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20/10/2018 Entrevista com Peter Dun: Os problemas do CBLOL – eInsider

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Entrevistas Notícias

Entrevista com Peter Dun: Os problemas do CBLOL


By Gabriel Daneliczin 18 de outubro de 2018

Peter Dun é um treinador de League of Legends competente e bem-sucedido. Trabalhou na China, teve uma
passagem vencedora no Brasil e atualmente defende a Splyce no EULCS. Na Europa, foi nomeado o melhor
coach do primeiro semestre de 2018 e levou sua equipe aos playoffs nas duas etapas desse ano.

Há alguns dias, Peter e eu conversamos por Skype e falamos sobre vários assuntos relacionados ao CBLOL.
Durante o bate-papo, abordamos temas como o fracasso da KaBuM, sua experiência no Brasil e as
performances abaixo do esperado de nossas esquadras em torneios internacionais.

Nessa entrevista, o britânico nos dá a chance de conhecer um pouco dos bastidores do cenário competitivo.
Ele nos mostra como é tolo colocar toda a culpa na conta dos jogadores e a grande responsabilidade que as
organizações e comissões técnicas devem cumprir. Ele menciona a construção de um “ciclo virtuoso”, uma
lição que pode ser aplicada no cenário brasileiro de LOL e também em nossas vidas pro ssionais e pessoais.

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20/10/2018 Entrevista com Peter Dun: Os problemas do CBLOL – eInsider

Peter Dun, vencedor do prêmio “Melhor Coach do Split” na primeira etapa da LCS europeia 2018

As pessoas têm apontado dedos, procurando quem culpar pelas performances


decepcionantes dos times Brasileiros em torneios internacionais. Escrevi um artigo no
qual confronto o TwitLonger do Ranger, em que ele infere que o problema é a cultura
brasileira e a falta de comissões técnicas realmente boas. Eu refuto essas ideias e a rmo
que é a cultura dos jogadores, não a do país, que está no centro do problema.

Quanto disso você considera verdade?

“Primeiro temos que falar sobre onde o Brasil está [geogra camente]. O Brasil não consegue treinar com times
de regiões maiores. Uma desvantagem que apenas os servidores LAS e OCE compartilham. Os japoneses
podem treinar com times da LMS. Vietnamitas treinam com times Chineses, às vezes também com times da
segunda divisão da Coréia, às vezes com times da LMS. Turcos e Russos treinam frequentemente contra a EU
LCS e times do servidor LAN treinam com times da NA LCS. Primeiramente, o Brasil tem a desvantagem de
não ter polinização cruzada de ideias com outras regiões. A única maneira de trazer novas ideias ao cenário é
com bootcamps no exterior ou trazendo comissões técnicas estrangeiras. De um lado, isso signi ca que o
Brasil consegue formar suas próprias ideias rapidamente. Por exemplo, o Brasil foi mais rápido do que o EU e
o NA na percepção de que utilizar magos na rota inferior era melhor. O ponto negativo é que inovação
estratégica não chega ao país tão rapidamente. Isso signi ca que frequentemente indivíduos de fora do país
acabam sendo o gatilho que leva à inovação estratégica.

“A vantagem que o Brasil tem é sua torcida populosa e apaixonada. Os brasileiros tem uma solo queue de
qualidade com ping baixo, o que signi ca que os jogadores conseguem treinar produtivamente na solo queue.
Isto signi ca que jogadores da solo queue no Brasil tem boas mecânicas, mais próximas ao nível de regiões
maiores do que do nível de regiões emergentes. A outra vantagem que o Brasil tem é mais atenção do público
internacional do que outras regiões menores. Emily Rand, por exemplo, uma das melhores jornalistas do
esport, escreve sobre o Brasil com frequência. Não toda semana, mas talvez uma vez por mês, ou a cada dois
meses. Então o Brasil desfruta de visibilidade no exterior.

