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Disciplinas espirituais

Débora Agapito da Silva

Quando ouvimos a palavra disciplina, nossa mente


pode associar o significado dessa palavra a mais de um
sentido. No contexto acadêmico como uma matéria a ser
estudada, no contexto bíblico, como uma punição a ser
executada e num sentido mais extenso da palavra, por
exemplo, quando afirmamos que uma pessoa é
disciplinada, entendemos a disciplina como um modo
constante de agir.

O dicionário online de português define disciplina


como submissão a regras, obediência a princípios; e por
extensão, também define a palavra como boa conduta e é
nesse sentido que vamos discorrer acerca das disciplinas
espirituais, como matérias práticas de vida ou códigos de
conduta cristã fundamentais cuja disposição é encontrada
de capa a capa na Bíblia Sagrada.

No dia em que aceitamos a Cristo como Salvador e


Senhor de nossas vidas, nos matriculamos na ‘’escola
das disciplinas espirituais’’ e diferentemente de qualquer
escola ou universidade na qual frequentamos por um
período limitado de tempo, nessa escola é exigida
frequência diária, nela não se tira férias, é uma escola da
qual não podemos tirar ou desviar os pés, até que Jesus
volte.

Leitura da Bíblia

A leitura da bíblia é um hábito indispensável no


cotidiano do crente. Encontramos essa prática na história
e trajetória do povo de Deus desde a sua formação. É
válido lembrarmos que quando Deus chamou Moisés para
libertar os hebreus da escravidão no Egito, não existia a
Bíblia como conhecemos e temos acesso atualmente,
pois essa coleção de livros chamada Bíblia Sagrada é
resultado de um processo que perdurou por muitos
séculos. Contudo, sabemos que Deus instituiu a lei para a
nação que Ele escolheu para si (nação de Israel) e
mandou que Moisés escrevesse o que Ele dissesse. Se
alguém escreve uma carta para outrem, o faz esperando
que o destinatário leia, alguém que formula e escreve
uma lei, não o faz para decoro de um recinto mas sim
com o propósito de trazer conhecimento e fazer com que
seja observada, sendo assim, Deus inspirou seus servos
para escreverem a sua palavra e ela foi escrita para que
leiamos, entendamos e obedeçamos. Vejamos algumas
referências bíblicas que apontam para essa prática de
leitura da palavra de Deus no Antigo Testamento:

E tomou o livro da aliança e o leu aos ouvidos do


povo, e eles disseram: Tudo o que o SENHOR
tem falado faremos, e obedeceremos. (Ex 24.7)
E o terá consigo, e nele lerá todos os dias da
sua vida, para que aprenda a temer ao SENHOR
seu Deus, para guardar todas a palavras dessa
lei, e estes estatutos, para cumpri-los; (Dt 17.9)
Quando todo o Israel comparecer perante o
SENHOR teu Deus, no lugar que ele escolher,
lerás esta lei diante de todo o Israel aos seus
ouvidos. (Dt 31.11)

Tais referências mencionadas apontam para um


contexto onde a liderança deveria ler para o povo, ou
seja, refere-se a uma prática de leitura coletiva, mas isso
não isenta a responsabilidade individual. Voltemos nosso
olhar para o salmista:
Assim observarei de contínuo a tua lei para
sempre e eternamente. (Sl 119.44)
O meus olhos anteciparam as vigílias da noite,
para meditar na tua palavra. (Sl 119.148)
Ainda parafraseando o salmista, façamos algumas
reflexões: ‘’como guardaremos a palavra em nosso
coração para não pecar contra o Senhor, se não nos
colocamos diante dela, com entusiasmo, para lê-la e
então praticá-la?,‘’como ela será lâmpada para os nossos
pés e luz para o nosso caminho se raramente ela está
diante de nossos olhos ou sobre as nossas mãos?’’.
Antes de prosseguir com o assunto, faz-se
necessário abrir um parêntese e ponderar que a prática
da leitura convencional não é acessível a todos; sabemos
que existe um grupo de pessoas que por razões diversas
não tiveram a oportunidade de aprender a ler, há muitos
que são portadores de alguma deficiência visual ou
auditiva, portanto, para estes, há caminhos eficazes como
por exemplo, a Bíblia em áudio, leitura em braile, as libras
e aplicativos que proporcionam uma leitura não
convencional, porém eficiente no sentido de promover o
mesmo conhecimento adquirido através da leitura
convencional.

