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Índice

1.0.Introdução...............................................................................................................................2

1.1.1.Objectivos............................................................................................................................2

1.1.2.Específicos:..........................................................................................................................2

1.1.3.Metodologia.........................................................................................................................2

2.0.Conceitos básicos....................................................................................................................3

2.2.1.Breve historial sobre a génese do escândalo financeiro em Moçambique..........................4

2.2.2.O lugar do relatório da Kroll nas indagações das dívidas ocultas.......................................6

2.2.3.Criticas ao fracasso do relatório da Kroll na investigação da divida publica......................8

2.2.4.Consequências económicas, políticas e sociais do escândalo financeiro em Moçambique 9

2.2.5.Consequências na esfera económica....................................................................................9

2.2.6.Consequências na esfera social..........................................................................................12

2.2.7.Consequências na esfera política.......................................................................................13

3.0.Conclusão..............................................................................................................................14

4.0.Bibliografia...........................................................................................................................15

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1.0.Introdução
O trabalho foi orientado na cadeira de História de Moçambique dos meados do século XX
até século XXI, o trabalho tem como tema: os problemas políticos, económicos contemporâneos
em Moçambique, o caso de escândalo financeiro. De referir que o presente trabalho, reúne uma
série de abordagens do tema em estudo, sobretudo no que toca aos problemas políticos e
económicos que Moçambique está enfrentando motivados pelo escândalo financeiro.

Observa-se que o escândalo financeiro em Moçambique tem sido cotado nos últimos
tempos como um dos mais elevados do mundo, em 2016 o seu volume atingiu o nível de
insustentabilidade e nos últimos anos a trajectória da insustentabilidade da dívida, aliada ao
incumprimento junto aos credores, tem crescido. Segundo dados do Governo Moçambicano de
2017, o stock total da dívida pública no final de 2017 (com exclusão da garantias) foi 661.369,8
milhões de Meticais, correspondente a cerca de 81,8% do PIB, sendo 554.470,2 milhões de
Meticais de dívida externa e 106.899,6 milhões de Meticais de dívida interna.

1.1.1.Objectivos
Geral:

 Compreender os problemas políticos, económicos contemporâneos em Moçambique, o


caso de escândalo financeiro.

1.1.2.Específicos:
 Explicar o contexto do surgimento do escândalo financeiro em Moçambique
 Identificar as consequências socioeconómicas e politicas motivadas pelo escândalo
financeiro em Moçambique.

1.1.3.Metodologia
Para a efectuação deste presente trabalho foi basicamente usadas as seguintes mitologias,
consulta bibliográfica efectuada na internet, n analise de ideias avançadas pelos vários autores
e por fim compilação de resultados e redacção do trabalho final. De salientar que as várias
obrais consultadas estão listadas na página de bibliografia.

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2.0.Conceitos básicos
Segundo Catarino (2012), a dívida pública é uma instituição relativamente recente das
finanças contemporâneas. Isto justifica-se, para este autor, em primeiro lugar pela proibição que
existia nos Estados católicos ao longo da Idade Média de se conceder empréstimos com juros e,
em segundo lugar, pela forma como o pensamento liberal abordava a temática do uso do crédito
pelos Estados.

O estudo sobre as dívidas públicas, é levado a cabo por teóricos contemporâneos


sobretudo da ideologia socialista a título de Karl Max para explicar o quanto a ideologia
capitalista pode ser prejudicial para países em via de desenvolvimento, se não for bem entendida.
Acredita-se que surgimento da dívida pública prende-se com o surgimento do capitalismo e do
seu modelo de produção servindo como um instrumento de apoio para acumulação do capital.
Este instrumento pode ser gerador de um bom impacto para economia do Estado que a ele recorre
assim como não, tudo depende dos moldes em que o empréstimo é feito e gerido, a estrutura e os
fins da economia em causa.

José (2019), chega longe ainda ao referir que a dívida pública torna-se uma das mais
enérgicas alavancas da acumulação primitiva. Tal como o toque de uma varinha mágica, ela dota
o dinheiro improdutivo de força criadora e o transforma, desse modo, em capital, sem que tenha
necessidade para tanto de se expor ao esforço e perigo inseparáveis da aplicação industrial e
mesmo usurária.

