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A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS RESERVAS HÍDRICAS SUBTERRÂNEAS DO NORDESTE E A


TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO

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A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS RESERVAS HÍDRICAS SUBTERRÂNEAS DO
NORDESTE E A TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO

Sebastião Milton Pinheiro da Silva1

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo subsidiar a reflexão em torno da real necessidade e
importância da transposição de águas do Rio São Francisco face a ampla distribuição
geográfica de significativos mananciais subterrâneos na região Nordeste. São aqui também
defendidas a tese de que o problema da sede e da baixa exploração agrícola no semi-árido
nordestino não reside na escassez de água, mas decorre da ausência histórica de políticas
sistemáticas para viabilizar soluções duradouras e a de a utilização racional dos recursos
hídricos subterrâneos das bacias sedimentares, das aluviões e dos aqüíferos fissurais
constituir-se-ia em solução alternativa ao consumo humano e à irrigação. A distribuição da
água a ser transposta restringe-se a alguns tributários, alguns dos quais com oferta hídrica já
regularizada, e pode mesmo ser entendida como uma desfeita à maioria da população do
semi-árido, que não seria atendida pela oferta hídrica proposta pela obra. Deve-se levar em
consideração o fato de que alguns estudos apontam para reservas exploráveis de águas
subterrâneas estimadas em 29,6 x 109 m³/ano. A capacidade de produção varia entre 50 e
700 m³/h, por poço, em algumas bacias sedimentares do Nordeste.

ABSTRACT

The objective of this paper is to subsidize the reflection about the needs and importance of
the deviation of water from San Francisco River, facing the spacial distribution of significant
unexplored groundwater reservoirs. The thesis that the problem of the thirst and low
agricultural exploration in the region do not reside in the shortage of water, but elapse of
historical absence of systematic policies to make durable solutions possible and that the
rational use of grounwater resources of sedimentary basins, alluviums and basement
cristalline rocks in the semi-arid area of the Northeast, is an alternative solution to the human
consumption and irrigation are also held in this paper. The limited distribution of the
deviated water to some branches, some of them with already regularized offer, could even be
had as an affront to the people of the semi-arid, who won't be assisted by the proposal of the
deviation. Some studies point to reservations of groundwater of around 29,6 x 109 m³/ano
and production capacity between 50 and 700 m³/h, per well, in some sedimentary basins of
the region.

Palavras-chaves: Água, Distribuição, Nordeste, Reservas, Semi-árido, Transposição

INTRODUÇÃO

No geral, as águas subterrâneas apresentam boa potabilidade, advinda das condições de


armazenamento no subsolo, que as mantém protegidas dos agentes poluidores encontrados
na superfície terrestre. Nessas condições, também estão livres do processo de
evapotranspiração, que no Nordeste retira algo em torno de 2.000 mm/ano do volume das
águas superficiais, quantidade 3 a 4 vezes superior à precipitação média anual de 500
mm/ano dos últimos 50 anos. Essa situação é irreversível dada a impossibilidade humana de
intervir favoravelmente nas condições atmosféricas.

O projeto de transposição de águas do Rio São Francisco vem sendo apresentado pelo
governo federal como instrumento de transformação da realidade sócioeconômica do
Nordeste por garantir o abastecimento humano e a irrigação. O projeto visa abastecer 6,8
milhões de pessoas e irrigar 300 mil hectares de terras, através do aumento e da garantia da
oferta hídrica. Nesse aspecto, segundo Guimarães Júnior et al., (2000), ele é muito ambicioso
e distante da realidade nordestina, devendo ser visto com restrições, notadamente quanto aos
custos finais para o consumidor da água transposta.

Também chama a atenção no projeto o tratamento dispensado às águas subterrâneas. Quando


não são descartadas, como se de repente tivessem se exaurido completamente do subsolo
nordestino, elas têm seu potencial minimizado, o que não condiz com a realidade mostrada
em trabalhos de vários especialistas.