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20/10/2018 Entrevista com Peter Dun: Os problemas do CBLOL – eInsider

“Mas há outra desvantagem para o Brasil. Por várias razões, seja economia ou nanças, times brasileiros não
pagam tão bem quanto outras regiões. Fiquei no Brasil por dois anos e por car no Brasil abri mão de
90%-95% do que poderia receber na China ou em outras regiões. Abri mão disso porque estava interessado em
trabalhar no Brasil e ajudar o BR a crescer como região. Mas não é algo que deve se esperar de alguém que
acabou de começar sua carreira nos esports e está buscando consolidar seu nome no cenário. A diferença
seria de 20 vezes o salário, mesmo que eu fosse trabalhar na segunda divisão da Europa. Portanto no Brasil,
os incentivos nanceiros não são su cientes para atrair talento do exterior, apesar de que talento estrangeiro é
necessário para o crescimento da região por causa dos obstáculos geográ cos. Então acho importante
entendermos que esta é a situação em que o Brasil se encontra.

“Mas, respondendo sua pergunta, isto signi ca que, para obter sucesso, o Brasil precisa se expor a in uências
exteriores, seja trazendo membros de comissões técnicas internacionais, ou fazendo um bootcamp no
exterior. Obviamente, isto é caro e o Brasil não é tão rico como outras regiões. É necessário o Brasil investir
em trazer, por exemplo, coaches coreanos ou europeus, algo assim, mas não há o incentivo nanceiro para
fazê-lo.

“Ou você tem que melhorar a região como um todo, certo? Se você puder fazer a região como um todo melhor,
com estes jogadores com boa mecânica que jogam com ping baixo na solo queue brasileira… Nada importa
sobre as Keyds, KaBuMs ou nada desse tipo, se você consegue ajudar a liga como um todo, times como IDM
(RPG), Pro Gaming, Operation Kino. Estes times são times que tem a força e o conhecimento para garantir que
o cenário não está dependendo de um pequeno grupo de times, para rotacionar ideias e para ajudar a região
como um todo progredir.

“A nal, digamos que você é um time 6/10, mas sua região é 2/10. Você não tem como melhorar, é impossível
melhorar. Você pode vencer todos os seus treinos e jogos contra estes times 2/10, mas você não vai melhorar.
Na verdade, é possível que você piore, se adquirir hábitos que te ajudam a vencer estes times ruins mas não
ajudariam a vencer um time 8/10. Agora imagine que você, como um time 6/10, ajudou sua região a chegar a
um nível 4/10 ou 5/10. Agora, já que você está treinando contra times 4/10 ou 5/10, você pode melhorar e
chegar a ser um time 7/10. Talvez sua chance de vencer o CBLOL é menor agora, mas isto signi ca que
quando você for a um torneio internacional, você estará melhor equipado para ter sucesso, porque está
praticando diariamente com times que têm força. Isto é algo que acredito que muitas estrelas e muitos times
não entendem, que isto é o que o Brasil precisa para alcançar o sucesso.

“Eu posso dar um exemplo disso. No Mundial de 2016, a INTZ fez vários bootcamps durante o ano. Eles
tinham o Alex [Abaxial], que é americano, tinham a mim, britânico que trabalhou na China, e portanto muito
investimento foi feito em bootcamps e ajudando o time a melhorar, para que pudessem ser o melhor time que
conseguiam ser. Porém, ao mesmo tempo, depois do m do CBLOL, a INTZ cou presa por uma semana e
meia no Brasil, sem poder ir aos EUA para treinar. Então a paiN Gaming, que estava de férias, percebeu que era
importante para a região que a INTZ jogasse bem no Mundial. Portanto, eles sacri caram tempo de suas
férias para treinar com a INTZ, para que a INTZ estivesse preparada para o torneio. Isto é algo que a INTZ fez
pela RED Canids e pela Keyd antes da nal da primeira etapa do CBLOL 2017, e é algo com o qual a INTZ
ajudou bastante a RED Canids durante o MSI 2017, pois perceberam que uma boa atuação era importante para
o cenário. Mas isto é algo que novas organizações não entendem, e o Brasil precisa entender isso se quiserem
melhorar.”

