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NHT 1013-15

Bioquímica Funcional

APOSTILA DE AULAS PRÁTICAS

2023.2

Docentes responsáveis
Profa. Dra. Ana Carolina S. S. Galvão
Prof. Dr. Tiago Rodrigues

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PRÁTICA 1: Cinética Enzimática – Atividade da invertase (sacarase)

1. INTRODUÇÃO

As reações químicas que ocorrem nos organismos vivos são, na sua grande maioria, catalisadas
enzimaticamente, tornando a velocidade das mesmas compatíveis com as exigências metabólicas. Os
catalisadores biológicos são as enzimas, as quais são constituídas, em sua maioria, estruturas protéicas
capazes de realizar as mais diversas funções em todo tipo de forma viva.

Em comparação aos catalisadores sintéticos ou inorgânicos, as enzimas apresentam uma série de


características que as tornam apropriadas para executarem a atividade de catálise nos ambientes intra ou
extracelulares: (a) são catalisadores altamente eficientes e seletivos; (b) operam em condições brandas de
temperatura e pH; (c) são produzidas pelas próprias células que, desta maneira, podem regular suas taxas
de expressão e níveis de atividade.

Neste experimento serão abordados os conceitos de cinética enzimática. Para isso, a enzima
invertase (-D-frutofuranosídeo frutohidrolase E.C.3.2.1.26) será empregada na hidrólise da sacarose
(Figura 1).

Figura 1. Ação enzimática da invertase sobre a sacarose.

A velocidade de hidrólise da sacarose em glicose e frutose será acompanhada através da dosagem


dos açúcares redutores formados pela capacidade destes de reagirem com o ácido 3,5-dinitrosalicílico
(DNS). Esta reação gera um produto alaranjado cuja formação pode ser acompanhada
espectrofotometricamente pela determinação da absorbância em 540 nm.

2. OBJETIVOS

O objetivo geral deste experimento é avaliar a influência da variação de concentração de diferentes


substratos, neste caso sacarose ou lactose, na velocidade de uma reação enzimaticamente catalisada.
Adicionalmente, pela análise das curvas obtidas (V0 x [S]), calcular alguns parâmetros cinéticos, discutir
seus valores e significados e fazer correlações com o comportamento enzimático quanto a afinidade por
substratos (seletividade).

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Reagentes

- Tampão acetato 0,02 M, pH 4,77

- Sacarose 30 mM em tampão acetato

- Lactose 30 mM em tampão acetato

- Solução padrão redutora 12 mM (6 mM de glicose + 6 mM de frutose)

- Solução padrão redutora 12 mM (6 mM de glicose + 6 mM de galactose)

- Ácido 3,5-dinitrosalicílico (DNS)

- Solução da enzima invertase (8 g/mL)

3.2. Materiais

- 28 tubos de ensaio grandes (180 x 20 mm);

- 1 proveta de 25 mL;

- 1 pisseta com água destilada;

- 3 estantes para tubos de ensaio;

- 5 cubetas para espectrofotômetro;

- 1 béquer de 50 mL com água destilada;

- 1 caixa com gelo;

- Plástico filme (PVC ou tipo Parafilm®)

- 1 caneta para marcação de tubos;

- Fita crepe;

- Micropipetas P200 e P1000 e respectivas ponteiras;

- Banho-maria fervente;

- Banho-maria 37ºC;

- Cronômetro.

3.3. Procedimento experimental

a) Construção de curva analítica 1 (hidrólise da sacarose) e 2 (hidrólise da lactose)

A curva analítica tem por finalidade relacionar a concentração de um determinado analito com sua
absorbância em um comprimento de onda específico para a determinação da absortividade. Para isso, os
valores de absorbância em 540 nm deverão ser determinados para as diferentes concentrações de sacarose
ou lactose hidrolisadas (em μmols/mL).

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Adicionar a seis tubos de ensaio (180 x 20 mm) volumes crescentes das soluções redutoras padrão,
conforme indicado nas Tabelas 1 e 2, completando o volume em cada tubo para 2 mL com tampão. Como
não ocorrerá hidrólise de sacarose nesta temperatura, pode-se acrescentar o reagente DNS logo após o
tampão.

Tabela 1. Instruções para a obtenção da curva analítica de hidrólise da sacarose.

Solução padrão Sacarose


Tubos Tampão acetato Reagente DNS A
redutora hidrolisada
0,02 M pH 4,77 (mL) (mL) (540 nm)
12 mM (mL) (mols/mL)
Branco - 2,0 2,0

1 0,2 1,8 2,0

2 0,4 1,6 2,0

3 0,6 1,4 2,0

4 0,8 1,2 2,0

5 1,0 1,0 2,0

Tabela 2. Instruções para a obtenção da curva analítica de hidrólise da lactose.

Solução padrão Lactose


Tubos Tampão acetato Reagente DNS A
redutora hidrolisada
0,02 M pH 4,77 (mL) (mL) (540 nm)
12 mM (mL) (mols/mL)
Branco - 2,0 2,0

1 0,2 1,6 2,0

2 0,6 1,4 2,0

3 0,8 1,2 2,0

4 1,0 1,0 2,0

5 1,5 0,5 2,0

Após a adição do DNS, vedar os tubos com um pedaço de plástico filme e colocá-los em banho-
maria fervente por 10 minutos. Após isso, esfriar os tubos até atingir a temperatura ambiente
(aproximadamente 10 minutos) e, em seguida, adicionar em cada tubo 16 mL de água destilada, obtendo
20 mL de volume final. Em seguida, homogeneizar os tubos por inversão e determinar as respectivas
absorbâncias em 540 nm, partindo do tubo de menor para o de maior concentração e utilizando o branco
como referência (zerar o espectrofotômetro). Como parte do tratamento dos dados obtidos, construir um
gráfico de absorbância em 540 nm (A540 nm) em função da concentração de sacarose ou lactose hidrolisadas
(μmols/mL).

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Observação: Para o cálculo da concentração de sacarose ou lactose hidrolisadas, atentar-se que a
estequiometria da reação é de 1 mol de sacarose para 2 mols de açúcares redutores!

b) Determinação do efeito da variação da concentração de substrato sobre a atividade enzimática

Importante: Para a realização desse experimento manter a enzima em banho de gelo (~ 4ºC) durante todo
o procedimento!

1. Numerar os tubos de ensaio segundo as tabelas 3 e 4. Adicionar a cada tubo os respectivos volumes de
sacarose, lactose e tampão.

