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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI


CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR –
CTTMar
CURSO DE OCEANOGRAFIA

ANÁLISE DAS COTAS DE INUNDAÇÃO DAS PRAIAS DA ENSEADA


DO ITAPOCORÓI-SC EM DIFERENTES ESCALAS TEMPORAIS,
UTILIZANDO O SOFTWARE SMC BRASIL 3.0

ERNANI DOS REIS VILELA

ITAJAÍ
2014
ii

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI


CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR –
CTTMar
CURSO DE OCEANOGRAFIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

ANÁLISE DAS COTAS DE INUNDAÇÃO DAS PRAIAS DA ENSEADA


DO ITAPOCORÓI-SC EM DIFERENTES ESCALAS TEMPORAIS,
UTILIZANDO O SOFTWARE SMC BRASIL 3.0

ERNANI DOS REIS VILELA

Monografia apresentada como


parte dos requisitos para obtenção do
grau de Bacharel em Oceanografia da
Universidade do Vale do Itajaí.
Orientador: Dr. João Thadeu
de Menezes

ITAJAÍ
2014
iii

NOTA

O presente documento – Trabalho de


Conclusão de Curso – faz parte do processo de
avaliação da disciplina Projeto de Graduação do
curso de Oceanografia da UNIVALI, a qual tem
os seguintes objetivos:

 Proporcionar aos acadêmicos, condições


complementares de atividades de
aprendizagem teóricas e práticas nos
diferentes campos de atuação
profissional;

 Proporcionar condições para que os


acadêmicos formados desenvolvam
atitudes e hábitos profissionais, bem
como adquiram, exercitem e aprimorem
seus conhecimentos;

 Estimular a especialização em um campo


de atividade específica;

 Promover a integração entre o


acadêmico formado e o mercado de
trabalho.

O TCC é resultado do trabalho do aluno,


executado sob orientação de um professor
orientador. Por ter como finalidade
documentação de aprendizado, não se trata de
uma publicação científica estrito senso, sendo
que os métodos empregados, resultados e
conclusões obtidas, devem ser consideradas
nesse contexto. Maiores informações sobre o
conteúdo específico do documento podem ser
obtidas com o autor ou professor orientador do
trabalho
iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais por toda a confiança, por acreditarem
em mim, e por não medirem esforços em me ajudarem a concluir meus estudos,
agradeço do fundo do meu coração
Agradeço a Érica, por todo apoio, ajuda, companheirismo e carinho, agradeço
também a sua Família pelas energias positivas, e apoio durante essa etapa.
A Paula Gomes por ajudar a tirar minhas dúvidas, por toda paciência, incentivo
e tempo dedicado.
A meu professor e orientador Thadeu pela orientação e ajuda na conclusão
deste trabalho.
A todos do LOG, que sempre tiveram presente durante essa etapa de
aprendizagem, com certeza todos vocês foram muito importantes.
Agradeço a Congregação Santa Doroteia do Brasil, pela bolsa de estudo,
tornando possível a realização deste sonho.
Por fim agradeço a todos meus amigos por todo o apoio e incentivo, momentos
e aprendizagem durante mais esta fase da minha vida, obrigado a todos.
v

RESUMO
A proposta de estudo se baseia na premissa de que a região costeira, sendo um ambiente
de intensa dinâmica oceânica em um complexo sistema de interação, oceano -
continente – atmosfera, e com as maiores densidades demográficas do território
brasileiro; Por esse motivo, há uma necessidade de estudos combinados desses
fenômenos para que se desenvolvam medidas mitigatórias de proteção da linha de costa
no âmbito ambiental e sócio econômico. No presente trabalho utilizou-se software SMC
Brasil 3.0 para calcular as cotas de inundação para ambiente costeiro da Enseada do
Itapocorói - SC e tentar prever a cota de inundação em casos de eventos extremos, em
diferentes períodos de retorno que representa o intervalo no qual um evento de
determinada magnitude é igualado ou superado, ajudando nas tomadas de decisões
futuras, a fim de minimizar o impacto ambiental e socioeconômico.A área de estudo
apresenta um histórico de sucessivos problemas decorrentes da erosão costeira
ocasionados pela interação de múltiplos fatores tais como: regime clima de ondas, marés
e correntes litorâneas, oscilações climáticas como eventos de tempestades, variações do
nível do mar. O trabalho apresentou resultados de cota de inundação para os diferentes
setores da área de estudo, que foi dividida em: protegido e exposto, para período de
retorno de 50 e 100 anos. Os resultados de cota de inundação para período de retorno
de 50 anos foi de 3,38m setor protegido e 4,45m setores exposto e para período de
retorno de 100 anos 3,92m setor protegido e 5,01m setor exposto.

Palavras-chave: runup, cota de inundação, modelagem numérica.


vi

SUMÁRIO
Resumo............................................................................................................................ v
Sumário..........................................................................................................................vi
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................ viii
LISTA DE TABELAS ................................................................................................... x
LISTA DE EQUAÇÕES ............................................................................................... x
LISTA DE QUADROS .................................................................................................. x
LISTA DE ABREVIATURAS ..................................................................................... xi
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 12
ÁREA DE ESTUDO ............................................................................................. 14
OBJETIVOS ......................................................................................................... 17
OBJETIVO GERAL .................................................................................... 17
OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................... 17
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................ 18
PRAIAS ......................................................................................................... 18
PRAIAS DE ENSEADA .................................................................................................... 20
ONDAS .......................................................................................................... 21
MARÉ ............................................................................................................ 24
MARÉS ASTRONÔMICAS .............................................................................................. 25
MARÉS METEOROLÓGICAS ......................................................................................... 26
NÍVEL MÉDIO DO MAR ........................................................................... 28
RUNUP .......................................................................................................... 29
CÁLCULO RUNUP SILVA (2012) .................................................................................. 32
CÁLCULO RUNUP NIELSEN e HANSLOW (1991) ..................................................... 33
INUNDAÇÃO COSTEIRA ......................................................................... 33
CÁLCULO DA COTA DE INUNDAÇÃO ....................................................................... 34
SMC BRASIL 3.0 ......................................................................................... 34
SMC-TOOLS ..................................................................................................................... 35
MÓDULO AMEVA ........................................................................................................... 35
SELEÇÃO DE CASOS (MaxDiss) ............................................................. 36
PROBLEMA DO NÍVEL DE REFERÊNCIA (DHN x IBGE) ................ 36
METODOLOGIA.................................................................................................. 38
DADOS UTILIZADOS ................................................................................ 38
NÍVEL MÉDIO DO MAR ................................................................................................. 39
BATIMETRIA ................................................................................................................... 39
MARÉ ASTRONÔMICA .................................................................................................. 40
vii

MARÉ METEOROLÓGICA ............................................................................................. 41


ONDAS .............................................................................................................................. 42
PROCESSAMENTO DOS DADOS (Pré-Processo) .................................. 42
AMEVA ............................................................................................................................. 42
MALHAS DE CÁLCULO ................................................................................................. 43
SELEÇÃO DOS CASOS ................................................................................................... 46
PROCESSAMENTO DOS DADOS (Pós-Processo) .................................. 47
CÁLCULO DA COTA DE INUNDAÇÃO ................................................. 48
RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 49
SETOR PROTEGIDO ................................................................................. 49
CARTA DE INUNDAÇÃO SETOR PROTEGIDO .......................................................... 54
SETOR EXPOSTO ....................................................................................... 57
CARTA DE INUNDAÇÃO SETOR EXPOSTO .............................................................. 59
CONCLUSÕES ..................................................................................................... 63
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 64
APÊNDICE(S) ............................................................................................................. 68
viii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Localização da área de estudo. Coordenadas UTM Datum SAD-69. Fonte:


Araújo, 2008................................................................................................................. 14
Figura 2: Zonação hidrodinâmica e morfológica tipicamente observada em uma praia
arenosa (Adaptada: Hoefel,1998). ............................................................................... 18
Figura 3: Forma das praias de enseada, mostrando a linha de controle da forma da
enseada, a zona de sombra do promontório e a seção retilínea da praia ...................... 20
Figura 4: Exemplo de difração de ondas causada por um promontório. ...................... 23
Figura 5: As setas indicam a força gravitacional devido à presença da Lua agindo em
objetos localizados em diferentes posições na superfície da Terra. O comprimento e
orientação das setas indicam a força e a direção da força gravitacional. .................... 24
Figura 6: Principais componentes de maré. ................................................................. 25
Figura 7: Forças gravitacional e centrífuga atuantes no sistema Terra-Lua. ............... 26
Figura 8: Representação do efeito da força de Coriolis nos hemisférios. Hemisfério sul
sentido anti-horário e hemisfério norte sentido horário. .............................................. 27
Figura 9: Representação vetorial das variações de velocidade e direção do movimento
da água no hemisfério Sul com o aumento da profundidade. ...................................... 27
Figura 10: Variações do nível médio do mar. Em vermelho representação para cenário
pessimista e azul para cenário otimista para projeções até 2100. ................................ 29
Figura 11: Runup: composto pelo wave set-up e espraiamento da onda na face da praia
...................................................................................................................................... 29
Figura 12: Processos envolvidos no cálculo da cota de inundação. ............................. 34
Figura 13: Zona de estudo, batimetria e ponto de onda DOW ..................................... 39
Figura 14: Batimetria obtida no software SMC, através da digitalização de cartas
náuticas. ....................................................................................................................... 40
Figura 15: Pontos de dados de maré extraídos do modelo TPXO ao longo da costa
brasileira ....................................................................................................................... 41
Figura 16: Esquema da construção de malhas com diferentes orientações, para permitir
a entrada de ondulações com diferentes direções. ....................................................... 43
Figura 17: Rosa de frequência direcional de ondas, relativa ao ponto DOW selecionado,
obtido pelo programa AMEVA.................................................................................... 44
Figura 18: Malhas de cálculo criadas para receber as ondas incidentes sobre área de
estudo. .......................................................................................................................... 46
ix

