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Equipe Editorial

Editora Científica
Profª Me. Eng. Civ. Gabriela Mazureki Campos Bahniuk

Comitê Editorial
Prof.º Dr. Eng. Agr. Amarildo Pasini (conselheiro UEL)
Prof.º Dr. Eng. Civ. Dante Alves Medeiros Filho (conselheiro UEM)
Profª Me. Eng. Civ. Gabriela Mazureki Campos Bahniuk (ex conselheira, UEPG)
Prof.º Dr. Eng. Civ. Leandro Vanalli (Reitor UEM)
Profª Dra. Eng. Civ. Ligia Eleodora Francovig Rachid (ex conselheira, FAG Cascavel)
Prof.º Me. Eng. Eletric. e Eng. Seg. Trab. Marco Antonio Ferreira Finocchio (conselheiro,
Diretor do Crea-PR, UTFPR Cornélio Procópio)

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tecnico.cientifica@crea-pr.org.br
Conselho Avaliador
Avaliaram artigos nessa edição:

Eng. Civ. Alex Godoy da Silva.


Eng. Eletric. Allan Cesar Felix dos Anjos.
Eng. Amb. Annelise Nairne Schamne.
Prof. M.e Carlos Eduardo Costa, Faculdade Sociesc de Curitiba.
Prof. Dr. Carlos Henrique Zanelato Pantaleão, Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
Geog. Danilo Giampietro Serrano.
Prof. Dr. Edson Roberto Silveira, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Brasil.
Prof. Dr. Eduardo Pereira, Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Prof. M.e Eliseu Avelino Zanella Júnior, Centro Universitário UNIVEL.
Prof. M.e Fernando Felice, Universidade Federal do Paraná; Faculdade Estácio de Curitiba.
Prof. M.e Hugo Sefrian Peinado, Universidade Estadual de Maringá.
Sr. Julio Cesar Filla, Centro Universitário Filadélfia, Brasil.
Prof. Dr. Marcio Mendonça, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Brasil.
Prof. Dr. Miguel Mansur Aisse, Universidade Federal do Paraná.
Prof. Dr. Netúlio Alarcon Fioratti, Instituto Federal De Educação, Ciência e Tecnologia Do
Paraná.
Prof. Me. Vilson Gomes Assunção Júnior, Centro Universitário Filadélfia, Brasil.

Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 3 Edição Especial 3 Fevereiro de 2023


ALGORITMO EM FORTRAN PARA ANÁLISE TERMOMECÂNICA
BASEADO NO MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS

Edivaldo José Silva Junior, UNILA, edivaldo.jsj@gmail.com;

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo apresentar o algoritmo em Fortran capaz de
realizar o acoplamento termomecânico para análise de problemas de transferência de calor
por condução em sólidos bidimensionais empregando o método dos elementos finitos.
Propõe-se o acoplamento do campo de temperatura como condição de carregamento nodal
na análise mecânica a partir da deformação térmica inicial. Para validar o algoritmo, utiliza-se
o programa comercial ANSYS® cuja eficiência é comprovadamente reconhecida na literatura
técnica. Os resultados obtidos a partir da comparação entre o algoritmo de acoplamento e o
programa comercial são satisfatórios, indicando grande aplicabilidade do mesmo. Novos
aprimoramentos estão sendo implementados a fim de considerar a análise transiente e os
fenômenos de transferência como convecção e irradiação para sólidos 2D e 3D.

Palavras-chave: Método dos elementos finitos, acoplamento termomecânico, condução


térmica, sólidos bidimensionais.

FORTRAN ALGORITHM FOR THERMOMECHANICAL ANALYSIS


BASED ON THE FINITE ELEMENT METHOD

Abstract: This work aims to present the algorithm in Fortran capable to perform
thermomechanical coupling analysis of heat transfer problems by conduction in two-
dimensional solids using the finite element method. It is proposed to couple the temperature
field as a nodal loading condition in the mechanical analysis based on the initial thermal
deformation. To validate the algorithm, the commercial program ANSYS® is used. The results
obtained from the comparison between the coupling algorithm and the commercial program
are satisfactory, indicating its great applicability. New enhancements are being implemented
to consider transient analysis and transfer phenomena such as convection and irradiation for
2D and 3D solids.

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Keywords: Finite element method, thermomechanical coupling, thermal conduction, two-
dimensional solids.

1. INTRODUÇÃO
Quando um material é submetido à variação de temperatura apresenta deformações
provenientes do surgimento de esforços internos. Tais esforços podem causar importantes
impactos no estado de tensão, resultado no surgimento de trincas, fissuras e podendo até,
causar o colapso da estrutura. Por isso, um estudo aprofundado do comportamento térmico
deve ser considerado nos projetos de estruturas da construção civil como aço, concreto,
concreto armado e protendido (ZHU BUFANG, 2004).

1.1. EQUAÇÃO QUE DESCREVE O PROBLEMA DA TRANSFERÊNCIA DE CALOR


Segundo INCROPERA (1998), o calor é definido como a forma de energia que se transfere
de um sistema para outro devido a diferença de temperatura entre eles. Quando existe um
gradiente de temperatura estacionário, ou seja, sem variações no tempo, em um meio sólido
ou fluído, considera-se a condução para se referir à transferência de calor. A equação da taxa
de transferência de calor é conhecida como a Lei de Fourier. Considerando um material
isotrópico e homogêneo, após realizar simplificações, a equação governante da transferência
de calor em um meio bidimensional pode ser escrita conforme a Equação 1.

Equação 1

Sendo k o coeficiente de condutividade térmica, Q a fonte de calor e T a temperatura.

1.2. EQUAÇÃO d O COMPORTAMENTO MECÂNICO ELÁSTICO DO SÓLIDO


A tensão e a deformação são relacionadas através da equação constitutiva, apresentada na
Equação 2. A forma mais simples da equação constitutiva é a da elasticidade linear, que é
uma generalização da Lei de Hooke.
Equação 2

Sendo à a tensão, C a constante elástica e ÷ a deformação.

Se o material for isotrópico, as propriedades são simétricas em relação aos três planos. Nesse
caso, são necessárias apenas duas constantes independentes para definir as equações

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fundamentais da elasticidade. Essas constantes são o Módulo de Young (E) e o coeficiente
de Poisson (Ç).

1.3. DEFORMAÇÕES EM SÓLIDOS DEVIDO A VARIAÇÃO DE TEMPERATURA


De acordo com LOGAN (2006), quando não há carregamento em um corpo, este também não
apresenta deformações. No entanto, há uma situação onde ocorre deformações que devem
ser consideradas. A situação mais comum é causada pela deformação devido a variação
térmica.
O aumento da temperatura (&T) resulta em uma deformação que depende do coeficiente
térmico de expansão (³) do material.
A mudança de temperatura não causa tensões cisalhantes. Assim, o vetor de deformação
inicial devido a variação de temperatura pode ser escrito conforme a Equação 3.

Equação 3

Sendo 0 a deformação inicial do material devido a variação de temperatura, ³ o coeficiente de


dilatação térmica, &T a variação de temperatura, xy, yz, zx são as tensões cisalhantes.

1.4. ELEMENTO FINITO TRIANGULAR DE TRÊS NÓS


De acordo com ASGHAR (2005), um elemento triangular é simples e versátil para a resolução
de problemas bidimensionais. Quase todas as formas podem ser discretizadas utilizando esse
tipo de elemento. Na Figura 1 é apresentado um elemento triangular com graus de liberdade
para a resolução do problema térmico-estrutural. Cada nó possui um grau de liberdade de
temperatura e dois graus de liberdade de deslocamento (x e y).
Figura 1 3 Elemento Triangular de Três Nós

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1.5. MEF (Método dos Elementos Finitos) NA RESOLUÇÃO DO CAMPO DE
TEMPERATURA 2D
No caso do problema de campo de temperatura, cada nó possui um grau de liberdade, a
temperatura. Considerando uma temperatura de borda como condição de contorno e que o
modelo não possui fonte de calor, a equação do elemento, assume a forma apresentada na
Equação 4.
Equação 4

Sendo T o vetor de temperatura nodal e kk a matriz de condução de calor (rigidez), ilustrada


na Equação 5.
Equação 5

Sendo B a matriz de transformação e C é a matriz constituinte.

Considerando um elemento triangular de três nós, a matriz de rigidez fica conforme a Eq.6.

Equação 6

Sendo A a área do elemento, b1, b2 e b3 variáveis relacionadas com as coordenadas nodais


do elemento, kx e ky são os coeficientes de condutividade térmica do material na direção X e
Y, respectivamente.

1.6. MEF NA RESOLUÇÃO DO ACOPLAMENTO TÉRMO-MECÂNICO


A formulação das equações do elemento finito para o problema Térmo-Mecânico,
considerando somente a deformação inicial devido a variação de temperatura é apresentado
na Equação 7.
Equação 7

Sendo k a matriz de rigidez, apresentada na Eq.8.

Equação 8

e B a matriz de transformação e C é a matriz constitutiva considerando o estado plano de


deformação, apresentadas na Equação 9.

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Equação 9

O acoplamento entre o problema térmico e o mecânico foi baseado na Eq.7.


Declara-se um valor de temperatura ambiente padrão (T padrão), no qual o material não
apresenta deformações térmicas. Em seguida, subtrai-se a temperatura padrão das
temperaturas nodais resultante do problema térmico. O resultado é um vetor com a variação
de temperatura nodal (&T), conforme a Equação 10
Equação 10

Em seguida, multiplica-se o vetor &T pelo coeficiente de dilatação térmica do material (³) para
se obter a deformação inicial devido a variação de temperatura, conforme a Equação 11.

Equação 11

Sendo o vetor de deformação térmica e ³, o coeficiente de dilatação térmica.

Finalmente, é possível deduzir a força sentida pela estrutura devido a deformação térmica.
No caso do MEF, o vetor de forças nodais do elemento deduzido a partir da variação de
temperatura é apresentado na Equação 12.
Equação 12

Sendo r o vetor de forças nodais, h a espessura do elemento, B a matriz de transformação, C


a matriz constitutiva da elasticidade, 0 a deformação e h a espessura unitária do elemento.

2. METODOLOGIA
O algoritmo, apresentado no trabalho de Silva Junior (2018), foi desenvolvido na linguagem
de programação FORTRAN 95 utilizando o compilador CODEBLOCKS, uma plataforma de
programação open source. Para exibição gráfica dos resultados foi utilizado o Programa

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GNUPLOT, um pacote de múltiplas plataformas gráficas que funciona por meio de linhas de
comando. A metodologia foi dividida em três etapas: pré-processamento, processamento e
pós-processamento.

Pré-Processamento.
Nessa etapa, define-se o domínio geométrico, as condições de contorno e a malha do modelo.
Posteriormente, todas essas informações são compiladas em um arquivo .txt de entrada.

Processamento
No processamento, o algoritmo lê o arquivo de entrada e aloca as variáveis. Em seguida,
processa-se o problema térmico. O vetor de temperaturas nodais, resultados do problema
térmico é aplicado automaticamente no vetor de carregamento nodal do problema mecânico.
No final do processamento o algoritmo escreve um arquivo .txt de saída, constituído por uma
matriz onde cada elemento matricial representa o valor do domínio 2D do modelo. Na Figura 2
é apresentado o diagrama esquemático geral do algoritmo.

Figura 2. Diagrama Esquemático geral do algoritmo

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Pós-Processamento
Finalmente, o arquivo .txt de saída é lido pelo programa Gnuplot onde cada valor matriz é
convertido em uma cor de acordo com a configuração. Normalmente, utiliza-se a cor azul para
representar valores baixos e a cor vermelha para valores altos. Na Figura 3 é ilustrado o
procedimento para se obter os campos de resultados.

Figura 3. Conversão dos valores da matriz de resultado do domínio 2D em escalas de cores

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Validação do Algoritmo
Para validar o algoritmo, inicialmente, calibrou-se o código aplicando vários exercícios
resolvidos e comparando os resultados.
Um dos problemas de validação do algoritmo foi a análise térmica estrutural de uma placa de
aço e alumínio, ilustrada na Figura 4. Devido a dupla simetria, é possível simplificar o
problema.

Figura 4. Placa de alumínio e aço submetida à variação de temperatura e malha simplificada

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Nesse caso, considerou-se uma variação de temperatura uniforme em todo o domínio de
70 ºC. As propriedades dos materiais são apresentadas na

Tabela 1. Propriedades dos materiais do problema de validação


Material Aço Alumínio
Módulo de Elasticidade (E) [GPa] 200 70
Coeficiente de Poisson (v) 0.3 0.33
Coeficiente de Dilatação térmica [/ºC] 12x10-6 23x10-6

Inicialmente a chapa não possui restrição ao movimento. Porém, no modelo simplificado, com
um quarto do domínio, deve-se considerar condições de contorno para representar o
comportamento real. Na Figura 5 são apresentadas as condições essenciais de contorno do
problema. A letra u representa o descolamento horizontal e v o deslocamento vertical.

Figura 5. Condições de restrição ao movimento

Os resultados disponíveis na literatura bem como os resultados do algoritmo são


apresentados na Figura 6.

Figura 6. Comparação dos resultados de deslocamentos nodais do problema de validação

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Comparação de resultados entre o algoritmo e o software comercial
Após a validação do algoritmo, realizou-se a análise termomecânica de uma placa submetida
a diferentes temperaturas e engastada em um dos vértices, ilustrado na Figura 7. A mesma
análise utilizando o programa Ansys®17.2 foi realizada para verificação da convergência do
resultado.

Figura 7. Placa engastada submetida a diferentes temperaturas nas bordas

Os resultados são apresentados nas Figura 8 a Figura 13.


Figura 8. Campo de Temperatura (Algoritmo) Figura 9. Campo de Temperatura (Ansys®)

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Figura 10. Campo de Deslocamento Vertical. Figura 11. Campo de Deslocamento Vertical.
(Algoritmo) (Ansys®)

Figura 12. Campo de Deslocamento Horizontal. Figura 13. Campo de Deslocamento


(Algoritmo) Horizontal. (Ansys®)

4. CONCLUSÕES
Como primeira conclusão, pode-se notar a concordância entre os resultados obtidos pelo
algoritmo desenvolvido e o programa Ansys®.
Em relação à análise térmica, a maior diferença de temperatura entre os resultados do
algoritmo e do Ansys® foi de 0,5 ºC. Considerando o comportamento mecânico, os modelos
apresentaram um comportamento fisicamente coerente. Embora o algoritmo tenha sido
validado, o algoritmo é capaz de simular apenas o regime estacionário de transferência de
calor, podendo representar muito bem os materiais metálicos, que apresentam alta
condutividade térmica. Já para os materiais cerâmicos ou cimentícios apresentam baixa
condutividade térmica e consequentemente, alta inércia térmica. Sendo necessário a
realização de uma análise térmica transiente. Dessa forma, a próxima versão do algoritmo
apresentará a possibilidade de simulação termomecânica transiente.

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REFERÊNCIAS
ASGHAR, B. M. Fundamental Finite Element Analysis and Applications. Hoboken:John Wiley
& Sons. 2005.

Silva Junior, E. J. Análise Térmo-Mecânica 2d da Barragem de Contraforte da Itaipu Pelo


Método dos Elementos Finitos em Fortran. Universidade Federal da Integração Latino-
Americana. 2018.

INCROPERA, FRANK P.; DEWITT, DAVID P. Fundamentos de Transferência de Calor e


Massa. 4a Edição. LTC Editora. 1998.

LOGAN, D. L. A First Course in the Finite Element Method. Ed. CL-Engineering, 4th edition,
2006.

ZHU BUFANG. Thermal Stresses and Temperature Control of Mass Concrete. Elsevier. First
Edition. China Institute of Water Resources and Hydropower Research and Chinese Academy
of Engineering. 2004.

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INVENTÁRIO DO CICLO DE VIDA DE AGREGADOS PRODUZIDOS A
PARTIR DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO
LIFE CYCLE INVENTORY OF AGGREGATES PRODUCED FROM
CONSTRUCTION AND DEMOLITION WASTE
Candida Fachinetto Paz1, Edna Possan2, Katia Regina Garcia Punhagui3
1
MSc. Arq., PPGTamb | UTFPR, Medianeira, PR, candyfpaz@gmail.com
2
Dra, Eng. Civil, Professora PPGECI | UNILA, Foz do Iguaçu, PR epossan@gmail.com
3
Dra, Arq., Professora PPGECI | UNILA, Foz do Iguaçu, PR katia.punhagui@unila.edu.br

RESUMO
Este estudo tem por objetivo identificar os indicadores ambientais potenciais do processo de
produção do agregado reciclado (AR) a partir de resíduo de construção e demolição (RCD).
O método utilizado foi o Inventário do Ciclo de Vida (ICV) avaliando o consumo energético,
consumo de água, as emissões de CO2 e a produção de resíduos no processo de fabricação
dos AR de RCD. O limite do sistema aplicado foi do <portão ao portão= de uma unidade de
beneficiamento de RCD na região de Cascavel, Paraná e a unidade funcional adotada foi 1
m3 de agregado reciclado seco. Para a produção de 1 m3 de AR, os resultados indicaram a
demanda de 1,01 a 1,67 m3 de matéria-prima (RCD), energia incorporada de 2,22 a
4,35 MJ/m3, água incorporada de 15,38 a 30,30 L/m³ e emissões de 5,07 a 6,20 kgCO2/m3. O
estudo desenvolvido é de relevância no contexto da economia circular, corroborando para o
fechamento do ciclo de vida dos materiais utilizados no setor da construção civil por meio da
identificação dos impactos resultantes do processo de reciclagem do RCD para a produção
de agregados e sua aplicação na construção civil.
Palavras-chave: ACV, fluxo de massa, resíduos de construção civil, agregado reciclado,
impactos ambientais.

ABSTRACT
The objective of this study was to identify the potential environmental indicators within the
production process of recycled aggregate from construction and demolition waste (CDW). The
method used Life Cycle Inventory (LCI) being developed to study energy consumption, water
consumption, CO2 emissions, and waste production in the manufacturing process of recycled
aggregates (RA) from CDW. The system limit applied was from the <gate to the gate= of a CDW
processing unit in the region of Cascavel, Paraná and the functional unit adopted was 1 m3 of
dry recycled aggregate. As a result, for producing 1 m3 of RA, the input of raw material (CDW)
varied from 1.01 to 1.67 m3. As an output, there is a variation of energy incorporated from 2.22
to 4.35 MJ/m3, water incorporated from 15.38 to 30.30 L/m³ and for CO2 emissions, the
variation within the beneficiation unit was from 5.07 to 6.20 kgCO2/m3. The study developed is
relevant in the context of the circular economy, corroborating the closure of the life cycle of
materials used in the civil construction sector and identifying the impacts of the CDW recycling
process to produce aggregates and its application in construction.
Keywords: LCA, mass flow, construction waste, recycled aggregate, environmental impacts.

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1. INTRODUÇÃO

Estima-se que o consumo de agregados minerais utilizados pela construção civil brasileira
soma entre 3,6 a 7 t/hab/ano (AGOPYAN, JOHN, 2011; ANEPAC, 2019). Em convergência
com os princípios da econômica circular, essa demanda por agregados naturais pode ser
parcialmente suprimida por agregados reciclados de resíduos de construção e demolição
(RCD) visto que, dados apresentados pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza
Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE, 2017) registraram a geração média de 0,22
t/hab/ano de RCD em 2017, o que equivale a 45 milhões de toneladas/ano.
Consequentemente, se todo o resíduo gerado no Brasil fosse reciclado, o índice de
substituição de agregado natural por reciclado seria de aproximadamente 10%. No entanto,
dados do SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (BRASIL, 2017)
indicam que 43,70% do RCD coletado foi reciclado (esse valor é referente ao RCD coletado
em 2016 e não ao total gerado no país).
Países da União Europeia possuem um percentual de reciclagem com variação entre
10% e 90% (European Commission, 2011). Dados da França indicam 45% de reciclagem em
2011 (CALVO et al., 2014). Na Alemanha este valor é superior a 80% (BRAVO et al., 2015).
A Áustria atingiu a reciclagem de 87% da geração total dos RCD até 2013 (DELOITTE, 2015).
Na Austrália 43% dos RCD foram recuperados por meio de reciclagem e reaproveitamento
em 2016 e 2017 (PICKIN et al., 2018). O Canadá apresentou o equivalente a 7% de
recuperação em 2016 (STATISTICS CANADA, 2016).
Uma das alternativas de gerenciamento adequado e a minimização dos impactos
associados aos resíduos de construção e demolição é a reciclagem (ROSADO et al., 2019;
WU et al., 2019). Torgal e Jalali (2009) consideram que a redução na deposição de resíduos
em aterros bem como, da extração de matéria-prima e do consumo de energia elétrica são os
maiores benefícios obtidos a partir do processo de reciclagem para a produção de agregados
a partir de RCD, enfatizando que este é um dos caminhos para tornar a indústria da
construção mais sustentável.
A partir do final da década de 1960, a preocupação sobre o uso sustentável do planeta
e de seus recursos teve uma repercussão mundial e, desde então diversas iniciativas globais
foram propostas (UN,1992). Com o desafio de reduzir os impactos ambientais recorrentes das
atividades, o segmento da construção passou a integrar os relatórios e metas que visam o
desenvolvimento sustentável mundial proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU)
desde 1992 com a Agenda 21 e fazem parte das metas definidas pela Agenda 2030, nos
Objetivos de desenvolvimento sustentável, ODS 11 - Tornar as cidades e os assentamentos
humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis e ODS 12 - Assegurar padrões de
produção e de consumo sustentáveis (UN, 2015).
John e Ângulo (2003) propõem que o impacto da reciclagem é menor quando
comparado ao montante da logística tradicional do resíduo, contribuindo para a redução do
impacto ambiental mundial, sendo necessário conhecer os impactos ambientais associados.
Para tal, ferramentas de gestão ambiental como a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) em
sincronia com os produtos e processos produtivos são relevantes já que a busca por opções
potencialmente sustentáveis passa a ser vista como necessária. Segundo Dias et al (2022)
esses estudos ainda são escassos, carecendo de mais pesquisas nesta direção.
A metodologia de Avaliação do Ciclo de Vida, conhecida internacionalmente por meio
das normas ISO 14040 e 14044 (ABNT, 2009a; 2009b) permite identificar, quantificar e
analisar os potenciais impactos ambientais ao longo do ciclo de vida de um processo ou
produto por meio da análise dos fluxos de entradas de insumos e energia e saídas,
apresentando resultados pontuais, claros e objetivos (BAILES, et al., 2012; BUYLE, BRAET,
AUDENAERT, 2013; PATOUILLARD et al., 2017; SILVA et al., 2019).

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Desse modo, a ACV facilita o aprimoramento das etapas do processo, a tomada de
decisões e correções pontuais, bem como a seleção dos insumos com qualidade (JOHN et al.,
2011; IBICT, 2018). Pode ter diversas fronteiras de estudo, as quais podem ser definidas como
do berço ao berço, berço ao túmulo, a depender do objetivo/escopo e limitações do estudo.
Diante do exposto e, considerando os impactos ambientais provocados durante o ciclo
de vida do RCD, o objetivo desta pesquisa foi estimar os insumos, a energia incorporada, as
emissões de CO2, o consumo de água e a geração de resíduos do processo de produção do
agregado reciclado de resíduos de construção e demolição.

2. MÉTODO
A metodologia de Avaliação do Ciclo de Vida 3 ACV, conforme norma ISO 14040
(2009) é composta por quatro partes, iniciando pela fase do objetivo e escopo, análise do
inventário seguido pela avaliação dos impactos e concluindo com a interpretação. Para esta
pesquisa optou-se por aplicar o método de forma simplificada por meio da elaboração das
estapas detalhadas na tabela 1.

Tabela 1 3 Fases da ICV utilizadas na presente pesquisa


Fases Especificidade Detalhamento
Estimar indicadores de energia, água, resíduos e emissão
de CO2 do ciclo de vida do agregado reciclado a partir de
Objetivo
- RCD com o intuito de identificar os potenciais impactos
do ICV
ambientais em uma unidade de beneficiamento de
Cascavel, Paraná.
Produção do agregado reciclado a partir do RCD <Classe A=,
Sistema de produto
conforme resolução CONAMA 307/2002 (BRASIL, 2002).
Unidade funcional Metro cúbico de produto seco
Fronteiras do sistema Portão ao portão
Procedimentos de
Não se aplica ao produto
alocação
Categoria do impacto,
ICV - Inventário do Ciclo de Vida e a identificação dos pontos
metodologia para
significativos do processo de beneficiamento do RCD
Escopo avaliação e interpretação
Dados primários de entrada e saída medidos
Requisitos e qualidade
individualmente referentes a 12 meses de produção em
dos dados
unidade de processamento de RCD em Cascavel, PR
Pressupostos Indicadores de emissões de CO2, consumo de água, energia
Carência de dados secundários e água incorporada ao
Limitações
produto.
Revisão crítica Não se aplica
Tipo e formato do Relatório constará os dados, métodos e pressupostos,
relatório assim como as limitações
Dados do processo dentro da fronteira do estudo de
Coleta de dados entradas de energia, matéria-prima, produtos, resíduos,
emissões atmosféricas e outros aspectos ambientais.
ICV
Procedimento de cálculo, incluindo a validação dos dados
Cálculo com os dados coletados, correlação de dados ao processo, à unidade
funcional e aos fluxos de referência.
Fonte: Paz (2020)

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A fim de caracterizar neste processo os indicadores dos impactos ambientais
potenciais, junto a uma emrpesa de beneficiamento de RCD, fez-se a coleta dos dados
primários necessários à pesquisa para o escopo do <portão ao portão= (Figura 1) em que foi
considerado o consumo de energia, água, a geração de resíduos e as emissão de CO2.

Figura 1 - Fluxograma da fronteira do estudo do processo de produção de AR de RCD

Fonte: autoria própria, 2023.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir dos dados coletados, tem-se na figura 2, a matéria-prima (RCD) recebida pela unidade
de processamento (entrada ou <input=), a produção de agregado reciclado (saída ou <output=)
e os indicadores de consumo mensal de água, energia e óleo diesel. O mês com maior
recebimento de RCD (3.014 m³) obteve a produção de AR de 1.950 m³, quando a maior
produção mensal foi 2.090 m³, assim como o consumo de água foi o mais baixo dentro do
período de estudo, com 15,38 L/m³, a energia consumida foi a mais alta com 3,12MJ/m³ e o
consumo de óleo diesel chegou a 2,26 L/m³ (média 2,13 L/m³).

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Figura 2 3 Principais Indicadores da unidade de processamento de RCD em estudo

Fonte: autoria própria, 2023.

Aplicando a correlação de Pearson observa-se que, não há correlação linear


significativa dentro de 12 meses entre a linha de produção do AR e os indicadores de água
(R2 = 0,01), energia (R2 = 0,02) e óleo diesel (R2 = 0,09). Este fato pode estar relacionado com
a comercialização do AR, já que o mesmo é geralmente produzido por bateladas quando
existe demanda de comercialição. Destaca-se que o RCD, que é considerado a matéria-prima
do processo de produção, é recebido diariamente e demanda triagem e disposição adequada.
O setor administrativo e os funcionários desempenham funções regularmente, mesmo
em períodos em que não há produção. Com isso, em períodos chuvosos e sem produção,
ainda há consumo de água, energia e óleo diesel. Estes consumos foram considerados nos
cálculos para análise de energia e água ircorporados ao produto final (agregados reciclados
de RCD).
Para os indicadores de consumo (tabela 2) observa-se que o consumo de água é o
que possui maior variação mensal (30.000 L a 50.000 L). Essa variação pode estar atrelada
a questões de intemperismos, o que implica na necessidade ou não do acionamento dos
aspersores de água para controle de materiais particulados no processo produtivo.

Tabela 2 - Indicadores da unidade de processamento de RCD em estudo

Unidade Indicadores referentes a um ano de produção


Indicador
de medida Máximo Mínimo Mediana
Matéria-prima (RCD) m³ 3.014 1.924 2.336
Produto (AR de RCD) m³ 2.090 1.600 1.845
Consumo de água Litro 50.000 30.000 40.000
Consumo de energia elétrica MJ 1.691 484 1.117
Consumo de óleo diesel Litro 4.400 3.200 3.975
Fonte: autoria própria, 2023.

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De modo geral, a sazonalidade de geração do RCD tem relação com o perfil da
construção civil no município e a produção do agregado reciclado pode ser atribuída à
demanda deste produto, no entanto, é possível verificar que, em sua maioria, é constante com
pequenas variações dentro do período analisado.
A falta de padronização durante a separação do RCD nos canteiros de obras, origina
em matéria-prima de má qualidade para a unidade de processamento, assim como o clima da
região com períodos de chuvas prolongados podem provocar variações maiores entre o
recebimento do RCD e a produção do agregado reciclado.Também há que se considerar a
variação volumétrica dos materais. Enquanto o RCD possui a massa unitária de 1.200 Kg/m3,
o agregado de varia entre 1.030 a 1.250 Kg/m3 - conforme laudo de ensaio realizado em 2015
e fornecido pela empresa. Isso ocorre porque o resíduo antes de ser processado possui um
volume ligeiramente maior que após o processamento.

3.1 Resíduos de construção e demolição


Devido a ações de conscientização e cobrança monetária para a separação de resíduos não
passíveis de transformação em agregado, o RCD recebido pela empresa em estudo tem um
percentual pequeno de resíduos de outras classes (0,15 a 0,32%), sendo composto
maiormente (99,68 a 99,84%) por resíduo <Classe A=. Em média por mês são recebidos de
1.932 a 3.020 m³/mês de resíduo com condições de reciclabilidade (Classe A). A empresa
informou que os resíduos <classe B= (média de 0,23%) são vendidos para outras
empresas/cooperativas de reciclagem, uma vez que a mesma só processa resíduos <Classe
A=. Assim, por meio dos dados apresentados, calculou-se o fluxo de massa mensal (figura 3)
e anual (figura 4) do sistema de produção. Foi possível observar que existe uma produção de
agregados reciclados variável ao longo de 12 meses, a qual é fortemente depende da entrada
de matéria-prima (RDC) para processamento na planta.

Figura 3 - Balanço de massa mensal do processo de produção de AR para o período de 12 meses.


3.500
RCD recebido AR de RCD Fluxo de massa
3.000

2.500

2.000

1.500

1.000

500

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
RCD recebido 1.924 2.216 2.110 2.135 2.461 2.245 2.836 3.014 2.990 2.586 2.061 2.426
AR de RCD 1.650 1.900 2.090 1.650 2.010 1.600 1.700 1.950 2.020 1.790 1.720 1.920
Fluxo de massa 274 316 20 485 451 645 1.136 1.064 970 796 341 506

Fonte: autoria própria, 2023.

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Figura 4 - Fluxo anual do processamento do RCD para a produção do AR.

Fonte: autoria própria, 2023.

Conforme detalhado na figura 4, para produzir cerca de 22.000 m³ de AR são


necessários aproximadamente 29.005 m³ de RCD. Durante a segregação desta matéria-prima
houve a remoção de 0,28% (81,05 m³) de resíduos de outras classes. Em termos de média
anual, evidencia-se que para 1 m³ de AR produzido, 26% equivale a areia, 25,5% à produção
de pedrisco e 25,5% de brita I, 16% de bica corrida e 7% de rachão.

3.2 Consumo de Energia


A figura 5 apresenta a variação de energia incorporada para a produção de agregados
reciclados de RCD. Não foram consideradas as perdas de potencial energético do
combustível, assim como para a energia elétrica não se considerou as perdas na distribuição,
ou seja, a energia incorporada estimada foi direta e não acumulada.

Figura 5 - Indicador de energia incorporada MJ/m3 na produção de AR

2500 5,00
4,50
2000 4,00
3,50
1500 3,00
MJ/M³

2,50
1000 2,00
1,50
500 1,00
0,50
0 0,00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
AR produzido 16501900 20901650 2010 16001700 19502020 1790 17201920
Óleo diesel MJ/m³ 1,16 1,21 1,04 1,21 1,04 1,09 1,27 1,23 1,11 1,22 1,21 1,17
Energia elétrica MJ/m³ 1,53 2,08 1,30 1,99 2,82 2,81 2,41 3,12 2,23 2,49 1,01 2,03
Energia incorporada MJ/m³ 2,69 3,29 2,35 3,20 3,86 3,90 3,68 4,35 3,34 3,71 2,22 3,19
MÊS

Fonte: autoria própria, 2023.

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O consumo de energia elétrica é, consideravelmente, superior ao consumo de óleo
diesel dentro da unidade de processamento. A variação de energia elétrica em 12 meses é
58,54% enquanto o consumo de óleo diesel não possui variação considerável. No mês de
março de 2018 a produção atingiu 2.090 m³ com baixo consumo de energia elétrica (1,30
MJ/m³) e diesel (0,68 MJ/m3). Já em agosto de 2018 (mês 8), a produção foi menor, chegando
em 1.950 m³ de agregado reciclado e, o consumo de energia elétrica teve um aumento para
3,12 MJ/m³. No entanto, o diesel teve uma pequena variação para 0,80 MJ/m³.

3.3 Emissão de CO2 dentro da unidade de beneficiamento


Para a emissão de CO2, foram obtidos os dados apresentados na figura 6 em que indicam
que, o montante do consumo de energia e de óleo diesel na unidade de beneficiamento por
meio de maquinários, retroescavadeira bem como os caminhões, varia de 8.681 a 11.934
KgCO2. Entretanto no mês com maior produção de AR (2.090 m3) a emissão foi de 10.763
KgCO2. O mês com maior índice de emissão (11.934 KgCO2) a produção foi de 1.950 m3.

Figura 6 - Emissão de CO2 pela unidade de beneficiamento, em kg.

14000 2500

Produção de agregado reciclado (m³)


Dióxido de carbono gerado (Kg)

12000
2000
10000

1500
8000

6000
1000

4000
500
2000

0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
AR 1650 1900 2090 1650 2010 1600 1700 1950 2020 1790 1720 1920
Emissão de CO¢ 9422,111335 107639845,9103738681,410672 11934 11085 10816 10199 11066
Mês de produção

Fonte: autoria própria, 2023.

3.4 Consumo de água


Os dados sobre a água consumida na unidade de processamento (figura 7) foram
classificados em tipo de fonte e consumo mensal em m3. A empresa informou, dentro do
período de 12 meses (janeiro a dezembro de 2018), o consumo em m3 de água por mês e
que a água 100% é proveniente de poço artesiano. O total de água indicado é referente a toda
a água utilizada na planta industrial (consumo humano, higiene, limpeza e produção de
agregados).

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Figura 7 - Indicador de água/m3 do AR de RCD produzidos pela empresa

Fonte: autoria própria, 2023.

Pode-se observar que alguns meses em que a produção foi similar (mês janeiro e abril
de 2018) a variação no consumo de água foi de 60%. Possivelmente estas diferenças no
consumo, tem relação com fatores climáticos. Períodos com mais incidência de ventos e
menor precipitação, elevam o consumo de água para o controle de particulados. Já no mês
de agosto e dezembro de 2018 a produção foi similar assim como o consumo de água. O
estudo desconsiderou a água incorporada ao material depositado a céu aberto.

3.5 Resumo do ICV


Com base nos resultados apresentados, tem-se para o processo produtivo em análise os
indicadores ambientais apresentados (tabela 3) referentes à produção de 1 m³ de agregado
reciclado de RCD produzido em um período de 12 meses. Consideraram-se os mesmos
indicadores para todos os agregados reciclados de RCD sendo que, a emissão média de
CO2 foi de aproximadamente 5,8 KgCO2/m3 e a energia incorporada variou de 2,22 a 4,35
MJ/m3. O resíduo considerado como indicador, neste caso, foi referente ao material que
entrou na unidade, mas sem condições de ser processado (outras classes) totalizando em
média 6,60m3/m3.

Tabela 3 3 Indicadores ambientais por m3 seco de AR referentes à 12 meses de produção


Indicador Mínimo Máximo Mediana
Emissão de CO2 5,07 6,20 5,8
3
(kgCO /m
Energia )
Incorporada 2,22 4,35 3,31
(MJ/m³)
Água incorporada L/m3 15,38 30,30 20,48
³

Resíduo m3/m3 4,05 9,73 6,60


* Fator de conversão de m3 para tonelada - multiplica-se o valor por 1,118.
Fonte: autoria própria, 2023.

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Conforme apresentado na figura 8, tanto a entrada ou <input= quanto a saída ou
<output=, os indicadores de consumo variam de acordo com a quantidade produzida de
agregado, ou seja, o rachão tem 0,23 MJ/m³ (0,27 MJ/t) de energia incorporada ao produto e
1,53 L/m³ (1,70 L/t) de água incorporada. Já o pedrisco, com maior produção, tem 0,84 MJ/m³
(0,94 MJ/t) de energia e 5,30 L/m³ (5,93 L/t) de água.

Figura 8 - Diagrama com as entradas e saídas do processo de produção do AR

Fonte: Paz (2020).

4 CONCLUSÕES

Este estudo teve o objetivo de identificar os indicadores dos impactos ambientais potenciais
em uma unidade de beneficiamento do RCD (Resíduos de Construção e Demolição) para a
produção do agregado reciclado e foram obtidos por meio do ICV (Inventário do Ciclo de Vida),
com base em dados primários referentes a 12 meses de produção fabril.
Os indicadores calculados evidenciam que, os resíduos provenientes do processo de
reciclagem de RCD da unidade em estudo apresentam resultados inferiores a 0,32% do total
de material recebido. A orientação oferecida pela unidade de beneficiamento aos geradores
de RCD sobre a separação e destinação correta dos resíduos os induz a promover a
separação destes dentro do próprio canteiro de obras, destinando à unidade apenas o que
possui condições de reciclabilidade. Com isso, a matéria-prima que chega à central de
reciclagem tem maior qualidade, sendo maiormente composta por resíduo <Classe A=,
conforme CONAMA 307/2002 (BRASIL, 2002).
Referente a energia incorporada ao agregado reciclado, a variação foi por volta de 2,2
a 4,3 MJ/m3 sendo que, a energia elétrica representa cerca de 64,92% desta e, enquanto o
óleo diesel é responsável por 35,08%.

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Para água incorporada ao produto final (agregados reciclados) tem-se
aproximadamente 15,3 L/m³ a 30,3 L/m³ sendo que, desconsiderou-se a umidade depositada
no produto estocado por ficar alocado a céu aberto até o momento da entrega para o
consumidor final.
Quanto as emissões de CO2, a produção do AR gerou cerca de 8.681 a 11.934 KgCO2,
correspondendo a 5,07 a 6,20 KgCO2/m3. Estas emissões advêm maiormente da queima de
combustíveis fósseis pelos equipamentos de movimentação de carga (retroescavadeira e
caminhões) utilizados no processo de reciclagem.
Os indicadores apresentados neste estudo para a unidade de beneficiamento de RCD
da cidade de Cascavel, Paraná permitiram a identificação do impacto potencial associado ao
processo de reciclagem de RCD para a produção do agregado reciclado deste processo
produtivo. Cabe ressaltar que estes indicadores são fortemente dependentes do arranjo do
sistema produtivo, da logística e processo de operação da unidade de processamento, da
qualidade da matéria-prima recebida para processamento, dos fatores climáticos, da
qualidade da coleta de dados, entre outros fatores. Logo, estes são valores referenciais desta
unidade produtiva, podendo não refletir realidade de outras centrais de beneficiamento de
RCD no país.

