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Evapotranspiração 1

5 EVAPOTRANSPIRAÇÃO

5.1 Evaporação, Transpiração e Evapotranspiração

5.1.1 Conceitos

Evaporação é o conjunto de fenômenos de natureza física que transformam em vapor a


água da superfície do solo, a dos cursos de água, lagos, reservatórios de acumulação e
mares.
Transpiração é a evaporação devida à ação fisiológica dos vegetais. As plantas, através
de suas raízes, retiram do solo a água para suas atividades vitais. Parte dessa água é
cedida à atmosfera, sob a forma de vapor, na superfície das folhas.
Ao conjunto das duas ações dá-se o nome de evapotranspiração.
Evapotranspiração potencial é a máxima evapotranspiração que ocorreria se o solo
dispusesse de suprimento de água, suficiente.
Evapotranspiração real ou efetiva é a perda d´água por evaporação ou transpiração, nas
condições reinantes (atmosféricas e de umidade do solo). Nos períodos de deficiência de
chuva em que os solos tornam-se mais secos, a evapotranspiração real é sempre menor do
que a potencial.

5.1.2 Grandezas Características

Perda por evaporação (ou por transpiração) é a quantidade de água evaporada por
unidade de área horizontal durante um certo intervalo de tempo.
Intensidade de evaporação (ou de transpiração) é a velocidade com que se processam as
perdas por evaporação. Pode ser expressa em mm/hora ou em mm/dia.

5.1.3 Fatores Intervenientes

a) Grau de umidade relativa do ar


O grau de umidade relativa do ar atmosférico é a relação entre a quantidade de vapor de
água aí presente e a quantidade de vapor de água no mesmo volume de ar se estivesse
saturado de umidade. Essa grandeza é expressa em porcentagem. Quanto maior for a
quantidade de vapor de água no ar atmosférico, tanto maior o grau de umidade e menor a
intensidade de evaporação.
b) Temperatura
A elevação da temperatura tem influência direta na evaporação porque eleva o valor da
pressão de saturação do vapor de água, permitindo que maiores quantidades de vapor de
água possam estar presentes no mesmo volume de ar, para o estado de saturação.
c) Vento
O vento atua no fenômeno da evaporação renovando o ar em contato com as massas de
água ou com a vegetação, afastando do local as massas de ar que já tenham grau de
umidade elevado.
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d) Radiação Solar
O calor radiante fornecido pelo Sol constitui a energia motora para o próprio ciclo
hidrológico.
e) Pressão barométrica
A influência da pressão barométrica é pequena, só sendo apreciada para grandes
variações de altitude. Quanto maior a altitude, menor a pressão barométrica e maior a
intensidade de evaporação.
f) Outros fatores
Além desses fatores, pode-se citar as influências inerentes à superfície evaporante, a
saber: tamanho da superfície evaporante, estado da área vizinha, salinidade da água,
umidade do solo, composição e textura do solo, etc.

5.2 Determinação da evaporação e evapotranspiração

A tabela a seguir resume os principais meios utilizados nas determinações da evaporação


e da evapotranspiração real e potencial.
Tabela 5.1 - Meios utilizados nas determinações da evaporação e da
evapotranspiração.
OBTENÇÃO
PARÂMETRO DIRETA INDIRETA
EVAPORAÇÃO a) Evaporímetros
POTENCIAL - tanque Classe
A
- tanque
Colorado Método de Penman
- tanque russo
- tanque CGI
b) Atmômetros
- Piche
- Livingstone
- Bellani
EVAPORAÇÃO REAL Lisímetros (sem vegetação)
EVAPOTRANSPIRAÇÃO - Equação de Thornthwaite
POTENCIAL - Método de Blaney-
Criddle
- Hargreaves
- Penman modificado
- Papadakis
- Hamon
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EVAPOTRANSPIRAÇÃO a) Lisímetros
REAL - de percolação
- de pesagem
b) Parcelas experimentais
c) Controle de umidade do
solo
d) Balanço hídrico da
bacia

5.2.1 Medida e estimativa da evaporação potencial

a) Evaporímetros
São tanques que expõem à atmosfera uma superfície líquida de água permitindo a
determinação direta da evaporação potencial diariamente. O mais utilizado é o tipo classe
A do U.S. Weather Bureau que é um tanque circular galvanizado ou metal equivalente
(figura 5.1).

Figura 5.1 – Tanque “Classe A” – US Weather Bureau.

