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Superior Tribunal de Justiça

EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 799.241 - RJ (2005/0119523-6)


RELATOR : MINISTRO RAUL ARAÚJO
EMBARGANTE : BANCO MARKA S/A
ADVOGADO : FERNANDO SETEMBRINO MÁRQUEZ DE ALMEIDA
EMBARGADO : MARKA NIKKO ASSET MANAGEMENT S/C LTDA
ADVOGADA : KARLA VANESSA M M DE ARAÚJO E OUTRO(S)
EMBARGADO : EDUARD LEAL CLAASSEN
ADVOGADO : FLÁVIA BURJATO FERREIRA E OUTRO

EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO


ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. EXTENSÃO DOS
EFEITOS DE RECURSO INTERPOSTO POR APENAS
UM DOS LITISCONSORTES. SOLIDARIEDADE
PASSIVA. COMUNHÃO DE DEFESA. INCIDÊNCIA DO
ART. 509, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC. EMBARGOS
ACOLHIDOS.
1. A extensão dos efeitos da decisão que julga recurso
interposto por um dos litisconsortes, prevista no caput do art.
509 do CPC, aplica-se somente quando houver litisconsórcio
unitário, enquanto aquela prevista no parágrafo único do citado
dispositivo legal aplica-se à hipótese de solidariedade passiva,
em que haja comunhão de defesas, ainda que facultativo o
litisconsórcio.
2. No caso em exame, não há indivisibilidade na relação
jurídica de direito material entre os réus, administrador e gestor
do fundo de investimento derivativo. Portanto, não havendo
litisconsórcio unitário, não é aplicável o caput do art. 509 do
CPC. Mas há entre eles solidariedade passiva, com
fundamento no art. 942 do Código Civil e no art. 7º, parágrafo
único, do CDC, e comunhão de defesas, de maneira que é
aplicável a extensão dos efeitos da decisão que julga recurso
interposto por um dos litisconsortes prevista no parágrafo único
do art. 509 do CPC.
3. Devem ser estendidos à parte embargante os efeitos do
acórdão de fls. 1.095/1.109, que afastou a responsabilidade
civil do gestor de fundo de investimento derivativo,
alegadamente advinda dos prejuízos ocasionados pela
desvalorização do Real ocorrida em janeiro de 1999, com a
mudança pelo Governo Federal da política cambial.
4. Embargos de declaração acolhidos.

ACÓRDÃO
Documento: 1469507 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/12/2015 Página 1 de 4
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Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima


indicadas, decide a Quarta Turma, por unanimidade, acolher os embargos de
declaração, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Maria Isabel
Gallotti (Presidente), Antonio Carlos Ferreira, Marco Buzzi e Luis Felipe Salomão
votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 24 de novembro de 2015(Data do Julgamento)

MINISTRO RAUL ARAÚJO


Relator

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EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 799.241 - RJ (2005/0119523-6)

RELATOR : MINISTRO RAUL ARAÚJO


EMBARGANTE : BANCO MARKA S/A
ADVOGADO : FERNANDO SETEMBRINO MÁRQUEZ DE ALMEIDA E
OUTRO(S)
EMBARGADO : MARKA NIKKO ASSET MANAGEMENT S/C LTDA
ADVOGADA : KARLA VANESSA M M DE ARAÚJO E OUTRO(S)
EMBARGADO : EDUARD LEAL CLAASSEN
ADVOGADO : FLÁVIA BURJATO FERREIRA E OUTRO

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO RAUL ARAÚJO:

Trata-se de embargos declaratórios opostos por BANCO MARKA S/A contra


acórdão desta colenda Quarta Turma, assim ementado:

"RECURSO ESPECIAL. CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL.