Figura 19: Casos selecionados a partir da metodologia MaxDiss. Em preto estão


apresentadas as séries completas; em vermelho, a seleção feita a partir da metodologia
Maxdiss......................................................................................................................... 47
Figura 20: Seleção dos casos a se propagar com suas respectivas malhas e parâmetros
que caracterizam as ondas ............................................................................................ 47
Figura 21: Perfil 1 selecionado para setor protegido da praia ...................................... 50
Figura 22: Período de retorno de cota de inundação, projetados para 200 anos, com base
em dados de uma série temporal de 60 anos, obtido para setor protegido da praia.
Valores não utilização a variação do nível do mar no cálculo. .................................... 50
Figura 23: Runup (R2%) usando formulação proposta por 𝑁𝑖𝑒𝑙𝑠𝑒𝑛 𝑒 𝐻𝑎𝑛𝑙𝑜𝑤 (1991),
gerado pelo SMC Brasil 3.0, para setor protegido da praia. ......................................... 51
Figura 24: Período de retorno de maré astronômica, projetados para 200 anos, com base
numa série temporal de 60 anos, obtido através do módulo AMEVA, para setor
protegido ....................................................................................................................... 52
Figura 25: Período de retorno de maré astronômica, projetados para 200 anos, com base
numa série temporal de 60 anos, obtido através do módulo AMEVA, para setor
protegido ....................................................................................................................... 53
Figura 26: Carta de inundação gerada para setor protegido e período de retorno de 50
anos. .............................................................................................................................. 55
Figura 27: Carta de inundação gerada para setor protegido e período de retorno de 50
anos. .............................................................................................................................. 56
Figura 28: Perfil 2 selecionado para setor exposto da praia ......................................... 57
Figura 29: Período de retorno de cota de inundação, projetados para 200 anos, com base
em dados de uma série temporal de 60 anos, obtido para setor exposto da praia. Valores
não utilização a variação do nível do mar no cálculo. .................................................. 58
Figura 30: Runup (R2%) usando formulação proposta por 𝑁𝑖𝑒𝑙𝑠𝑒𝑛 𝑒 𝐻𝑎𝑛𝑙𝑜𝑤 (1991),
gerado pelo SMC Brasil 3.0, para setor exposto da praia............................................. 59
Figura 31:Carta de inundação gerada para setor exposto e período de retorno de 50 anos.
...................................................................................................................................... 60
Figura 32: Carta de inundação gerada para setor exposto e período de retorno de 100
anos. .............................................................................................................................. 61
x

LISTA DE TABELAS

Tabela 1:Descrição dos dados necessários para o desenvolvimento deste


trabalho.......................................................................................................................38
Tabela 2:Tabela de estatísticas do período de onda. Aquelas com maior ocorrência
foram destacadas com o retângulo azul ..................................................................... 45
Tabela 3:Tabela de estatísticas do período de onda. Aquelas com maior ocorrência
foram destacadas com o retângulo azul ..................................................................... 45

LISTA DE EQUAÇÕES

Equação 1: Setor Protegido: 𝑅2%𝑝𝑟𝑜𝑡𝑒𝑔𝑖𝑑𝑜 = 0,269 ∗ 𝑅2%𝑁𝑖𝑒𝑙𝑠𝑒𝑛 𝑒 𝐻𝑎𝑛𝑙𝑜𝑤


(1991)0,360.................................................................................................................32
Equação 2: Setor Semiprotegido, 𝑅2%𝑠𝑒𝑚𝑖𝑝𝑟𝑜𝑡𝑒𝑔𝑖𝑑𝑜 = 0,195 ∗ 𝑅2%𝑁𝑖𝑒𝑙𝑠𝑒𝑛 𝑒
𝐻𝑎𝑛𝑙𝑜𝑤(1991)+0,59...................................................................................................32
Equação 3: Setor Semiexposto, 𝑅2%𝑠𝑒𝑚𝑖𝑒𝑥𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜 = 0,529 ∗ 𝑅2%𝑁𝑖𝑒𝑙𝑠𝑒𝑛 𝑒
𝐻𝑎𝑛𝑙𝑜𝑤
(1991)0,421.................................................................................................................32
Equação 4: Setor Exposto: 𝑅2%𝑒𝑥𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜 = 0,601 * 𝑅2%𝑁𝑖𝑒𝑙𝑠𝑒𝑛 𝑒 𝐻𝑎𝑛𝑙𝑜𝑤 (1991)
+0,603.........................................................................................................................32
Equação 5: para tanᵦ ≥ 0,10, R2% 𝑁𝑖𝑒𝑙𝑠𝑒𝑛 𝑒 𝐻𝑎𝑛𝑙𝑜𝑤 (1991) = 1,98 *(0,6(H0rms * L0)0,5
tanᵦ).............................................................................................................................33
Equação 6: para tanᵦ < 0,1º, R2% 𝑁𝑖𝑒𝑙𝑠𝑒𝑛 𝑒 𝐻𝑎𝑛𝑙𝑜𝑤 (1991) = 1,98 *(0,05(H0rms *
L0)0,5)...........................................................................................................................33
1
Equação 7: HORMS= 2 √2𝐻𝑠 .........................................................................................33

Equação 8: L0=1,56*𝑇𝑝2 ............................................................................................33


Equação 9: CI = NM + MA + MM + R2%(silva 2012)........................................................49

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Resumo dos modelos empíricos de runup, tipo de dados utilizados e


formulações obtidas....................................................................................................29
xi

LISTA DE ABREVIATURAS

A - amplitude da onda;
AMEVA - Análisis Matemático Estadístico de Variable Ambientales;
CL - cota de inundação;
Dir -direção de ondas;
DOW - Downscaled Ocean Waves;
GOW - Global Ocean Waves;
GOS - Global Ocean Surges;
GOT - Global Ocean Tides ;
Hs - Altura de onda;
H0rms - média geométrica da altura de todas as ondas medidas;
IPCC - Intergovernamental Panel on Climate Change;
R – runup ;
R2% - Wave run-up excedido por 2% dos casos analisados;
R2% Nielsen e Hanslow (1991) - Wave run-up excedido por 2% dos casos calculado
através da equação de Nielsen e Hanslow (1991);
R2% semiexposto Equação calibrada de Silva 2012 para o setor semiexposto;
R2%exposto Equação calibrada de Silva 2012 para o setor exposto;
R2%protegido - Equação calibrada de Silva 2012 para o setor protegido;
R2%semiprotegido Equação calibrada de Silva 2012 para o setor semiprotegido;
ROMS - Regional Ocean Modeling System;
L0 - comprimento de onda em água profunda;
NOAA - National Oceanic and Atmospheric Administration;
NM - nível médio do mar;
MA - maré astronômica;
MaxDiss – Algoritmo utilizado para a seleção de casos de onda baseado na máxima
dissimilaridade entre os dados da série;
MM - Maré meteorológica;
SWAN - Simulating WAves Nearshore;
SMC - Sistema de Modelagem Costeira;
SRTM - Shuttle Radar Topography Mission
Tp - período de pico;
tanᵦF - Referente à declividade da face da praia;
12

INTRODUÇÃO

Constantes variações sobre mudanças no nível médio do mar podem afetar


processos de evolução da linha de costa e alterar sua acomodação. O mesmo se observa
nas elevações temporárias do nível médio do mar devido a fatores meteorológicos
associados a grandes tempestades em períodos de marés de sizígia, o que pode gerar
recuo acelerado da linha de costa, aumento da incidência de ressacas, inundação de
zonas ribeirinhas e danificação de estruturas se existentes (DIAS et al., 1994).
Sabe-se também que muitas áreas costeiras estão em risco devido aos perigos
naturais e/ou induzidos provenientes de ações antropogênicas. Perigos como a retração
da linha de costa e inundações costeiras são ocasionados por alterações no balanço
sedimentar, grandes tempestades, aumento do nível médio relativo do mar e em casos
extremos, tsunamis (FERREIRA et al., 2006).
Com resultado das mudanças climáticas, a frequência dos eventos climáticos
extremos aumentou, tanto em termos de quantidade quanto de intensidade. Isso passou
a ser observado de modo mais nítido a partir da segunda metade do Século XX
(MORENGO et al., 2009).
Com o crescimento das grandes cidades à beira-mar e os possíveis impactos das
mudanças climáticas globais no ambiente costeiro, considerando a qualidade de vida e
a segurança da linha de costa, não há muito consenso sobre responsabilidades e
necessidades de investimentos pelo fato de que as mudanças climáticas ocorrem em um
ciclo temporal bastante distendido quando comparado com o “ciclo político” (BELÉM,
2007).
A maré de tempestade, conhecida como “ressaca”, é um tipo de inundação
costeira causada pela sobre-elevação do nível do mar quando ocorre tempestade. Apesar
de serem pouco estudadas, elas causam muitos prejuízos aos municípios litorâneos de
Santa Catarina. Hermann (2006) identificou 26 registros de marés de tempestade que
estiveram associadas a 11 eventos atmosféricos entre 1997 a 2003. Em maio de 2001 o
Estado de Santa Catarina foi atingido por um evento de grande significância, o ciclone
extratropical, que deixou seis municípios em situação de emergência e um em estado de
calamidade pública. Nesta ocasião, 52 pessoas ficaram desabrigadas, 219 foram
desalojadas e causou um prejuízo de R$ 11.355.632,00 .
O litoral centro-norte de Santa Catarina está em estágio avançado de urbanização
devido à inexistência de políticas de planejamento regional e urbano, agravando os
13

problemas ambientais. Em conjunto a esse avanço populacional, ocorrem as construções


de benfeitorias diversas como avenidas beira-mar sobre o prisma de praia e dunas
frontais e como consequência, a quebra do balanço sedimentar nessas áreas litorâneas
(NEVES FILHO,1992). Acrescentam-se a esses eventos uma tendência do aumento das
ocorrências das chamadas marés meteorológicas na região sudeste do Brasil e dos
sistemas frontais que atingem o país causado pelo avanço da massa fria polar. Os
sistemas frontais penetram com uma maior intensidade e frequência na região sul-
sudeste devido à proximidade às regiões de altas latitudes onde são formados (NEVES
FILHO, 1992), o que amplifica o poder erosivo dos processos costeiros. A erosão
costeira nessa região é consequência da ocupação indevida da orla, agravada pelas
frequentes ressacas registradas na região. (KLEIN et al., 2006)
Os principais perigos costeiros que ameaçam a costa sul do Brasil são ondas
altas, marés de tempestades, vento e erosão da linha de costa. O estudo destes perigos
requer um entendimento adequado dos processos atuantes na zona costeira (RUDORFF,
2005).
Sendo os eventos de alta energia (tempestades) os principais geradores de
erosão costeira, é importante que se tenha mais incentivos a estudos sobre o assunto e
que os seus resultados sejam devidamente integrados na gestão e políticas de
planejamentos das regiões costeiras. Eventos de tempestades constituem um dos
maiores riscos naturais que ocorrem nas regiões costeiras sendo também um dos mais
frequentes. As consequências da atuação de eventos de tempestades em regiões costeiras
urbanizadas podem ser catastróficas. Podem ocorrer recuos muito grandes da linha de
costa, gerando danificações às estruturas de proteção costeira e edificações. (DIAS et
al, 1994).
Em função disso o presente trabalho propõe, através de estudos referentes às
ocorrências de eventos climáticos extremos, associados a períodos de retorno de 50 e
100 anos, os quais indicarão o intervalo de tempo estimado de ocorrência de um
determinado evento, e obter valores de cota de inundação máxima através de modelos
matemáticos. Fazendo uso do software SMC Brasil 3.0 como ferramenta para calcular
as cotas de inundação permitirá definir as áreas de maior vulnerabilidade aos perigos
naturais e também auxiliar no gerenciamento costeiro e na mitigação da vulnerabilidade
costeira e prevenção a possíveis desastres, servindo como ferramenta para tomadas de
decisões futuras.
14

