcançados em suas vidas.”

26
um p o u
um pouco
c o
dede h umor
humor capítu

08
lo

Sempre disposta a atender a convites para realizar estudos missionários,


programas de reconhecimento ou acampamentos nos vários campos
estaduais, Minnie Lou teve as mais variadas experiências, algumas delas
até muito engraçadas, que lhe causaram muito embaraço, mas que, ao
som de risos, eram por ela relembradas com seu natural bom humor.
Certa vez, ao começar a trocar de roupa para ir ao culto da Igreja Batis-
ta de Itacuruçá, a fim de realizar um programa especial de reconheci-
mento, Minnie Lou lembrou-se de que precisava colocar um novo filme
em sua máquina fotográfica. Era esse o procedimento quando ainda
não existiam máquinas digitais. Ela resolveu, então, usar o armário em-
butido do quarto como câmara escura. O Dr. Allen, missionário vizinho
e pastor da referida igreja na época, havia lhe prometido uma carona,
para ajudar no transporte do material que seria usado no programa.
Ao entrar no armário, Minnie Lou, sem se lembrar de que o mesmo não
possuía maçaneta por dentro, bateu a porta. Após ter colocado o filme
na máquina, percebeu que estava trancada e sozinha. Na tentativa de
se fazer ouvir pelos vizinhos, começou a bater com os saltos dos sapa-
tos na porta do armário. Os vizinhos escutavam as pancadas, mas não
podiam perceber o que estava acontecendo. O Dr. Allen, já impaciente
com a demora, resolveu subir ao terceiro andar, a fim de ver o que
estava acontecendo. Abriu a porta do apartamento, que, felizmente,
estava fechada só com o trinco. Ouviu, então, o barulho das pancadas.
Sem entender o que estava acontecendo, caminhou em direção de
onde vinha o estranho barulho, perguntando:
– Minnie Lou, onde você está?
Ao entrar no quarto, pôde ouvir sua voz suplicante:
– Dr. Allen, estou presa no armário. Por favor, entre e abra a porta para
que eu possa sair. Mas, cuidado! Não olhe para dentro.
Nessa ocasião, por pouco, teria faltado a um compromisso.

27
Outras ocasiões em que ficava muito perturbada era quando tinha que
ouvir, e com razão, “sermões” de advertência do colega mais velho, o
Dr. J. J. Cowsert, que, com D. Graça, a tratava como verdadeira filha.
Geralmente, isso acontecia quando, por força das circunstâncias, no
cumprimento de seus deveres em igrejas do subúrbio, dirigindo sua
Kombi, retornava a casa tarde da noite, às vezes, acompanhada de uma
auxiliar. O Dr. Cowsert, vizinho da missionária por mais de dez anos,
com seu zelo intransigente, tal como um pai que não dorme antes de
ter sob seu teto os filhos menores, não lhe perdoava tais “imprudên-
cias” e sempre estava de pé para passar-lhe um sermão.
Certa vez, ao voltar tarde de um de seus compromissos, Minnie Lou
teve que pular o portão, pois havia se esquecido de levar a chave, e o
porteiro já estava dormindo. Ao chegar ao seu apartamento, recebeu
a infalível repreensão do Dr. Cowsert pelo atraso apenas, pois ele não
sabia que ela havia pulado o portão. Posteriormente, referindo-se a
esse incidente, ela desabafou aliviada: “Já pensou se ele soubesse que
não estava com a chave?” Em seguida, sorriu encabulada, pois reco-
nhecia que o experiente obreiro tinha razão em se preocupar com ela,
pois os jornais sempre traziam notícias de assaltos e de outros crimes
bárbaros, de preferência, praticados em locais e horas de pouco movi-
mento. Felizmente, Minnie Lou sempre pôde voltar para casa sã e sal-
va, louvando a Deus por sua proteção, embora, vez por outra, se visse
obrigada a cometer algumas “imprudências”, uma vez que, durante
15 anos, foi a líder das Mensageiras do Rei do então Distrito Federal.
Nessa função, ela sempre assumia vários compromissos.

