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Diferenciais de rendimento e discriminação por sexo

no mercado de trabalho brasileiro na década de 90


Dulce Benigna Dias Alvarenga Baptista12

1- Introdução
As mulheres brasileiras enfrentam oportunidades de inserção no mercado de
trabalho diferentes das oportunidades experimentadas pelos homens. O mercado de
trabalho revela essas diferenças através das diferentes formas de acesso à empregos,
diferentes níveis de remuneração e promoções, da segregação ocupacional por sexo ou
ainda através da discriminação por sexo. A discriminação por sexo no mercado de
trabalho ocorre quando homens e mulheres, com as mesmas preferências e atributos
produtivos, recebem remunerações diferenciadas na força de trabalho, em termos de
salários e ou de acesso a trabalho. Uma parcela da diferença de remuneração entre
homens e mulheres pode ser atribuída a diferenças de preferência e qualificação entre os
trabalhadores. Porém, existe uma parcela residual, que não se refere nem a preferências
e nem a qualificação e que pode ser considerada como indicador de discriminação.
A discriminação tem implicações tanto sobre questões relacionadas a
desigualdade, justiça social e pobreza, quanto sobre a atividade econômica. Sob a ótica
das desigualdades sociais, a discriminação constitui um fator agravante do quadro atual,
na medida em que geralmente ela opera contra os grupos que possuem produtividade
mais baixa. Do ponto de vista da atividade econômica, a discriminação pode levar a
uma alocação ineficiente do nível de produto, como conseqüência da sub-utilização dos
recursos humanos e de capital. Do lado dos trabalhadores, discriminação implica em
salários diferenciados para indivíduos com a mesma produtividade e dessa forma, em
incentivos diferenciados para o trabalho. Os grupos que sofrem discriminação tenderão
a reduzir sua oferta de trabalho para um nível abaixo do ótimo social. Do lado da firma,
quanto maior a preferência pela discriminação, mais elevado será o custo do trabalho e
como consequência, mais o capital das firmas discriminadoras tenderá a ser sub-
utilizado. (Barros, Ramos e Santos, 1995).

1
Economista. Artigo elaborado com base na monografia de conclusão do curso de economia, apresentada
à Universidade Federal de Minas Gerais em fevereiro de 1999, sob a orientação de Eduardo L. G. Rios-
Neto, Professor Titular do Departamento de Demografia e pesquisador do CEDEPLAR/UFMG

1
No contexto brasileiro, caracterizado por uma economia em crise, pelos elevados
níveis de pobreza, concentração de renda, esse tipo de ineficiência tem efeitos negativos
sobre o bem estar da sociedade. A discriminação por sexo reduz o impacto da
participação da mulher na redução da pobreza, seja nos domicílios onde ela representa
um complemento da fonte principal de renda ou nos domicílios onde ela constitui a
fonte principal de rendimentos, situação que vem se tornando muito comum nos últimos
anos, fruto do crescimento de número de descasamentos e do baixo índice de
recasamento das mulheres. Existem vários estudos que relacionam os diferenciais de
rendimento entre homens e mulheres e a existência de discriminação no mercado de
trabalho brasileiro. Muitos desses estudos sugerem que o fator residual, atribuído a
discriminação, tem um peso grande na explicação desses diferenciais e que a
combinação do componente residual com o componente da produtividade na explicação
desses diferenciais, varia segundo os tipos de emprego.
Estelcner e outros (1991) analisam o comportamento de homens e mulheres no
mercado de trabalho, com foco nos determinantes de status e de rendimentos, utilizando
dados dos censo de 1980. Para o Brasil, esses autores encontraram um “gap” salarial de
48% entre trabalhadores homens e mulheres, casados, empregados como conta própria,
sendo que esse “gap” variava regionalmente entre 39% no Sul e 59% em São Paulo. A
decomposição dos salários mostrou que em todas as regiões , com exceção do Rio de
Janeiro, o peso do componente residual, atribuído a discriminação, é maior que o do
componente explicativo (atribuído às características individuais produtivas).
Tiefenthaler (1992), comparando seus resultados com os obtidos por Estelcner
(1991), verifica que os diferenciais de salários entre homens e mulheres sofreram
poucas mudanças entre 1980 e 1989, apesar do crescimento da participação feminina na
força de trabalho durante esse período. Além disso, a decomposição dos salários revelou
mais uma vez que o fator residual, atribuído à discriminação, tem um peso maior na
determinação das diferenças de salários entre homens e mulheres do que o componente
explicativo. Segundo esses autores, em 1989, a discriminação era responsável por algo
entre 81% e 89% do diferencial de salários entre homens e mulheres nos setores formal
e conta própria.
Kassouf (1998) comparou os rendimentos de homens e mulheres empregados
nos setores formal e informal da economia. Os resultados encontrados por Kassouf

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indicam a existência de discriminação por sexo nos dois setores da economia, sendo que
a discriminação no setor informal é maior que no setor formal. Segundo a autora, as
mulheres do setor formal deveriam receber 26% a mais que os homens, na ausência de
discriminação. No setor informal da economia as mulheres deveriam ganhar 67% mais.
Barros, Ramos e Santos (1995) acompanharam a evolução do hiato salarial entre
1981 e 1989 utilizando dados das PNADs e verificaram que, em alguns casos, o hiato
salarial no Brasil metropolitano chega a 70%. Os resultados mostram uma redução de
5% nesses diferenciais ao longo desse período. A decomposição dessas diferenças
mostrou que elas não podem ser explicadas por diferenças de acesso às ocupações
melhor remuneradas e que diferenças de idade e nível de escolaridade explicam o hiato
salarial em –15%. Uma conclusão importante desse estudo é que 10% do hiato salarial
pode ser explicado por diferenças nos tipos de emprego entre os sexos.
Diante dessas evidências, esse trabalho tem como objetivo investigar as
diferenças de remuneração entre homens e mulheres no mercado de trabalho brasileiro,
segundo os diferentes tipos de emprego. Em termos específicos pretende-se analisar a
extensão do hiato salarial, e decompor esse diferencial, determinando o peso dos
componentes explicativos e residuais de produtividade. O artigo divide-se em cinco
sessões conforme descrito a seguir. Na segunda sessão descreveremos a metodologia.
Na terceira sessão será feita a apresentação dos resultados. Na quarta sessão faremos a
decomposição do diferencial. E, finalmente, na quinta sessão apresentaremos algumas
considerações finais sobre os diferenciais de rendimento e a discriminação no mercado
de trabalho brasileiro.

2- Metodologia

2.1. Base de dados

A base de dados utilizada baseia-se na Pesquisa Nacional de Amostra por


Domicílio (PNAD), do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, do ano de
1996. As informações referem-se ao trabalho principal dos indivíduos ocupados,
residentes em áreas metropolitanas. Não foram incluídos os indivíduos sem
rendimentos ou sem declaração de rendimentos e os indivíduos não que apresentavam
informação sobre o número de horas trabalhadas na ocupação principal, na semana de

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referência. Foram excluídos também os indivíduos sem declaração de ocupação, de
atividade, de idade e de cor.
Foram definidas quatro sub-amostras: A- homens, entre 25 e 49 anos, cuja
condição na família é pessoa de referência, que neste estudo chamamos de “homens
casados”; B- mulheres, entre 25 e 49 anos, cônjuges, as quais nos referimos como
“mulheres casadas”; C- homens, entre 15 e 24 anos, filhos, que chamamos de “homens
solteiros”; D- mulheres, entre 15 e 24 anos, filhas, que constituem as “mulheres
solteiras”.
Em cada sub-amostra, os ocupados foram divididos em seis categorias:
“Empregadores”, “Empregados com carteira”, “Empregados sem carteira”, “Conta
Própria”, “Empregado Público” e “Empregado Doméstico”. Os “Empregados sem
carteira” incluem tanto os empregados sem declaração de carteira como os outros
empregados sem carteira. Os “Empregados Públicos” agregam os funcionários públicos
estatutários e os militares. A categoria “Empregados domésticos” é formada pelos
trabalhadores domésticos com carteira, pelos trabalhadores domésticos sem carteira e
pelos trabalhadores domésticos sem declaração de carteira. Não foram incluídos no
universo de análise os trabalhadores na produção para o próprio consumo, os
trabalhadores na construção para o próprio uso, os trabalhadores não remunerados e os
trabalhadores sem declaração de posição na ocupação.