De acordo com CIP (2021), aponta para o caso de Moçambique, que as Dívidas Ocultas é
a expressão utilizada para denominar a dívida associada aos empréstimos feitos em 2013 e 2014
para três empresas públicas a Empresa Moçambicana de Atum SA (EMATUM)1, a Mozambique
Asset Management (MAM) e a ProIndicus SA – todas tuteladas pelo Ministério da Defesa. A
dívida da EMATUM veio ao conhecimento público em 2013, enquanto a dívida do MAM e
Proindicus permaneceram ocultas até Abril de 2016. Este autor explica o motivo pelo qual a
divida é designada oculta, onde para ele, a divida não apareceu em nenhum documento acessível
ao público, como na estatística fiscal, no Orçamento do Estado, na Conta Geral do Estado ou

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É uma das empresas estatais envolvidas no escândalo das dívidas ocultas no valor de 2 mil milhões de dólares
descobertas em 2016 e em que o destino continua por apurar.
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noutros documentos de forma como devia ser em linha com o quadro legal e regulativo e de boas
práticas.

2.2.1.Breve historial sobre a génese do escândalo financeiro em Moçambique


Muito antes, importa referir de acordo com de acordo com CIP (2021),

Os beneficiários do escândalo financeiro eram um pequeno grupo


de indivíduos acusados de estar envolvidos na elaboração do
esquema. Eram três grupos distintos, todos eles provindos de elites
e já abastados nos seus respectivos países. Destacam-se: 1)
banqueiros na Europa; 2) políticos e pessoas com influências
políticas em Moçambique (os que receberam subornos ou que
desviaram dinheiro das empresas); e 3) Privinvest, com os seus
donos, funcionários e intermediários. […] Estes empréstimos não
trouxeram nada que, mesmo com um esforço de imaginação,
possamos chamar um benefício público. Em outras palavras,
nenhum moçambicano – além dos implicados no esquema – se
beneficiou das dívidas ocultas. […] As dívidas ocultas foram
angariadas de maneira ilegal e, segundo a PGR, criminal. O
Conselho Constitucional declarou-as inconstitucionais (p.18)

De acordo com o trecho acima, a divida foi efectivada sem benefícios ao povo, mas sim
para pequenos grupos de elite que junto elaboraram o esquema para o endividamento, deste
modo, trata-se de banqueiros corruptos da europa, políticos e pessoas com influências políticas
em Moçambique, esses que receberam subornos ou que desviaram dinheiro das empresas e a
Privinvest que foi responsável pelo fornecimento dos 24 navios de pesca e seis navios de patrulha
e fornecimento de equipamento para a EMATUM, MAM e Proindicus foi o principal contratante
nos contratos marítimos de Moçambique. O público moçambicano não se beneficiou de algum
centavo deste escândalo, como afirma o autor: Estes empréstimos não trouxeram nada que,
mesmo com um esforço de imaginação, possamos chamar um benefício público. A divida foi
contraída sem consentimento parlamentar e segundo PGR foi uma divida ilegal e considerada
criminal.

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A história das dívidas ocultas em Moçambique começa quando, algures depois de 2010,
indivíduos numa empresa Franco-Libanesa de construção naval baseada no Médio Oriente, a
Privinvest, fazem contacto com gestores no banco Credit Suisse e algumas pessoas ligadas ao
Governo de Moçambique com a proposta de um negócio bilionário. O pressuposto era que,
devido às receitas futuras decorrentes da exploração do gás recém-descoberto na bacia de
Rovuma, Moçambique podia aceitar recursos financeiros dos bancos com a promessa crível de
que facilmente teria a capacidade de reembolsá-los.

De acordo com Hanlon (2017), em 2011-2013, o Presidente Guebuza foi apresentado com
uma proposta secreta para a criação de uma frota pesqueira de atum, uma empresa de segurança
marítima e uma empresa de reparação e manutenção de navios. A pesca ilegal e a pesca não
regulamentada constituem um grande problema em África, especialmente em Moçambique,
portanto uma empresa nacional de atum poderia ser lucrativa e explorar os recursos locais. Da
mesma forma, Moçambique poderia estabelecer soberania sobre as suas próprias águas
territoriais e fornecer segurança para a indústria de gás natural.