ADMINISTRADOR E GESTOR DE FUNDO DE INVESTIMENTO
DERIVATIVO. DESVALORIZAÇÃO DO REAL. MUDANÇA DA
POLÍTICA CAMBIAL. PREJUÍZO DO CONSUMIDOR. RISCO
INERENTE AO PRODUTO. RECURSO PROVIDO.
1. Em regra, descabe indenização por danos materiais ou morais a
aplicador em fundos derivativos, pois o alto risco é condição inerente
aos investimentos nessas aplicações. Tanto é assim que são
classificados no mercado financeiro como voltados para investidores
experientes, de perfil agressivo, podendo o consumidor ganhar ou
perder, sem nenhuma garantia de retorno do capital. Como é da lógica
do mercado financeiro, quanto maior a possibilidade de lucro e
rentabilidade de produto oferecido, maiores também os riscos
envolvidos no investimento.
2. No caso em exame, o consumidor buscou aplicar recursos em fundo
agressivo, objetivando ganhos muito maiores do que os de
investimentos conservadores, sendo razoável entender-se que
conhecia plenamente os altos riscos envolvidos em tais negócios
especulativos, mormente quando se sabe que o perfil médio do
consumidor brasileiro é o de aplicação em caderneta de poupança, de
menor rentabilidade e maior segurança.
3. Não fica caracterizado defeito na prestação do serviço por parte do
gestor de negócios, o qual, não obstante remunerado pelo investidor
para providenciar as aplicações mais rentáveis, não assumiu
obrigação de resultado, vinculando-se a lucro certo, mas obrigação
de meio, de bem gerir o investimento, visando à tentativa de máxima
obtenção de lucro. Não pode ser considerado defeituoso serviço que
não garante resultado (ganho) financeiro ao consumidor.
4. Recurso especial conhecido e provido." (fl. 1.108)

Documento: 1469507 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/12/2015 Página 3 de 4
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Em suas razões, alega o ora embargante que há contradição e omissão no julgado, ao


não ampliar o provimento do recurso especial também para o administrador do fundo (Banco
Marka), na forma do art. 509, caput e parágrafo único, do Código de Processo Civil. Requer, ao
final, que "estes declaratórios sejam conhecidos e providos para, eliminadas a contradição e a
omissão quanto à incidência do art. 509 e seu parágrafo do CPC, ser declarado não ter
havido trânsito em julgado do acórdão estadual com relação ao ora embargante e que os
pedidos formulados, pelo aqui recorrido, na sua petição inicial, foram julgados
improcedentes, com relação a ambos os réus" (fls. 1.113/1.117).

Devidamente intimado, o embargado não ofereceu impugnação dos declaratórios (fls.


1.119 e 1.123).

À fl. 1.122, MARKA NIKKO ASSET MANAGEMENT S/C LTDA informa que
"não se opõe aos embargos de declaração opostos pelo Banco Marka S/A".

É o relatório.

Documento: 1469507 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/12/2015 Página 4 de 4
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RELATOR : MINISTRO RAUL ARAÚJO


EMBARGANTE : BANCO MARKA S/A
ADVOGADO : FERNANDO SETEMBRINO MÁRQUEZ DE ALMEIDA E
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ADVOGADA : KARLA VANESSA M M DE ARAÚJO E OUTRO(S)
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ADVOGADO : FLÁVIA BURJATO FERREIRA E OUTRO

VOTO

O SENHOR MINISTRO RAUL ARAÚJO (Relator):

Nos presentes embargos declaratórios, BANCO MARKA S/A pretende, com base
na aplicação do art. 509, caput e parágrafo único, a extensão dos efeitos do acórdão proferido por
esta colenda Quarta Turma no recurso especial interposto apenas por MARKA NIKKO ASSET
MANAGEMENT S/C LTDA, o qual, acolhendo a pretensão recursal, julgou improcedentes os
pedidos formulados na exordial de reparação de danos morais e materiais, afastando a
responsabilidade civil do gestor de fundo de investimento derivativo, alegadamente advinda dos
prejuízos ocasionados pela desvalorização do Real ocorrida em janeiro de 1999, com a mudança pelo
Governo Federal da política cambial.

Dispõe o art. 509 do Código de Processo Civil:

Art. 509. O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos


aproveita, salvo se distintos ou opostos os seus interesses.
Parágrafo único. Havendo solidariedade passiva, o recurso interposto
por um devedor aproveitará aos outros, quando as defesas opostas ao
credor lhes forem comuns.

Na interpretação do caput do referido dispositivo legal, a jurisprudência desta Corte


de Justiça tem delineado que, somente quando houver litisconsórcio unitário, será possível a extensão
dos efeitos da decisão que julga recurso interposto por um dos litisconsortes, prevista no art. 509
Código de Processo Civil.