Há várias referências bíblicas apontando para a


prática da leitura no Antigo Testamento, mas passemos a
observar a seguir, tal prática no contexto do Novo
Testamento. Jesus, o nosso maior exemplo em todas as
coisas, também é referência no quesito apresentado.
Temos respaldo histórico e cultural para inferir que Jesus
era leitor do Antigo Testamento desde cedo. O
evangelista Lucas narra o episódio em que Jesus, ainda
na sua adolescência, antes de iniciar o seu ministério
terreno, foi encontrado assentado entre os doutores da lei
ouvindo e interrogando-os, causando admiração em todos
que ali estavam em virtude de sua inteligência e
respostas; fato é que tais comportamentos são possíveis
por meio de conhecimento e o conhecimento de Deus é
conquistado quando o amamos, nos relacionamos com
ele e o conhecemos por meio da leitura de sua santa
Palavra. “E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou
num dia de sábado, segundo o seu costume, na
sinagoga, e levantou-se para ler.” (Lc 4.16).

Podemos encontrar ainda no Novo Testamento,


vários servos de Deus que demonstram ter adquirido
conhecimento por meio da leitura, a saber, o evangelista
Filipe que só de ouvir o etíope lendo, identificou que o
mesmo estava lendo o profeta Isaías (At 8.27-35), o
apóstolo Paulo escrevendo a Timóteo, instruiu-o a
persistir em ler (1 Tm 4.13), e escrevendo-lhe pela
segunda vez, disse: “Procura apresentar-te a Deus
aprovado, como obreiro que não tem de que se
envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.” (2
Tm 2.15).
Manejar bem a palavra da verdade exige dentre
muitas coisas, o ato de lê-la. Um acontecimento que nos
chama a atenção na vida do apóstolo Paulo, o maior
evangelista de todos os tempos, foi quando este na
condição de presidiário e próximo de sua morte, faz um
pedido peculiar a Timóteo: “Quando vieres, traz a capa
que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros,
principalmente os pergaminhos.” (2 Tm 4.13).

Não sejamos desleixados com a leitura da Bíblia.


Jesus num momento marcante de seu ministério, disse
que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a
palavra que sai da boca de Deus (Mt 4.4). Nós
alimentamos o nosso corpo físico todos os dias. E a
nossa alma? Ela tem recebido o alimento do céu com
qual frequência? Temos o conhecimento de que a Bíblia é
a palavra de Deus, portanto, devemos nutrir a nossa alma
dessa porção que nos foi dada, continuamente e não só
aos finais de semana no culto público, quando nos
reunimos com os nossos irmãos e pastores. Que sejamos
sempre sensíveis à voz do Espírito Santo, aquele que é o
nosso melhor companheiro, o nosso principal intérprete,
que Ele nos desperte cada vez mais para que a fome
desse alimento nunca cesse dentro de nós, que esse
‘’prato’’ nunca falte na nossa mesa, e assim não corramos
o risco de ficarmos com a alma raquítica.
Oração

A declaração de fé das Assembleias de Deus


define oração como: “um ato consciente, pelo qual a
pessoa dirige-se a Deus para se comunicar com Ele e
buscar a sua ajuda por meio de palavra ou pensamento”.

Isto posto, podemos afirmar que orar é conversar


com Deus. É na prática da oração que gozamos de uma
fraterna comunhão com o Senhor, é por meio dela que
somos fortalecidos, consolados e somos transformados à
semelhança de Jesus, segundo a vontade do Pai. Tiago,
um homem que, segundo os historiadores, era conhecido
por ter ‘’joelho de camelo’’ como resultado do hábito de
orar, escrevendo à igreja de Jerusalém disse que a
oração do justo pode muito em seus efeitos, e
acrescentou dizendo que o profeta Elias, homem sujeito
às mesmas paixões que nós, orou pedindo a Deus que
não chovesse por três anos e seis meses, e Deus o
respondeu. Ao percorrermos o Antigo Testamento nos
deparamos com tantos exemplos de homens e mulheres
que viveram uma vida de oração e ao lermos essas
histórias nosso coração é edificado por testemunhar as
obras maravilhosas que Deus operava no meio de seu
povo por intermédio da oração. Relembremos alguns
exemplos: A história de Ana, registrada em 1 Samuel
capítulo 1, é bem conhecida, pois tornara uma referência
de mulher que perseverou na oração:

E sucedeu que, perseverando ela em orar


perante o SENHOR, Eli observou a sua boca.
(1Sm 1.12)

Por este menino orava eu; e o SENHOR


atendeu à minha petição, que eu lhe tinha feito.
(1Sm 1.27)

Outro exemplo bem-sabido é o de Daniel que,


mesmo em circunstâncias difíceis, cativo na Babilônia,
sem a comodidade da sua terra natal e ainda correndo
perigos, ele orava de forma intencional, três vezes ao dia:

Daniel, pois quando soube que o edito estava


assinado, entrou em sua casa (ora havia no seu
quarto janelas abertas do lado de Jerusalém), e
três vezes no dia se punha de joelhos, e orava,
e dava graças, diante do seu Deus, como
também antes costumava fazer. (Dn 6.10)

Partindo para o contexto neotestamentário,


encontramos o nosso maior e melhor professor nesse
assunto, nosso Salvador e mestre Jesus, o qual nos
deixou o maior legado de oração. Os evangelhos são
ricos em apresentar muitas ocasiões nas quais Jesus se
retirava para orar. Vale ressaltar que Jesus, O filho de
Deus, aquele que tinha uma natureza divina, não deixou
de orar, e mais, não deixou de depender do Pai e é
exatamente assim que devemos nos comportar, a saber,
admitindo e agindo como dependentes de Deus, nosso
Pai. Vejamos logo adiante algumas passagens nas quais
encontramos Jesus orando.

Na ocasião da escolha dos apóstolos, antes de


nomeá-los, Jesus buscou a Deus em oração: “E
aconteceu que naqueles dias, saiu ao monte a orar, e
passou a noite em oração a Deus.” (Lc 6.12).

Depois de curar a sogra de Pedro, Jesus já era


muito conhecido pelas cidades e regiões vizinhas, a sua
fama estava crescendo cada vez mais e a sua postura de
submissão ao Pai permanecia: “E, levantando-se de
manhã, muito cedo, fazendo ainda escuro, saiu, e foi para
um lugar deserto, e ali orava.” (Mc 1.35).

A igreja primitiva e os apóstolos não teriam deixado


tamanho exemplo e legado, se não tivessem acesa, a
chama da oração. O livro de Atos dos apóstolos nos
fornece uma extensa lista de momentos perpetrados pela
oração. A escolha de um apóstolo para substituir Judas
(At 1.24); A descida do Espírito Santo (momento crucial,
um verdadeiro marco e o que impulsionou o crescimento
da igreja até os dias atuais), aconteceu quando os
apóstolos e discípulos de Jesus estavam reunidos em
oração: “Todos estes perseveravam unanimemente em
oração e súplicas, com as mulheres, e Maria mãe de
Jesus, e com seus irmãos.” (At 1.14).

Lembremos do centurião Cornélio que, antes de


experimentar o Batismo com o Espírito Santo, tinha uma
atitude piedosa diante de Deus e uma característica
dessa postura era uma vida de oração: “E havia em
Cesareia um homem por nome Cornélio, centurião da
coorte chamada italiana, piedoso e temente a Deus, com
toda a sua casa, o qual fazia muitas esmolas ao povo, e
de contínuo orava a Deus.” (At 10.1-2).

Que a nossa casa possa hospedar um verdadeiro


altar dedicado à oração, assim como era na casa de
Maria, a mãe João Marcos. Quando o apóstolo Pedro foi
milagrosamente, liberto da prisão, os discípulos estavam
reunidos clamando a Deus em favor de Pedro: “E,
considerando ele nisto, foi à casa de Maria, mãe de João,
que tinha por sobrenome Marcos, onde muitos estavam
reunidos e oravam.” (At 12.12).