2.2. Medidas de discriminação

A metodologia descrita abaixo já foi discutida e utilizada por autores como


Oaxaca (1973), Greene (1990), Berndt (1991), Psacharopoulos e Tzannatos (1992) e
Jacobsen (1994), Barros, Ramos e Santos (1995) e Kassouf (1998), em estudos que
tratam de diferenças de rendimentos entre homens e mulheres e discriminação por sexo
na força de trabalho.

2.2.1. Estimação das equações de rendimento

Para a determinação dos rendimentos dos trabalhadores será utilizado um


modelo baseado em Becker (1964) e Mincer (1974). O modelo tem como variável
dependente o logaritmo natural dos rendimentos por hora, pressupondo que o indivíduo
trabalhou o mês todo e como variáveis independentes a idade, o quadrado da idade, o

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número de anos de estudo, o quadrado do número de anos de estudo. Foram incluídas
variáveis “dummy” para raça e residência nas regiões metropolitanas.
Sendo assim, a função de rendimentos para os trabalhadores é dada por:
E [W / S = s, A = a , E = e] = α s + βsa + δ sa 2 + γ se + φse2 + σ s C1s + ρRM1s ; (1)

onde:
W - logaritmo natural dos rendimentos,
S - sexo,
A - idade,
E - anos de estudo,
C - variável “dummy” para raça,
RM - variável “dummy” para residência nas regiões metropolitnas.
Abaixo apresentamos uma breve descrição das variáveis utilizadas na estimação
das equações de rendimentos:
Variável dependente:
Logaritmo natural do rendimento mensal por hora. Como essa informação não
existe no questionário da PNAD, ela foi construída através do cálculo do
logaritmo da divisão do valor do rendimento mensal do trabalho principal por
quatro vezes o número de horas que o indivíduo trabalhou na ocupação na
semana de referência.
Variáveis independentes:
Idade (idade corresponde ao número de anos completos na data da entrevista),
quadrado da idade (quadrado do número de anos completos na data da
entrevista), anos de estudo(número completo de anos de estudo), quadrado dos
anos de estudo(quadrado do número completo de anos de estudo), variável
dummy para raça (foram omitidos os negros, pardos e indígenas), variáveis
dummies para regiões metropolitanas(Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo
Horizonte, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre e Distrito Federal – foi omitida
São Paulo).
As variáveis idade e quadrado da idade são utilizadas como uma proxy para a
experiência. Segundo a teoria do capital humano, os rendimentos dos trabalhadores
apresentam retornos positivos e decrescentes com a experiência. Sendo assim, o sinal
esperado para o coeficiente da idade é positivo e do quadrado da idade é negativo.

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As variáveis anos de estudo e quadrado dos anos de estudo são uma proxy para
educação. Pela teoria do capital humano, os rendimentos dos trabalhadores apresentam
retornos positivos e decrescentes com a educação. Sendo assim, o sinal esperado para o
coeficiente do número de anos de estudo seria positivo e o coeficiente do quadrado do
número de anos de estudo seria negativo. Várias análises aplicando equações de
rendimento ao caso brasileiro apontam uma relação crescente (convexa), e não
decrescente (côncava) com relação à educação. Neste caso, o sinal esperado para o
coeficiente do quadrado do número de anos de estudo seria positivo. Como a
informação sobre o número de anos de estudo não está disponível no questionário, foi
necessário fazer o cruzamento de quatro variáveis de escolaridade disponíveis na fita
para obter essa informação. Esse cruzamento foi feito através da construção de um
algoritmo. A variável raça é utilizada para tentar captar a existência de diferencial de
remuneração entre os brancos e amarelos e os pretos, pardos e indígenas. Como a
categoria omitida são os pretos, pardos e indígenas, espera-se que o sinal do coeficiente
estimado para a variável “dummy” de raça seja positivo.
As variáveis dummies regionais são utilizadas para captar diferenças de
remuneração entre os trabalhadores residentes nas diferentes regiões metropolitanas
brasileiras. Como a “dummy” omitida é São Paulo, espera-se que os coeficientes
estimados para as dummies das regiões apresentem sinal negativo. Além disso, espera-
se que esse impacto negativo da região de residência seja maior nas regiões
metropolitanas de Belém , Fortaleza, Recife e Salvador.
A partir das equações de rendimento é possível calcular as taxas de retorno para
a experiência e para a educação.
Neste modelo a taxa de retorno para a experiência é dada por:

∂W
= β s + 2δ s a ; (1)
∂A

onde:
W - logaritmo natural dos rendimentos,
S - sexo,
A - idade.

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Da mesma forma, a taxa de retorno para a educação é dada por:

∂W
= β s + 2δ s e
∂E ; (1)

onde:
W - logaritmo natural dos rendimentos,
S - sexo,
e - anos de estudo.

2.2.2. Decomposição do diferencial de rendimentos

O modelo utilizado para a decomposição do diferencial de rendimentos foi


desenvolvido por Oaxaca (1973) e aperfeiçoado por Raimers (1985) e Cotton (1988). A
decomposição mede o quanto do hiato salarial entre homens e mulheres seria
modificado se ambos fossem remunerados segundo uma mesma estrutura salarial,
mantendo fixos seus atributos produtivos. O método supõe que se os retornos estimados
para as características são os mesmos para homens e mulheres, o diferencial entre os
salários oferecidos seria um reflexo do tratamento diferenciado que é dado à essas
características produtivas. Sendo assim a diferença dos salários será decomposta
segundo dois componentes: uma parte atribuída diferenças nas características
produtivas, ∆e, e outra parte atribuída às diferenças nos coeficientes da regressão
(discriminação), ∆d. No processo de aplicação da técnica, deve-se determinar qual
estrutura de salários deverá ser tomada como modelo não discriminatório. A análise
pode ser desenvolvida segundo três modelos. O primeiro privilegia o uso dos
coeficientes masculinos, o segundo o dos coeficientes femininos e um terceiro proposto
por Cotton (1988) utiliza a média ponderada dos coeficientes de homens e mulheres
baseada na proporção de homens e mulheres na amostra.
O desenvolvimento da decomposição do hiato salarial apresentado abaixo é
baseado em Barros, Ramos e Santos (1995, p. 391)
A equação de rendimentos é dada por:

E [W / S = s, A = a , E = e] = α s + βsa + δ sa 2 + γ se + φse2 + σ s C1s + ρRM1s


; (1)

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onde:
W - logaritmo natural dos rendimentos,
S - sexo,
A - idade,
E - anos de estudo,
C - variável “dummy” para raça,
RM - variável “dummy” para residência nas regiões metropolitnas.