De acordo com Kelman (1999), nenhum estado nordestino tem disponibilidade hídrica
inferior ao limite simbólico estabelecido pela ONU para caracterizar uma região como tendo
estresse hídrico (1.000 m³/habitante-ano), já que no Nordeste a disponibilidade hídrica é da
ordem de 4.000 m³/habitante-ano. Para Kelman (ibid.) esse fato deve, inclusive, constituir
um estímulo àqueles que acreditam que a generalização da gestão dos recursos hídricos tem
enorme potencial para ajudar a resolver a equação desenvolvimentista do Nordeste.

Assim sendo, diante das adversidades climáticas, constata-se que o uso e a gestão das águas
subterrâneas no Nordeste assumem papel de crucial relevância, requerendo intervenções
compatíveis com a realidade e baseadas na qualidade e disponibilidade dessas águas. Além
disso, a transposição de águas do Rio São Francisco segundo eixos preferências de
distribuição, também não atenderá às demandas afastadas desses eixos e isso poderá gerar no
futuro, conflitos e inquietações políticas oriundas do baixo nível de atendimento regional.

Para Suassuna (2000) com a obra da transposição estaremos em breve na busca de instituir
novos instrumentos legais para o que denomina de "gestão da torneira".

O CENÁRIO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

Os elementos determinantes para a acumulação de águas subterrâneas são, entre outros, o


clima e a geologia (litologia, estratigrafia e estrutura). Do ponto de vista geológico, dois
grandes grupos litológicos têm destaque: as rochas porosas e as rochas cristalinas. No
deslocamento subterrâneo, a água acumula-se nos poros da rocha ou nas fendas e fraturas,
para formar, respectivamente, os aqüíferos porosos (instersticiais) e fraturados (fissurais).
Qualitativa e quantitativamente os aqüíferos porosos são mais importantes, enquanto os
fissurais são de qualidade inferior, quanto à acumulação e à hidrodinâmica. Cerca de 90% do
território nordestino é constituído por rochas cristalinas (fendas/fraturas) e apenas 10% é
formado por rochas sedimentares, que vão compor os aqüíferos intersticiais nas bacias
sedimentares, nas coberturas costeiras e interiores (correlatas) e nas aluviões.

Em conjunto, as rochas sedimentares e cristalinas compõem as Províncias Hidrogeológicas


do Brasil, as quais, no Nordeste, estão divididas em: Parnaíba, São Francisco, Escudo
Oriental Nordeste e Costeira, com suas respectivas subprovíncias (BRASIL.DNPM/CPRM,
1981).

Na Figura 1 são mostradas as principais bacias sedimentares do Nordeste do Brasil. Embora


ocupem uma pequena parcela do território nordestino, as bacias sedimentares estão presentes
em todos os estados, circundando-os ao longo da linha de costa (subprovíncias costeiras) e a
oeste pela Província do Parnaíba, apresentando distribuição espacial estratégica para uma
eventual distribuição da água oriunda dessas bacias, conforme esquema hipotético mostrado
na Figura 1. Observando-se a referida figura, daria mesmo para afirmar que "o semi-árido é
uma ilha cercada de água doce por todos os lados".

Na Figura 2 é mostrado um mapa com algumas alternativas de transposição de rios no


Nordeste e as principais Bacias Sedimentares dessa região. É importante destacar na Figura
2, que quase todas as opções de transposição de rios bordejam ou cruzam uma bacia
sedimentar deixando-a sem aproveitamento, quando poderiam ser utilizadas para beneficiar
toda a região circunvizinha.

Figura 1 – Alternativas hipotéticas de distribuição de águas


subterrâneas, a partir das principais Bacias Sedimentares do
Nordeste.

BACIAS SEDIMENTARES

O exemplo marcante do potencial de águas subterrâneas do Nordeste é a Bacia Sedimentar


do Meio Norte (Parnaíba - Maranhão). Ocupa uma área de cerca de 250.000 km² e é um dos
maiores reservatórios subterrâneos de água doce existentes, mas é muito pouco explorada.
As reservas exploráveis variam entre 0,2 e 9.600 x 106 m³/ano com uma capacidade de
produção que varia entre 50 e 700 m³/h, por poço (CPRM, 1995). A exploração dessas
reservas possibilitaria atender-se não apenas à população da área da bacia mas também às de
estados vizinhos.