Na instituição dos diáconos, os apóstolos relatam


que aqueles escolhidos para cuidar das viúvas deveriam
desempenhar esse serviço no cotidiano, enquanto eles
perseverariam na oração e no ministério da palavra (At.
6:4). Atentemos para essa combinação, pois a
conjugação aqui é clara; a oração é o ingrediente
essencial da vida do mestre, professor e/ou pregador,
todavia, não apenas desses, mas de todos os crentes. O
apóstolo Paulo era um líder amoroso e ao estudar sua
trajetória, notamos que a oração era um distintivo do seu
ministério. Ele orava pelas pessoas que estavam sob sua
tutela e pastoreio, mas também rogava a eles que
orassem em todo o tempo: “Orai sem cessar.” (1Ts. 5.17).

No sermão da montanha, talvez o mais conhecido


da Bíblia, Jesus instruiu os seus ouvintes sobre como
deveriam orar e instituiu o modelo de oração que deveria
conduzi-los no momento em que fossem falar com Deus.
Jesus alertou seus discípulos sobre a hipocrisia, ou seja,
não deveriam orar como os hipócritas que se compraziam
(gostavam mesmo era de serem vistos orando) nos
lugares públicos, como ruas e esquinas e que, em
contrapartida, deveriam buscar a Deus em secreto. Nesse
mesmo contexto, encontramos vários princípios
norteadores da oração que agrada a Deus, os quais
foram ensinados através da tão famosa ‘’Oração do Pai
Nosso’’. Não é possível esgotar aqui todos estes
princípios fundamentais sobre a oração, porém é válido
comentarmos brevemente sobre alguns:
● O caráter coletivo da oração, expressado pela
composição ‘’Pai nosso’’, é o suficiente para nos
ensinar a afastarmos de nós o egoísmo de
achar que somente eu careço das bênçãos do Pai,
é um lembrete para não cedermos aos caprichos
do individualismo;
● Devemos reconhecer Deus como aquele que
governa o universo. Ele está acima de tudo o que
existe, seja astros, planetas ou galáxias. Sua
moradia se encontra nos mais altos céus, ele está
rodeado de majestade e glória, nossos olhos
físicos e nossa natureza humana jamais podem
suportar tamanho esplendor;
● O nome d’Ele é santo e precioso, não podemos
pronunciá-lo em vão; As pessoas com as quais
convivemos reconhecem que o nome de Deus é
santificado na nossa vida?
● Devemos nos submeter ao Reino de Deus, pois
dizer ‘’venha o teu reino’’ é estar alinhado com a
ótica do reino, e isso só é possível obedecendo
aos mandamentos de Jesus como orarmos por
aqueles que nos perseguem, pagar o mal com o
bem, perder para ganhar;
● A nossa vontade, por mais intensa e sincera que
seja, precisa se dobrar ante a vontade divina; como
já bem disse um ministro do evangelho, oramos
não para mudar Deus, mas para mudarmos a nós
mesmos;
● O perdão possui um espaço vital nesse modelo de
oração instituído por Jesus. Liberar o perdão ao
nosso próximo é tão importante que, receber
perdão do nosso Pai celestial está diretamente
relacionado ao ato de perdoarmos o nosso
próximo; Aprendemos que, em algumas
circunstâncias nossas orações podem ser
impedidas, logo, a equação divina do perdão deve
governar nossas relações.

Não podemos negar que, muitos impedimentos


brotam todos os dias à nossa frente para que deixemos
de orar. Os afazeres parecem se multiplicar a cada
semana, mas a instrução bíblica é clara e soa aos nossos
ouvidos: devemos orar em todo o tempo. Como é bom
tecer uma boa conversa com quem amamos, porém, mais
precioso ainda, é desenvolver essa conversa com aquele
que nos criou. Que as tarefas, compromissos e
obrigações não nos roubem a alegria e o privilégio de
falar com Deus e gozar dessa comunhão.

Jejum
Jejuar é nos privar do alimento com o propósito de
rasgar o coração e render não apenas o nosso espírito ao
Senhor, mas também a nossa alma e corpo físico. O
renomado pastor Antônio Gilberto definiu o jejum da
seguinte maneira: “Jejum é a abstenção de alimentos
para busca mais intensa da face de Deus. É colocar Deus
em primeiro lugar.”.