Reescrevendo a equação de rendimentos em função das esperanças matemáticas


temos:

E [W / S = s] = α s + β s E [ A / S = s] + δ s E  A 2 / S = s + γ s E [ E / S = s] + φ s E  E 2 / S = s
   
+ σ 1s E [ C / S = s] + ρ1s E [ RM / S = s]
, (2)

O hiato salarial é dado por:

∆ = E[W / S = h] − E[W / S = m]
; (3)

onde:
S = h, homens,
S = m, mulheres.
Mas o hiato salarial também pode ser escrito como:

∆ = ∆d + ∆e ; (4)

Tomando a função de rendimento dos homens como modelo não


discriminatório, temos que:

( ) ( ) ( ) [ (] )
∆d = α h − α m + βh − βm ⋅ E[ A / S = m] + δ h − δ m ⋅ E A2 / S = m + γ h − γ m ⋅ E[E / S = m] +

(φh − φm ) ⋅ E[E 2 / S = m] + (σ1h − σ1m ) ⋅ E[C / S = m] + (ρ1h − ρ1m ) ⋅ E[RM / S = m] ;(5)

O componente residual, ∆d que é uma média ponderada do diferencial de


salários por sexo para cada grupo de idade e para cada nível de educação, onde os pesos
são dados pela distribuição das mulheres segundo idade e anos de estudo. Dessa forma,

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∆d representa o diferencial de salários entre homens e mulheres igualmente produtivos
O componente residual também é chamado de “componente discriminatório”, embora
não seja possível dizer sem ambigüidades que ele representa discriminação.
Temos também que:

∆e = βh ⋅ ( E[ A/ S = h] − E[ A/ S = m]) +δh ⋅ EA2 / S = h − EA2 / S = m +γh ⋅ ( E[ E / S = h] − E[ E / S = m]) +


    

φh ⋅ EE2 / S = h − EE2 / S = m +σ1h⋅ ( E[C / S =1h] − E[C / S =1m]) +


    
ρ1h⋅ ( E[ RM / S =1h] − E[ RM / S =1m])
; (6)
O componente explicativo, ∆e é a soma ponderada do diferencial de salários e
das diferenças de idade e de nível de educação entre homens e mulheres. Quando ∆e=0,
não existe diferença nos grupos de idade e nem nos níveis de educação entre homens e
mulheres.

3 – Equações de rendimentos, segundo os tipos de emprego

3.1. Caracterização do ocupados, segundo os tipos de emprego

A maior parte dos ocupados, do universo de análise deste estudo são


empregados com carteira (48%), cuja proporção é maior que a soma dos outros dois
grupos que mais concentram ocupados, os empregados sem carteira (22%) e os conta
própria (15%). A proporção de ocupados nos outros tipo de emprego, empregadores
(7%), empregados públicos (7%) e empregados domésticos (5%), é mais ou menos a
mesma (Tabela 3.1.1).
Tabela 3.1.1. - Distribuição dos Ocupados, Segundo Sexo,
Status Conjugal e Tipo de Emprego - Brasil, 1996
Tipo de Emprego Homem Mulher Homem Mulher
Casado Casada Solteiro Solteira
Ocupados 4.135.144 2.172.633 1.123.771 824.516
Empregadores 331.075 107.297 11.503 3.734
Empregado com carteira 2.309.635 626.206 539.342 449.686
Empregado sem carteira 413.459 193.517 411.905 187.050
Conta Própria 1.084.553 535286 124.608 41.105
Empregado Público 222.631 291.904 18.027 23.260
Empregado Doméstico 43.791 418.423 18.386 119.681
Fonte: Tabulações Especiais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 1996

Nos conjunto dos ocupados o número de homens é maior que o de mulheres.


Desagregando pelos tipos de emprego, verifica-se que essa tendência se mantêm em
todos os grupos, exceto entre os empregados domésticos e entre os funcionários
públicos, onde tanto entre os casados, como entre os solteiros, o número de mulheres é

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maior que o de homens. Entre os empregados domésticos essa diferença é grande, sendo
que o número de mulheres casadas chega a ser quase dez vezes o número de homens.
No caso dos empregados públicos essa diferença é bem pequena , sendo que observa-se
quase que o mesmo número de homens e de mulheres.
Os dados da tabela 3.1.2 mostram os coeficientes de razão de sexo. A razão de
sexo, o número de homens dividido pelo número de mulheres, foi calculada para os
ocupados casados e solteiros, segundo o tipo de emprego. Os grupos que apresentam
coeficientes de razão de sexo maiores que 1 são aqueles onde a proporção de homens é
maior que a de mulheres. No conjunto dos ocupados, a proporção homens é maior que a
de mulheres. Os empregadores, empregados sem carteira, conta-própria e empregados
com carteira casados apresentam uma proporção de homens muito superior à de
mulheres. Para os empregados domésticos a proporção de mulheres maior que a
proporção de homens. Os grupos empregado público casados e solteiros e empregado
com carteira solteiro apresentam uma distribuição proporcional de homens e mulheres,
com coeficientes de razão de sexo próximos de 1. Nos grupos empregados com carteira
e conta própria existe uma diferença significativa nos coeficientes de razão de sexo
entre os casados e solteiros. Nos outros grupos, os coeficientes de razão de sexo entre
casados e solteiros são semelhantes.
Tabela 3.1.2. - Razão de Sexo dos Ocupados, Segundo o Status Conjugal e
Tipo de Emprego - Brasil, 1996
Tipo de Emprego Casados Solteiros
Ocupados 1,90 1,36
Empregadores 3,09 3,08
Empregado com carteira 3,69 1,20
Empregado sem carteira 2,14 2,20
Conta Própria 2,03 3,03
Empregado Público 0,76 0,78
Empregado Doméstico 0,10 0,15
Fonte: Tabulações Especiais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 1996

O dados da tabela 3.1.3 indicam que a média de idade dos homens é maior que a
média de idade das mulheres, tanto para os ocupados casados, como para os ocupados
solteiros. Em geral os grupos seguem essa tendência, com exceção dos empregados
públicos casados, onde a idade média é a mesma para homens e mulheres, dos
empregadores solteiros e conta própria solteiros, onde as mulheres são mais novas. Os
empregados domésticos apresentam um perfil oposto, com mulheres mais velhas entre
os casados e homens mais velhos entre os solteiros. A média de idade não varia muito
entre os grupos. Entre os casados os grupos que apresentam as maiores médias de idade

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são os empregadores e os empregados públicos. Entre os solteiros os grupos com menor
média de idade são os empregados domésticos e os empregados sem carteira.

Segundo os dados da tabela 3.1.4, as mulheres ocupadas apresentam um número


maior de anos de estudo tanto entre os casados, onde o número médio de anos de estudo
dos homens é 8,3 anos e o das mulheres é 8,9 anos, como entre os solteiros, onde os
homens têm em média 8,2 anos de estudo e as mulheres 9,3 anos de estudo. Essa
tendência se verifica em todos os tipos de emprego, exceto nos empregados domésticos
casados, onde os homens são mais escolarizados. Os grupos mais escolarizados são os
empregados públicos, seguidos pelos empregadores e pelos empregados com carteira.
Os empregados domésticos são os menos escolarizados. Uma observação interessante é
que as mulheres solteiras, mesmo sendo mais novas, apresentam níveis de escolaridade
maiores que as casadas, exceto nos grupos empregadores e empregados públicos, que
são os tipos de emprego com maiores níveis de escolarização. O mesmo acontece com
os homens empregados com carteira, como conta própria e como empregados
domésticos.