28
aafi e
fiel
l
co laboradora
colaboradora capítu

09
lo

No dia 17 de junho de 1967, Minnie Lou deixou a liderança da or-


ganização Mensageiras do Rei para assumir a direção nacional das
Sociedades Femininas Missionárias, hoje, organização Mulher Cristã
em Missão. Durante os 18 anos em que liderou as Mensageiras do Rei,
com desprendimento, treinou pessoas que pudessem substituí-la.
Pôde, então, deixar nas mãos preparadas de Edna Pinto de Moraes
(hoje, Edna Moraes dos Santos) o trabalho que, com tanta dedicação
e eficiência, implantou em nossa Pátria. Na ocasião, as estatísticas
registravam a existência de 538 organizações Mensageiras do Rei es-
palhadas por todos os estados do Brasil.
Até então, a União Feminina Missionária Batista do Brasil não havia
nomeado uma líder para dedicar-se especificamente ao setor de So-
ciedades Femininas Missionárias. A própria Secretária Executiva en-
carregava-se do trabalho, que, há muito tempo, já vinha exigindo que
alguém o assumisse. Minnie Lou, com sua vasta experiência, inclusive
à frente da própria UFMBB durante os períodos de férias de D. Sophia
Nichols, a então Secretária Executiva, era a pessoa certa para o cargo.
Foi, portanto, com o desejo de servir onde a querida União Feminina
mais precisasse, visando à expansão da obra missionária, que Minnie
Lou mudou de setor. Em sua igreja, no entanto, onde ocupou diversos
cargos (de tesoureira por 12 anos, de diretora da antiga Escola de
Treinamento, de professora da Escola Bíblica Dominical, passando
por quase todos os departamentos, e de diretora da antiga Escola de
Missões), a organização Mensageiras do Rei esteve, com raras inter-
rupções, sob sua liderança até perto de se aposentar.
Na liderança nacional da organização Sociedade Feminina Missionária,
hoje Mulher Cristã em Missão, Minnie Lou assumiu a redação da revista
Visão Missionária. Aliás, já vinha acumulando o cargo de redatora in-
terina das publicações da UFMBB, trabalho que realizava com cuidado
e criatividade desde janeiro de 1966. Com seus programas especiais,

29
artigos e traduções, contribuiu para inspirar, despertar e incentivar o
elemento feminino de nossas igrejas. Em seus escritos, focalizou mui-
tas vidas preciosas, enquanto que, humildemente, deixou que o brilho
de sua própria vida fosse visto apenas por aqueles que conviveram
com ela mais de perto.
Minnie Lou também colaborou de forma toda especial com a obra
educacional da União Feminina Missionária Batista do Brasil, visto que
foi professora em uma de suas casas de ensino, na que hoje se chama
Centro Integrado de Educação e Missões, no Rio de Janeiro. Lecionou
Novo Testamento, Educação Missionária e, por mais tempo, História
Eclesiástica. Ali, teve a alegria de encontrar muitos frutos do seu traba-
lho com Mensageiras do Rei, vidas que buscavam um melhor preparo
para um trabalho mais eficiente no reino de Deus.

30
miga
aaaamiga capítu
lo

10

Quem teve o privilégio de conviver com Minnie Lou reconhece sua


prontidão em identificar-se e harmoniosamente relacionar-se com to-
dos. Dentre suas muitas qualidades, talvez tenha sido essa a que mais
contribuiu para o sucesso de seu ministério. Seu círculo de amizades
era internacional. De vez em quando, recebia em sua casa pessoas
de outras terras, que dela recebiam atenção e companheirismo. O
acúmulo de trabalho na sede da UFMBB e o corre-corre para atender
às inúmeras solicitações dos cargos que exercia jamais contribuíram
para alterar seus bons modos e fino trato com funcionários, colegas e
serviçais. Extremamente humana e possuidora de um caráter cristão
inabalável, sempre estava distribuindo simpatia e dando conforto
espiritual e material aos necessitados ao seu redor. Quantas vezes
sacrificou seu bem-estar pessoal e sua privacidade, bem como de suas
companheiras de apartamento, que com ela conviviam como irmãs,
para hospedar ou ajudar a hospedar alunas que não podiam visitar
seus próprios lares em períodos de férias, bem como missionárias da
Junta de Missões Nacionais e da Junta de Missões Mundiais, ex-alunas
suas ou simplesmente conhecidas ou até mesmo desconhecidas, que
nela encontravam apoio e amizade.

No escritório, Minnie Lou sempre se mostrou amiga das colegas de tra-


balho. Elza Sant'Ana do Vale Andrade, que por alguns anos trabalhou ao
seu lado e a sucedeu na liderança das mulheres, assim se refere a ela:

“Minnie Lou era pessoa amiga, de uma amizade sincera, sempre preocu-
pada com o próximo. Lembro-me de quantas vezes, com muito carinho,
levou-me à Faculdade, depois do expediente do escritório, para que eu
não perdesse a hora da aula. Também me lembro das muitas ocasiões em
que me levou para almoçar em sua casa, para que eu tivesse uma refeição
mais nutritiva. Sem contar as vezes em que, após os cursos de capacitação
aos sábados, levou-me de carro até o pé da serra de Teresópolis, para que
eu não perdesse meus compromissos dominicais na Igreja Batista Central.