Quando passeamos pelas páginas da Bíblia


Sagrada, nos deparamos com essa prática repetidamente
e sempre como um aliado da oração. Em diferentes
épocas, o povo de Deus se dirige a Ele com jejuns. Ao
repousar a nossa mente sobre o Antigo Testamento, a
história de Ester sempre vem à nossa memória, pois na
iminência do assassinato do seu povo, ela ordena a
Mardoqueu que, apregoasse um jejum por três dias, com
a finalidade de alcançar socorro divino e sabemos que a
vitória foi grande, Deus trouxe o livramento (Et 4.16).

O rei Davi fala sobre o jejum de uma maneira


peculiar. Em alguns de seus salmos, ele entende o jejum
como um instrumento para afligir a alma:

Mas, quanto a mim, quando estavam enfermos,


as minhas vestes eram o saco; humilhava a
minha alma com o jejum, e a minha oração
voltava para o meu seio. (Sl 35.13)
Quando chorei, e castiguei com jejum a minha
alma, isto se me tornou em afrontas. (Sl 69.10)

Existem batalhas no campo espiritual que só


conseguimos lutar se estivermos revestidos da Palavra,
oração e o jejum. Jesus, no início de seu ministério, foi
conduzido ao deserto pelo Espírito Santo, para ser
tentado pelo diabo. Ali jejuou quarenta dias e quarenta
noites e logo após essa intensa busca, sabemos o quanto
Jesus foi vitorioso frente a tentação (Mt 4.2).

Jesus também trouxe um valioso ensinamento aos


seus discípulos quando estes não conseguiram expulsar
o demônio de um homem lunático. Salientou que aquela
casta só seria expulsa por meio da oração e do jejum (Mt
17.21).

A igreja primitiva praticava o jejum avidamente.


Tantas vezes encontramos o jejum como um aliado da
oração, não só na intenção de se consagrarem a Deus,
mas obter resposta divina acerca das demandas da igreja
e das decisões a serem tomadas. Dentre essas
referências, temos a primeira viagem missionária de
Saulo sendo regada de oração e jejum (At 13.2-3).

O jejum evidencia o fortalecimento do espírito


sobre a carne, traz à tona um coração contrito e uma
alma derramada diante do Senhor. Tem a ver também
com a urgência das nossas necessidades e torna-se uma
arma, um recurso eficaz nas lutas que travamos contra o
inimigo de nossas almas. O jejum não é uma espécie de
distintivo que colocamos no peito para nos apresentarmos
diante das pessoas como alguém que é mais santo ou
melhor; cabe aqui novamente o ensino de Jesus sobre o
jejum, onde ele alerta seus discípulos para não jejuarem
como os hipócritas que, jejuavam com o semblante caído
para mostrar aos homens que estavam jejuando,
preferindo dessa forma, serem galardoados pelos homens
em vez de serem recompensados por Deus. O
cumprimento da promessa não falha, Deus tem
compromisso de honrar publicamente aqueles que não
fazem questão de colocar suas obras no alto-falante. Não
cedamos à tentação de sermos vistos pelos homens,
tenhamos cada vez mais aguçado em nós, o desejo de
sermos visto por Deus, que nos vê em secreto.

Para concluir o referido tema, porém de uma


maneira mais ampla, façamos uma reflexão sobre o
jejum, através das palavras de um erudito, considerado
como um dos pais da igreja:

Você jejua? Dê-me prova disto por suas obras.


Se você vê um homem pobre, tenha piedade dele.
Se você vê um amigo sendo honrado, não o inveje.
Não deixe que somente a sua boca jejue, mas também
o olho e o ouvido e o pé e as mãos e todos os membros
de nossos corpos.
Que as mãos jejuem, sendo livres de avareza.
Que os pés jejuem, cessando de correr atrás do
pecado.
Que os olhos jejuem, disciplinando-os a não fitarem o
que é pecaminoso.
Que os ouvidos jejuem, não ouvindo conversas más e
fofocas.
Que a boca jejue de palavras vis e de criticismo injusto.
Porque, qual é o proveito se nos abstemos de aves e
peixes, mas mordemos e devoramos os nossos irmãos?
Possa Aquele que veio ao mundo para salvar
pecadores nos fortalecer para completarmos o jejum
com humildade, tendo misericórdia de nós e nos
salvando.
João Crisóstomo

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