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A INTZ de Peter Dun

Então você acredita que auto sabotagem por causa de organizações brasileiras mais novas
é a razão central do problema?

“Eu tenho que ser cuidadoso ao falar disso, porque obviamente eu não sei os detalhes internos de todas as
organizações no Brasil. Eu sei apenas pela minha experiência no país que times como a paiN Gaming sempre
ajudaram outras equipes da região. A INTZ tentou fazer o mesmo em 2017. Mas… Apesar de que não quero
citar organizações especí cas, acho que é válido falarmos sobre a RED Canids como org, pois a RED Canids
em 2017 representou tudo que eu vejo de errado com o cenário brasileiro e o porquê de a região não conseguir
progredir.

“Na sétima temporada, me comprometi a um segundo ano com a INTZ, apesar de que eu sabia que o elenco
não seria tão forte e precisaria de tempo para se desenvolver. Tínhamos um plano para progredir e nos
classi car para o Mundial. Não conseguimos fazer isto, mas sabíamos que precisávamos de tempo para
melhorar. Parte do meu acordo com a INTZ me permitia ajudar outros jogadores na região durante meu tempo
livre, até três vezes por semana. Mesmo que trabalhassem para outras equipes, mesmo que fossem novatos.
A ideia era que isto ajudaria a região como um todo, e no nal ajudaria a própria INTZ a melhorar mais rápido,
apesar de que isso tudo poderia levar a uma desvantagem estratégica em partidas do CBLOL. O problema é
que este sistema só funciona se todas as equipes estão dispostas a colaborar. Foi o que a RED não fez no ano
passado. A INTZ ajudou vários times, incluindo a RED Canids. A própria RED reconheceu publicamente que a
INTZ sacri cou tempo de férias para ajudá-los. Nossa comissão técnica, nossos olheiros, psicólogo esportivo.
Todos fomos dados acesso livre e ajudamos como podíamos, porque seria bom para o Brasil se a RED Canids
se saísse bem no MSI.

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A RED Canids representou o Brasil no MSI 2017

“Mas vamos falar sobre como a RED reagiu a este tipo de abordagem. A RED Canids foi convidada para o IEM
depois da primeira etapa de 2017. Eles recusaram o convite, mas atrasaram a resposta até o último minuto
possível, para que outras equipes brasileiras não pudessem ser convidadas e usufruir da experiência
internacional que a RED abriu mão para focar no CBLOL. No nal das contas, Hong Kong Attitude cou com a
vaga que seria de um time brasileiro, e isto é um exemplo da RED Canids sabotando oportunidades para
outros times da região.

“Depois disso, podemos dar uma olhada no que aconteceu na segunda etapa de 2017. Para a fase
eliminatória, a INTZ ia fazer um bootcamp, mas tivemos problemas com o passaporte de um dos nossos
jogadores, e como era uma época difícil de se conseguir um passaporte, não pudemos ir. Porém, uma semana
antes das semi nais, a RED voltou de seu bootcamp. Eles ouviram que eu estava no hospital por intoxicação
alimentar e, duas horas antes do nosso primeiro treino, cancelaram todos os treinos marcados para aquela
semana. Mais uma vez, uma tentativa voluntária de sabotar a performance de outro time, pois é claro que
àquele ponto não poderíamos marcar treinos com outra equipe, e esperávamos treinar com eles três vezes
durante aquela semana. Não culpo nenhum dos jogadores ou da comissão por isso, trabalhei com muitos
deles e é inconcebível que promoveriam cancelamento de treinos.