A Bacia do Jatobá, em Pernambuco, é outro exemplo de aqüífero subterrâneo com


capacidade de atender a cerca de 5.000.000 de pessoas por ano, ou irrigar 30.000 ha/ano.
Bastaria perfurarem-se poços de maior profundidade (± 900 m), com expectativa de vazão de
150.000 l/h ou 1.000.000 m3/ano (CPRM, 1995). A estimativa de custo de um poço dessa
natureza equivale ao de 20 km de adutora, em tubos PVC de 6’, não se contabilizando os
custos de manutenção mais elevados da adutora e sem contar também que a água subterrânea
não necessita de tratamento, o que não ocorre com águas oriundas de outros mananciais.
Além disso, o custo de transporte dessa água também seria menor, pois em muitas situações
seria feito por gravidade, em virtude do destaque topográfico de algumas bacias em relação
às áreas circunvizinhas.

Figura 2 – Alternativas de transposição de rios para o Nordeste


e as principais Bacias Sedimentares do Nordeste.

Recentemente, a imprensa pernambucana veiculou matéria com o título "CPRM faz jorrar
água no Sertão do Pajeú". Trata-se de resultados de estudos hidrogeológicos (Silva, 1993;
Silva, Morais e Sousa, 1994), (Oliveira, 1994; Leite et al., 2000, apud Silva, 2000) em
sedimentos arenosos da Bacia Sedimentar de Fátima, na microrregião do Pajeú (PE), cujos
resultados demonstraram o elevado potencial para captação de água subterrânea de boa
qualidade naquela bacia.

Até pouco tempo atrás, bacias sedimentares com dimensões reduzidas e destacadas do
pediplano geral, como é o caso da Bacia de Fátima (270 km²), eram consideradas, do ponto
de vista hidrogeológico, como improdutivas. Nessas bacias, geralmente, os aqüíferos são
sedimentos arenosos, por vezes parcialmente consolidados, com características locais de
baixa porosidade e permeabilidade. Estudos de geologia-geofísica iniciados na primeira
metade da década de 90 na Bacia de Fátima, no entanto, mostraram evidências favoráveis à
acumulação de águas subterrâneas de boa qualidade em sedimentos com profundidades da
ordem de 450 metros.

De acordo com Silva (ibid.), continuam sendo realizados estudos para definir limites de
vazão, recarga do aqüífero e um modelo de gestão que garanta o eficiente atendimento à
população. O sistema atual apresenta bons parâmetros hidrodinânicos e uma produção de 60
m³/hora, por poço. Segundo Silva (ibid.), "Fátima é um bom exemplo de uma intervenção
simples, cujos resultados proporcionaram um espetacular impacto social".

Na contramão das intervenções simples, existem no Brasil inúmeras obras que exemplificam
o mau uso do dinheiro público, que servem apenas para alimentar uma cultura política
megalomaníaca. Segundo Rebouças (1997), o poço no Brasil é considerado como uma
solução paliativa, aguardando pelo lobby das empreiteiras, que é fortíssimo: "ninguém faz
um trabalho para uma política de águas e, sim, para uma política de obras".

No Rio Grande do Norte ocorre uma situação muito particular. A menos que haja uma
revolução na agricultura do estado, a previsão é de que só a partir de 2020 haja necessidade
de aumento da oferta hídrica (SERH/RN, 1998). Além disso, segundo Guimarães Júnior et
al. (2000), só a vazão regularizada do Açude Armando Ribeiro Gonçalves, de 15 m³/s, seria
suficiente para abastecer toda a população potiguar. No caso específico da Bacia Potiguar,
também se dispõe de um grande número de poços perfurados para petróleo cujas águas
poderiam ser tratadas, para suprirem, através de adutoras, as demandas das populações
residentes nas áreas de embasamento cristalino.

SEDIMENTOS COSTEIROS E INTERIORES (Correlatos) E ALUVIÕES

Sedimentos arenosos tércio-quaternários estão distribuídos no interior e ao longo de todo o


litoral do Nordeste Oriental do Brasil. Os aqüíferos aluvionares, de dimensões variadas,
constituem a maior rede natural de distribuição de água subterrânea, acondicionada dos
drenos naturais das bacias hidrográficas, e as reservas de águas subterrâneas nesses
sedimentos arenosos mais recentes e inconsolidados são significativas para o semi-árido
nordestino.