Tabela 3. Instruções para a realização da reação de hidrólise da sacarose

Sacarose Tampão Enzima Sacarose


A Velocidade da reação
30 mM pH 4,77 (8 g/mL) hidrolisada
Tubos (540nm) (μmols/mL.min)
(mL) (mL) (mL) (mols/mL)

Branco - 1,5 0,5


Controle 1,0 1,0 -
1 0,1 1,4 0,5
2 0,2 1,3 0,5
3 0,3 1,2 0,5
4 0,5 1,0 0,5
5 0,7 0,8 0,5
6 1,0 0,5 0,5

Tabela 4. Instruções para a realização da reação de hidrólise da lactose

Lactose Tampão Enzima Lactose


A Velocidade da reação
30 mM pH 4,77 (8 g/mL) hidrolisada
Tubos (540nm) (μmols/mL.min)
(mL) (mL) (mL) (mols/mL)

Branco - 1,5 0,5


Controle 1,0 1,0 -
1 0,1 1,4 0,5
2 0,2 1,3 0,5
3 0,3 1,2 0,5
4 0,5 1,0 0,5
5 0,7 0,8 0,5
6 1,0 0,5 0,5

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2. Levar as estantes contendo os tubos de ensaio para um banho-maria a 37 °C por 5 minutos.

3. Adicionar a enzima a cada um dos tubos respeitando-se um intervalo de 30 segundos entre a finalização
da adição da enzima em um tubo e o início de adição da enzima no próximo tubo.

4. Deixar a reação ocorrer durante 5 minutos (contados a partir da adição da enzima ao primeiro tubo).
Transcorrido este tempo, adicionar a cada tubo 2 mL de DNS a cada tubo, iniciando pelo primeiro tubo a ter
tido contato com a enzima. Novamente, faça a adição do composto respeitando-se um intervalo de 30
segundos entre a finalização da adição do DNS em um tubo e o início de adição do DNS no próximo tubo.
Na presença de DNS, devido à alcalinidade do reagente, a enzima para de funcionar.

5. Calcular os valores de concentração de sacarose ou lactose hidrolisadas utilizando os valores de


absorbância e as absortividades calculadas pelas curvas analíticas obtidas no item anterior. Calcular a
velocidade inicial (Vo) de cada reação, considerando o tempo de reação a 37ºC (5 minutos).

c) Determinação dos parâmetros cinéticos velocidade máxima (Vmáx) e a constante de Michaelis-


Menten (Km)

Para este exercício, assumiremos que a enzima invertase possui comportamento Michaeliano.

1. Construir um gráfico com os valores de velocidade inicial (Vo) em função da concentração de substrato
([S]). Em seguida, estimar graficamente a Vmáx e Km.

2. Utilizando o mesmo conjunto de dados, fazer o plot duplo recíproco proposto por Lineweaver-Burk e
determinar Vmáx e Km com base nos interceptos dos eixos X e Y. Comparar com os valores obtidos no item
1.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PETKOWISCZ, C. L. O. Bioquímica: aulas práticas. 7.ed. Curitiba: Ed. UFPR, 2007.

VOET, D; VOET, J. G. Bioquímica, 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.

LEHNINGER, A. L; NELSON, D. L; COX, M. M. Princípios de bioquímica. 4. ed. São Paulo: Sarvier, 2006.

BERG, J. M; TYMOCZKO, J. L.; STRYER, L. Biochemistry, 6. ed. New Jersey: John Wiley, 2006.

NEPOMUCENO, M. F; RUGGIERO, A. C. Manual de Bioquímica: Roteiros de Análises Bioquímicas


Qualitativas e Quantitativas. 1. ed. Ribeirão Preto: Tecmedd, 2004.

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5. ANEXO

1) Preparo do ácido 3,5-dinitrosalicílico (DNS) (1 L).

Em um béquer adicionar 10 g de DNS, 200 mL de hidróxido de sódio 2 M, 300 g de tartarato de sódio e


potássio e 500 mL de água destilada. Dissolver em banho fervente e completar o volume para 1 litro.

2) Preparo da enzima invertase

Dissolver 1,0 mg da enzima invertase em 25 mL de água, resultando em uma concentração final de 40


g/mL. Diluir 5x para obter uma solução 8 g/mL.

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PRÁTICA 2: Fermentação – Utilização de açúcares pela levedura Saccharomyces cerevisiae

1. INTRODUÇÃO

A fermentação é um processo metabólico que ocorre na maioria das vezes em condições


anaeróbicas, mas em alguns casos em condições aeróbicas. Envolve a transformação de uma substância
(maioria açúcares) em outra (álcool, ácidos) e ocorre em microrganismos, tais como bactérias e fungos,
chamados nesses casos de fermentos. No metabolismo de eucariotos, como por exemplo da levedura do
pão (Saccharomyces cerevisiae), este processo pode ocorrer mesmo na presença de oxigênio contanto que
haja açúcar suficiente para ser rapidamente metabolizado (Figura 1, passo i) [1].

Alguns exemplos cotidianos de fermentação são o azedamento de leite, o crescimento da massa de


pão, e a conversão de açúcares e amidos em álcool. Há dois tipos principais de fermentação [1]:

• Fermentação anaeróbica: ocorre na ausência de oxigênio, como por exemplo, em iogurte, cerveja,
vinho, chucrute. Não deve ser confundida com a respiração anaeróbica (processo no qual alguns tipos
de bactérias e outros seres produzem energia anaerobicamente).
• Fermentação aeróbica: ocorre na presença de oxigênio do ar, como por exemplo, em ácido cítrico ou
vinagre, penicilina.

A levedura Saccharomyces cerevisiae é um fungo inferior composto de uma população de organismos


eucarióticos unicelulares. Suas enzimas da via glicolítica junto com invertase e zimase transformam açúcar
em álcool e CO2. Elas promovem o crescimento da massa do pão e transformam suco de uva em vinho ou
malte (obtido a partir da cevada germinada) em cerveja.

Neste experimento, a eficiência da fermentação realizada por S. cerevisiae na presença de vários


açúcares será avaliada através da produção de CO2 durante o processo.

2. OBJETIVOS

Estudar o processo da fermentação alcoólica por levedura industrial comum (fermento


Fleischmann®), por meio da avaliação da produção de CO2 durante o tempo de incubação. Relacionar a
eficiência da fermentação com a preferência da levedura por substratos.