AGREDECIMENTOS

À Future Reciclagem Inteligente, pelo fornecimento de dados e informações do processo


produtivo. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pelo suporte à
pesquisa (CAPES código 001).

REFERÊNCIAS

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Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 32ª edição 3 Abril de 2023 - página 13 de 13
METODOLOGIA FEL (Front-End Loading) COMO RECURSO PARA
O GERENCIAMENTO DE PROJETOS

Samara Moraes Serrão1

1
Engenheira Civil, http://lattes.cnpq.br/0162420374229903, Faculdade Pitágoras, São Luis,
Brasil, engenheirasamaraserrao@gmail.com.

Resumo: O desenvolvimento de projetos com etapas de pré-planejamento bem definidas


pode melhorar os custos, tempo, e consequentemente a viabilidade destes; nesse contexto,
a metodologia Front-End Loading (FEL) se destaca como opção. Este estudo tem como
objetivo verificar a produção científica que trata sobre a metodologia FEL, bem como
descrever os conceitos, as diferentes etapas da metodologia e a importância de sua aplicação.
A natureza deste estudo está configurada como pesquisa do tipo aplicada, com abordagem
qualitativa, de cunho exploratório, caracterizando-se como uma revisão narrativa; a pesquisa
foi realizada no ano de 2021 a partir de artigos indexados na base de dados Google Scholar.
Foram selecionados 7 estudos para análise final. De acordo com a bibliografia estudada, foi
possível verificar que a metodologia FEL possui destaque como método, em especial nas
etapas de iniciação e planejamento de projeto. O método otimiza as etapas de planejamento,
previsão de custos, cronograma e viabilidade de execução. Foi possível averiguar, a partir
dos estudos publicados, que este é um campo com grande potencial de exploração. Como
limitações do estudo pontua-se o reduzido número de trabalhos encontrados.

Palavras-chave: gestão de projetos; pré-planejamento; engenharia.

FRONT-END LOADING METHODOLOGY AS A RESOURCE FOR


PROJECT MANAGEMENT

Abstract: The development of projects with well-defined pre-planning stages can improve
costs, time, and consequently their viability; in this context, the Front-End Loading (FEL)
methodology stands out as an option. This study aims to verify the scientific production that
deals with the FEL methodology, as well as to describe the concepts, the different stages of
the methodology and the importance of its application. The nature of this study is configured

Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 32ª edição – Abril de 2023 - página 1 de 11
as an applied research, with a qualitative approach, of an exploratory nature, characterized as
a narrative review; the research was carried out in the year 2021 from articles indexed in the
Google Scholar database. Seven studies were selected for final analysis. According to the
bibliography studied, it was possible to verify that the FEL methodology stands out as a
method, especially in the project initiation and planning stages. The method optimizes the
planning stages, cost forecasting, schedule and feasibility of execution. It was possible to
verify, from the published studies, that this is a field with great exploration potential. As
limitations of the study, the reduced number of works found is pointed out.

Keywords: project management; pre-planning; engineering.

1. INTRODUÇÃO
Com o reconhecimento da relevância da gestão de projetos para o triunfo das
iniciativas organizacionais, algumas entidades apareceram para criar metodologias e
averiguar a aplicação de conhecimentos, habilidades e métodos exercidos na prática em
gerenciamento de projetos, pois tem sido progressista a procura por excelência operacional
nas organizações (MOTTA; QUELHAS; FARIAS FILHO, 2011).
Dessa forma, é imprescindível adotar técnicas e instrumentos de gestão de projetos
para se adequar aos novos cenários (CARVALHO; RABECHINI JUNIOR, 2011). Segundo
Cleland e Ireland (2002), as decisões optadas posterior ao andamento efetivo do projeto
instituem a direção e o esforço precisos para guiar o projeto de forma correta. Na etapa de
“pré-planejamento”, os potenciais problemas são apresentados proativamente antes de
atingirem diretamente o cronograma e os valores dos projetos.
Desse modo, considerando a necessidade de criação de metodologias de pré-
planejamento que procurassem um equilíbrio maior entre os resultados econômicos, sociais
e ambientais, o instituto norte-americano Independent Project Analysis (IPA) elaborou uma
metodologia chamada de Front-End Loading (FEL) ou “Planejamento Antecipado”, na qual a
segurança, custo, prazo e operabilidade são priorizados (MOTTA; QUELHAS; FARIAS
FILHO, 2011).
O FEL é uma metodologia de gerenciamento de projetos comumente usada em
projetos de engenharia, construção e outros projetos de grande escala. O método FEL envolve
uma série de fases projetadas para garantir que um projeto seja totalmente planejado e
definido antes do início de qualquer trabalho real. Essa abordagem costuma ser chamada de

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"planejar para planejar" e destina-se a reduzir o risco de falhas do projeto devido a um
planejamento inadequado (MENDER; POZNYAKOV, 2022).
Uma das principais vantagens do método FEL é que ele permite que as equipes de
projeto identifiquem riscos e desafios potenciais no início do ciclo de vida do projeto. Ao
realizar estudos de viabilidade e projetos preliminares, as equipes de projeto podem identificar
possíveis obstáculos e fazer os ajustes necessários antes que o projeto passe para a fase de
execução. Isso pode ajudar a reduzir o risco de atrasos ou falhas dispendiosas posteriores.
Comparado a outras metodologias de gerenciamento de projetos, este método coloca
uma ênfase maior no planejamento e no escopo. Enquanto outros métodos podem ir
diretamente para a execução, o FEL requer uma abordagem mais completa e deliberada para
o planejamento do projeto, e isso pode ser particularmente importante para projetos de grande
porte que envolvam investimentos significativos ou tenham alto grau de complexidade.
O emprego de informações detalhadas ainda na etapa conceitual via desempenho da
metodologia FEL colabora para a melhoria e diminuição de risco, preço e cumprimento do
cronograma. Bem como desenvolvimento a tomada de providências, pois a análise
antecipada de lacunas na elaboração do projeto melhora o alinhamento interno nas entregas
e objetivos do projeto e define se um projeto está finalizado ou se necessita de mais trabalho
(RODRIGUES; SILVA, 2020).
Dessa forma, este estudo tem como objetivo verificar a produção científica que trata
sobre a metodologia FEL, bem como descrever os conceitos, as diferentes etapas da
metodologia e a importância de sua aplicação.

2. METODOLOGIA
A natureza deste estudo está configurada como pesquisa do tipo aplicada, a qual
segundo Gerhardt e Silveira (2009), possui como objetivo à resolução de problemas
específicos a partir da construção de conhecimentos na aplicação prática. A pesquisa possui
uma abordagem qualitativa, onde, na qual, segundo Goldenberg (2004, p. 14), a preocupação
“do investigador não é com a representação numérica do agrupamento pesquisado, mas com
a investigação do entendimento de um grupo social, de uma organização, de uma instituição,
de uma trajetória, etc.”.
Em relação aos objetivos, é uma pesquisa de cunho exploratório, pois busca
“proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, sobre determinado fato” (GIL, 2008, p. 27). E
em relação aos procedimentos, caracteriza-se como uma revisão narrativa, que se expressa
como um modo não sistematizado de revisar a literatura. Através desta revisão é possível

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obter atualizações sobre um assunto determinado, possibilitando ao revisor um suporte
teórico em curto período, tornando-se útil também na descrição do estado da arte de um tema
específico, sob a perspectiva teórica e conceitual (BOTELHO; CUNHA; MACEDO, 2011).
A pesquisa foi realizada no ano de 2021 a partir de artigos indexados na base de dados
Google Scholar. Os critérios de inclusão utilizados na coleta de dados foram:
 Apresentação completa do texto online;
 Estudos com abordagem quantitativa ou qualitativa;
 Publicações em português, inglês e espanhol;
 Artigos publicados a partir de 2005;
 Para a busca, foram utilizados os seguintes descritores (palavras-chave) em diferentes
combinações e idiomas, sendo elas metodologia; FEL; Front-End Loading; obras;
projeto.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os artigos selecionados foram obtidos por meio de pesquisa bibliográfica com palavras-
chave específicas na base de dados escolhida. Para garantir a pertinência ao tema proposto,
foi realizada uma análise preliminar, revisando os títulos de cada artigo e excluindo aqueles
considerados não relacionados. A partir da leitura do resumo/abstract e da aplicação dos
critérios de inclusão e exclusão, os estudos selecionados foram lidos na integra, resultando
no conjunto de artigos para a análise final. As diferentes etapas do processo de seleção dos
trabalhos estudados podem ser observadas na Figura 1 e a descrição dos estudos
selecionados estão no Quadro 1.
A partir dos estudos selecionados foi possível identificar que a metodologia FEL foi
concebida pelo Instituto IPA como maneira de elevar a produtividade capital do projeto,
corresponde à apresentação do planejamento conceitual do projeto, de modo a aprimorar sua
qualidade e possibilitar assim uma melhor realização do mesmo, visto que diminui a
necessidade de alterações e investimentos exagerados ao decorrer do seu ciclo de vida
(OLIVEIRA et al., 2016).
De acordo com Motta, Quelhas e Farias Filho (2011), a FEL consiste em trazer, muito
antes da efetuação, uma ação coordenada de planejamento com interesse que se tenha uma
grande preocupação com a atividade de realização, diminuindo assim as incertezas e riscos
da gerência do projeto.

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Figura 1 – Processo de seleção dos trabalhos estudados

Fonte: Autora (2021)

Quadro 1 – Descrição do(s) autor(es), título e ano dos estudos selecionados


AUTOR(ES) TÍTULO ANO
Metodologia TECLIM para uso racional de água na indústria: o
1 OLIVEIRA et al. 2016
banco de ideias no contexto da metodologia front‑end loading.
Alinhando os objetivos técnicos do projeto às estratégias de
MOTTA; QUELHAS;
2 negócio: contribuição da metodologia FEL no pré-planejamento 2011
FARIAS FILHO
de grandes empreendimentos.
Potencializando o planejamento de projetos: abordagem de
3 SANTIAGO et al. uma metodologia de planejamento no contexto do padrão 2008
PMBoK.
RODRIGUES; Metodologia FEL Aplicada a Projetos de Capital em Empresa do
4 2020
SILVA Agronegócio
Contribuição ao estudo da concepção de projetos de capital em
5 MORAES 2010
mega empreendimentos.
BARBOSA; Metodologia FEL: sua importância na avaliação de riscos e
6 PINHEIRO; redução de impactos em escopo, tempo e custo de projetos 2013
SANTOS JUNIOR complexos de engenharia.
Implementação de um modelo de gerenciamento de projetos
7 CAVALCANTE utilizando metodologia fel: estudo de caso com um 2017
Microempreendedor Individual (MEI).
Fonte: Autora (2021)

As etapas de iniciação e planejamento de um projeto apresentam um alto grau de


incertezas, em virtude às informações estarem mais difusas ou mesmo serem irreais. A
consistência e a qualidade das fases iniciais do projeto indicam os principais resultados e
impactam de forma direta no êxito do projeto. Nestas fases são estabelecidos escopo,

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recursos, custo, prazo e realizado o levantamento dos riscos do projeto (SANTIAGO et al.,
2008).
A metodologia FEL integra-se, assim, em um sistema para o desenvolvimento de
projetos concorrentes que se embasam na medição do funcionamento e elevação do nível de
definição do empreendimento com grande atenção às atividades iniciais de um projeto; sendo
a análise econômica o principal critério para determinação da métrica de desempenho de um
projeto. Além das averiguações técnicas e econômicas, a FEL pressupõe também
ponderação de saúde, meio ambiente, segurança e relações com as comunidades, em todas
as fases. Isto é, a metodologia FEL, quando aplicada de maneira adequada, possibilita menor
custo total, coligada ao atendimento das metas de qualidade, meio ambiente, segurança e do
desígnio do empreendimento (OLIVEIRA et al., 2016).
De acordo com Rodrigues e Silva (2020), o delineamento do projeto com a metodologia
FEL é executado por meio de três etapas distintas (FEL 1, FEL 2 e FEL 3), em que vantagens
e riscos de cada oportunidade são exploradas, o escopo do projeto é polido e então o número
de cenários prováveis é diminuído. O ciclo de vida da FEL pode ser visualizada na Figura 2.

Figura 2 – Processo de validação nos portões

Fonte: Adaptado de Moraes (2010) apud Oliveira et al. (2016)

Na etapa FEL 1 o objetivo é ratificar a ocasião comercial e escolher as alternativas que


serão examinadas na fase seguinte. É a etapa de definição do empreendimento, onde são
ratificados o alinhamento estratégico e a avaliação de mercado. A engenharia associada

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baseia-se em índices de projetos semelhantes. Essa fase implica na determinação do escopo
e os objetivos do negócio, assim como uma estimativa inicial da quantia de investimentos,
prevendo uma faixa de alternância do custo entre -25% e +40%, além da pesquisa da
viabilidade do empreendimento, por meio do cálculo dos principais parâmetros de
factibilidade: Taxa Interna de Retorno (TIR), Valor Presente Líquido (VPL), Valor Presente do
Investimento (VPI) e Payback Descontado (MORAES; 2010; OLIVEIRA et al., 2016).
Na etapa FEL 2, objetiva-se aferir as opções e determinar, mediante o resultado da
análise econômico-financeira, as opções que ostentam melhores indicadores econômicos; por
exemplo, o VPL inferior que zero, desprezando-se (ou arquivando) as demais alternativas. É
a etapa da escolha da opção, na qual é concebido conceitualmente o escopo do projeto. O
foco principal desta fase é de desenvolvimento da engenharia conceitual de todas as
alternativas pautadas no FEL1, de forma a contrastar as alternativas e determinar, mediante
o resultado da análise econômico-financeiro de cada alternativa, qual será encaminhada à
etapa posterior (BARBOSA; PINHEIRO; SANTOS JUNIOR, 2013; OLIVEIRA et al., 2016)
Nesta fase, é realizada uma análise para avaliar as diversas soluções construtivas e
tecnológicas relacionadas ao negócio. O resultado desta análise é a seleção da solução mais
adequada juntamente com a definição dos requisitos básicos do projeto (project briefing),
incluindo as instalações e edifícios. Os gastos são estimados com variação de -15% a +25%,
havendo a opção de implantação de VIPs (Value Improving Practices) durante a fase de
engenharia básica do projeto, para agregar valor ao mesmo.
Em FEL 2 o retorno financeiro é um indicador crucial para que o projeto siga para a
terceira fase: caso não seja desenvolvido retorno superior a taxa mínima de atratividade, isto
é, exiba VPL inferior que zero, o projeto é cancelado. Além dessa avaliação, é realizada uma
estimativa do desembolso de capital (CAPEX) necessário para implante do projeto,
correspondendo o baixo conhecimento com imprecisão em contingência (BARBOSA;
PINHEIRO; SANTOS JUNIOR, 2013; OLIVEIRA et al., 2016).
E na etapa FEL 3 o objetivo é contrastar as alternativas e estabelecer, por meio do
resultado da análise econômico-financeira, as opções que expressem melhores parâmetros
econômicos, como por exemplo, o VPL inferior que zero, desprezando-se (ou arquivando) as
demais alternativas. Em FEL 3 foca-se na construção, isto é, a elaboração do projeto para
sua aprovação corporativa e futura implantação. Nesta fase, a Engenharia Básica da opção
escolhida no estágio de FEL 2 é prosseguida e o CAPEX do projeto expressa menor
imprecisão. É a etapa ideal para aprovação em diretoria executiva, visto que a probabilidade
de alternâncias de escopo é muito inferior. Nessa etapa, a solução de engenharia escolhida

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em FEL 2 é detalhada e mais VIP´s são levadas em consideração no prosseguimento dos
Projetos Básicos (anteprojetos). Dessa maneira, é viável atingir uma alternância nos gastos
entre –10% e +10%, além da solidificação do principias parâmetros de viabilidade do
empreendimento (MORAES; 2010; OLIVEIRA et al., 2016).
Cada etapa ostenta um conjunto de produtos (deliverables) que deverá ser
confeccionado pela equipe do projeto antes do início da próxima fase. Vários exemplos de
produtos são citados abaixo, conforme Motta, Quelhas e Farias Filho (2011):
 Produtos de Projeto: determinação das diretrizes, objetivos e restrições do projeto,
síntese da Estrutura Analítica de Projeto (EAP), estipulação dos principais marcos e
identificação do trajeto crítico do projeto;
 Produtos de Avaliação Econômica e de Risco: avaliação do mercado, avaliação de
sensibilidade do VPL, cálculo dos principais parâmetros de viabilidade, e análise dos
riscos do negócio fundada na metodologia de Análise e Gestão Integrada de Risco
(AGIR);
 Produtos de Meio Ambiente: investigação das condições ambientais e de solo,
construção de pesquisas ambientais, solicitação de licenças e construção do plano de
gerenciamento ambiental;
 Produtos de Saúde e Segurança: reconhecimento dos requisitos técnicos e legais de
saúde e segurança e plano de gerenciamento de saúde e segurança de
implementação de projetos;
 Produtos de Engenharia: desenvolvimento do projeto conceitual e do projeto básico,
escolha da tecnologia, fluxogramas do sistema, pesquisas de demanda e
disponibilidade de energia, desenhos do arranjo físico e listagem de materiais e
equipamentos.
A cada portão é tomada a atitude se a ideia prossegue para a etapa seguinte, é
arquivada ou descartada, ou volta para ser mais bem definida ou assimilada. Quando um
projeto prossegue por meio dos estágios, o rigor desse processo eleva, correspondendo ao
acréscimo dos esforços e recursos necessários para completar entregas dos estágios
(OLIVEIRA et al., 2016). Conforme Figura 2, o percentual de ideias rejeitadas entre os portões
é de 75% para a o portão 1, 50% das restantes para o portão 2 e 1% das restantes para o
portão 3.
No estudo desenvolvido por Cavalcante (2017), o autor desenvolveu uma proposta de
efetuação de um programa de gerencia de projetos fazendo uso da metodologia FEL sobre
um microempreendedor individual, a partir dos resultados foi possível verificar que o uso da

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metodologia provocou um resultado razoável, pois viabilizou a reprodução de um vasto
diagnóstico sobre os processos de empreendimento, proporcionando um controle elevado no
desenvolvimento das ações. A aplicação do instrumento proposto na pesquisa foi capaz de
conceber um diagnóstico fácil de implementar sem a precisão de alterações estruturais, sendo
uma solução de baixo custo para a ascensão de uma melhor produtividade.
De modo semelhante, Rodrigues e Silva (2020) aplicaram a metodologia FEL em
projetos de capital em firma do meio do agronegócio num estudo de caso, e verificaram que
houve simplificações no fluxo de aprovação a depender da complexidade do projeto, para
elevada agilidade na liberação de patrimônios. Contudo, independentemente do preço do
projeto, são necessárias etapas que exigem envolvimento multidisciplinar que assegura o
atendimento das exigências do usuário, qualidade de entrega, cumprimento de prazos e
segurança do sistema.
De acordo com Barshop (2004) apud Barbosa, Pinheiro e Santos Junior (2013), FEL é
a prática com impacto elevado sobre os seguimentos do projeto, ampliando o desempenho
do custo, em razão à melhoria da delimitação do projeto, diminuindo a quantidade de
alterações que acontecem ao longo da sua execução quando as alterações custam mais, isso
porque é implementada em etapas, o que possibilita uma avaliação completa do projeto,
estudando as oportunidades e objetivos que podem ofertar para conseguir melhores
resultados. A passagem pelos portões possibilita analisar o grau de domínio e planejamento
em relação ao projeto antes de se passar para a etapa posterior. Essa observação antecipada
diminui mudanças na etapa de efetivação e proporciona melhor assimilação dos objetivos do
projeto pelas partes interessadas.
A abordagem FEL oferece várias vantagens para as empresas. Em primeiro lugar,
fornece uma visão detalhada do projeto antes de seu início, o que permite que as partes
interessadas alinhem as ações com os objetivos do projeto desde o início. Em segundo lugar,
garante maior eficiência no monitoramento e controle de projetos complexos, reduzindo riscos
e aumentando a confiança no sucesso do projeto. Além disso, o FEL facilita o
desenvolvimento de um plano de gestão, fornecendo indicadores prévios para o controle do
projeto. Isso, por sua vez, ajuda os gerentes de projeto a obter uma perspectiva de risco
antecipada e uma avaliação antecipada de custos e tempo. Ao adotar a abordagem FEL, as
empresas podem economizar tempo e recursos enquanto melhoram a qualidade geral do
projeto (BARBOSA; PINHEIRO; SANTOS JUNIOR, 2013).

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4. CONCLUSÕES

De acordo com a bibliografia estudada, foi possível verificar que a metodologia FEL
possui destaque como método, em especial nas etapas de iniciação e planejamento de um
projeto. Os portões do método permitem um planejamento adequado, prevendo custos, tempo
e viabilidade para a execução. Foi possível averiguar, a partir dos estudos publicados, que
este é um campo com grande potencial de exploração.
Como limitações do estudo pontua-se o reduzido número de trabalhos encontrados.
Para trabalhos futuros, sugere-se um número maior de bases de dados e de tipos de estudos
para ampliação da discussão sobre o tema.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, P. T.; PINHEIRO, N. P. M. SANTOS JUNIOR, W. L. Metodologia FEL: sua


importância na avaliação de riscos e redução de impactos em escopo, tempo e custo de
projetos complexos de engenharia. In: Encontro Nacional de Engenharia de Produção, 33.,
2013, Salvador Anais [...]. Salvador: ABEPRO, 2013.

BARSHOP, P. Best practice pays off. European Chemical News, v. 79, p 16-17, 2004.

BOTELHO, L. R. R.; CUNHA, C. C. A.; MACEDO, M. O método da revisão integrativa nos


estudos organizacionais. Gestão e sociedade, v. 5, n. 11, p. 121- 136, 2011.

CARVALHO, M. M.; RABECHINI, J. R. Fundamentos em gestão de projetos: construindo


competências para gerenciar projetos. São Paulo: Atlas, 2011.

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CLELAND, D. I.; IRELAND, L. R. Project Management: Strategic Design and


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GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. Métodos de Pesquisa. Porto Alegre: Editora da


UFRGS, 2009.

GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa. 8. ed. Rio de Janeiro:


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MORAES, F.R.G. Contribuição ao estudo da concepção de projetos de capital em


mega empreendimentos. Dissertação (Mestrado em Construção Civil) - Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.

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MOTTA, O. M.; QUELHAS, O. L. G.; FARIAS FILHO, J. R. Alinhando os objetivos técnicos
do projeto às estratégias de negócio: contribuição da metodologia FEL no pré-planejamento
de grandes empreendimentos. Revista Gestão Industrial, v. 7, n. 04, p. 99-117, 2011.

OLIVEIRA, G. L. et al. Metodologia TECLIM para uso racional de água na indústria: o banco
de ideias no contexto da metodologia front‑end loading. Engenharia Sanitária Ambiental,
v. 21 n. 4 p. 753-764, 2016.

MENDES, F. A. P.; POZNYAKOV, K. Benefícios da metodologia FEL como suporte à gestão


de portfólio e de partes interessadas. Boletim do Gerenciamento, v. 32, n. 32, p. 40-51,
2022.

RODRIGUES, W.; SILVA, M. P. Metodologia FEL Aplicada a Projetos de Capital em


Empresa do Agronegócio. In: Congresso Brasileiro de Engenharia de Produção, 10., 2020,
Online. Anais [...]. Paraná: PPGEP, 2020.

SANTIAGO, L.P. et al. Potencializando o planejamento de projetos: abordagem de uma


metodologia de planejamento no contexto do padrão PMBoK. In: Encontro Nacional de
Engenharia de Produção, 28., 2008, Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio de Janeiro: ABEPRO,
2008.

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USO DA METODOLOGIA BIM PARA COMPATIBILIZAÇÃO DO
PROJETO DE UMA RESIDÊNCIA
Yan Vinicius Dias Dulnik, acadêmico do curso de Engenharia Civil, Centro Universitário Assis
Gurgacz, Cascavel - PR. E-mail: yandulnik@gmail.com.
Dra. Ligia Eleodora Francovig Rachid, Eng. Civil, Profa. Dra. do curso de Engenharia Civil, Centro
Universitário Assis Gurgacz, Cascavel - PR. E-mail: ligia@fag.edu.br.

Resumo: A Modelagem da Informação da Construção ou Building Information Modeling (BIM)


tem mostrado a sua importância no mercado da arquitetura, engenharia e construção. Dentro
de seus diversos usos, essa tecnologia é um eficiente método para a etapa de planejamento
e desenvolvimento de projetos, sendo uma ótima alternativa à análise da compatibilização
entre as etapas que compõem uma edificação. Diante desse contexto, a pesquisa teve como
objetivo analisar as vantagens do uso de BIM para a compatibilização de projetos, por meio
de um estudo de caso de uma edificação residencial. O estudo foi dividido em duas etapas,
modelagem de toda a edificação em um modelo 3D e a sobreposição destes, na busca de
conflitos de geometrias. Com os dados, relatório e resultados obtidos com o uso desta
tecnologia na compatibilização do projeto e evidenciar suas vantagens de uso, foram
encontradas 08 (oito) incompatibilidades, sendo conflitos entre a estrutura e as instalações
sanitárias e outras três que afetavam diretamente o projeto arquitetônico. Estas interferências
foram classificadas e foram apresentadas soluções usando como alusão métodos
construtivos amparados em referências literárias e normas vigentes regradas pela ABNT
(Associação Brasileira de Normas Técnicas). Considerando as incompatibilidades
encontradas, concluiu-se que o uso do BIM permite uma maior assertividade em relação à
compatibilização, por se tratar de um processo automatizado, o que pode reduzir os
desperdícios de materiais, tempo da equipe e melhorar a qualidade dos projetos.

Palavras Chaves: Projetos complementares. Conflitos. Incompatibilidades.

ANALYSIS OF THE USE OF BIM PLATFORM FOR A RESIDENTIAL


PROJECT COMPATIBILITY
Abstract: The Building Information Modeling (BIM) has shown its importance in architecture,
engineering, and building. In addition to its many uses, this technique appears to be an
effective method for project planning and development steps, as it represents an excellent
alternative for analyzing the compatibility between the disciplines and steps that make up a
building. The study aims to analyze the benefits of using BIM for project compatibility through
a case study of residential construction. With the data, report and results obtained using this
technology in the project compatibility and to evidence it is using advantages, 08 (eight)
incompatibilities were found, being most of them, eight, conflicts between the structure and the
sanitary facilities, and another three affected directly the architectural project. These
interferences were classified and solutions were presented using as allusion constructive
methods supported by literary references and current regulations ruled by the ABNT
(Associação Brasileira de Normas Técnicas). Considering the incompatibilities found, it is
concluded that the method allows a bigger assertiveness regarding the compatibility, because
it is an automated process, which can reduce the material waste, team time, and enhance the
projects quality.

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Keywords: Projects. Compatibility. Building Information Modeling - BIM.

1. INTRODUÇÃO
Desde o início da era digital, principalmente após a década de 1980, a informatização
tem sido amplamente utilizada em quase todas as áreas das atividades humanas, de simples
eletrodomésticos a equipamentos de fabricação a níveis industriais. Com base nisso, ocorrem
gradualmente evoluções (LÉVY, 2010).
Leusin (2020), em gerenciamento e coordenação de projetos BIM, comenta sobre o
método tradicional de projeto, processo este que é extremamente fracionado e regulado em
documentação impressa, em que arquitetos, engenheiros e construtores trabalham de forma
parcelada e as relações contratuais não avivam a colaboração.
BIM - Building Information Modeling é uma base para um sistema integrado desde a
concepção do produto, produção e uso na construção, ou seja, é um caminho para o setor
alcançar patamares de produtividade mais elevados, rentáveis e que sejam compatíveis ao
demais setores da economia (LEUSIN, 2020).
A colaboração entre profissionais é fundamental. A elaboração de projetos com pouca
comunicação entre profissionais traz diversas dificuldades relativas à coordenação dos
projetos, a eficácia do projeto é requisito básico para vantagens competitivas. A partir deste
que se reduz dúvidas, erros e retrabalhos durante a execução (DURANTE, 2013).
Conforme Melhado (2005), na construção, os projetos de diferentes especialidades
são geralmente desenvolvidos paralelamente pelos diversos projetistas, arquitetura,
estruturas e sistemas prediais, em locais fisicamente distantes, sendo reunidos, muitas vezes,
somente durante a execução dos serviços. As incompatibilidades entre os projetos podem
gerar na obra problemas como falta de clareza durante a execução, comprometendo a
qualidade do produto final e causando enormes perdas de materiais e de produtividade.
A compatibilização é definida como atributo do projeto, cujos componentes dos
sistemas ocupam espaços que não conflitam entre si e, além disso, os dados compartilhados
têm consistência e confiabilidade até o final do processo de projeto e obra. Portanto, segundo
GRAZIANO (2003).
A implantação do BIM pode ser associada a 4 fases: planejamento, concepção,
construção e operação, tornando-se um processo de colaboração na indústria da construção.
Há uma exigência externa do uso do BIM, de gerentes de construção, arquitetos e empresas
de engenharia. Muitas construtoras estão investindo em tecnologias BIM durante licitações,

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pré-construção, construção e pós-construção, para compreender melhor como o construir
para projetar e projetar para construir baseado em BIM (HERGUNSEL,2011).
Muitas tarefas tradicionais são facilmente melhoradas através da implementação da
tecnologia BIM, mas é necessário determinar quais características serão abordadas em
relação aos elementos modelados, fase de projeto, disciplina e nível de detalhamento.
(KREIDER e MESSNER, 2013).
Em razão das questões elencadas, o artigo apresentado tem como tema uma análise
de compatibilização de uma edificação residencial, sendo feita uma busca de interferências
de projeto feitos originalmente em 2D e por profissionais distintos, visando responder à
seguinte pergunta: existe vantagem nos modelos BIM para a função de compatibilização de
projetos?
A construção civil é um dos setores com maior investimento e, muitas vezes, fica-se
limitado ao tradicionalismo e vícios construtivos quando se trata de elaboração de projetos e
não se percebe que o uso das tecnologias oferecido pode reduzir custos com relação à
quantidade de materiais, detalhes construtivos inerentes dos projetos, enfim, projetos
compatibilizados.
O BIM é uma realidade, e existem vários estudos que apresentam uma significativa
melhoria. Levando em consideração a redução de gastos em projetos que não apresentem
problemas durante a execução da obra, o governo federal preparou o Decreto Federal nº
9.983 de 22 de agosto de 2019, que institui a estratégia nacional de disseminação do BIM.
Nesse contexto, utilizando-se o software Revit e Navisworks, da Autodesk, foi proposta
a compatibilização os projetos arquitetônico, estrutural, elétrico e hidrossanitário, apontando-
se a não conformidade entre os projetos e o impacto destas na execução da edificação, com
sugestões de soluções para os problemas encontrados.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Há décadas, o pesquisador Eastman et al. (2014), dedicou a sua vida acadêmica à
compreensão dos processos e ao desenvolvimento de ferramentas que podiam ajudar
arquitetos e engenheiros e propôs pela primeira vez uma descrição de um modelo virtual, em
uma pesquisa intitulada An outline of the building description system (um esboço do sistema
de descrição do edifício).
Nesse estudo, incluía suas primeiras noções de BIM como uma forma para definir
elementos de forma interativa, por exemplo, em seções, planos isométricos ou perspectivas
de uma mesma descrição de elementos, em que qualquer mudança ou alteração teria que ser

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feita apenas uma vez para todos os desenhos futuros. Todos os desenhos seriam derivados
da mesma disposição de elementos, sendo automaticamente consistentes (EASTMAN, 2014).
Atualmente, existe uma ampla definição para o BIM na literatura, como Eastman
(2014) prenunciou um mundo moderno com uma visão evoluída dos projetos de obras, outros
autores apresentam a definição em suas obras, que constam no Quadro 1.

Quadro 1: Definição de BIM.


Fonte Definição
Eastman et al. BIM é usado como verbo ou adjetivo para descrever ferramentas, processos
(2014) e tecnologias que são facilitadas pela documentação digital e legível pelo
computador de uma edificação, seu desempenho, seu planejamento, sua
construção e, posteriormente, sua operação.
Succar (2009) BIM é uma série de tecnologias, processos e políticas que possibilitam que os
diversos envolvidos no processo projetem, construam e utilizem um
empreendimento de forma colaborativa.
Ernstrom (2006) BIM é um conjunto de informações do empreendimento desde a concepção
inicial até a demolição, com colaboração integrada das diversas partes do
projeto (construtor, arquitetos, engenheiros, proprietários etc.).
Fonte: Adaptado pelos Autores (2022).

A previsão oportuna de situações desfavoráveis e sinais de incompatibilização permite


que o gerente de projeto tome medidas oportunas e, quanto mais cedo a intervenção, melhor.
A Figura 1 ilustra o que é comumente referido como uma oportunidade construtiva, ou seja,
você pode mudar o processo de serviço ou planejar seu próprio tempo a um custo
relativamente baixo.

Figura 1 - Grau de oportunidade de mudança em função do tempo.

Fonte: Mattos (2010).

Com o tempo, essa intervenção se torna menos eficaz e seus custos de


implementação são maiores, o que é uma oportunidade destrutiva (MATTOS, 2010).

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Um fato do entendimento de todos os profissionais da construção civil é o de que um
dos principais fatores que provocam o aumento dos custos é o desperdício de materiais e
retrabalho, fato que justifica também a queda de qualidade (OLIVEIRA, 2013).
Leusin (2020), descreve a dificuldade em conseguir uma comunicação entre todos que
fazem do projeto em comum. Ao contrário das indústrias aeronáutica e automobilística, em
que predomina a verticalização industrial, com grandes empresas impondo o uso de sistemas
integrados, na construção há uma grande dispersão de participantes, sem predominância de
nenhum sistema comum.
O processo anterior às trocas de informações dependia propriamente de toda
documentação gráfica, sendo física ou virtual. Para a análise, era necessário organizar toda
a parte documental em fases ou etapas de projeto, para serem definidas se cada disciplina
seria compatível entre si (LEUSIN, 2020).
Entretanto, com o avanço tecnológico e o começo do uso da plataforma BIM, Eastman
et al. (2014), comentam que o BIM é capaz de oferecer muitas vantagens sobre os métodos
convencionais de compatibilização. Essa metodologia permite a identificação de conflitos, de
forma mais automatizada, além de disponibilizar uma análise visual da interferência no
modelo, o qual tem um nível maior de detalhamento.
Bilal Succar, atualmente, professor na Universidade de Newcastle, um dos autores
principais autores sobre o tema, em 2009, lançou o BIM Excellence (BIMe), uma metodologia
de avaliação do desempenho BIM nas empresas de projetos, com o objetivo de medir e
melhorar as competências da modelagem, metodologia é definida em quatro graus: pré-
BIM (visualização em 2D), BIM 1 (modelagem), BIM 2 (colaboração) e BIM 3 (integração e
IPD 3Integrated Project Delivery, em tradução livre <Entrega de Projeto Integrado=).
Segundo a metodologia de Succar (2009), a colaboração baseada em modelos,
corresponde ao segundo estágio, dá-se ênfase ao compartilhamento multidisciplinar,
envolvendo até duas disciplinas, como por exemplo, projeto arquitetônico e estrutural.
Desta maneira, no segundo estágio há a compatibilização do modelo por meio da
verificação de conflitos, oferecida por alguns softwares como Navisworks, que disponibilizam
formatos padronizados de listas de interferência, que já incluem a imagem do problema e
referências da sua localização no modelo.
O BIM é uma necessidade mundial, nos Estados Unidos, em dezembro de 2009, num
trabalho publicado pela Pennsylvania State University foram identificados 25 diferentes usos
para o BIM. O estudo também categoriza a frequência de uso e o valor percebido do uso do
BIM para essas empresas norte-americanas, utilizando um questionário, uma das era

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perguntas era <Qual o benefício que sua organização atribui aos usos do BIM?=, e as duas
repostas mais bem elencadas foram a Coordenação espacial 3D e Revisão de projetos.
Costa et al. (2017), comentam que o BIM está sendo discutido cada vez mais no Brasil,
com o processo que engloba o planejamento e compatibilização da obra por meio de
softwares voltados para este assunto e vem sendo foco de pesquisa por todo o mundo. Sendo
assim, muitas descobertas e contribuições sobre o tema são feitas abrindo espaço para novos
trabalhos e estudos de caso, melhores e mais detalhados.
Partindo dessa premissa, o Governo Federal, pelo Decreto nº 9.983, de 22 de agosto
de 2019, dispõe sobre a estratégia nacional de disseminação do BIM e institui o Comitê Gestor
da Estratégia do BIM, deixando claro suas intenções de popularizar a plataforma BIM, tanto
na esfera pública quanto na esfera privada (BRASIL, 2019).
Pila e Violin (2019), apresentados a este cenário com o objetivo de incentivar o setor
público a adotar o BIM, realizaram um estudo da viabilidade de implantação da plataforma
para a compatibilização de projetos da UBS - Unidade Básica de Saúde em Borrazópolis -
PR, visando a destacar como o uso da plataforma BIM proporciona melhorias na qualidade
econômica do projeto.
Durante o estudo os autores, Pila e Violin (2019), evidenciaram interferências entre os
projetos, utilizando o teste de conflito do software Navisworks.
As incompatibilidades apresentam interferências semelhantes, com esquadrias
conflitando com elementos estruturais, com a sobreposição de um pilar e uma janela lateral
da edificação e a de um pilar com a porta de acesso principal.
Gouvêa et al. (2019), realizou um trabalho no setor privado, em uma edificação
residencial e apresentou as incompatibilidades em um projeto que integra o Programa Minha
Casa Minha Vida (MCMV) da Caixa Econômica Federal 3 CEF. Foi um estudo qualitativo
sobre a compatibilização do projeto, que dispõe de residências de 57,89 m² de área
construída.
Linhares e Melhado (2018), realizaram o acompanhamento da elaboração de quatro
projetos para implementação do BIM, em uma empresa de projetos já consolidada no
mercado, localizada em São Paulo, especializada em projetos comerciais, concentrando a
maior área de atuação voltada para a construção de Shopping Centers.
Um dos projetos do estudo foi a garagem do Outlet Premium em São Paulo, contando
com 22 mil metros de área construída e que para tal projeto, apresentado na Figura 2A, foi
adotado o sistema de projetos integrados contendo a modelagem dos sistemas de todos os
sistemas de instalações, apresentado na Figura 2B. Modelagem essa voltada para verificação

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e controle de qualidade, e automatização do método de compatibilização entre as frentes
envolvidas no projeto.

Figura 2 - Obra em finalização e modelagem dos sistemas

(A) (B)
Fonte: Linhares e Melhado (2018).