Assim, foram criadas três empresas estatais, em grande parte detidas pelo serviço de
segurança SISE (Serviço de Segurança e Inteligência do Estado)

 Ematum (Mozambique Tuna Company, empréstimo de US $ 850 milhões) para


uma frota de atum e frota marítima de segurança, 33% detida pelo IGEPE
(Empresa do Estado), 33% pela Emopesca (Companhia do Estado para pesca), e
33% pelo SISE;
 Proindicus (US $ 622 milhões) para fornecer segurança marítima, principalmente
para petróleo offshore e operações de gás, detidas a 50% pelo Monte Binga
(Ministério da Defesa e Empresa do Governo Central) e 50% pelo SISE; e
 Mozambique Asset Management (MAM, US $ 535 milhões), criada para
reparação marítima e manutenção, 98% pertencentes ao SISE e 1% para cada uma
das empresas criadas, nomeadamente para Ematum e Proindicus, respectivamente.

Deste modo as três empresas e projectos estão vinculados, sendo que o director executivo
(CEO) de todas as três empresas é o administrador do SISE, António Carlos do Rosário. A
Privinvest (é responsável pelo fornecimento dos 24 navios de pesca e seis navios de patrulha e
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fornecimento de equipamento para a EMATUM, MAM e Proindicus) é o principal contratante
nos contratos marítimos de Moçambique (Hanlon, 2017).

Entretanto, o escândalo financeiro de maior dimensão eclodiu quando a 3 de Abril de


2016, o Wall Street Journal informou sobre a existência de quase USD 1,2 mil milhões
anteriormente não divulgados referentes aos empréstimos das empresas ProIndicus e MAM.
Mesmo assim, no começo, o Governo continuou a declinar a existência dos empréstimos, o que
reflectiu a politização da estratégia económica do Governo, ignorando os padrões internacionais
de boa governação comummente aceites.

Há que ressaltar que nas primeiras instâncias, o Governo de Moçambique optou pela via
de ocultação dos factos. Foi a imprensa nacional e internacional que começou a questionar as
dívidas. Foi a sociedade civil, em Maputo, que fez campanha a pedir transparência. Foi a
comunidade doadora que fez pressão para conseguir uma auditoria às três empresas e grande
parte dos detalhes que sabemos foram revelados em tribunais de Londres e de Nova Iorque. Em
vez de ser prestativo com informação, a falta de transparência reinava, e a isso ajuntavam-se
declarações que visavam desnortear o público, tal como a contínua recusa da existência da dívida.
Ao não “pôr as cartas na mesa”, o Governo alimentou um clima de suspeitas e desconfiança que,
a partir de Abril de 2016, se transformaram em consequências económicas e político-
institucionais.

2.2.2.O lugar do relatório da Kroll nas indagações das dívidas ocultas


Na visão de Ferreira (2020), o relatório foi preparado pela Kroll Associates U.K. Limited
“Kroll”, que foi nomeada pela Embaixada da Suécia em Maputo o cliente para realizar uma
Auditoria Independente nas actividades das empresas ProIndicus S.A., EMATUM S.A. e
Mozambique Asset Management S.A. Sob a direcção do Ministério Público da República de
Moçambique, em conjunto com o Cliente e Gabinete do Procurador Geral da República de
Moçambique (os “Destinatários Autorizados”), o relatório teve como objectivo principal de
avaliar a existência de infracções penais ou outras irregularidades relacionadas ao
estabelecimento e financiamento de contratos de aquisição e às operações da ProIndicus S.A.,
EMATUM S.A. e Mozambique Asset Management S.A.

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Entre várias conclusões do relatório, as seguintes são destacadas pelo Centro de
Integridade Publica (CIP) devido à sua gravidade como: Aproximadamente US $ 500 milhões
(cerca de ¼ do valor total do empréstimo) permanece inexplicada, sendo que alegadamente, este
montante foi incluído no Orçamento do Estado e utilizado para a compra de equipamento militar,
mas a Kroll não conseguiu corroborar; Desvio de US $ 713 milhões (mais de 1/3 do valor total do
empréstimo) por meio de superfacturamento de mercadorias, existindo uma suspeita de
inconsistência entre o custo do equipamento adquirido para segurança marítima e os custos que
deveriam ser incursos; Cerca de US $ 200 milhões (cerca de 10% do valor total do empréstimo)
gastos em comissões pagas a bancos e outros agentes que intermediaram os empréstimos e Foi
descoberta uma conta bancária não revelada detida pela EMATUM e um pagamento ao banco
Credit Suisse de US $ 51 milhões que precisava de mais explicações.