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Figura 1: Acoplamento de reações da glicólise com a formação do ácido láctico e etanol durante
fermentação. Os passos de a até f descrevem a via de glicólise. A geração de 2 ATP no passo b pode
providenciar toda a energia da célula [1].

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Reagentes

- Fermento Fleischmann® (em pó, dentro do prazo de validade)

- Solução de sacarose 0,4 mol/L

- Solução de glicose 0,4 mol/L

- Solução de galactose 0,4 mol/L

- Solução de lactose 0,4 mol/L

- Solução de arabinose 0,4 mol/L

- Solução de glicerol 0,4 mol/L

3.2. Materiais

- 4 tubos de ensaio grandes com 1 g de fermento Fleischmann®

- Balão de aniversário (bexiga) tamanho 65

- Seringa de 50 mL

- Elásticos

- 2 pipetas graduadas de 10 mL

- Banho-maria a 35°C

- Paquímetro

- Estante adicional para tubos grandes

- Soluções de dois açúcares conforme indicado pelo professor

3.3. Procedimento experimental

a) Crescimento da levedura a 35 graus

Prepare os tubos de ensaios conforme o esquema descrito na Tabela 1. Adicione 10 mL da solução


dos açúcares aos tubos contendo 1 g de fermento com pipeta graduada. Cada grupo fará a fermentação de
apenas dois açúcares, indicados pelo professor, em duplicata. Após a adição dos açúcares, feche os tubos
com o balão de aniversário e fixe bem a junção com o elástico, caso seja necessário. Incube a cultura no
banho a 35ºC por 1 hora e 20 minutos na estante de tubos sobressalente disponível por grupo. Determine a
velocidade da produção de CO2, medindo o diâmetro do balão com um paquímetro, a cada 10 minutos [2].
Agite suavemente o tubo depois de cada medida, porque a levedura tende a decantar. A cada medida,
coloque os valores de diâmetro encontrados na lousa, para que todos os grupos possam ter os dados de
fermentação de todos os açúcares.

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Tabela 1: Esquema do experimento para determinar velocidade de fermentação

Reagentes Tubo 1 Tubo 2 Tubo 3 Tubo 4 Tubo 5 Tubo 6

Fermento Fleischmann 1g 1g 1g 1g 1g 1g

Solução de açúcar
Sacarose Glicose Galactose Lactose Arabinose Glicerol
0,4 mol/L (10 mL)

b) Calcular a eficiência da fermentação como teor da produção de CO2 (mols de CO2/g levedura)

Enquanto os tubos estiverem no banho, nos intervalos das medidas, faça uma calibração do diâmetro
da bexiga com o volume de gás interno. Para isso, com o auxílio da seringa, encha o balão com volumes de
25, 50, 100, 150, 200 e 250 mL de ar e determine o diâmetro do balão com o paquímetro. Faça a medida
para cada volume em triplicata. Calcule a média do diâmetro para cada volume. Com estas médias, elabore
uma tabela com a calibração de balão e desenhe um gráfico da dependência do diâmetro da bexiga com
volume de gás inserido. [2]

Utilizando os valores de diâmetro medidos para cada fermentação, tanto dos açúcares utilizados pelo
seu grupo, quanto dos açúcares dos outros grupos, determine o volume de gás liberado para cada tempo.
Para isso, utilize a curva de calibração do balão, obtida anteriormente. Para determinar o número de mols
de CO2, considere o gás carbônico como um gás ideal e considere que você trabalhou nas CNTP (condições
normais de temperatura e pressão). Esta premissa prevê que o volume molar de CO 2 nestas condições é
de 22,4 litros, ou seja, este é o volume ocupado por 1 mol de gás. Com os valores de número de mols de
CO2 calculados, construa um gráfico da dependência da produção de CO2 (número de mols) por tempo
(min), para cada substrato e cada duplicata analisada. Utilize estes gráficos como base para a discussão da
eficiência de açúcares e preferência de substrato na fermentação realizada por S. cerevisiae.

4. RESULTADOS

Apresentar os resultados obtidos em seu caderno de laboratório. Discuta os resultados obtidos.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Metzler D.E. (2001) Biochemistry, The Chemical Reactions of Living Cells, 2nd ed, Vol.1 and 2,
Academic Press.

[2] Website do Colégio São Francisco, acessado em 05/02/2008:


http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/fermentacao/fermentacao.php

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PRÁTICA 3: Teste Oral de Tolerância à Glicose (TOTG) ou Curva Glicêmica

1. INTRODUÇÃO

A diabetes mellitus tipo 2 é uma das doenças mais comuns no mundo. Atualmente, o número de
novos casos tem aumentado de maneira alarmante. Estima-se que, no mundo, o número de pessoas
afetadas por essa patologia passe de 171 milhões em 2000 para 366 milhões no ano de 2030. Esse
aumento, fortemente correlacionado com a obesidade, representa um sério problema de saúde mundial,
tendo em vista as complicações desenvolvidas por pacientes não tratados, principalmente na área de
doenças cardiovasculares. Dessa maneira, a detecção precoce de indivíduos propensos a desenvolver a
doença poderia retardar ou mesmo evitar o aparecimento da mesma através de alterações no estilo de vida
e/ou administração de drogas.
O Teste Oral de Tolerância a Glicose (TOTG) ou Curva Glicêmica tem sido utilizado como principal
método de diagnóstico de hipoglicemia ou diabetes mellitus por mais de 100 anos. Segundo as orientações
da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da American Diabetes Association (ADA), nesse teste o
indivíduo deve ter sua glicemia medida no jejum (de 8 a 14 horas) e 120 minutos após ter sido submetido a
uma ingestão de alta carga glicosídica (1,75 g de glicose anidra para cada quilograma de peso corpóreo até
a dose máxima de 75 g). Modelos de TOTG com dosagens em tempos diferentes do citado acima são
amplamente utilizados na prática clínica. Nesses modelos, baseados principalmente em estudos do National
Diabetes Data Group (NDDG), é feita a determinação da glicemia no momento de jejum e também nos
intervalos de tempo de 30, 60, 90 e 120 minutos após a ingestão da glicose anidra. Dosagens com tempos
superiores a 180 minutos (Curva Glicêmica Prolongada) são utilizadas, na maioria das vezes, para auxiliar
no diagnóstico de hipoglicemia funcional.