ÁREA DE ESTUDO

A Enseada do Itapocorói (Figura 1) está localizada no litoral centro-norte do


Estado de Santa Catarina e é um exemplo da interação dos processos modificadores
ocasionados por eventos climáticos extremos. Possui cerca de 8km de extensão,
delimitado ao norte pelo promontório de Itajuba e ao sul pela foz do Rio Piçarras. Ao
sul desta, está localizada a praia Alegre com cerca de 1 Km de extensão que pertence
ao município de Penha, que em conjunto com o Balneário Piçarras e a praia de Itajuba,
localizados em Barra Velha, formam a Enseada do Itapocorói (ARAUJO, 2008).
Figura 1: Localização da área de estudo. Coordenadas UTM Datum SAD-69.

Fonte: Araújo, 2008.

O segmento setentrional da enseada está próximo a um segmento retilíneo com


orientação norte-noroeste/sul-sudeste e possui apenas uma perturbação formando uma
saliência ocasionada pela difração das ondas incidentes sobre uma laje submersa
próxima a costa, conhecida como Laje do Jaques. Apresenta na porção meridional uma
curvatura acentuada devido à difração das ondas sobre o promontório da Penha,
formando uma zona de sombra no sul da enseada, com isso as ondas dos quadrantes sul,
sudeste e leste chegam com menor intensidade. A batimetria da região é relativamente
simples, com uma perturbação próxima ao promontório da Ponta da Penha na isóbata
de 20 metros formado pela Ilha Feia (HOEFEL, 1998).
15

As classificações das praias que compõe a enseada, variam de uma situação


dissipativa e abrigada na porção sul junto ao promontório da Ponta da Penha (praia
Alegre), alternando para um ambiente refletivo e semi-exposto nas adjacências da
desembocadura do rio Piçarras, para um ambiente refletivo exposto em direção ao norte
da enseada. (ARAUJO et al 2008)
Alves & Melo (2001) realizaram um estudo de medições do espectro direcional
de ondas geradas pelo vento realizadas em 1996 e utilizadas em uma investigação
preliminar do clima de ondas no litoral norte de Santa Catarina, Brasil, onde quatro
estados de mar predominantes são identificados.
 Lestada com direção dominante dos setores leste e leste-sudeste
 Ondulações de Sudeste tipicamente caraterizado pela incidência de
ondulação gerada por ciclones extratropicais.
 Vagas de Leste-Nordeste e de Sul-Sudeste
Segundo Hoefel (1998) os valores encontrados em São Francisco do Sul podem
ser qualitativamente extrapolados para a enseada do Itapocorói devido à proximidade
geográfica entre São Francisco do Sul e a praia de Piçarras, e também por comparações
de resultados obtidos em outros trabalhos.
Segundo Truccolo e Schettini (1999) a maré astronômica na enseada apresenta
uma altura média de 0,8 m, com máximas de 1,2 m durante os períodos de sizígia, e
mínimas de 0,3 m durante os períodos de quadratura. O regime de maré é semi-diurna
com desigualdade de altura para preamares e baixamares consecutivas. As marés
meteorológicas exercem grande influência na dinâmica costeira regional podendo elevar
em 1m os valores de nível do mar das marés astronômicas (TRUCCOLO, 1998).
Truccolo e Schettini (1999) também descreveram o regime de ventos regional,
que é controlado pelo sistema de alta pressão do Atlântico Sul, o qual gera o padrão
predominante de ventos oriundos de nordeste durante a maior parte do tempo.
Periodicamente este padrão é alterado pelo avanço de sistemas polares frontais que
mudam o sentido do vento por poucos dias para ventos provenientes do quadrante sul.
Os sistemas polares são mais intensos e frequentes durante o inverno, porém mesmo
durante este período os ventos de nordeste são predominantes. (NIMER, 1989 apud
TRUCCOLO, 1998).
Ao sul da enseada, praia de Piçarras, possui um histórico erosivo significativo e
vem sofrendo com perda de sedimentos diminuindo assim sua extensão. Esse fato ocorre
devido a uma grande erosão localizada associada a eventos acentuados de maré de
16

tempestade (ressacas) que até o ano de 1998 perdeu cerca de 140.000m³ de sedimentos
em uma extensão de 1,5 km de orla, e que causou prejuízos tanto econômicos quanto
ambientais para a região. (ABREU et al., 2000; REID et al., 2005 apud ARAUJO,
2008). Com intuito de recuperar a faixa de areia perdida nesse período até 1998, foi
realizado em 1999 a reposição de 880.000m³ de sedimento em 2.100m de faixa de areia
(419m³/m) através de um aterro hidráulico. Entretanto, nove anos após o aterro a praia
de Piçarras novamente apresenta uma diminuição do pacote sedimentar evidenciando
mais uma vez um processo erosivo decorrente da ausência de um plano de manutenção
da obra (ARAUJO, op cit).
Com a finalidade de conter o contínuo processo erosivo e recuperar a praia
novamente foi realizado em 2008 um novo projeto de recomposição e manutenção do
depósito sedimentar na faixa de areia para reestabelecer a largura prevista no ano de
1999. O projeto buscava a realização de um novo aterro hidráulico e a construção de
dois espigões com 115 metros dispostos de forma perpendicular ao longo da enseada
(OLPE, 2012).
Em dezembro de 2011 deu início a primeira etapa do projeto, obras de contenção
de areia, com a construção de dois espigões em forma de “T” que foram construídos
com o intuito de reduzir a retirada de areia pelas correntes marinhas que atuam na região.
O espigão norte apresenta cerca de 125m de comprimento na sua faixa vertical e 60m
no seu trecho transversal. Já o espigão sul apresenta cerca de 160m de comprimento na
sua faixa vertical e também 60m no seu trecho transversal, e a distância entre eles é de
cerca de 800m entre eles. (OLPE, 2012).
A segunda etapa do projeto, com obras de aterro hidráulico teve início em
dezembro de 2012 e tem uma extensão prevista de 2.000 m a partir do molhe do rio
Piçarras até o espigão norte. O aterro visa então apresentar um volume estimado de
785.989,51m³. (OLPE,2012).
17

OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

Calcular a cota de inundação em diferentes escalas temporais, com o uso de


eventos meteorológicos extremos através do software SMC Brasil 3.0.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1.1 Obter e analisar dados de reanálise de nível do mar para as áreas de


estudo;
1.2 Confecção de Cartas de Inundação
18

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

PRAIAS

As praias oceânicas ocorrem no litoral por todo o mundo e são produtos de três
fatores básicos: ondas, sedimentos e substrato. São também influenciadas por marés e
impactadas por diversos fatores geológicos, bióticos, químicos e de temperatura
(SHORT, 1999).
Praias oceânicas são ambientes altamente dinâmicos formadas por sedimentos
inconsolidados que se situam sobre a zona costeira, constantemente são sujeitas a
alterações morfodinâmicas resultantes de variações no regime energético incidente.
(HORIKAWA, 1988; HOEFEL 1998).
Wrigtht e Short (1984) definem praias como sendo a consequência da interação
das ondas incidentes com o sedimento disponível no litoral, tendo início no local em
que a onda começa a influenciar o sedimento sobre o fundo oceânico, desde a zona de
arrebentação até a zona de espraiamento.
Hoefel (1998) zoneou o ambiente praial em distintas zonas do ponto de vista
hidrodinâmica e morfodinâmica (Figura 2) sendo elas:
Figura 2: Zonação hidrodinâmica e morfológica tipicamente observada em uma praia arenosa
(Adaptada: Hoefel,1998).

Fonte:
Olpe, 2012.

ZONAÇÃO HIDRODINÂMICA
 Zona de arrebentação (Breaking Zone): É a zona em que a onda, ao
aproximar-se de águas mais rasas, torna-se instável e a velocidade da crista excede a
19

velocidade de grupo ocorrendo a quebra. O processo de quebra representa o modo de


dissipação energética da onda sobre a praia.
 Zona de surfe (Surf Zone): Fração da praia limitada pela dissipação da
energia de onda após sua quebra. Sua caracterização depende diretamente do tipo de
quebra da onda. Em praias de baixa declividade as ondas quebram e modificam-se como
vagalhões, estendendo-se ao longo da zona de surfe com a diminuição da altura até
atingirem a linha de costa.
 Zona de espraiamento (Swash Zone): É a região da praia delimitada
entre a máxima e a mínima excursão dos vagalhões sobre a face praial. Determina os
níveis máximos de atuação dos agentes hidrodinâmicos do surfe sobre a praia.
Comumente, observam-se nesta porção do perfil, feições rítmicas de expressão
longitudinal à costa, como cúspides e megacúspides praiais.

