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Trabalho de Português- Poesia Contemporânea

Trabalho realizado por Lucas Castilho, Élio Samba, Romeu Gonçalves e Filipe Silva

Apresentação do autor- Jorge de Sena

Jorge de Sena (1919-1978) foi um escritor, poeta, crítico literário, tradutor e professor universitário
português. Considerado um dos maiores escritores da língua portuguesa do século XX, sua obra é
caracterizada pela complexidade, originalidade e profundidade.
Nascido em Lisboa, Portugal, em 2 de novembro de 1919, Sena estudou Direito na Universidade de
Lisboa e, mais tarde, na Universidade de Coimbra, onde se doutorou em 1949. Durante a década de
1940, trabalhou como crítico literário, escrevendo para jornais e revistas portuguesas, e publicou
seus primeiros livros de poesia, como "Pedra Filosofal" (1950) e "Coroa da Terra" (1956).
Em 1959, Sena deixou Portugal para exilar-se no Brasil, em consequência do regime ditatorial de
Salazar. Lá, lecionou na Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte, e continuou a
produzir uma vasta obra literária, incluindo romances, ensaios, peças de teatro e poesia, como
"Sinais de Fogo" (1978), considerado sua obra-prima.
A obra de Sena é caracterizada por uma grande riqueza temática e formal, que aborda questões
existenciais, sociais, políticas e culturais, com uma linguagem rigorosa e inventiva. Além de sua
produção literária, Sena também foi um importante tradutor de obras clássicas, como "Os
Lusíadas", de Camões, e "A Divina Comédia", de Dante Alighieri.
Em termos de prémios, Jorge de Sena foi agraciado com o Grande Prêmio de Poesia da Associação
Portuguesa de Escritores, em 1959, pelo livro "Pedra Filosofal". Posteriormente, em 1965, recebeu
o Prémio de Poesia da Fundação Calouste Gulbenkian, pelo livro "Poesia III". Em 1967, foi
agraciado com o Prémio Internacional de Poesia Etna-Taormina, na Itália. No entanto, é importante
salientar que Sena não era um escritor que se preocupava muito com prémios e honrarias, tendo
muitas vezes recusado ou ignorado distinções que lhe foram oferecidas.
Jorge de Sena era conhecido por ser um homem extremamente culto e erudito, com uma vasta
cultura literária e uma paixão pela música erudita. Tocava piano e tinha um grande conhecimento
sobre a história e a teoria da música, tendo inclusive escrito ensaios sobre o assunto. Além disso,
era um poliglota fluente em várias línguas, incluindo inglês, francês, espanhol, italiano, alemão e
latim.
Em sua obra crítica, Sena também demonstrou grande erudição e rigor, analisando autores como
Fernando Pessoa, Eça de Queirós e Camilo Castelo Branco, entre outros.
Jorge de Sena faleceu em Santa Barbara, na Califórnia, Estados Unidos, em 4 de junho de 1978,
deixando uma obra literária vasta e singular, que continua a influenciar a literatura portuguesa e
mundial.
Análise do poema- “Panfletos” de Jorge Sena

O poema "Panfleto", de Jorge de Sena, é um poema com forte teor político e social, no qual o poeta
expressa sua indignação com a opressão e a falta de liberdade em uma sociedade autoritária. O
poema começa com a afirmação do poeta de que ele "faz panfletos", ou seja, ele usa sua poesia
como uma forma de protesto e de luta contra a opressão.

Em relação às linhas temáticas da poesia contemporânea presentes no poema, podemos destacar a


preocupação com questões políticas e sociais, a crítica à opressão e à violência, a defesa da
liberdade e a busca por mudança e transformação social. Além disso, o uso da poesia como um
meio de protesto e de luta é uma característica comum da poesia contemporânea, presente também
no poema "Panfleto" de Jorge de Sena.
O poema apresenta vários recursos expressivos que intensificam a mensagem crítica e desafiadora
do poeta, como:

• Metáfora: a metáfora de "jogar e gastar / no pano verde imenso das campinas do mundo"
compara a vida a um jogo de azar, em que não se sabe o que o futuro reserva, mas é preciso
arriscar.
• Antítese: a antítese "Há desertos cativos de uma ausência dos povos" destaca a oposição
entre a riqueza natural de certas regiões e a pobreza extrema da população que nelas vive.
• Anáfora: a repetição da conjunção "nem" no verso 15 cria uma lista de elementos que não
são capazes de trazer a redenção, o que reforça a ideia de que ela não está em coisas
externas, mas dentro de cada um.
• Ironia: a frase "Matem essa gente para salvar a Vida!" é irônica, pois subverte o senso
comum de que a violência pode resolver problemas, ao mesmo tempo em que denuncia a
crueldade dos que se opõem à mudança.
• Apóstrofe: a exclamação "Tomai-a toda" é uma apóstrofe que convoca os leitores a se
apropriarem da redenção que o poeta propõe.
• Hipérbole: a expressão "pensamento húmido / que pestaneja ansioso nos cortejos públicos"
é uma hipérbole que enfatiza a tensão entre as aspirações do povo e a falta de
representatividade política.