Tabela 3.1.3. - Média de Idade dos Ocupados, Segundo Sexo,


Status Conjugal e Tipo de Emprego, Brasil - 1996
Tipo de Emprego Homem Mulher Homem Mulher
Casado Casada Solteiro Solteira
Ocupados 37,0 36,3 19,8 19,9
Empregadores 38,5 37,4 21,3 20,2
Empregado com carteira 36,4 35,0 20,3 20,4
Empregado sem carteira 36,1 35,5 18,8 19,2
Conta Própria 37,9 37,0 20,4 20,1
Empregado Público 38,3 38,4 21,6 21,9
Empregado Doméstico 35,2 36,2 18,8 18,6
Fonte: Tabulações Especiais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 1996

Tabela 3.1.4. - Número Médio de Anos de Estudo dos Ocupados, Segundo Sexo,
Status Conjugal e Tipo de Emprego - Brasil, 1996
Tipo de Emprego Homem Mulher Homem Mulher
Casado Casada Solteiro Solteira
Ocupados 8,3 8,9 8,2 9,3
Empregadores 10,3 11,2 10,2 10,9
Empregado com carteira 8,2 9,8 8,8 9,9
Empregado sem carteira 7,7 8,9 7,4 9,1
Conta Própria 7,6 8,2 7,9 9,3
Empregado Público 11,2 12,5 10,9 12,2
Empregado Doméstico 5,8 5,8 6,2 6,5
Fonte: Tabulações Especiais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 1996

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Os dados da tabela 3.1.5. mostram que o rendimento médio dos homens é maior
que o das mulheres, tanto entre os ocupados casados, cujo diferencial de rendimento
médio observado é de 33,72%, como entre os ocupados solteiros, cujo diferencial é de
4,87%. Além disso, o diferencial entre os casados é maior que entre os solteiros. Entre
os ocupados casados os homens apresentam rendimentos médios maiores que as
mulheres casadas em todos os grupos, exceto no grupo empregado doméstico. Neste
grupo os homens têm em média um rendimento 2,4% menor que o das mulheres. Entre
os ocupados solteiros os homens apresentam rendimentos menores que os das mulheres
apenas nos grupos empregadores, empregados com carteira e empregados domésticos.
Nos grupos com empregados públicos, empregados sem carteira e conta própria os
homens solteiros ganham a menos que as mulheres, em média 26,2%, 14,1% e 7,02%,
respectivamente. Os grupos que possuem os rendimentos médios mais elevados são os
empregadores e os empregados públicos. O grupo empregado doméstico é o que
apresenta menor média de rendimentos.
Tabela 3.1.5. - Rendimento Médio dos Ocupados, Segundo Sexo,
Status Conjugal e Tipo de Emprego - Brasil, 1996
Tipo de Emprego Homem Mulher Homem Mulher ∆ ∆
Casado Casada Solteiro Solteira Casados Solteiros
Ocupados 1,3 0,9 0,4 0,4 33,72% 4,78%
Empregadores 2,2 1,9 1,4 1,3 25,60% 15,05%
Empregado com carteira 1,2 1,0 0,6 0,5 21,30% 5,20%
Empregado sem carteira 0,9 0,7 0,2 0,3 26,42% -14,14%
Conta Própria 1,2 0,9 0,5 0,6 27,30% -7,02%
Empregado Público 1,8 1,5 1,0 1,2 25,40% -26,20%
Empregado Doméstico 0,3 0,4 (0,0) (0,3) -2,40% 32,74%
Fonte: Tabulações Especiais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 1996

3.2. Equações de rendimento, segundo os tipos de emprego


A tabela 3.2.1 mostra as estimativas das equações de rendimento para os
ocupados casados, segundo os tipo de emprego. As estimativas para os homens
ocupados casados mostram que a variável idade está positivamente associada à taxa de
salários, a variável quadrado da idade está negativamente associada, a variável anos de
estudo associa-se negativamente e a variável quadrado dos anos de estudo está
positivamente associada. A variável “dummy” para raça mostrou-se significante e
positiva e todas as “dummies” regionais são negativas e altamente significativas. Isso
significa que os rendimentos dos homens ocupados casados aumentam à taxas
decrescentes com a idade e a taxas crescentes com o número de anos de estudo. Os
homens casados brancos e amarelos têm em média rendimentos mais elevados que os

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dos negros, pardos e índios e que esses rendimentos seriam menores dos que se eles
estivessem trabalhando na região metropolitana de São Paulo. Os resultados
encontrados para as mulheres ocupadas casadas são bem parecidos. Os rendimentos
dessas mulheres aumentam à taxas decrescentes com a idade e apresentam retornos
crescentes para educação. Caso sejam brancas ou amarelas, os rendimentos dessas
mulheres são maiores que se comparado ao das mulheres negras, pardas e indígenas e
menores do que seriam se elas trabalhassem na região metropolitana de São Paulo, com
exceção do Distrito Federal. No Distrito Federal os rendimentos das ocupadas casadas
seriam em média 10% maiores, que se elas estivessem trabalhando na região
metropolitana de São Paulo.
Em resumo, para os ocupados casados, as estimativas vão de encontro aos
resultados esperados. É importante destacar o efeito positivo e altamente significativo
da “dummy” de raça, que constitui um indício de discriminação por raça na força de
trabalho. Outro ponto que chama atenção são impactos diferenciados das dummies
regionais. A diferença de rendimentos em relação a região metropolitana de São Paulo é
bem maior para ocupados casados trabalhando nas regiões metropolitanas de Recife,
Fortaleza, Salvador e Belém.
As estimativas das equações de rendimento para os diferentes tipos de emprego
dos ocupados casados confirmam que existem diferenças na estrutura de remuneração,
tanto entre os grupos, como dentro dos grupos por sexo e status conjugal. Segundo as
estimativas obtidas para os ocupados casados, a idade possui impacto positivo apenas
sobre o rendimento dos homens e mulheres empregados com carteira, das mulheres
empregadas sem carteira e dos empregados públicos homens. O número de anos de
estudo tem um impacto positivo sobre quase todos os grupos estudados. Os únicos
grupos em que a educação não possui impacto significativo são os homens e as
mulheres empregados como domésticos e as mulheres empregadoras.
A variável raça não apresenta um impacto significativo sobre os rendimentos das
empregadoras, das empregadas sem carteira, das mulheres conta própria e dos
empregados domésticos homens e mulheres.
Na maior parte dos tipos de empregos as variáveis regionais possuem impacto
negativo sobre os rendimentos de homens e mulheres casados. As variáveis regionais
não têm influência sobre os rendimentos dos empregadores homens em Salvador, no

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Distrito Federal e no Rio de Janeiro, das mulheres empregadas com carteira e como
conta própria no Distrito Federal, das mulheres sem carteira e dos empregados
domésticos homens mulheres no Distrito Federal e em Curitiba. Nos grupos
empregadoras mulheres e empregados públicos homens e mulheres o impacto das
variáveis regionais é mais restrito. Entre as empregadoras mulheres, as únicas regiões
onde as variáveis regionais são significativas são Fortaleza e Recife. Entre as
empregadas públicas essa as variáveis regionais são significativas em Belém, Recife e
Salvador e Distrito Federal e entre os empregados públicos, apenas o Distrito Federal é
significante. No caso dos homens e mulheres empregados públicos no Distrito Federal,
chama a atenção o fato do impacto da variável regional ser positivo, o que significa que
os empregados públicos casados no Distrito Federal ganham mais do que ganhariam se
fossem empregados públicos na região metropolitana de São Paulo.
A tabela 3.2.2 mostra as estimativas das equações de rendimento para os
ocupados solteiros, segundo os tipos de emprego. A estimativa da equação de
rendimentos para os homens ocupados solteiros mostra que a variável idade está
positivamente associada à taxa de salários e a variável quadrado da idade está
negativamente associada. A variável “dummy” de raça é significativa e positiva e todas
as “dummies” regionais são negativas e altamente significativas. Nas estimativas para as
ocupadas solteiras as variáveis idade e quadrado da idade mostraram-se não
significativas. As variáveis anos de estudo e quadrado dos anos de estudo são
significativas, assim como a “dummy” para a raça. Todas as variáveis regionais
mostraram-se negativas e significativas, com exceção do Distrito Federal, onde a
“dummy” regional não apresenta um impacto significativo. Dessa forma pode-se
afirmar que os rendimentos dos ocupados solteiros, homens e mulheres, aumentam a
taxas crescentes com o número de anos de estudo, que os brancos e amarelos têm
rendimentos mais elevados, que se comparado aos dos negros, pardos e índios. Em
qualquer região metropolitana brasileira, os ocupados e ocupadas solteiros terão
rendimentos menores que teriam se estivessem trabalhando na região metropolitana de
São Paulo, com exceção das mulheres do Distrito Federal. Apenas os rendimentos dos
homens solteiros serão afetados pela idade.
As estimativas das equações de rendimento para os diferentes tipos de emprego
dos ocupados casados também confirmam diferenças na estrutura de remuneração para