2. OBJETIVOS

Avaliar cineticamente as alterações da glicemia em indivíduos submetidos a uma sobrecarga de


glicose em um curto período de tempo, a fim de verificar a resposta fisiológica normal ou a ocorrência de
intolerância a glicose ou até diabetes mellitus.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Reagentes
- Solução de glicose anidra 25% (m/v)
- Álcool 70% para assepsia

3.2. Materiais
- Glicosímetro

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- Fitas para glicosímetro
- Lancetador automático
- Lancetas descartáveis
- Algodão

3.3. Procedimento experimental

a) Observação sobre a coleta de material biológico humano


✓ Sempre usar luvas de procedimento para coleta do material.
✓ Realizar assepsia local com álcool 70% antes da coleta. Não levar o dedo à boca após a coleta.
Estancar eventual sangramento com um pedaço de algodão limpo.
✓ Descartar material descartável perfurocortante (lancetas descartáveis) contaminadas em recipientes
adequados (“Descarpack”).

b) Realização do Teste Oral de Tolerância a Glicose ou Curva Glicêmica


1. Com o auxílio de um lancetador, coletar uma pequena amostra de sangue de um voluntário em jejum.
Determinar a concentração de glicose no sangue utilizando o glicosímetro (t = 0).

Observações:
✓ Se a glicemia de jejum apresentar um valor superior a 99 mg/dL, não realizar o teste!
✓ Para períodos onde o voluntário não estiver em jejum de 8 a 14 h, o valor da glicemia inicial não deve
ser superior a 200 mg/dL. Se o valor for superior a este, não realizar o teste.

2. Ingerir a solução de glicose anidra 25% (o volume deve ser calculado de tal forma que a quantidade de
glicose ingerida seja de 1,75 g/kg de peso corpóreo e não ultrapasse 75 g totais).

3. O voluntário deverá manter-se sentado durante todos os intervalos de coleta. Não é permitido fumar,
ingerir água ou alimentos.

4. Após isso, determinar a glicemia de cada voluntário nos tempos 30, 60, 90 e 120 minutos, com o auxílio
do glicosímetro.

5. Organizar os dados por indivíduo de cada grupo, calcular a média da turma e faixa máxima e mínima
obtida na turma, construindo gráficos com os dados de valores de glicemia na ordenada e tempo na
abscissa.

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4. RESULTADOS

Apresentar os resultados obtidos em seu caderno de laboratório. Discuta os resultados obtidos e


responda as questões propostas.

5. QUESTÕES

1. No jejum, quais valores de glicemia indicam:


a) glicemia dentro da normalidade
b) intolerância a glicose (pré-diabetes)
c) diabetes mellitus

2. Após 2 horas de realização da Curva Glicêmica, quais valores de glicemia indicam:


a) glicemia dentro da normalidade
b) intolerância a glicose
c) diabetes mellitus

3. Em uma medida casual do valor de glicemia, que resultado seria esperado para uma pessoa diabética?

4. Por que, durante a realização do TOTG, a pessoa deve permanecer em repouso e não fumar?

5. Como seria a curva de um paciente com diabetes mellitus?

6. O TOTG é considerado padrão ouro para a detecção da diabetes mellitus, contudo outras observações
clínicas e análises glicêmicas são avaliadas para o diagnóstico da doença. Quais são os critérios definidos
pela Organização Mundial de Saúde (OMS), American Diabetes Association (ADA) e Sociedade Brasileira
de Diabetes (SBD) para o diagnóstico de Diabetes mellitus?

7. Quais possíveis limitações de metodologia podemos apontar no experimento realizado?

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bartoli E, Fra GP, Carnevale Schianca GP. The oral glucose tolerance test (OGTT) revisited. Eur J Intern
Med. 2011 (1):8-12.
Blog Biotécnica, acessado em 15/02/2013:
http://blogbiotecnica.ind.br/blog/2011/04/teste-oral-de-tolerancia-a-glicose-e-um-exame-auxiliar-no-
diagnostico-do-diabetes-mellitus-e-da-hipoglicemia/
Report of the Expert Committee on the Diagnosis and Classification of Diabetes Mellitus. Diabetes Care,
26:S5-S20, 2003.

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PRÁTICA 4: Índice Glicêmico e Carga Glicêmica

1. INTRODUÇÃO

1.1. Índice Glicêmico

O índice glicêmico (IG, glycemic index em inglês) é uma medida utilizada para classificar os
carboidratos presentes em diferentes alimentos de acordo com seus efeitos sobre os níveis de açúcar no
sangue (glicemia). Essa escala é baseada na comparação da curva glicêmica característica de um alimento
com a mesma curva de um alimento considerado padrão (geralmente glicose ou pão branco). Essa
classificação, que vai de 0 a 100, permite separar os alimentos entre aqueles que apresentam alto IG, os
quais são rapidamente digeridos e absorvidos produzindo maiores efeitos na glicemia, daqueles que
apresentam baixo IG os quais, devido a uma baixa velocidade de digestão e/ou absorção, produzem
aumentos graduais na glicemia e níveis de insulina. Certos tipos de amido, como os presentes na batata e
pão branco, por exemplo, provocam alterações glicêmicas maiores e mais rápidas do que até mesmo o
açúcar!
Dietas baseadas na ingestão de alimentos com baixo IG têm se mostrado benéficas para a saúde,
contribuindo tanto para o controle dos níveis glicêmicos em pacientes diabéticos quanto para a manutenção
do peso e controle do apetite em pessoas diabéticas e não diabéticas. Adicionalmente, dietas baseadas no
consumo de alimentos com baixo IG também se mostraram capazes de reduzir o nível de insulina no sangue
(insulinemia), contribuindo para a inibição do aparecimento de resistência a insulina.
Estudos recentes realizados pela Harvard School of Public Health indicam que o risco de
desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2 e doenças cardiovasculares está fortemente associado a uma
dieta rica em alimentos de alto IG. Em 1999, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Food and
Agriculture Organization (FAO) recomendaram que as pessoas, principalmente aquelas habitantes de
regiões industrializadas, baseiem suas dietas na ingestão de alimentos com baixo IG de maneira a prevenir
essas doenças e outras, como o câncer, que também tem se mostrado cada vez associado à diabetes e
resistência a insulina.

Como calcular o IG de um alimento?


O IG é calculado comparando-se as alterações glicêmicas provocadas por um determinado alimento em
relação a influência da ingestão de uma mesma quantidade de um carboidrato padrão como pão branco ou
glicose pura. Essa comparação é realizada, mais especificamente, comparando-se a área sob a curva
glicêmica (ou obtida pela ingestão do pão branco) com aquela obtida pela ingestão do alimento estudado e
que indica o aumento total da glicose induzida por este. Multiplicando-se o valor obtido por 100, obtém-se o
valor de IG.