ZONAÇÃO MORFOLÓGICA:

 Antepraia (Shoreface): Porção do perfil dominada por processos de


empinamento de onda (shoaling), que se estende em direção a terra a partir da
profundidade de fechamento externa até a profundidade de fechamento interna, ou até
o início da zona de arrebentação.
 Praia média: Porção do perfil praial em que ocorrem os processos da
zona de arrebentação e da zona de surfe;
 Face da praia (Beachface): Porção do perfil praial limitada entre o
início do limite superior e o limite inferior, ou seja, zona de ocorrência de marés altas e
baixas sobre a qual ocorrem os processos da zona de espraiamento;
 Pós-praia (Backshore): Porção subaérea do perfil praial que se entende
desde o limite superior do espraiamento até o início das dunas fixadas por vegetação ou
de qualquer outra mudança fisiológica brusca.

Os processos físicos atuantes no sistema praial como ondas, correntes e


transporte de sedimentos refletem na sua morfologia, sendo o tamanho do grão do
sedimento e o nível energético dos processos físicos os principais fatores, em que quanto
maior o tamanho de grão do sedimento maior será sua declividade (SHORT, 1999).
Nas praias com declividade alta, as ondas quebram diretamente sobre a base da
face da praia e não se observa a zona de surfe. Em praias de baixa declividade as ondas
20

dissipam sua energia através da zona de surfe e quebram antes de atingir a face da praia
(SHORT, 1999).
Eventos de alta energia, como tempestades, trazem com elas elevada ação de
energia de ondas sobre a praia e isto faz com que o sedimento tenda a ser transportado
em direção à antepraia no qual é removido da porção subaérea da praia e depositado na
forma de bancos. Quando o nível energético de ondas volta a seu estado normal ocorre
o processo reverso, o sedimento depositado na forma de bancos tende a voltar para
porção emersa da praia . (SHORT, 1999). Esses eventos de alta e baixa energia atuam
na maioria das zonas costeiras do mundo e possuem uma sazonalidade que, no inverno,
ocorrem as maiores ondas devido à maior intensidade de eventos de alta energia
(tempestades) e no verão as ondas são menores, causando mudanças sazonais no perfil
da praia (KOMAR, 1983).

PRAIAS DE ENSEADA

Praias de enseada são limitadas por promontórios rochosos ou obstáculos físicos.


Costumam formar um arco com curvatura acentuada, seu contorno tende assumir a
forma de uma lua crescente e muitas vezes desenvolvem formas assimétricas. Formam
uma zona de sombra próxima ao promontório rochoso, que está protegida da energia de
ondas e é fortemente curvada (Figura 3). O centro da enseada é levemente curvada, e a
outra extremidade é relativamente retilínea sendo, normalmente, paralela à direção
dominante dos trens de onda na região (HOEFEL, 1998; SHORT, 1999).
Figura 3: Forma das praias de enseada, mostrando a linha de controle da forma da enseada, a
zona de sombra do promontório e a seção retilínea da praia
21

Fonte: Adaptação Imagem Google Earth


O suprimento de sedimentos necessários para manter sua forma estável
determina seu estado de equilíbrio, que foi classificado por Hsu et al (1987) em quatro
grandes categorias, sendo elas:

 Equilíbrio dinâmico: Apresenta suprimento de sedimento contínuo e


um equilíbrio entre o aporte de sedimento e a deriva litorânea, o que mantem a forma
original da praia;
 Equilíbrio estático: Ocorre onde a entrada e saída de sedimento são
praticamente nulas.
 Instável: Quando a enseada apresenta um balanço sedimentar negativo;
 Praia com reformulação natural: Quando ocorre um reposicionamento
ou ampliação de um promontório ou estrutura costeira.
A grande variação no grau de exposição às ondas ao longo de praias de enseada
possibilita apresentar diferentes características morfodinâmicas em diferentes pontos da
praia. A região mais protegida sujeita a ondas menores tende a ser reflectiva. E a região
mais distante do promontório tende a ser mais retilínea e dissipativa, podendo apresentar
sistemas de bancos múltiplos na sua porção submersa (SHORT, 1999).

ONDAS

Ondas são as principais responsáveis pelos processos litorâneos em costas


abertas. Determinam a geometria e composição das praias, selecionam os sedimentos
de fundo na face da praia e atuam no transporte de sedimentos, sendo fundamental seu
estudo no planejamento de estruturas. (USACE, 2002).
22

Sua formação é o resultado das forças atuantes em um fluido tendendo a


deformá-lo contra a ação da gravidade e a tensão superficial. As ondas podem ser
geradas por ventos, perturbações meteorológicas, terremotos, atração planetária, etc.
(IH CANTABRIA, 2000). Geralmente são ondas de gravidade geradas pela ação dos
ventos transferindo sua energia sobre o mar. E quanto maior for a intensidade, o tempo
de ação e a pista em que o vento está atuando, maior será a energia transferida para o
mar e maior será a altura da onda. Depois de formada, a força gravitacional e a tensão
superficial permitem que elas se propaguem, sendo que a maior parte desta energia é
dissipada na região costeira como um todo, principalmente nas praias. (USACE, 2002).
As ondas e os contornos costeiros mantêm uma interação mútua, uma vez que a
forma da costa é o resultado das características das ondas na área. Por outro lado, as
mudanças na forma da costa também induzem mudanças nas características das ondas.
O clima de ondas é determinado pela ação dos ventos originados no Atlântico
Sul. Basicamente três grandes sistemas atmosféricos controlam esses fatores na
América do Sul: Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) responsável pelo padrão
de circulação mais ao norte do país, Anticiclone Tropical do Atlântico Sul (ATAS) que
é um centro de alta pressão responsável pelos ventos alísios e Anticiclones Polares
Migratórios (APM). (TESSLER & GOYA 2005).
Ondas em águas profundas não são afetadas pelo fundo, com isso as ondas
viajam dependendo de sua frequência (ondas dispersivas). E quando a profundidade
diminui, a interação com o fundo modifica as condições das ondas pelos processos de:
 Empinamento de onda: Mudança na altura e comprimento da onda
devido à variação da profundidade.
 Refração: Quando a direção de propagação das ondas é oblíqua à
orientação das isóbatas, essas tendem a girar até que a orientação da frente de
onda e da batimetria sejam paralelas, sendo este fenômeno que afeta a altura e
direção das ondas.
 Difração: Quando as ondas ao propagarem-se modificam sua direção ao
encontrarem um obstáculo ou descontinuidade (uma ilha, grandes variações de
batimetria, ou um quebra-mar)

Estes processos de transformação, resultam em mudanças na altura de onda e


direção de propagação. A interação destas ondas com o fundo resulta na alteração da
topografia e na reformatação da onda. (USACE, 2002).
23

A energia da onda é redistribuída quando há fortes variações da batimetria


(calotas submersas, montes submarinos, ilhas, quebra-marés, promontórios, etc.), que
causarão variações intensas na direção de propagação, podendo causar convergência de
energia em uma área superficial pequena, provocando surgimento de fortes gradientes
locais de energia (ALVES, 1996) (Figura 4).
Figura 4: Exemplo de difração de ondas causada por um promontório.

Fonte: Signorin, 2010


As ondas oceânicas podem ser classificadas como vagas (sea) ou marulhos
(swell). As vagas são ondas geradas localmente, que ainda estão na zona de geração, e
que ainda são capazes de receber energia do vento. Os marulhos são ondas que se
propagaram para fora da sua zona de geração e não são mais capazes de receber energia
do vento. (ALVES, 1996).
ARAÚJO et al. (2003), através de análise de dados de um ano do ondógrafo
instalado a 80 m de profundidade ao sul da Ilha de Santa Catarina, caracterizaram cinco
sistemas de ondas distintos na costa Catarinense, sendo dois deles associados à
passagem de sistemas frontais, ondas com período de 4-5 s de nordeste na fase pré-
frontal, se desenvolvendo para um mar bem desenvolvido de sul com ondas de 5-7,5 s
na fase pós-frontal. As maiores ondulações ocorrem no outono e no inverno, entretanto,
ondas grandes, com altura significativa (Hs) ≥ 4 m são presentes em todas as estações
do ano. No outono o valor modal de Hs é de 1,5 m e no inverno o Hs varia de 1,25 a 2,5
m.
24

MARÉ

Marés são alterações periódicas de curto prazo na superfície do oceano em um


determinado lugar e podem ocorrer por forçantes astronômicas (atração Terra-Lua-Sol)
ou por forçantes meteorológicas (vento e pressão) (Figura, 6) (GARRISON, 2000).
Figura 5: As setas indicam a força gravitacional devido à presença da Lua agindo em
objetos localizados em diferentes posições na superfície da Terra. O comprimento e orientação
das setas indicam a força e a direção da força gravitacional.

Fonte: Thurman & Trujillo (1999)


As variações da altura de maré podem ser representadas pela soma de um
número finito de termos harmônicos que se chamam constituintes harmônicas da maré.
Cada constituinte representa um determinado movimento astronômico relacionado com
o movimento da Terra, Lua e/ou Sol. As constituintes harmônicas são caracterizadas
pelo seu período, fase e amplitude. (KOMAR, 1998). (Tabela 7).
25

Tabela 6: Principais componentes de maré.

Fonte:
Silva, 2012.
No trabalho de Davies (1964) o autor classificou a região costeira de acordo com
a variação média da maré de sizígia. Quando a variação de maré for menor que 2m
encontram-se sob o regime de micromarés (< 2m); com variações entre 2 e 4m sob o
regime de mesomarés (2 a 4m); e costas com variações maiores que 4m sob o regime
de macromarés (> 4m).
De um modo geral, quanto menor a declividade da praia maior o alcance
horizontal e menor o vertical. (DAVIS, 1985).

MARÉS ASTRONÔMICAS

O nível do mar sofre oscilações periódicas da maré astronômica devido a


interação Sol-Terra-Lua e ocasiona mudanças cíclicas de curto período nos processos
atuantes nas praias. Tais oscilações variam de amplitude temporalmente e
geograficamente ao longo do globo.
São as mais longas ondas dos oceanos, com centenas de milhares de quilômetros,
caracterizadas pela subida e descida rítmicas do nível do mar em um período de meio
dia ou um dia. Essas ondas viajam através dos oceanos e são transmitidas para baías,
canais, estuários e lagoas ao redor da Terra. (BIRD, 2008 apud SILVA, 2012).
Desconsiderando a atração gravitacional entre a Terra e o Sol, as marés
astronômicas são a resultante entre a força gravitacional no sistema Terra-Lua, e a força
centrifuga que atua no sistema (Figura 8). Originam-se as marés altas quando umas das
26

forças (gravitacional ou centrifuga) for superior à outra, e marés baixas quando essas
forças forem equivalentes. (PARK, 2008).
Figura 7: Forças gravitacional e centrífuga atuantes no sistema Terra-Lua.