14
os grupos e dentro dos grupos, por sexo e status conjugal. Os resultados das estimativas
desagregadas por tipo de emprego mostram que os homens empregados com carteira
constituem o único grupo em que a idade possui um impacto significativo sobre os
rendimentos. Nos demais grupos o impacto da idade mostrou-se não significativo. O
nível de educação só possui impacto sobre os rendimentos dos homens e mulheres
empregados com carteira, dos homens e mulheres empregados sem carteira e os homens
conta própria.
A variável de raça tem um impacto positivo para homens e mulheres
empregados com carteira e para os homens conta própria, dado que essa variável é
altamente significativa para os trabalhadores com carteira.
Em quatro grupos em especial, as diferenças regionais não têm impacto sobre os
rendimentos: homens e mulheres empregadores, os homens e mulheres empregados
públicos, com exceção de Porto Alegre, dos empregados domésticos homens, exceto
Fortaleza e das mulheres conta própria, exceto Fortaleza e Salvador. No demais grupos
as dummies regionais em geral mostram-se significativas, salvo algumas exceções como
mulheres com carteira no Distrito Federal, homens empregados sem carteira no Rio de
Janeiro, Porto Alegre e Curitiba e mulheres empregadas sem carteira no Distrito Federal
e em Curitiba e empregadas domésticas no Rio de Janeiro e em Curitiba.

3.3. Taxas de retorno para experiência e educação

Nesta sessão apresentamos os retornos estimados para experiência e para


educação. As taxas de retorno foram estimadas para os ocupados como um todo e de
forma desagregada por tipo de emprego. Vale lembrar que, nas estimativas das equações
de rendimento desgregadas por tipo de emprego, os coeficientes das variáveis idade,
quadrado da idade, educação e quadrado da educação mostraram-se não significativos
para vários grupos. Nesses casos, as interpretações sobre os retornos não fazem sentido
e dessa forma, só serão considerados na análise os grupos cujos coeficientes mostraram-
se significativos.

3.3.1 - Retornos para a experiência

Segundo a teoria do capital humano a curva de rendimentos para a experiência é


côncava, ou seja a derivada primeira é positiva e a derivada segunda é negativa, o que

15
implica em retornos positivos e decrescentes para a experiência com o aumento da idade
(Berndt, 1991).
Tabela 3.3.1.1 - Estimativas dos Retornos para a Experiência dos Ocupados Casados,
3
Segundo Sexo e Tipo de Emprego - Brasil, 1996
Ocupados Empregadores Emp. C. Carteira Emp. S. Carteira Conta Própria Emp. Público Emp. Doméstico

Idade Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher
25 3,2% 1,9% 1,3% 1,7% 3,0% 2,5% 0,8% 5,1% 1,8% 0,7% 5,4% -0,8% 6,2% 0,1%
35 2,4% 1,5% 1,3% 1,6% 2,5% 1,3% 1,4% 1,7% 1,5% 1,0% 3,0% 0,7% 2,1% 0,1%
45 1,6% 1,0% 1,3% 1,5% 1,9% 0,0% 2,1% -1,7% 1,3% 1,3% 0,6% 2,2% -2,0% 0,2%
49 1,2% 0,8% 1,3% 1,5% 1,7% -0,4% 2,3% -3,1% 1,2% 1,4% -0,4% 2,8% -3,6% 0,2%
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio, 1996

A tabela 3.3.1.1 mostra os retornos para experiência estimados para homens e


mulheres casados, segundo os tipos de emprego. As taxas de retorno para experiência
para ocupados homens e mulheres são positivos e decrescentes, sendo que as taxas de
retorno para os homens são maiores que para as mulheres. Desagregando por tipo de
emprego, essa tendência é verificada para os homens com carteira e para os homens
empregados públicos, sendo que estes apresentam retornos negativos aos 49 anos de
idade. As mulheres empregadas com carteira e as mulheres empregadas sem carteira
apresentam taxas de retorno positivas e decrescentes para a experiência, sendo que as
mulheres sem carteira apresentam retornos negativos aos 45 anos.
Tabela 3.3.1.2 - Estimativas dos Retornos para a Experiência dos Ocupados Solteiros,
4
Segundo Sexo e Tipo de Emprego - Brasil, 1996
Ocupados Empregadores Emp. C. Carteira Emp. S. Carteira Conta Própria Emp. Público Emp. Doméstico

Idade Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher
15 9,7% 3,2% 2,0% -18,9% 11,4% 7,2% 7,3% 4,7% 12,8% -17,2% -3,9% 25,2% -14,1% -1,0%
20 5,7% 2,7% 3,6% 5,6% 5,5% 3,4% 4,1% -0,6% 5,8% 0,2% 0,8% -2,4% 9,7% 3,8%
24 2,5% 2,3% 4,9% 25,3% 0,8% 0,3% 1,5% -4,9% 0,3% 14,1% 4,6% -24,4% 28,8% 7,6%
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio, 1996

A tabela 3.3.1.2. mostra as taxas de retorno para experiência para homens e


mulheres solteiros. Os retornos para experiência para ocupados homens e mulheres
solteiros também são positivos e decrescentes, e as taxas de retorno para os homens são
maiores que para as mulheres. Entre os solteiros, o único grupo que apresenta
coeficientes significativos para a experiência são os homens empregados com carteira.
Para este grupo os retornos para a experiência também são positivos e decrescentes.