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1.2. Carga Glicêmica

Apesar de extremamente importante, a utilização do IG na dieta diária não é muito prática. Isso
porque os valores de IG são determinados a partir de uma quantidade grande de alimento (no Brasil, 50 g)
que, muitas vezes, não é exatamente a porção do alimento que vamos comer. Por exemplo, o açúcar da
melancia é altamente disponível e aumenta os níveis glicêmicos muito rapidamente o que classifica esse
alimento como de alto IG. Contudo, a melancia não é um alimento rico em açúcar, ou seja, há quantidade
baixa de açúcar por grama desse alimento. Assim, uma porção de melancia influencia pouco a glicemia, não
por ter baixo IG, mas sim por ter pouco açúcar! Para facilitar a montagem de dietas e controlar a quantidade
de açúcares ingeridos com a dieta foi criada a classificação por “Carga Glicêmica” (CG ou, Glycemic Load
em inglês) a qual pode ser atribuída tanto a uma porção de alimento como a uma dieta composta de vários
alimentos.

Como calcular a CG de um alimento ou refeição?


A CG é calculada pelo produto do IG do alimento e a quantidade de carboidrato disponível presente
na porção consumida, divididos por 100 (repare que a CG vai depender do IG e da quantidade de alimento
ingerida!). A CG de uma dieta mista é calculada pela somatória da CG dos alimentos que a compõem e a
classificação da CG do alimento e da dieta, utilizando a glicose (valor 100) como alimento referência.

2. OBJETIVOS

Calcular o índice glicêmico (IG) de alimentos diferentes e classificá-los quanto ao valor em baixo,
médio ou alto IG.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Reagentes
- Álcool 70% para assepsia
- Pão branco; cereal integral; refrigerante; isotônico

3.2. Materiais
- Glicosímetro
- Fitas para glicosímetro
- Lancetador automático
- Lancetas descartáveis
- Algodão
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3.3. Procedimento experimental

a) Observação sobre a coleta de material biológico humano


✓ Sempre usar luvas de procedimento para coleta do material.
✓ Realizar assepsia local com álcool 70% antes da coleta. Não levar o dedo à boca após a coleta.
Estancar eventual sangramento com um pedaço de algodão limpo.
✓ Descartar material descartável perfurocortante (lancetas descartáveis) contaminadas em recipientes
adequados (“Descarpack”).

b) Avaliação dos níveis glicêmicos após ingestão de diferentes alimentos


1. Com o auxílio de um lancetador, coletar uma pequena amostra de sangue de um voluntário em jejum.
Determinar a concentração de glicose utilizando o glicosímetro.

Observações:
✓ Se a glicemia de jejum apresentar um valor superior a 140 mg/dL, não realizar o teste!
✓ Para períodos onde o voluntário não estiver em jejum de 8 a 14 h, o valor da glicemia inicial não deve
ser superior a 200 mg/dL. Se o valor for superior a este, não realizar o teste.

2. Ingerir um dos alimentos estudados de tal maneira que o consumo de carboidrato total seja de 1 g/kg
(quantidade máxima ingerida não deve ultrapassar 75 g) de peso corpóreo.

3. O voluntário deverá manter-se sentado durante todos os intervalos de coleta. Não é permitido fumar e
nem beber água!

4. Medir a glicemia de cada voluntário nos tempos 30, 60, 90 e 120 minutos, com o auxílio do glicosímetro.

5. Representar, graficamente, a variação da glicemia em relação ao tempo para cada alimento estudado.

6. Calcular o IG de cada alimento e classificá-los como de baixo, médio ou alto IG.

4. RESULTADOS

Tratar os dados e apresentar os resultados obtidos em seu caderno de laboratório. Use tabelas e
gráficos para facilitar a compreensão e comparação. Discuta os resultados obtidos e responda as questões
propostas.

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5. QUESTÕES

Valores de IG e CG podem ser obtidos da Tabela Internacional de IG e CG que pode ser encontrada na
página da Sociedade Brasileira de Diabetes.

1. Atualmente, quais valores denotam alimento com baixo, médio e alto IG?

2. Além de orientar o seguimento de uma dieta alimentar mais saudável, o IG dos alimentos também pode
auxiliar no treinamento de atletas e preparação para provas de exercícios físicos. Levando isso em
consideração, quais tipos de alimentos você incluiria na refeição de um atleta prestes a participar de uma
corrida rápida (exercício anaeróbico)? Justifique sua resposta.

3. Frequentemente, as pessoas substituem o pão branco por pão integral visando perder peso ou controlar
a diabetes mellitus. Do ponto de vista dos valores de IG, CG e teor calórico, essa troca é vantajosa?

4. A ingestão de fibras é vantajosa para a dieta de indivíduos diabéticos pois retardam a digestão do amido
e o aumento da glicemia alterando o IC dos alimentos. De fato, o IC dos alimentos pode ser alterado de
várias formas pois vários fatores interferem no aproveitamento dos carboidratos do alimento e da refeição,
e podem provocar diferentes respostas glicêmicas e aumentar ou diminuir o tempo de digestão, assim como
o valor do IG. Cite alguns desses fatores.

5. Quais valores permitem classificar um alimento como tendo baixa, média ou alta CG? Quais valores
permitem classificar uma refeição como tendo baixa, média ou alta CG?

6. Estime o valor da carga glicêmica de uma refeição composta por sanduíche + porção de batatas fritas +
refrigerante 500 mL + sobremesa (sorvete). Como você classificaria essa refeição quanto ao valor achado?

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Site Glycemic Index, acessado em 24/02/2013


http://www.gisymbol.com.au/index.php

Site da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), acessado em 24/02/2013


http://www.diabetes.org.br/colunistas-da-sbd/nutricao-e-ciencia/1156

Lajolo FM, Menezes EW. Carbohidratos em Alimentos Regionales Iberoamericanos. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo; 2006.

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PRÁTICA 5: Adaptações metabólicas: exercício aeróbico

1. OBJETIVOS: Avaliar o consumo de glicose e lipídios e a produção de lactato antes e após a realização
de exercícios físicos aeróbicos.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

➢ Exercício aeróbico

1. Quantificar glicose, lactato e triglicerídeos no sangue de dois voluntários.

2. Submeter os dois voluntários a uma caminhada de 20 minutos. Repetir as dosagens de glicose, lactato
e triglicerídeos do sangue dos dois voluntários após 10 minutos de caminhada, após 20 minutos de
caminhada e depois de 20 minutos de repouso após o mesmo ter sido realizado (tabela abaixo).