Fonte: Silva, 2012.

MARÉS METEOROLÓGICAS

Maré meteorológica é a diferença entre o nível do mar previsto e o medido para


um determinado local. Essas diferenças podem ser causadas principalmente por
mudanças de pressão atmosférica e ventos. (PARKER, 2005).
Segundo Truccolo et al. (2006), marés meteorológicas ocorrem entre períodos
de 3 a 15 dias pela ação de combinadas variações da pressão atmosférica e influência
de ventos. Ocorrem sob ação de fortes ventos vindos do mar, incrementando uma
parcela de água sobre a costa por horas ou dias, e são mais pronunciadas quando
coincidem com maré de sizígia. (BIRD, 2008).
A ação dos ventos transfere energia da atmosfera para o oceano, provocando
ondas e correntes que empilham ou afastam a água da costa. Devido à rotação da Terra,
os fluidos têm sua trajetória influenciada pelo efeito da Força de Coriolis (Figura 9),
que atua perpendicularmente à direção do movimento no sentido anti-horário no
hemisfério sul.
27

Figura 8: Representação do efeito da força de Coriolis nos hemisférios. Hemisfério sul


sentido anti-horário e hemisfério norte sentido horário.

Fonte: Pagina Costa Rica Guide


A orientação continental (Sudoeste-Nordeste) na região sul do Brasil, coincide
com os ventos predominantes da região e por possuir caracteristicamente uma grande
pista de atuação do vento sobre a superfície oceânica, os efeitos de Coriolis atua de
forma significativa neste processo. Quando o vento for proveniente de Sul gera uma
elevação do nível d'água causada pelo "empilhamento" de água na costa, resultado do
transporte de Ekman, e quando proveniente do quadrante Norte as águas superficiais
são forçadas em direção ao oceano e sua reposição é dificultada, diminuindo o nível
d'água local. (SILVA, 2012). (Figura 10)
Figura 9: Representação vetorial das variações de velocidade e direção do movimento
da água no hemisfério Sul com o aumento da profundidade.

Fonte: Pagina laboratório de oceanografia geológica FURG


Os eventos de subida do nível provocados pelo mecanismo de Ekman,
principalmente quando coincidente com marés de sizígias, podem provocar eventos
extremos de maré meteorológica. (TRUCCOLO, 1998).
28

NÍVEL MÉDIO DO MAR

As variações do nível médio do mar, de médio e longo prazo, estão associados


a fenômenos de aquecimento dos oceanos e da atmosfera juntamente com o
derretimento das geleiras que estão sobre os continentes, que consequentemente
aumenta seu volume.
O quinto relatório de mudanças climáticas lançado recentemente em setembro
de 2013 pelo Intergovernamental Panel on Climate Change (IPCC) indica que a taxa
de elevação do mar deve aumentar (Figura 11) e sua média global no próximo século
será entre 26 cm (no cenário otimista) a 82 cm (no cenário pessimista).
De acordo com o IPCC, é muito provável que o nível do mar aumente no século
21 em todos os cenários de emissões estudados pelos cientistas. No cenário mais brando,
em que há corte de emissões e aplicação de políticas climáticas, o nível do mar pode
subir entre 26 centímetros e 55 centímetros até 2100. Já no pior cenário, com altas
emissões de gases-estufa e não cumprimento de regras para a redução delas, o nível do
mar aumentaria entre 45 centímetros e 82 centímetros.
O IPCC (2013) faz a previsão também de que 95% da totalidade do oceano tem
probabilidade alta de aumentar o seu nível e que 70% das regiões costeiras do planeta
sofrerão com o avanço do mar. É importante salientar que algumas regiões do globo
podem ter aumento maior que este e outras regiões aumentos menores, pois este valor é
uma média global
29

Figura 10: Variações do nível médio do mar. Em vermelho representação para cenário
pessimista e azul para cenário otimista para projeções até 2100.

Fonte: IPCC, 2013 adaptado por infográfico/estadão

O nível do mar está se elevando mais rápido agora do que nos últimos dois
milênios, e esta elevação vai continuar se acelerando – independente dos cenários de
emissões, e até mesmo no caso de intensa mitigação. Os novos cenários do IPCC
projetam um aumento do nível do mar mais rápido que as projeções anteriores (18 a 59
cm), quando comparados os mesmos períodos e cenários de emissões (IPCC 2007).

RUNUP

Ocorre pelo empilhamento de água na costa devido à quebra de ondas e pelo


espraiamento da onda na face da praia. Runup é a elevação máxima excursão vertical
da onda quando chega à praia (Figura 12) e pode também ser definido como o local de
maior pico de elevação instantânea de água na costa. (CERC, 2002).
Figura 11: Runup: composto pelo wave set-up e espraiamento da onda na face
da praia
30

Fonte: Silva, 2012.


O limite do runup é um importante parâmetro para se estabelecer a porção ativa
do perfil de praia é fundamental para o planejamento de uma obra de proteção ou
contenção.
O recente trabalho de SILVA, P. G. (2013) descreve alguns dos trabalhos
realizados sobre o cálculo do runup com base em dados de onda (Quadro 13).
Quadro 1: Resumo dos modelos empíricos de runup, tipo de dados utilizados e
formulações obtidas.
31
32

Fonte:
SILVA, 2013.
Dentre as formulações apresentadas a proposta por SILVA (2012) foi escolhida
para ser utilizada neste trabalho.

CÁLCULO RUNUP SILVA (2012)

Silva (2012) realizou estudos de calibração do modelo proposto por Nielsen e


Hanslow (1991) para praias de enseada. O estudo foi realizado na praia de Piçarras, área
de estudo do presente trabalho, com dados de altura significativa de onda variando de
1,11m a 1,44m de altura. A área de estudo foi dividida em quatro setores (protegido,
semiprotegido, semiexposto e exposto) e, através de dados de ondas de um ADCP
posicionado a uma profundidade de 15m, foram comparados com os valores de runup
em cada um dos quatro setores. Os resultados do estudo foram:

Setor Protegido:
R2%protegido = 0,269 * R2%Nielsen e Hanlow (1991)+0,360 (1)
Semiprotegido:
𝑅2%𝑠𝑒𝑚𝑖𝑝𝑟𝑜𝑡𝑒𝑔𝑖𝑑𝑜 = 0,195 ∗ 𝑅2%𝑁𝑖𝑒𝑙𝑠𝑒𝑛 𝑒 𝐻𝑎𝑛𝑙𝑜𝑤 (1991) +0,59 (2)
Setor Semiexposto:
𝑅2%𝑠𝑒𝑚𝑖𝑒𝑥𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜 = 0,529 ∗ 𝑅2%𝑁𝑖𝑒𝑙𝑠𝑒𝑛 𝑒 𝐻𝑎𝑛𝑙𝑜𝑤 (1991) + 0,421 (3)
Setor Exposto:
𝑅2%𝑒𝑥𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜 = 0,601 * 𝑅2%𝑁𝑖𝑒𝑙𝑠𝑒𝑛 𝑒 𝐻𝑎𝑛𝑙𝑜𝑤 (1991) + 0,603 (4)
33

CÁLCULO RUNUP NIELSEN e HANSLOW (1991)

Nielsen e Hanslow (1991) fizeram testes para cálculo de runup em seis praias
arenosas reais (de praias dissipativas a refletivas), com declividades variadas,
relacionando-os aos dados de altura de ondas de águas profundas (aproximadamente
80m). No presente trabalho utilizamos a equação de runup excedido por 2% dos casos
analisados.
R2% 𝑁𝑖𝑒𝑙𝑠𝑒𝑛 𝑒 𝐻𝑎𝑛𝑙𝑜𝑤 (1991) = 1,98 *(0,6(H0rms * L0)0,5 tanᵦ) (5)
para tanᵦ ≥ 0,10 ou
R2% 𝑁𝑖𝑒𝑙𝑠𝑒𝑛 𝑒 𝐻𝑎𝑛𝑙𝑜𝑤 (1991) = 1,98 *(0,05(H0rms * L0)0,5) (6)
para tanᵦ < 0,10.
 H0rms é a média geométrica da altura de todas as ondas medidas.
 L0 é o comprimento de onda em água profunda.

Para a conversão da altura média de ondas, será usada a equação (7) descrita por
Holthijsen (2007)
1
HORMS= √2𝐻𝑠 (7)
2

O comprimento de onda em águas profundas necessário para a aplicação das


fórmulas propostas pelos autores foi obtido através da equação (8).
L0=1,56*𝑇𝑝2 (8)

INUNDAÇÃO COSTEIRA

Inundações costeiras ocorrem quando o nível do mar é elevado acima de suas


flutuações normais. Esta elevação pode ser causada por fatores que atuam em curta
escala temporal, como marés de tempestade e tsunamis, ou por fatores que atuam em
longas escalas temporais, como subsidência terrestre e aumento do nível do mar
(SMITH, 2000)
No Brasil a principal causa das inundações costeiras é a maré de tempestade,
quando ocorre a sobre-elevação do nível do mar associada a eventos de tempestade. Ao
provocar inundações, ela aumenta o nível base de ataque das ondas, podendo causar
sérios danos na costa. Em geral as marés de tempestade são mais intensas quanto maior
for a pista, a duração e a intensidade do vento sobre o oceano adjacente. A direção dos
34

ventos também é importante, pois os ventos do quadrante sul empilham água na costa
brasileira através do transporte de Ekman (RUDORFF, 2005).

CÁLCULO DA COTA DE INUNDAÇÃO

A cota de inundação representa a elevação da superfície do mar na costa


associados a eventos extremos. É composta pela soma das marés meteorológicas e
astronômica, e do runup (setup e espraiamento). (Figura 14).
Figura 12: Processos envolvidos no cálculo da cota de inundação.

Fonte: SILVA, 2013.


As variáveis que compõem a cota de inundação são influenciadas pela altura das
ondas e pela declividade da praia, e receberá maior influência em eventos de
tempestades associados às marés altas de sizígia. Sendo estas variáveis aleatórias, a cota
de inundação deve ser apresentada baseada em uma probabilidade de ocorrência dos
eventos, ou do tempo de recorrência de um determinado evento. O tempo de recorrência
(período de retorno) é o intervalo no qual um evento de determinada magnitude é
igualado ou superado. (SILVA, 2012).