2.1. PROBLEMAS RECORRENTES POR FALTA DE COMPATIBILIZAÇÃO DE


PROJETOS
Além de custos adicionais não previstos na construção, atrasos no cronograma
existem muitos casos de improvisos em obra o que leva a uma e redução da qualidade do
empreendimento (improvisos em obra) (VANNI et al., 1998).
Pereira et al. (2015), em um estudo de caso, na fase de execução das instalações,
registrou interferências entre as instalações hidrossanitárias de água (cor marrom), esgoto
(cor branca) e gás (cor verde) em conflito com as instalações elétricas (cor amarela), como
podemos observar na Figura 8A, onde o autor relata atrasos em obra pela falta de
planejamento, tendo em vista que a solução teve que ser desenvolvida com a obra em
andamento.
Outro estudo por Delesderrier (2015), apresenta as interferências, onde os eletrodutos
por onde passam as instalações elétricas estão em conflito com vigas, e como solução foi
adotado um rebaixamento do forro de gesso, acarretamento em mudanças estéticas não
previstas.

3. METODOLOGIA
A pesquisa é exploratória, e o método é um estudo de caso para analisar a importância
do BIM na compatibilização e interação entre os diversos projetos que compõem uma
residência unifamiliar. Os projetos foram elaborados para a execução de uma residência
unifamiliar na cidade de Rio Bonito do Iguaçu-PR.
A primeira etapa foi a modelagem do projeto com o uso da tecnologia BIM, com objetos
paramétricos, com informações e características próprias. A segunda etapa consistiu na

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verificação e apresentação das inconformidades, por meio de testes de conflito (clash
detection) utilizando recursos dos softwares Autodesk Navisworks e Autodesk Revit, com
análise visual do modelo tridimensional.
Como objeto de pesquisa para o desenvolvimento deste artigo, foram utilizados os
projetos de arquitetura e engenharia de uma edificação destinada a uma residência unifamiliar
térrea com 118 m², como apresentado na Figura 3 em uma imagem em perspectiva da
modelagem, e Figura 4 trazendo a planta baixa, distribuída com três dormitórios, um corredor
centralizado que leva às áreas íntimas e banheiro social, garagem para dois veículos grandes,
acesso lateral para a lavanderia externa, sala e cozinha com espações integrados prezando
pela iluminação natural.
Figura 3 - Perspectiva Arquitetônica Figura 4 - Planta baixa do projeto de estudo.

Fonte: Os Autores (2022).

3.1. MODELAGEM E EXPORTAÇÃO PROJETOS EM AUTODESK REVIT


Todos os projetos originais em .dwg, arquivos originais oriundos do software de
desenho 2D Autodesk Autocad, foram desenvolvidos para um estudo de aprovação do cliente,
orçamentos prévios e aprovação legal nos órgãos responsáveis, posteriormente foram
detalhados em nível de projetos executivo.
A transição do projeto original bidimensional para o modelo BIM foi realizada de forma
independente para todos os projetos, utilizando para cada disciplina um modelo inicial com
configurações e elementos pré-definidos, conhecidos como template ou arquivos de modelo,
facilitando o desenvolvimento e criação do projeto.
Para as instalações hidráulicas, foram utilizadas as famílias disponibilizadas pela
Marca Tigre e, nas instalações elétricas, foram utilizados pontos de energia, interruptores e
tomadas genéricas, com dimensões reais; no caso, conjunto de caixas 4=x2=, pontos de luz

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499x499 e conduítes corrugados disponibilizados também pela marca disponibilizados pela
Tigre, todas famílias com dimensões reais e representações próximas à realidade.
Após a finalização da modelagem, utilizou-se o recurso próprio de integração entre
Revit e o Naviswork, exportando o arquivo RVT com as geometrias em arquivo NWS, que é
um arquivo geométrico próprio para análise no Naviswork.

3.2. IMPORTAÇÃO E COMPATIBILIZAÇÃO NO SOFTWARE AUTODESK


NAVISWORKS
Após a modelagem dos projetos, ocorreu a importação e união dos projetos no
software Navisworks, apresentado na Figura 5.

Figura 5 - Projetos importados

Fonte: Os Autores (2022).

Após a importação dos arquivos deu-se início ao processo de compatibilização


computacional através do Navisworks, que exige a inserção de regras e a seleção dos
modelos a serem analisados.
Neste trabalho foi utilizado um tipo de teste pré-definido, denominado Hard, que é
baseado em regras, para verificar as interferências entre as geométricas, que representam os
projetos, com uma tolerância de 0,01 m.
Além da definição de regras, foi necessário selecionar os elementos para a análise.
Dessa forma, foi proposto o processo das disciplinas que complementam a obra, sendo
executados seis testes:

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ï Arquitetônico e Estrutural
ï Arquitetônico e Elétrico
ï Arquitetônico e Hidrossanitário
ï Estrutural e Elétrico
ï Estrutural e Hidrossanitário
ï Hidrossanitário e Elétrico

Através do software Navisworks, foram geradas imagens das incompatibilidades,


sendo realizado um quadro com a listagem dos pontos conflitantes entre os projetos, contendo
o item, projetos em conflito, descrição da interferência e uma possível solução.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Após a criação dos modelos tridimensionais a partir dos projetos da edificação,
utilizando o software de modelagem Autodesk Revit, fez-se a integração destes em uma única
plataforma, com a finalidade da análise de interferências. Para tal, foi utilizado o software de
gerenciamento de projetos Navisworks.
Com a utilização da ferramenta de teste Clash Detective, foi possível selecionar todos
os elementos para analisar as interferências, com as combinações de todos elementos
referentes aos projetos arquitetônico, estrutural, instalações elétricas e hidrossanitário.
Com a realização dos testes, foi gerado um relatório de interferências apontadas pelo
software, totalizando 08 interferências entre todas as disciplinas associadas, sendo possível
fazer o teste entre os projetos arquitetônico e elétrico, porém verificou-se que os projetos
hidrossanitário e elétrico não apresentaram conflitos, havendo maior concentração de erros
no teste entre estrutura e projeto hidrossanitário.

4.1. CONFLITOS ENTRE PROJETOS


Não foram considerados todos conflitos entre objetos, apenas foram inseridos e
listados, os mais importantes, ou seja, os que poderiam causar transtornos durante a
execução da obra, alguns resultados apontados como conflito entre a soleira e porta, foram
descartados por serem considerados erros do próprio modelo gerado.

a) Arquitetônico e estrutural
Na Figura 6, são apresentados os conflitos existentes entre os projetos arquitetônico
e estrutural, Figura 6A com a sobreposição de uma porta e o pilar e Figura 6B uma viga de
concreto com um dos painéis de vidro, que compõem a fachada.

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Figura 6 - Sobreposição da porta e pilar conflito entre os painéis de vidro e viga.

Pilar Painel
Porta Viga
(A) (B)
Fonte: Os Autores (2022).

Na Figura 6A, observa-se que a porta sobrepõe o pilar e não há verga sobre a porta.
Nesse caso, uma solução seria deslocar a porta para a direita, porém será necessária fazer a
ligação entre o pilar e o batente da porta, pois futuramente poderá haver uma fissura entre
eles. Outro problema é a falta de verga e a largura adequada para este vão. A NBR 8545
(ABNT, 1984), menciona que sobre e sob as aberturas devem ser colocadas vergas e
contravergas para que os esforços sejam absorvidos e não ocorram fissuras nos cantos
inferiores e superiores das esquadrias. A mesma norma determina que as dimensões das
vergas e contravergas para vãos entre 1,00 e 2,00 m sejam altura mínima de 10cm e no
comprimento ultrapasse em torno de mais 30 cm para cada lado; quando o vão for superior a
2,00 m devem ser tratadas como vigas.
Na Figura 6B, a altura do painel de vidro deve ser alterada, para a passagem da viga
superior ao vão sendo necessário diminuir as dimensões dos painéis para uma correta
instalação das esquadrias, em que o local de instalação das esquadrias deve oferecer espaço
suficiente para que o trabalho seja eficiente e de qualidade.
Para uma eficiente instalação de esquadrias como a de alumínio, mesmo não sendo
de uso obrigatório pela norma vigente NBR 10821 (ABNT, 2017), o uso contramarco é
importantíssimo para facilitar, vedar e garantir as medidas e esquadrejamento do vão que
receberá a esquadria. Possibilita inclusive a retirada da esquadria para possível manutenção
futura dos componentes.
O contramarco é uma peça para moldura das esquadrias, feita em alumínio.
b) Arquitetônico e hidrossanitário
A Figura 7 exibe a cobertura e o reservatório no local indicado pelo projeto
hidrossanitário, porém se torna impossível esta localização devido a altura e inclinação da
cobertura.

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Figura 7 - Reservatório e cobertura.

Cobertura
Reservatório
Fonte: Os Autores (2022).

A inclinação especificada na planta da cobertura atende ao que é estabelecido por


norma e pelo fabricante, que é de 15%, porém a altura disponível para a colocação do
reservatório não é suficiente, as dimensões do reservatório são padrões e cumprem o que
está definido na norma de instalação de água fria NBR 5626 (ABNT, 1998) e NBR 10355
(ABNT, 10355), que padroniza a capacidade e diâmetro dos reservatórios transportáveis. Para
resolver esse conflito, a inclinação da cobertura deve ser alterada para 20%, o que ainda
estará dentro dos limites que é de 30%.

c) Estrutural e instalações elétricas


Dentre as análises de compatibilização realizadas com o projeto estrutural, as
instalações elétricas apresentaram quatro ocorrências de interferências físicas entre os
elementos, como demonstrado pela Figura 8, que apresenta o conflito entre a passagem do
eletroduto e o pilar.
Todo elemento estrutural é dimensionado levando em consideração sua área total e
os furos que podem gerar pontos de fragilidade à estrutura. Em regra, não se deve mexer
nenhum elemento estrutural sem uma análise posterior do projetista, conforme NBR 6118
(ABNT, 2014), estruturas com a presença de furos devem ser calculadas e detalhadas
considerando perturbações das tensões que se concentram em torno dessas aberturas.

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Figura 8 - Conflito entre eletroduto e pilar.

Pilar
Eletroduto
Fonte: Os Autores (2022).

Como as Instalações elétricas serão realizadas com eletrodutos flexíveis, que são
maleáveis em seu encaminhamento, é interessante verificar se existe outro caminho possível
sem que haja a necessidade de se perfurar uma estrutura de sustentação evitando, dessa
forma, problemas futuros, podendo ser seguindo o método construtivo apresentado por
Azeredo (2006), cujo método está exemplificado na Figura 9, em que o eletroduto é embutido
na alvenaria.

Figura 9 - Método recomentado


para passagem de eletrodutos.

Fonte: Azeredo (2006).

Outro problema encontrado entre os projetos estrutural e elétrico está apresentado na


Figura 10.

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Figura 10 - Pilar entre tomadas.

Pilar
Eletroduto

Fonte: Os Autores (2022).

Verificou-se que um eletroduto está passando pelo pilar para fazer a ligação entre duas
caixas. A solução é ligar a tomada diretamente à caixa de luz e fazer a instalação correta dos
eletrodutos na alvenaria de vedação, como recomendado pela NBR 5410 (ABNT, 2004) e
apresentado anteriormente.

d) Estrutural e hidrossanitário
Na verificação de incompatibilidades entre os projetos de estrutura e de instalações
hidrossanitários apresentou, no total, oito interferências físicas entre os elementos analisados.
Cerca de 53,33% das interferências totais, esses problemas diagnosticados refletem a
ausência de previsão de furos nas vigas baldrames para a passagem das tubulações verticais
e os conflitos entre tubulações horizontais e pilares.
A Figura 11 apresenta as principais incompatibilidade identificadas pelo software, o
encontro entre tubulação do esgoto sanitário horizontal e as vigas baldrames. Nessa etapa de
compatibilização, podem-se identificar lançamentos incorretos que deveriam ser resolvidos
na obra, deixando a etapa de execução mais lenta e menos produtiva.

Figura 11 3 Tubo do esgoto e viga baldrame.

Tubulação
Viga
Fonte: Os Autores (2022). Tubulação

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No lançamento da rede de esgoto, é comum os ramais de descarga dos aparelhos
sanitários descerem por dentro da parede e logo abaixo existir uma viga. Nesse caso, deve-
se efetuar o desvio do tubo para evitar furos nos elementos estruturais, como mostrado a
seguir, na Figura 12A, o conflito existente entre a viga baldrame e tubo e queda, e na Figura
12B a correção, utilizando joelhos de 90º para efetuar o desvio.

Figura 12 - Solução para evitar o furo nas vigas.

(A) (B)
Fonte: Reis (2021).

A associação entre as disciplinas de instalações hidráulicas e de estrutura,


demonstrada na Figura 13, apresenta interferências, entre elementos estruturais com
tubulação de esgoto.

Figura 13 - Saída de esgoto primário em sobreposição com um pilar.

Tubulação
Pilar
Fonte: Os Autores (2022).
Como a realização de furos laterais em pilares não é prevista na NBR 6118 (ABNT,
2014), é necessário então a alteração do caminho das tubulações.
Outros três conflitos foram apontados e estão ilustrados na Figura 14, passagem da
tubulação de PVC nas vigas baldrames. Nesse caso, o aumento do tubo de queda é suficiente
para evitar o conflito, sendo feita a adaptação da inclinação, não havendo qualquer problema
ao sistema.

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Figura 14 - Passagem tubulação sob vigas baldrames.

Tubulação
Viga
Fonte: Os Autores (2022).

No Quadro 02, foram apresentadas as incompatibilidades entre os projetos, seus tipos,


descrição e as possíveis soluções para cada uma delas.

Quadro 02 3 Listagem de incompatibilidades.


PROJETOS DESCRIÇÃO SOLUÇÃO
Arquitetônico e Estrutural Sobreposição do vão para porta Aumentar a distância entre o
e pilar pilar e o batente da porta
Arquitetônico e Estrutural Sobreposição dos painéis de Diminuir a altura dos painéis de
vidro com viga. vidro
Arquitetônico e Hidrossanitário Sobreposição da caixa d9agua Aumentar a inclinação da
com a cobertura cobertura
Arquitetônico e Elétrico Sobreposição dos eletrodutos Alterar a rota do eletroduto
com pilar contornado o pilar
Arquitetônico e Elétrico Pilar entre tomadas médias Adicionar outro eletroduto
diretamente da caixa de luz à
tomada
Hidrossanitário e Estrutural Sobreposição da tubulação de Alterar rota da tubulação de
esgoto com pilar esgoto primário.
Hidrossanitário e Estrutural Sobreposição dos tubos de Desvios com joelhos de 90º
queda das peças hidráulicas
Hidrossanitário e Estrutural Sobreposição do tubo viga Aumentar o comprimento do
baldrame. tubo de queda
Fonte: Os Autores (2022).

Com base no Quadro 2, que representa todas as interferências físicas identificadas ao


longo do processo, admite-se que em alguns projetos não foi dada a devida atenção em
relação à assertividade e à compatibilização entre outras disciplinas, os resultados obtidos
por Gouvêa et al. (2019), no seu estudo com uma residência de 57,89 m² apresentou
incompatibilizações parecidas no projeto elétrico e estrutural e no projeto hidrossanitário e
estrutural, conflitos em obras de edificação residencial térrea de baixa complexidade, onde
mostra que a falta de comunicação entre projetistas interfere na qualidade da entrega final.
Segundo Nascimento (2012), antes do início da edificação, deve haver um
planejamento para levantar as prováveis interferências que podem existir entre a disciplina da
construção civil e os projetos arquitetônicos, estruturais, hidráulicos etc., a falta desta etapa

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pode causar vários problemas durante a execução, gerando custos para correções, e em
níveis drásticos prejudicando a eficiência e durabilidade da edificação.

4.2. ANÁLISE DO USO DA METODOLOGIA BIM


Na realização deste trabalho durante o uso da metodologia BIM na compatibilização
de projetos, levantaram-se as principais vantagens e desvantagens conforme a experiência
na realização do trabalho, que estão elencadas no Quadro 03.

Quadro 03: Vantagens e desvantagens no uso dos softwares.


Vantagens Desvantagens
Visualização 3D durante o processo de Complexidade para o uso de Ferramentas
modelagem
Detecção automática de interferências Necessidade de um maior processamento
computacional
Fonte: Os Autores (2022).

A implementação do BIM enfrenta desafios particulares e requer um planejamento


mínimo para seu efetivo e eficaz uso, consequentemente esta implantação está atrelada aos
usos das ferramentas (softwares), que fazem uso desta tecnologia. Por um lado, aprender a
usar as ferramentas exige esforço e tempo, o que significa investir em todo um processo para
futuramente economizar tempo e custos.
O tempo para a transição dos projetos em CAD 2D para o modelo tridimensional BIM,
não dependerá apenas da complexidade e dimensão dos projetos, nem somente do domínio
das ferramentas escolhidas, o conhecimento técnico e normativo dos projetos a serem
realizados e experiência em sua execução, contribuem diretamente em ser elaborar projetos
sem interferências.
A modelagem individual ou elaboração dos projetos diretamente em BIM, relacionada
ao conhecimento técnico de construção, pode tornar o método ainda mais dinâmico, tirando
proveito da visualização 3D. Sabendo quais projetos podem ter problemas futuros, o projetista
é capaz de alterá-lo durante o processo de modelagem e posteriormente testar a
compatibilidade.
Como mencionam Souza, Wyse e Melhado (2013), a implementação da Modelagem
da Informação da Construção em uma empresa da construção civil traz consigo o potencial
de revolucionar as principais práticas convencionais de projetos.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final do estudo, constatou-se que o uso do BIM apresenta vantagens na busca das
interferências em projetos, agilidade na compatibilização entre projetos e consequentemente
reduz o desperdício de materiais e principalmente atender ao prazo para execução de etapas
durante a execução das edificações.
Neste estudo de caso, utilizando uma edificação de baixa complexidade para análise,
a modelagem em sistema BIM possibilitou uma visualização dos projetos em nível de
detalhamento e determinação das prováveis possíveis interferências que seriam constatadas
durante a execução da obra, que talvez trouxessem problemas no uso e na manutenção.
O método permite uma confiança na redução de erros, por se tratar de um processo
automatizado, com testes de detecção ajustáveis de interferências, em que se encontram
erros que futuramente poderiam causar gastos e retrabalhos adicionais.
Também se verificou que as interferências encontradas muito se devem à falta de
comunicação entre profissionais, este é um agravante por serem realizadas de maneira
individual e em software 2D, com o uso da plataforma BIM com arquivos em 3D e todos
vinculados poderiam ser minimizados os conflitos desde a etapa de projeto.
Dentre as 08 interferências encontradas, três delas resultaram em mudanças gerais
do projeto arquitetônico e 08 em projetos complementares. Os conflitos mostrados entre os
projetos permitiram maior assertividade na correção na etapa de projeto.
É importante que seja dada maior atenção à coordenação dos projetos por parte das
construtoras e projetistas na fase que antecede a execução de uma obra. A compatibilização
entre as modalidades de projetos aponta à redução de custos, tanto durante a execução como
após a sua ocupação, com a realização dos reparos e manutenções.

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GEORREFERENCIAMENTO DE IMÓVEIS RURAIS: ESTUDO DE CASO EM UMA
PROPRIEDADE NO MUNICÍPIO DE IMBITUVA, PARANÁ

CAPELINI, João Paulo Capelini (Acadêmico do curso de Engenharia Agronômica do Centro


Universitário Campo Real, Guarapuava 3 PR, Brasil. (eng-joaocapelini@camporeal.edu.br)
Rafaela Franqueto (Docente orientadora do curso de Engenharia Agronômica do Centro
Universitário Campo Real, Guarapuava 3 PR, Brasil.
(prof_rafaelafranqueto@camporeal.edu.br).

Resumo: O georreferenciamento é um instrumento adotado pelo Instituto Nacional de


Colonização e Reforma Agrária (INCRA) para padronizar e regulamentar a identificação de
um imóvel rural. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi reportar o procedimento de
um georreferenciamento, desde av contratação desse serviço até a certificação do imóvel. A
metodologia empregada no estudo é delineada por normas relativas ao tema, o qual
concretiza e norteia as etapas de um processo de georreferenciamento. Do processo de
levantamento de dados em campo até a certificação do imóvel, decorreu em
aproximadamente cinco meses. Todo o levantamento topográfico foi realizado com o
equipamento RTK, ZENO 5 3 GG04 e o processamento dos dados, realizados em escritório,
foram executados com auxílio do software Posição. Os resultados encontrados foram a
confecção do mapa e memorial do imóvel bem como a sua certificação junto a plataforma do
SIGEF, para que posteriormente, o proprietário possa emitir matrícula atualizada e demais
documentos pertinentes. Por fim, o presente estudo apresentou-se de grande importância
para a formação dos engenheiros agrônomos, visto que a área do georreferenciamento que
terá demandas significativas nos próximos anos, devido a atualização das legislações
vigentes.

Palavras-chave: Georreferenciamento. Certificação. SIGEF. Mapa. Memorial descritivo.

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GEOREFERENCING RURAL PROPERTIES: A CASE STUDY IN A PROPERTY IN THE
MUNICIPALITY OF IMBITUVA, PARANÁ

Abstract: Georeferencing is an instrument adopted by the National Institute for Colonization


and Agrarian Reform (INCRA) to standardize and regulate the identification of a rural
property. In this sense, the objective of this study was to report the procedure of a
georeferencing, from the sale of this service to the certification of the property. The
methodology used in the study is outlined by norms related to the theme, which implements
and guides the steps of a georeferencing process. From the process of collecting data in the
field to the certification of the property, it took approximately five months. The entire
topographic survey was carried out with the RTK equipment, ZENO 5 3 GG04and the data
processing, carried out in an office, was performed with the aid of the software Position. The
results found were the making of the property's map and memorial, as well as its certification
with the SIGEF platform, so that later, the owner can issue an updated registration number
and other relevant documents. Finally, the present study was of great importance for the
training of agronomists, since the area of georeferencing will have significant demands in the
coming years, due to the updating of current legislation.

Keywords: Georeferencing. Certification. SIGEF. Map. Descriptive memorial.

1. INTRODUÇÃO

Uma das ferramentas de maior importância para a topografia, assim como para
outras áreas da geografia, é o GPS (Global Positioning System, em inglês, Sistema de
Posicionamento Global, em português). Dentre as formas de localizar áreas, o
georreferenciamento é muito utilizado para delimitação de áreas (ROQUE et al. 2006),
possibilitando que o mesmo possua uma base para futura regularização fundiária, que é
considerada o ponto chave de resolução das interações entre a ocupação e utilização da
terra (PACHECO et al. 2009).
Georreferenciar um imóvel é definir a sua forma, dimensão e localização, por meio
de métodos de levantamento topográfico que vai tornar as coordenadas geográficas do
imóvel conhecidas em um dado sistema de referência. É obrigatório para todas as

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propriedades rurais, configurando uma política de cadastro de imóveis e regularização
fundiária (ALVES; SOUZA; ARAÚJO , 2017).
O Georreferenciamento foi criado para se eliminar as falhas de levantamentos
topográficos antigos, o que por vezes gerava áreas sobrepostas e grandes discussões
jurídicas. A Lei 10.267/01 tornou obrigatório o georreferenciamento do imóvel rural na
escritura para alteração nas matrículas, como mudança de titularidade, remembramento,
desmembramento, parcelamento, modificação de área e alterações relativas a aspectos
ambientais, respeitando os prazos previstos (MENZORI, 2017; REYDON et al. 2017).
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), em atendimento ao
que preconiza a Lei 10.267/01, exige que este georreferenciamento seja executado de
acordo com a sua Norma Técnica para Georreferenciamento de Imóveis Rurais, que impõe
a obrigatoriedade de descrever seus limites, características e confrontações através de
memorial descritivo executado por profissional habilitado 3 com a emissão da devida
Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), por parte do Conselho Regional de
Engenharia e Agronomia (CREA) contendo as coordenadas dos vértices definidores dos
limites dos imóveis rurais, georreferenciadas ao Sistema Geodésico Brasileiro, com a
precisão posicional de 50 cm sendo atingida na determinação de cada um deles (art. 176, §
4º, da Lei 6.015/75, com redação dada pela Lei 10.267/01) (BRASIL, 2001).
O processo do georreferenciamento apresenta várias etapas a serem cumpridas,
estas são: análise da documentação do proprietário do imóvel rural; organização dos
materiais para a realização do georreferenciamento; identificação das divisas (limites) do
proprietário do imóvel rural; colocação dos vértices tipo M (marco) nas divisas do imóvel
rural; levantamento do perímetro do imóvel rural com receptor de sinais de satélite;
tratamento dos dados; confecção de tabelas; elaboração de plantas; documentação final.
Após a concretização e realização do georreferenciamento, faz-se necessário a
certificação do imóvel, para que os dados coletados sirvam como base para o processo de
regularização da área. Apresentando todos os documentos necessários para comprovação
e determinação das coordenadas dos vértices e limites da propriedade, a certificação deste
levantamento é realizada por meio do Sistema de Gestão Fundiária (SIGEF). É importante
ressaltar que o processo deve ser realizado por meio de um profissional credenciado e
habilitado (FONTES, 2018).
O SIGEF foi definido a partir da Instrução Normativa Nº 77 (INCRA, 2013a), como o
responsável por processar todos os requerimentos de certificação de levantamentos após o

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envio dos dados advindos de atividades realizadas por profissionais habilitados e
credenciados no sistema (INCRA, 2013a).
Conforme apresentando, o objetivo do presente estudo de caso foi demonstrar como
é realizado o georreferenciamento de um determinado terreno, desde a contratação do
serviço até a entrega do relatório final protocolado pelo órgão competente, buscando auxiliar
o proprietário em todo o processo.

2. METODOLOGIA

2.1 Caracterização do estágio e da área de estudo

O presente estágio foi realizado em uma empresa de engenharia localizada no


município de Irati, no Estado do Paraná, atuando com serviços de cartografia, topografia e
geodésia para Irati e região.
No presente estudo, foi realizado um levantamento topográfico e
georreferenciamento de um imóvel rural localizado no município de Imbituva. O município de
Imbituva está localizado na região fitogeográfica paranaense conhecida como Campos
Gerais, geologicamente inserida no segundo planalto paranaense (planalto sedimentar).
Apresenta os limites com os seguintes municípios: norte 3 Ipiranga; oeste -Guamiranga; sul
3 Irati; leste - Teixeira Soares; noroeste 3 Ivaí; sudeste - Fernandes Pinheiro e sudoeste 3
Prudentópolis (PREFEITURA MUNICIPAL DE IMBITUVA, 2021). A área de estudo de caso,
localizada no município de Imbituva, apresenta uma extensão superficial de 94,9296 ha.
Na Figura 1 é apresentada a imagem área do imóvel de estudo.

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Figura 1 - Imagem de satélite do local de estudo, Imbituva - PR

Fonte: Os Autores (2022)

2.2 Execução do georreferenciamento no imóvel

Para a execução do georreferenciamento de imóveis rurais, seguiu-se a 3ª edição da


norma técnica instituída pelo INCRA (INCRA, 2013b).
As atividades iniciaram quando um proprietário de terras interessado em regularizar
a situação de seu imóvel rural junto ao cadastramento local, procurou a empresa. Importante
ressaltar que o período de levantamento de dados foi de fevereiro a maio de 2021.
A partir desse momento, foi realizada uma visita à fazenda, para um reconhecimento
grosseiro da área a ser trabalhada. Na visita foram observados alguns aspectos da fazenda,
como: distância até o local; perímetro total (ou aproximado); área; divisões de talhão;
acessos; limites; confrontações; o máximo de informações possível relacionadas à fazenda;
bem como detalhes mais técnicos como a existência e o posicionamento de antenas
estáticas, que fazem a correção dos dados colhidos pelo GPS.
O proprietário, concedeu um croqui da fazenda (mapa já existente) facilitando o pré-
conhecimento do local, com o uso de drones para obter imagens da divisão de talhões e
estradas existentes na área.

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Após a execução prévia, em campo, o próximo passo foi planejar o trabalho, com todas as
informações necessárias recolhidas, como as estradas de acessos existentes,
Para a execução do georreferenciamento do imóvel em estudo, as atividades mais
técnicas iniciaram-se pela confecção de marcos, sendo as dimensões dos marcos
reportadas pela NTGIR 3ª ed./ revisada (INCRA, 2013b). Na Figura 2 é apresentado um
esboço do marco segundo a norma.

Figura 2 - Modelo de marco de concreto utilizado

Fonte: Incra (2013b)

Nesses marcos foram colocadas as plaquetas de identificação contendo o código do


credenciado pelo INCRA e a numeração correspondente para cada vértice tipo M (marco).
O referido código é disponibilizado para cada profissional que trabalha com
georreferenciamento, pois quando for preciso maiores informações basta acessar o site do
INCRA e digitar este código, onde fornecerá todas as informações sobre o profissional.
Na Figura 3 é apresentado um modelo da placa, onde são inseridas as informações
do profissional e do vértice.

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Figura 3 - Modelo de placa

Fonte: INCRA (2013b)

No local do imóvel, foi realizado o reconhecimento dos vértices limitantes do imóvel.


O reconhecimento permite a inserção dos marcos, para na sequência ser estacionado o
receptor GPS. Ainda, vértices tipo M (marco) foram implantados de modo que ficassem
aproximadamente quinze centímetros para fora da terra.
As coordenadas dos vértices definidores dos limites do imóvel devem ser
referenciadas ao Sistema Geodésico Brasil (SGB), vigente na época da submissão do
trabalho. Atualmente, adota-se o Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas
(SIRGAS), em sua realização do ano 2000 . O SIRGAS (2000), cuja origem é o centro de
massa da Terra, é baseado na figura geométrica do elipsóide do Sistema Geodésico de
Referência de 1980 (Geodetic Reference System 1980 3 GRS80), com semi-eixo maior a =
6.378.137 m, semi-eixo menor a = 6.356.752 m e achatamento f= 1/298,257222101. Polos e
meridiano de referência consistentes em ± 0,005= com as direções definidas pelo BIH
(Bureau International de l Heure), em 1984,0 (FERREIRA et al. 2011).
Após a colocação dos marcos em todos os vértices da fazenda e a distribuição das
plaquetas de identificação, foi estacionado o equipamento topográfico GPS para a leitura
das coordenadas.
O equipamento topográfico utilizado para fazer a leitura dos marcos M e dos pontos
P nessa obra foi o ZENO 5 3 GG04 (Figura 4), também conhecido como RTK (precisão em
tempo real), no formato de SPOT PRIME, que é a medição feita em campo diretamente com
o aparelho, existem também os formatos utilizados em aparelho celular, que é o NTRIP, e o
PÓS-PROCESSADO que é usado no escritório.

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Figura 4 - Equipamento topográfico utilizado, RTK, ZENO 5 3 GG04

Fonte: Os Autores (2022)

2.3 Levantamento em campo

O levantamento em campo seguiu as definições pré-coletadas por meio da visita


realizada na fazenda, definindo onde e como estavam localizados alguns dos vértices da
propriedade, além dos limites e, seguiu as normas estabelecidas pelo INCRA, por meio dos
manuais técnicos e NTGIR vigente.
Por meio do croqui, entregue pelo proprietário, estipulou-se os vértices a serem
coletados e quais os tipos de cada um, definindo-os com a denominação de tipo <M= (ponto
ocupado e materializado) ou <P= (ponto ocupado e não materializado, água), de forma que o
levantamento fosse o mais prático e facilitado possível, assim como o local de instalação da
base de referência.
Ao chegar ao local do imóvel, foram verificadas as condições topográficas e
escolhido um local aberto (que a mata não se apresenta muito alta) para iniciar o
equipamento topográfico. Nesse sentido, Costa et al. (2008) observou que muitas vezes a
coleta com receptores GNSS tende à erros relacionados a obstruções de árvores e outros
objetos próximos ao aparelho, determinando este erro como multicaminhamento, o que
pode determinar os erros ocorridos nestas situações. Ressalta-se que é importante
iniciar/ligar o equipamento com, no mínimo, 30 minutos, de modo que a leitura dos satélites
seja precisa.

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Para a leitura de pontos P, que se refere às linhas de água, a precisão aceita é de
até 3 metros. O equipamento utilizado no presente estudo necessita de segundos ao ser
estacionado num ponto P, para obter essa precisão e fazer a leitura desse ponto.
Para a leitura de pontos M, referentes aos marcos, que são colocados nas divisas em linha
seca, o equipamento ZENO 5, necessita de um tempo de aproximadamente de 8 a 12
minutos estacionado, para fazer uma leitura bem precisa, que para esse caso, de até 0,50
metros, segundo as normas do INCRA.
Depois de terminadas todas as leituras a campo, o equipamento foi encaminhado ao
escritório para iniciar as atividades internas. Em escritório, os dados coletados foram
descarregados no computador, em um software denominado como POSIÇÃO.
O software POSIÇÃO é um aplicativo profissional integrado ao AutoCAD® e ao
BricsCAD®, que permite a elaboração de cálculos e desenhos de levantamentos
topográficos com funções que abrangem desde a transferência e/ou digitação de dados de
Estações Totais e GPS até a edição final dos desenhos; atendendo plenamente a 3ª Edição
da Norma de georreferenciamento de Imóveis Rurais do Incra.
No software POSIÇÃO foi elaborado mapa por meio de uma planilha ODS
(OpenDocument), e este encaminhado ao órgão INCRA, por meio da plataforma online do
SIGEF (Sistema de Gestão Fundiária). É na plataforma do SIGEF em que se certifica que o
trabalho foi realizado.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Primeiramente, foi materializado o vértice inicial de referência para todo o


levantamento, configurando-o como a base de referência.
Foram determinados, ao todo, 20 vértices materializados <M=, sem contar com o
marco da base de referência, com o método de posicionamento relativo estático, e mais 203
pontos <P= coletados, recorrendo os limites por águas do terreno conforme apresentado na
Figura 5.

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Figura 5 - Vértices coletados e materializados no imóvel

Fonte: Os Autores (2022)

Como o trabalho objetivou finalizar o processo de certificação, foi necessário um


profissional habilitado para assinar, sendo utilizados os códigos pertinentes para tipo de
ponto (marcos 3 ponto M - e pontos 3 ponto P), conforme verificado na Figura 5. Essa
inserção em sequência dos tipos de pontos possibilita que posteriormente os mesmos dados
sejam consultados nos dados do profissional responsável.
Como resultado inicial, obtiveram-se os pontos convertidos para o formato RINEX,
logo após o levantamento, para que assim estes pudessem ser utilizados, tanto para os
processamentos por PPP (Posicionamento por Ponto Preciso) quanto para base conhecida.
Sendo assim, os dados dos receptores foram transformados para o formato RINEX
dependendo de qual receptor foi o responsável pelo levantamento.
Após o processamento PPP, foi produzido um relatório de ponto. Esse relatório foi
utilizado para o processamento de todos os pontos de base, utilizando assim as
coordenadas processadas e as precisões definidas por meio do processamento. Ainda,
estas foram definidas no Sistema SIRGAS 2000, Fuso 22, sistema de referência oficial
brasileiro.

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Para determinação da precisão, foram definidos se todos os vértices coletados por
meio dos posicionamentos relativos, seja o estático ou semicinemático, estavam seguindo
as indicações definidas na norma de posicionamento. Essa etapa é fundamental para o
prosseguimento do trabalho, pois, não seria possível realizar se os dados coletados não
estivessem nos padrões estabelecidos. Na sequência, o processamento foi realizado no
software POSIÇÃO.
Após a realização do processamento dos dados, fez-se necessária a verificação das
precisões, ponto chave para o processo de georreferenciamento. As precisões, após terem
sido calculadas, apresentaram-se relacionadas com o definido em norma para cada tipo de
vértice utilizado, ou seja, apresentando-se abaixo dos 50 cm, exigidos pela norma.
Após a definição de todos os tipos de vértices da propriedade, deu-se início ao
processo de elaboração da planilha do SIGEF (SISTEMA DE GESTÃO FUNDIÁRIA), para
que assim, fosse possível a inserção futura dos dados no sistema, por meio do credenciado.
Com todos os procedimentos de campo finalizados, o próximo passo consistiu em
atribuir os códigos de cada ponto para que assim fossem posteriormente inseridos na
planilha ODS=. Após o delineamento final do trabalho, foi encaminhado à plataforma do
SIGEF a planilha em formato ODS (Figura 6), que foi desenvolvida para uso no SIGEF com
o objetivo de organização das informações, com todos os dados e obtida a certificação do
imóvel do presente estudo. Ressalta-se que todo o processo de certificação junto ao SIGEF
é realizado de forma online.

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Figura 6 - Modelo de planilha para certificação junto à plataforma online do SIGEF

Fonte: Os Autores (2022)

Para o preenchimento da aba de identificação, são necessárias informações que,


como o próprio nome sugere, identifique o imóvel, denominação da área, e dados para
categorizar o tipo de certificação, como a situação do imóvel, que não está registrado; a
natureza da área, que é particular; e o município onde ele se encontra, no Imbituva - PR. Os
demais dados como código do imóvel (SNCR/INCRA), código do cartório (CNS) e matricula
deverão ser consultados e adicionados posteriormente, quando de fato for ocorrer a
efetivação da certificação. Com relação às abas de perímetro, foram criadas denominação,
número da parcela, identificação do sistema de referência e os dados de coordenadas de
cada ponto que descreve o perímetro do imóvel. Após as inserções, a planilha precisa ser
validada.
A validação é um recurso que está disponível na planilha de dados
georreferenciados, segundo o Manual do SIGEF a validação verifica erros de preenchimento
e formato que podem ocorrer durante o preenchimento da planilha, antecipando a detecção
de problemas para que o credenciado, antes de enviar ao SIGEF, identifique onde deve ser
feita a correção. Essa validação realizada ainda dentro do arquivo da planilha é uma
validação parcial, que evita o envio de dados errôneos para a plataforma, a totalidade das
validações só será realizada quando a planilha for submetida no sistema, dessa forma será
possível comparar as informações enviadas com as do banco de dados do SIGEF, tornando

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possível verificar diversos erros, dentre eles se a área georreferenciada enviada se
sobrepõe a alguma outra já certificada, ou se algum vértice enviado já existe em outra
posição (INCRA, 2013a).
Após o envio à plataforma do SIGEF, foi emitido o mapa certificado do imóvel e
memorial descritivo. Na Figura 7 é apresentado o mapa certificado do imóvel e na Figura 8 o
memorial descritivo certificado.

Figura 7 - Mapa certificado da propriedade em estudo

Fonte: Os Autores (2022)

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Figura 8 - Trechos do memorial descritivo certificado do imóvel de estudo

Fonte: Os Autores (2022)

Após a certificação realizada, os documentos são impressos e entregues ao


proprietário, para envio a órgãos públicos, cartórios, dentre outros.