“O propósito de sabotar era diminuir a qualidade dos times da região, para que pudessem vencer com
facilidade o CBLOL. Mas isto signi ca que quando você comparece a torneios internacionais, você não
consegue fazer seu melhor pois não está treinando tanto quanto pode. A parte mais triste disso é que, ao nal
da temporada, quando estava saindo da INTZ, conversei em particular com todos os meus jogadores, e um
deles me disse que sabia que a situação com a RED Canids aconteceria. O perguntei o motivo de não me
impedir de trabalhar com outros times e ajudar jogadores se ele sabia que aconteceria, e ele me disse que
pensou que talvez pudesse ser diferente dessa vez, por causa de tudo que estávamos fazendo pelo cenário.

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“Esta é minha lembrança eterna do Brasil. Eu não penso muito nas coisas boas, nos pontos positivos ou no
sucesso com a INTZ em 2016. Eu me lembro de como decepcionei meu time e minha comissão na sétima
temporada para tentar ajudar a região a evoluir como um todo e em como outro time não estava focada em
ajudar a região, mas apenas eles mesmos. Foi uma crença tola, que organizações ajudariam umas às outras
do jeito que as ajudamos, ao invés de sabotar os adversários.

“Mas acho que isto mostra o problema. Você só pode ter um ambiente em que todo mundo se ajuda se todos
investirem nisso. Isto é algo que a paiN fez pela INTZ e a INTZ fez por outros times. Mas se você tem outras
equipes absorvendo esta ajuda enquanto fazem tudo que podem para evitar que isso se torne um processo
mutuamente bené co, se torna extremamente difícil melhorar a região como um todo. E se o Brasil não está
disposto a melhorar como um todo, se as equipes estiverem dispostas apenas a bene ciarem a si mesmas, a
única maneira de melhorar é com um enorme investimento nanceiro que compense o isolamento geográ co.
Na Turquia, times podem pagar salários altíssimos, alguns jogadores da TCL recebem melhor que jogadores
da EU LCS. Eles conseguem atrair estrelas, tanto na comissão como jogadores que estão no topo do mundo
em suas funções. Jogadores como GBM, Frozen. Talvez não sejam tão bons como Faker, mas são talentosos.
E Frozen, quando chegou à TCL, foi uma grande vantagem para o Fenerbahce na época. Estes são jogadores
que você não atrai sem incentivos nanceiros.

“Portanto sem o dinheiro, tudo se resume a melhorar a região como um todo. Os sucessos do Brasil no
passado vieram em tempos em que times entendiam a importância de comportamentos mutuamente
bené cos. INTZ e paiN venceram Flash Wolves e EDG em Mundiais não porque tinham algum direito divino de
vencer o CBLOL e chegar àquele ponto, mas porque naquele tempo, a maioria das organizações brasileiras
tinham a ciência de que ajudar uns aos outros era importante para ajudar o cenário.

“Na China chamamos isto de Ciclo Virtuoso. Você cria benefícios que ajudam a todos e isto volta para
bene ciar você. Mas isto não funciona se não são todas as equipes colaborando para fechar o círculo. Não
teria importado que time fosse para o Mundial este ano, o Brasil ainda teria passado di culdades, mas pelo
menos esforços foram feitos para tentar algo. A KaBuM passou semanas em bootcamp na Coréia, enquanto a
T-ONE não.”

O que você falou antes, sobre atitudes mutuamente bené cas de organizações: se o Brasil
se tornasse uma região principal, utilizando corretamente nosso potencial, isto ajudaria a
região vizinha LATAM a melhorar, o que nos ajudaria, porque teríamos times melhores
contra quem treinar, e assim continuaria. Isto criaria o Ciclo Virtuoso que você
mencionou.