SMC BRASIL 3.0

O objetivo básico do SMC Brasil é fornecer uma ferramenta numérica no campo


da engenharia costeira que facilite o desenvolvimento de estudos na etapa técnica. O
objetivo é unificar a organização sistemática de modelos numéricos que aumentam a
qualidade de estudos técnicos e, portanto, aumentam a confiabilidade das decisões a
serem tomadas. (IH CANTABRIA, 2000)
35

O SMC Brasil 3.0 é um pacote de software que permite uma grande variedade
de tarefas, é composto por modelos de propagação de ondas, geração de correntes e
transporte de sedimentos, sendo que um projeto pode ser criado a partir de arquivos de
batimetria e / ou imagens de uma área de estudo (fotos, desenhos, gráficos, etc.) (IH
CANTABRIA, 2000).

SMC-TOOLS

O SMC-TOOLS é uma ferramenta acoplada ao SMC Brasil 3.0 que fornece


acesso a um banco de dados onde você pode encontrar a maioria das cartas náuticas
costeiras brasileiras (Baco), juntamente com a batimetria digitalizada delas. Com esta
informação é gerado um projeto, o qual se pode incorporar e combinar com batimetria
detalhada de outras fontes.
O SMC-TOOLS analisa as seguintes bases de dados:
 GOW: Global Ocean Waves (MODELO WAVEWATH III)
 DOW: Downscaled Ocean Waves (MODELO SWAN)
 GOS: Global Ocean Surges (MODELO ROMS)
 GOT: Global Ocean Tides (MODELO TPXO + níveis SATÉLITE)

O SMC-TOOLS processa esses bancos de dados que foram desenvolvidos pelo


IH-Cantábria para a costa brasileira (IH CANTABRIA, 2000).

MÓDULO AMEVA

Dentro do SMC-TOOLS há o módulo IH-AMEVA “Análisis Matemático


Estadístico de Variable Ambientales”que é uma ferramenta de análise estatística no
sentido de resolver os problemas ambientais variáveis e análise de dados estatísticos.
Esta ferramenta fornece vários parâmetros e com diferentes propósitos (IH
CANTABRIA, 2000).
AMEVA faz uma análise estatística de regimes extremos de longo prazo, utiliza
o método proposto por Gumbel, método dos Máximos Anuais (Annual-maximum-
aproach). O método leva em consideração o maior valor observado em cada ano. Neste
caso, o valor máximo anual é selecionado, obtendo-se N valores para N anos analisados,
e a distribuição generalizada de valores extremos (Generalized Extreme-Value – GEV),
36

descreve o comportamento dos eventos extremos ao longo do tempo, bem como a


recorrência dos mesmos (SILVA, 2012; SILVA, 2013).

SELEÇÃO DE CASOS (MAXDISS)

A seleção dos casos de ondas será realizada através da técnica chamada MaxDiss
(Máxima Dissimilaridade) proposta por Camus et al. (2011). Trata-se de um método
cíclico, que realiza a seleção dos casos mais dissimilares (diferentes) até que seja
alcançado o número de casos determinado nas configurações do algoritmo.
Primeiramente, os parâmetros de onda (Hs, Tp e Ѳm) são normalizados, afim de
que todos tenham o mesmo peso na seleção. A rotina inicia a seleção com o caso que
apresenta os maiores valores de parâmetros de ondas normalizados. Em seguida
encontra o caso mais distante daquele já selecionado e os transfere a uma subamostra.
Daí em diante, passa a selecionar os casos com valores mais distantes daqueles já
selecionados e já transferidos à subamostra. Esta distância é calculada em termos de
diferenças euclidianas e a seleção para no momento em que o número de casos solicitado
no algoritmo é alcançado (SILVA, 2012; SILVA, 2013).
Camus (2009) verificou que quanto maior o número de casos selecionados, mais
representativa é a subamostra e mais consistente é a reconstrução da série em águas
rasas. No entanto, ao realizar testes com diferentes tamanhos de subamostras, a autora
constatou que após um n amostral de 100, os erros referentes à seleção passam a ser
pouco representativos.

PROBLEMA DO NÍVEL DE REFERÊNCIA (DHN X IBGE)

Inundação na costa implica na utilização de uma base única de elevação de


terreno que contenha dados de batimetria e topografia. No Brasil estes dados são
divididos entre as competências da Marinha do Brasil (Cartas Náuticas da DHN) e do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (Cartas de Topografia). No
entanto, estas duas bases de dados têm como referência níveis do mar diferentes.
Significa dizer que estão “amarradas” a datuns verticais distintos e as metodologias para
relacioná-los são normalmente muito complexas exigindo muito tempo de trabalho. O
marco da DHN tem como referência o nível médio das mais baixas marés de sizígia,
37

medido em Imbituba (Litoral sul do Estado). O marco do IBGE tem como referência o
nível médio do mar, também medido em Imbituba, mas em outro período. (SILVA,
2013).
38

METODOLOGIA

A metodologia será apresentada em quatro etapas. No item 5.1 os dados


utilizados para realização do trabalho serão descritos apresentando a forma como foram
obtidos e gerados. No item 5.2 será descrito a preparação do processamento dos dados
(Pré Processo). No item 5.3 será apresentada a realização do pós processamento dos
dados. No item 5.4 serão apresentados a aquisição dos dados utilizados no cálculo da
cota de inundação.
DADOS UTILIZADOS

A Tabela 1 apresenta de forma reduzida todos os dados utilizados para


desenvolver este trabalho. Estes dados estavam disponíveis dentro do banco de dados
do software SMC Brasil 3.0, ou foram adquiridos junto ao Laboratório de Oceanografia
Geológica e para as cartas topográficas adquiridos pela Embrapa.
Tabela 1: Descrição dos dados necessários para o desenvolvimento deste trabalho.
Dados Fonte Etapa
Propagação de Ondas
Batimetria DHN
Verificação da Exposição
Batimetria Propagação de Ondas
LOG
de detalhe Verificação da Exposição
SMCBrasil
Ondas Propagação de Ondas
(Reanálise)
Maré SMC Brasil
Cálculo da cota de inundação
Meteorológica (Reanálise)
Maré SMCBrasil
Cálculo da cota de inundação
Astronômica (Reanálise)

Nível do Mar IPCC Cálculo da cota de inundação

Altimetria Embrapa Confecção Mapas

Na figura 13 podemos observar a área de estudo os pontos batimétricos obtidos


através de digitalização de cartas náuticas que compõe banco de dados do SMC Brasil
3.0 e ponto DOW de onde partiu as propagações de ondas.
39

Figura 13: Zona de estudo, batimetria e ponto de onda DOW

NÍVEL MÉDIO DO MAR

Os valores de nível médio do mar foram extraídos através da projeção do nível


médio do mar, realizado pelo IPCC (2013) e utilizados no cálculo da cota de inundação
para os períodos de recorrência de 50 e 100 anos.
Como se pretende analisar cenários de inundação por eventos extremos, foram
consideradas as previsões mais pessimistas, sendo esta elevação de aproximadamente
0,93 cm/ano. Em 50 anos chega-se a um valor de 0,46 metros, para 100 anos o valor de
0,93metros.

BATIMETRIA

A batimetria (Figura 15) base utilizada no estudo, faz parte do banco de dados
do software SMC Brasil 3.0, os dados foram extraídos através da digitalização de cartas
náuticas para todo litoral brasileiro.
40

Figura 14: Batimetria obtida no software SMC, através da digitalização de cartas náuticas.

Foram utilizados também dados de uma batimetria detalhada da Praia de Piçarras


coletados pelo Laboratório de Oceanografia Geológica (LOG) da Universidade do Vale
do Itajaí (UNIVALI), em Santa Catarina, no ano de 2011, e adicionados às informações
batimétricas de cartas náuticas presente na base de dados do software SMC Brasil 3.0,
com intuito de obter uma melhor resolução dos resultados de propagação de ondas na
área de estudo e consequente cálculo da cota de inundação

MARÉ ASTRONÔMICA

O SMC Brasil 3.0 possui em sua base de dados uma série temporal horária de
60 anos (1948-2008) de maré astronômica (GOT) em diversos pontos da costa
brasileira. A série temporal foi gerada pela IH Cantábria utilizando constantes
harmônicas do modelo global de maré TPXO (versão 7-
http://volkov.oce.orst.edu/tides/global.html) que possui em sua base de dados 8
constantes harmônicas diurnas e semidiurnas (K1,O1,P1,Q1,M2,S2) (Figura, 6) e duas
componentes de longo prazo (Mf e Mn), com uma distribuição espacial de 0,25º.
Utilizando o modelo TPXO as constantes harmônicas foram extraídas para cada ponto
ao longo da costa brasileira, é utilizado para o cálculo da maré astronômica no período
de 1948-2008. (Figura 15)
41

Figura 15: Pontos de dados de maré extraídos do modelo TPXO ao longo da costa
brasileira

.
Fonte: Retirado de SILVA ,2013.
A série temporal obtida através do modelo global de maré TPXO foi comparada
com dados medidos por 21 marégrafos que estão distribuídos ao longo da costa
brasileira, para assim realizar a validação dos dados obtidos.

MARÉ METEOROLÓGICA

A base de dados do SMC Brasil 3.0 possui também para maré meteorológica
(GOS), uma série temporal horária de 60 anos (1948-2008) e uma resolução espacial de
0,25º. (IH CANTABRIA, 2000).
Para simular a série temporal a IH Cantábria, utilizou o modelo de circulação
ROMS (Regional Ocean Modeling System), que é um modelo numérico hidrostático de
superfície livre e equações primitivas, que utiliza dados de batimetria do modelo
42

ETOPO2 (NOAA) e ventos a 10m de altura e pressão ao nível do mar, obtidos a partir
de reanálise. (IH CANTABRIA, 2000).