O relatório de Kroll (2017) analisa cuidadosamente a questão das garantias das três
empresas mencionadas e nota ainda que solicitou informação aos bancos locais relativamente a
transacções internacionais que envolveram as empresas moçambicanas que solicitaram os
empréstimos. E a data do respectivo relatório, a Kroll não recebeu nenhuma informação
relevante, levantando sérias questões sobre a conduta destes bancos e sugere que algumas das
condutas inadequadas podem ser criminais, especialmente com relação à falta da devida
diligência nos empréstimos. A auditoria feita mostra que não foi feita uma avaliação correta sobre
os empréstimos realizados as empresas Proindicus e à Ematum, violando assim a lei britânica,
uma vez que este banco tem sede em Londres. É necessário acrescentar que tanto a Credit Suisse
como a SISE não quiseram colaborar com a informação solicitada pela Kroll sobre os
empréstimos realizados.

Segundo Ferreira (2020), os pedidos da Kroll por informações detalhadas sobre os


empréstimos da ProIndicus, Ematum e MAM resultaram em apenas uma partilha muito limitada
de informações. Os balancetes e extractos bancários estavam incompletos e a documentação
sobre os acordos de empréstimo e contratos com fornecedores irregulares (Kroll 2017). Hanlon
(2017), ilustra o grau de sigilo apontando para uma alegação de que a Ematum mantinha volumes
de documentos relativos ao contrato de propriedade intelectual e transferência de tecnologia, mas
nenhum deles colocados à disposição da Kroll.

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2.2.3.Criticas ao fracasso do relatório da Kroll na investigação da divida publica
Divido ao fracasso do relatório da Kroll, no procedimento da pesquisa sobre as dívidas
ocultas foi sujeita a algumas críticas por parte da CIP que criticam a não identificado das pessoas
envolvidas no caso do escândalo financeiro em Moçambique.

Segundo Ferreira (2020), As dívidas ocultas que tiveram lugar em Moçambique, foram
alvo de uma auditoria independente, levada a cabo por uma empresa estrangeira, contrata pela
Procuradoria-Geral da República. No entanto, o relatório da Kroll foi alvo de algumas críticas
como, por exemplo, a do Centro de Integridade Pública, que considera que a versão resumida
tornada pública pela PGR que não identifica os nomes dos principais atores implicados neste
processo, mas fornece informações e relevância jurídica suficientes para permitir a acção
imediata da PGR para responsabilizar os envolvidos com actividades criminosas, naquele que é o
maior escândalo financeiro em Moçambique desde a sua existência como Estado.

Ferreira (2020), aponta outras críticas que surgiram após a divulgação do relatório foram
as das empresas envolvidas no caso da dívida oculta, que contestaram as suas conclusões. As três
empresas públicas envolvidas (EMATUM, ProIndicus e MAM) questionaram as duas principais
conclusões da Kroll, incluindo que mais de US $500 milhões em dívidas permanecem
inexplicadas, e afirmam que todo o projecto de segurança marítima cujos empréstimos
financiaram “era público desde o primeiro dia”, de acordo com uma carta dos seus advogados,
Alexandre Chivale & Associados, dirigido à Procuradora Geral da República, Beatriz da
Consolação Bushilli.

De acordo com Ferreira (2020), praticamente não houve tentativa do Governo de


Moçambique de colaborar na realização da auditoria independente. Esse fato repete-se ao longo
das 64 páginas do Sumário Executivo do relatório, em que a Kroll reclama da falta de acesso a
fontes de informação essenciais para a condução da auditoria e esclarecimento dos fatos que
envolvem os empréstimos ocultos. A falta de colaboração no fornecimento de informação não foi
exclusividade das empresas moçambicanas (EMATUM, ProIndicus, MAM), que foram objecto
da auditoria e que, obviamente, têm interesse em esconder as más práticas que nortearam todo o
processo de endividamento. O Ministério da Economia e Finanças e os Serviços de Informação e
9
Segurança do Estado (SISE), entidades-chave com conhecimento sobre as transacções, também
se abstiveram de fornecer informações. Esta falta de cooperação revela, portanto, que, durante os
6 meses da auditoria internacional, o Presidente da República e o seu Governo mentiram ao povo
moçambicano, afirmando repetidamente e publicamente que as instituições em causa tinham todo
o interesse na auditoria e, portanto, iriam clarificar totalmente as áreas escuras em torno da caixa
das dívidas ocultas.