“Mas isto só funciona se você olha para as coisas de maneira abrangente, certo? Se seu objetivo como equipe
é apenas vencer o CBLOL, o jeito mais efetivo de atingir a meta é sabotar a região enquanto se mantém um
nível alto o su ciente. Mas se seu objetivo é ser o quão bom você pode ser internacionalmente, a única
maneira que você não pode pensar… Eu realmente não quero mencionar times especí cos, mas se você é
forçado a treinar com times que se atrasam, saem mais cedo, ou times que criam um ambiente em que é
impossível conseguir bons treinos, em certo ponto você pode excluí-los do seu meio e não treinar mais com
eles, como eu e Alex zemos na INTZ.”

O quanto dessa falta de compromisso vem dos jogadores?

“Sinceramente? Acho impossível dizer ‘todos os jogadores no Brasil são preguiçosos’. Digo, acho que quando
vejo comentários no Twitter de torcedores dizendo que ‘jogadores brasileiros são preguiçosos’, não! Há
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jogadores no Brasil que realmente se importam com o jogo.”

Quantos jogadores você diria que se importam este tanto com o jogo?

“Bom… Como coach, você pode mais ou menos escolher os jogadores que você quer no seu time. Em 2017, o
motivo que a INTZ teve mais sucesso do que o esperado por parte de fãs e analistas foi porque tínhamos
jogadores compromissados com o sucesso. Tínhamos Jockster e micaO, que se importam muito com o jogo
e estudam o jogo. Tínhamos Envy, que era novato e não parava de jogar. Turtle era alguém que a maioria
considerava um lixo, quando ele entrou para a INTZ, mas ele se esforçou muito no jogo e sempre pedia mais
ajuda para melhorar. O Ayel apenas joga League 18 horas por dia. Não sei se ele devia fazer isso, mas é a
escolha dele.

Jockster e micaO, líderes esforçados e experientes

“O que quero dizer é, não foi impossível achar um grupo de cinco jogadores no Brasil que estavam
determinados a ser o melhor que podiam. E algum destes jogadores não eram muito bons mecanicamente,
mas tinham a mentalidade para obter sucesso. E enquanto é possível atingir sucesso sem boas mecânicas
mas boa mentalidade e inteligência, não dá pra alcançar muito com apenas habilidade mecânica.

“Isto se aplica às organizações. Uma org não pode obter sucesso com uma mentalidade negativa, e você deve,
como uma organização, excluir do seu meio times que trazem negatividade para os treinos. Se um time
desiste aos 10 minutos toda vez que está atrás, ou se um time invade a selva no level 1 e dá alguns abates e
desistem, não treine com eles! Isto é sempre uma opção que times têm. E um coach deve ajudar ao outro, sem

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precisar entregar muita informação, para que melhorias mútuas continuem e times continuem a melhorar por
causa da melhoria constante dos treinos.

Você acha que o compromisso com o trabalho é equivalente no Brasil e na Europa, entre
jogadores, ou você vê uma diferença?

“Acho que na Europa mais jogadores estão dispostos a chamar a atenção de colegas caso eles não estejam
trabalhando duro o su ciente. Acho que no Brasil todo mundo tenta ser amigável, então é raro que um jogador
vire para o outro e diga ‘ei! Você não está fazendo seu melhor, vamo trabalhar!’. Isto se torna uma
responsabilidade do coach. Na Europa, percebi que pessoas vão te dar broncas na frente de todo mundo se
você não está se entregando o su ciente. Às vezes conversam com você em particular também, mas alguém
vai te chamar a atenção.

“No Brasil, sinto que é sempre a responsabilidade do coach fazer isso, mas nem todos percebem isso como o
problema, às vezes não sabem o que fazer à respeito, especialmente se o jogador não é fácil de lidar, e talvez
o coach não tenha nem mesmo a autoridade para fazê-lo. Por exemplo, em algumas situações, como um
coach no Brasil, você não pode dizer ao seu jogador principal que ele precisa melhorar e trabalhar mais duro,
pois este jogador pode escolher piorar mais como resposta.”

Quantos jogadores no Brasil você percebeu que não são totalmente focados, ou que a
prioridade deles não é a carreira no League, mas sim lazer ou atividades alternativas?