ONDAS

O SMC Brasil conta com um banco de dados de reanálise de ondas distribuído


ao longo da costa do Brasil. Estas séries proporcionam informações em qualquer ponto
da costa do Brasil. Este banco de dados conta com duas séries horárias de estados de
mar de 60 anos. O SMC Brasil também conta com as metodologias e ferramentas
necessárias para propagar, de águas profundas até junto a praia e séries temporais de
ondas, o que permite realizar estudos litorâneos em alta resoluções espacial e temporal.
Para os dados de ondas IH Cantábria utilizou o modelo WAVEWACHIII por
meio de uma reanálise denominada Global Ocean Waves (GOW), com uma base horária
de altura significativa (Hs), período de pico (Tp) e direção (Dir) de ondas, para período
de 60 anos (1948-2008).
O WAVEWACHIII trabalha com base na equação de balanço de densidade
espectral adotando que as propriedades do meio (correntes e batimetria) e campo de
ondas, variam no tempo em escalas muito maiores que um comprimento de onda.
Obedecendo estas condições o modelo não é capaz de simular os processos de ondas
em profundidades reduzidas.
Sendo assim, para se obter dados de ondas nas proximidades da costa brasileira,
utilizou-se os resultados das simulações com o WAVEWACHIII como condições
iniciais do modelo de propagação de ondas SWAN. O modelo SWAN (Simulating
Waves Nearshore) resolve a equação do balanço de energia, o qual representa os efeitos
da propagação espacial, refração, empinamento, geração, dissipação e interações não
lineares onda-onda (THE SWAN TEAM, 2009). As propagações de ondas no modelo
SWAN são calculadas desde águas profundas até a zona de surfe.

PROCESSAMENTO DOS DADOS (PRÉ-PROCESSO)

AMEVA

Primeiramente foi feita a caracterização do clima de ondas incidentes na área de


estudo utilizando a ferramenta AMEVA presente no software SMC Brasil 3.0. A
43

ferramenta AMEVA faz uma análise estatística de toda série temporal que compõe o
banco de dados do SMC Brasil 3.0. Podendo assim obter informações para confeccionar
as malhas de calculos em função da orientação e contorno da costa e das ondas
incidentes na área de estudo.

MALHAS DE CÁLCULO

O processo de criação de malhas deve levar em conta diferentes fatores:


 O ângulo de incidência das ondas na malha deve estar dentro do
limite de +/- 55º em relação ao eixo X, bem como as ondas que chegam a zona
de estudo devem estar dentro desse limite (Figura 16).

Figura 16: Esquema da construção de malhas com diferentes orientações, para permitir a entrada
de ondulações com diferentes direções.

 O tamanho de malha deve levar em consideração as escalas de


variação da batimetria, como a presença de diques, ilhas, lajes ou cânions
submarinos, que podem não ser bem representados com espaçamentos entre nós
muito grandes.
 A origem da malha se encontra na água, com o eixo X
aproximadamente paralelo à direção de onda e o eixo Y paralelo à crista das
ondas;
 Os contornos laterais devem ser suficientemente afastados da
zona de estudo para que os possíveis ruídos não afetem a zona de estudo.
44

É importante ressaltar que na maioria dos casos é difícil adequar perfeitamente


as malhas a todos esses fatores, mas deve-se buscar o melhor ajuste possível.
Para escolha das malhas numéricas foi utilizado a ferramenta AMEVA (cálculo
estatístico e interpolação RBF do ponto selecionado dos 60 anos de dados), que gera
informações dos parâmetros de ondas na área de estudo. Os gráficos gerados pela
ferramenta AMEVA através de um ponto selecionado na área de estudo que melhor
represente regime de ondas na região, ajudarão visualizar a definição das ondas
predominantes que chegam à área de estudo. Estas informações servirão de base para
definir a orientação e desenho das malhas numéricas que serão utilizadas nas
propagações.
O gráfico de Rosas de direção das ondas gerado pela ferramenta AMEVA,
fornece informações das ondas incidentes predominantes na área de estudo. (Figura 17)

Figura 17: Rosa de frequência direcional de ondas, relativa ao ponto DOW selecionado, obtido pelo
programa AMEVA

Outra informação importante gerada pela ferramenta e a Tabela com as


estatísticas de altura de onda (Tabela 2) e a Tabela de estatística do período da onda
(Tabela 3).
45

Tabela 1: Tabela de estatísticas do período de onda. Aquelas com maior ocorrência foram destacadas com
o retângulo azul

Tabela 2: Tabela de estatísticas do período de onda. Aquelas com maior ocorrência foram destacadas com
o retângulo azul

As Tabelas 2 e 3 apresentam informações sobre a probabilidade de ocorrência


das ondas incidentes na área. Com essas informações foram definidos o desenho e a
46

orientação das malhas de propagação, onde foi criado duas malhas para receber todas
as direções de ondas que atingem a região.
Foram criadas duas malhas de cálculo para realização deste estudo, utilizando
uma primeira malha criada para receber ondas incidentes de (E, ENE) e a segunda malha
para receber ondas incidentes de (ESE, SE) (Figura, 18), com espaçamento de centenas
de metros (30x30) .

Figura 18: Malhas de cálculo criadas para receber as ondas incidentes sobre área de estudo.

SELEÇÃO DOS CASOS

A seleção dos casos de ondas foi realizada através da técnica chamada MaxDiss
(Máxima Dissimilaridade).
E um método cíclico, que realiza a seleção dos casos mais dissimilares
(diferentes) até que seja alcançado o número de casos determinado nas configurações
do algoritmo (Figura 19)
47

Figura 19: Casos selecionados a partir da metodologia MaxDiss. Em preto estão apresentadas as séries
completas; em vermelho, a seleção feita a partir da metodologia Maxdiss.

Maxdiss cria uma lista com todos os casos criados (Figura 20), onde podem ser
selecionados para propagação.
Figura 20: Seleção dos casos a se propagar com suas respectivas malhas e parâmetros que caracterizam
as ondas

PROCESSAMENTO DOS DADOS (PÓS-PROCESSO)

Após a propagação dos casos de ondas representativos da região da Enseada do


Itapocorói até a costa, obteve-se a informação de seus parâmetros espectrais ao longo de
48

todo o domínio das malhas, podendo assim reconstruir as séries de estado de mar em
qualquer ponto do domínio.
As informações foram aplicadas no submódulo de Pré-processo que compõe parte
do módulo IH-DYNAMICS, que permite avaliar o ponto de quebra das ondas em um
perfil de praia, para cada esta do de mar, onde se pode obter o transporte litorâneo de
sedimento, o fluxo médio de energia das ondas e a cota de inundação e runup no ponto
da costa selecionado.

CÁLCULO DA COTA DE INUNDAÇÃO

O cálculo da cota de inundação foi realizado a partir da soma dos valores de


elevação do nível do mar (NM), maré astronômica (MA), maré meteorológica (MM) e
runup (R) como observado no item 4.6.
O estudo realizado para este trabalho visa representar os eventos extremos, para
isso o valor de runup utilizado será o runup superado por 2% dos casos por ser
representativo dos maiores valores obtidos.
Para se obter períodos de retorno para 50 e 100anos, o valor de nível do mar foi
projetado para um cenário futuro e somado depois da análise de regime extremo,
considerando assim os piores cenários de NM.
CI = NM + MA + MM + R2%(silva 2012) (9)
O SMC Brasil 3.0 gera informações de cota de inundação porem não considera
a elevação do nível médio do mar, variável que será considerada neste estudo. O runup
(R2% 𝑁𝑖𝑒𝑙𝑠𝑒𝑛 𝑒 𝐻𝑎𝑛𝑙𝑜𝑤 (1991)) também é gerado pelo software, que será aplicada a formação
de desenvolvida por Silva (2012) (Equação, 1; 4).
49

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados serão utilizados e apresentados para dois cenários, setor protegido


item 6.1 e setor exposto item 6.2 para os períodos de retorno de 50 e 100 anos.
Foram confeccionadas cartas de inundação para setor protegido item 6.1.1 e setor
exposto 6.2.1.

SETOR PROTEGIDO

O primeiro passo para avaliar os efeitos climáticos relacionados com o sistema


marítimo é caracterizar as forçantes que atuam neste sistema. Em geral, pode-se
considerar que as principais forçantes atuante nas imediações da praia estão
relacionados com o nível do mar e das ondas. Para estudar o comportamento do nível
do mar são geralmente analisadas nível da maré astronômica e do nível de maré
meteorológica; enquanto as variáveis de interesse em caracterizar as ondas são a altura
significativa das ondas (Hs), período médio (Tm), período de pico (Tp) e média direção
de propagação (Dir). Sendo que para obter uma caracterização adequada destas
variáveis é necessário que se tenha uma série temporal de longa duração e continua dos
dados. SMC Brasil 3.0 atende a todas as especificações para se obter um estudo sobre
efeitos climáticos relacionado ao sistema marítimo costeiro, demostrado ser uma ótima
ferramenta para conhecimentos prévios e projeções das forçantes marítimas atuante na
costa brasileira, porém possui algumas limitações relacionado ao seu banco de dados
Após o processamento dos dados foi criado um perfil no setor protegido da praia
(Figura,21), permitindo assim calcular a arrebentação da onda na praia e reconstruir o
perfil com a quebra da onda calculada, gerando assim dados de cota de inundação e runup.
50

Figura 21: Perfil 1 selecionado para setor protegido da praia

Os valores de cota de inundação gerados para área de estudo, foram retirados do


gráfico (Figura, 22) para os períodos de retorno de 50 e 100 anos.
Figura 22: Período de retorno de cota de inundação, projetados para 200 anos, com base em dados de uma
série temporal de 60 anos, obtido para setor protegido da praia. Valores não utilização a variação do nível
do mar no cálculo.
51

Os valores de cota de inundação gerado pelo SMC Brasil 3.0 não utiliza as
projeções de NM do IPCC (2013) no cálculo da cota de inundação. Onde foram
extraídos valores de cota de inundação para setor protegido da praia de 2,92 metros
para período de retorno de 50 anos e 3,07 metros para 100 anos.
Para realização do cálculo da cota de inundação utilizando o runup proposto por
Silva (2012) o qual foi desenvolvido para praias de enseadas, foram utilizados os valores
de runup gerado pelo SMC Brasil 3.0, retirados do gráfico (Figura, 23) para período de
retorno de 50 e 100 anos e aplicado na (Equação, 1).
Os dados de runup e composto pelo wave set-up e espraiamento da onda na face
da praia que utiliza dados propagados de ondas até a costa.
Os dados de ondas obtidas a partir de métodos de reanálise baseados em modelos
numéricos possuem certas limitações principalmente relacionadas com a escala dos
processos e a baixa precisão da batimetria principalmente próximo à costa onde as
características da onda sofrem alterações.