2.2.4.Consequências económicas, políticas e sociais do escândalo financeiro em


Moçambique
Tal como acontece com todas as acções, no que concerne ao endividamento público do
Estado existe uma cadeia de consequências que pode ser sequencial ou não. De forma geral, o
endividamento público agravado de um Estado e a má aplicação do respectivo crédito propicia
um conjunto de aspectos negativos para economia, colocando-a vulnerável a pressões e gerando a
instabilidade das variáveis macroeconómicas.

2.2.5.Consequências na esfera económica


Como consequência do escândalo para o país, José (2019), começa por referir que:

Moçambique tem sido apontado como um dos países mais


perigosos para se investir, cenário agravado pelas classificações
atribuídas pelas agências financeiras internacionais que têm
classificado Moçambique em default financeiro, ou nos casos mais
graves em incumprimento selectivo.

Como podemos observar, o trecho acima reflecte-nos que Moçambique foi classificado
pelas agências financeiras internacionais como um prejuízo, ou seja, Moçambique é tido por estas
agências como sendo um descuidadoso, negligente, justamente por descumprimento dos prazos
dos contratos, por esta razão, Moçambique considera-se um dos países mais perigoso para
investimento.

José (2019), sublinha que a dívida pública de Moçambique tem sido cotada nos últimos
tempos como uma das mais elevadas do mundo, em 2016 o seu volume atingiu o nível de
insustentabilidade e nos últimos anos a trajectória da insustentabilidade da dívida, aliada ao
incumprimento junto aos credores, tem crescido. Segundo dados do Governo Moçambicano de
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2017, o stock total da dívida pública no final de 2017 (com exclusão da garantias) foi 661.369,8
milhões de Meticais, correspondente a cerca de 81,8% do PIB, sendo 554.470,2 milhões de
Meticais de dívida externa e 106.899,6 milhões de Meticais de dívida interna. Dados
apresentados recentemente pelo FMI apontam para subida da dívida pública de Moçambique,
esperando-se uma percentagem de 112,9% em 2018.

O autor afirma ainda que:

O aumento do stock da dívida que tem se verificado


nos últimos anos tem sido associado ao recurso vicioso do
crédito pelo Governo para escondê-la, à elevada despesa
pública Moçambicana, ao corte de financiamento ao
Orçamento do Estado pelos doadores internacionais e à
ineficácia da política fiscal, dentre outros aspectos (p.6).

Portanto pode-se deduzir houve uma tendência enorme de esconder este enorme
escândalo que deixou povo moçambicano numa miséria insuportável, devido ao vício por parte
da elite moçambicana de ganhar mais crédito pela divida, facto este, que fez com que o stock da
divida aumentasse duma forma incontrolável.

Ferreira (2020), comunga ideias com José (2019) ao referir que a crise da dívida,
abrandou em 7,4% o crescimento económico em Moçambique em 2014 para 3,8 por cento em
2016, de acordo com o Relatório de Actualização Económica de Moçambique do Banco Mundial.
De acordo com o Banco Mundial, as dívidas ocultas afectaram muito a distribuição de
rendimento, fazendo com as taxas de empréstimos do banco comerciais tivessem um aumento na
casa do 28,60%, um dos mais elevados a nível de África. Em Julho de 2018, o FMI considerou
que “o orçamento de 2018 deve reduzir decisivamente o défice fiscal”. Foram propostas, linhas
directivas para eliminação de isenções fiscais, redução salarial e redução na implementação de
investimento público.