4. CONSIDERAÇOES FINAIS

A digitalização do processo de certificação reduziu consideravelmente o tempo gasto


para certificar um imóvel rural, e este é um avanço tecnológico considerável para a gestão
fundiária nacional, entretanto, devido a imensa extensão territorial do Brasil e a grande
quantidade de imóveis, isso gera uma demanda de certificação cada vez maior.
Após a definição dos resultados, conclui-se que, a proposta primordial do estágio e
do trabalho foi alcançada, pois foram definidas todas as informações necessárias para a
concretização do georreferenciamento de imóveis rurais da propriedade.
Com a fazenda devidamente georreferenciada, o cliente pode dar continuidade em
todos os processos vinculados a ela, desde a parte de meio ambiente e escritório, até a
compra de produtos como sementes, insumos, bem como financiamentos e aquisição de

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seguros. Pode-se definir então que, o georreferenciamento pode ser realizado por meio de
inúmeras técnicas, mas que deve sempre obter os padrões estabelecidos na norma para
sua conformidade.
O êxito do presente estudo é confirmado ao analisarmos que os resultados obtidos
foram consistentes, visto que os parâmetros de precisão requeridos foram alcançados, a
planilha apresentou verificação sem erros de digitalização, indicando que ao inserir no
SIGEF não ocorreram; e ainda foi gerada uma planta georreferenciada com informações
atualizadas da área, que poderá inclusive ser utilizada para outros fins, como projetos ou
estudos.
A partir do presente trabalho, conclui-se que este contribuiu em muitas áreas de
aprendizado teórico, onde pode-se relacionar e agregar os conhecimentos agora adquiridos
na prática. Em geral, o presente estudo tem grande importância para a formação dos
engenheiros agrônomos, pois a área do georreferenciamento necessita de muitos
profissionais capacitados para atenderem as demandas atuais e as futuras, visto que a
tendência de aumento é significativa em virtude das legislações vigentes.

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Disponível em: http://imbituva.pr.gov.br/index.php?sessao=b054603368ncb0&id=1545.
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REYDON, B.; MOREIRA, G.; BUENO, A.; PASSOS, D. Regularização Fundiária. In
FAO/SEAD. Governança de terras: da teoria à realidade brasileira, Brasília, 2017. 378p.
ROQUE, C. G. et al. Georreferenciamento. Revista de Ciências Agro-Ambientais, Alta
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Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 32ª edição 3 Abril de 2023 - página 16 de 16
AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DE ALFACE (Lactuca sativa L.) SOB

DISTINTOS SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO UTILIZANDO ENERGIA

FOTOVOLTAICA
Marcio Massashiko Hasegawa, eng. eletricista, http://lattes.cnpq.br/7408707673754694,
UENP/CLM, Bandeirantes/Paraná/Brasil, hasegawa@uenp.edu.br;
Eurípedes Bomfim Rodrigues, eng. agrônomo, http://lattes.cnpq.br/9720688699522760,
UENP/CLM, Bandeirantes/Paraná/Brasil, ebrodrigues@uenp.edu.br;
Hatiro Tashima, eng. agrônomo, http://lattes.cnpq.br/0514640010249563, UENP/CLM,
Bandeirantes/Paraná/Brasil, tashima@uenp.edu.br.
Lilian Akemi Miyamoto, graduanda no curso de agronomia,
http://lattes.cnpq.br/4340445069213283, UENP/CLM, Bandeirantes/Paraná/Brasil,
lilianmiyamoto1@gmail.com.

Resumo: A alface (Lactuca sativa L.) é uma das hortaliças folhosas de maior importância
econômica e de maior consumo no mundo. Para produzir determinada cultura, é necessário
fornecer condições favoráveis para que a mesma possa germinar, emergir, desenvolver e
produzir órgãos de interesse comercial. Uma destas condições é a disponibilidade de água, que
pode ser proveniente de chuvas ou irrigação. O objetivo deste trabalho foi avaliar a produção
da alface sob diferentes métodos de irrigação utilizando energia fotovoltaica. O estudo foi
realizado na horta da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), campus Luiz
Meneghel, utilizando o delineamento experimental em blocos casualizados constituídos de 4
tratamentos empregando os sistemas de irrigação (manual, gotejamento, microaspersão e
aspersão convencional) com 5 repetições cada, totalizando 20 parcelas. As variáveis analisadas
para avaliar a produção das plantas foram massa fresca da parte aérea, massa seca da parte
aérea, diâmetro da cabeça, altura e número de folhas. Os resultados médios foram submetidos
a aplicação do Teste Tukey, a 5% de probabilidade de erro, resultando em índices que
comprovam que o tratamento com sistema de irrigação via gotejamento produziu maior valor
médio de matéria fresca da parte aérea da alface e o tratamento com sistema de irrigação via
aspersão convencional produziu maior valor médio de matéria seca da parte aérea da alface.
Palavras-chave: disponibilidade de água, eletricidade, gotejamento, aspersão,
microaspersão.

ANALYSIS OF LETTUCE PRODUCTION (Lactuca sativa L.) UNDER

DIFFERENT IRRIGATION SYSTEMS USING PHOTOVOLTAIC

ENERGY
Abstract: Lettuce (Lactuca sativa L.) is one of the most economically important and
consumptionful leafy vegetables in the world. To produce a given crop, it is necessary to

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provide favorable conditions for it to germinate, emerge, develop and produce organs of
commercial interest. One of these conditions is the availability of water, which can come from
rain or irrigation. The objective of this work was to evaluate the final production of lettuce
under
different irrigation methods. The study was carried out in the Nothern State University of
Paraná9s vegetable garden using the randomized block design consisting of 4 treatments using
irrigation systems (manual, drip, microspersion and conventional aperation) with 5 replications
each, totaling 20 plots. The variables analyzed to evaluate plant production were fresh shot
mass, shoot dry mass, head diameter, height and number of leaves. The average results were
submitted to the Application of the Tukey Test, at 5% probability of error, resulting in indexes
that prove that the treatment with drip irrigation system produced higher average value of fresh
matter from the aerial part of the lettuce and treatment with conventional sprinkler irrigation
system produced higher average dry matter value of the aerial part of the lettuce.
Keywords: availability of water, electricity, drip, beeper, microsperse.

1 INTRODUÇÃO
A alface (Lactuca sativa L.) é uma das hortaliças folhosas de maior importância comercial e
maior consumo em todo o mundo. No Brasil, figura entre as principais hortaliças, no que se
refere à produção, à comercialização e ao valor nutricional. É consumida na forma de saladas e
onte de vitaminas A, B1, B2, B5 e C, fibras e sais minerais. Além disso, apresenta efeito
calmante, diurético e laxante. A especialização crescente do cultivo de alface tem determinado
a ampliação da escala de produção. Com o consumo também crescente, decorrente da
modernização do setor de distribuição e da grande opção de cultivares, exige-se do produtor
qualidade, diversidade de tipos e, principalmente, regularidade de produção, particularmente
no verão, quando a demanda é maior (VENZON e JÚNIOR, 2019).
Em 2020, foram computadas 15.384 toneladas de alface crespa no Entreposto de São Paulo
(ETSP) com preço médio cotado em 31/5 a R$ 10,20 o engradado de 7 kg (CEAGESP, 2021).
O grande número expresso em toneladas das alfaces comercializadas no Brasil, segundo
FILGUEIRA (2008), são classificadas em seis grupos conforme o tipo de folha, a sabe: alface
repolhuda-manteiga; alface repolhuda-crespa (americana); solta lisa; solta crespa; mimosa e
romana.
Segundo dados da CEAGESP (2021), a alface é o 18° produto mais comercializado, totalizando
49.435,5 toneladas com as seguintes variedades: Americana (47%), Crespa (38,5%), Mimosa
(5,9%), Lisa (4,28%) e Romana (1%).
Como toda cultura, a da alface necessita também de água em seu ciclo produtivo, para que possa
germinar, desenvolver e produzir órgãos comerciais. Essa água quase sempre é proveniente das
chuvas ou da irrigação. A água portanto, é utlizada em todas as atividades de produção e é
importantíssima na indústria alimentícia (LIMA, 2007)
Dentre as condições ideais que uma planta requer para que ocorra a sua germinação e seu
desenvolvimento, encontra-se as exigências climáticas. Estas, sob as quais a planta é produzida,
afetam consequentemente sua produção. Cada planta possui sua particularidade para completar
seu ciclo com êxito, sendo estas exigências fatores como: temperatura, solo, luminosidade e
umidade. São fatores que dependem em sua maioria das condições climáticas, que podem
favorecer ou prejudicar as plantas.

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A disponibilização de água proveniente de chuvas é um fator instável em certos períodos do
ano. São em condições como estas que a ação humana pode intervir a fim de favorecer a planta,
irrigando-a.
Devido a necessidade em disponibilizar um teor de água adequado ao solo para tornar possível
o desenvolvimento da planta, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a produção da
alface sob diferentes métodos de irrigação, através da utilização da energia fotovoltaica.

1.1 Cultura da Alface (Lactuca sativa L.)


A alface (Lactuca sativa L.) é uma planta pertencente à família das Asteráceas, originada de
plantas de espécies silvestres de regiões de clima temperado do Sul da Europa e Ásia Ocidental.
Por volta do ano 4500 a.C já era conhecida no Egito e a sua chegada ao Brasil se deu no século
XVI pelos portugueses (LIMA, 2007). É uma planta anual de origem de clima temperado, sendo
uma das hortaliças mais populares e consumidas no Brasil e no mundo (HENZ; SUINAGA,
2009), apesar das diferenças climáticas e hábitos alimentares distintos (SEBRAE, 2012).
A alface (Lactuca sativa) originou-se de espécies silvestres, ainda atualmente encontradas em
regiões de clima temperado, no sul da Europa e na Ásia Ocidental (Filgueira, 2003). É a mais
popular das hortaliças folhosas, sendo cultivada em quase todas as regiões do globo terrestre.
Pode ser considerada uma boa fonte de vitaminas e sais minerais, destacando-se seu elevado
teor de vitamina A, além de conter vitaminas B1 e B2, vitaminas C, cálcio e ferro (Fernandes
et al., 2002).
As plantas de alface podem ser cultivadas em diferentes modalidades de cultivo levando em
consideração os fatores de produção (clima, solo, água, infraestrutura) e os fatores de mercado
(proximidade do mercado consumidor, tamanho da área, canais de comercialização e outros)
(SEBRAE, 2012).
Segundo os autores Maldonade, Mattos e Moretti (2014), a cultura exige temperaturas amenas
para seu melhor desenvolvimento, entre 20 e 25°C. Porém, cultivares melhorados também são
desenvolvidos para as diferentes condições de clima.
De acordo com Venzon e Júnior (2019), considerando a adaptação da alface a temperaturas
amenas, o cultivo apresenta limitações no verão, portanto, é importante o uso de cultivares
adequadas à época de plantio e de técnicas apropriadas de cultivo, para obtenção de maior
eficiência nos plantios de verão.
O grupo de cultivares para a cultura é amplo, sendo divididos por suas características e formatos
das folhas, coloração e formação ou não de cabeça. Conforme Maldonade, Mattos e Moretti
(2014) os principais tipos de cultivares estão divididos em: repolhuda lisa ou repolhuda
manteiga, que possuem folhas lisas e tenras formando cabeças compactas; repolhuda crespa,
também comumente denominadas alface americana, possuem folhas crespas, embricadas,
crocantes e de cabeça compacta; Alface de folhas lisas, de folhas lisas e tenras e sem formação
de cabeça; alface de folhas crespas, em que as folhas são soltas, crespas, não formando cabeça;
e alface romana, cujas folhas são alongadas, duras, com nervuras protuberantes e formam
cabeça fofa.
Existem cultivares para o plantio de verão, cultivo de inverno e aquelas que possuem uma
adaptação para as duas estações e que podem ser cultivadas durante todo ano. É importante que,
antes de comprar as sementes, o produtor saiba qual a melhor cultivar para o plantio na época
pretendida.
O solo com característica ideal para o cultivo dessa hortaliça é de textura média, rico em matéria
orgânica e com boa disponibilidade de nutrientes. Para alcançar uma produtividade mais

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elevada recomenda-se utilizar insumos que melhorem as condições físicas, químicas e
biológicas do solo (Souza et al., 2005).
Há três formas de conduzir o plantio, sendo plantio convencional a campo aberto com uso de
irrigação, podendo ser empregado o ano todo. Outra forma é o plantio a campo aberto em
canteiros com a utilização de cobertura de plástico (mulching) com o uso de irrigação por
aspersão ou gotejamento. O plantio em túnel baixo, se dá sob arcos de aço galvanizado sobre
os canteiros, a uma altura de 1,80 m do solo cobertos por filmes plásticos, esticados sobre toda
extensão e fixados nas extremidades do túnel em peças de madeira, enterradas no solo
(SEBRAE, 2012)
O cultivo é realizado normalmente em um espaçamento de 0,25 a 0,30 m por 0,25 a 0,30 m,
entre linhas e plantas, sendo feito em patamares ou em canteiros (FAHL et al., 1998).
O período de cultivo varia de 40 a 70 dias dependendo do sistema (semeadura direta ou
transplante de mudas), época de plantio (verão ou inverno), cultivar utilizado e sistema de
condução, no campo ou protegido. (LIMA, 2007)
A cultura da alface, segundo Sebrae (2012) é extremamente exigente em água, em todo seu
ciclo produtivo, para o aumento da produtividade e melhoria na qualidade da produção.
Segundo Filgueira (2008), o peso da planta e a produtividade aumentaram com a quantidade de
água aplicada e influenciaram também na qualidade das plantas ao suprir adequadamente a
exigência hídrica, produzem folhas tenras e suculentas. O período de máxima utilização de
água se dá durante a fase de formação da cabeça, que é quando há maior incremento no peso
da planta e na produtividade.

1.2 Irrigação
A irrigação é uma prática agrícola que fornece água às culturas quando as dotações
pluviométricas não são suficientes para suprir as necessidades hídricas das plantas (GOMES,
2013). As condições que determinam a necessidade de irrigações frequentes na planta são:
raízes rasas, esparsas e de crescimento lento, maior desenvolvimento vegetativo ocorrendo em
estações sem chuva, parte ou órgão colhido na forma de peso verde, ou seja, fresco. Para o
clima, são características de alta demanda de evaporação e ausência de chuvas durante o período
de crescimento da planta. Há influencia também de solos rasos ou mal estruturados, de baixa
aeração e de fertilidade e nutrientes concentrados na superfície do solo (BERNARDO;
MANTOVANI; SILVA; SOARES, 2019).
A irrigação pode beneficiar a planta de muitos modos, como aumentar sua produtividade,
permitir maior eficiência no uso de fertilizantes, permitir um programa de cultivo podendo ter
uma escala de colheita, permitir obter duas ou mais colheitas em um só ano e permite introduzir
o cultivo de culturas caras (BERNARDO; MANTOVANI; SILVA; SOARES, 2019).
Antes de implantar qualquer sistema de irrigação, deve-se obter o conhecimento prévio da
quantidade de água a fornecer ao conjunto solo-planta a fim de determinar a quantidade de água
útil admitida pelo solo e determinar as necessidades hídricas das plantas para ocorrer o
desenvolvimento da cultura. (GOMES, 2013). Esta técnica milenar não deve ser considerada
isoladamente, mas sim como parte de um conjunto de técnicas utilizadas para garantir a
produção econômica de determinada cultura, como adequado manejo de recursos naturais.
(BERNARDO; MANTOVANI; SILVA; SOARES, 2019).
Como forma de aplicação de água às plantas, os sistemas de irrigação podem ser divididos em
irrigação por superfície, também conhecida por irrigação por gravidade e irrigação sob pressão
ou pressurizada. A irrigação por superfície é aquela alcançada pelas plantas de forma direta,

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por escoamento sobre a superfície do terreno, caindo em forma de chuva artificial localizada,
em que a água é aplicada diretamente sobre a região radicular com alta frequência e com baixa
intensidade (BERNARDO; MANTOVANI; SILVA; SOARES, 2019),
e a irrigação sob pressão conduzindo a água desde a fonte de abastecimento até a área cultivada
através de condutos forçados, distribuída às plantas por dispositivos especiais (irrigação por
gotejamento e aspersão, por exemplo) (GOMES, 2013).
A irrigação por aspersão é o método em que a água é aspergida sobre a superfície do solo e
devido ao fracionamento de jato de água em gotas assemelha-se a uma chuva. Para que ocorra
tal efeito, a água é conduzida e aplicada às áreas por meio de equipamentos como motobombas,
tubulações e aspersores das mais diversas capacidades e características de fabricação
(BERNARDO; MANTOVANI; SILVA; SOARES, 2019). Os componentes do sistema contam
com os aspersores como principal componente da irrigação por aspersão. Operam sob pressão
lançando um jato de água no ar que é fracionado em gotas, caindo no terreno como forma de
chuva. Estes aspersores podem ser de giro completo ou do tipo setorial, permitindo a regulagem
da amplitude de giro.
A velocidade de rotação geralmente é de baixa velocidade, de uma a duas rotações por minuto
(RPM) em aspersores pequenos. O ângulo de inclinação do jato com a horizontal geralmente é
de 30° (BERNARDO; MANTOVANI; SILVA; SOARES, 2019). O suprimento de pequenas
vazões às zonas radiculares é denominado gotejadores ou emissores, dispostos aos pés das
plantas. (GOMES, 2013).
O sistema de irrigação por gotejamento (Figura 1) é um método de alta frequência em que a
água é aplicada no formato de gotas diretamente sobre a zona radicular da planta, sem molhar
toda a superfície do terreno.
Figura 1 3 Irrigação por gotejamento,

Fo FONTE: Hasegawa et al. (2021

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.
A aplicação de água ao solo é sob a forma de <ponto fonte=, em que a superfície do solo fica
com uma área específica molhada em formato circular (BERNARDO; MANTOVANI; SILVA;
SOARES, 2019).
A irrigação por método de microaspersão (Figura 2) é uma alternativa intermediária entre a
irrigação por aspersão convencional e gotejamento superficial. O sistema basicamente emprega
um microaspersor para cada planta da cultura irrigada, com tubulações laterais geralmente de
polietileno ou PVC com diâmetros variados entre 16 e 40mm. A conexão dos microaspersores
com as tubulações laterais se dá por pequenos tubos de polietileno apoiados em pequenas hastes
colocadas verticalmente sobre o terreno, em uma altura de 10 a 30 cm (GOMES, 2013).
Funcionam a uma pressão de 10 a 20 mca e distribuem vazões de 20 a 140 L/h alcançando de
1 a 3 metros.

Figura 2 3 Irrigação por microaspersão

Fonte: Hasegawa et al. (2021)

1.3 Energia Solar Fotovoltaica


A energia solar é proveniente de uma fonte limpa e inesgotável, o Sol e pode ser convertida em
eletricidade utilizando de células fotovoltaicas (FADIGAS, 2012).
Para a conversão da energia solar em energia fotovoltaica, são utilizadas células fotovoltaicas.
Essas células são constituídas por um material semicondutor, nesse caso o silício, ao qual são
adicionadas substâncias, de modo a criar um meio adequado ao estabelecimento do efeito
fotovoltaico, isto é, conversão direta da potência associada à radiação solar em potência elétrica
DC (CASTRO, 2008).
Estas células fotovoltaicas possuem, duas camadas de silício (semicondutor mais comum)
carregadas positivamente ou negativamente. Para que se produza energia elétrica é necessária
a incidência de raios solares nos módulos compostos por células fotovoltaicas.

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Após a luz solar atingir o semicondutor por meio do campo elétrico entre a junção das duas
camadas, inicia-se um fluxo de energia e é gerada a corrente contínua (ALVES, 2019).
Segundo o Balanço Energético Nacional (2021) a fonte de energia solar representa 1,9% do
total de ofertas de energias instaladas e gerando 4.764 GWh, número que vem crescendo desde
2014.
Na operação de sistemas fotovoltaicos, é evidente que o impacto ambiental é muito menor
comparado aos impactos causados por fontes convencionais, visto que o recurso utilizado na
produção de energia é renovável, não emite poluentes líquidos e gasosos e nem material
radiativo, sendo seu uso direto considerado vantajoso devido ao equilíbrio térmico da Terra não
ser influenciado (FADIGAS, 2012).
O sistema fotovoltaico tem vida útil mais longa comparada com o sistema convencional, o que
promove a redução de custos ao longo do tempo. Ao utilizar na irrigação, os custos reduzem
em 83,30% em comparação a irrigação convencional fornecida pela rede (BRUNINI, 2019).

2 METODOLOGIA

2.1 Localização
O experimento foi desenvolvido na horta da Universidade Estadual do Norte do Paraná Câmpus
Luiz Meneghel, Bandeirantes, Paraná, situada nas seguintes coordenadas geográficas: altitude
de 441m, latitude de 23° 069 3599 e longitude de 50° 219 3299.

2.2 Clima
Segundo o método de classificação climática de Wilhelm Köeppen, o tipo climático de
Bandeirantes é Cfa (subtropical úmido, seco no inverno, com pequena deficiência hídrica, tendo
em todos os meses do ano temperatura média superior a 10° C).

2.3 Análise Físico-Química e Adubação


O solo da área experimental é classificado como Latossolo Vermelho Eutroférrico Típico. O
solo coletado, após seco ao ar, foi passado em peneira de malha de 2mm, homogeneizado e
analisado quimicamente pelo Laboratório de Solos da Universidade Estadual do Norte do
Paraná, e os resultados estão visíveis na Tabela 1, que demonstra a caracterização Química e
Física de Latossolo Vermelho Eutroférrico típico na camada de 0 a 20 cm de profundidade.

Tabela 1 - Caracterização Química e Física do Solo

M.O. pH P K Ca Mg Al H+Al SB CTC


g/kg-1 CaCl2 Mg/dm3
28,8 4,8 197,7 0,98 14,5 1,6 0,2 4,5 17,1 21,5
% de Saturação Areia Silte Argila Classe textural
Al Ca Mg K Bases simplificada
1,2 67,3 7,4 4,6 79,3 22 11 67 Muito argilosa
Fonte: Hasegawa et al. (2021)

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A recomendação de adubação para a área experimental não foi necessária baseada nos
resultados apresentados na análise de solo (Tabela 1) demonstrando boa fertilidade para receber
as plantas.

2.4 Cultivar
Foi utilizada a cultivar Vanda, (Figura 3). É uma variedade crespa, com plantas grandes, de
coloração verde brilhante e resistente ao vírus Lettuce Mosaic Virus (LMV), podendo ser
cultivada no inverno ou verão e possui ciclo médio de 55 dias.

Figura 3 3 Alface Crespa Vanda

Fonte: Hasegawa et al. (2021)

2.5 Delineamento Experimental


O delineamento experimental adotado foi em Blocos Casualizados, constituído por 4
tratamentos e 5 repetições cada, totalizando 20 parcelas. A dimensão de cada parcela foi de ,9
m de largura e 3,0 m de comprimento. Os tratamentos utilizados foram divididos em 4 métodos
de irrigação demonstrados na Tabela 02.

Tabela 2 - Tratamentos utilizados no experimento.

Tratamento Método de Irrigação


T1 Manual
T2 Gotejamento
T3 Microaspersão
T4 Aspersão convencional
Fonte: Hasegawa et al. (2021)

2.6 Condução do Experimento


O terreno da área experimental foi limpo, arado, gradeado e os canteiros foram levantados com
o auxílio de enxada rotativa. Posteriormente toda a área experimental foi protegida com uma
rede construída com fio de nylon para evitar o ataque de pombos.
As mudas de alface foram adquiridas da casa agropecuária local e transplantada com 5 dias
após a semeadura em canteiros (Figura 4) com espaçamento de 20 cm entre plantas 2 e 20 cm
entre linhas e profundidade de 2 cm.

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Figura 4 3 Canteiro para transplantio

Fonte: Hasegawa et al. (2021)

Logo após o transplante foi realizada a irrigação manual de todas as parcelas para garantir o
pegamento das mudas. Logo após o término do transplante foram instalado os sistemas de
irrigação e diariamente, por ser um horário proveniente de temperaturas mais amenas, às 17
horas, foi aplicada uma lâmina líquida de aproximadamente 4 mm, que foi estimada
empregando a fórmula de Blaney-Criddle.
A aplicação dos tratamentos se deu conforme cada particularidade do método de irrigação. O
processo de irrigação ocorreu desde o dia do transplantio de mudas até ao dia anterior a colheita,
para coleta de dados, dia 3 de novembro de 2021.
A água utilizada na irrigação dos tratamentos é proveniente da caixa principal da Universidade,
que por sua vez, é abastecida por um poço artesiano.
O funcionamento dos sistemas de irrigação foi garantido através de uma bomba ativada por
circuito fotovoltaico, acionada manualmente e conectada em cada sistema de irrigação.
O conjunto solar fotovoltaico para bombeamento da água foi instalado na horta do campus
favorecendo a utilização do espaço físico necessário e também de alguns equipamentos
disponíveis, tais como tubulações, registros e reservatório de água.
O coletor solar fotovoltaico policristalino (Figura 5) utilizado no conjunto solar fotovoltaico,
apresenta as seguintes características: tensão máxima de 17,50 V; corrente máxima de 7,71 A;
tensão de circuito aberto 22,3 V; corrente de curto circuito 8,20 A; potência máxima em
condições de teste padrão 135 Wp e eficiência do módulo fotovoltaico 13,5%.
Com capacidade de geração com superávit para possibilitar armazenamento de energia através
de bateria estacionária de 12 Vcc. Foi acoplado em suporte tipo mesa, em estrutura móvel,
possibilitando ângulo de inclinação (10º + latitude do local) e orientação do eixo norte-sul, para
melhor aproveitamento solar.

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Figura 5 3 Sistema de bombeamento fotovoltaico

Fonte: Hasegawa et al. (2021)

Utilizou-se bomba elétrica pressurizadora de superfície com bombeamento por três diafragmas,
auto escorvado, deslocamento positivo, vazão máxima 760 L/h e tensão de trabalho 12 Vcc.
Para possibilitar o armazenamento de energia gerada pelo coletor solar, foi conectada uma
bateria estacionária 12 V, com capacidade de 45 Ah. Este armazenamento de energia se fez
necessário para propiciar o funcionamento do motor elétrico em situações climáticas
desfavoráveis, tais como dias nublados de baixo aproveitamento solar.
O controlador de carga do conjunto fotovoltaico de características: máxima corrente 15 A;
Máxima carga elétrica 15 A; ajuste e reconhecimento automático de voltagem 12/24 V;
utilizado para desativar ao pôr-do-sol; favorecer maior vida útil e melhor desempenho da
bateria; detectar dia/noite pelo painel solar; desligar automaticamente com baixa tensão de
entrada evitando danos a bateria e ativar automaticamente, quando a tensão estiver no nível de
trabalho.

2.7 Variáveis analisadas: massa fresca da parte aérea, diâmetro da cabeça de alface,
altura, número de folhas e massa seca da parte aérea.
Para coletar as plantas, o procedimento foi realizado de maneira manual. As plantas foram
retiradas do solo cuidadosamente segurando pelo caule bem próximo ao solo, com uma leve
pressão para cima, podendo assim então retirar a planta inteira sem prejudica-la.
Os dados da massa fresca foram coletados logo após a colheita das plantas, em balança analítica
de precisão de 0,001 g.
O diâmetro da cabeça de alface foi medido com a planta ainda no canteiro com auxílio de fita
métrica.
A altura e número de folhas foram medidos após a colheita das plantas, ainda frescas, com o
auxílio de fita métrica no caso da altura.
Para medir a massa seca da parte aérea, as plantas foram acondicionadas as plantas de maior
peso de massa fresca das parcelas em sacos de papel pardo e encaminhadas para a estufa de

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ventilação forçada a 60°C até obter valor de massa constante. Após a secagem, o conteúdo de
cada saco foi medido em balança de precisão para determinar a massa seca.

2.8 Análise estatística


Os resultados obtidos foram analisados estatisticamente por meio da aplicação do teste de
Tukey a 5% de probabilidade de erro, utilizando o Software SISVAR.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores médios dos dados de massa fresca da parte aérea, diâmetro da cabeça de alface
(Figura 6), número de folhas, altura da planta desde a raiz até a extremidade da parte aérea e
massa seca da parte aérea, em gramas, da cabeça de alface na ocasião da colheita estão na
Tabela 3.

Figura 6 3 Massa fresca da parte aérea da cabeça de alface.

Fonte: Hasegawa et al. (2021)

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Tabela 3 - Valores médios de massa fresca da parte aérea (MFC), diâmetro da cabeça (DMT), número de folhas
(NDF), altura (ALT) e massa seca da parte aérea (MSC).

TRATAMENTO MFC (g) DMT (cm) NDF Alt (cm) MSC (g)
1 (MAN) 102,4 b 28,55 b 16,65 a 23,535 a 8,8897 c
2 (GOT) 140,925 a 31,5 a 17,6 a 24,875 a 11,264 c
3 (MIC) 127,975 ab 25,775 c 17,15 a 24,225 a 19,1962 b
4 (ASP) 98,775 b 26,175 c 16,425 a 24,25 a 23,95725 a
CV (%) 16,96 7,62 5,93 5,43 14,57
Médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha e na coluna não se diferenciam pelo
teste de Tukey a 0,05 de significância.
Fonte: Hasegawa et al. (2021)
3.1 Massa fresca da parte aérea
Conforme os dados da Tabela 3 pode-se observar que os tratamentos T2 e T3 produziram
maiores valores médios de matéria fresca da parte aérea, não diferindo significativamente entre
si. Os tratamentos T1 e T4 produziram menos valores e não foi observado diferença estatística
entre eles, porém, não diferiram também do tratamento T3.
Alencar (2003) obteve resultados parecidos ao trabalho ao avaliar a produção das plantas de
alface americana em duas épocas de cultivo sob condições semelhantes, com o sistema de
irrigação por gotejamento se sobressaindo comparado aos outros na mesma época de colheita.
Azevedo (2004) encontrou melhores resultados para produção de massa fresca e massa seca de
alface no tratamento de sistema de irrigação gotejamento, que diferiu estatisticamente dos
outros tratamentos propostos.

3.2 Diâmetro da cabeça de alface


Observa-se através da Tabela 3 que o tratamento T2 produziu maior diâmetro de cabeça
diferindo significativamente dos demais. O tratamento T1 produziu diâmetro de cabeça menor
em relação ao tratamento T2, no entanto, foi superior e diferiu significativamente dos
tratamentos T3 e T4 que não diferiram estatisticamente entre si.

3.3 Número de folhas


O número de folhas dos tratamentos não difere significantemente entre si, apresentando valores
médios entre 16 e 17 folhas. Porém, neste parâmetro, o tratamento que apresentou maior valor
médio entre os tratamentos foi o tratamento 2 (T2), com valor igual a 17,6 folhas por planta.

3.4 Altura
Nota-se que os dados de altura não apresentam diferenças significativas comparando os
tratamentos propostos, porém, neste caso, o tratamento T4, aspersão convencional obteve a
média de maior valor de altura.

3.5 Massa seca da parte aérea


A maior média da massa seca da parte aérea foi observada quando irrigou por aspersão
convencional T4 (Tabela 3), que foi superior e diferenciou dos demais tratamentos. Os menores
valores médios foram observados nos tratamentos T1 e T2 que não diferiram entre si, porém,
foram inferiores e diferiram estatisticamente do tratamento T3. Os resultados não estão de
acordo com Alencar (2003) que não observou diferença significativa na produção de massa

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seca da parte aérea da cultura de alface irrigado por 78 dias utilizando diferentes sistemas de
irrigação.

4 CONCLUSÕES
Conclui-se que no presente trabalho ao analisar os sistemas propostos, o tratamento com sistema
de irrigação por gotejamento (T2) produziu maior valor médio de matéria fresca da parte aérea
da alface e o tratamento com sistema de irrigação por aspersão convencional (T4) produziu
maior valor médio da matéria seca da parte aérea da alface.

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AZEVEDO, Leonardo Pretto de. AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA E
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AS CONTRATAÇÕES INTEGRADAS E SEMI-INTEGRADAS NA LEI
14.133/2021 E A IMPORTÂNCIA DO USO DA METODOLOGIA BIM

Everton Geraldo Serathiuk¹ (Engenheiro Civil, Universidade Tecnológica Federal do Paraná


– UTFPR, Campus Apucarana, PR. E-mail: everton@serathiuk.com)
Fernanda Louize Monteiro Brocardo Fernandes² – (Prof. Mestre em Gestão da Construção,
Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, Campus Apucarana, PR. E-mail:
f.brocardo.arq@gmail.com)

Resumo: Este artigo busca incentivar o debate das contratações integradas e semi-
integradas na Lei 14.133/2021 e o uso da metodologia BIM para mitigação de eventuais
problemas nas licitações, contratações e na qualidade dos projetos. A partir da preocupação
de órgãos e sindicatos de classe, discorre-se sobre as vantagens da adoção do BIM para
enfrentar problemas de sobrepreços, superfaturamentos, quantificações errôneas e questões
de prazos de entrega de obras e serviços de engenharia.
Palavras-chave: BIM, licitações, contratações integradas, contratações semi-integradas,
projetos de engenharia, projetos de arquitetura

Abstract: This article seeks to encourage the debate on integrated and semi-integrated
contracting in Brazilian Law 14.133/2021 and the use of the BIM methodology to mitigate any
problems in bidding, contracting and in the quality of projects. Based on the concern of class
bodies and unions, the advantages of adopting BIM are discussed to face problems of
overpricing, overbilling, erroneous quantification and issues of delivery deadlines for
engineering works and services.

Keywords: BIM, bidding, integrated contracting, semi-integrated contracting, engineering


projects, architectural projects

Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 32ª edição – Abril de 2023 - página 1 de 10
1. INTRODUÇÃO

A lei de licitações brasileira foi atualizada recentemente. Com ela vieram um conjunto
de inovações testadas no Regime Diferenciado de Contratações (Lei nº 12.462/2011) e na Lei
do Pregão (Lei nº 10.520/2002), visando aumentar a eficiência e a governança nas licitações
e contratações públicas. Contudo, a nova lei também herda questionamentos, entre eles
referentes às formas de contratação integrada e semi-integrada. Estes modelos de
contratação foram alvo de contestação de sindicatos e conselhos profissionais, por conta da
fragilização da execução dos projetos e pela falta de critérios técnicos e de qualidade nas
licitações de serviços e obras de arquitetura e engenharia.
Visando discorrer sobre o tema, este artigo pretende abrir um debate sobre a adoção
da contratação integrada e semi-integrada e emitir uma proposta de solução a partir do uso
da metodologia BIM, por conta das singularidades destas formas de contratação e dos
benefícios que o BIM pode promover a estes tipos de contratação.

2. A NOVA LEI DE LICITAÇÕES, A CONTRATAÇÃO INTEGRADA E A SEMI-INTEGRADA


E QUESTIONAMENTOS RELATIVOS À QUALIDADE DOS PROJETOS

A Lei 14.133/2021 trouxe inovações em relação à Lei de licitações anterior, a Lei


8.666/1993. Entre elas estão novos regimes de contratação de obras e serviços de
engenharia, tais como a contratação integrada e a contração semi-integrada. As mesmas
estão discriminadas nos incisos XXXII e XXXIII do Art. 6º da nova lei:
Art. 6º Para os fins desta Lei, consideram-se:
(...)
XXXII - contratação integrada: regime de contratação de obras e serviços de
engenharia em que o contratado é responsável por elaborar e desenvolver os
projetos básico e executivo, executar obras e serviços de engenharia, fornecer
bens ou prestar serviços especiais e realizar montagem, teste, pré-operação e
as demais operações necessárias e suficientes para a entrega final do objeto;
Na contratação semi-integrada, conforme inciso XXXIII do mesmo Art. 6º da nova lei,
a empresa não é a responsável pelo projeto básico, o que fica a cargo da administração
pública.

Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 32ª edição – Abril de 2023 - página 2 de 10
A não execução dos projetos básicos e executivos pela administração é motivo de
controvérsias por órgãos de controle e categorias profissionais. Instituições, como o CAU/BR
(Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil) e o CONFEA (Conselho Federal de
Engenharia e Agronomia), se manifestaram contra a contratação integrada para obras
públicas, conforme pode-se verificar em um Manifesto de 2014, no qual pedem a exclusão da
contratação integrada da Lei 12.462/2011, a Lei do Regime Diferenciado de Contratações,
onde este regime já era previsto.
Na revisão da lei 12.462/2011 – RDC – exclua-se o sistema de “Contratação Integrada”
para obras públicas urbanas, por prejudicial ao interesse coletivo quanto à qualidade e ao
custo das mesmas, bem como à ética nos negócios públicos. (Manifesto de 2014 assinado
pelo CAU Brasil, entidades do CEAU, CONFEA e o outras instituições - As OBRAS PÚBLICAS
e o DIREITO À CIDADE - revisão das leis 8.666/93 e 12.462/2011 (RDC))
A preocupação está baseada na dispensa de elaboração de projetos básicos ou
executivos pela administração pública, que ficaria com a incumbência de oferecer um
anteprojeto.
De outra forma o Ministro Benjamin Zymler, no voto revisor do Acórdão 1.388/2016-
Plenário, fez a seguinte observação:
Ou seja, o anteprojeto não deve se tratar de uma peça imprecisa ou incompleta,
que não defina adequadamente o objeto, mas sim de minucioso trabalho de
engenharia que, aprofundando a melhor alternativa oriunda dos estudos de
viabilidade técnica e econômica, que o antecedem, permita à Administração
demonstrar como deve ser atendido o interesse público, sem impedir que
inovações incorporadas pela iniciativa privada possam melhorar ainda mais a
vantajosidade no atendimento ao programa de necessidades.
Os parágrafos 2º e 3º do Art. 46 da Lei 14.133/2021 detalham o regime de contratação
integrada, relatando os meios de governança e controle que a administração utilizará para
avaliar projetos, orçamentos e memoriais de acordo com o objeto a ser contratado em uma
licitação. Como visto anteriormente, é dispensada a elaboração de projeto básico pela
administração, ficando a cargo da empresa a ser contratada.
§ 2º A Administração é dispensada da elaboração de projeto básico nos casos
de contratação integrada, hipótese em que deverá ser elaborado anteprojeto
de acordo com metodologia definida em ato do órgão competente, observados
os requisitos estabelecidos no inciso XXIV do art. 6º desta Lei.

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§ 3º Na contratação integrada, após a elaboração do projeto básico pelo
contratado, o conjunto de desenhos, especificações, memoriais e cronograma
físico-financeiro deverá ser submetido à aprovação da Administração, que
avaliará sua adequação em relação aos parâmetros definidos no edital e
conformidade com as normas técnicas, vedadas alterações que reduzam a
qualidade ou a vida útil do empreendimento e mantida a responsabilidade
integral do contratado pelos riscos associados ao projeto básico.
Ao mesmo passo, a contratação semi-integrada permite a alterações em projetos
desde que demonstrada a vantajosidade para a administração pública, como previsto no § 5º
do Art. 46.
§ 5º Na contratação semi-integrada, mediante prévia autorização da
Administração, o projeto básico poderá ser alterado, desde que demonstrada
a superioridade das inovações propostas pelo contratado em termos de
redução de custos, de aumento da qualidade, de redução do prazo de
execução ou de facilidade de manutenção ou operação, assumindo o
contratado a responsabilidade integral pelos riscos associados à alteração do
projeto básico.
Da mesma forma que a Lei 14.133/2021 traz estes regimes de contratação, a mesma
não oferece detalhes maiores referentes aos procedimentos técnicos de engenharia a serem
executados na licitação, ficando a cargo da administração a definição dos indicadores e
resultados que balizarão a escolha da melhor proposta.
Conforme escreve Marçal Justen Filho (2013), na contratação integrada “o particular
arcará com responsabilidade correspondente às escolhas que lhe incumbem. Isso significa
que o contratado assumirá os riscos pertinentes às escolhas realizadas”.