Procedimento da medida:
Efetuar a leitura, do dia ou horário, do nível d´água no tanque (ea)
Comparar com a leitura anterior, do dia ou horário (ed)
Calcular a diferença e1 = ed – ea
Estamos perante duas possibilidades, ter ou não ter ocorrido chuva no intervalo entre as
duas leituras.
1º.) não houve chuva
então Eo = e1
2º.) houve chuva, com altura pluviométrica h1
então Eo = e1 + h1
Atenção: no caso de ter havido chuva intensa, o valor de e1 pode ser negativo.
Obs.: Quando ocorrer transbordamento no tanque a leitura será perdida.
Com o valor da evaporação potencial (E) pode-se estimar a evapotranspiração potencial
(ETP) pela correlação:
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ETP = kp.E (5.1)


onde:
E = evaporação medida no tanque evaporimétrico em mm/dia;
ETP = evapotranspiração potencial em mm/dia, representa a média diária para o período
considerado;
kp = coeficiente de correlação, que depende do tipo de tanque e de outros parâmetros
meteorológicos.
Como o tanque evaporimétrico Classe A é largamente utilizado no Brasil, na Tabela 2.1
abaixo estão indicados valores do coeficiente k p, para o tanque classe A no Estado de São
Paulo.
Tabela 5.1 – Coeficiente Kp para o tanque Classe A no Estado de São Paulo.

c) Atmômetros
 Evaporímetro Piché
É constituído por um tubo cilíndrico de vidro, de 25 cm de comprimento e 1,5 cm de
diâmetro. O tubo é graduado e fechado em sua parte superior; a abertura inferior é
obturada por uma folha circular de papel-filtro padronizado, de 30 mm de diâmetro e de
0,5 mm de espessura, fixado por capilaridade e mantido por uma mola. O aparelho é
previamente enchido de água destilada, a qual se evapora progressivamente pela folha de
papel-filtro; a diminuição do nível d´água no tubo permite calcular a
taxa de evaporação.
O processo de evaporação está ligado essencialmente ao déficit
higrométrico do ar e o aparelho não leva em conta a influência da
insolação, já que costuma ser instalado debaixo de um abrigo para
proteger o papel-filtro à ação da chuva. A relação entre as evaporações
anuais medidas em um mesmo ponto em um tanque Classe A e um do
tipo Piché é bastante variável. Os valores médios dessa relação estão
compreendidas entre 0,45 e 0,65.

Figura 5.2 –Evaporímetro Piché.

 Atmômetro Livingstone
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É essencialmente constituído por uma esfera oca de porcelana porosa de cerca de 5 cm de


diâmetro e 1 cm de espessura; ela é cheia de água destilada e se comunica com uma
garrafa contendo água destilada que assegura o permanente enchimento da esfera e
permite a medida do volume evaporado.
d) Método de Penman
Esse método baseia-se em complexas equações teóricas, porém é de aplicação prática
muito simples graças ao ábaco da figura 5.3. A evaporação potencial é obtida aplicando-
se a seguinte equação:
E = E1 + E2 + E3 + E4 (5.2)
onde:
E1 = f(t, n/D)
E2 = f(t, n/D, Ra)
E3 = f(t, h, n/D)
E4 = f(t, u2, h)
t = temperatura média (C)
n = número real de horas de sol (insolação) (h)
D = número máximo de horas de sol/dia (h) (ver tabela)
Ra = radiação incidente na atmosfera (cal/cm2/dia) (ver tabela)
u2 = velocidade do vento a 2 metros do solo (m/s)
As tabelas e o ábaco seguintes são usados para resolução da equação.
Tabela 2.2 -

Tabela 2.3 -
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Utilização do ábaco:
1 – Obtenção de E1: Na parte do ábaco referente a E1, marcar os valores nos eixos
respectivos de t e da relação n/D; unir os dois pontos por uma reta e ler o valor de E 1 no
seu eixo.
2 – Obtenção de E2: Na parte do ábaco referente a E2, marcar os valores nos eixos
respectivos de t e da relação n/D; unir os dois pontos por uma
reta e marcar o valor auxiliar a 1 no eixo a1. Unir, por uma reta, o valor de a 1 com o valor
de Ra marcado no respectivo eixo e ler o valor de E2 no seu eixo.
3 e 4 – Obtenção dos valores de E3 e E4. Agir de maneira análoga ao item 2.

Aplicação do método de Penman para estimar E:

a) Estimar a evaporação ocorrida no reservatório de Guarapiranga


(São Paulo – latitude 23 S) em um dia no mês de outubro, em que se verificaram os
seguintes valores:
t – temperatura média = 18 C
n – número de horas de sol = 10 h
h – umidade relativa do ar = 60% = 0,6
u2 – velocidade do vento a 2m do solo = 5,5 m/s

b) Calcular a população que poderia ser abastecida com a água


perdida por evaporação, considerando: área do reservatório = 10 km 2 e consumo per
capta de 250 l/hab/dia.

Solução: (Acompanhar no ábaco com traçados)

D = 12,6 h (Tabela )
Ra = 897 cal/cm2/dia (Tabela)
n/D = 10/12,6 = 0,79; h = 0,6; t = 18 C; u2 = 5,5 m/s

a) Cálculo de E (evaporação potencial)


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Do ábaco: E1 = - 3,6 mm; E2 = 5,4 mm; E3 = 1,9 mm; E4 = 2,3 mm

Dessa forma, E = E1 + E2 + E3 + E4 = 6,0 mm

b) Cálculo da população que poderia ser abastecida com esta água (E = 6,0 mm)

V = Volume d’água evaporada = área x E


V = 10 km2 x 6 mm = 10 x 106 x 6 x 10-3 = 60 x 103 = 60.000 m3/dia = 60.000.000 l/dia.
P = população atendida = V/consumo per capta = 60.000.000/250 = 240.000 habitantes.