A propósito:

PROCESSO CIVIL. A NORMA DO ART. 509 DO CÓDIGO DE


PROCESSO CIVIL SÓ É APLICÁVEL AOS CASOS DE LITISCONSÓRCIO
UNITÁRIO.
Documento: 1469507 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/12/2015 Página 5 de 4
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Nos termos do art. 509, caput, do atual Código de Processo Civil, "o
recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se
distintos ou opostos os seus interesses", e assim também era no Código de
Processo Civil de 1939, com a só diferença que neste se dizia
"aproveitará".
A norma deve ser interpretada sob o influxo do art. 48 do Código de
Processo Civil vigente, a cujo teor, "salvo disposição em contrário, os
litisconsortes serão considerados, em suas relações com a parte adversa,
como litigantes distintos; os atos e omissões de um não prejudicarão nem
beneficiarão os outros".
A regra, portanto, é a de que os litisconsortes devem, cada qual, cumprir
os ônus processuais (v.g., provas, recursos, etc.); a exceção diz respeito
unicamente à aquela espécie de litisconsórcio em que a solução deve ser
uniforme para todos os litisconsortes, quer dizer, quando se trata de
litisconsórcio unitário.
Embargos de declaração rejeitados.
(EDcl nos EDcl no AgRg no Ag 988.735/SP, Primeira Turma, Rel. Min.
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Rel. p/ acórdão Min. ARI
PARGENDLER, DJe de 15/4/2014, grifou-se)

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO.


APROVADO NO ROL DE VAGAS DE PREVISTAS. RECURSO
ORDINÁRIO. REFORMA. AUSÊNCIA DE PRONUNCIAMENTO SOBRE O
1º COLOCADO, QUE ERA LITISCONSÓRCIO UNITÁRIO. EXTENSÃO
DOS EFEITOS. ART. 509 DO CPC. POSSIBILIDADE.
1. Recurso ordinário interposto contra acórdão no qual se negou o
direito líquido e certo à nomeação de candidato aprovado em 1º lugar,
dentro do rol de 3 (três) vagas previstas no Edital para Perito Avaliador.
No caso concreto, o recorrente foi integrado à lide na condição de
litisconsórcio ativo necessário, uma vez que houve impetração por parte
da aprovada na 2ª colocação.
2. Do acurado exame do autos, infere-se que o STJ deu provimento ao
recurso interposto pela 2ª colocada no concurso público (RMS
28.916/MS), tendo silenciado sobre a situação do 1º colocado, apesar
dele também ter interposto recurso (fls. 264-272); contra tal omissão, o
recorrente pediu a extensão dos efeitos, com base no art. 509 do Código
de Processo Civil (fls. 396-398).
3. É somente quando houver litisconsórcio unitário que deverá haver
extensão dos efeitos por força do art. 509 do Estatuto Processual, como
exposto na jurisprudência do STF: "Litisconsórcio; a extensão aos
demais dos efeitos do recurso interposto por um dos litisconsortes,
prevista no art. 509 C. Pr. Civ., é restrita à hipótese do litisconsórcio
unitário (...)" (RE 149.787/ES, Relator Min. Sepúlveda Pertence,
Primeira Turma, julgado em 3.3.1995, publicado no DJ 1º.9.1995, p.
27.392 e no Ementário vol. 1798-05, p. 987).
4. No caso concreto, resta evidente que se trata de litisconsórcio unitário
(fls. 434-436) e, portanto, o recorrente faz jus à extensão dos efeitos do
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acórdão proferido pelo STJ no RMS 28.916/MS.
Recurso ordinário provido.
(RMS 39.668/MS, Segunda Turma, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, DJe
de 2/9/2015)

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS


DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. RECEBIMENTO COMO
AGRAVO REGIMENTAL. LITISCONSÓRCIO UNITÁRIO. SITUAÇÕES
INDIVIDUAIS JÁ DEFINIDAS NA AÇÃO DE CONHECIMENTO.
EXTENSÃO DOS EFEITOS DO DECISÓRIO EXECUTIVO AOS DEMAIS
LITISCONSORTES ATIVOS. POSSIBILIDADE. ART. 509 DO CPC.
- O julgado que se pretende estender aos demais litisconsortes ativos se
refere à fase de execução do julgado. Dessa forma, não há como se
entender que se trata de litisconsórcio simples, pois, no caso dos autos, a
relação jurídica que une as partes é marcada pela indivisibilidade,
porquanto já definida a situação de cada servidor na ação de
conhecimento. Apenas tentam os ora embargados, de forma unitária, se
fazerem valer dos efeitos da decisão tomada na fase executiva.
- A jurisprudência desta Corte está firmada no sentido de que a formação
de litisconsórcio unitário conduz à aplicação da regra prevista no art. 509
do CPC.
Embargos declaratórios recebidos como agravo regimental, ao qual se
nega provimento.
(EDcl nos EDcl no REsp 519.340/SP, Sexta Turma, Rel. Min. MARILZA
MAYNARD - Desembargadora convocada do TJ/SE -, DJe de 27/6/2014)

"PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DE IVO JOSÉ


DA SILVA. RECURSO DO LITISCONSORTE QUE NÃO APROVEITA AO
OUTRO RECORRENTE. NÃO CARACTERIZAÇÃO DE LITISCONSÓRCIO
UNITÁRIO. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. VÍCIOS INEXISTENTES.
1. Ivo José da Silva, a pretexto de apontar omissão e contradição,
sustenta: (i) a tempestividade do agravo regimental interposto por Nadir
da Costa Pereira, uma vez que o prazo é contado em dobro, em razão das
partes recorrentes possuírem diferentes procuradores, em atenção ao art.
191 do CPC; (ii) a ocorrência da impugnação específica dos
fundamentos da decisão agravada; (iii) o afastamento da aplicação da
Súmula 182/STJ.
2. Como explica o Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, no REsp
827.935/DF, Rel., PRIMEIRA TURMA, DJe 27/08/2008, "a possibilidade
do recurso interposto por um litisconsorte aproveitar aos demais não
decorre da necessariedade do litisconsórcio, e sim da sua unidade. É que
a norma que prevê tal possibilidade, inserta no art. 509, caput, do CPC,
incide apenas na hipótese de litisconsórcio unitário. Aos demais, aplica-se
o princípio da autonomia dos litisconsortes, previsto no art. 48 do CPC".
3. Para saber se o embargante pode sustentar a tempestividade do
agravo regimental interposto por Nadir da Costa Pereira, resta verificar
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se os agentes atuam em litisconsórcio simples ou unitário, para fins de
aplicação da regra geral do art. 48 do CPC ou da norma inserta no art.
509, caput, do CPC. Ora, se cada um teve uma conduta apurada
individualmente, a eventual procedência do pedido não importaria
necessariamente em decisão uniforme para os litisconsortes, sendo
possível que fosse afastada a responsabilidade de um, e não de outro,
podendo ser diferente, portanto, o tratamento dado a cada um dos
litisconsortes pela decisão. Tanto é que cada um foi condenado por atos
de improbidade diferentes, conforme se verifica na sentença (fls.
1045/1056). Dessa forma, por não ser hipótese de litisconsórcio
unitário, o recurso interposto por um dos litigantes não aproveita aos
demais, o que retira do ora embargante a possibilidade de se alegar a
tempestividade do agravo regimental interposto por Nadir da Costa
Pereira.
4. Esta Corte Superior posicionou-se de forma clara, adequada e
suficiente acerca da aplicação da Súmula n. 182/STJ, uma vez que a
parte agravante não combateu todos os motivos que ensejaram a
negativa de seguimento ao recurso especial (decisão agravada): a
simples afirmação de que o especial não requer análise de fatos e provas
revela combate genérico, e não específico, porque compete à parte
agravante demonstrar de que forma a violação aos artigos suscitada nas
razões recursais não depende de reanálise do conjunto fático-probatório
- deixando claro, por exemplo, que todos os fatos estão devidamente
consignados no acórdão recorrido.
5. Por meio dos aclaratórios, é nítida a pretensão da parte embargante
em provocar rejulgamento da causa, situação que, na inexistência das
hipóteses previstas no art. 535 do CPC, não é compatível com o recurso
protocolado.
6. Embargos de declaração rejeitados"
(EDcl no AgRg no AREsp 1.312.294/GO, Segunda Turma, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, DJe de 28/9/2012, grifou-se)

No tocante ao parágrafo único do citado art. 509 do diploma processual civil, doutrina
e jurisprudência têm delineado que, enquanto o caput aplica-se exclusivamente aos casos de
litisconsórcio unitário, o parágrafo único aplica-se à hipótese nele descrita de solidariedade passiva,
ainda que facultativo o litisconsórcio.