3. A ADOÇÃO DA METODOLOGIA BIM E A PROPOSTA DE UTILIZAÇÃO EM


CONTRATAÇÕES INTEGRADAS E SEMI-INTEGRADAS

Neste sentido a adoção da metodologia BIM (Building Information Modelling – BIM) é


essencial para aumentar a qualidade dos projetos, e para realizar uma análise mais
aprimorada e criteriosa dos projetos e orçamentos elaborados pelas contratadas. O § 3º do
Art. 19 prevê a preferência da utilização do BIM nas licitações.

Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 32ª edição – Abril de 2023 - página 4 de 10
Art. 19. Os órgãos da Administração com competências regulamentares
relativas às atividades de administração de materiais, de obras e serviços e de
licitações e contratos deverão:
(...)
§ 3º Nas licitações de obras e serviços de engenharia e arquitetura, sempre
que adequada ao objeto da licitação, será preferencialmente adotada a
Modelagem da Informação da Construção (Building Information Modelling -
BIM) ou tecnologias e processos integrados similares ou mais avançados que
venham a substituí-la.
A adoção do BIM permite aos licitantes que oferecem soluções de engenharia
diferentes a possibilidade de visualizar melhor as características do projeto concorrente, tais
como materiais e sistema construtivo, na disputa de um mesmo objeto. Gerando assim a
busca da proposta mais vantajosa, com transparência.
Estudos mostram que a metodologia BIM é um caminho sem volta. Kymmel (2008)
relata esta visualização dos projetos em um mundo 3D e as dificuldades de comunicação nos
modelos 2D. E também relata que os modelos 2D, até então utilizados, são imperfeitos para
planejar e construir projetos complexos. Eastman (1991) relatava que o processo BIM altera
a maneira tradicional de projetar, o que aponta para a concepção de novos métodos e
processos para a construção civil.
Kymel (2018) diz que “um documento 2D (desenho) é usado para comunicar cada
troca de informações entre pessoas; esta comunicação 2D resulta em uma visualização 3D
em cada transição, e assim cada passo requer uma tradução na cabeça de alguém, até que
as instruções resultantes finalmente precisam ser visualizadas corretamente pela pessoa que
está construindo o projeto. Essas transições entre as pessoas podem permitir que os
descuidos e os erros passem despercebidos até que seja tarde demais para abordá-los de
forma eficaz". Estes conflitos dos projetos em 2D são minimizados no processo BIM, já que
são feitos de maneira integrada.
Quando os regimes de contratação integrada ou semi-integrada forem utilizados, o
BIM auxiliará em evitar o superfaturamento e o sobrepreço, diminuir custos de obras, diminuir
prazos de entrega e controlar resíduos. Diminuindo um pouco a preocupação dos órgãos de
controle e entidades de classe. Visto que “um modelo BIM é uma simulação do projeto e
consiste em modelos 3D dos componentes do projeto com links com todas as informações
necessárias relacionadas ao planejamento, construção ou operação do projeto e

Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 32ª edição – Abril de 2023 - página 5 de 10
descomissionamento” (Kymmel, 2018). Ou seja, de um projeto original retiram-se informações
mais precisas do que em projetos 2D, o que evita erros em quantificações, melhor visualização
dos serviços a serem executados, e assim, permite uma proximidade maior da realidade.
A tabela a seguir apresenta a consolidação das principais irregularidades encontradas
nas fiscalizações realizadas pelo TCU no âmbito do Fiscobras/2011 (plano de fiscalização do
TCU):
Achado de auditoria Qtde de Obras Percentual
Sobrepreço/superfaturamento 128 55,65%
Projeto básico/executivo deficiente ou desatualizado. 124 53,91%
Restrição ao caráter competitivo da licitação. 47 20,43%
Orçamento do Edital / Contrato / Aditivo incompleto ou inadequado. 33 14,35%
O orçamento não é acompanhado das composições de todos os
20 8,70%
custos unitários de seus serviços no Edital / Contrato / Aditivo.
Fiscalização deficiente ou omissa. 19 8,26%
Ausência de cadastramento de contrato no SIASG. 17 7,39%
Inadequação ou inexistência dos critérios de aceitabilidade de preços
15 6,52%
unitário e global.
Liquidação irregular da despesa. 14 6,09%
Ausência de termo aditivo formalizando alterações das condições
14 6,09%
inicialmente pactuadas.
Descumprimento de determinação exarada pelo TCU. 13 5,65%
Impropriedades na execução do convênio 13 5,65%
Execução de serviços com qualidade deficiente. 11 4,78%
Licitação realizada sem contemplar os requisitos mínimos exigidos
10 4,35%
pela Lei 8.666/93.
Adiantamento de pagamentos. 10 4,35%
Existência de atrasos injustificáveis nas obras e serviços. 10 4,35%
Critério de medição inadequado ou incompatível com o objeto real
10 4,35%
pretendido.
Quantitativos inadequados na planilha orçamentária 10 4,35%
Total da tabela 518
Tabela 1 – Irregularidades encontradas por fiscalização realizada pelo TCU em 2011

Verificando que os projetos deficientes ou desatualizados foram a segunda maior fonte


de irregularidades encontradas pelo TCU em 2011, entende-se a preocupação de
profissionais e sindicatos com a qualidade dos projetos em obras e serviços de engenharia
na administração pública. Por isto, verifica-se a necessidade dos órgãos públicos e empresas
ajustar o foco para a execução de projetos de qualidade, com investimento e educação em
tecnologia. E a metodologia BIM pode ser importante para que haja um alcance deste objetivo.
O BIM oferece uma transição suave entre a fase conceitual de projeto, construção e
fase operacional, o que pode permitir também um “pouso suave” entre as fases de licitação,
contratação, execução e operação. Assim como a Nova Lei de Licitações, o BIM tem foco no

Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 32ª edição – Abril de 2023 - página 6 de 10
planejamento. Para a execução de um projeto em BIM e a adição das diversas informações
dentro do projeto, ocorre uma concentração maior do trabalho de detalhar e modelar no início
de um projeto, diminuindo esforços nas etapas subsequentes. Além disto o fluxo de trabalho
concentrado no planejamento torna mais brandos os problemas posteriores.
Na Coletânea de Implementação do BIM para Construtoras e Incorporadoras da CBIC
(2016), em seu Volume 2, a mesma confere ao responsável por liderar, coordenar e gerenciar
o processo BIM, as seguintes verificações:
• Verificação visual: Garantir que só existem componentes inseridos de forma
consciente e intencionalmente nos modelos e que o objetivo do projeto foi alcançado,
através de uma verificação específica, realizada com o uso de um software de
navegação/verificação de modelos;
• Verificação de interferências: Identificar inconsistências espaciais e geométricas nos
modelos, utilizando um software de verificação de modelos que possua a
funcionalidade de detecção de conflitos (clash detection);
• Verificação de padrões: Verificar se o modelo foi desenvolvido de acordo com os
padrões mínimos acordados e alinhados com a equipe de projeto;
• Validação de elementos: Garantir que os conjuntos de dados não possuem
elementos indefinidos ou incorretos.
O Plano de Execução BIM deve “definir, com clareza, os papéis de todos os envolvidos
no processo, além de garantir que todas as equipes de projeto trabalhem com plataformas
compatíveis e que todos os dados disponibilizados estejam em conformidade com as
necessidades das equipes (GUIA AsBEA – Boas Práticas em BIM, 2015).”
Fica claro, pelo exposto nos parágrafos acima, que estas verificações e coordenação,
além da liderança, devem ser de responsabilidade do contratante, ou seja, do órgão que
promover a licitação, para garantir a fidelidade dos projetos ao planejamento e à obra em
questão. Mesmo que os projetos estejam a cargo do contratado.
O CADERNO BIM do Governo do Estado do Paraná, por exemplo, conferiu à
contratada a entrega do Plano de Execução BIM (PEB). Contudo, não definiu o dever da
contratante em produzir o seu próprio PEB para a contratação de empresas em cada licitação.
O que pode ser um erro, do ponto de vista em que a empresa pode entregar níveis de
detalhamento inferiores aos requeridos, e mudar o objeto do contrato durante a execução do
serviço, não garantindo a fidelidade ao planejamento.

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Ressalta-se a necessidade de definições de métricas de desempenho BIM. Succar
(2010) diz que “sem métricas, equipes e organizações não conseguem medir
consistentemente seus próprios sucessos ou fracassos. Sem medição, nenhuma melhoria
significativa de desempenho pode ser alcançada, os investimentos financeiros podem ser mal
feitos e muita eficiência pode ser perdida”. Por isto, a administração pública precisa controlar,
fiscalizar, fazer gestão e trabalhar as informações dos processos BIM, para efetivar a melhoria
contínua de seus processos.

4. AO ENCONTRO DOS PROPÓSITOS DA ADOÇÃO DA METODOLOGIA BIM

Considera-se então o uso das ferramentas BIM, um ponto importante para a solução
dos problemas que deverão ser enfrentados nas contratações integradas e semi-integradas
na Lei 14.133/2021.
Por exemplo, a extração de quantidades de forma automática e direta do projeto,
quando o modelo é confiável, observando as verificações necessárias, torna-se um fator
importante para a melhor execução de uma obra. E possibilita-se, também, menores
alterações em quantitativos, com melhor execução por conta da forma integrada no processo
BIM, e consequentemente com menor risco de mal uso dos recursos públicos empregados.
A construção do procedimento licitatório desde os Estudos Preliminares (ou
anteprojeto), a execução do projeto básico, a orçamentação, a realização do edital e minutas
de contrato, os projetos executivos até à fiscalização podem ter a utilização de ferramentas
BIM.
O BIM pode incorporar formulários, textos, planilhas, tabelas, e outros documentos e
informações, além da modelagem de uma obra ou serviços de engenharia. Além disto, há a
exigência de estabelecimento de fluxos e padronizações. O que fornece a possibilidade de
automatização de processos, antes feitos de maneira manual e, às vezes, com perdas de
informações entre documentos. Imagine-se, que, a partir da aplicação de uma prévia
padronização e o uso da metodologia BIM possa ser possível a confecção de projetos básicos,
editais e minutas, sem a necessidade de digitações manuais, a partir de um projeto de
engenharia ou arquitetura. Porque o BIM pode trabalhar com estas informações dentro de
seus softwares e processos, inclusive na gestão.
Em projetos padronizados de obras (de escolas, postos de saúde, agências de órgãos
públicos, delegacias) a utilização do BIM poderia ser ainda mais vantajosa, porque a coleta

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de informações destes seria facilitada (visto que não haveria necessidades de ajustes em
projetos para buscar as informações), o que ampliaria a possibilidade de geração de projetos
básicos, especificações técnicas e orçamentos de maneira automatizada.
Para além do uso do BIM para as etapas de contratação, a fiscalização pode utilizá-lo
para análises e conferências, até mesmo de forma automatizada, como no uso da realidade
virtual, que mesclam os ambientes físico e virtual usando programas e aplicativos. Isto pode
ampliar os poderes de fiscalização e fornecer mais informações e elementos aos fiscais de
obras e órgãos fiscalizadores de recursos públicos, tais como Tribunais de Contas, auditorias
internas e controladorias.
O Governo Federal lançou pelo Decreto Nº 9.983, de 22 de agosto 2019 a Estratégia
Nacional de Disseminação do BIM – Estratégia BIM BR. Até mesmo antes deste decreto,
projetos pilotos foram desenvolvidos e seguem em execução por departamentos pré-
selecionados na estratégia BIM BR, como, por exemplo, o Projeto Proarte do Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), o Projeto OPUS do Exército Brasileiro
e o Projeto Aeroportos da Secretaria de Aviação Civil (SAC) (Santos, Piacente, Neves,
Azevedo, 2021). Espera-se que os planos de disseminação do BIM obtenham sucesso e que
possam alcançar cada vez mais os órgãos públicos e a indústria da construção civil brasileira
em geral.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando a preocupação dos produtores de projetos e serviços de engenharia e


arquitetura com as contratações integradas de projetos e obras, buscou-se evidenciar a
possibilidade de mitigação dos eventuais problemas nas contratações com o uso da
metodologia BIM.
Caberá aos órgãos públicos e empresas contratadas a gestão do recurso público, que
poderá ser melhor gerido com o uso das ferramentas BIM disponíveis. Neste caso, a
tecnologia vai ao encontro da economicidade, da governança e da transparência, cabem aos
mesmos o dever de ir ao encontro da tecnologia para buscar seus benefícios.

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6. REFERÊNCIAS

ASBEA. Guia AsBEA. Boas Práticas em BIM. Fascículo II. Fluxo de projetos em BIM:
planejamento e execução. Agosto, 2015. Disponível em: < http://www.asbea.org.br/manuais>
Acesso em: 14 de março de 2022.
BRASIL. Lei 14.133, de 1º de abril de 2021. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/L14133.htm. Acesso em:
19/01/2022.
______. Auditoria de obras públicas / Tribunal de Contas da União; conteudista: André
Pachioni Baeta. – Brasília: TCU, Instituto Serzedello Corrêa, 2012. Conteúdo: Módulo 1:
Orçamento de obras. Aula 1: Introdução ao curso e conceitos e propriedades do orçamento
de obras, p. 3. Ambiente Virtual de Educação Corporativa do Tribunal de Contas da União.
EASTMAN, C.M. The evolution of CAD: Integrating multiple representations. Building and
Environment, Los Angeles, v. 26, p. 17-23, 1991.
GOVERNO DO PARANÁ. Caderno BIM: Caderno de Especificações técnicas para
contratação de Projetos em BIM. Curitiba, 2018.
CATELANI, Wilton Silva. Coletânea Implementação do BIM Para Construtoras e
Incorporadoras. Volume 2 - implementação BIM. Brasília: CBIC, 2016.
BRASIL. Tribunal de Contas da União. RA: 03095820148, Relator: ANA ARRAES, Voto do
Revisor: Benjamin Zymler, Data de Julgamento: 01/06/2016, Plenário.
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários ao RDC. São Paulo: Dialética, 2013.
CONSELHO DE ARQUITETURA E URBANISMO DO BRASIL et al. Manifesto: As OBRAS
PÚBLICAS e o DIREITO À CIDADE - revisão das leis 8.666/93 e 12.462/2011 (RDC), 2014.
SUCCAR, Bilal et al. The five components of BIM performance measurement. In: CIB World
Congress. Salford: United Kingdom, 2010.
KYMMELL, Willem. Building information modeling. Planning and managing construction
project with 4D and simulations. McGraw-Hill, 2008.
SANTOS, D. M.; PIACENTE, F. J.; NEVES, J. M. S. das; AZEVEDO, M. M. de. Comparative
study of the implementation of building Information Modelling in public works in Brazil and the
United Kingdom. Research, Society and Development, [S. l.], v. 10, n. 1, p. e25310111686,
2021.

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ANÁLISE DOS IMPACTOS DO MARCO REGULATÓRIO DO
SANEAMENTO BÁSICO: LEI 14026/2020
Cassiano dos Santos Tuchinski (Engenheiro Civil pela Universidade Estadual de Ponta Grossa); e-
mail: cassituchinski@gmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3685813628503626
Lizandro Diniz Borgo (Engenheiro Civil pela Universidade Estadual de Ponta Grossa); e-mail:
dinizlizandro@gmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/4448880481104312
Guilherme Araujo Vuitik (Professor Adjunto na Universidade Estadual de Ponta Grossa, Doutor em
Engenharia Hidráulica e Saneamento pela Universidade de São Paulo); e-mail: gavuitik@uepg.br.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9808052099862226

RESUMO
Pela Constituição Federal (CF), o conceito de Saneamento Básico abrange: abastecimento
de água; esgotamento sanitário; manejo das águas pluviais; e resíduos sólidos. Esse direito,
segundo o artigo 23, da CF é de competência comum da União, Estados, Distrito Federal e
Municípios. Esta demanda era, até 2020, regulamentada pela Lei 11.445/2007, que
estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico. Com a proposta de atualizar a Lei
11.445/2007, em 15/07/2020 é sancionada a Lei 14026/2020, o Marco Regulatório do
Saneamento Básico. Gerando debates políticos, institucionais, e mesmo entre especialistas,
este Marco objetiva a universalização de um serviço que vem sendo prestado, em
predominância, de forma precária e desigual no país, definindo diretrizes a serem seguidas
uniformemente. Nesse sentido, este estudo tem como objetivo analisar os impactos da
inovação legislativa de forma linear, chegando até o estado da arte atual, com análises
investigativas em bases de dados oficiais do Governo Federal, a exemplo do Sistema Nacional
de Informações sobre Saneamento e também bibliografia especializada no assunto
<legislação no saneamento básico=, com ênfase nos serviços de tratamento de água e
esgotamento sanitário. Por fim são apresentadas reflexões sobre pontos chave do Marco do
Saneamento, como a questão das metas de universalização e atração da iniciativa privada,
além de discutir-se o novo papel da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico. Nota-
se, após discussões que o acesso aos serviços de água e esgotamento ainda está longe de
ser efetivado como um direito para boa parte da população brasileira, com índices de
cobertura ainda distantes do que se entende por universalização. Ademais, há desafios que
obstam o objetivo principal, estes de ordem social, econômica, legal e política e que o direito

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constitucional anteriormente citado para ser assegurado necessita de aportes financeiros
elevados. Paradoxalmente, há certo imediatismo para que as medidas sejam efetivadas, ao
mesmo passo que é sabido que esse processo não se dá de forma imediata. É preciso
projetos a curto, médio e longo prazo que tenham dotação orçamentária e estrutura
empresarial adequada para execução de obras de grande porte, além disso, é necessária
uma continuidade de políticas públicas, e que, mesmo com mudança no pêndulo político, não
haja rupturas com projetos que estão prosperando. Essencial pontuar, por fim a necessidade
de uma agência reguladora forte e menos descentralizada na gestão do saneamento,
cabendo essa função à Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).

Palavras chave: Agência Nacional de Águas; Gestão do saneamento a partir de 2020;


Impactos no manejo de água e esgoto; Marco do Saneamento; Regulação do saneamento
básico.

IMPACTS ANALYSIS OF THE SANITATION REGULATORY


FRAMEWORK: LAW 14026/2020
ABSTRTACT
According to the Brazilian Federal Constitution (FC), the concept of Basic Sanitation covers
water supply; sanitary sewage; rainwater and solid waste management. This right, according
to article 23 of the Federal Constitution, is a common competence of the Union, States, Federal
District and Municipalities. This demand was, until 2020, regulated by Law 11.445/2007, which
establishes national guidelines for basic sanitation. In order to update Law 11.445/2007, on
07/15/2020, Law 14026/2020, the Regulatory Framework for Basic Sanitation, was sanctioned.
Generating political and institutional debates, and even among specialists, this Framework
aims to universalize a service that has been provided, predominantly, in a precarious and
unequal way in the country, defining guidelines to be uniformly followed. In this sense, this
study aims to analyze the impacts of legislative innovation in a linear way, reaching the current
state of the art, with investigative analyzes in official databases of the Federal Government,
such as the National Sanitation Information System and also bibliography. specialized in the
subject <law on basic sanitation=, with emphasis on water treatment and sanitary sewage
services. Finally, reflections on key points of the Sanitation Framework are presented, such as
the issue of universalization goals and attraction of the private sector, in addition to discussing
the new role of the National Water and Basic Sanitation Agency. It is noted, after discussions,

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that access to water and sewage services is still far from being effective as a right for a large
part of the Brazilian population, with coverage rates still far from what is understood by
universalization. In addition, there are challenges that impede the main objective, these of a
social, economic, legal and political order and that the aforementioned constitutional right to
be guaranteed requires high financial contributions. Paradoxically, there is a certain immediacy
for the measures to be implemented, while it is known that this process does not take place
immediately. Short, medium and long-term projects are needed that have a budget and
adequate business structure for the execution of large-scale works, in addition, a continuity of
public policies is necessary, and that, even with a change in the political pendulum, there are
no ruptures. with projects that are thriving. Finally, it is essential to point out the need for a
strong regulatory agency that is less decentralized in the management of sanitation, with this
function being the responsibility of the National Agency for Water and Basic Sanitation (ANA).

Keywords: National Water Agency; Sanitation management from 2020; Impacts on water and
sewage management; Sanitation Framework; Basic sanitation regulation.

1. INTRODUÇÃO
O setor de saneamento básico no Brasil - que é definido em 4 pilares quais sejam:
abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo das águas pluviais e resíduos sólidos
- teve, desde seus primórdios, desafios estruturais derivados de fatores como a ocupação
desordenada das cidades, moradias precárias e déficits no atendimento. Nesse contexto, em
determinados momentos históricos, fez-se necessária uma regulação do setor com vistas a
um maior controle e melhor prestação dos serviços. Nessa contenda, pode citar-se como
exemplos o Plano Nacional do Saneamento Básico (PLANASA) e a Lei 11445/07 (BRASIL,
2007), conhecida como Lei Nacional do Saneamento Básico. Entretanto, mesmo depois de
décadas, ainda não se conseguiu o objetivo principal: a universalização dos serviços. No ano
de 2020, atravessando uma fase pandêmica, a qual evidencia desigualdades sociais e a
dificuldade de acesso aos serviços básicos, o Estado brasileiro preparou mudanças em uma
área repleta de gargalos e imprescindível para a melhora da qualidade de vida. O Marco
Regulatório do Saneamento Básico 3 Lei 14026/2020, pretende facilitar o acesso da inciativa
privada e prevê prazos e metas para a universalização dos serviços de água, esgoto e
resíduos sólidos, além de fortalecer a centralidade da agência nacional de águas como
entidade de controle e fiscalização.

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De acordo com Daudt (2020), o Marco Regulatório do Saneamento Básico, introduzido por
meio da Lei nº 14.026/2020 (BRASIL, 2020), traz algumas relevantes inovações: a
obrigatoriedade de os contratos definirem metas de desempenho e de universalização dos
serviços, adota como princípio a regionalização dos serviços de saneamento, promove
mudanças substanciais na sua regulação e estimula a concorrência e a desestatização das
Empresas Públicas de saneamento que prestarem serviços de má qualidade, entre outras.
Considerando-se que a demanda por serviços de água tratada, esgotamento sanitário e coleta
de resíduos sólidos aumenta de forma diretamente proporcional ao crescimento das cidades,
presume-se que o planejamento urbano deve estar intrinsicamente ligado à qualidade e
disponibilidade dos serviços a todas as parcelas da população brasileira de forma equânime.
Nessa seara, ao se formular um projeto de Lei, que posteriormente venha a se tornar uma Lei
Ordinária, para regulação de determinado serviço, o que se busca é um incremento
organizacional dos regulamentos em vigor e um controle destes por parte do Estado (na figura
dos Municípios) dos serviços que ele presta ou outorga às empresas.
A aprovação do Marco Regulatório do Saneamento Básico, em 15 de Julho de 2020, objetiva
combater o quadro de déficit dos serviços de saneamento básico no País, abrindo caminhos
para a universalização. Caminhos estes que podem ser por meio do estabelecimento e
implementação de metas e parâmetros técnicos para todo o País, centralizando a regulação,
fiscalização e controle do setor na Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA),
bem como através da promoção de segurança jurídica, propiciando um ambiente atrativo para
investimentos na expansão e melhoria da qualidade dos serviços. (MARQUES, 2021).
Tendo em vista este cenário, o objetivo desta pesquisa foi analisar as contribuições da Lei
14026/2020 perante o atual cenário de prestação e concessão de serviços do saneamento
básico no Brasil.

2. METODOLOGIA
Esta pesquisa trata-se de uma revisão bibliográfica sobre a análise dos impactos do Marco
Regulatório do Saneamento Básico, Lei 14026/2020. O trabalho é predominante discursivo
e que objetiva aprofundar um conhecimento já existente, desta forma, optou-se pela linha
de pesquisa básica descritiva com aspectos qualitativos no que diz respeito à abordagem.
Em um primeiro momento, recorreu-se a coleta de informações em fontes como o website
Sistema Nacional de informações do Saneamento (SNIS) (www.snis.gov.br) e o Instituto
Trata Brasil (https://tratabrasil.org.br/pt/), que forneceram dados atualizados para que se

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pudesse situar um estado da arte da oferta e demanda dos serviços de água e esgoto no
Brasil.
Posteriormente, selecionou-se pontos de destaque da Lei 14026/2020 para
aprofundamento, principalmente as menções à participação ativa da iniciativa privada em
investimentos em infraestrutura, além das metas estabelecidas para que se possa chegar
à universalização dos serviços de saneamento. Ademais, analisou-se o novo papel, mais
centralizador, da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) que será
responsável tanto pela fiscalização quanto pela integração entre estados, municípios e a
união no que diz respeito a recursos hídricos.
Por fim, foi realizada uma análise dos desafios atuais e futuros, levando em conta os
históricos pesquisados e com uma previsão da dificuldade de implantação das novas
medidas perante as diferentes realidades vividas por todo o país, baseado nas análises
realizadas durante todo este trabalho, possibilitando, enfim, a estimativa do potencial de
impacto da Lei 14026/2020 para a universalização do saneamento e demais pontos que o
Marco Regulatório propõe a debater. Os principais eixos de trabalho dessa pesquisa e as
etapas desenvolvidas foram: viés jurídico, onde buscou-se informações em documentos de
cunho legislativo, como a Constituição Federal e as Leis 11.445/20007 e 14026/2020, viés
analítico, em que, ao extrair-se dados, faz-se reflexões e análises que podem ser de cunho
social, econômico ou estrutural, e viés exploratório, onde, analisa-se uma inovação (no
caso em questão, a inovação legislativa) e aborda-se aspectos presentes e de que
maneiras os mesmos podem vir a repercutir no futuro.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Diante de um cenário que engloba múltiplas áreas de conhecimento, sejam elas: técnicas,
sociais ou mesmo políticas, optou-se por focar em macro reflexões acerca da construção
institucional do saneamento básico no país. Frente ao exposto, os objetivos foram
apresentados sequencialmente e serão discutidos como tal, iniciando pela exposição do
estado da arte do saneamento básico no Brasil.

3.1. CENÁRIO DOS SERVIÇOS DE ÁGUA E ESGOTO NO BRASIL:


Nas figuras a seguir serão apresentados dados estatísticos para construção teórica de
possíveis fundamentos que explicam os índices do setor e quais são os obstáculos para a
melhoria dos mesmos. A análise foi realizada com base nos dados do Sistema Nacional de
Informações sobre o Saneamento (SNIS). (BRASIL,2019).

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Com base na Figura 1 é possível analisar que, em 2019, aproximadamente 83,7% dos
municípios da amostra do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), eram
cobertos pelos serviços de água, o que corresponde a 170,8 milhões de pessoas.
Em uma ótica inicial, tem-se a ideia de que o abastecimento de água ocorre em parcela
significativa de lares brasileiros, porém, ao observar-se regionalmente, percebe-se que existe
um grande distanciamento entre a região concentrada no Sudeste e Sul, com índices de 91,1
e 90,5%, respectivamente, e as regiões Nordeste e Norte. Nesta, o índice é de 57,5% de
abastecimento na região, podendo afirmar-se que, segundo o SNIS, de 100 munícipes
(habitantes) da região, aproximadamente 43 não são atendidos pelos serviços de
abastecimento de água.
Outro dado interessante a ser observado é o consumo médio por habitante: Segundo a
Organização das Nações Unidas (ONU) (2015), na publicação <Agenda 2030=, a
média de consumo diário recomendada é de 110 litros por habitante/dia. O valor de
aproximadamente 154 litros por habitantes/dia leva em conta a água que é efetivamente gasta
em atividades rotineiras como banhos, preparo de refeições e uso de torneiras, por exemplo,
mas também mostra o gasto humano com a 89água invisível99, que é aquela utilizada
indiretamente, a exemplo do uso no processo produtivo de alimentos. De acordo com a
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e para a Agricultura (FAO) (2018), no
documento: <A agricultura irrigada pode contribuir no aumento da produção de alimentos no
Brasil=, o setor agropecuário é o que, em média, mais utiliza recursos hídricos. No ano de
2018, cerca de 70% da água foi destinada para o setor agrícola, 20% para o setor industrial e
10% para residências.

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Figura 1: Situação atual dos serviços de água no Brasil

Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento 3 SNIS. (2019)

No que diz respeito às perdas de água na distribuição (fato este que ocorre por perdas reais,
como problemas estruturais de resultantes de má conservação de equipamentos e tubulações
e perdas aparentes, as quais consideram ligações clandestinas, erros de medições ou
defeitos em hidrômetros), o elevado patamar de 39,2% coloca o Brasil como um dos países
que mais desperdiça água na distribuição. Segundo a Empresa de Organização de Sistemas
(EOS) (2019), no Brasil, para cada 100 litros de água captada, tratada e pronta para ser
distribuída, 38 litros são perdidos no caminho por vazamentos, erros de leitura, furtos e outros
problemas. Segundo Trata Brasil (2020), o índice médio de perdas no país é de 38,3%. Em
volume, isso significa 6,5 bilhões de m³ de água tratada jogada fora. Apenas com essa perda
física, seria possível abastecer 30% da população brasileira por um ano.
Em suma, todos os dados e variáveis apresentados até então mostram que é preciso
investimentos muito superiores aos 5,76 bilhões no ano de 2019 para que os serviços de água
cheguem à universalização e sejam entregues com a qualidade desejada (SNIS, 2019). De
acordo com uma pesquisa feita pela empresa Klynveld, Peat Marwick & Goerdeler (KPMG),
em parceria com a Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos
de Água e Esgoto (ABCON), serão necessários R$ 498 bilhões de novos investimentos para

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expansão da infraestrutura de saneamento, sendo R$ 144 bilhões em distribuição de água no
Brasil. (KPMG, 2020).
No que se refere a serviços de esgotamento sanitário (Figura 2) os números são os seguintes:
da amostra total de 4226 municípios e 89,9% da população total brasileira, observa-se que
aproximadamente 110 milhões são beneficiários de sistema de coleta e tratamento de esgoto,
um total percentual de 54,1% da amostra, pouco mais da metade da população.
Em termos regionais há uma evidente assimetria entre o Sudeste, com 79,5% de atendimento
e o Norte, com apenas 12,3% de cobertura. Em uma macro análise conclui-se que das cinco
regiões geoeconômicas do Brasil, apenas duas contam com serviços de esgoto na ordem de
mais de 50%. Isso significa que mais da maioria do esgoto no país tem destinações incorretas,
como a deposição em corpos d´água, por exemplo, comprometendo a qualidade da água e a
sobrevivência de inúmeros ecossistemas, além de prejuízos à saúde da população.

Figura 2: Situação atual dos serviços de esgoto no Brasil

Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento 3 SNIS. (2019)

De acordo a KPMG (2020) e a ABCON (2020) serão necessários R$ 354 bilhões em novos
investimentos em serviços de esgotamento sanitário no país.

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Segundo Mota (2019), pode-se resumir a dificuldade que muitas cidades no Brasil têm
relacionadas aos serviços de fornecimento de água tratada e coleta e tratamento de esgoto
em quatro pontos: dificuldade de acesso aos recursos já disponíveis; projetos mal elaborados;
divergências entre setor público e privado e, ausência de regulação efetiva.

3.2. PRINCIPAIS PONTOS DA LEI 14026/2020

A Lei 14026/2020 altera, em geral, sete dispositivos legais (BRASIL, 2020):


÷ a Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, de criação da Agência Nacional de Águas (ANA);
÷ a Lei nº 10.768, de 19 de novembro de 2003, que dispõe sobre o quadro de pessoal da
ANA;
÷ a Lei nº 11.107, de 6 de abril de 2005, que trata sobre normas gerais de contratação de
consórcios públicos;
÷ a Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007, que estabelece as diretrizes nacionais para o
saneamento básico no país.
÷ a Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos
Sólidos;
÷ a Lei nº 13.089, de 12 de janeiro de 2015, que institui o Estatuto da Metrópole e:
÷ a Lei nº 13.529, de 4 de dezembro de 2017, que trata da participação da União em
fundos de projetos de concessões e parcerias público-privadas.
De acordo com a redação da Lei, em resumo:
Atualiza o marco legal do saneamento básico e altera a Lei nº 9.984, de 17
de julho de 2000, para atribuir à Agência Nacional de Águas e Saneamento
Básico (ANA) competência para editar normas de referência sobre o serviço
de saneamento, a Lei nº 10.768, de 19 de novembro de 2003, para alterar o
nome e as atribuições do cargo de Especialista em Recursos Hídricos, a Lei
nº 11.107, de 6 de abril de 2005, para vedar a prestação por contrato de
programa dos serviços públicos de que trata o art. 175 da Constituição
Federal, a Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007, para aprimorar as condições
estruturais do saneamento básico no País, a Lei nº 12.305, de 2 de agosto de
2010, para tratar dos prazos para a disposição final ambientalmente
adequada dos rejeitos, a Lei nº 13.089, de 12 de janeiro de 2015 (Estatuto da
Metrópole), para estender seu âmbito de aplicação às microrregiões, e a Lei
nº 13.529, de 4 de dezembro de 2017, para autorizar a União a participar de
fundo com a finalidade exclusiva de financiar serviços técnicos
especializados. (BRASIL, 2020).

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3.2.1. Prestação Regionalizada

Uma das soluções buscadas para aplicação as microrregiões foi a prestação regionalizada,
que é a modalidade de prestação integrada de um ou mais componentes dos serviços públicos
de saneamento básico em determinada região cujo território abranja mais de um Município.
(BRASIL, 2020).
No Artigo 3º da lei 14026/2020, a prestação regionalizada é estruturada em 3 diferentes
categorias: região metropolitana, aglomeração urbana ou microrregião; unidade regional de
saneamento básico; e bloco de referência (agrupamento de Municípios não necessariamente
limítrofes). Os três principais possíveis benefícios mirados pela prestação regionalizadas são
os ganhos de escala, a universalização e a viabilidade técnico-econômica dos serviços.
(JUSTEN, 2020).
A prestação regionalizada já existia no art. 17 da Lei Nacional do Saneamento Básico (Lei nº
11.445/2007) antes da publicação da Lei nº 14026/2020. Esse dispositivo cotinha apenas o
atual caput (parte inicial, o título ou cabeçalho do artigo de lei ou regulamento), que faculta a
adoção de plano conjunto de saneamento básico, em vez de cada município praticar o seu
próprio plano. A adesão dos titulares à prestação regionalizada é facultativa (art. 8º - A) e
induz a responsabilidade não-solidária de cada município envolvido (art. 8º - B).
Coerentemente, a adesão à prestação regionalidade por município integrante de Região
Integrada de Desenvolvimento (Ride) dependerá de sua aprovação expressa (art. 3º, §5º)
No Paraná, foram criadas três microrregiões (Centro-Oeste, Centro-Leste e Centro-Litoral),
formadas por critérios de homogeneidade populacional e de expansão dos serviços de água
e esgoto, divisão da infraestrutura operacional dos serviços e particularidades sociais,
econômicas e geopolíticas. Elas terão a função de planejar, regular, fiscalizar e prestar, de
forma direta ou contratada, os serviços públicos de abastecimento de água, de esgotamento
sanitário e de manejo de águas pluviais urbanas. (PARANÁ, GOVERNO DO ESTADO,
2021). Caberá a cada microrregião manter ou instituir mecanismos que garantam o
atendimento da população dos municípios com menores indicadores de renda. Também serão
responsáveis pelo cumprimento das metas de universalização previstas no novo Marco Legal
do Saneamento Básico. (AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DO PARANÁ, 2021).
Com as mudanças na prestação regionalizada entre a lei de 2007 e a de 2020, ela passa a
ser uma técnica de estruturação das concessões regionais, isto é, projetos de desestatização
que diminuem custos de transação, proporcionam economias de escala, permitem soluções

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de projeto mais econômicas e principalmente evitam o desatendimento de determinados
municípios. (DAL POZZO, 2020).

3.2.2. Licitação, revisão de contratos vigentes e fim de contratos

Em se tratando de licitações, o novo Marco do Saneamento Básico as tornou obrigatórias,


extinguindo contratos firmados sem licitação entre municípios e empresas estaduais de
saneamento. Porém, os contratos vigentes serão mantidos, com a condição de que se
adequem para as metas de universalização, tendo até março de 2022 para incluírem nos
contratos 3 as empresas que não o fizeram até essa data, são tidas, até então como empresas
irregulares -. Além disso, deverão cumprir as seguintes disposições, segundo o Art. 10-A da
Lei 14026/2020:
I - metas de expansão dos serviços, de redução de perdas na distribuição de
água tratada, de qualidade na prestação dos serviços, de eficiência e de uso
racional da água, da energia e de outros recursos naturais, do reuso de
efluentes sanitários e do aproveitamento de águas de chuva, em
conformidade com os serviços a serem prestados;
II - possíveis fontes de receitas alternativas, complementares ou acessórias,
bem como as provenientes de projetos associados, incluindo, entre outras, a
alienação e o uso de efluentes sanitários para a produção de água de reuso,
com possibilidade de as receitas serem compartilhadas entre o contratante e
o contratado, caso aplicável;
III - metodologia de cálculo de eventual indenização relativa aos bens
reversíveis não amortizados por ocasião da extinção do contrato; e
IV - repartição de riscos entre as partes, incluindo os referentes a caso
fortuito, força maior, fato do príncipe e álea econômica extraordinária.

De acordo com Heinen (2020), a Lei abre espaço, também, para iniciativas privadas, nos
processos licitatórios. Isso define que empresas públicas não podem mais serem contratadas
diretamente, tendo que passar por um processo de concorrência aberta entre empresas
públicas e privadas. Podendo haver também subdelegação por parte do prestador de
serviços, com o limite de até 25% do valor do contrato.
Heinen (2020), ainda completa que, com isso, se destacam os principais objetivos dos artigos
referentes aos contratos, dentre eles a preservação dos contratos em vigor, a necessidade da
adequação as metas de universalização, e a abertura a concorrência de mercado, buscando
uma melhor qualidade com melhor preço, tanto do setor privado quanto do setor público, que
precisará elevar seus serviços para não serem atropelados pelas empresas privadas de
saneamento. A Lei nº 14.026/2020 procurou dar essa robustez e a segurança na
implementação das referidas metas ao determinar que o prestador, atual e futuro, faça prova

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suficiente da sua capacidade de investimentos. E isso, é claro, passa pela prova da sua
capacidade econômico-financeira.