5.2.2 Determinação da Evapotranspiração Potencial

Além da possibilidade de obtenção da evapotranspiração potencial a partir da correlação


com a evaporação potencial, são usuais também os métodos de Thorntwaite, Blaney-
Criddle e outros.
a) Método de Thorntwaite
O método de Thorntwaite é muito utilizado em todas as regiões, já que baseia-se somente
na temperatura, que é um dado normalmente coletado em estações meteorológicas.
Entretanto, por basear-se apenas nesse parâmetro, pode levar a resultados errôneos, pois a
temperatura não é um bom indicador da energia disponível para a evapotranspiração.
Outras limitações do método são: não considera a influência do vento, nem da advecção
do ar frio ou quente, não permite estimar a ETP para períodos diários. Seu uso é mais
adequado para regiões úmidas.
Neste método, a ETP pode ser estimada pela equação abaixo:

(5.3)

onde:
ETP = evapotranspiração mensal ajustado, em cm;
f = fator de ajuste em função da latitude e mês do ano;
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Figura 5.3 – Ábaco de Penman.


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t = temperatura média mensal, em C;


I = índice de calor anual dado por:

onde (5.4)

O valor de a é dado pela função cúbica do índice de calor anual:

a = 6,75.10-7.I3 – 7,71.10-5.I2 + 1,792.10-2.I + 0,49239 (5.5)

Os valores obtidos pela fórmula de Thornthwaite são válidos para meses de 30 dias com
12 horas de luz por dia. Como o número de horas de luz por dia muda com a latitude e
também porque há meses com 28 e 31 dias, torna-se necessário proceder correções. O
fator de correção (f) é obtido da seguinte forma:

(5.6)

onde:
h = número de horas de luz na latitude considerada;
n = número de dias do mês em estudo.

b) Método de Blaney-Criddle

Este método foi desenvolvido em 1950, na região oeste dos EUA, sendo por isso mais
indicado para zonas áridas e semi-áridas, e consiste na aplicação da seguinte fórmula para
avaliar a evapotranspiração potencial:

ETP = p.(0,457.t + 8,13) (5.7)


onde:
ETP = evapotranspiração potencial, em mm/mês;
p = porcentagem mensal de horas-luz do dia durante o ano (“p”) é o valor médio mensal);
t = temperatura média mensal do ar, em C.
Tabela 5.4 – Valores de p.

5.2.3 Determinação da Evapotranspiração Real

a) Lisímetro
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Lisímetro de percolação consiste em um tanque enterrado com as dimensões mínimas de


1,5m de diâmetro por 1,0m de altura, no solo, com a sua borda superior 5cm acima da
superfície do solo. Do fundo do tanque sai um cano que conduzirá a água drenada até um
recipiente. O tanque tem que ser cheio com o solo do local onde será instalado o
lisímetro, mantendo a mesma ordem dos horizontes. No fundo do tanque, coloca-se uma
camada de mais ou menos 10cm de brita coberta com uma camada de areia grossa. Esta
camada de brita tem a finalidade de facilitar a drenagem d´água que percolou através do
tanque. Após instalado, planta-se grama no tanque e na sua área externa. Na figura 2.4 é
mostrado um lisímetro deste tipo.
O tanque pode ser um tambor, pintado interna e externamente para evitar corrosão,
tanque de amianto ou tanque de metal pré-fabricado.

Figura 5.4 – Esquema de um lisímetro.

A evapotranspiração real em um período qualquer é dada pela equação:

(5.8)

E = Evapotranspiração real, em mm/período;


I = Irrigação do tanque, em litros;
P = preciptação pluviométrica no tanque, em litros;
D = Água drenada do tanque, em litros;
S = Área do tanque, em m2.

b) Processos Indiretos
Em condições normais de cultivo de plantas anuais, logo após o plantio, a
evapotranspiração real (ETR) é bem menor do que a evapotranspiração potencial (ETP).
Esta diferença vai diminuindo, à medida que a cultura se desenvolve, em razão do
aumento foliar, tendendo para uma diferença mínima antes da maturação; depois a
diferença vai aumentando, conforme pode ser visto na figura 2.5. A avaliação da ETR a
partir da ETP é de grande utilidade para o planejamento da agricultura irrigada. Tal
avaliação pode ser feita, por meio de coeficientes culturais (Kc) dados na Tabela 2.4 para
algumas culturas, da seguinte forma:

ETR = Kc.ETP (5.9)


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Figura 5.4 – Relação entre ETR e ETP para cultura de ciclo curto.

Tabela 5.5 – Coeficientes de cultura “Kc”.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS

E5.1 A evaporação real mensal de uma região é da ordem de 100 mm. Supondo
consumo per capta de 200 l/hab/dia, com a água perdida por evaporação em um
reservatório de 6 km2 de área, poderia abastecer, durante um mês, uma cidade de:
a) 10.000 habitantes;
b) 100.000 habitantes;
c) 30.000 habitantes;
d) 300.000 habitantes.

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