3.3.2. Retornos para a educação

De acordo com a teoria do capital humano a curva de rendimentos para a


educação é côncava, ou seja, a derivada primeira é positiva e a derivada segunda é
negativa, o que incorre em retornos decrescentes para a educação. (Berndt, 1991). Mas

3
Os grupos, cujos coeficientes para a experiência mostraram-se significativos, encontram-se sombreados
4
Os grupos, cujos coeficientes para a experiência mostraram-se significativos, encontram-se sombreados

16
como já foi discutido na sessão 2, vários estudos apontam que no caso brasileiro, a
curva de rendimentos seria convexa, o que implica em retornos positivos e crescentes
para a educação.
Tabela 3.3.2.1 - Estimativas dos Retornos para a Educação dos Ocupados Casados,
5
Segundo Sexo e Tipo de Emprego - Brasil, 1996
Anos de Ocupados Empregadores Emp. C. Carteira Emp. S. Carteira Conta Própria Emp. Público Emp. Doméstico
Estud Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher

4 4,6% 3,7% 3,3% 0,5% 2,8% 1,2% 3,9% 5,3% 4,9% 3,1% 0,2% 8,7% 4,0% 1,9%
8 12,0% 12,5% 8,9% 7,2% 11,6% 11,9% 12,9% 12,9% 10,5% 11,9% 7,8% 12,4% -3,6% 1,3%
12 19,5% 21,2% 14,6% 13,9% 20,3% 22,6% 21,9% 20,6% 16,2% 20,7% 15,4% 16,1% -11,1% 0,8%
16 27,0% 30,0% 20,2% 20,5% 29,1% 33,3% 30,9% 28,3% 21,8% 29,5% 23,1% 19,9% -18,6% 0,2%

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio, 1996

A tabela 3.3.2.1 mostra que os retornos para educação estimados para os casados
são positivas e crescentes, sendo que a taxa de retorno são maiores para as mulheres que
para os homens. Desagregando por tipo de emprego, essa tendência é verificada em
todos os grupos. Os menores retornos para a educação foram encontrados nos grupos
homens empregadores, funcionários públicos, homens trabalhando como conta própria.
Os grupos empregados com carteira e empregados sem carteira são os que apresentam
os maiores retornos para a educação. Verifica-se também que em todos os tipos de
emprego os retornos para a educação são maiores que os retornos para a experiência.
Tabela 3.3.2.2 - Estimativas dos Retornos para a Educação dos Ocupados Solteiros,
6
Segundo Sexo e Tipo de Emprego - Brasil, 1996
Anos Ocupados Empregadores Emp. C. Carteira Emp. S. Carteira Conta Própria Emp. Público Emp. Doméstico
Estudo Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher

4 2,9% 3,9% -7,7% 13,1% -0,4% -2,2% 4,7% 2,0% 1,2% 4,0% 25,6% 53,0% -6,0% 0,6%
8 9,7% 11,2% 11,5% 12,6% 8,0% 7,4% 9,8% 10,2% 10,0% 11,8% 21,7% 35,9% 5,6% 1,0%
12 16,4% 18,6% 30,7% 12,0% 16,3% 17,0% 15,0% 18,4% 18,8% 19,6% 17,8% 18,9% 17,1% 1,4%
16 23,2% 25,9% 49,9% 11,5% 24,7% 26,6% 20,1% 26,6% 27,5% 27,3% 13,8% 1,8% 28,6% 1,7%
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio, 1996

A tabela 3.3.2.2. mostra que as taxas de retorno para educação para os solteiros
também são positivas e crescentes e bem parecidas, embora a taxa das mulheres seja um
pouco mais elevada. Desagregando por tipo de emprego verifica-se que os homens e
mulheres empregados sem carteira, os homens e mulheres empregados como conta
própria e os empregados com carteira também seguem essa tendência. Esses grupos
apresentam retornos elevados para a educação, sobretudo para os níveis mais elevados
de escolaridade. Também entre os solteiros, os retornos para a educação são maiores
que os retornos para a experiência.

5
Os grupos, cujos coeficientes para a educação mostraram-se não significativos, encontram-se
sombreados
6
Os grupos, cujos coeficientes para a educação mostraram-se significativos, encontram-se sombreados

17
Tabela 3.2.1. - Equações de Rendimento para Homens e Mulheres Casados,
Segundo Tipo de Emprego - Brasil, 1996
Ocupados Empregadores Emp. C. Carteira Emp. S. Carteira Conta Própria Emp. Público Emp.
Doméstico
Variáveis Homem Mulher Home Mulher Home Mulher Home Mulher Homem Mulher Home Mulher Home Mulher
m m m m m
INTERCEP
(0,53) (0,35) 0,98 0,66 (0,24) (0,55) 0,55 (2,46) 0,10 0,43 (1,38) 0,66 (2,76) 0,50
** **

IDADE
0,05 0,03 0,01 0,02 0,04 0,05 (0,01) 0,14 0,02 (0,00) 0,11 (0,05) 0,16 (0,00)
*** ** ** ** **

IDADEQ
(0,00) (0,00) 0,00 (0,00) (0,00) (0,00) 0,00 (0,00) (0,00) 0,00 (0,00) 0,00 (0,00) 0,00
** **

ANOEST
(0,03) (0,05) (0,02) (0,06) (0,06) (0,10) (0,05) (0,02) (0,01) (0,06) (0,07) 0,05 0,12 0,02
** *** *** *** **

ANOESTQ
0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,00 (0,01) (0,00)
*** *** *** *** *** *** *** *** *** *** **

RACA 0,18
0,21 0,15 0,33 0,32 0,17 0,17 0,14 0,12 0,06 0,14 0,17 0,11 (0,06)
*** *** *** *** *** ** *** ** ***

BELEM
(0,47) (0,38) (0,54) 0,20 (0,49) (0,45) (0,55) (0,41) (0,45) (0,31) (0,05) (0,33) (0,93) (0,67)
*** *** *** *** *** *** ** *** ** ** ** ***

FORTLEZ
(0,59) (0,55) (0,44) (0,57) (0,66) (0,60) (0,60) (0,61) (0,59) (0,70) (0,20) 0,12 (0,70) (0,85)
*** *** ** ** *** *** *** *** *** *** ** ***

RECIFE
(0,59) (0,61) (0,50) (0,74) (0,66) (0,61) (0,61) (0,76) (0,55) (0,59) (0,22) (0,32) (0,57) (0,92)
*** *** *** ** *** *** *** *** *** *** *** ** ***

SALVADO
(0,50) (0,49) (0,15) (0,06) (0,51) (0,44) (0,57) (0,61) (0,57) (0,61) (0,22) (0,26) (1,16) (0,96)
*** *** *** *** *** *** *** *** ** *** ***

BELOHTE
(0,38) (0,32) (0,44) (0,40) (0,41) (0,32) (0,31) (0,30) (0,37) (0,31) (0,00) 0,01 (0,67) (0,57)
*** *** *** *** *** *** ** *** *** ** ***

RIO
(0,35) (0,23) (0,20) (0,30) (0,43) (0,39) (0,35) (0,29) (0,23) (0,01) (0,11) (0,15) (0,67) (0,23)
*** *** *** *** *** ** *** ** ***

CURITIB
(0,20) (0,13) (0,29) (0,12) (0,21) (0,20) (0,31) (0,01) (0,16) (0,10) 0,01 (0,15) (0,51) (0,06)
*** ** ** *** *** *** **

PORTALE
(0,36) (0,25) (0,51) (0,19) (0,36) (0,29) (0,26) (0,33) (0,36) (0,26) (0,14) 0,02 (0,84) (0,26)
*** *** *** *** *** ** ** *** ** *** ***

DISTFED
(0,08) 0,10 0,08 0,25 (0,20) (0,02) (0,30) 0,02 (0,18) (0,05) 0,39 0,51 (0,23) (0,21)
** ** *** ** ** *** ***

R2 Ajustado

OBS 4.135.144 2.172.633 331.075 107.297 2.309.635 626.206 413.459 193.517 1.084.553 535.286 222.631 291.904 43.791 418.423

***- P<0,001 **- P<0,05 *-P<0,01

18
Tabela 3.2.2. - Equações de Rendimento para Homens e Mulheres Solteiros,
Segundo Tipo de Emprego - Brasil, 1996
Ocupados Empregadores Emp. C. Emp. S. Conta Própria Emp. Público Emp.
Carteira Carteira Doméstico
Variáveis Homem Mulher Home Mulher Home Mulher Home Mulher Home Mulher Home Mulher Home Mulher
m m m m m m
INTERCEP -2,4832 -0,774 1,392 9,26 -2,863 -1,663 -2,074 -1,877 -3,509 7,024 0,018 -14,41 8,176 1,022
6 8 8 6
*** ** **