3.3. DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS NO SETOR

Heller (2018) afirma que o setor de saneamento exibe quadros mais atrasados e trajetória
mais acanhada se comparado a outras políticas públicas no Brasil. Não possui ancoragem na
Constituição Federal e demorou 20 anos para ser regulamentado em lei, com explícitas
tensões entre os agentes do setor em décadas de debates. O autor manifesta preocupação
quanto ao atingimento da meta de universalização, do acesso com qualidade e apresenta
incompletudes e ambiguidades legais como a incapacidade de formulação como política, a
dificuldade de coordenação de agentes para direções convergentes e a instabilidade no
cenário político, resultando em efeitos negativos para a parcela da população negligenciada
pelos serviços dentro de um quadro de elevada assimetria no acesso no Brasil (urbano x rural,
renda, escolaridade, cor da pele). As causas desse quadro são diversas e inter-relacionadas:
condições políticas, organização institucional, relações interfederativas, transição
demográfica, lógica econômica, trajetória histórica do setor, organização social, entre outros,
em constante alteração.

3.3.1. Desafios legais

Segundo Kapaz (2020), no artigo 11b da Lei 14026/2020, fica estabelecida de maneira
expressa a universalização dos serviços de saneamento até o dia 31 de dezembro de 2033,
considerando atendimento de 99% de abastecimento de água e 90% para atendimento de
esgoto e os contratos em vigor que não possuírem as metas terão até 31 de março de 2022
para viabilizar essa inclusão. Nesse contexto, o Ministério da Economia estima que seja
necessário atrair entre R$500 bilhões e R$700 bilhões em investimentos até 2033. Ao
analisar-se o cenário atual de coleta e tratamento de esgoto já anteriormente citado, percebe-
se que é uma meta que tem certa carga de ousadia e dificuldade de implementação.
Se por um lado, a meta é vista com pessimismo, por outro ponto de vista é interessante que
se tenha partido dessa premissa com vistas a uma movimentação mais célere do setor e de
certa forma impulsionar as ações, principalmente de curto e médio prazo. Ainda cabe
acrescentar uma aproximação ao objetivo 6 (Água limpa e saneamento - Garantir
disponibilidade e manejo sustentável da água e saneamento para todos) dos Objetivos de

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Desenvolvimento Sustentável (ODS), que são um apelo universal da Organização das
Nações Unidas (ONU). (OPEN WATER ACADEMY, 2019).
Há uma mudança significativa, ademais, quanto à Política Nacional de Resíduos Sólidos, a
Lei nº 12.305, de 2010. A complementação que a Lei 14.026/2020 faz é a de trazer novos
prazos para disposição final de resíduos, sendo o final de 2020 até 2024 a data limite. Como
outrora citado, novamente trata-se de uma meta de difícil cumprimento e que novamente deve
ser postergada. Segundo Heller apud Kapáz (2020), a realidade heterogênea do país dificulta o
atingimento da meta em todas as regiões. E que, por isso, haverá uma seletividade das
prestadoras do serviço na hora de escolher as licitações de que forem participar.
Em municípios do Norte e Nordeste por exemplo, as licitações podem ficar vazias, não se
trata unicamente de questões financeiras ou tecnológicas, muitas vezes necessita-se de um
rearranjo urbano.
Exemplos de cidades modelos de universalização em tempo recorde podem ser levados em
conta como aspectos positivos, é o caso de municípios como Uruguaiana, no Rio Grande do
Sul e Rio Claro, no Estado de São Paulo. A primeira citada evoluiu de um índice de 9% de
coleta e tratamento de esgoto, em 2011, para 97% no ano de 2019. Tudo isso prova que o
saneamento não é uma questão de regiões mais pobres ou regiões periféricas, e sim, falta de
olhar estratégico das autoridades para os benefícios do serviço. É necessário que a exceção
passe a virar regra. (TRATA BRASIL, 2020).
O titular dos serviços deve formular a respectiva política pública de saneamento básico,
estabelecendo metas e indicadores de desempenho e mecanismos de aferição de resultados,
a serem obrigatoriamente observados na execução dos serviços prestados de forma direta ou
por concessão (nova redação dada ao art. 9°, I, da Lei 11.445/2007). As metas de
universalização deverão ser fixadas de forma progressiva (nova redação dada ao art. 11-B,
§3º, da Lei 11.445/2007). O cumprimento das metas de universalização e não intermitência
do abastecimento, de redução de perdas e de melhoria dos processos de tratamento deverá
ser verificado anualmente pela agência reguladora (art. 11- B, § 5 o , da Lei 11.445/2007,
incluído pela Lei nº 14.026/2020). No caso do não atingimento das metas, deverá ser iniciado
procedimento administrativo pela agência reguladora com o objetivo de avaliar as ações a
serem adotadas, incluídas medidas sancionatórias, com eventual declaração de caducidade
da concessão, assegurado o direito à ampla defesa. (art. 11-B, § 7 o, da Lei 11.445/2007,
incluído pela Lei nº 14.026/2020).

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O excesso de burocracia, decorrente das demasiadas normas e procedimentos de órgãos
governamentais, enseja a morosidade dos processos, sobretudo na esfera ambiental,
combinada com a pouca eficiência na aplicação dos recursos públicos e com problemas de
gestão. A prevalência de uma organização institucional complexa no setor de saneamento
obriga as empresas a conviverem com um número expressivo de órgãos e entidades que
atuam, em geral, de acordo com suas prioridades e segundo seus interesses, os quais, muitas
vezes, são divergentes. Tudo isso resulta na proliferação de exigências redundantes e
excessivas. Nesse contexto, questões aparentemente simples ou de menor relevância podem
demandar anos para serem resolvidas, além de consumirem muito tempo e recurso das
firmas. (ARAGÃO; BORGES, 2018).
Os trâmites administrativos morosos elevam os custos das empresas, oneram o preço de
produtos e serviços, desestimulam os negócios e os investimentos produtivos, entre outros
efeitos deletérios, constituindo um claro obstáculo ao desenvolvimento do país. A redução da
burocracia na análise de projetos de saneamento básico pode acelerar a execução das obras
de saneamento no país. O Levantamento da Confederação Nacional da Indústria
(CNI) identificou que, ao se eliminar processos redundantes para a liberação de financiamento
em órgãos do Governo Federal, o prazo entre a apresentação de um projeto e o início do
empreendimento será reduzido de 22 para 13 meses, uma diminuição de 41%. (CNI, 2015).
Ainda segundo CNI (2015), imprimir um ritmo mais célere de análise de projetos e liberação
de recursos atende não apenas a uma demanda de saúde pública, como evita cenários em
que mudanças nos projetos precisam ser feitas devido à demora na execução. Isso porque,
como as obras ocorrem em ambientes urbanos dinâmicos e, em alguns casos, sujeitos a
ocupação desordenada, eleva-se significativamente a necessidade de alterações, que podem
inviabilizar um projeto que estava em estágio avançado de análise ou com linha de
financiamento já contratada.
A CNI finaliza seu estudo <Saneamento: oportunidades e ações para a universalização=
lançando mão de três possíveis intervenções a serem realizadas no âmbito de atenuar ou até
eliminar os entraves burocráticos: i) fomentar a delegação da regulação, por titular, a
organismo regulador pertencente a outra entidade da Federação, que seria um consórcio
(Agência Reguladora por Bacia Hidrográfica) ou uma instituição estadual (Agência
Reguladora Estadual); ii) estabelecer parâmetros de oferta dos serviços em cada Unidade da
Federação e requisitos mínimos em matéria de regulação, e; iii) definir as regras básicas que

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devem necessariamente constar dos contratos de concessão e os critérios para a
contabilização de ativos, entre outros aspectos.

3.3.2. Desafios político-institucionais

Ao se fazer uma regressão pelas séries históricas já devidamente apresentadas, verifica-se


que os seus avanços e mesmo retrocessos foram derivações diretas de direcionamentos
políticos, sendo assim, o saneamento não deve ser visto apenas como uma questão técnica,
e sim de políticas públicas. Políticas públicas são iniciativas, escolhas e projetos adotados por
entes públicos (federais, estaduais e municipais) com a intenção de garantir direitos,
principalmente os previstos na Constituição Federal de 1988. Elas se dividem, segundo Lopes
e Amaral (2008) em: Políticas Públicas Distributivas, Políticas Públicas Constitutivas, Políticas
Públicas Regulatórias, Políticas Públicas Redistributivas.
Diante do exposto, o variável pêndulo político em que se insere o país nas últimas décadas,
desde o governo militar até os anos 2020, é variável determinante dos direcionamentos a
serem seguidos: se por um lado a alternância de poder e divergência de ideias é um saudável
equilíbrio no avanço democrático, por outro lado, o rompimento de políticas públicas e
mudanças bruscas são desfavoráveis, uma vez que os efeitos desses programas são sentidos
a médio e longo prazo. Atualmente, o contexto que se insere o Marco do Saneamento, a partir
do ano de 2019, é um contexto de planos de governo liberais e de desestatização, entretanto
esse documento pode sofrer certa rejeição inicial com o advento de uma agenda de Estado
mais centralizador, o que é ao mesmo modo um desafio, visto que a construção é contrária
ao atual modelo de trabalho da Lei 14026. Todavia, esse movimento pode ser benéfico em
um ambiente em que se evidencie falhas no mesmo. (OPEN WATER ACADEMY, 2019).

3.3.3. Desafios sociais:

A falta de saneamento tem implicações imediatas sobre a saúde e a qualidade de vida da


população. A falta de água tratada tem impacto, principalmente nos mais jovens e nos mais
idosos, pois aumenta a incidência de infecções gastrointestinais (DATASUS, 2017). Os
problemas são generalizados, mas são mais graves nas beiras de rios e córregos
contaminados ou em ruas onde passam esgoto a céu aberto - em valas, sarjetas, córregos ou
rios. Está presente também na poluição dos reservatórios de água e nos mananciais cuja
qualidade tem sido deteriorada ao longo dos anos. A exposição ambiental ao esgoto e a

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ausência de água tratada provocam doenças e a recorrência dessas infecções prejudica a
sociedade porque causa custos irrecuperáveis. (FREITAS; MAGNABOSCO, 2018).
De acordo com Brookfield Ambiental (2019), há dois problemas imediatos que ligam a falta de
saneamento aos custos anteriormente citados: i) ao aumentar a incidência de infecções, a
falta de saneamento provoca o afastamento das pessoas de suas funções laborais,
acarretando custos para a sociedade com horas não trabalhadas; e, ii) a sociedade incorre
em despesas públicas e privadas com o tratamento das pessoas infectadas.
Além das implicações imediatas sobre a saúde e a qualidade de vida da população, a falta de
água tratada e de coleta e tratamento de esgoto tem impacto direto sobre o mercado de
trabalho e sobre as atividades econômicas que dependem de boas condições ambientais para
o seu pleno exercício. Do ponto de vista do mercado de trabalho, a falta de saneamento
interfere na produtividade do trabalho e no desempenho dos estudantes, com efeitos de longo
prazo expressivos sobre a renda das famílias. Os trabalhadores mais suscetíveis a doenças
causadas pela falta de saneamento têm a saúde mais precária e, consequentemente, um
desempenho produtivo pior, o que acaba afetando a carreira profissional e o potencial de
renda que eles podem auferir no mercado de trabalho; e, as infecções recorrentes afastam
crianças e jovens de suas atividades escolares, o que acaba prejudicando o desempenho
educacional, com prejuízo para seu potencial futuro no mercado de trabalho.

3.3.4 Desafios econômico-financeiros:

Superando as limitações já citadas, torna-se fundamental um olhar para a dimensão


econômico-financeira, que é essencial para viabilização de programas, projetos e ações no
setor do saneamento.
Segundo Rezende e Heller (2008), houve elevados investimentos na década de 70,
justamente pelo PLANASA, programa financiado pelo Banco Nacional da Habitação (BNH).
Após extinção do BNH e término do programa nota-se uma queda nos investimentos na
segunda metade da década de 80 até início dos anos 2000. Fica bastante nítida, ainda, a
diferença dos investimentos para os serviços de abastecimento de água em relação ao
esgotamento sanitário, reflexo da priorização do PLANASA ao setor de água. Os
investimentos na década de 70 variaram entre 0,3% e 0,4% do PIB chegando ao pico de 0,5%.
Na sequência, essa taxa caiu consideravelmente ficando sempre abaixo de 0,2% e, na média,
abaixo de 0,1%. Reiterando que, segundo Trata Brasil (2019), os investimentos em
saneamento básico devem ser de aproximadamente 0,5% ou mais do PIB.

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Analisando os investimentos não onerosos - aqueles que são pagos com recursos não
reembolsáveis (oriundos do Orçamento Geral da União 3 OGU, dos orçamentos do Estado,
Distrito Federal ou Município, ou de outras fontes como, por exemplo, doações), que não
oneram o serviço da dívida, também denominados recursos a fundo perdido, na primeira
década de 2000, houve um crescimento principalmente a partir de 2006, reflexo direto das
ações do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Esses investimentos mais robustos
duraram até o ano de 2009, quando então voltou a declinar nos anos posteriores, apesar do
aumento de investimento não oneroso no setor, as taxas não chegaram a passar de 0,2% do
PIB Nacional. (PLANSAB, 2018).
Ainda segundo o PLANSAB (2018), em números absolutos, os investimentos anuais saíram
da cifra de 1 bilhão, em 2003, chegando a 8,5 bilhões em 2009. Salientando, estão presentes
apenas os recursos não onerosos e que apenas parcela foi desembolsada do total que estava
comprometido.
Do ano de 2008 a 2014 houve um reflexo do final do PAC 2 e também das obras para a Copa
do Mundo de 2014, onde os investimentos passaram de 6 bilhões para 12 bilhões, e se
mantiveram nesse patamar até o ano de 2018.
O que se pode extrair de todos os números supracitados é sempre houve uma intensa
variação dos investimentos no setor do saneamento básico e que, de fato, nunca foram do
porte necessário para se chegar à universalização dos serviços. Além disso, nota-se que o
volume de investimentos está sempre atrelado a um programa específico, implementado
dentro de uma política pública com duração de alguns anos. Apesar de não se ter volumes
médios de investimento em patamares ideais, os programas mencionados injetaram recursos
consideráveis na área.
O PLANASA foi determinante para o aumento do acesso aos serviços de abastecimento de
água na zona urbana, entretanto, deixou a desejar nas áreas rurais e no acesso ao
esgotamento sanitário no país como um todo. O PAC, por sua vez, conseguiu inserir na pauta
o serviço de esgoto, porém esbarrou em dificuldades técnicas, como a falta de projetos e o
próprio cenário político.
Fazendo um paralelo entre o volume de recursos disponibilizados de 2007 a 2014 (PAC 1 e
PAC 2), e os indicadores de cobertura dos serviços, tem-se a percepção de que talvez não
houve o resultado esperado por estes programas. A partir de 2014, mais especificamente
2016 e 2017, houve uma redução significativa do montante de investimentos não onerosos,

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muito em função da descontinuidade dos programas e da grave crise financeira do Brasil,
além dessa crítica e longa crise financeira, soma-se a isso a crise sanitária pandêmica.

3.4 ATRIBUIÇÕES DA AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS E SANEAMENTO


BÁSICO E GESTÃO NO SANEAMENTO

A Agência Nacional de Águas (ANA), era responsável, por implementar a Política Nacional de
Recursos Hídricos, também conhecida como Lei das Águas, instituída pela Lei nº 9.433 de 8
de janeiro de 1997, que estabelece instrumentos para a gestão dos recursos hídricos de
domínio federal e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
(SINGREH). (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL, 2019).
Cabia, e cabe até hoje, também à ANA regular o uso dos recursos hídricos, prestar serviços
públicos de irrigação e adução de água bruta, além de ser responsável pela segurança de
barragens. (GOVERNO DO BRASIL, 2021). Até a criação do novo marco, a ANA não era
responsável pela contratação de serviços de saneamento, contratações estas que são geridas
pelos próprios estados e municípios, o que dificulta a padronização dos processos e de
qualidade ao redor do país.
A ANA pode ser classificada como uma autarquia federal, pois integra a administração pública
indireta da União e goza de autonomia financeira e administrativa. As atribuições da ANA
englobam competências concernentes à política nacional de recursos hídricos e atribuições
referentes às águas de domínio da União. (PORTAL SÃO FRANCISCO, 2015).
Algumas das principais mudanças do novo Marco do Saneamento Básico se referem as
atribuições da ANA. Dentre essas mudanças se destaca a atribuição de competência para
instituir normas de referência para a regulação dos serviços públicos de saneamento básico,
além de estabelecer regras para atuação, estrutura administrativa e fonte de recursos.
Estas normas de referência devem englobar (BRASIL, 2020):
I - padrões de qualidade e eficiência na prestação, na manutenção e na
operação dos sistemas de saneamento básico;
II - regulação tarifária dos serviços públicos de saneamento básico, com
vistas a promover a prestação adequada, o uso racional de recursos naturais,
o equilíbrio econômico-financeiro e a universalização do acesso ao
saneamento básico;
III - padronização dos instrumentos negociais de prestação de serviços
públicos de saneamento básico firmados entre o titular do serviço público e o
delegatário, os quais contemplarão metas de qualidade, eficiência e
ampliação da cobertura dos serviços, bem como especificação da matriz de
riscos e dos mecanismos de manutenção do equilíbrio econômico-financeiro
das atividades;

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IV - metas de universalização dos serviços públicos de saneamento básico
para concessões que considerem, entre outras condições, o nível de
cobertura de serviço existente, a viabilidade econômico-financeira da
expansão da prestação do serviço e o número de Municípios atendidos;
V - critérios para a contabilidade regulatória;
VI - redução progressiva e controle da perda de água;
VII - metodologia de cálculo de indenizações devidas em razão dos
investimentos realizados e ainda não amortizados ou depreciados;
VIII - governança das entidades reguladoras, conforme princípios
estabelecidos no art. 21 da Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007 ;
IX - reuso dos efluentes sanitários tratados, em conformidade com as normas
ambientais e de saúde pública;
X - parâmetros para determinação de caducidade na prestação dos serviços
públicos de saneamento básico;
XI - normas e metas de substituição do sistema unitário pelo sistema
separador absoluto de tratamento de efluentes;
XII - sistema de avaliação do cumprimento de metas de ampliação e
universalização da cobertura dos serviços públicos de saneamento básico;
XIII - conteúdo mínimo para a prestação universalizada e para a
sustentabilidade econômico-financeira dos serviços públicos de saneamento
básico.

Cabe à ANA, também, contribuir para a articulação entre o Plano Nacional de Saneamento
Básico, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos e o Plano Nacional de Recursos Hídricos. Em
casos de situação crítica de escassez quantitativa ou qualitativa dos recursos hídricos em rios
de domínio da União, a ANA deverá reportar, estabelecer e fiscalizar as regras de uso de
água, para assegurar a continuidade dos usos necessários desses recursos nesses períodos.
(BRASIL, 2020).
Se de um lado a instituição de uma agência em nível federal incentiva a uniformidade de
regras regulatórias, do outro se alega a redução da autonomia dos governos e entidades
locais. Para que a ANA desempenhe suas novas atribuições de forma satisfatória junto aos
entes federados subnacionais, serão necessárias formas inovadoras de atuação de forma a
reconhecer as peculiaridades locais do setor e superar as barreiras territoriais. (DUARTE,
2019).

4. CONCLUSÃO

Em virtude dos fatos e dados apresentados e discutidos no decorrer do presente trabalho, é


notório que o acesso aos serviços de água e esgotamento ainda está longe de ser efetivado
como um direito para boa parte da população brasileira. Dessarte, o setor do saneamento
básico necessita de melhorias emergenciais e investimentos da ordem de 500 a 700 bilhões
para que se possa alcançar as metas do Governo Federal, que buscam: alcançar a

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universalização até 2033, garantindo que 99% da população brasileira tenha acesso à água
potável e 90% ao tratamento e coleta de esgoto e também regras voltadas para drenagem
urbana e manejo de resíduos sólidos urbanos. Evidentemente, isso não se dá de forma
imediata, é preciso projetos a longo prazo que tenham dotação orçamentária e estrutura
empresarial adequadas para execução de obras de grande porte, além disso é necessária
uma continuidade de políticas públicas, e que, mesmo com mudança no pêndulo político, não
haja rupturas com projetos que estão prosperando. É o que se espera das empresas
vencedoras dos recentes leilões de saneamento em Alagoas e Rio de Janeiro, primeiras
experimentações do novo modelo de trabalho trazido pela Lei 14026/2020.
A Lei 14026 traz em sua essência uma solução baseada na participação da iniciativa privada,
sendo essa uma das alternativas de intervenção ao problema - porém saliente-se que não a
única - o que gera debates, controvérsias e certas instabilidades a curto, médio e longo prazo.
Pareceres favoráveis à Lei têm afirmado que a atração de investimentos privados é não
apenas importante, mas crucial para que se chegue à universalização em tempo hábil. Já as
análises opostas a Lei, argumentam que há um iminente desfavorecimento de localizações
mais vulneráveis e que estas, por não gerarem grandes lucros, sofrerão prejuízos ainda
maiores e também que haverá aumento do preço dos serviços uma vez que o lucro das
companhias privadas estará acima da qualidade dos serviços.
Cabe também a Lei 14026 centralizar a gestão do saneamento básico no Brasil, usando a
Agência Nacional de Águas e Saneamento como órgão regulador central, posição esta que
era diluída entre diversos órgãos em esferas tanto federais, como estaduais e também
municipais. Com isso, é buscada uma organização mais linear, objetiva e transparente, por
meio de um controle centralizado. Isso também tem por consequência uma redução na
autonomia das entidades locais, com o principal foco de gestão ficando no âmbito federal,
porém ao mesmo tempo visa-se facilitar a organização dos estados e municípios por meio
das normas de referência de regulação instauradas pela ANA com o novo marco.

REFERÊNCIAS

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ARAGÃO, Jefferson da Silva; BORGES, João Tito. A busca pela universalização do abastecimento

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DESENVOLVIMENTO DE UMA BANCADA DIDÁTICA PARA ESTUDO
DE UM CICLO DE REFRIGERAÇÃO POR EXPANSÃO DIRETA COM
R-134a

Germano Scarabeli Custódio Assunção, Centro Universitário UNIVEL,

germs.scarabelli@gmail.com;

Élvio de Souza, Aluno de graduação do curso de Engenharia Mecânica do Centro


Universitário Univel, eletron_elvio@hotmail.com.

Resumo: O presente trabalho objetivou dimensionar, fabricar e analisar uma bancada


didática para estudo de ciclo de refrigeração por expansão que utiliza R-134a como fluido
refrigerante. Quatro tubos capilares foram utilizados para verificar a influência do processo de
expansão no ciclo: (1) 0,050= e 3 metros; (2) 0,042= e 3 metros; (3) 0,042= e 1,5 metros e (4)
0,031= e 3 metros. As pressões e temperaturas foram medidas em quatro diferentes pontos,
nas entradas e saídas do: (1) compressor; (2) condensador; (3) tubo capilar e (4) evaporador.
Para análise do ciclo, uma resistência elétrica conectada à um controlador lógico programável
(CLP) foi utilizada no ambiente à ser refrigerado 4foi ajustada em 200 W. O ciclo foi então
colocado em funcionamento, utilizando um tubo capilar por vez. Após a observação de regime
permanente, os valores das temperaturas e pressões foram coletados. Com os valores
coletados e utilizando a vazão mássica medida com auxílio de um rotâmetro, o calor absorvido
pelo evaporador do ciclo foi estimado considerando (1) as entalpias do ciclo teórico e (2)
considerando as entalpias reais (utilizando temperaturas e pressões medidas). Ambos calores
foram comparados com o valor de 200 W inicialmente estabelecido na resistência elétrica.
Considerando o ciclo teórico, o tubo capilar com 0,042= e 3 metros foi o que apresentou o
menor erro relativo, -2,5 %; para o ciclo considerando entalpias reais, o tubo capilar com
0,042= e 1,5 metros foi o que apresentou menor erro relativo, sendo 10,5 %.

Palavras-chave: Ciclo refrigeração. R-134a. Tubo capilar. Bancada didática.

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DEVELOPMENT OF A TRAINING BENCH TO STUDY DIRECT
EXPANSION (DX) REFRIGERATION CYCLE USING R-134a
Abstract: The present work aimed to design, manufacture and analyze a training bench to
study the expansion refrigeration cycle that uses R-134a as a refrigerant. Four capillary tubes
were used to verify the influence of the expansion process on the cycle: (1) 0.050= and 3
meters; (2) 0.042= and 3 meters; (3) 0.042" and 1.5 meters and (4) 0.031" and 3 meters.
Pressures and temperatures were measured at four different points, at the inlets and outlets
of: (1) compressor; (2) condenser; (3) capillary tube and (4) evaporator. To analyze the cycle,
an electrical resistance connected to a programmable logic controller (PLC) was used in the
environment to be refrigerated 4 it was adjusted to 200 W. The cycle was then started up,
using one capillary tube at a time. After observation of steady state, the values of temperatures
and pressures were collected. With the collected values and using the measured mass flow
from a rotameter, the heat absorbed by the evaporator was estimated considering (1) the
theoretical cycle enthalpies and (2) considering the real enthalpies (using measured
temperatures and pressures). Both absorbed heats were compared with the value of 200 W
initially established for electrical resistance. Considering the theoretical cycle, the capillary tube
with 0.042= and 3 meters was the one with the smallest relative error, -2.5 %; for the cycle
considering real enthalpies, the capillary tube with 0.042= and 1.5 meters was the one with the
smallest relative error, 10.5 %.

Keywords: Refrigeration cycle. R-134a. Capillary tube. Training bench.

1. INTRODUÇÃO

No ensino da engenharia é crescente o uso de metodologias ativas de aprendizagem, visto


que tal método tem se mostrado efetivo para alinhar a teoria com a prática. Conforme explica
Castro (2015), a junção dos conteúdos teóricos e práticos aumenta o nível de aprendizado do
acadêmico bem como a interação entre professor e aluno.
Segundo Bazzo (2006), a capacidade de atuação do profissional está diretamente
relacionada ao processo de retenção de conteúdo do discente durante sua formação
acadêmica. Neste contexto, o uso de bancadas didáticas propicia a vivência de sua profissão
em um ambiente controlado e supervisionado, tornando mais efetivo o processo de
aprendizagem e memorização do conhecimento teórico conforme explica Castro (2015).

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Teoria e prática, no estudo de engenharia, podem ser também chamadas de
<aprendizagem significativa=, fazendo com que o acadêmico desenvolva o raciocínio lógico de
alto nível, sobressaindo a outros métodos de ensino, conforme explica Moura e
Barbosa (2013).
Especificamente no estudo de máquinas térmicas, o trabalho de Sauerwein e
Schmidt (2012), mostra a dificuldade enfrentada pelos acadêmicos de engenharia para a
absorção deste conteúdo. O uso de prática, aliado à teoria apresentada em sala de aula, se
mostra fundamental em tais situações, permitindo que o discente retenha a teoria envolvida
em ciclos complexos como Otto, Diesel, Brayton e Rankine de forma mais sólida, conforme
explica Costa et al.(2021).
Em se tratando de máquinas térmicas, um conteúdo muito relevante é o estudo dos
ciclos de refrigeração. Neste contexto, diversos trabalhos têm sido desenvolvidos para avaliar
e estudar tais ciclos. Adiers, Reolon e Marcante (2011) apresentam um exemplo de bancada
didática para estudar o ciclo de refrigeração. No processo construtivo da bancada proposta,
dois tipos de compressores foram usados: (1) compressor rotativo e (2) compressor
alternativo. Além da opção pelo uso de um ou outro compressor no ciclo, Adiers, Reolon e
Marcante (2011) também viabilizaram o uso de dois tipos de dispositivos de expansão: (1) um
ciclo com tubo capilar e (2) um ciclo com válvula de expansão. A partir desta configuração
básica, a bancada propiciou aos discentes observarem como o uso de um ou outro
componente no ciclo (combinação entre diferentes compressores e dispositivos de expansão)
podem influenciar nas propriedades termodinâmicas do fluido refrigerante 4 a saber, R-22.
Loesch, Santos e Garcia (2012) desenvolveram uma bancada didática com objetivo
de auxiliar a aprendizagem dos acadêmicos em simular testes de falhas de sistemas de
refrigeração, sendo aplicada na ventilação forçada do evaporador e condensador, também a
obstrução do dispositivo de expansão e falta de fluido refrigerante, para poder mensurar e
comparar dados calculados em sala de aula, desta forma foi utilizado seu trabalho como base,
pois se mostrou o mais completo entre outros, pois ele realiza testes e falhas em um ciclo de
refrigeração. Toigo (2013) também desenvolveu uma bancada didática de refrigeração por
compressão de vapor para adquirir dados como pressão, temperatura e vazão, de modo a
definir qual instrumentação utilizar para essa coleta, buscando assim melhor entendimento
dos fenômenos termodinâmicos envolvidos. Ambos os trabalhos mostraram a efetividade que
os usos das bancadas trouxeram para a aprendizagem dos alunos.

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Neste contexto, este trabalho tem o intuito de projetar, fabricar e analisar uma bancada
didática de um ciclo de refrigeração por expansão direta com fluido refrigerante R-134a. Esta
bancada pode então ser aplicada para efetuar estudos e ensaios em refrigeração, podendo
visualizar os conceitos teóricos em um ensino experimental, trazendo para os graduandos em
engenharia mecânica uma abordagem de aprendizado voltado para prática, o que,
historicamente, tem se mostrado mais efetivo para a retenção de conteúdo.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Uma área importante da aplicação da termodinâmica é a refrigeração, que consiste em um


processo em que calor é removido de um determinado ambiente objetivando que este sistema
permaneça com uma temperatura constante pré-determinada ou tenha a temperatura
reduzida, sendo utilizado para usos domésticos e industriais.
Um ciclo de refrigeração por expansão necessita de cinco componentes básicos:
(1) compressor, (2) condensador, (3) filtro secador, (4) sistema de expansão e (5) evaporador.
Estes componentes atuam em conjunto em forma de um ciclo termodinâmico. Para
operacionalização deste ciclo, um fluido refrigerante é requerido, fazendo com que todos os
componentes supracitados atuem de forma integrada.
O ciclo de refrigeração se inicia pelo compressor, que fornece trabalho ao fluido
refrigerante, tornando-o vapor superaquecido. Na fase de vapor superaquecido, o fluido
refrigerante se encontra à elevadas temperatura e pressão . Após o compressor, passa pelo
condensador, que é um trocador de calor que tem a função de reduzir a temperatura do fluido
refrigerante, através de um fluxo forçado ou natural de ar. Durante o processo de resfriamento
do fluido, devido à redução de temperatura, o fluido refrigerante tem sua fase alterada do
estado de vapor superaquecido para líquido comprimido. Na forma líquida o fluido chega ao
filtro secador, que vai absorver a umidade residual do sistema e restringir a passagem de
possíveis impurezas 4 tais como micro gotículas de óleo oriundas do compressor. Após a
passagem pelo filtro, o fluido chega ao dispositivo de expansão, que tem a função de gerar
uma resistência ao movimento do fluido; a consequência é perda de pressão e temperatura .
Neste estado de baixa pressão e temperatura, o fluido chega no evaporador e absorve energia
térmica da vizinhança circundante. Ao absorver esta energia, o fluido vaporiza ainda no
evaporador e retorna para o compressor, completando o ciclo.

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Nesta seção são apresentados as principais equacionamentos utilizados neste
trabalho para se analisar um ciclo de refrigeração teórico, bem como as principais variações
observadas nestes ciclos em relação ao ciclo real. Esta seção se faz fundamental para a
correta interpretação dos resultados, sendo que pode ser encontrada de forma mais
aprofundada nos trabalhos de Çengel e Boles (2013) e Moran e Shapiro (2013).

2.1 Ciclo teórico de refrigeração

No ciclo de refrigeração o fluido refrigerante passa por uma série de transformações


termodinâmicas ao seguir por cada componente. Por ser um ciclo complexo, é comum na
introdução deste tema, o estudo do ciclo teórico, que é um sistema sem perdas, dito ciclo
ideal. A Figura 1a exemplifica os principais componentes considerados em um ciclo teórico e
a Figura 1b o diagrama T - s (temperatura versus entropia) para os quatros estados através
da passagem nestes componentes.
Inicialmente o fluido entra no compressor como vapor saturado (estado 1 da Figura
1b) e é comprimido em um processo isentrópico e adiabático até o estado 2 (Figura 1b). Do
balanço de energia para um volume de controle, desprezando variações de energia cinética
e potencial, pode-se concluir que o trabalho requerido pelo compressor ( ) em Watts pode
ser calculado através da Equação (1):

= / 2/ (1)

Sendo a vazão mássica do fluido refrigerante em kg/s, / a entalpia após a


compressão em J/kg e / a entalpia na entrada do compressor em J/kg.
Após isso, o fluido refrigerante à alta pressão e temperatura é resfriado, via
condensador. Inicialmente no estado 2, ele é resfriado até a condição de líquido saturado
(estado 3 na Figura 1b). No processo de rejeição de calor, não há trabalho realizado e a
pressão é constante, então o calor rejeitado pode ser calculado como a variação de entalpia
entre os estados 2-3, conforme apresenta a Equação (2):

= / 2/ (2)

Onde / a entalpia após a rejeição de calor, na saída do condensador em J/kg.

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Após o processo de resfriamento isobárico, o fluido é expandido ao passar pela válvula
de expansão (ou tubo capilar). Esse processo, modelado com irreversível, não apresenta
entropia constante, mas pode ser considerado como adiabático e sem geração de trabalho.
Assim, a passagem entre os estados 3 e 4 pode ser considerada como isentálpica (entalpia
constante): / = / .
Ao ser expandido isentalpicamente, a pressão é reduzida e consequentemente a
temperatura, sendo que o fluido nesse estado se encontra a temperaturas próximas de -20 °C
no estado de mistura bifásica (estado 4 na Figura 1). Nesse estado, ele entra no evaporador
e ocorre a absorção de calor no evaporador de forma isobárica, sendo que o calor absorvido
é igual a variação da entalpia. Esse processo é modelado através da Equação (3):

= / 2/ (3)

Figura 1 4 Ilustração de um ciclo real de refrigeração (a) principais componentes e (b) diagrama
temperatura versus entropia.

Fonte: Çengel e Boles (2013).


2.2 Ciclo real de refrigeração

O ciclo de refrigeração teórico, embora seja extremamente útil do ponto de vista didático para
introduzir os conceitos e quantificar as informações dos ciclos de refrigeração a vapor,
apresenta simplificações que não são observadas nos ciclos de refrigeração reais.
A Figura 2a ilustra os principais estados em ciclos reais, sendo possível notar que há
mais pontos, para considerar perdas e irreversibilidades ao longo do processo. Conforme
explica Çengel e Boles (2013), em ciclos reais, a condensação e a evaporação não acontecem

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de forma isobárico, pois o fluido refrigerante ao escoar através dos trocadores de calor, ficam
sujeitos à perda de carga devido ao atrito com as paredes do tubo. Estas diferenças são
ilustradas na Figura 2b, em que é possível observar as linhas tracejadas indicado os
processos de aquecimento e resfriamento isobáricos, enquanto os processos reais acontecem
com a perda de pressão ao longo do escoamento. O processo 2-4 indica o processo de
resfriamento do fluido do condensador, enquanto o processo 6-1 o processo de aquecimento
do fluido no evaporador.
Outra simplificação importante, apresentado em detalhes no trabalho de
Machado (2016), é referente ao compressor, que devido às irreversibilidades de um processo
real não executa de fato uma compressão isentrópica, sendo que a entropia após a
compressão é maior que a entropia antes da compressão. Este fator acarreta em uma redução
do coeficiente de performance do ciclo (COP), uma vez que mais trabalho é requerido no
compressor quando há a presença de irreversibilidades. Ressalta-se ainda que além de não
ser isentrópico, esse processo também não é adiabático, ou seja, parte do trabalho produzido
pelo compressor é perdido na forma de calor (ÇENGEL E BOLES, 2013). O processo que
usualmente acontece nesta situação está representado pela mudança entre os estados 1-2
na Figura 1b.

Figura 2 4 Ilustração de um ciclo real de refrigeração (a) principais componentes e (b) diagrama
temperatura versus entropia.

Fonte: Çengel e Boles (2013).

Uma forma de tentar aumentar a eficiência deste processo de compressão é resfriar o


fluido ao longo da compressão, nesse caso, embora a compressão seja irreversível, há uma

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redução da entropia como consequência do resfriamento do mesmo 4 esta situação é
ilustrada pelo processo 1-29 (embora não seja comum, é uma estratégia que pode ser
aplicada, quando possível).
Outra diferença que acontece entre ciclos reais e teóricos é o controle das
propriedades do fluido refrigerante na saída do evaporador e do condensador. No ciclo teórico,
o fluido é evaporado até a condição de vapor saturado. Entretanto, o controle acurado desta
condição em um ciclo real é extremamente complexo, devido às perdas de pressão e calor ao
longo da linha, sendo que estas perdas tendem a reduzir a temperatura do fluido, podendo
fazer com que o compressor com líquido possa danificá-lo. Na prática o que se faz, portanto,
é superaquecer o fluido na saída do evaporador, desta forma se garante que, mesmo
perdendo energia, não ocorrerá a compressão de fluido refrigerante no estado líquido, mas
somente gasoso (GUIMARÃES, 2012). Embora garanta uma margem de segurança ao
compressor, o superaquecimento aumenta o volume específico do fluido refrigerante na saída
do evaporador. Como o trabalho é proporcional ao volume específico, seu aumento faz com
que um trabalho maior seja requerido, reduzindo desta forma a eficiência do ciclo.
Um raciocínio similar acontece no processo de resfriamento no compressor. No ciclo
ideal se considera que o fluido deixa o condensador com líquido saturado, entretanto, garantir
que esse processo ocorra de maneira acurada não é uma tarefa viável. Como não é desejável
direcionar o fluido para o dispositivo de expansão até que ele esteja complemente liquefeito.
A estratégia para garantir que o processo de expansão sem a presença de vapor na linha
ocorra é sub-resfriar o fluido na saída do condensador. Observe que diferentemente do
processo de superaquecimento, o sub-resfriamento é até desejável, pois além de garantir o
funcionamento pleno do ciclo, reduz a entalpia na entrada do evaporador, o que melhor o
coeficiente de performance do ciclo.
Além dessas irreversibilidades universais, há as perdas inerentes em cada processo,
devido às características específicas de produção e aplicação, tais como falta de vedação
apropriada no ambiente refrigerado, perdas em conexões e erros de dimensionamento do
sistema.

3. METODOLOGIA
Para o desenvolvimento da bancada didática proposta neste projeto, a metodologia aplicada
foi composta por duas etapas sendo elas: (1) desenvolvimento da estrutura e layout da

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bancada; e (2) estes e procedimentos para análise dos dados coletados e comparação com
dados medidos. As seções abaixo descrevem de forma mais detalhada estas etapas.