3. Faça gráficos relacionando quantidade de intermediários metabólicos (lactato, glicose e triglicerídeos)


no sangue em relação ao tempo de exercício ou pós-exercício.

AVALIAÇÃO DA QUANTIDADE DE GLICOSE, LACTATO E TRIGLICERÍDEOS NO SANGUE


APÓS REALIZAÇÃO DE CAMINHADA DE 20 MINUTOS

Voluntário 1 (nome) Voluntário 2 (nome)

Lactato (mg/dL) Antes 10 min 20 min 20 min Antes 10 min 20 min 20 min após
após término
término

Glicose (mmol/L) Antes 10 min 20 min 20 min Antes 10 min 20 min 20 min após
após término
término

Triglicérides (mg/dL) Antes 10 min 20 min 20 min Antes 10 min 20 min 20 min após
após término
término

3. QUESTÕES

Ver prática 6.

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PRÁTICA 6: Adaptações metabólicas: exercício anaeróbico

1. OBJETIVOS: Avaliar o consumo de glicose e lipídios e a produção de lactato antes e após a realização
de exercícios físicos anaeróbicos.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

➢ Exercício anaeróbico

1. Quantificar glicose, lactato e triglicerídeos no sangue de dois voluntários.

2. Submeter os dois voluntários a um “sprint” de 100 metros ou até o momento em que a frequência
cardíaca atingir 80 % da frequência cardíaca máxima (Frequência cardíaca máxima = 240 – idade).
Repetir as dosagens de glicose, lactato e triglicerídeos do sangue dos dois voluntários imediatamente
após o exercício e 30 minutos após o mesmo ter sido realizado (tabela abaixo).

3. Faça gráficos relacionando quantidade de intermediários metabólicos (lactato, glicose, triglicerídeos)


no sangue em relação ao tempo de exercício ou pós-exercício.

AVALIAÇÃO DA QUANTIDADE DE GLICOSE, LACTATO E TRIGLICERÍDEOS NO SANGUE


APÓS REALIZAÇÃO DE “SPRINT” DE 100 METROS

Voluntário 1 (nome) Voluntário 2 (nome)

Lactato (mg/dL) Antes Depois 30 min depois Antes Depois 30 min depois

Glicose (mmol/L) Antes Depois 30 min depois Antes Depois 30 min depois

Triglicérides (mg/dL) Antes Depois 30 min depois Antes Depois 30 min depois

3. QUESTÕES (ref práticas 5 e 6)

a) Qual a origem do lactato sanguíneo no repouso?

b) Qual a origem do lactato sanguíneo produzido após o exercício anaeróbico?

c) Por que não há um grande aumento de lactato no exercício aeróbico?

20
d) O que você esperaria que ocorresse com a velocidade de remoção do lactato sanguíneo se, ao
terminar o exercício anaeróbico, o voluntário continuasse a caminhar por mais 10 minutos?

e) O que você pode dizer sobre a mobilização e uso de lipídios nos exercícios aeróbico e anaeróbico?

f) O que você esperaria acontecer com a quantidade de colesterol sanguínea durante e após estes
exercícios? Por que? (Dica: O colesterol é usado como fonte de energia no exercício?)

d) Qual hormônio tem ação predominante sobre o metabolismo durante a realização de um exercício
físico? Como esse hormônio atua? Qual sua influência (estimula, inibe) sobre a atividade de enzimas
regulatórias do metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas?

21
EXERCÍCIO PRÁTICO 1 (virtual): Curva Glicêmica, Índice Glicêmico e Carga Glicêmica

1. INTRODUÇÃO

1.1. Teste Oral de Tolerância a Glicose (TOTG) ou Curva Glicêmica

A diabetes mellitus tipo 2 é uma das doenças mais comuns no mundo. Atualmente, o número de
novos casos tem aumentado de maneira alarmante. Estima-se que, no mundo, o número de pessoas
afetadas por essa patologia passe de 171 milhões em 2000 para 366 milhões no ano de 2030. Esse
aumento, fortemente correlacionado com a obesidade, representa um sério problema de saúde mundial
tendo em vista as complicações desenvolvidas por pacientes não tratados principalmente na área de
doenças cardiovasculares. Dessa maneira, a detecção precoce de indivíduos propensos a desenvolver a
doença poderia retardar ou mesmo evitar o aparecimento da mesma através de alterações no estilo de vida
e/ou administração de drogas.
O Teste Oral de Tolerância a Glicose (TOTG) ou Curva Glicêmica, tem sido utilizado como principal
método de detecção da diabetes mellitus e hipoglicemia por mais de 100 anos. Segundo orientações da
Organização Mundial da Saúde (OMS) e da American Diabetes Association (ADA), nesse teste o indivíduo
deve ter sua glicemia medida no jejum (de 8 a 14 horas) e 120 minutos após ter sido submetido a uma
ingestão de alta carga glicosídica (1,75 g de glicose anidra para cada quilograma de peso corpóreo até a
dose máxima de 75 g). Modelos de TOTG com dosagens em tempos diferentes do citado acima são
amplamente utilizados na prática clínica. Nesses modelos, baseados principalmente em estudos do National
Diabetes Data Group (NDDG), é feita a dosagem de glicemia no momento de jejum e também nos intervalos
de tempo de 30, 60, 90 e 120 minutos após a ingestão da glicose anidra. Dosagens com tempos superiores
a 180 minutos (Curva Glicêmica Prolongada) são utilizadas, na maioria das vezes, para auxiliar no
diagnóstico de hipoglicemia funcional. Na Figura 1 podemos analisar um gráfico representativo de um TOTG
realizado por um período de 6 horas mostrando os resultados obtidos para um indivíduo diabético em
comparação a um indivíduo que não apresenta a doença.

Figura 1. Curva glicêmica de indivíduo diabético e não diabético. Gráfico adaptado do site Blogoscópio
(http://professormontesano.blogspot.com/2013/02/curva-glicemica-totg.html)

22
A variação da glicemia ao longo do tempo no TOTG está relacionada a capacidade de liberação de
insulina pancreática assim como a sensibilidade dos tecidos a ação desse hormônio (Figura 2).