IDADE 0,2181 0,046 -0,029 -0,927 0,290 0,187 0,170 0,206 0,336 -0,692 -0,18 1,079 -0,858 -0,155
3 4 3 7 4 4 7 1
*** **

IDADEQ -0,004 -5E-04 0,001 0,024 -0,006 -0,004 -0,003 -0,005 -0,007 0,017 0,004 -0,028 0,023 0,004
6 6 4 7 9 8
** **

ANOEST -0,038 -0,035 -0,269 0,137 -0,088 -0,118 -0,005 -0,062 -0,075 -0,038 0,295 0,701 -0,175 0,002
8 8
** **

ANOESTQ 0,0084 0,009 0,024 -7E-04 0,010 0,012 0,006 0,010 0,010 0,009 -0,005 -0,021 0,014 0,000
3 2 5 4 2 9 7 4 4
*** *** *** *** *** ** **

RACA 0,0968 0,148 -0,369 -0,518 0,12 0,132 0,016 0,097 0,235 0,269 0,132 0,001 0,153 0,097
6 2 6 8 8 5 9 1 5
*** *** *** *** **

BELEM -0,4951 -0,619 0,145 -0,895 -0,639 -0,658 -0,508 -0,512 -0,158 -0,979 -0,559 -1,349 -0,404 -0,572
1
*** *** *** *** *** *** ***

FORTLEZ -0,5141 -0,625 0,814 -0,252 -0,511 -0,596 -0,502 -0,662 -0,552 -0,826 0,853 -0,475 -1,174 -0,636
8 2
*** *** *** *** *** *** ** ** ** ***

RECIFE -0,5325 -0,546 -0,878 - -0,574 -0,5 -0,48 -0,485 -0,472 -0,63 -0,173 -0,75 -0,691 -0,642

*** *** *** *** *** *** ** ***

SALVADO -0,5186 -0,552 0,861 - -0,427 -0,505 -0,584 -0,636 -0,456 -0,89 -0,556 -0,007 -1,054 -0,583
9
*** *** *** *** *** *** ** ** ***

BELOHTE -0,2895 -0,367 0,192 -0,613 -0,393 -0,382 -0,279 -0,38 0,094 -0,419 0,233 -0,237 -0,435 -0,327
7 1 3
*** *** *** *** *** *** **

RIO -0,2211 -0,282 -0,156 0 -0,29 -0,337 -0,118 -0,238 -0,337 -0,436 -0,255 0,266 -0,127 -0,17

*** *** *** *** ** **

CURITIB -0,1294 -0,17 0,524 -0,473 -0,167 -0,17 -0,072 -0,24 -0,233 -0,428 -0,418 -0,457 0,173 -0,082
2 9
** ** ** **

PORTALE -0,1828 -0,236 0,979 -0,139 -0,261 -0,231 -0,104 -0,397 -0,254 0,008 -0,247 -1,048 -0,288 -0,352
5 9
*** *** *** *** *** ** **

DISTFED -0,1566 -0,068 1,156 -0,316 -0,228 -0,026 -0,196 -0,055 0,298 -0,415 -0,041 0,191 -0,43 -0,289
8 1 2
** ** ** **
2
R Ajustado

OBS 1.123.771 824.516 11.503 3.734 539.342 449.686 411.905 187.050 124.608 41.105 18.027 23.260 18.386 119.681

***- P<0,001 **- P<0,05 *-P<0,01

19
4 – Decomposição do diferencial de salários, segundo o tipo de emprego
A tabela 4.1 mostra o hiato salarial estimado entre homens e mulheres casados,
segundo o tipo de emprego. A tabela mostra também a proporção desse hiato que é
explicado por características produtivas, ∆e e a proporção que é explicada
residualmente, ∆d. O hiato salarial entre os ocupados casados é de 0,34 reais. Os
resultados da decomposição mostram que o componente explicativo (∆e) é negativo,
indicando que o hiato salarial não pode ser explicado por diferenças de idade e de
educação entre os sexos, dado que os atributos produtivos das mulheres casadas são
melhores que os dos homens. Deveria existir um hiato salarial, mas no sentido contrário,
favorecendo as mulheres casadas ocupadas, que são mais educadas que os homens, mas
o peso do componente discriminatório é tão grande, que reverte completamente as
vantagens das mulheres.
Ao fazer a decomposição do hiato salarial para os tipos de emprego foram
encontrados resultados interessantes. No caso das pessoas casadas, quase todos os tipos
de empregos apresentam um hiato salarial que favorece os homens, sendo que o maior
diferencial é encontrado, 0,28 reais, é entre os conta própria. Não existem muitas
diferenças no tamanho do hiato entre os grupos. Para os empregados sem carteira o
diferencial é de 0,26, para os empregados públicos é de 0,25 e para os empregados com
carteira é de 0,21 reais. O grupo dos empregados domésticos casados é o único em que
o diferencial favorece as mulheres. O hiato salarial das empregadas domésticas é de
0,02 reais.

A decomposição do hiato salarial para as pessoas ocupadas casadas, segundo os


tipos de emprego, mostra 3 padrões distintos (figura 4.1). Os empregadores, os
empregados com carteira e os empregados sem carteira apresentam o componente
explicativo (∆e) negativo, o que significa que o hiato salarial entre homens e mulheres
não pode ser explicado por diferenças de idade e de educação. Se a forma de
remuneração no mercado de trabalho fosse a mesma para homens e mulheres, nesses
grupos deveria existir um hiato salarial negativo, ou seja, um hiato salarial em favor das
mulheres. Para os empregados como conta própria, grupo que apresenta o maior hiato
salarial entre os sexos, o componente explicativo (∆e) mostra-se muito pequeno vis a vis
o componente residual. Apesar do componente residual ser o segundo menor entre os

20
grupos, o impacto do componente explicativo é insuficiente, o que produz o diferencial
elevado apresentado pelos conta própria. Esse resultado reflete a pequena diferença nos
atributos produtivos de homens e de mulheres. Entre os empregados domésticos casados
os resultados indicam que existe um pequeno diferencial favorecendo as mulheres,
quando na verdade, deveria haver um diferencial de salários em favor dos homens, uma
vez que o componente explicativo é positivo.
Tabela 4.1 - Hiato Salarial, Componente Explicativo e Componente Residual
Estimados para os Ocupados Casados, Segundo Tipo de Emprego
Tipo de Emprego Hiato Salarial Estimado Componente Explicativo Componente
∆ ∆e Residual
∆d
Ocupados 0,34 (0,06) 0,40
-19% 119%
Empregador 0,26 (0,11) 0,36
-41% 141%
Empregado C. Carteira 0,21 (0,17) 0,39
-81% 181%
Empregado S. Carteira 0,26 (0,16) 0,43
-61% 161%
Conta Própria 0,28 (0,01) 0,29
-4% 104%
Empregado Público 0,25 (0,14) 0,39
-54% 154%
Empregado Doméstico -0,02 0,01 (0,03)
-29% 129%
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio, 1996

É importante destacar que o efeito do componente residual (∆d) é muito grande


em todos os grupos, com exceção dos empregados domésticos. Em todos esses casos ele
é mais que o dobro do peso do componente explicativo (∆e), indicando que mesmo
entre os diferentes empregos, o impacto ponderado dos atributos produtivos das
mulheres é, em geral, 50 % menor que o impacto ponderado dos atributos pessoais.