“Eu trabalhei diretamente e diariamente com apenas 14 jogadores no Brasil. Dentre estes, todos foram bons
pro ssionais, em geral. O que não signi ca que eles não gostassem de festejar, claro que curtiam bastante.
Mas quando era a hora de treinar, estes 14 jogadores estariam presentes no horário combinado e dariam seu
melhor para eles mesmos e seus colegas. Não sei se dei sorte, ou se a INTZ tem um bom processo seletivo,
ou se o ambiente e as expectativas eram de um padrão maior.

“Mas sem trabalhar diretamente com outros jogadores é difícil eu criticar ou julgar sua ética de trabalho. Mas
eu sei que há pelo menos três ou quatro jogadores no CBLOL que não dão a mínima para o jogo. Talvez há
mais, talvez há menos, mas não acho que seja um problema tão epidêmico como as pessoas parecem achar.
É fácil dizer que ‘pro players tem uma vida fácil, jogam no computador o dia inteiro, só vão pra festa, não
respeitam os fãs’, coisas assim, não acho que seja verdade.

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Dos 14 jogadores com quem Peter trabalhou no Brasil, todos eram bons pro ssionais

“Acho que a carreira de jogador de LoL não é fácil. Você tem que manter seu corpo bem, sua mente no lugar,
um bom gameplay, você tem que jogar sob pressão, viver numa GH onde você tem que conviver com pessoas,
interagir com elas e trabalhar nas suas diferenças diariamente. Além disso, você tem que fazer isto
consistentemente por toda a temporada e mostrar alto nível nas fases eliminatórias, ou você pode perder
tudo.

“Acredito que os jogadores que são preguiçosos, apesar de habilidosos, serão descartados rapidamente, pois
não é fácil manter este nível de jogo.”

Você está dizendo que se um jogador não mantiver o nível, correrá o risco de perder o
emprego, pois é um cenário competitivo. É o que acontece em ambientes competitivos.
Porém, há uma teoria de que, por não haver muito investimento em novo talento da solo
queue e das ligas semi pro ssionais, os jogadores do CBLOL se tornaram confortáveis em
suas posições e não tentam melhorar além do nível atual pois aparenta não haver risco de
perda de emprego. O que você pensa disso?

“Se você tem uma abordagem a curto prazo em relação ao jogo e ao sucesso, você não pode investir em
jogadores jovens. Muitas vezes é difícil identi car quem será sua próxima estrela, seu próximo talento a longo
prazo, então é mais seguro reciclar jogadores que já estão no cenário, mesmo que estejam há tempo demais.
Acho que é mais uma questão de orgs arriscarem e investirem em talento quando ainda são muito jovens. A
INTZ, por exemplo, segue a loso a de procurar a próxima geração de talentos, mas nem sempre isto
funciona.

“Eu não acho que seja uma questão de jogadores antigos se tornarem complacentes, acho que é mais uma
questão de… Um jogador nunca vai recusar uma oferta de trabalho, ninguém tem uma oferta de emprego e
recusa dizendo que ‘aquela pessoa é melhor que eu para este trabalho’, e esta oportunidade está lá para eles
pois equipes estão à procura de sucesso a curto prazo, então acho que é mais uma responsabilidade delas
por procurar estes jogadores do que dos jogadores em si.”

Mas times brasileiros que investiram em sucesso a curto prazo tiveram tudo exceto
sucesso, enquanto times que investiram em novo talento e, teoricamente, sucesso a longo
prazo, como a KaBuM, tiveram o melhor ano. Os times deveriam aprender com isto que
este momento em que a liga brasileira está fraca é a hora de parar de reciclar talento e
começar a investir em jogadores jovens para vencer a longo prazo?