Na microrregião do Pajeú (PE), boa parte da produção de tomate, que abastece as indústrias
de sucos e concentrados de polpa, provêm do plantio irrigado, às margens de tributários do
Rio Pajeú. Estudos realizados por Silva, Morais e Sousa (1994), em alguns tributários
menores, mostraram que o potencial por poço é da ordem de 60 m³/dia, o que seria suficiente
para irrigar, mesmo por derramamento no solo, 1 (um) hectare de cultura não muito exigente
por água, a um custo de locação e construção de um poço tipo Amazonas, de US$ 500,00
(quinhentos dólares).

Costa Filho e Costa (2000) estimaram em 0,1 x 109 m³/ano o potencial das aluviões no
Estado de Pernambuco.

Sousa (1987) enumera uma série de exemplos de tributários: entre outros, Potengi, Seridó e
Trairi, no RN; Peixe, Piancó, Espinharas e Piranhas, na Paraíba; e Brígida, Pajeú e Moxotó
em Pernambuco, que são utilizados, inclusive para abastecimento humano, com poços do
tipo Amazonas.

Há na região Nordeste algo em torno de 32.000 km² de coberturas aluvionares em condições


de fornecer água para dessendentação e irrigação rural, com reservas exploráveis da ordem
de 1 a 2 bilhões m³/ano (DNAEE/DCRH, 1983/1985).

PROVÍNCIA CRISTALINA

Leite e Möbus (2000) utilizaram os cadastros da Secretaria de Recursos Hídricos do Estado


do Ceará (1991) e da CPRM - Serviço Geológico do Brasil (1998), os únicos existentes
naquele Estado, e estimaram o potencial instalado de cerca de 21.500 m³/h, relativo a 1991,
para uma necessidade de 29.100 m³/h, ou seja, o suficiente para abastecer cerca de 74% da
população dos municípios considerados naquele ano (151 municípios, excetuando-se a
capital - Fortaleza). Em relação a 1998, aqueles autores estimaram o potencial de 27.000
m³/h, enquanto a necessidade calculada foi da ordem de 32.600 m³/h, ou seja, poderia ser
abastecida cerca de 82% da população naquele ano (183 municípios, excetuando-se
Fortaleza). De acordo com Leite e Möbus (2000), se fossem aproveitados os poços
desativados e não instalados, o incremento seria da ordem de 9.000 m³/h e o percentual da
população total passível de atendimento apenas com água subterrânea seria de cerca de
113%.

O recenseamento de fontes de abastecimento por água subterrânea no Estado do Ceará


indicou a existência de 13.970 pontos d´água cadastrados, sendo 12.572 poços tubulares,
1.084 poços amazonas e 314 fontes naturais (CPRM, 2000). Em Pernambuco, o potencial
dos aqüíferos do cristalino foi estimado em 0,28 x 109 m³/ano (Costa Filho e Costa, 2000).

PRODUÇÃO E QUALIDADE DO AQÜÍFERO FISSURAL

Apesar dos baixos níveis de vazão e qualidade da água, o aqüífero fissural é um meio
produtor importante, que não pode ser desprezado, face aos investimentos na perfuração de
cerca de 50.000 poços tubulares e ao fato de que o poço no cristalino está mais próximo do
usuário final. Muitos desses poços foram perfurados em fases críticas de estiagem e, na
prática, nesses períodos o governo gastou muito dinheiro na perfuração de poços tubulares,
impondo, na maioria das vezes, prazos e níveis de produção não condizentes com a correta
execução técnica de trabalhos dessa natureza.

Segundo Mente (1997), se fossem utilizados critérios de locação tecnicamente consistentes


que levassem em conta os aspectos influentes ligados aos esforços tectônicos (tipo e
distribuição dos fraturamentos) e os condicionantes morfológicos, hidrológicos e litológicos,
poder-se-ia aumentar a probabilidade de obtenção de vazões razoáveis e de águas de
potabilidade adequada, capazes de atenderem às necessidades do uso doméstico e do
abastecimento de pequenas comunidades.