3.1. Desenvolvimento da estrutura e layout da bancada

Para fabricação da estrutura da bancada foram utilizados tubos metálicos de seção quadrada
de 30x30 mm, ficando com a dimensões de 1.000 mm largura, 1.800 mm comprimento com
altura de 900 mm. Para sua base, onde os equipamentos serão alocados, foi utilizada uma
chapa de MDF na espessura de 25mm.
Após a confecção da mesa foi pensado a distribuição dos componentes, conforme
apresenta a Figura 3. A área útil da mesa servirá de apoio para os acadêmicos, enquanto que
a disposição dos componentes foi pensada para garantir fácil observação das pressões e
temperaturas nos respectivos manômetros e termopares.
Os componentes utilizados para a fabricação da bancada apresentada na Figura 3
estão listados na Quadro 1. Note que além dos componentes utilizados no ciclo de
refrigeração, uma resistência elétrica de 200 watts acoplada à um Controlador Lógico
Programável (CLP) foi também aplicada, sendo alocada dentro da estrutura do evaporador
(região de refrigeração), pois o evaporador do modelo VSMS0016 da Elgin e de 200 watts de
refrigeração. O motivo de utilização da resistência é permitir que o ambiente refrigerado entre
em equilíbrio térmico a determinada potência fornecida pela resistência, o que permite
determinar o calor absorvido pela fonte fria, e consequentemente, quantificar e analisar o ciclo.

Quadro 1 3 Detalhamento dos componentes utilizados na concepção da banca de refrigeração


Quantidade Componente Marca Observações
1 Compressor Embraco Modelo FFUS 80HAVK (R-134a).
1 Condensador Embraco Modelo UFUS 80HAVK.
2 Conjunto de registros Eco Tools Quatro registros com visor de líquido.
4 Tubos capilares Leas Industrial Características na Figura 3.
1 Evaporador Elgin Modelo VCMS 0016.
1 CLP Siemens LOGO! 12/24RCE.
1 Resistência Corel Potência máxima 1 kW.
2 Manômetros Eco Tools Fundo de escala 180 psig.
2 Manômetros Eco Tools Fundo de escala 450 psig.
1 Rotâmetros Bastler Modelo BL-320 (1,5 3 18,0 kg/h).
1 Termopar Full Gage Modelo Penta III (com cinco sensores)
Fonte: O autor (2021).

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Figura 3 4 Representação da disposição dos componentes da bancada desenvolvida.

Fonte: O autor (2021).


Nota: <P= e <T= designam as pressões e temperaturas medidas em cada ponto do ciclo.

3.2. Procedimentos de testes e análise dos dados

Para análise dos dados coletados, a seguinte metodologia foi aplicada. Primeiramente se
analisou e as pressões de alta (P2 e P3) e de baixa do sistema (P1 e P4). Como há dois
manômetros para cada pressão, o ciclo foi analisado considerando a pressão média destes
dois manômetros. É importante salientar que todos os quatros manômetros medem as
pressões manométricas em psi, assim designou-se neste trabalho estas pressões com
unidade psig (pounds per square inch gauge). Assim, em um primeiro momento foi feita a
transferência de unidades para bar, para ficar compatível com a tabela termodinâmica
consultada disponibilizada por Çengel e Boles (2013). Além da mudança de escala, foi
acrescido 1 bar nas pressões médias medidas, para considerar a pressão atmosférica e assim
determinar as pressões absolutas de alta e de baixa do sistema.
Após a coleta das temperaturas em graus Celsius, foi possível tabular todos os dados
de pressão e temperatura em quatro pontos, assim como preconiza o ciclo teórico (Figura 1).
Com estas informações, os valores das entalpias do ciclo e do calor absorvido foram
analisados conforme apresenta o fluxograma da Figura 4.

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Figura 4 4 Metodologia aplicada para análise do ciclo

Fonte: O autor (2021).

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base dos componentes listados na Quadro 1 e no layout previamente estabelecido


conforme apresenta a Figura 3, a bancada fabricada é apresentada nas Figuras 5, 6, 7. A
Figura 8 apresenta detalhes do processo para medição das temperaturas via termopares.
Os dados coletados após os testes realizados com a bancada são apresentados na
Tabela 1. É importante observar que considerando a acuracidade dos manômetros de ± 2 psi
para pressões de baixa (P1 e P4) e de ± 5 psi para pressões de alta (P2 e P3), podem ser
consideradas aproximadamente iguais, assim como as pressões de baixa.
Analisando a Tabela 1 e compararmos com o diagrama teórico apresentado na
Figura 1, nota-se que conforme esperado, a temperatura T2 foi a que apresentou o maior valor
absoluto, pois é obtida após o fluido ser comprimido. É importante salientar que conforme
esperado, em T2, os ciclos com todos os tubos capilares se apresentam na forma de líquido
superaquecido, conforme esperado também pela teoria. Após este processo, o fluido é
resfriado até a temperatura T3. Ao analisar o estado de T3, nota-se que para todos os quatro

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ciclos, o fluido se apresenta como líquido comprimido na pressão de alta 4 nesta situação, a
entalpia foi avaliada como sendo a entalpia de liquido saturado na temperatura
correspondente.

Figura 5 4 Foto frontal da bancada didática fabricada.

Fonte: O autor (2021).


Figura 6 4 Foto lateral da bancada didática fabricada.

Fonte: O autor (2021).

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Figura 7 4 Foto lateral da bancada didática fabricada.

Fonte: O autor (2021).

Figura 8 4 Foto mostrando conexão do termopar com a linha principal de entrada e retorno
do fluido no evaporador.

Fonte: O autor (2021).

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Tabela 1 3 Dados coletados nos testes realizados refrigeração com a resistência em 200 W.
Dados de Temperatura1 (°C) e Pressão2 (psi e bar)
Capilar T1 T2 T3 T4 T5 -
0,050= 2,2 51,1 25,4 -17,1 -8,0 -
0,042= 9,1 48,6 29,8 -17,8 5,5 -
3
0,042= 23,4 44,0 24,1 -14,2 17 -
0,031= 41,7 38,2 24,6 -16,5 40,0 -
Capilar P1 (psig) P2 (psig) P3 (psig) P4 (psig) P1gP4 (bar4) P2gP3 (bar4)
0,050= 8 125 124 10 1,6 9,6
0,042= 4 115 120 6 1,3 9,1
3
0,042= 2 110 115 4 1,2 8,8
0,031= -10 100 100 -9 0,6 8,0
Fonte: O autor (2021).
Notas: 1Erro de ± 0,3 °C, 2Erro de ± 2 psi para pressões de baixa (P1 e P4) e de ± 5 psi para
pressões de alta (P2 e P3); 3Capilar com 1,5 metros; 4Ao passar a pressão de psi para bar foi usado a
pressão média entre P1/P4 e P2/P3, acrescida da pressão atmosférica de 1 bar.

Tanto T4 quanto T5 foram utilizados para verificação do perfil de temperatura ao longo


do evaporador, entretanto, como nestes dois locais do ciclo as temperaturas são relativamente
baixas, há interferência significativa do processo de isolamento e fixação do termopar, visto
que o meio circundante se encontra à temperatura ambiente. Essa interferência do ambiente
deve ser considerada na garantia de acuracidade da medida de temperatura nestes dois
termopares; desta forma, T4 e T5 foram usados somente para análise qualitativa, e não foi
aplicado na análise quantitativa do ciclo.

Para o termopar T1, embora temperaturas relativamente baixas também tenham sido
observadas, os valores já se encontram próximas da temperatura ambiente, o que mitiga
parcialmente questões de isolamento térmico e fixação do termopar na acuracidade da
medida. Assim, T1, assim como T2 e T3, foi usado no processo de caracterização quantitativa
do ciclo.

A Tabela 2 apresenta os valores calculados (reais, baseando-se na temperatura e


pressão da Tabela 1) para entalpias dos estados 1, 2 e 3. Os valores teóricos das entalpias
dos estados 1 e 3 também foram estimados considerando as hipóteses de um ciclo de
refrigeração teórico 4 para o estado 1 se considerou a pressão de baixa medida e a hipótese
de vapor saturado (x=1) e para o estado 2 se considerou a pressão de alta medida e a hipótese
de líquido saturado (x=0).

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Tabela 2 3 Determinação da entalpias em cada estado com dados da Tabela 1 utilizado as tabelas
termodinâmicas de Çengel e Boles (2013).
2 2 2 2 2 2
Capilar mmedido h1real h1teórico h2real h3real h3teórico h4teórico
0,050= 6,0 kg/h 253,18 237,97 277,98 84,90 103,00 84,90
0,042= 5,2 kg/h 259,91 234,95 280,57 91,20 100,13 91,20
1
0,042= 4,2 kg/h 272,57 260,13 276,15 83,04 98,33 83,04
0,031= 3,0 kg/h 289,88 224,72 271,69 83,76 93,42 83,76
Fonte: O autor (2021).
Notas: 1Capilar com 1,5 metros; 2Unidade da entalpia em kJ/kg.

É importante notar que devido à impossibilidade de se medir o título da linha pois a


perca por aquecimento dos componentes e perdas de carga, o valor <real= da entalpia do
estado 4 não pode ser determinada, assim, somente o valor teórico foi estimado,
considerando a hipótese que a expansão no tubo capilar acontece de forma isentálpica. Para
o estado 2 o valor da entalpia teórica poderia ter sido determinado considerando o processo
de compressão isentrópico, entretanto, como o foco do presente trabalho é analisar o calor
absorvido do ambiente refrigerado, não há contribuição deste valor na análise do ciclo,
portanto, não foi determinado.
Observando a Tabela 2 é possível notar que conforme há a redução do diâmetro do
tubo capilar, menor é a vazão mássica da linha (não houve alteração da quantidade total de
fluido refrigerante da linha). Essa redução da vazão acarreta no aumento da entalpia real do
estado 1, na saída do evaporador. Isso é de certa forma esperado pois como há menos fluido
circulando, maior será o aquecimento deste ao passar pelo evaporador. Entretanto, embora
esta conclusão possa ser possível ao analisarmos o todo no ciclo real, é importante salientar
que a alteração do tubo capilar influencia na pressão do sistema e consequentemente na
entalpia do vapor saturado no estado 1. Assim, ao analisarmos as entalpias teóricas, nota-se
que para o tubo capilar de 0,031= foi observado a menor entalpia, devido à redução
significativa de pressão. De forma geral, observamos, portanto, que quando analisamos as
entalpias reais temos um melhor panorama do ciclo, pois além da condição da pressão (como
acontece no ciclo teórico), há também a consideração referente à vazão mássica na influência
da entalpia observada no estado 1.
No estado 1, a faixa de erro relativo entre valores reais e o esperado pela teoria ficou
na média de aproximadamente 7 %, com exceção do tubo capilar de 0,031=, em que um erro
relativo de aproximadamente 29 % foi observado de forma significativa por sua vazão ser
menor.
Para o estado 2, notamos observando a Tabela 1 que não houve mudança significativa
da pressão para os tubos capilares de 0,050= e ambos de 0,042=, isso fez com que também

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não ocorre mudança significativa nas entalpias observadas no estado 2 (Tabela 2). Para o
tubo capilar 0,031= como uma pressão de alta de 8 bar (um pouco menor que as demais) foi
observada, a entalpia do estado 2 também acabou sendo menor (Tabela 2).
No estado 3 (Tabela 2), como todas as condições reais foram observadas como sendo
líquido comprimido, ao compararmos com valores teóricos, que considera líquido saturado na
pressão correspondente, observamos que as entalpias reais foram menores que as teóricas,
conforme esperado. Na média, um erro relativo de -13 % foi observado entre valores reais e
teóricos de entalpia.
Com base nos valores estimados da Tabela 2 e utilizando a Equação (3), calculamos
o valor do calor absorvido, usando h4teórico e os valores de h1real e h1teórico e comparamos com
o valor estabelecido na resistência, 200 W. Na análise do ciclo teórico (QL_teórico) o tubo capilar
com 0,042= e 3 metros foi o que apresentou o menor erro relativo (-2,5 %) enquanto que o
capilar de 0,031= foi o que apresentou o maior erro relativo (45 %). O valor relativamente alto
para o erro relativo do capilar de 0,031= foi devido à redução significativa da vazão do ciclo
influenciar na capacidade de refrigeração do mesmo.
Quando comparamos os valores de QL_real com 200 W, observarmos novamente que
o capilar de 0,042= foi o que apresentou menor erro, sendo que para as condições
estabelecidas trabalhou mais próximo da condição de contorno fornecida.

Tabela 3 3 Determinação dos calores absorvidos pelo ciclo usando dados da Tabela 2.
Capilar mmedido QL_medido QL_teórico % Erro QL_teórico e QL_medido QL_real % Erro QL_real e QL_medido
0,050= 6,0 kg/h 225 W 12,5 % 280 W 40,0 %
0,042= 5,2 kg/h 195 W - 2,5 % 244 W 22,0 %
1 200 W
0,042= 4,2 kg/h 189 W - 5,5 % 221 W 10,5 %
0,031= 3,0 kg/h 109 W - 45,5 % 172 W - 14,0 %
Fonte: O autor (2021).
Notas: 1Capilar com 1,5 metros.

5. CONCLUSÕES
O acadêmico fabricou e analisou uma bancada didática para estudo de ciclo de refrigeração
por expansão que utiliza R-134a como fluido refrigerante. Quatro tubos capilares foram
utilizados para verificar a influência do processo de expansão no ciclo: (1) 0,050= e 3 metros;
(2) 0,042= e 3 metros; (3) 0,042= e 1,5 metros e (4) 0,031= e 3 metros.

Além da utilização da bancada para verificar a influência dos tubos capilares nas
pressões e temperaturas do ciclo, a capacidade de refrigeração do ciclo também foi avaliada,
sendo que os capilares de 0,042= foram que apresentaram os valores mais próximos do
esperado pela teoria, sendo nesta situação em estudo, o mais adequado para aplicação.

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Os próximos passos do trabalho visam análise do COP do ciclo e comparação dos
resultados aqui obtidos com os <procedimentos de seleção de tubos capilares= conforme
preconiza o Capítulo 11 da ASHRAE Handbook of Refrigeration.

REFERÊNCIAS

ADIERS, A.; REOLON, E. A.; MARCANTE, L. G. bancada didatica para analise de


eficiência de compressores e dispositivos de expansão em um sistema de
refrigeração. Universidade Tecnologica Federal do Paraná. medianeira, p. 42. 2011.

ANSI/ASHRAE 34:2019. ANSI/ASHRAE 34: 2019 Designação e Classificação de


Segurança de Refrigerantes. [S.l.]: ASHRAE.

BAZZO, W. A. Introdução à engenharia: conceitos, ferramentas e comportamentos.


Trinidade: Editora UFSC, 2006.

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Viva, Gôiana, v. 2, n. 1, p. 15-20, 2015.

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Porto Alegre: AMGH, 2013. p.1035.

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Fabricadora de Gelo. Trabalho de Conclusão de Curso de Engenharia Mecânica 4
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LOESCH, A. V.; SANTOS, A.; GARCIA, M. E. Bancada Didática para testes de falhas de
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MOURA, D. G.; BARBOSA, E. F. Metodologias Ativas de Aprendizagem na Educação


Profissional e Tecnológica. Boletim Técnico do Senac, Rio de Janeiro, v. 39, n. 2, p. 48-67,
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VEÍCULOS ELÉTRICOS NO BRASIL: O POTENCIAL
BRASILEIRO PARA A TRANSIÇÃO DE MODELOS DE
LOCOMOÇÃO
Márcio Mendonça (Prof. Dr., UTFPR); mendonca@utfpr.edu.br
Marco Antonio Ferreira Finocchio (Prof. Me., UTFPR); mafinocchio@utfpr.edu.br
Caio Ferreira Nicolau (Graduando, UTFPR Cornélio Procópio);
cnicolau@alunos.utfpr.edu.br
Renan De Araujo Martins de Souza (Graduando, UTFPR Cornélio
Procópio); renansouza@alunos.utfpr.edu.br
Thalyta Amanda de Oliveira (Graduanda, UTFPR Cornélio Procópio);
thalyta@alunos.utfpr.edu.br
Rodrigo Henrique Cunha Palcacios(Prof. Dr., UTFPR Cornélio Procópio));
rchpalacios@gmail.com
Marta Rúbia Pereira dos Santos(Prof. Esp. ETEC Estácio de Sá Ourinhos
marta.santos71@etec.sp.gov.br

Resumo: Atualmente, frente a mudanças climáticas e escassez de recursos, a


humanidade procura por meios de diminuir a geração de poluentes em toda a cadeia de
produção e consumo. Nesse enfoque, o veículo automotor cumpre papel fundamental
uma vez que garantir baixas emissões advindas desse meio de locomoção, bem como
tornar sua produção e vida útil ecologicamente corretas. Desta forma, o presente artigo
propõe e explora porque o Brasil possui potencial na eletrificação de sua frota. O artigo
possui três objetivos: inicialmente analisar a geração de energias renováveis presentes
em todo o território nacional, visando fortificar a tese de o Brasil possui capacidade de
receber tecnologias para carros híbridos e elétricos. Em um segundo momento explorar
as tendências de mudança ao redor do globo, refletindo como o mercado automotivo
nacional depende diretamente das tendências internacionais. Por fim, investigar
mediante de dados a forma como o carro híbrido pode representar a transição mais
desejada para a eletrificação da frota brasileira. Ao final, conclusões e considerações
serão feitas visando ampliar e contemplar como essa transição pode ser benéfica ao
Brasil.
Palavras-chave: Eletrificação; Carro Híbrido; Carro Elétrico; Renovável, Etanol.

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ELECTRIC VEHICLES IN BRAZIL: THE BRAZILIAN POTENTIAL
FOR THE TRANSITION OF LOCOMOTION MODELS

Abstract: Currently, in face of climate change and lack of resources, humanity is looking
for ways to reduce the generation of pollutants throughout the production and
consumption chains. In this approach, the motor vehicle plays a fundamental role, in
ensuring low emissions from this locomotion system, as well as making its production
ecologically correct. In that meter, this article proposes and explores why Brazil has the
potential to electrify its fleet. The article has three main objectives: firstly analyzes the
generation of renewable energy present throughout the national territory, aiming to
strengthen the thesis that Brazil can receive and sustain technologies for hybrid and
electric cars. Secondly explore the changing trends around the globe, reflecting how the
national automotive market depends directly on international trends. Finally, explore
through data how hybrid cars can represent the most desired transition to the
electrification of the Brazilians fleet. In the end, conclusions and considerations will be
made to expand and contemplate how this transition can be beneficial to Brazil.

Keywords: Electrification; Hybrid Cars; Electric Cars; Renewable; Ethanol.

1. INTRODUÇÃO
No cenário atual, o mundo esta prestes a viver uma nova revolução
automobilística e dois processos parecem ter levado a essa situação. O primeiro é
consequência da limitação entre uma exploração de recursos energéticos cada vez mais
dependente de derivados petróleo, um recurso finito, e a crescente necessidade de
energia para o desenvolvimento dos países. Gradativamente, essa situação converge
cada vez mais para o aumento do valor dos derivados do petróleo e consequentemente
tornam as fontes de energias alternativas mais competitivas e atrativas (SANTOS et al.,
2009).
A necessidade de novas formas de energia alternativa para o desenvolvimento
sustentável e a diminuição das emissões de gases do efeito estufa são os principais
motivos pelo ressurgimento dos veículos elétricos como forma viável de transporte.
Muitos países já estão investindo no desenvolvimento de novas tecnologias para

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suportar essa nova fase no mercado automobilístico e assim criaram metas para a
eliminação de veículos a combustão. Assim, analisando o cenário atual em que há uma
grande dependência de combustíveis fósseis no setor automobilístico é de fundamental
importância um estudo voltado para os processos desse setor (BARASSA, 2015).
A tendência mundial para locomoção em massa converge para um ponto
comum, a eletrificação para carros e meios de transporte coletivos. Esta movimentação
está atrelada não apenas a evolução natural da tecnologia que tende a procurar meios
mais eficientes na utilização de recursos, como também se torna necessária frente a
mudanças climáticas e escassez destes recursos, desde a cadeia produtiva, passando
pelo consumo, até emissão de poluentes gerados neste processo. Desta forma,
compreender o papel do Brasil neste cenário torna-se fundamental para traçar diretrizes
para a tomada de decisões e investimentos em setores chave, para garantir a inserção
brasileira no mercado.
Assim, uma das possibilidades para a segunda revolução automobilística pode
ser a implementação de veículos elétricos, ( apesar de suas incertezas e desvantagens.
Os veículos elétricos (VE’s) se mostram promissores para ajudar a solucionar os
problemas que os veículos a combustão geraram com o passar do tempo como poluição
atmosférica e sonora, eficiência energética, entre outros. As vantagens dos veículos
elétricos ficaram escondidas durante um bom tempo devido à falta de incentivo e
estudos, porém, com a conscientização da sociedade sobre a necessidade do uso de
fontes renováveis e avanços nessa tecnologia, os veículos elétricos estão conquistando
cada vez mais espaço (SANTOS, 2017).
Inicialmente, é necessário observar como o Brasil está inserido no mercado de
energias renováveis e seu potencial como receptor de tecnologias. Segundo a Empresa
de Pesquisa Energética (EPE) em 2021, a matriz elétrica brasileira no ano de 2020
estava dividida e fundamentada principalmente em energias renováveis e, muitas delas,
limpas, como a biomassa (9,1%), eólica (9%) e solar (2,7%).
Esta forte fundamentação em energias renováveis torna o Brasil um excelente
candidato para receber, aprimorar e gerar dados para o mercado de VE’s, haja vista que
a oferta de energia limpa está garantida e tende a aumentar nos próximos anos.
Para isto, é preciso analisar a tendência mundial no desenvolvimento de VE’s e
híbridos, uma vez que o mercado automotivo brasileiro depende deste movimento
global. O continente europeu, bem como a América do Norte e países do Oriente já
expressaram sua determinação em modificar a forma como o transporte pessoal irá

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mudar na próxima década, seja por meio de incentivos no setor de eletrificação, seja
com datas limites para a produção de veículos movidos a combustão. Esta
movimentação tem impacto direto no mercado automotivo do Brasil e terá papel
fundamental na aceitação e na imersão destas tecnologias para população.
Para compreender o cenário nacional mediante a essas mudanças torna-se
indispensável. Como o Brasil apresenta hoje uma matriz elétrica bem estruturada ao
redor de energias renováveis, porém, alinhar esta matriz com as tecnologias já
presentes no mercado torna-se um movimento necessário. Sendo indispensável
entender como o carro híbrido tem seu papel no desenvolvimento do mercado de VE’s.
Esta junção possui potencial para oferecer ao consumidor brasileiro uma fase de
transição para a eletrificação, ao mesmo tempo que insere o Brasil no cenário global e
torna o mercado atraente para novas tecnologias e investimentos.
Subjaz, face ao exposto, que compreender a forma como o Brasil pode participar
deste futuro é de extrema importância. O mercado de energias renováveis e limpas,
ligado a tecnologias inovadoras tornando-se consolidadas no mercado, juntamente com
a tendência global formam um caminho a ser trilhado e garantem ao país potencial para
a eletrificação de sua frota.

2. BRASIL NO MERCADO DE ENERGIAS RENOVÁVEIS


A premissa para que um país se fortaleça em tecnologias alternativas parte de
entender as condições atuais e perspectivas futuras da sua matriz energética. Dentre
as consequências dessa implementação, tem-se uma maior demanda de energia, a qual
necessitará de uma oferta para suprir. Diante disso, compreender como o país está
inserido no mercado de energias renováveis fornece os subsídios e fundamentos
necessários para fomentar o mercado VE’s.
O Brasil apresenta um protagonismo significativo no ramo das energias
renováveis perante os demais países. De acordo com Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), o Brasil começou “a assumir o papel de liderança no processo de
transição energética com a utilização de energias renováveis, no bloco dos BRICS
(Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)” (LOSEKANN; TAVARES, 2021).
Desta forma, a geração hidrelétrica encontra-se como a mais presente na matriz
energética brasileira, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), “o potencial
hidrelétrico brasileiro é estimado em 172 GW, dos quais mais de 60% já foram
aproveitados (EPE, 2022) e (ONS, 2022). Entretanto, esta modalidade de geração tem

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sido influenciada pelos fatores climáticos pois, ao longo dos anos, vem sendo analisados
indicadores referentes à seca no cenário brasileiro, haja vista que a seca e os períodos
de estiagens afetam diretamente o fluxo dos rios (FERNANDES et ali, 2021).
Em um segundo momento, torna-se possível analisar e comparar a matriz
energética brasileira com outras de países os quais possuem o mesmo potencial. A
exemplo, pode-se comparar as matrizes energéticas das nações as quais fazem parte
do bloco de cooperação econômica para países emergentes, o BRICS, portanto,
possuem o mesmo potencial agregado a veículos elétricos, por serem países
categorizados como emergentes no cenário político, econômico e social globalmente. A
Tabela 1 a seguir contempla os dados destes países, de acordo com o portal da própria
organização BRICS em 2020 (LOSEKANN; TAVARES, 2021).

Tabela 1: Parcela da matriz energética dos países do BRICS. BRICS (2020).


Tipo de Energia Brasil Rússia Índia China África do Sul
Óleo 1% 1% <1% 1% <1%
Gás Natural 9% 47% 5% 3% 2%
Carvão 4% 16% 73% 63% 88%
Nuclear 3% 19% 3% 5% 6%
Hidroelétrica 64% 17% 10% 17% 1%
Eólica 9% < 1% 4% 6% 3%
Solar 1% <1% 3% 3% 1%
Biomassa 9% <1% 2% 1% <1%

Como observado anteriormente, o Brasil possui posição de destaque neste grupo


de países, uma vez que sua matriz energética conta, como figurado anteriormente, com
o protagonismo de energias renováveis como a hidroelétrica. Esta conclusão fomenta a
hipótese de que ao compreender o cenário energético do país torna-se possível
constatar que este possui potencial e busca inovar cada vez mais para abrigar
tecnologias no setor elétrico e no setor automotivo.
Diante deste cenário, o Brasil gradativamente tem incentivado outras gerações
de energias alternativas. Por exemplo, para estimular a geração solar, o país já apresenta
alguns incentivos, tais como: Sistema de Compensação para Mini e Microgeração
Distribuídas e o Desconto na Tarifa de Uso dos Sistemas de Distribuição (TUSD) e na
Tarifa de uso dos Sistemas de Transmissão (TUST).
Nesse intuito de promoção do crescimento de diferentes modalidades de

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energias o governo brasileiro promove Leilões de Energia, cujo objetivo é a contratação
de energia entre os empreendimentos. Por exemplo, segundo a EPE, no Leilão de
Energia Nova A-4 de 2022 foram convidados ao cadastramento empreendimentos
eólicos, fotovoltaicos, termelétricos e hidrelétricos (ONS, 2022).

À vista do exposto, a oferta de geração alternativa no país está crescentemente


sendo promovida e, desse modo, o Brasil torna-se um potencial foco para a recepção de
tecnologias alternativas no setor automotivo.

3. A TENDÊNCIA MUNDIAL PARA ELETRIFICAÇÃO AUTOMOTIVA


A busca por um planeta mais sustentável e ecológico é um assunto cada vez
mais importante em pautas políticas, econômicas e ambientais. Com base nisso, há
diversas áreas da sociedade atual responsáveis pela degradação ambiental, entre elas,
a mobilidade urbana.
Segundo o SENATRAN (Secretaria Nacional de Trânsito), estão registrados
aproximadamente 59 milhões de automóveis no Brasil, em 2021. Somente no município
de São Paulo, são contabilizados aproximadamente 6 milhões de automóveis, sendo
que, segundo uma análise do Inventário de Emissões Atmosféricas do Transporte
Rodoviário de Passageiros no Município de São Paulo, os automóveis são responsáveis
por 72,6% das emissões de gases estufa, enquanto transportam aproximadamente 30%
dos passageiros (SENATRAN, 2021).
Nesse sentido, diversos países têm buscado alternativas para tornar sua
mobilidade urbana mais sustentável. Como o incentivo ao uso de veículos totalmente
elétricos em suas frotas, tanto em veículos individuais quanto no transporte coletivo.
A principal vantagem associada ao veículo totalmente elétrico em comparação a
combustão está ligado ao impacto ambiental. Visto que os combustíveis fósseis são
oriundos do petróleo e a energia elétrica utilizada para abastecer os VE’s podem ser
provenientes de fontes de energia limpa.
Além disso, pode-se citar a situação atual dos preços dos combustíveis no Brasil,
segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) o preço
da gasolina comum atingiu aproximadamente R$ 6,544 o litro, no mês de junho de 2022.
Realizando uma comparação, o custo do kWh no Estado do Paraná, para residências
no mês de maio de 2022, está próximo de R$0,836 (ANEEL, 2022).
A partir da comparação anterior, muitas pessoas observaram o custo de

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abastecimento como o principal atrativo do carro totalmente elétrico. Ainda assim, o
custo inicial de um modelo é elevado, o automóvel elétrico mais barato do mercado
brasileiro no presente momento é o iCar da Caoa Chery, custando R$139.990,00
(CAOACHERY, 2022). Para combater esse problema, o Governo Federal pode apostar
na isenção de impostos nessa categoria de veículos, como sugere a PL 403/2022 que
deverá ser votada ainda no ano de 2022.

Outro fator que torna o carro elétrico mais vantajoso é a manutenção mais barata,
principalmente pelo fato de possuir menos partes mecânicas e componentes em geral.
Analisando o perfil de indivíduos que adquiriram ou possuem o interesse de adquirir
esse tipo de veículo, é possível afirmar que estes apostam na economia que o carro
elétrico proporciona a longo prazo com abastecimento e manutenção e, também na
redução do impacto ambiental deixado por veículos a combustão.
Dessa forma, é possível verificar uma mudança no mercado de automóveis no
Brasil. Para a ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico), houve recorde de
vendas de VE’s em 2021, apresentando mais de 30 mil emplacamentos no ano. Sendo
que a tendência do mercado é apenas de crescimento contínuo (ABVE, 2022).
Além do transporte individual, o Governo Federal vem por meio de diversas
ações tentar incentivar a eletrificação da mobilidade coletiva. Uma delas é a criação do
projeto Eletromobilidade, financiado pelo Fundo de Tecnologia Limpa do Climate
Investment Fund (CIF), que busca difundir o conhecimento técnico e financeiro dos
órgãos governamentais e, além disso, possui como objetivo apoiar projetos-piloto de
ônibus elétricos no Brasil.
No âmbito privado, a empresa do ramo de delivery iFood em conjunto com a
fabricante de motos elétricas Voltz, apresentaram um programa para incentivar a
eletrificação das motocicletas utilizadas pelos entregadores. A parceria consiste na
venda da motocicleta EVS Work a custo de R$ 9.990,90, além do oferecimento de um
programa de baterias compartilhadas no modelo de assinatura, permitindo que o usuário
não tenha que realizar a espera da recarga da bateria (VOLTZ, 2022).
Por fim, as empresas também apostam na redução do custo de manutenção
como um dos atrativos, prometendo reduções de até 70% em comparação com uma
motocicleta movida a combustão (VOLTZ, 2022).

Além dessa iniciativa, é possível também citar a empresa estadunidense do vale


do Silício, a Glydways. Almejando um futuro mais sustentável e tecnológico, a empresa

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combinou o conceito de veículo autônomo e elétrico, criando um veículo projetado para
transportar uma pessoa. O veículo conta com inteligência artificial para realizar os
trajetos sem interferência humana e busca a maior autonomia ao utilizar painéis
fotovoltaicos na parte superior do veículo (GLYDWAYS, 2021).
A partir dessas iniciativas, é possível afirmar que tanto a instância governamental
quanto privada estão buscando a eletrificação do transporte individual e coletivo. Ainda
assim, obstáculos como o custo das baterias utilizadas nesses veículos, tornam o
processo de eletrificação mais lento, entretanto, conforme o avanço tecnológico, a
tendência é que os custos de produção desses componentes se reduzam com tempo.

4. O CARRO HÍBRIDO NA TRANSIÇÃO DE MODELOS DE LOCOMOÇÃO


O mercado brasileiro de veículos automotores passa, por uma transformação. O
que antes era dominado exclusivamente por veículos a combustão, hoje encontra-se
uma variedade de veículos híbridos e elétricos a disposição para compra. Compreender
essa mudança de perfil de compra, e os fatores que levaram a esta mudança faz-se
necessário, haja visto que o processo de eletrificação no Brasil está acelerado.
De início, é preciso analisar como o mercado nacional de combustíveis tem se
comportado nos últimos anos. Observando a série histórica de preços de combustíveis
fornecida pela Agência Nacional do Petróleo (2021), é possível notar uma tendencia de
aumento nos preços. Este crescimento representa um aumento de 52,30% no preço
médio dos combustíveis neste período analisado (2012 a 2021), levando assim a um
gasto maior em locomoção para o brasileiro.

Tabela 2: Valor Médio dos Combustíveis (Gasolina) – De 2012 a 2021.


Ano Valor médio Litro (R$) Aumento entre Anos
2012 1,95 --------
2013 2,26 13,72 %
2014 2,40 5,85 %
2015 2,65 9,44 %
2016 2,70 1,85 %
2017 3,23 16,10 %
2018 3,65 11,10 %
2019 3,73 2,15 %
2020 3,95 5,60 %

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2021 4,74 16,70 %
Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (2021)

Como observado na Tabela 2 acima, o preço médio dos combustíveis tente a


subir e justificam a forma como o mercado de VE’s e híbridos está se comportando nos
últimos anos, uma vez que os estes levam a uma economia considerável e representam
uma alternativa para o aumento nos preços dos combustíveis.
Este aumento tem relação direta na compra de carros híbridos e elétricos no
Brasil. Desde 2012, a ABVE vem compilando dados sobre a venda destes tipos de
veículos no Brasil e demostram que o mercado nacional está em expansão.
A partir de 2012 até o ano de 2021, com dados já fechados, o aumento na frota de
VE’s no país é da ordem de 300%, com uma estimativa de crescimento ainda maior para
2022. Estipula-se que no mês de agosto de 2022 o Brasil atingirá a marca de cem mil
veículos eletrificados registrados no sistema nacional do DETRAN (ABVE, 2022).
O mercado atualmente está longe do ideal, uma vez que a porcentagem de
carros eletrificados correspondem apenas a 1,5% do total de vendas no ano de 2021,
porém, considerando o movimento dos últimos anos, este mercado tende a expandir.

Tabela 3: Venda de Veículos Eletrificados no Brasil – De 2012 a 2021.


Ano Quantidade de Veículos Aumento entre anos
2012 117 ---------
2013 491 400 %
2014 855 45,60 %
2015 946 18,35 %
2016 1091 13,29 %
2017 3296 23,72 %
2018 3970 16,98 %
2019 11858 66,52 %
2020 18754 36,77%
2021 34990 46,40 %
ABVE – Agência Brasileira do Veículo Elétrico (2021)

Observa-se, portanto, que o perfil de compra do brasileiro está cada vez mais
propenso para VE’s, isto devido ao aumento dos preços de combustíveis nos últimos
anos, junto com uma oferta maior de opções ligadas ao mercado de híbridos e elétricos.

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Por fim, cabe uma análise localizada com relação ao consumo e eficiência
energética comparativa entre veículos a combustão interna apenas e veículos
eletrificados. Para tal comparativo foi escolhido o veículo Corolla da marca japonesa
Toyota, haja vista que este modelo possui em sua construção os dois tipos de
motorização citados, tradicional e eletrificado.
O comparativo desenhado a seguir tem como base o sistema brasileiro do
Inmetro, o Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE). Esta ferramenta busca desde
2001 identificar e avaliar a eficiência energética de um produto presente para compra
no Brasil. Para veículos automotores, o programa de etiquetagem passou a atuar em
2009, com o intuito de indicar ao comprador a eficiência do veículo e seu consumo
visando quantificar gastos relacionados aos combustíveis.
Para o automóvel, Toyota Corolla, foi estipulado um percurso hipotético de
1000km em linha reta, sem levar em consideração fatores externos ou cargas
relacionadas ao carro. Os dados de consumo e eficiência foram aplicados a Tabela 4
com base no uso de gasolina, retornando valores médios gastos com o combustível com
base no valor médio apresentados anteriormente, comparativamente com o mesmo
veículo apenas a combustão e seu equivalente eletrificado (INMETRO, 2021).

Tabela 4: Comparativo de Consumo: Corolla Altis x Corolla Hybrid.


Tipo de Percurso Consumo Combustível Litros Gastos Valor Gasto
Veículo [km] (Gasolina) [km/L] [L] [R$]
Combustão 1000 9,8 102,04 483,68
Híbrido 1000 11,8 84,75 401,70
PBE – Programa Brasileiro de Etiquetagem (2021)

Face ao exposto acima, o veículo híbrido do mesmo modelo apresenta


vantagens de consumo com relação a seu equivalente apenas a combustão. No
percurso hipotético a economia do consumo em litros, bem como o valor gasto em
combustível, foi 17% em ambos os casos. Isto reforça a tendência da população na busca
de novas tecnologias, procurando a economia ligada ao maior rendimento de veículos
automotores.
Ainda baseado em dados fornecidos pelo PBE (2021), pode-se realizar um
comparativo de emissões de poluentes entre ambos os modelos apresentados acima.
Esta análise representa a forma como ambos os veículos, no mesmo espaço percorrido,
emitem gases de efeito estufa e poluentes na atmosfera. Haja vista que a eletrificação

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não apenas tem como objetivo o barateamento da locomoção da população, bem como
a redução na emissão gases poluentes visando retardar a degradação ambiental do
planeta e garantir o futuro das gerações posteriores.

Tabela 5: Poluentes e Gases Emitidos: Corolla Altis x Corolla Hybrid.


Tipo de Veículo NO (mg/km) CO (mg/km) CHO (mg/km) CO2 (g/km)
Combustão 18,10 184,250 4,95 105
Híbrido 17,75 96,60 2,50 77
PBE – Programa Brasileiro de Etiquetagem (2021)

Os dados da Tabela 5 reflete a forma como a adição de um sistema auxiliar de


propulsão, o sistema elétrico, proporciona uma redução com relação a emissão de
poluentes e gases.

Para a emissão de monóxido de nitrogênio (MNOG) tem-se uma redução de


5,30%, juntamente com 47,58% de diminuição nas emissões de monóxido de carbono
(CO). A produção de aldoxila (CHO) foi reduzida de 49,50%, somado a redução de
dióxido de carbono (CO2) de 26,67% (INMETRO, 2021).
Estes valores, em larga escala, representam uma redução interessante na
emissão de gases estufa e poluentes, a qual é bem-vinda para metas como as
apresentadas no Protocolo de Kyoto, o qual o Brasil é signatário desde 1997.
De posse destes dados é possível compreender a forma como o VE apresenta
uma melhora com relação ao gasto de combustível, fortificando a tese de que veículos
eletrificados representam não apenas uma alternativa de economia com relação ao
preço de combustíveis fósseis, bem como uma resposta a emissão de gases poluentes
para a atmosfera e uma estratégia de transição entre o modelo de locomoção tradicional,
a combustão apenas, para um modelo atualizado, de veículos totalmente eletrificados.