CIP (2021), aponta que, a depreciação da moeda moçambicana ultrapassou em grande


maioria os países exportadores africanos de matérias-primas, tais como Angola, onde as pressões
económicas foram agudas. O enfraquecimento do metical acelerou o ritmo da inflação, tornando
os preços elevados, com impacto desproporcionado nos pobres. A inflação anual atingiu 25% em
11
Outubro, com a inflação dos preços dos alimentos atingindo 40%. A inflação tem sido mais grave
para os pobres, uma vez que os produtos alimentares representam uma parte dominante da sua
cesta de consumo. Adicionalmente, o fraco metical também aumentou significativamente o peso
da dívida, sendo os empréstimos anteriormente não divulgados empurraram a dívida para 86% do
PIB nos finais de 2015

José (2019), refere que com o aumento do endividamento público, Moçambique


experimentou de 2014 a 2018 uma onda de flutuação fora do comum. Um dos períodos mais
intensos desta crise foi o período de Janeiro de 2014 a Outubro de 2016, onde o metical
experimentou uma severa depreciação face as principais moedas comerciais naquele país, 1 Dólar
norte-americano que em Janeiro de 2014 custava 30 Meticais chegou, em Outubro de 2016, a
custar 75 meticais, situando-se actualmente no 69 meticais devido as intervenções do Banco
Central, que tem vindo a ser anuladas devido ao crescente endividamento doméstico, resultante
das práticas despesistas do Governo.

Na perceptiva de CIP (2021), a crise económica foi causada, em parte, pela própria dívida
mas, ainda mais pelos danos que derivaram do sigilo e da corrupção, e a consequente
descredibilização. O seu impacto sobre os moçambicanos foi muito mais do que só as dívidas
ocultas em si. Quando começaram a circular rumores sobre empréstimos ocultos, os ministros
moçambicanos mentiram ao FMI e aos embaixadores dos países parceiros de desenvolvimento de
Moçambique, negando a existência de quaisquer empréstimos. Quando o Wall Street Journal
revelou a dívida oculta, em Abril de 2016, a reacção foi extrema. Os doadores e credores, que
mantiveram o país à tona, deram uma machadada ao seu apoio, que diminuiu drasticamente. O
FMI suspendeu o seu programa e os doadores cancelaram o apoio directo ao orçamento e outras
ajudas ao governo, trata-se de uma redução de USD 831 milhões em 2016 em comparação com o
ano anterior. O efeito que resultou desta situação incluiu uma crise fiscal que impossibilitou o
governo de pagar as suas contas; houve uma grande desvalorização da moeda; a dívida externa
tornou-se impagável; a economia desacelerou fortemente; o PIB real per capita caiu; o
desemprego disparou; e a pobreza aumentou.

Em suma, são várias as consequências negativas que são atribuídas ao elevado


endividamento público, das quais mencionamos a desvalorização da moeda, a inflação, limitação

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e a redução da intervenção do Estado, a redução do consumo, a redução do investimento, o
aumento do desemprego e a desaceleração do crescimento económico. Estas consequências
advêm na sua maior parte da não aplicação do crédito de uma forma que beneficie a economia e
da má gestão da dívida pública nos processos subsequentes de endividamento.

Por outro lado, o próprio relatório refere que o mesmo não constitui uma recomendação,
endosso, opinião ou aprovação de qualquer tipo com relação a qualquer transacção, decisão ou
avaliação, e não deve ser invocada ou divulgada como tal em qualquer circunstância. Além de
que o trabalho da Kroll realizado na produção do Relatório Final não constitui uma revisão legal
de demonstrações financeiras e não foi realizada de acordo com as normas internacionais de
auditoria, sendo que foi realizada de acordo com as actividades investigativas acordadas descrito
nos Termos de Referência definidos pela PGR.

Para a CIP (2021) em vista das descobertas do relatório da Kroll, é estranho que ainda não
existam acções visíveis de responsabilização das pessoas envolvidas neste processo, visto que a
Procuradoria-Geral da República já havia recebido o relatório completo da auditoria há mais de
um mês, juntamente com o fato de as provas necessárias às acusações neste caso (instrução
preparatória) estarem a ser preparadas há mais de um ano. Além disso, o Centro de Integridade
Pública argumenta que a PGR tem o papel de acusar criminalmente os envolvidos, o que deve
incluir a prisão preventiva de quem possa obstruir o processo de investigação em curso e deve, no
exercício das suas funções, apreender preventivamente os bens de todos os envolvidos no
processo em curso e dos que possam estar implicados, a fim de indemnizar o Estado pelos danos
causados pela sua acção em violação da lei. A PGR também deveria responsabilizar as
instituições que se recusaram a prestar informações à Kroll que, por mandato da PGR, auditaram
as dívidas.