Leite e Möbus (2000) afirmam claramente que o Estado do Ceará carece de uma política de
acompanhamento e de informações constantes sobre a situação dos seus poços tubulares,
como distribuição e potencial, destacando a marcante ausência de programas de
monitoramento e acompanhamento sistemático da situação das obras, através de atualizações
de bases de dados e gerência única apoiada e alimentada pela comunidade e pelos órgãos
gestores.

Para Silva, Silva e Galvão (1999), outros fatores, em menor ou maior grau, também
contribuíram para a baixa oferta de água no semi-árido nordestino. Destacam que, após a
fase de atuação da SUDENE na hidrogeologia do Nordeste, novas tecnologias de exploração
de água subterrânea deixaram de ser pesquisadas e a intermitência de ações políticas e
aportes financeiros regulares para solucionar o problema também causou uma lacuna de
conhecimentos e um quadro de dificuldades que só serão superados retomando-se as
pesquisas dos mananciais subterrâneos.

Com relação à salinidade das águas, dentre as tecnologias de tratamento existentes, a


dessalinização por osmose reversa já é bastante aceita e utilizada em várias localidades do
sertão nordestino. Cravo e Cardoso (1999) ressaltam que o que houve com essa forma de
dessalinização foi desconhecimento de causa que gerou uma sensível reação à sua
implantação por ter sido considerada uma tecnologia complexa e onerosa.

Segundo Rebouças (1997): "Não podemos separar a água subterrânea da superficial, seus
gerenciamentos, monitoramentos, o planejamento de bacias e poços, bem como o uso e
ocupação do solo. A má utilização do solo é um dos principais mentores da degradação da
água. Tem que existir uma visão mais ampla, e integrar todos esses determinantes é o
grande desafio."

É difícil imaginar a redenção sócioeconômica do Nordeste sem uma visão de conjunto das
alternativas de soluções para o problema da água no semi-árido nordestino.

As reservas exploráveis de água no subsolo nordestino são da ordem de 29,6 x 109 m³/ano,
ou 81.7 x 106 m³/dia (Mente et al., 1994, apud CPRM, 1999).

É necessário que se adote alguma providência em termos de aproveitamento e distribuição


dessas águas. Somente a união de esforços e a ampla discussão pela sociedade civil
organizada poderá indicar as soluções compatíveis de uso e gestão dos recursos hídricos
existentes para viabilizar a verdadeira transformação sócioeconômica do semi-árido
nordestino.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há muito mais preconceito e desconhecimento das potencialidades hídricas subterrâneas no


Nordeste do Brasil do que se imagina. A escassez da água está, na verdade, relacionada com
a falta de políticas continuadas de captação e gestão de recursos hídricos subterrâneos.
Propostas e alternativas são discutidas na literatura (CPRM, 1998; Silva, Silva e Galvão
1999; Costa e Santos, 2000; Mente, 1997; Rebouças, 1997; Kelman, 1999; Souza, 1987;
entre muitos outros especialistas). No momento em que o governo federal se propõe investir
3 bilhões de reais na obra da transposição, sem considerar a execução de um amplo
programa nacional de aproveitamento das potencialidades hídricas subterrâneas existentes, a
sociedade, de forma organizada e mobilizada, deve exigir o amplo debate e a devida
justificativa da obra, para que não tenhamos no Nordeste, futuramente, uma nova
Transamazônica: agora, a Transnordestina da Água.

Devido ao caráter informativo deste trabalho, seria inoportuno elencar recomendações


técnicas. Entretanto destaca-se da literatura uma das recomendações do relatório de
alternativas de transposição do DNAEE/DCRH (1983-1985): "Dar prioridade ao
aproveitamento dos recursos hídricos ainda não explorados e economicamente
aproveitáveis das próprias bacias hidrográficas antes de utilizar água importada através de
transposições".

Caberia incluir, como sugestão, que se efetuasse um amplo programa federal, conduzido a
nível de cada estado nordestino, de levantamento das necessidades e indicação de soluções,
tanto individuais como conjuntas, com utilização dos recursos financeiros destinados à
transposição de águas para estudo, captação e distribuição das reservas subterrâneas,
inclusive, se necessário, aproveitando a disposição espacial estratégica das bacias
sedimentares para a transposição dessas águas para estados vizinhos no Nordeste.

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