31
Cresci muito ao lado de Minnie Lou, que, além cuidar do meu bem-estar,
sempre depositou em mim total confiança. Foram dez anos e alguns meses
de feliz convívio e grande aprendizado. Sou grata a Deus por essa vida tão
especial!”
Minnie Lou experimentou em sua própria vida de missionária que,
conforme declaração bíblica, “mais bem-aventurada coisa é dar do que
receber”. Quando fosse necessário, era capaz de sacrificar suas últimas
economias para levar auxílio ou proporcionar alegria a alguém. Tanto
na ida quanto na volta das atividades dominicais de sua querida igreja,
a Igreja Batista do Bom Retiro, seu carro estava sempre lotado. Com
prazer, ela passava pelos pontos onde podia apanhar irmãs humildes,
que, com suas crianças, tinham dificuldade de chegar ao templo de
outra maneira.
Alvo do respeito e da admiração de todas as pessoas que com ela se
relacionaram, Minnie Lou deixou profunda saudade no coração de
seus amigos quando, ao chegar o tempo de se aposentar, precisou
regressar aos Estados Unidos da América do Norte, sua terra natal.

32
issão
mmissão
mprida
cucumprida capítu

11
lo

No dia 31 de janeiro de 1981, Minnie Lou passou a Elza Sant’Anna do


Valle Andrade, sua auxiliar por 11 anos, o cargo de Líder Nacional das
Sociedades Femininas Missionárias (hoje, MCM). Seu tempo no Brasil
estava na reta final. Desse modo, como aconteceu em Campos, RJ, em
1967, quando passou o cargo de Líder Nacional das Mensageiras do
Rei, em Belém do Pará, na Assembleia Anual da UFMBB, em janeiro de
1981, ela foi homenageada e recebeu publicamente, no belo Teatro da
Paz, o reconhecimento e a gratidão das mulheres batistas brasileiras.
Seu último ano em nosso país ainda foi dedicado à União Feminina Mis-
sionária Batista do Brasil, pois assumiu a tesouraria do IBER, trabalho
que também realizou com carinho e eficiência.
No dia 27 de janeiro de 1982, cercada de colegas e amigos, Minnie Lou
despediu-se do solo brasileiro, embarcando no avião que a levaria de
volta à terra natal. Se pudesse escolher, sem dúvida, teria ficado aqui,
pois sempre dizia que o mais difícil para ela, ao considerar o assunto
aposentadoria, era o fato de não poder ficar no Brasil, sua segunda
pátria. Viveu aqui seis anos a mais dos que havia vivido até então em
seu próprio país, o que muito contribuiu para lhe dar uma perspectiva
muito diferente de patriotismo, a ponto de declarar: “Amo o meu país,
mas não posso voltar a ser uma americana provinciana, que vê sua terra
natal como o centro do Universo. Também amo o Brasil muitíssimo e
confesso que o entusiasmo e o amor que sinto ao cantar o hino nacional
americano é igual ao que sinto ao cantar o hino nacional brasileiro.”
No dia 15 de julho de 1983, Deus levou Minnie Lou ao encontro do Rei
Jesus, aquele de quem ela mais falou às meninas de nossas igrejas.
Hoje, se ainda estivesse entre nós e fosse chamada a transmitir às
nossas mensageiras do Rei uma palavra de conselho, Minnie Lou teria
muito a lhes dizer, mas, com certeza, deixaria a todas elas, como sem-
pre o fez, o desafio expresso na divisa da organização, que foi também
um lema para a sua própria vida:
“Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz!”

33
avaliação
Avaliação
Assinale com X a resposta certa:
1. Por que Minnie Lou e seus irmãos trabalhavam na fazenda no tempo
da ceifa?
( ) Porque a família não tinha recursos para pagar mais empregados.
( ) Porque seus pais queriam desenvolver neles o espírito de trabalho
e união.
( ) Porque seus pais precisavam descansar.
( ) Porque não gostavam de ficar em casa sozinhos.
2. Por que Minnie Lou e seus irmãos raramente brincavam no rio da
fazenda?
( ) Porque nele havia um enorme jacaré.
( ) Porque era um rio muito fundo.
( ) Porque a água era muito suja.
( ) Porque em seu leito havia pedras pontiagudas.
3. Por que a família Lanier viveu tempos difíceis quando morava na
fazenda?
( ) Porque a neve destruiu toda a plantação.
( ) Porque um temporal derrubou a casa em que moravam.
( ) Porque o fogo destruiu a casa em que moravam.
( ) Porque a seca destruiu a plantação.
4. Com que frequência Minnie Lou podia ir à igreja quando morava na
fazenda?
( ) Uma vez por mês.
( ) Duas ou três vezes por ano.
( ) Uma vez por trimestre.
( ) De quinze em quinze dias.

