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Da lama ao caos: Por que o Flamengo de 2022 parece o Flamengo do início

dos anos 2000.

Aprendi a amar o Clube de Regatas do Flamengo do jeito mais difícil. Entrava e saía
ano, e o objetivo era só um: atingir os 45 pontos e fugir do fantasma da segunda divisão.
Os resultados em campo refletiam diretamente o que ocorria fora dele, incompetência e
desorganização na gestão do maior clube do Brasil. Das péssimas contratações às já
conhecidas goleadas no sul do país (e quem tem mais de 30 anos e torce pro Flamengo
sabe bem o que eu estou falando), o filme de terror rubro negro era conhecidamente
previsível.

O ano de 2013 trouxe novos ares, e a esperança de novos tempos surgia no horizonte.
Capitaneada por Eduardo Bandeira de Mello, presidente à época, o Flamengo começou
a mudar o curso de sua história recente. Os anos se passaram, as dívidas foram sendo
quitadas, algumas marcas permaneceram, mas chegamos ao final da última década
como potência nacional, dentro e fora de campo. Quem viveu o ano de 2019, e o
primeiro ano da nova gestão, e que tinha como presidente Rodolfo Landim, esperava
um time hegemônico, que marcaria a história do futebol brasileiro. Mas, como torcedor
que sou inclusive, me pergunto: Por que essa hegemonia não veio? E as respostas são
diversas. Primeiro, a impressão que fica foi que o técnico e ídolo português Jorge Jesus
foi um mero golpe de sorte. Quem o escolheu, teve seu mérito. Os métodos e a forma de
se trabalhar do português revolucionaram o clube. Ele foi embora, e junto dele também
foi o profissionalismo do departamento de futebol do clube. É bom sempre que se deixe
claro também. Jorge Jesus foi embora apenas um mês após ter seu contrato renovado e
todas as suas exigências atendidas. Talvez pela pandemia, talvez pela saudade do seu
país de origem, nunca iremos saber ao certo. Até ali, o clube fez sua parte. De lá para
cá, quase dois anos se passaram, e quatro técnicos passaram pelo clube. Nenhum se
firmou. Entendeu-se que a contratação de um técnico estrangeiro seria a fórmula certa
para a manutenção do sucesso dentro de campo. Tremendo equívoco. O Flamengo
passou a contratar técnicos sem o menor conhecimento do que estava fazendo. De
Domènec Torrent, passando por Rogério Ceni, Renato Gaúcho e Paulo Sousa, um
equívoco atrás do outro. Faço questão de frisar, e falo por mim somente, que de todos
esses, Ceni talvez tenha sido o único acerto. Não por convicção da atual diretoria, mas
por sorte. Contratado no meio para o fim de uma temporada atípica, Ceni conseguiu
fazer um trabalho que em pouco mais de oito meses, ganhou três títulos. Foi queimado e
fritado, e acabou sendo demitido. Após pouco mais de dois anos, o Flamengo acumula
mais de vinte milhões de reais pagos à técnicos demitidos, devido à cláusulas e multas
rescisórias.

Outro problema crônico na minha visão, é não saber encerrar ciclos de certos atletas.
Dirigentes, que antes eram chefes, viraram amigos de jogadores. E quando a amizade se
transpõe ao profissionalismo, o trem começa a sair dos trilhos. Um time que quer se
mostrar vencedor e hegemônico, precisa saber a hora de se despedir de seus ídolos.
Alguns casos são simbólicos, como os de Diego Alves e Diego Ribas. Elenco
envelhecido, com muitas peças provenientes dos últimos anos e que se acomodou com
as glórias recentes. O último técnico foi demitido, e pasmem: deu treino, mesmo já
sabendo de sua saída iminente. Situação constrangedora, infeliz e amadora de uma
diretoria que se vangloria e aparece nas vitórias, mas some do mapa nas derrotas. No
dia 13 de junho de 2022, o Flamengo está à beira da tão temida zona de rebaixamento.
Ainda tem muito campeonato pela frente, e sinceramente não acredito que a nossa luta
será contra o descenso. Mas, o clube precisa mudar logo de comportamento, dentro e
fora das quatro linhas. Mais profissionalismo e menos paternalismo. Jogadores e
diretores passam, a torcida e o clube ficam. Saudações rubro negras!

Thiago Lima

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