A tabela 4.2 mostra, para os ocupados solteiros, o hiato salarial estimado entre
homens e mulheres, o componente explicativo (∆e) e o componente residual calculado
(∆d), segundo o tipo de emprego. O hiato salarial por sexo é de 0,05 reais. A
decomposição mostra que o componente explicativo (∆e) é negativo, indicando que os
atributos produtivos das mulheres solteiras são melhores que os dos homens. Além
disso, o componente residual (∆d) tem um grande peso na determinação do total dos
diferenciais de rendimentos. Após desagregar o hiato salarial por tipo de emprego pode-
se verificar que em alguns grupos, a existência de hiato favorece as mulheres. Esses
grupos são os empregados públicos, cujo diferencial a favor das mulheres é de 0,26
reais, os empregados sem carteira cujo diferencial é de 0,14 e os conta própria, onde
esse diferencial é de 0,07. No grupos empregadores, empregados com carteira e

21
empregados domésticos, o diferencial de rendimentos favorece os homens, sendo que o
diferencial é maior para os empregados domésticos, grupo no qual esse diferencial é de
0,327 reais. Cumpre observar que o segmento dos empregados domésticos é um
segmento tipicamente feminino, conforme mostram os coeficientes de razão de sexo da
tabela 4.1.2.
Figura 4.1

Decomposição do Hiato Salarial para os Ocupados Casados,


Segundo Tipo de Emprego - Brasil, 1996

0,50
0,40
0,30 Componente Explicativo
0,20 Componente Residual
0,10
-
(0,10) Ocupados Empregador Empregado Empregado Conta Própria Empregado Empregado
C. Carteira S. Carteira Público Doméstico
(0,20)
(0,30)

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio, 1996

A decomposição do hiato salarial para os ocupados solteiros mostra que nos


grupos empregadores e empregados com carteira o componente explicativo é negativo e
tem um peso grande. Mais uma vez as diferenças de idade e de escolaridade entre os
sexos não explicam o diferencial de salários e a forma de remuneração do mercado de
trabalho inverte o sentido do hiato, mesmo em grupos onde o componente explicativo
tem um peso significativo (figura 4.2). Os resultados da decomposição do hiato dos
empregados públicos, dos empregados sem carteira e dos empregados conta própria,
grupos cujo o hiato salarial favorece as mulheres, demonstram a existência de duas
tendências. Para os empregados sem carteira e para os empregados conta própria o
componente explicativo, ∆e, é maior que o componente residual, (∆d).
Isso indica que apesar do diferencial de salários favorecer as mulheres, o hiato
salarial deveria ser ainda maior em favor das mulheres, se homens e mulheres fossem
remunerados segundo a mesma estrutura salarial. No caso dos empregados públicos,
tanto o componente explicativo como o componente residual são negativos. Dessa
forma, além das mulheres serem mais escolarizadas que os homens, elas ainda contam
com uma “ajuda” da estrutura de remuneração do mercado de trabalho. Assim, caso

22
homens e mulheres fossem remunerados segundo a mesma estrutura, o hiato salarial em
favor das mulheres deveria ser um pouco menor.

É interessante observar que os atributos pessoais das mulheres solteiras são bem
melhores que os dos homens solteiros. A figura 4.2 mostra que à exceção dos
empregados públicos, o componente residual é positivo para todas as categorias
ocupacionais, embora em alguns grupos ele tenha um grande peso, como é o caso dos
empregadores, empregados com carteira e empregados domésticos, enquanto em outros
o peso do componente residual seja menor, como nos grupos empregados com carteira e
conta própria. Mostra também que o componente residual é menor entre os solteiros que
entre os casados.
Tabela 4.2 - Hiato Salarial, Componente Explicativo e Componente Residual
Estimados para os Ocupados Solteiros, Segundo Tipo de Emprego
Tipo de Emprego Hiato Salarial Componente Explicativo Componente
Estimado ∆e Residual
∆ ∆d
Ocupados 0,05 (0,13) 0,18
-277% 377%
Empregador 0,15 (0,20) 0,35
-134% 234%
Empregado C. Carteira 0,05 (0,12) 0,17
-226% 326%
Empregado S. Carteira -0,14 (0,21) 0,07
150% -50%
Conta Própria -0,07 (0,14) 0,066
196% -96%
Empregado Público -0,26 (0,23) (0,04)
87% 13%
Empregado Doméstico 0,33 0,07 0,26
22% 78%
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio, 1996
Figura 4.2

Decomposição do Hiato Salarial para os Ocupados Solteiros,


Segundo o Tipo de Emprego - Brasil, 1996

0,40

0,30

0,20
Componente Explicativo
0,10 Componente Residual
-
Ocupados Empregador Empregado Empregado Conta Empregado Empregado
(0,10) C. Carteira S. Carteira Própria Público Doméstico

(0,20)

(0,30)

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio, 1996

23
5– Considerações finais
Os resultados deste trabalho confirmam o que os outros estudos sugeriam ao
demonstrar a existência de diferenciais de rendimento, tanto por sexo como por status
conjugal, entre os tipos de emprego, no mercado de trabalho metropolitano brasileiro. A
decomposição dos diferenciais mostra que apesar das mulheres possuírem atributos
produtivos melhores que os dos homens, o impacto do componente residual é tão grande
que anula essas vantagens e reverte o hiato em benefício dos homens.
Mas será que esse diferencial pode ser atribuído à discriminação por sexo no
mercado de trabalho? Certamente uma parcela ser atribuída à discriminação. Mas existe
uma parte desse diferencial que é explicado por problemas de especificação das
equações de rendimento. Tanto a variável idade como a variável anos de estudo deixam
de controlar uma série de fatores importantes na explicação do diferencial. A variável
anos de estudo não capta diferenças de qualidade na educação, que é um fator
importante na determinação dessas diferenças. No caso da variável idade, vários estudos
já mostraram que a idade média de entrada no mercado de trabalho dos homens jovens é
menor que a das mulheres jovens e que a taxa de intermitência no mercado de trabalho é
bem maior para as mulheres. Mesmo entre as mulheres existem padrões diferentes entre
casadas e solteiras. As mulheres casadas apresentam idade média de entrada no mercado
mais elevada e tendem a ter uma taxa de intermitência maior que as solteiras. A opção
por fazer a análise separando os solteiros e os casados permitiu controlar um pouco mais
essas diferenças. Dessa forma, quanto melhor for a especificação do modelo, ou seja,
quanto melhor as variáveis captarem os fatores importantes na determinação do impacto
da experiência e da educação e de outras variáveis que influenciam a remuneração dos
trabalhadores, melhor o hiato salarial refletirá a discriminação no mercado de trabalho.
Alguns resultados podem vir a ser melhor explorados em outros trabalhos. Seria
interessante decompor o componente discriminatório, buscando identificar o peso da
experiência, da educação, da diferenças raciais e das diferenças regionais. Outro ponto
importante são os resultados obtido para a dummy de raça. O efeito verificado é
positivo e altamente significativo, constituindo um indício de discriminação por raça na
força de trabalho. É necessário também ressaltar o resultado dos diferenciais regionais.
De modo geral, os trabalhadores das regiões metropolitanas brasileiras ganham menos
que em São Paulo. Principalmente nas regiões são mais pobres. Também é importante

24
discutir até que ponto seria adequado utilizar o termo discriminação em se tratando dos
empregados como conta própria e dos empregados públicos, devido a ausência da figura
de um empregador, que pudesse estar utilizando práticas discriminatórias.

6- Referência Bibliográfica
BARROS, Ricardo Paes de, RAMOS, Lauro, SANTOS, Eleonora. Gender differences
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D.C., The World Bank, 1992, p.89-118.

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