A respeito do tema, ensina BARBOSA MOREIRA:

211. Âmbito de incidência do 'caput' - O texto sob exame não vincula


a incidência do art. 509 à índole necessária do litisconsórcio. Repete a
fórmula do art. 816 do Código anterior, sobre cujo alcance eram
sensíveis as vacilações doutrinárias e jurisprudenciais. O diploma de
1939 apresentava, porém, a este propósito, uma vantagem: não
misturava, no capítulo dedicado ao litisconsórcio, a figura do necessário,
a que aludia o art. 88, 1ª parte, com a do unitário, a que dizia respeito o
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art. 90. Daí poder-se construir com maior facilidade, no seu sistema, o
regime especial do litisconsórcio unitário, conjugando-se os dados dos
arts. 90 e 816.
O estatuto de 1973, no art. 47, dá a entender que a obrigatoriedade
de solução uniforme do litígio importa sempre a exigência de demanda
ativa ou passivamente conjunta; em outras palavras, que todo
litisconsórcio unitário é, 'ipso facto', necessário. Essa, contudo, é uma
proposição insustentável, porque divorciada da realidade que a vida nos
põe diante dos olhos. Decerto não se vai pretender que sejam forçados a
litigar juntos os acionistas que queiram fazer anular uma deliberação da
assembleia social, nem os herdeiros que desejem propor ação de
sonegados, nem as pessoas estranhas à sociedade conjugal a quem a lei
civil permita promover em juízo a declaração da nulidade do casamento;
mas é incontestável que, na hipótese de litigarem juntas duas ou mais
dessas pessoas, com igual fundamento, em qualquer dos casos
mencionados a sentença de mérito há de ter, para todas, teor homogêneo,
sendo inconcebível que se julgue procedente o pedido de uma e
improcedente o de outra. Na prática, não se poderá deixar de submeter a
regime especial semelhante litisconsórcio, que é unitário, embora
facultativo, diga o que disser o art. 47.
Por outro lado, há casos em que, apesar de indispensável a
coparticipação de vários sujeitos no mesmo polo do processo, o órgão
judicial fica livre de decidir diversamente, no mérito, a sorte de cada
qual. Já se recordou, a título de exemplo, a ação de usucapião de terras
particulares, na qual são litisconsortes passivos necessários a pessoa em
cujo nome esteja registrado o imóvel usucapiendo e todos os respectivos
confinantes (art. 942), sem que nada impeça o juiz de acolher a
contestação de um (ou de alguns) e repelir as dos demais. A tal
possibilidade, aliás, não se opõe o art. 47, de cujo texto não se infere que
todo litisconsórcio necessário seja só por isso unitário. De tudo isso, uma
única conclusão é lícito tirar: a de que, apesar do infeliz art. 47, subsiste
na própria natureza das coisas a distinção entre necessariedade e
unitariedade do litisconsórcio. Ao litisconsórcio unitário, e somente a ele,
deve aplicar-se o disposto no art. 509, caput, porque a extensão dos
efeitos do recurso aos colitigantes omissos não tem senão uma razão de
ser, que é precisamente a de impedir a quebra da uniformidade na
disciplina da situação litigiosa.
A situação do direito brasileiro encontra paralelo em Portugal. Lá, o
art. 683, n° 1, do Código de Processo Civil, na redação do Dec.-lei n°
329-A, de 12.12.1995, assim dispõe: "O recurso interposto por uma das
partes aproveita aos seus compartes no caso de litisconsórcio
necessário". Todavia, em doutrina aponta-se a impropriedade da
redação e sustenta-se que a norma se aplica exclusivamente ao