2.2.6.Consequências na esfera social


De acordo com CIP (2021), a redução repentina dos donativos externos após a revelação
das dívidas ocultas em Abril de 2016 desencadeou uma instabilidade fiscal e monetária que
obrigou o governo a reduzir severamente os gastos públicos. Há muitos indícios de que a pobreza
aumentou durante os anos posteriores a 2015, em várias formas de medi-la. O aumento súbito da
inflação em 2016 e o aumento dos preços deixaram 2,6 milhões de pessoas abaixo do limiar da

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pobreza baseada no consumo, conforme mostram estudos que projectam níveis de pobreza em
2016 usando dados mais recentes dos inquéritos às famílias. Nesta base estimou-se a proporção
do aumento da pobreza a ser explicada pelas dívidas ocultas e constatou-se por causa do
escândalo das dívidas ocultas, pelo menos 1,9 milhões de pessoas ficaram abaixo da linha de
pobreza baseada no consumo até 2019. Esta é a medida mais clara da tragédia que o escândalo da
dívida oculta infligiu aos moçambicanos.

2.2.7.Consequências na esfera política


Segundo CIP (2021), As dívidas ocultas e o escândalo que se seguiu impactaram
fortemente na política e nas instituições e levaram contradições e conflitos no Estado
Moçambicano.

 Mais contradições e conflitos debilitantes dentro do estado e do sistema político;


 Pior qualidade de governação e enfraquecimento de instituições estatais;
 Descredibilização do regime e do governo;
 Um país menos democrático e mais autoritário.

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3.0.Conclusão
Finda a realização do trabalho, conclui-se a história das dívidas ocultas em Moçambique
começa quando, algures depois de 2010, indivíduos numa empresa Franco-Libanesa de
construção naval baseada no Médio Oriente, a Privinvest, fazem contacto com gestores no banco
Credit Suisse e algumas pessoas ligadas ao Governo de Moçambique com a proposta de um
negócio bilionário. O pressuposto era que, devido às receitas futuras decorrentes da exploração
do gás recém-descoberto na bacia de Rovuma, Moçambique podia aceitar recursos financeiros
dos bancos com a promessa crível de que facilmente teria a capacidade de reembolsá-los.

No tocante a marcas indeléveis, conclui-se que o escândalo financeiro, trouxe para


Moçambique vários impactos negativos sobretudo na esfera social e económica. Inclui-se aqui a
desvalorização da moeda, a inflação, limitação e a redução da intervenção do Estado, a redução
do consumo, a redução do investimento, o aumento do desemprego e a desaceleração do
crescimento económico. Estas consequências advêm na sua maior parte da não aplicação do
crédito de uma forma que beneficie a economia e da má gestão da dívida pública nos processos
subsequentes de endividamento. O aumento súbito da inflação em 2016 e o aumento dos preços
deixaram 2,6 milhões de pessoas abaixo do limiar da pobreza baseada no consumo, conforme
mostram estudos que projectam níveis de pobreza em 2016 usando dados mais recentes dos
inquéritos às famílias.

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4.0.Bibliografia
CIP (2021), Custos e Consequências das Dívidas Ocultas para Moçambique. Editores
Maputo, Moçambique / Bergen, Noruega.

Catarino, João Ricardo, (2012). Finanças Públicas e Direito Financeiro, Almedina.

Ferreira, Amílcar (2021). Crise da Dívida Pública em Moçambique: Análise das Causas e
Propostas de Solução. Editor ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa.

José, Miguel. Luís, (2019). O Agravamento do Endividamento Público e as


Consequências para a Economia de um Estado em Desenvolvimento: O Caso de Moçambique.
Editor Universidade de Lisboa.

Hanlon, J. (2017). Kroll tells a tale of misconduct, incompetence and secrecy – no one has
clean hands. Club of Mozambique. Disponível em «http://clubofmozambique.com/news/kroll-
fullreport-2-kroll-tells-a-tale-of-misconduct-incompetence-and-secrecy-no-onehas-clean- hands-
hanlon/» acessado a 17 de Agosto de 2020.

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