35
5. Quando Minnie Lou teve sua experiência de conversão?
( ) Durante a leitura da Bíblia, no silêncio do seu quarto.
( ) Durante um acampamento de Mensageiras do Rei.
( ) Durante um culto evangelístico em sua igreja.
( ) Durante uma conversa com seu pastor.
6. O que se tornou Minnie Lou para ajudar a sua família financeira-
mente?
( ) Enfermeira.
( ) Cabeleireira.
( ) Professora.
( ) Costureira.
7. Quando foi que Minnie Lou sentiu-se chamada para a obra missio-
nária?
( ) Quando visitou um campo missionário.
( ) Quando ouviu o testemunho de uma missionária que servia no
Brasil.
( ) Quando participou de um acampamento estadual de jovens.
( ) Quando ouviu o testemunho de um missionário que servia na
África.
8. O que fez a jovem Minnie Lou após ter concluído o seu curso uni-
versitário?
( ) Ingressou no Seminário Teológico Batista do Sul, em Louisville-
-Kentucky.
( ) Passou a trabalhar com a UFMB do seu Estado.
( ) Apresentou-se à Junta de Richmond.
( ) Passou a trabalhar em sua própria igreja.
9. Por que Minnie Lou teve que adiar sua viagem para o Brasil?
( ) Porque Sidney, seu irmão caçula, ainda não havia retornado da
guerra.
( ) Porque uma de suas irmãs se encontrava doente.
( ) Porque a estrada até o aeroporto estava fechada por causa da
neve.
( ) Porque havia muito trabalho em sua igreja.

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10. Que produto natural do Brasil passou a ser um dos prediletos de
Minnie Lou?
( ) O cacau.
( ) O maracujá.
( ) O guaraná.
( ) O coco.
11. No aeroporto do Rio de Janeiro, que surpresa teve Minnie Lou?
( ) Mãos abanando e rostos sorridentes a aguardavam.
( ) O sol estava se pondo, formando uma cena de rara beleza.
( ) Não havia ninguém para recebê-la.
( ) Soube que sua bagagem havia sido extraviada.
12. Em que ano Minnie Lou foi eleita Líder Nacional das MR?
( ) 1947.
( ) 1948.
( ) 1949.
( ) 1950.
13. Onde foi realizado o primeiro acampamento de MR no Brasil?
( ) No Instituto de Treinamento Cristão, atual CIEM.
( ) No Sítio do Sossego.
( ) Na Quinta da Boa Vista, na cidade do Rio de Janeiro.
( ) Na Ilha de Paquetá, Rio de Janeiro.
14. Que meio de transporte Minnie Lou dirigia para ir às igrejas mais
próximas?
( ) Um jipe verde.
( ) Um fusca branco.
( ) Uma Kombi azul-claro.
( ) Uma caminhonete cinza.
15. Para celebrar os 15 anos de MR no Brasil, o que Minnie Lou liderou?
( ) O primeiro acampamento só para rainhas, intitulado Corte Real.
( ) Um acampamento nacional para as MR de todo o Brasil.
( ) Um congresso nacional só para rainhas.
( ) Acampamentos regionais para mensageiras adolescentes.

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16. Certa vez, ao se preparar para ir à sua igreja, o que aconteceu a
Minnie Lou?
( ) Recebeu a visita de uma amiga dos Estados Unidos da América.
( ) Ficou presa no armário.
( ) Recebeu um telefonema de sua família.
( ) Recebeu a visita de um grupo de mensageiras do Rei.
17. No dia 17 de junho de 1967, Minnie Lou deixou a liderança das MR
para assumir a direção nacional de que organização?
( ) Sociedades de Crianças, hoje, Amigos de Missões.
( ) Sociedades de Moças, hoje, Jovens Cristãs em Ação.
( ) Sociedades Femininas Missionárias, hoje, Organização Mulher
Cristã em Missão.
( ) Uniões de Adolescentes do Brasil.
18. Ainda colaborando com a UFMBB, o que Minnie Lou também foi?
( ) Professora no SEC.
( ) Professora no IBER.
( ) Secretária de Promoção.
( ) Representante Regional da UFMBB.
19. Aos domingos, o que fazia Minnie Lou?
( ) Lotava seu carro de senhoras humildes.
( ) Pagava a passagem do bonde para uma família pobre.
( ) Distribuía folhetos evangelísticos.
( ) Convidava pessoas para os cultos.
20. Em janeiro de 1981, de quem Minnie Lou recebeu homenagem?
( ) Da Convenção Batista Brasileira.
( ) Da União Feminina Missionária Batista do Brasil.
( ) Da Direção do IBER.
( ) Da Direção do SEC.

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"Biografia Levanta e resplandece – Ilustrações".

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