litisconsórcio unitário.
212. Incidência nos casos de solidariedade passiva - De acordo com o
parágrafo único, "havendo solidariedade passiva, o recurso interposto
por um devedor aproveitará aos outros, quando as defesas opostas ao
credor lhes forem comuns". A solidariedade, notadamente a passiva, tem
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sido invocada na França como causa de extensão subjetiva dos efeitos
do recurso; não, todavia, porque se estabeleça correlação entre ela e a
necessidade de assegurar a regulamentação homogênea da situação
litigiosa em face dos vários litisconsortes, mas apenas por influência da
ideia, ali ainda em voga, segundo a qual os figurantes na relação
obrigacional solidária são reciprocamente representados uns pelos
outros. Para quem considere, entretanto, que a referida extensão de
eficácia só se justifica na medida em que sirva de expediente idôneo a
preservar o julgamento uniforme da lide, o vínculo da solidariedade não
deve constituir, 'de lege ferenda', razão bastante para tornar eficaz
quanto ao(s) outro(s) o recurso acaso interposto por um único (ou por
alguns) dos litisconsortes.
De fato: a solidariedade, por si, não faz necessariamente impossível,
do ponto de vista prático - que é o relevante para a identificação do
litisconsórcio unitário -, a variedade das soluções que se deem ao litígio,
no tocante às partes coligadas. Em processo onde sejam corréus A e B,
devedores solidários, a sentença que condene A ao pagamento da
prestação pleiteada, e simultaneamente rejeite o pedido em relação a B, é
sentença apta a produzir, para cada qual, todos os normais efeitos
práticos, sem que dificuldade alguma exsurja. Por isso mesmo nega a
doutrina o caráter de unitário ao litisconsórcio formado entre A e B.
Ainda na hipótese do parágrafo único - isto é, na de serem comuns
aos litisconsortes as defesas opostas a credor pelo devedor que recorre -,
a eventual ruptura da uniformidade no julgamento acarretaria simples
contradição lógica, cuja possibilidade não representa circunstância
relevante para o regime do litisconsórcio.
Aliás, se o Código houvesse querido considerá-la tal, deveria, por
amor à coerência, ampliar a muitos outros casos a regra de extensão
subjetiva de eficácia insculpida neste dispositivo. Não obstante, 'legem
habemus': os efeitos do recurso interposto por um dos co devedores
solidários estender-se-ão aos seus litisconsortes, a despeito de não ser
unitário o consórcio, desde que se trate de defesas comuns, sobre as quais
se haja de pronunciar o órgão ad quem.
Do ponto de vista sistemático, a regra tem uma utilidade de que
provavelmente não cogitou o legislador: põe de manifesto que o fenômeno
da extensão subjetiva de eficácia não se restringe ao terreno do
litisconsórcio necessário. Com efeito, não sofre dúvida que o credor pode
demandar exclusivamente, pela dívida toda, um ou alguns dos devedores
solidários - embora o Código, noutro passo bem pouco feliz, tenha
permitido a este(s) "chamar ao processo" os restantes (art. 77, n° IH).
Seja como for, o litisconsórcio entre os vários devedores solidários é
facultativo - o que vem corroborar a nossa afirmação quanto à não
coincidência entre o âmbito da 'necessariedade' e o campo de aplicação
do art. 509.
(Comentários ao Código de Processo Civil, Vol. V: arts. 476 a 565. Rio
de Janeiro: Forense, 2011, pp. 380/383, grifou-se)