“Acho que há menos risco agora e menos a se perder, com certeza, mas você tem que ter jogadores
experientes e líderes no seu time. Acredito que você pode ter isto via seus treinadores ou seus jogadores.
Nada substitui experiência como atributo. Talvez você não use cinco jogadores experientes, mas você tem que
ter um ambiente onde há experiência o su ciente e onde há jogadores experientes que deleguem
responsabilidades para o time. Por exemplo, Jockster em 2017 estabeleceu expectativas claras para Ayel e
Envy. Se ele não fosse um líder para o time, talvez a equipe tivesse entrado em colapso. Mas por causa do
exemplo que ele deu aos jogadores mais jovens sobre como trabalhar, o desenvolvimento deles foi melhor.

“Se sua comissão técnica é forte o su ciente, você pode investir em mais novo talento. Mas jogadores
experientes trazem muito benefício também. No nal, tudo se resume a construir o time certo e a comissão
técnica certa com a loso a certa.”

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Você vê algum contraste entre a cultura do League brasileiro e o League europeu?

“Na Europa, eles gostam de contratar a comissão técnica primeiro. Na Splyce, eles me chamaram, me
disseram que queriam que eu trabalhasse como head coach e que então eu poderia construir o elenco do
zero. Eu não sei quantas orgs no Brasil fariam isto. Ouvi dizer que o Nuddle está voltando ao Brasil, e espero
que ele possa construir o time dele assim. Mas como uma organização, você deve con ar na sua comissão o
su ciente para deixá-los montar seu time.

O atual time de Peter Dun, a Splyce da LCS europeia

“Ou isto, ou você constrói a comissão em função dos jogadores, o que pode ser problemático se um coach
não se encaixa na loso a ideal para aquele elenco. Esta abordagem funciona melhor se a comissão tiver
uma função mais analítica. A Keyd fez isso. Eles montaram o time deles em função dos jogadores e trouxeram
uma comissão que faz um trabalho de apoio. Já a CNB tentou montar um time em função dos jogadores mas
com um coach autoritário, Strong, o que ajudou o time a implodir.”

E a DFM, que veio de uma região anteriormente mais fraca, e se saiu melhor que a
KaBuM?

“A DFM tem uma comissão técnica fortíssima, talvez a melhor das regiões emergentes. Não querendo
desrespeitar a comissão da KBM, que tenho certeza que também é competente. Mas times japoneses
também têm a vantagem geográ ca. Eles treinam contra times asiáticos, às vezes de regiões grandes, então
eles usufruem da polinização cruzada de ideias e isso contribui muito para o sucesso deles, é claro.”

Em seu TwitLonger, Ranger diz que comissões técnicas no Brasil são fracas. Você
concorda?

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“Vou te contar uma história sobre uma equipe brasileira que foi a um torneio internacional. Não a INTZ. Esta
equipe me pediu para ajudar a marcar treinos com times chineses. Eu os passei contatos detalhados, os times
chineses concordaram em treinar com este time brasileiro por uma sessão e, se fosse um bom treino, talvez
ofereceriam ainda mais oportunidades. Mas a comissão do time brasileiro nem mesmo entrou em contato
com nenhum dos times chineses. O coach de um destes times entrou em contato comigo e me perguntou
porque eu estava desperdiçando o tempo dele, me dizendo que tinha marcado um período de tempo para
treinar com o time brasileiro, e perguntou se os brasileiros eram pro ssionais.

“Por causa disso, é provável que se eu contactar este coach no futuro, não vou conseguir marcar um treino
com ele para o meu time. Porque este time brasileiro resolveu não usar o contato que foi dado para eles
treinarem com times de alto nível.

“É mesmo uma história triste. Eu tenho outra história também. Quando me tornei coach da Splyce, z um
acordo com um time brasileiro que, no meu tempo livre, ajudaria a comissão deles, conversando com eles e os
instruindo. Não tinha nem dinheiro envolvido, era algo voluntário, uma hora por semana, porque tenho
interesse em ajudar o desenvolvimento de coaches. Tivemos 12 compromissos marcados para eu conversar
com o coach deste time brasileiro. Três vezes ele apareceu na hora marcada, três vezes se atrasou e seis
vezes não apareceu, sem sequer avisar. As únicas vezes em que apareceu foram logo depois de derrotas no
CBLOL.