Figura 23: Runup (R2%) usando formulação proposta por 𝑁𝑖𝑒𝑙𝑠𝑒𝑛 𝑒 𝐻𝑎𝑛𝑙𝑜𝑤 (1991), gerado pelo SMC
Brasil 3.0, para setor protegido da praia.

Foi adquirido os valores de runup R%2(setor protegido) 0,81 metros para período de
retorno de 50 anos e 0,82 metros para 100 anos.
52

Os valores de MM (Figura, 24) e MA (Figura, 25) geradas pelo SMC Brasil 3.0,
foram extraídos para período de retorno de 50 e 100 anos, que somados com NM (IPCC,
2013) e R2%(setor protegido (silva, 2012)) (Equação,1) nos fornece a cota de inundação.
Os dados de maré astronômica foram gerados a partir de 10 constante
harmônicas que correspondem as principais forçantes lunares e solares de maré
astronômica obtidos a partir do modelo global de maré TPXO, que para áreas longe da
costa se aplica muito bem. Porem em áreas onde as configurações topo-batimétrica
afetam a propagação da onda de maré, é possível encontrar diferenças entre a base de
dados e dados in situ.
Os dados de maré meteorológica utilizam uma simulação numérica com
resolução global, que não incluem alguns eventos de dimensões regionais e locais que
possam surgir na costa brasileira ou na sua proximidade, o que pode ter efeitos sobre os
valores gerados.

Figura 24: Período de retorno de maré astronômica, projetados para 200 anos, com base numa série
temporal de 60 anos, obtido através do módulo AMEVA, para setor protegido
53

Figura 25: Período de retorno de maré astronômica, projetados para 200 anos, com base numa série
temporal de 60 anos, obtido através do módulo AMEVA, para setor protegido

Foi extraído do gráfico o valor de amplidude média da maré astronômica de 0,85


metros, valor próximo ao descrito por Shettini et al., (1996) e Truccolo (1998), para
maré na desembocadura do estuário do rio Itajaí-Açu região próxima a área de estudo,
encontrando valor de amplitude média de 0,8 metros.
Para maré meteorológica foram encontrados valores de 1,25 metros para período
de retorno de 50 anos e 1,32 metros para 100 anos. Considerando que os valores foram
obtidos através de uma projeção de 50 e 100 anos os valores estão próximo a descrita
por Truccolo (1998) que afirmam que as marés meteorológicas, sob condições extremas,
exercem grande influência na dinâmica costeira regional, podendo elevar em 1m os
valores das marés astronômicas.
Com os valores que participam da equação do cálculo de inundação obtidos
utilizando valores de NM de 0,46 metros para o período de retorno de 50 anos e para
100 anos o valor de 0,93 metros.e aplicado a formula do cálculo de inundação (Equação
9), resultou em 3,38 metros para período de retorno de 50 anos e 3,92 metros para 100
anos.
Silva (2012) encontrou valores de cota de inundação para mesmo setor da praia
inferiores aos obtidos neste estudo, onde gerou valores de cota de inundação de 2,3
54

metros para período de retorno de 50 anos e 2,4 metros para 100 anos. Essa diferença
se dá pela utilização de diferentes projeções sobre nível médio do mar e metodologia.

CARTA DE INUNDAÇÃO SETOR PROTEGIDO

Com os valores de cota de inundação foram construidas cartas de inundação


representando eventos extremos com periodos de retorno de 50 e 100 anos considerando
a elevação do nivel medio do mar projetos pelo IPCC (2013).
As cartas de inudação foram criadas utilizando um sistema de informação
geográfica (SIG) atravez do sofware ArcGis 10.1. Foram desenvolvidas a partir de
dados numéricos de relevo e da topografia do Brasil, obtidos pela nave espacial
americana durante a missão conhecida como SRTM (Shuttle Radar Topography
Mission).Utilizando a imagem SRTM em formato raster e a transformando em pontos,
aplicamos um modelo de interpolação IDW (Inverse Distance Weighted) podendo assim
recostituir o relevo da região e selecioar as áreas com intervalo de cota desejado (Figura,
26 e 27).
55

Figura 26: Carta de inundação gerada para setor protegido e período de retorno de 50 anos.
56

Figura 27: Carta de inundação gerada para setor protegido e período de retorno de 50 anos.

As áreas em azul claro representam cotas altimetricas iguais ou inferior aos


valores de cota de inundação obtidos, onde ficaram suscetível a inundação, dependendo
da intensidade e o tempo de atuação do evento de alta energia sobre a costa.
57

O setor protegido das ondas obteve os menores valores de cota de inundação


porem e o setor que mais sofrera em um evento de alta energia, devido as cotas
topográficas médias mais baixas, resultado da erosão causada pelos Rios Piçarras e Iriri.
Araujo (2008) identificou um Zona de Erosão Acentuada (ZEA) neste setor da
praia próximo à desembocadura do Rio Piçarras, sendo uma região que apresenta
desequilíbrio no balanço sedimentar onde ocorre transporte potencial de sedimento sem
ter um aporte adequado.

SETOR EXPOSTO

Da mesma forma como realizado para setor protegido da praia, foi traçado um
perfil para setor exposto da praia de Piçarras, o que permitiu extrair os resultados do
modelo numérico para porção exposta da praia (Figura, 26)

Figura 28: Perfil 2 selecionado para setor exposto da praia

Os valores de cota de inundação gerados para área de estudo, sem considerar a


elevação do nível médio do mar, foram retirados do gráfico (Figura, 29) para período
de retorno de 50 e 100 anos.
58

Figura 29: Período de retorno de cota de inundação, projetados para 200 anos, com base em dados de uma
série temporal de 60 anos, obtido para setor exposto da praia. Valores não utilização a variação do nível
do mar no cálculo.

Os valores gerados para o cálculo de inundação foi de 3,39 metros para período
de retorno de 50 anos e 3,48 metros para 100 anos.
Para realização da cota de inundação utilizando o runup proposto por Silva
(2012) para setor exposto, utilizamos os valores de runup gerado pelo SMC Brasil 3.0
retirado do gráfico (Figura, 30) para período de retorno de 50 e 100 anos e aplicado na
(Equação, 4)
59

Figura 30: Runup (R2%) usando formulação proposta por 𝑁𝑖𝑒𝑙𝑠𝑒𝑛 𝑒 𝐻𝑎𝑛𝑙𝑜𝑤 (1991), gerado pelo SMC
Brasil 3.0, para setor exposto da praia

Os valores de MM e MA e NM utilizados para setor exposto são os mesmos


utilizados para o setor protegido que estão descritos na página 51, que foram extraídos
para o período de retorno de 50 e 100 anos, que somados com R2% (silva,2012) (Equação,4)
nos fornece a cota de inundação de 4,45 metros para 50 anos e 5 metros para 100 anos.
Os resultados obtidos para estimativa do comportamento do clima marítimo no
futuro são feitos através de uma análise das tendências, que consiste na análise das séries
temporais de variáveis climáticas marítimas e observar padrões de comportamento ou
tendência de longo prazo por meio de um ajuste modelo de regressão. Para estimar as
tendências de longo prazo a partir de dados históricos o SMC Brasil utiliza também um
modelo heteroscedástico por considerar não só a magnitude das variáveis, mas também
sua variabilidade.

CARTA DE INUNDAÇÃO SETOR EXPOSTO

Da mesma forma como realizado para setor protegido da praia, foi


confeccionado cartas de inundação para os diferentes períodos de retorno 50anos
(Figura,31) e 100anos (Figura, 32), utilizando mesma metodologia.
60

Figura 31:Carta de inundação gerada para setor exposto e período de retorno de 50 anos.
61

Figura 32: Carta de inundação gerada para setor exposto e período de retorno de 100 anos.

O setor exposto apesar de ter gerado os maiores valores de cota de inundação,


ele apresenta cotas topográficas maiores se comparado com setor protegido, isto faz
com que região não sofra tanto com eventos de inundação causado por eventos
extremos.
62

As altas cotas topográficas se dão pelo fato da existência de uma barreia


pleistocênica como descrita por Carujo Jr (1995).
Os resultados mostram a relevância que a elevação do nível médio do mar pode
causar sobre o cálculo da cota de inundação, afetando diretamente a região costeira.
Mesmo que projeções sobre elevação do nível do mar seja um assunto aberto à
discussão, há uma ocorrência de uma elevação dos níveis médios dos oceanos, sendo
ela de causa antropogênica ou natural. Assim regiões costeiras que sofrem com eventos
de alta energia devem fazer o planejamento e o uso destas regiões de forma mais
conscienciosa, utilizando dados históricos e estudos científicos no planejamento do uso
destas áreas. Mas para isso e necessário que se tenha dados topográficos de qualidade
para se criar cartas de inundação e que os dados de entrada do modelo sejam
aprimorados.
63

CONCLUSÕES

O presente trabalho apresentou um estudo da cota de inundação para o município


de Penha, Piçarras e Barra Velha, sendo considerada as suas áreas banhadas pela
enseada do Itapocorói.
Os dados de reanálise de nível de mar para a área de estudo, considerando as
projeções mais pessimistas do quinto relatório de mudanças climáticas desenvolvida
pelo IPCC (2013), foram de uma elevação de aproximadamente 0,93 cm/ano, chegado
a um valor de 0,46 metros para período de retorno de 50 anos, para 100 anos o valor de
0,93 metros.
As cotas de inundação calculadas para os diferentes períodos de retorno 50 e 100
anos e diferentes setores da praia setor protegidas e expostas foram respectivamente
3,38 e 3,92 metros para a porção protegida da praia e 4,45 e 5,01 metros para a porção
exposta da praia.
Os mapas de inundação gerados para a área de estudo demonstraram que um
aumento do nível do mar associado a variáveis como maré astronômica, maré
meteorológica, runup das ondas e somados as projeções do nível médio do mar,
demonstrou-se mais influente na porção protegida da praia do que em relação a porção
exposta. Pois, mesmo a porção exposta apresentando os maiores níveis de cota de
inundação, as cotas altimétricas da porção protegida são menores, facilitando a
inundação desta região.
64

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