Figura 2. Curva glicêmica e liberação de insulina. Comparação entre a liberação de insulina (linha verde) no sangue e
as curvas glicêmicas de um indivíduo não diabético e um indivíduo intolerante à glicose. O espaço delimitado entre as
duas linhas (azul e amarela) compreende a área de medidas que caracterizam a intolerância à glicose; pontilhado em
azul define o limite entre a intolerância à glicose e diabetes. Glicemia inferior a 55 mg/dL ou superior a 200 mg/dL em
qualquer momento do exame indica curva glicêmica alterada. Extraído de http://otoneurologia.org.br/?p=604

1.2. Índice Glicêmico (IG)

O índice glicêmico (IG, glycemic index em inglês) é uma medida utilizada para classificar os
carboidratos presentes em diferentes alimentos de acordo com seus efeitos sobre os níveis de açúcar no
sangue. Essa escala é baseada na comparação da curva glicêmica característica de um alimento com a
mesma curva de um alimento considerado padrão (geralmente glicose ou pão branco). Essa classificação,
que vai de 0 a 100, permite separar os alimentos entre aqueles que apresentam alto IG, os quais são
rapidamente digeridos e absorvidos produzindo maiores efeitos na glicemia, daqueles que apresentam baixo
IG os quais, devido a uma baixa velocidade de digestão e/ou absorção, produzem aumentos graduais na
glicemia e níveis de insulina. Certos tipos de amido, como os presentes na batata e pão branco, por exemplo,
provocam alterações glicêmicas maiores e mais rápidas do que até mesmo o açúcar!
Dietas baseadas na ingestão de alimentos com baixo IG têm se mostrado benéficas para a saúde
contribuindo tanto para o controle dos níveis glicêmicos em pacientes diabéticos quanto para a manutenção
do peso e controle do apetite em pessoas diabéticas e não diabéticas. Adicionalmente, dietas baseadas no
consumo de alimentos com baixo IG também mostram reduzir o nível de insulina no sangue (insulinemia)
contribuindo para a inibição do aparecimento de resistência à insulina.
Estudos recentes realizados pela Harvard School of Public Health indicam que o risco de
desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2 e doenças cardiovasculares está fortemente associado a uma
dieta rica em alimentos de alto IG. Em 1999, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Food and
Agruculture Organization (FAO) recomendaram que as pessoas, principalmente aquelas habitantes de
regiões industrializadas, baseiem suas dietas na ingestão de alimentos com baixo IG de maneira a prevenir
23
essas doenças e outras, como o câncer, que também tem se mostrado cada vez associado à diabetes e
resistência a insulina.

Como calcular o IG de um alimento?


O IG é calculado comparando-se as alterações glicêmicas provocadas por um determinado alimento em
relação a influência da ingestão de uma mesma quantidade de um carboidrato padrão como pão branco ou
glicose pura. Essa comparação é realizada, mais especificamente, comparando-se a área sob a curva
glicêmica (ou obtida pela ingestão do pão branco) com aquela obtida pela ingestão do alimento estudado e
que indica o aumento total da glicose induzida por este. Multiplicando-se o valor obtido por 100, obtém-se o
valor de IG.

1.3. Carga Glicêmica (CG)


Apesar de extremamente importante, a utilização do IG na dieta diária não é muito prático. Isso
porque os valores de IG são determinados a partir de uma quantidade grande de alimento (no Brasil, 50 g)
que, muitas vezes, não é exatamente a porção do alimento que vamos comer. Por exemplo, o açúcar da
melancia é altamente disponível e aumenta os níveis glicêmicos muito rapidamente o que classifica esse
alimento como de alto IG. Contudo, a melancia não é um alimento rico em açúcar, ou seja, há quantidade
baixa de açúcar por grama desse alimento. Assim, uma porção de melancia influencia pouco a glicemia não
por ter baixo IG mas sim por ter pouco açúcar! Para facilitar a montagem de dietas e controlar a quantidade
de açúcares ingeridos com a dieta foi criada a classificação por “Carga Glicêmica” (CG ou, Glycemic Load
em inglês) a qual pode ser atribuída tanto a uma porção de alimento como a uma dieta composta de vários
alimentos.

Como calcular a CG de um alimento ou refeição?


A CG é calculada pelo produto do IG do alimento e a quantidade de carboidrato disponível presente
na porção consumida, divididos por 100 (repare que a CG vai depender do IG e da quantidade de alimento
ingerida!). A CG de uma dieta mista é calculada pela somatória da CG dos alimentos que a compõem e a
classificação da CG do alimento e da dieta, utilizando a glicose (valor 100) como alimento referência.

2. EXPERIMENTO

Parte 1. Definindo o IG de diferentes alimentos


Após 8 horas de jejum foi medida a glicemia de diferentes indivíduos. Posteriormente, grupos de 3
indivíduos ingeriram 50 g de diferentes tipos de carboidratos, como listado na tabela 1. A glicemia de cada

24
indivíduo foi medida com o auxílio de um glicosímetro portátil (AccuCheck Active Roche®) a cada 30 minutos
por um período total de 2 horas.

Tabela 1. Grupos experimentais Experimento 1- Determinação do IG de diferentes alimentos


Experimento 1. Ingestão de 50 g de diferentes carboidratos
Grupo Carboidrato Ingerido
1 Glicose (50 g de dextrose diluída em 300 mL de água)
2 Frutose (50 g diluída em 300 mL de água)
3 Maltodextrina (50 g diluída em 300 mL de água)
4 Garapa (276 mL)
5 Suco de melancia (625 mL)
6 Suco de melancia (625 mL) + Fibra solúvel (30 g)
7 Pão branco (89 g)
8 Pão branco (89 g) + manteiga (10 g)

Ao final do experimento, os valores de glicemia medidos em cada grupo foram usados na construção
de curvas glicêmicas e o IG de cada alimento calculado. Os resultados são mostrados abaixo (Figuras 3 -
5).

Figura 3. Valores de média ± desvio padrão da glicemia de 3 indivíduos de cada grupo testado (glicose, frutose, garapa
e maltodextrina) medidos a cada 30 minutos por um período de 2 horas. Os valores entre parênteses representam o
IG determinado a partir da área sob a curva do alimentado testado comparado com a área sob a curva da glicose.

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Figura 4. Valores de média ± desvio padrão da glicemia de 3 indivíduos de cada grupo testado (suco de melancia ou
suco de melancia + fibras) medidos a cada 30 minutos por um período de 2 horas. Os valores entre parênteses
representam o IG determinado a partir da área sob a curva do alimentado testado comparado com a área sob a curva
da glicose.