Apreciação pessoal sobre o poema

Este poema de Jorge de Sena, intitulado "Panfletos", é um manifesto contra a idolatria do tempo e
da vida vazia de significado, contra a guerra e a opressão, e a favor da liberdade e da redenção
individual e coletiva.
O poema é marcado por uma linguagem intensa e contundente, com muitos recursos expressivos,
como a enumeração de imagens e ideias ("os filhos, os mares floridos, o prazer, a dor, a amizade"),
a antítese ("redenção sou eu, se formos nós sem forma"), e a figura de linguagem da metonímia ("o
pano verde imenso das campinas do mundo").
O poema tem uma mensagem muito forte e urgente, que apela à consciência crítica e à ação dos
poetas e dos homens em geral, para que não se deixem enganar pelos falsos ideais e valores
impostos pela sociedade, mas lutem pela verdadeira liberdade e justiça, mesmo que isso signifique
sacrificar a própria vida.
Em minha opinião, este poema é uma obra de grande importância e atualidade, que nos alerta para
os perigos da alienação e da submissão, e nos convoca a assumir nossa responsabilidade como
seres humanos conscientes e livres, em busca da redenção individual e coletiva.

Estrofe 1: "Fere-me esta idolatria mais do que todos os crimes: Tanto fervor desviado e perdido!
Tanta gente ajoelhando à passagem do tempo e tão poucos lutando para lhe abrir caminho!"
Nesta estrofe, o poeta critica a idolatria, que ele considera um mal maior do que todos os crimes.
Ele observa que muitas pessoas idolatram o tempo, enquanto poucas lutam para mudar as coisas.
Ele usa a imagem das pessoas ajoelhando à passagem do tempo para representar como as pessoas
estão presas a uma mentalidade fixa, e poucos têm coragem de desafiar as normas.
Estrofe 2: "Há uma vida inteira a jogar e gastar no pano verde imenso das campinas do mundo. Há
desertos cativos de uma ausência dos povos. Há uma guerra devastando a vida, enquanto a
supuserem redimida!"
Nesta estrofe, o poeta apresenta uma visão da vida como um jogo que pode ser jogado e gasto. Ele
observa que há desertos cativos de uma ausência dos povos, ou seja, lugares que estão vazios e
inexplorados. Ele também menciona a guerra que está devastando a vida, enquanto as pessoas
acreditam que estão sendo redimidas.
Estrofe 3: "E em nós a redenção quase perdida!... Vamos rasgar, ó poetas, esta mentira da alma,
vamos gritar aos homens que os enganam, que não é a força, que não é a glória, que não é o sol
nem a lua nem as estrelas, nem os lares nem os filhos, nem os mares floridos, nem o prazer nem a
dor nem a amizade, nem o indivíduo só compreendendo as causas, nem os livros nem os poemas,
nem as audácias heróicas,"
Nesta estrofe, o poeta sugere que a redenção está quase perdida. Ele chama os poetas para rasgar a
mentira da alma e gritar aos homens que os enganam. Ele então lista uma série de coisas que não
são a redenção, incluindo a força, a glória, o sol, a lua, as estrelas, os lares, os filhos, os mares
floridos, o prazer, a dor, a amizade, o indivíduo que só compreende as causas, os livros, os poemas
e as audácias heróicas.
Estrofe 4 e 5
Aqui está a redenção. Tomai-a toda.
E se é verdade a fome,
se é verdade o abismo,
se é verdade o pensamento húmido
25 que pestaneja ansioso nos cortejos públicos,
se são verdade asredenções que mentem:
Matem essa gente para salvar a Vida!
E matem-me com elas para que as queime ainda!

A última estrofe do poema apresenta uma mudança drástica de tom em relação às anteriores. O eu
lírico afirma que a verdadeira redenção está em si mesmo e nos outros, juntos, sem forma,
liberdade, corpo, programas ou escolas. Essa redenção não é encontrada em coisas materiais, como
a força, a glória, o sol, a lua, as estrelas, os lares, os filhos, os mares floridos, o prazer, a dor, a
amizade, os livros, os poemas ou as audácias heróicas.
A estrofe final começa com uma expressão que sugere entrega total: "Aqui está a redenção. Tomai-
a toda." O eu lírico então questiona se as aflições humanas são verdadeiras: a fome, o abismo, o
pensamento úmido que pestaneja ansioso nos cortejos públicos e as redenções que mentem.
A estrofe termina com duas linhas extremamente fortes e chocantes: "Matem essa gente para salvar
a Vida! E matem-me com elas para que as queime ainda!" Essas linhas apresentam uma visão
radical, na qual a morte é vista como uma forma de salvar a vida e acabar com a mentira da alma.
O eu lírico se coloca no mesmo nível daqueles que ele quer matar, sugerindo que ele também é
parte do problema. A mensagem final é de raiva e desespero diante da condição humana e da falta
de ação para mudá-la.

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