“Acho que de nitivamente há bons coaches no Brasil. Dionrray é um bom coach, acho que Lucas Pierre
[Maestro] é um bom coach novato, apesar da temporada difícil para ele. Há outros bons também. Eles têm
bom conhecimento sobre o jogo, o que não quer dizer necessariamente que sejam bons em treinar jogadores.
Mas para melhorar isto, times podem enviá-los a cursos de coaching e administração.

“Então não acho que as comissões técnicas no Brasil sejam fracas, mas talvez às vezes eles não têm a
experiência para lidar com certos tipos de jogadores e oferecer a liderança que deviam. Além disso, times
deviam pensar sobre como montar seus times melhor. Você não pode contratar um coach autoritário para
complementar um elenco estrelado, mas você deve fazê-lo se tiver um time jovem.

“Por isso a KaBuM venceu os dois splits este ano: eles montaram o elenco certo e colocaram a comissão
certa com a loso a certa para jogar em função de novas estrelas.”

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20/10/2018 Entrevista com Peter Dun: Os problemas do CBLOL – eInsider

Ranger, jogador da selva da KaBuM, escreveu um TwitLonger polêmico após a eliminação do Mundial, no qual culpou a todos
exceto aos jogadores pelos problemas do CBLOL

Sobre sua história do treino com os chineses. Você disse que perguntaram se os
brasileiros são pro ssionais. Isso traz à superfície outra pergunta sobre a cultura do
League brasileiro. Muitos parecem ter a impressão de que muitos envolvidos no cenário
não percebem que estão em um ambiente competitivo e pro ssional, mas pensam que
estão apenas jogando um jogo. Você acha que isto é verdade?

“Isso é difícil de dizer pois a minha história especi camente não é de responsabilidade dos jogadores. Marcar
treinos não é responsabilidade dos jogadores.

“Mas vou dizer o seguinte: se você quer ter sucesso, tem que haver um ambiente pro ssional, certo? Como um
coach, ou como jogadores de um time, ou como o dono de uma organização, você pode decidir ‘nós vamos
criar um ambiente muito pro ssional’. Você pode montar este ambiente e estabelecer esta expectativa. Isto
signi ca que se você tem este tipo de ambiente, você terá sucesso e promoverá este tipo de ambiente para o
resto dos times. Se um time se atrasa para o treino, você pode dizer a eles que não treinará com eles mais.

“Essa coisa de pro ssionalismo… Muitos jogadores no Brasil são muito jovens, então não é apenas a
responsabilidade dos jogadores ser pro ssionais sozinhos, mas também dos coaches e das organizações,
que têm a responsabilidade de estabelecer limites e expectativas para o que é comportamento adequado. Se
um jogador tem entre 17 e 21 anos de idade, não podemos esperar que eles simplesmente serão pro ssionais,
temos que esperar que a parte mais alta da hierarquia imponha as expectativas de pro ssionalismo.

“Se continuarmos culpando os jogadores, nos privamos de ir atrás de quem realmente deveria estar
estabelecendo padrões de pro ssionalismo.

“O jeito de melhorar o cenário brasileiro e evitar humilhações futuras em eventos internacionais é cobrar
também das comissões técnicas e das organizações. E não se trata só de mandar os jogadores irem para a

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cama às dez e acordarem às oito, se trata de entender com quem você está trabalhando e quais são as coisas
que fazem do ambiente um ambiente pro ssional e produtivo diariamente.”

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By Gabriel Daneliczin

Apaixonado por e-Sports, indie games e trilhas sonoras. Cobertura infalível das LCS. Melhor Rakan do BR.
Barco de papel nas horas vagas.

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