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Nesse sentido, citam-se os seguintes precedentes desta Corte de Justiça:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO ESPECIAL. PRESTAÇÃO DE


CONTAS. SEGUNDA FASE. LITISCONSÓRCIO PASSIVO.
SOLIDARIEDADE. RECURSO RECEBIDO NO DUPLO EFEITO. ARTIGO
509, DO CPC. TESES COMUNS. APROVEITAMENTO. EXECUÇÃO
PROVISÓRIA. ARTIGO 521, DO CPC. INADMISSIBILIDADE.
ACOLHIDOS, COM EFEITOS MODIFICATIVOS.
1. Condenados solidariamente ao pagamento do saldo verificado em ação
de prestação de contas, o recurso interposto por um dos réus que veicula
argumentos comuns, a ambos aproveita, nos termos do artigo 509, do
CPC.
2. Recebida, pois, a apelação interposta por um dos litisconsortes no
duplo efeito, não tem espaço a execução provisória, como diz o artigo
521, do CPC.
3. Embargos de declaração acolhidos com a atribuição de efeitos
modificativos.
(EDcl no REsp 635.942/SP, Quarta Turma, Rel. Min. MARIA ISABEL
GALLOTTI, DJe de 9/8/2012)

RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DEVEDORES


SOLIDÁRIOS. DEFESA COMUM. PROVIMENTO DA APELAÇÃO.
EXTENSÃO DOS EFEITOS AO LITISCONSORTE QUE NÃO APELOU.
CABIMENTO. EXTENSÃO SUBJETIVA DA EFICÁCIA DO RECURSO DE
APELAÇÃO. APLICAÇÃO DO ART. 509, PARÁGRAFO ÚNICO, DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.
1. Condenação de duas empresas a pagar, solidariamente, indenização
por danos morais, em face da demora no fornecimento de peças para o
conserto de veículo importado.
2. Provimento da apelação interposta por apenas um dos litisconsortes,
cujo litisconsórcio passivo não é unitário.
3. Extensão dos efeitos da apelação ao litisconsorte que não apelou, em
decorrência da eficácia expansiva subjetiva do recurso.
4. Aplicação da regra do parágrafo único do art. 509 do CPC, incidente
nas hipóteses de solidariedade passiva, embora facultativo o
litisconsórcio.
5. Doutrina e jurisprudência sobre o tema.
6. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
(REsp 1.366.676/RS, Terceira Turma, Rel. Min. PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, DJe de 24/2/2014)

No caso em exame, não é aplicável o caput do art. 509 do CPC, porquanto não está
configurado o litisconsórcio unitário, tendo em vista não haver impossibilidade prática de
cumprimento da obrigação de indenizar por apenas um dos dois devedores solidários. O
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litisconsórcio seria unitário apenas se a relação jurídica de direito material que unisse os réus fosse
marcada pela indivisibilidade, de modo a tornar absolutamente impossível a coexistência de soluções
diversas para os litisconsortes.

É, sim, aplicável à hipótese o parágrafo único do art. 509 do Código de Processo


Civil, na medida em que está caracterizada a solidariedade passiva entre os réus - BANCO
MARKA S/A e MARKA NIKKO ASSET MANAGEMENT S/C LTDA -, com fundamento no
art. 942 do Código Civil e no art. 7º, parágrafo único, do CDC, bem como há comunhão de defesas.
Ambos os réus alegaram em contestação a inexistência de relação de consumo, o pleno
conhecimento do autor acerca dos riscos da aplicação, a inexistência de obrigação de resultado e a
não configuração de responsabilidade civil.

Nesse contexto, tratando-se de devedores solidários e sendo comuns as defesas


apresentadas, é de rigor a aplicação do disposto no art. 509, parágrafo único, do Código de Processo
Civil, estendendo-se ao litisconsorte passivo que não recorreu - BANCO MARKA S/A - os efeitos
do recurso especial interposto por e MARKA NIKKO ASSET MANAGEMENT S/C LTDA.

Diante do exposto, os embargos declaratórios merecem acolhimento, com a extensão


à parte ora embargante dos efeitos do acórdão de fls. 1.095/1.109.

É como voto.

Documento: 1469507 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/12/2015 Página 12 de 4
Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

EDcl no
Número Registro: 2005/0119523-6 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 799.241 / RJ

Números Origem: 122842003 200300112284 200313405391 200313512573


200401236977 200413705330 990010283081

EM MESA JULGADO: 24/11/2015

Relator
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. MARIA HILDA MARSIAJ PINTO
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : MARKA NIKKO ASSET MANAGEMENT S/C LTDA
ADVOGADA : KARLA VANESSA M M DE ARAÚJO E OUTRO(S)
RECORRIDO : EDUARD LEAL CLAASSEN
ADVOGADO : FLÁVIA BURJATO FERREIRA E OUTRO
INTERES. : BANCO MARKA S/A
ADVOGADO : FERNANDO SETEMBRINO MÁRQUEZ DE ALMEIDA

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Responsabilidade Civil

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
EMBARGANTE : BANCO MARKA S/A
ADVOGADO : FERNANDO SETEMBRINO MÁRQUEZ DE ALMEIDA
EMBARGADO : MARKA NIKKO ASSET MANAGEMENT S/C LTDA
ADVOGADA : KARLA VANESSA M M DE ARAÚJO E OUTRO(S)
EMBARGADO : EDUARD LEAL CLAASSEN
ADVOGADO : FLÁVIA BURJATO FERREIRA E OUTRO

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Quarta Turma, por unanimidade, acolheu os embargos de declaração, nos termos do
voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Maria Isabel Gallotti (Presidente), Antonio Carlos Ferreira, Marco
Buzzi e Luis Felipe Salomão votaram com o Sr. Ministro Relator.

Documento: 1469507 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/12/2015 Página 13 de 4

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