Figura 5. Valores de média ± desvio padrão da glicemia de 3 indivíduos de cada grupo testado (pão branco ou pão
branco com manteiga) medidos a cada 30 minutos por um período de 2 horas. Os valores entre parênteses representam
o IG determinado a partir da área sob a curva do alimentado testado comparado com a área sob a curva da glicose.

Parte 2. Definindo a CG de diferentes refeições


Após 8 horas de jejum foi medida a glicemia de diferentes indivíduos. Posteriormente, grupos de 3
indivíduos ingeriram refeições com diferentes valores de carga glicêmica obtidas pela mistura de alimentos
com índices glicêmicos altos e baixos (tabela 2). A glicemia de cada indivíduo foi medida com o auxílio de
um glicosímetro portátil (AccuCheck Active Roche®) a cada 30 minutos por um período total de 2 horas.

26
Tabela 2. Grupos experimentais Experimento 2- Comparação das curvas glicêmicas de diferentes refeições
Experimento 2. Carga Glicêmica de Diferentes Refeições
Grupo Carboidrato Ingerido
9 1 unidade de bolacha cream cracker
alimentos com alto IG 2 g de gelatina de fruta
em pequenas 30 mL de achocolatado
quantidades Carga glicêmica (baixa): 7,9
10 3 unidades de bolacha cream cracker
alimentos com alto IG 6 g de gelatina de fruta
em grandes quantidades 90 mL de achocolatado
Carga glicêmica (alta): 23,8
11 100 mL de iogurte desnatado sem açúcar
alimentos com baixo IG 10 g de aveia
em pequenas 1 maçã pequena
quantidades Carga glicêmica (baixa): 7,7
12 300 mL de iogurte desnatado sem açúcar
alimentos com baixo IG 30 g de aveia
em grandes quantidades 3 maçãs pequenas
Carga glicêmica (alta): 23,3

Ao final do experimento, os valores de glicemia medidos em cada grupo foram usados na construção
de curvas glicêmicas e os resultados obtidos são mostrados abaixo (Figuras 6 e 7).

Figura 6. Valores de média ± desvio padrão da glicemia de 3 indivíduos de cada grupo testado medidos a cada 30
minutos por um período de 2 horas. Meal 1 (Grupo 9: alimentos com alto IG em pequenas quantidades); Meal 2 (Grupo
10: alimentos com alto IG em grandes quantidades).

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Figura 7. Valores de média ± desvio padrão da glicemia de 3 indivíduos de cada grupo testado medidos a cada 30
minutos por um período de 2 horas. Meal 3 (Grupo 11: alimentos com baixo IG em pequenas quantidades); Meal 4
(Grupo 12: alimentos com baixo IG em grandes quantidades).

3. QUESTÕES

1. No jejum, quais valores de glicemia indicam:


a) glicemia dentro da normalidade
b) intolerância a glicose (pré-diabetes)
c) diabetes mellitus

2. Após 2 horas de realização da Curva Glicêmica, quais valores de glicemia indicam:


a) glicemia dentro da normalidade
b) intolerância a glicose
c) diabetes mellitus

3. Em uma medida casual do valor de glicemia, que resultado seria esperado para uma pessoa diabética?

4. Por que, durante a realização do TOTG, a pessoa deve permanecer em repouso e não fumar?

5. Como seria a curva de um paciente com diabetes mellitus?

6. O TOTG é considerado padrão ouro para a detecção da diabetes mellitus, contudo outras observações
clínicas e análises glicêmicas são avaliadas para o diagnóstico da doença. Quais são os critérios definidos

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pela Organização Mundial de Saúde (OMS), American Diabetes Association (ADA) e Sociedade Brasileira
de Diabetes (SBD) para o diagnóstico de Diabetes mellitus?

7. Atualmente, quais valores denotam alimento com baixo, médio e alto IG?

8. Quais valores permitem classificar um alimento como tendo baixa, média ou alta CG? Quais valores
permitem classificar uma refeição como tendo baixa, média ou alta CG?

9. Além de orientar o seguimento de uma dieta alimentar mais saudável, o IG dos alimentos também pode
auxiliar no treinamento de atletas e preparação para provas de exercícios físicos. Levando isso em
consideração, quais tipos de alimentos você incluiria na refeição de um atleta prestes a participar de uma
corrida rápida (exercício anaeróbico)? Justifique sua resposta.

10. O IG é determinado pela comparação da curva glicêmica característica de um alimento com a mesma
curva de um alimento considerado padrão, geralmente glicose ou pão branco. Observando os resultados
obtidos na prática (Figuras 3 e 5) você acha adequado o uso do pão branco como referência para a
determinação do IG dos alimentos?

11. Baseando-se nos resultados obtidos o que você pode dizer sobre a adição de fibras às refeições e os
efeitos na resposta glicêmica de um indivíduo? Como você justificaria os resultados obtidos (figura 4)?

12. Em relação a afirmação: “A quantidade de comida ingerida é um fator tão importante quanto o IG dessa
comida na modulação da glicemia e subsequente liberação de insulina.

Sugestão: Acompanhe no site indicado no link abaixo a experiência pessoal de Bruce Winter em relação a
medição da glicemia após ingestão de diferentes alimentos (“A blood sugar experiment”):
http://brucewinter.net/photos/a-blood-sugar-experiment/

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bartoli E, Fra GP, Carnevale Schianca GP. The oral glucose tolerance test (OGTT) revisited. Eur J Intern Med. 2011
(1):8-12.

Bellmanna S, Minekus M, Sanders P, Bosgra S, Havenaar R. Human glycemic response curves after intake of
carbohydrate foods are accurately predicted by combining in vitro gastrointestinal digestion with in silico kinetic
modeling. Clinical Nutrition Experimental Volume 17, February 2018, Pages 8-22.
https://doi.org/10.1016/j.yclnex.2017.10.003

Lajolo FM, Menezes EW. Carbohidratos em Alimentos Regionales Iberoamericanos. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo; 2006.

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Lazarim FL, Stancanelli M, Brenzikofer R, Macedo DV. Understanding the glycemic index and glycemic load and their
practical applications. Biochem Mol Biol Educ . 2009 Sep;37(5):296-300. doi: 10.1002/bmb.20314.

Report of the Expert Committee on the Diagnosis and Classification of Diabetes Mellitus. Diabetes Care, 26:S5-S20,
2003.

Site Glycemic Index, acessado em 24/02/2013


http://www.gisymbol.com.au/index.php

Site da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), acessado em 24/02/2013


http://www.diabetes.org.br/colunistas-da-sbd/nutricao-e-ciencia/1156

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