5. CONCLUSÃO
Mediante ao que foi apresentado e discutido durante o presente artigo, é possível
constatar que o potencial brasileiro para eletrificação é uma realidade e que diversos
fatores podem auxiliar o país a fomentar uma evolução solida perante as mudanças nos
conceitos de locomoção individual e coletiva.
Inicialmente, a oferta e qualidade da energia elétrica presente na matriz
energética configura um modelo propicio a mudanças. O protagonismo da energia

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hidroelétrica, bem como o destaque perante os BRICS, juntamente com incentivos
governamentais para energias renováveis e limpas formam um cartão de visitas para
futuras tecnologias e atuais inovações presentes no mercado de veículos eletrificados,
embasando o potencial para eletrificação.
Em um segundo momento, compreender como o mercado mundial se comporta
e reflete no mercado nacional é necessário. Não apenas as mudanças ao redor do globo,
como ações feitas para redução de gases de efeito estufa, bem como a forma como
propostas de locomoção são absorvidas pelo mercado nacional são fatores os quais
tornam a eletrificação bem-vinda.
Além disso aliado a uma oferta crescente de veículos elétricos e híbridos no
portifólio do mercado, faz surgir um ímpeto no mercado pelo consumo de tecnologias de
locomoção alternativas com enfoque em não apenas driblar esta escalada de preços,
bem como reduzir a emissão de poluentes.
Portanto, face ao exporto, o Brasil possui potencial para eletrificação de sua frota
tanto particular como coletiva, pois apresenta fatores indispensáveis para tal mudança.
Finalmente, cabe endereçar em futuras investições, uma análise do cenário
nacional de combustíveis fosseis, assim como a tendencia de compra para veículos
eletrificados. Coexistindo com recentes o aumento do preço dos combustíveis, em
especial no Brasil, experienciado nos último dez anos. Outro possível futura contibuição
seria de se investigar o crescimento nos próximos anos dessas tecnologias no nosso
país.

REFERÊNCIAS
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vendas de veículos eletrificados no Brasil. - Disponível em: <www.abve.org.br/serie-
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ABVE. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO VEÍCULO ELÉTRICO. Perspectiva de 2022


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REFORÇO DE VIGA POR AUMENTO DE SEÇÃO TRANSVERSAL
COM CONCRETO E NOVAS ARMADURAS: ESTUDO DE CASO
Vladimir José Ferrari Matheus Vince Esgalha Pereira
Doutor em Engenharia de Estruturas Engenheiro Civil
http://lattes.cnpq.br/5088724317924776 https://lattes.cnpq.br/0451429777139223
Professor na Universidade Estadual de Maringá Aluno da Esp.em Engenharia de Estruturas-UEM
Maringá-PR 3 E-mail: vladimirjf@hotmail.com E-mail: matheusvep@yahoo.com.br

Resumo: O reforço de um elemento estrutural consiste no aumento de sua capacidade.


Diversos são os motivos para o reforço de um elemento estrutural, entre eles, a modificação
de utilização da edificação. Existem técnicas para a execução do reforço estrutural, sendo as
mais comuns: aumento de seção com concreto e novas armaduras, colagem de chapas de
aço, protensão externa e colagem de fibras. A técnica de reforço por aumento de seção tem
o inconveniente de promover alteração nas dimensões. Por outro lado, ainda é muito
empregada no Brasil devido ao baixo custo envolvido e a tradição de seu uso. A técnica conta
com a vantagem de resultar em elementos de grande rigidez e elevada resistência. O artigo
tem por objetivo apresentar um estudo de caso envolvendo a demanda pela modificação de
utilização de uma edificação construída em 1982, que resultou na necessidade de retirada
de pilares. Foi necessário então, modificar o comportamento estrutural de duas vigas de
concreto armado. O artigo revela o potencial da técnica de reforço por aumento de seção de
vigas em situações que se faz necessária a retirada de pilares da estrutura para ampliação
de espaços.

Palavras-chave: utilização, modificação, técnica.

BEAM STRENGTHENING BY INCREASING THE CROSS SECTION


WITH CONCRETE AND NEW REINFORCEMENTS: CASE STUDY

Abstract: Strengthening a structural element consists of increasing its capacity. There are
several reasons for the reinforcement of a structural element, among them, the modification of
the use of the building. There are techniques for the execution of structural reinforcement, the
most common being: increase in section with concrete and new reinforcements, gluing of steel
plates, external prestressing and gluing of fibers. The technique of reinforcement by increasing
the section has the inconvenience of promoting changes in dimensions. On the other hand, it

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is still widely used in Brazil due to the low cost involved and the tradition of its use. The
technique has the advantage of resulting in elements of great rigidity and high resistance. The
paper aims to present a case study involving the demand for modification of the use of a
building built in 1982, which resulted in the need to remove columns. It was then necessary to
modify the structural behavior of two reinforced concrete beams. The paper reveals the
potential of the technique of reinforcement by increasing the section of beams in situations
where it is necessary to remove columns from the structure to expand spaces.

Keywords: utilization, modification, technique.

1. INTRODUÇÃO
A definição de reforço estrutural é bem objetiva e está relacionada com o aumento da
capacidade de carga de um elemento estrutural. Se a capacidade resistente da seção
transversal de um elemento estrutural é incrementada, então é possível aumentar a carga
sobre esse elemento. Isso é o conceito de reforço estrutural.
As situações elencadas a seguir representam alguns dos motivos em que o reforço estrutural
de um elemento se faz necessário:
" Concepção equivocada do carregamento na fase de projeto estrutural: sobrecarga de
equipamento sobre a laje, desconsideração do peso do reservatório elevado, etc.;
" Falha no dimensionamento: projetos arquitetônicos mais ousados (grandes vãos
livres, limitações de altura e balanços significativos) trazem mais dificuldades ao projeto
estrutural. Essas características aumentam a possibilidade de erros, exigindo maior
sensibilidade do calculista ao real comportamento da estrutura;
" Mudança das ações ao longo da vida útil da estrutura: muito comum em caso de
pontes e de viadutos das rodovias que foram projetadas para um trem-tipo da época,
entretanto o peso dos caminhões vem aumentando ao longo dos anos;
" Alteração da utilização da edificação: laje projetada como teto tem agora sua utilização
requerida para piso residencial; demolições parciais de elementos da edificação para
ampliação de espaços livres exigem que as peças tenham novo comportamento estrutural;
" Materiais com resistência inadequada: muito comuns são os casos em que a
resistência característica do concreto, especificada em projeto, fique abaixo do valor aferido
pelo controle tecnológico do material na obra;
Enfim, são diversos os motivos que surgem na prática da engenharia e exigem a
aplicação do reforço estrutural. Entretanto, é fundamental entender o motivo do reforço, as

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condições da peça existente e se há necessidade de mais resistência (maior capacidade de
carga) ou de melhor comportamento em serviço (menor deformação, controle de fissuração).
É claro que muitas vezes a peça a ser reforçada apresenta uma condição de serviço já
comprometida pela existência de fissuras, flecha excessiva, corrosão, entres outras
manifestações patológicas. Em tais casos, primeiro se faz necessário o tratamento (reparo)
dessas anomalias para depois proceder com a execução do reforço estrutural do elemento.
Se o motivo do reforço estiver relacionado com o reestabelecimento das condições de
serviço, quem deve governar os aspectos de projeto e a definição pela melhor técnica de
reforço é o Estado Limite de Serviço (ELS) em vez do Estado Limite Último (ELU). Por
exemplo, uma viga com flecha excessiva pode apresentar resistência suficiente, mas uma
elevada deformação. Assim, a correção da flecha é o motivo do reforço e pode ser feita pela
escolha de uma técnica que seja mais eficiente para o objetivo pretendido.
Para o reforço de um elemento estrutural, existem algumas técnicas, sendo as mais
difundidas no meio técnico:
" Aumento da seção transversal com concreto e novas armaduras;
" Colagem de chapas de aço na superfície de concreto;
" Adição de cordoalhas externas e tracionamento;
" Colagem de polímeros reforçados com fibras na superfície de concreto;
" Adição de polímeros reforçados com fibras em entalhes executados na estrutura de
concreto;
Segundo Souza e Ripper (1998), o reforço por aumento de seções de concreto e de
armadura existentes é, evidentemente a opção mais empregada no Brasil. Essa observação
feita pelos autores pode ser reafirmada para o tempo presente, pois a referida técnica ainda
conta com a vantagem do baixo custo associado aos materiais envolvidos (aço e concreto) e
a tradição do uso desses elementos.
Por outro lado, alguns aspectos que não devem ser ignorados com a técnica é a
implicação de aumento das dimensões das seções transversais e uma significativa
interferência no ambiente com o reforço. Esse é um aspecto que deve ser alvo de discussões
prévias entre os envolvidos.
Por outro lado, a técnica apresenta excelente resultado de desempenho frente a
casos em que a necessidade é pelo aumento de resistência e/ou rigidez do elemento
estrutural. Esse é o caso do presente trabalho em que, devido a mudança de utilização de
uma edificação construída em 1982, fez-se necessária a demolição de paredes para

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ampliação do espaço livre, pois o objetivo era a implantação de uma sala Multiuso onde
haveriam cursos para capacitação dos professores da rede municipal de ensino.
Ocorre que, com a demolição de paredes e a necessidade de espaços livres de
obstáculos fez-se necessária a demolição de 4 pilares, sendo dois pilares de apoio
intermediário em cada uma das duas vigas existentes do pavimento de cobertura da referida
edificação.
Assim, o artigo tem como objetivo apresentar em forma de estudo de caso: as
características da edificação alvo do processo de alteração de utilização, e a solução adotada
para o reforço estrutural das vigas existentes devido à necessidade da nova configuração do
esquema estrutural. A técnica de reforço proposta como solução foi a de aumento da seção
transversal das vigas por meio de maior altura e adição de novas barras de aço tracionadas.
2. METODOLOGIA
O estudo de caso refere-se a uma edificação construída em 1982 que ao longo de sua
vida útil já foi utilizada como Escola Municipal de Educação Infantil e como base para o
desenvolvimento de um Projeto Cultural do Governo do Estado.
O projeto atual de utilização da edificação é voltado para a Secretaria Municipal de
Educação utilizar o espaço como centro de capacitação dos professores da rede municipal
pública de ensino, para tanto suas instalações foram reestruturadas e um Auditório com
capacidade para 200 (duzentas) pessoas também será construído. O objetivo geral é tornar a
edificação apta para a ministração de cursos, palestras e treinamentos.
A Figura 1 ilustra a Implantação das edificações no terreno, sendo em vermelho a
edificação existente a ser reformada (Centro de Capacitação), em verde é a ampliação
(Auditório) e ao lado é a edificação já existente (Secretaria de Educação) que não será
submetida a nenhum tipo de intervenção.

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Figura 1 - Implantação das edificações no Lote.

Fonte: Próprio autor (2022).

Para a instalação de uma Sala Multiuso na edificação destinada ao Centro de


Capacitação fez-se necessária a demolição de trechos de paredes para a ampliação de área
dos ambientes existentes.
A Planta de fôrmas indicada na Figura 2 mostra as paredes que foram demolidas
(linhas tracejadas em vermelho). Como se vê, junto a Parede 1 existem os pilares P8 (15x40
cm) e P10 (15x40 cm) e junto a Parede 2 constam os pilares P9 (15x40 cm) e P11 (15x40
cm).
Com a demolição das paredes 1 e 2 e a remoção dos pilares P8, P9, P10 e P11, o
esquema estático das vigas V5 e V6, originalmente composto por três tramos (sendo o maior
tramo com apenas 2,28 m), será modificado para apenas um tramo 7,07m de comprimento
(vão total de 7,22m).
Assim, o objetivo do presente estudo de caso é analisar a capacidade de carga da
seção transversal das vigas V5 e V6 em sua condição original para efeitos de comparação
com os novos valores de solicitação em virtude da modificação do esquema estático devido a
demolição de pilares de apoio. O estudo de caso tem também por objetivo apresentar o cálculo
de dimensionamento da técnica de reforço por aumento de seção transversal das vigas.

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Figura 2 - Detalhe da Planta de Fôrmas da sala Multiuso

Fonte: Próprio autor (2022).

Figura 3 - Corte AA.

Fonte: Próprio autor (2022).

2.1. Descrição das vigas existentes.


Devido a idade da edificação, nenhum dos projetos foram localizados. Assim, as
dimensões que constam indicadas na Planta de fôrmas e a geometria da seção transversal
das vigas V5/V6 foram obtidos por meio de inspeção técnica realizada para tal finalidade.
As vigas V5/V6 são idênticas em termos de geometria da seção e comprimento, sendo
doravante simplesmente denominadas por vigas. Como elas são invertidas, o levantamento
das dimensões da seção transversal por meio da inspeção foi revestido de maiores
dificuldades devido a presença do telhado. Na Figura 4 mostra-se o aspecto original das vigas
e o registro de suas dimensões por meio da inspeção que foi realizada.

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Figura 4 - Aspecto das vigas e registro das dimensões.

VIGA

Fonte: Próprio autor (2022).

Figura 5 - Registro das dimensões e posições das vigas sob o telhado.

Fonte: Próprio autor (2022).


Na Figura 6 tem-se o aspecto do ambiente com a indicação dos pilares após a
demolição das paredes. A presença desses pilares é indesejável à nova utilização do
ambiente, portanto, fez-se necessária a remoção dos quatro pilares da estrutura existente.

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Figura 6- Pilares após a demolição das paredes.
VIGAS INVERTIDAS 15x40 cm
V5 V6

P10 P8
P9
PILARES A REMOVER P11
Fonte: Próprio autor (2022).

2.2. Esforços solicitantes da viga antes e após a remoção dos pilares


Na Figura 7 tem-se uma vista tridimensional do trecho de interesse da estrutura
existente com indicação dos pilares a serem removidos. O modelo estrutural indicado foi
idealizado utilizando-se um software computacional de dimensionamento e detalhamento de
estruturas de concreto.
Figura 7 - Vista tridimensional da estrutura existente

Fonte: Próprio autor (2022).

O esquema estático da viga V5 antes da remoção dos pilares e os diagramas de


esforços solicitantes são os indicados nas Figuras 8, 9 e 10, respectivamente. Os esforços
foram obtidos mediante a consideração dos seguintes valores característicos das ações:
÷ Revestimento argamassado sobre a laje de teto (espessura de 2 cm): 0,42 kN/m2;
÷ Telhado em fibrocimento (espessura de 8 mm) e estrutura em madeira: 0,50 kN/m2;
÷ Carga acidental (forro acessível somente para manutenção): 0,10 kN/m2;

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Figura 8 3 Esquema estático da viga V5 antes da remoção dos pilares P8 e P10.

Fonte: Próprio autor.

Figura 9 - Esforço cortante de Cálculo da Viga V5.

Fonte: Próprio autor.

Figura 10 3 Momento fletor de Cálculo da viga V5 antes da remoção dos pilares.

Fonte: Próprio autor (2022).

A seção transversal da viga V5 é indicada na Figura 11. Como se vê, a viga é composta
por armadura formada por duas barras de aço de 8 mm de diâmetro na região inferior da
seção e por duas barras de 8 mm de diâmetro na região superior. Os estribos são formados
por barras de aço de 5 mm de diâmetro com espaçamento de 20 cm.
Figura 11 3 Vista lateral e detalhamento da armadura da viga V5.

Fonte: Próprio autor (2022).

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A planta de Fôrmas é indicada na Figura 12 e a vista tridimensional da estrutura após
a remoção dos pilares é mostrada na Figura 13.

Figura 12 - Planta de Fôrmas após a remoção dos pilares.

Fonte: Próprio autor (2022).

Figura 13 - Vista tridimensional da estrutura após a remoção dos pilares

Fonte: Próprio autor (2022).

O novo esquema estático da viga V5 com a remoção dos pilares é o indicado na Figura
14. São também apresentados os novos diagramas de esforços solicitantes de cálculo nas
Figuras 15 e 16.
Figura 14 3 Esquema estático da viga V5 após a remoção dos pilares P8 e P10.

Fonte: Próprio autor (2022).

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Figura 15 - Diagrama de Esforço Cortante após a remoção dos Pilares.

Fonte: Próprio autor (2022).

Figura 16 - Diagrama de Momentos Fletores de Cálculo após remoção dos pilares.

Fonte: Próprio autor (2022).

Os valores dos esforços solicitantes estão reunidos na Tabela 1. Como se vê, os


valores dos esforços foram significativamente modificados com o novo esquema estrutural
devido a remoção dos pilares. O valor do cortante aumentou de 19,70 kN para 47,40 kN e os
valores dos momentos fletores positivos e negativos foram aumentados para 51,38 kN.m e
35,10 kN.m, respectivamente.
Tabela 1 - Esforços solicitantes de cálculo da viga V5
Antes da remoção Após a remoção
V(kN) M+(kN.m) M-(kN.m) V (kN) M+(kN.m) M-(kN.m)
19,70 5,16 11,95 47,40 51,38 35,10
Fonte: Próprio autor (2022).

2.3. Capacidade resistente da viga V5

A determinação do momento fletor resistente da seção transversal da viga foi feita


utilizando-se as prescrições e recomendações da NBR 6118 (2014). Para tanto, a distribuição
de tensões e de deformações específicas na seção transversal é a indicada na Figura 17. Os
parâmetros indicados são:
÷ b: largura da seção transversal da viga;
÷ d e d9: altura útil da armadura tracionada e comprimida, respectivamente;
÷ As e A9s: área da armadura tracionada e comprimida, respectivamente;
÷ x: posição da linha neutra da seção;

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÷ Rc, Rs e R9s: resultante de força no concreto comprimido, na armadura tracionada
e na armadura comprimida, respectivamente;
÷ MN: momento fletor resistente da seção transversal;
÷ õc, õs e õ9s: deformação específica do concreto comprimido, armadura tracionada e
comprimida, respectivamente;
A distribuição das tensões no concreto foi considerada com o diagrama simplificado
do tipo retangular com altura (y = ü.x), sendo ü = 0,8 (concreto C20) e tensão de pico igual a
(ñ.fcd) com ñ = 0,85 para concreto C20.
Figura 17 - Distribuição de tensões e deformações específicas na seção transversal.

Fonte: Próprio autor (2022).

O equilíbrio das resultantes de forças que atuam na seção transversal é representado


pela Equação (1), em que, isolando-se <x=, chega-se a Equação (2).

. . . . 2 . 2 (1)

0,85. . 0,8. . . 2 . 2

. . (2)
, . .

As tensões na armadura tracionada (ós) e na armadura comprimida (ó9s) da Equação


(2), não são conhecidas, a priori. Para tanto, considera-se como hipótese inicial o valor linha
neutra correspondente a x0 = 15%.d.
O valor da linha neutra inicial (x0) é comparado com os valores limites associados aos
domínios de deformações específicas da seção transversal no Estado Limite Último, ou seja:

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÷ Domínio 2: x2-3 = 0,259.d (3)

÷ Domínio 3: x3-4 = 0,628.d (para o aço CA-50) (4)

Assim, conhecendo-se o domínio de deformação em que a seção se encontra, são


obtidas as deformações e as tensões nas armaduras. Para a armadura comprimida, a tensão
é calculada conforme a deformação específica obtida pela compatibilidade de deformações
específicas conforme Equação (5):
(" )
2 . (5)
( ")

Com os valores das tensões nas armaduras, a posição da linha neutra deve ser
recalculada utilizando-se novamente a Equação (2). O equilíbrio da seção é estabelecido
quando o novo valor da linha neutra (x1) é igual ao valor anterior (x0). Caso o equilíbrio não
seja verificado, deve-se iniciar novo processo iterativo para obtenção da linha neutra que
representa o equilíbrio de forças da seção transversal. Aqui, o valor da linha neutra para início
de cada loop do processo iterativo foi adotado como sendo a média aritmética entre os dois
valores conforme Equação (6).
"% &"' (6)
$ $
A partir do equilíbrio das forças, fica conhecido a posição da linha neutra e as tensões
nas armaduras. Assim, o momento fletor resistente de cálculo (MN) da seção transversal é
calculado a partir da Equação (7) proveniente do equilíbrio de momento das forças em relação
ao centro de gravidade da armadura tracionada As:
() * . + + *2 . (- -)

() 0,68. . . . (- 0,5. ) + 2 . 2 . (- -)

() 0,68. . . . (- 0,4. ) + 2 . 2 . (- -) (7)

A verificação do ELU em relação ao esforço cortante foi calculado conforme as


recomendações da NBR 6118 (2014). A resistência da seção transversal da viga é
considerada satisfatória, quando forem verificadas simultaneamente as condições indicadas
pelas Equações (8) e (9):
01 f 03 $ (8)

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01 f 03 4 0 + 05 (9)
Em que:
÷ 01 é a força cortante solicitante de cálculo, seção mais solicitada;
÷ 03 $ é a força cortante resistente de cálculo, relativa à ruína das diagonais
comprimidas de concreto. Pode ser calculada pelo Modelo I (Equação 10) que
admite diagonais de compressão inclinadas de 6 = 45ð em relação ao eixo
longitudinal da viga;
03 $ 0,27. 9$ . . .- (10)
Onde:

9$ :1 <
> (fck em MPa) (11)
$=
Pelo Modelo II (que admite diagonais de compressão inclinadas de ñ em relação ao
eixo longitudinal da viga, sendo esse valor livremente variável entre 30ð e 45ð), a força
resistente de cálculo VRd2 é calculada pela Equação (12).

$
03 $ 0,54. 9$ . . 5 . -. ?@A 6. (BCDE + BCDE6) (12)

Com: 9$ calculado conforme a Equação (11)


O parâmetro VRd3 representa a força cortante resistente de cálculo relacionada com a
ruptura da seção por tração diagonal, sendo calculada (Equação 13) pela contribuição dada
pela parcela associada a mecanismos de resistência complementares ao modelo de treliça
(Vc) e pela parcela de esforço que é absorvida pelos próprios estribos (Vsw).

03 4 0 + 05 (13)
Pelo Modelo I de cálculo, a parcela Vsw é obtida pela Equação (14), em que:

05 F
. 0,9. -. H5 . (sen + cos ) (14)
1

÷ 5 é a área da seção transversal dos estribos;


÷ S é o espaçamento entre os elementos da armadura transversal medido segundo
o eixo longitudinal da viga;
÷ H5 é a tensão na armadura transversal, limitada ao valor da tensão de
escoamento, no caso de estribos, e não se tomado valor superior a 435 MPa;
A parcela resistente Vc, para o caso de flexão simples, é calculada pela Equação (15),
em que:

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0 0,60. N . .- (15)

O<,PQR
N S

÷ N é a resistência de cálculo à tração direta do concreto;


÷ NT,UV é a resistência característica inferior à tração direta do concreto;
÷ ÷c é coeficiente de minoração da resistência do concreto (1,40);
Pelo Modelo II de cálculo, as parcelas resistentes Vsw e Vc são calculadas por meio
das equações (16) e (17).

05 1
F
. 0,9. -. H5 . (BCDE + BCDE 6 ). ?@A (16)

Na flexão simples, Vc = Vc1, portanto temos:


0W 0 quando 01 f 0X
0W 0 quando 01 03 $, interpolando-se linearmente para valores intermediários
por meio da Equação (17).
9Y Z 9[
0W 0 . (17)
9Y Z 9 '

3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS


Os valores das características geométricas da viga V5 e as propriedades mecânicas
dos materiais utilizados nos equacionamentos apresentados anteriormente são reunidos na
Tabela 2.
Tabela 2 - Características geométricas e propriedades mecânicas dos materiais
Parâmetro Valores
Largura da seção (b=bw) 15 cm
Altura da seção (h) 40 cm
Altura útil da armadura tracionada (d) 36,60 cm
Altura útil da armadura comprimida (d9) 3,40 cm
Resistência característica do concreto à compressão (fck) 20 MPa
Área da armadura tracionada (As) 1,00 cm2
Área da armadura comprimida (A9s) 1,00 cm2
Bitola do estribo 5 mm
Espaçamento entre estribos 20 cm
Área da seção transversal dos estribos de força cortante (Asw); 1,96 cm²/m
Fonte: Próprio autor (2022).
A comparação entre os esforços solicitantes e resistentes da seção transversal da viga
é indicada na Tabela 3. Com relação ao esforço cortante verificou-se que a capacidade da
seção da viga relacionada a resistência à compressão das bielas comprimidas (VRd2) é de
194,82kN pelo Modelo I e 168,72kN pelo Modelo II de cálculo (para inclinação das bielas
comprimidas de 30º). Esses valores de capacidade são muito superiores ao valor do cortante

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solicitante de 47,40 kN, o que garante a segurança da viga mediante a possibilidade de ruptura
do concreto da diagonal comprimida.
Ainda com relação ao efeito do esforço cortante, verificou-se que a capacidade
resistente da seção da viga, em termos de ruína por tração diagonal, considerando-se os
estribos a 90º, tem uma resistência de 64,53kN, conforme verificação realizada pelo modelo I
de cálculo, e de 82,09 kN pelo modelo II de cálculo. Assim, a seção da viga tem capacidade
resistente satisfatória a favor da segurança estrutural e, portanto, não há necessidade de
reforço ao cisalhamento, mesmo após a remoção dos dois pilares existentes.

Tabela 3 - Comparação entre capacidade resistente da seção transversal e esforços solicitantes.


Capacidade resistente da seção original Solicitação após remoção dos pilares
Cortante (V) 64,53kN 47,40 kN
Momento + 16,63 kN.m 51,38 kN.m
fletor (MN) - 16,63 kN.m 35,10 kN.m
+ momento fletor positivo; - momento fletor negativo;
Fonte: Próprio autor (2022).

Com relação ao momento fletor, verifica-se que a capacidade da seção (16,63 kN.m)
é inferior aos novos valores de momento fletor solicitante, positivo (51,38 kN.m) e negativo
(35,10 kN.m). Assim, a seção transversal deve ser reforçada no sentido de aumentar sua
capacidade ao momento fletor.
É interessante notar que a capacidade resistente da seção da viga deve ser aumentada
em até três vezes conforme indicado pela relação 51,38/16,63 ð 3,0. O motivo do reforço não
se trata de aumento de carga, mas de nova configuração estática da viga devido o aumento
do vão pela remoção de dois pilares intermediários. Mediante a essas considerações, a
técnica adotada para o reforço à flexão da viga foi a de aumento de seção e adição de novas
barras, pois há necessidade de aumentar significativamente (3X) a resistência da peça com
valores aceitáveis de flecha.

3.1. Dimensionamento do reforço à flexão


O método de dimensionamento do reforço por aumento da seção transversal da viga
e adição de novas barras foi aquele baseado nos conceitos da NBR 6118 (2014),
considerando-se o comportamento da viga como é mostrado na Figura 18. O pressuposto
para o comportamento indicado é que a viga será totalmente descarregada no ato da
execução da técnica de reforço (remoção do telhado e escoramento das lajes por escoras
metálicas). Essa hipótese é bem coerente com o caso, pois a condição original da viga é de

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pouca solicitação em termos de esforços, pois os vãos e os carregamentos são pequenos
(carga apenas da laje de cobertura e telhado). Ademais, por inspeção realizada, não se
verificou a presença de fissuras no concreto da região tracionada da viga. Assim, com o seu
descarregamento, as deformações no concreto e nas armaduras existentes, tendem a serem
reduzidas significativamente, aproximando-se a hipótese de cálculo do reforço (Figura 18) do
comportamento real da viga.
Figura 18 - Comportamento idealizado para a seção reforçada por aumento de seção e
adição de barras de aço.

Fonte: Próprio autor.

Por meio do equilíbrio das resultantes de forças que atuam na seção transversal,
chega-se à equação (18):

* + *23 * + *3 + *2 (18)

. . . . + 3. 3 + . 3. 3

P/ fck= 20MPa (novo concreto semelhante ao já existente), temos:


0,85. . 0,80. . . + 3. 3 + . 3. 3
. & \ . \ & Y. Y \ \
Y. Y (19)
, . .

A metodologia de cálculo do reforço é também iterativa e igual aquela já descrita para


a seção sem reforço, acrescentado-se as parcelas de forças resistentes relacionadas com a
armadura adicional de reforço (AR.óR e A9R.ó9R) posicionadas no interior das camadas (hR e

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h9R).O cálculo consiste em determinar o momento fletor resistente da seção reforçada (MR)
tendo-se como referência a posição de linha referente ao equilíbrio de forças da seção
conforme o procedimento iterativo. A equação (20) é proveniente do equilíbrio de momento
das forças em relação ao centro de gravidade da armadura tracionada As.

(3 *2 . (- -2) ]*3 . (-3 -) + * . (- 0,4. ) + * 3 . (- - 3 )^

(3 2 . 2 . (- -) ] 3 . 3 . (-3 - ) + 0,68. . . . (- 0,4. ) + 3. 3 . (- - 3 )^ (20)

Nas Tabelas 4 e 5 são agrupados os dados que foram utilizados para o cálculo do
momento fletor resistente da seção reforçada e também são apresentados os resultados
obtidos. O valor do momento fletor resistente obtido é aquele corresponte a ruptura das novas
barras de aço por deformação excessiva da armadura (õR = 100). O coeficiente de segurança
÷N foi aqui utilizado como sendo igual a 0,9, levando-se em conta o efeito de monolitismo da
seção reforçada.
Tabela 4 3 Dados e resultados do dimensionamento da seção reforçada.
Variável Parâmetro Valores
b Largura da seção 15 cm
hT Altura total da seção reforçada 60 cm
d Altura útil da armadura tracionada existente 46,6 cm
d9 Altura útil da armadura comprimida existente 13,4 cm
d9R Altura útil da armadura adicional de reforço negativa 3,5 cm
dR Altura útil da armadura adicional de reforço positiva 56,5 cm
hR Altura adicional de concreto superior 10 cm
h9R Altura adicional de concreto inferior 10 cm
As Armadura positiva existente 2Ø8mm(1,01cm²)
A9s Armadura negativa existente 2Ø8mm(1,01cm²)
Fonte: Próprio autor.

Tabela 5 - Dados e resultados do dimensionamento da seção reforçada


AR Armadura adicional de reforço positiva 2Ø10mm e 1Ø8mm
(2,07cm²)
A9R Armadura adicional de reforço negativa 2Ø10mm (1,57cm²)
c Cobrimento da armadura adicional de reforço 2,50 cm
ARsw Estribo complementar ö5 mm
x Profundidade da linha neutra de equilíbrio 8,40cm
÷N Coeficiente de segurança seção reforçada 0,9
MR Momento fletor resistente de cálculo da seção reforçada 62,08 kN.m
õC 1,740
Deformações Específicas no ELU da seção reforçada õ9R 1,020
õ9S 1,040

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õS 7,940
õR 10,00
Fonte: Próprio autor.

O momento fletor resistente da seção reforçada tem seu valor igual a (÷N.MR) = 62,08
kN.m. Para efeito de verificação da segurança estrutural da viga, esse valor desse ser
comparado com o valor solicitante de cálculo (MN = 51,38 kN.m), acrescido da parcela ôM
referente ao momento fletor relacionado com o peso próprio do aumento da seção.
O esquema estático da viga reforçada e os diagramas de esforços solicitantes são
indicados nas Figuras 19, 20 e 21, respectivamente. Como se vê o momento fletor solicitante
já considerando o efeito do peso próprio do reforço (MN + ôM) é igual a 56,30 kN.m.
Como o momento fletor resistente da seção reforçada (÷N.MR = 62,08 kN.m) é superior
ao momento fletor solicitante (56,30 kN.m) a seção está em segurança em termos de
possibilidades de ruptura de materiais relacionadas ao ELU.
Figura 19 - Esquema estático após retirada dos pilares com peso próprio do reforço.

Fonte: Próprio autor.

Figura 20 - Força Cortante de Cálculo solicitante após o reforço.

Fonte: Próprio autor.

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Figura 21 - Momento Fletor de Cálculo solicitante após o reforço.

Fonte: Próprio autor.

Na Figura 22 é apresentado o detalhamento da seção transversal da viga reforçada e


na Figura 23 é indicado o detalhamento longitudinal.
Figura 22 - Detalhe da seção transversal da viga reforçada

Fonte: Próprio autor (2022).

Figura 23 - Detalhamento longitudinal da viga reforçada

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Fonte: Próprio autor (2022).

3.2. Avaliação da flecha na viga V5


Para a avaliação da flecha imediata da viga reforçada foi utilizado a expressão de
rigidez equivalente indicada pela NBR 6118 (2014) conforme Equação (21).
4 4 (21)
(_`)ab _X1 . c:de > . ` + c1 : de > g . `hh g f _ . `
df df
Em que:
(EI)eq 3 rigidez equivalente da viga fissurada;
Ic 3 momento de inércia da seção bruta de concreto;
III 3 momento de inércia da seção no estádio II (fissurada);
Ma 3 momento fletor na seção crítica do vão considerado;
Mr 3 momento fletor de fissuração do elemento estrutural;
Ecs 3 módulo de elasticidade secante do concreto.
A Figura 24 representa a seção transversal no estádio II, após o concreto apresentar
fissuração em sua parcela tracionada.

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Figura 24 - Representação da seção transversal da viga reforçada no Estádio II.

Fonte: Próprio Autor (2022).

O cálculo da posição da linha neutra da seção reforçada no Estádio II (xII) e do


respectivo momento de inércia (III) foram calculados de forma simplificada e a favor da
segurança, desprezando-se a parcela de armaduras originais da viga (As e A9s). As referidas
Equações (22) e (23) são indicadas a seguir:

0,5. . ( hh )
$
+ 3 . ( hh -23 ). ( a 1) 3. a . (-3 hh ) 0 (22)

."ii j n.Ø Y o n.ØY o


`hh klØ 3 . + 3 . ( hh -23 )$ q + 3. a . ( hh -23 )$ + a . klØ3 + 3 . (-3 hh ) q
$
(23)
4 p p

O valor da flecha inicial da viga (ai) foi estimado chegando-se a Equação (26),
considerando-se as Equações (24) e (25), referente ao esquema estático bi-apoiado e bi-
engastado, respectivamente. As referidas equações foram tomadas de Pinheiro et al. (2009).

= s.to
rU .
(24)
4 p (uh)vw

W s.to
rU . (uh) (25)
4 p vw

4 s.to
rU .
(26)
4 p (uh)vw

Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 32ª edição 3 Abril de 2023 - página 22 de 25
A flecha adicional diferida, decorrente das cargas de longa duração em função da
fluência, foi calculada de maneira aproximada pela multiplicação da flecha imediata (ai) pelo
fator ³f calculado pela seguinte equação (27):
yz
³ (27)
W&= .{

Em que:
—¿ é um coeficiente em função do tempo, que pode ser obtido pela tabela 17.1 da NBR
6118;
\ é a relação entre a área da armadura comprimida e o produto entre a largura
|
.
da viga e a altura útil;
O valor da flecha total (r t) foi obtido multiplicando-se a flecha imediata (r i) por (1+³f)
Na Tabela 6 são reunidos os valores de resultado da estimativa da flecha total da viga
reforçada.

Tabela 6 3 Resultado do cálculo da flecha total da viga V5.


Variável Parâmetro Valores
Mr Momento fletor de fissuração 27,85 kN.m
Ma Momento fletor para o ELS 40,21 kN.m
³e Coeficiente de homogeneização aço/concreto 9,86
As Área de aço 1,57 cm²
xII Profundidade da linha neutra no estádio II 10,33cm
III Momento de Inércia no Estádio II 49.512,5 cm4
(}~)•€ Rigidez equivalente 24.858,97 kN.m²
•‚ Flecha imediata 0,35 cm
•ƒ Flecha diferida 0,64 cm
•„…„ Flecha Total 0,99 cm
•†‚‡ Flecha Limite (L/250) 2,88 cm
Fonte: Próprio autor (2022)

Visto que ·tot = 0,99cm < ·lim = 2,88cm, o reforço atende ao estado limite de serviço
quanto a deformação excessiva das vigas após o aumento da seção transversal.

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4. CONCLUSÕES
A mudança de utilização dessa edificação construída em 1982, gerou a necessidade
de alteração do esquema estático de vigas de concreto armado devido a remoção de dois
pilares de apoio intermediários. As vigas tinham 3 tramos de vão máximo igual a 2,45 m,
conforme projeto e execução original, passaram, entretanto, a ter vão único com 7,22 m de
comprimento entre os eixos dos apoios devido a retirada dos pilares. As vigas apresentavam
seção transversal de 15 cm de largura, 40 cm de altura, concreto C20 e duas barras de aço
de 8 mm nas faces inferior e superior da seção. Os estribos eram formados por barras de 5
mm a cada 20 cm. Assim, o momento fletor resistente da seção original da viga era de apenas
16,63 kN.m e o esforço cortante resistente de 64,53 kN. Devido à alteração do esquema
estático das vigas, os esforços foram modificados. O momento fletor solicitante passou a ser
de 51,38 kN.m (3 vezes superior a capacidade) e o novo esforço cortante foi de 47,40 kN
(inferior a capacidade da seção). Mediante a comparação entre os novos esforços e a
capacidade original da viga, ficou evidenciada a necessidade de reforço somente do momento
fletor das vigas. A técnica de reforço adotada foi de aumento de seção e adição de novas
barras de aço devido a necessidade de um elevado incremento de resistência da viga e
também de rigidez mediante a modificação do vão. O dimensionamento do reforço foi
realizado considerando a contribuição da parcela de resistência oferecida pelas armaduras
existentes (tracionada e comprimida), considerando também o descarregamento e
escoramento da viga para a execução do reforço. Foi possível obter uma seção final com 60
cm de altura, sendo 10 cm de aumento da altura da viga na face inferior e 10 cm na face
superior. Portanto o momento fletor resistente da seção reforçada foi de 62,08 kN.m, superior
ao momento fletor solicitante. Na face superior da viga foram necessárias duas barras de 10
mm de diâmetro e na face inferior duas barras de 10 mm e uma de 8 mm. O cálculo de flecha
da viga reforçada mostrou que a deformação total da nova seção (9,9mm) é inferior ao limite
(28,8mm). É importante registrar que os dois apoios de extremidades das vigas não foram
verificados em razão do aumento de carga por não fazer parte do escopo do estudo. Por fim,
o estudo demonstrou a possibilidade de utilização da tradicional técnica de reforço por
aumento de seção mediante situação em que se faz necessário considerável aumento de
capacidade de carga.

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5. REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2014). NBR 6118: Projeto


de estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2019). NBR 6120: Ações


para o cálculo de estruturas de edificações. Rio de Janeiro.

SOUZA, V. C. M., Ripper, T. Patologia, recuperação e reforço de estruturas de


concreto. São Paulo: Pini, 1998;

Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 32ª edição 3 Abril de 2023 - página 25 de 25
A IMPORTÂNCIA DO CONTROLE DA TEMPERATURA DO
CONCRETO NA PREVENÇÃO DE FISSURAÇÕES E DA DEF, PARA
A GARANTIA DO DESEMPENHO DAS ESTRUTURAS

THE IMPORTANCE OF CONTROLLING THE TEMPERATURE OF


CONCRETE IN THE PREVENTION OF CRACKING AND DEF, TO
GUARANTEE THE PERFORMANCE OF STRUCTURES
Patricia Gambale, Concrecon, patriciaggambale@hotmail.com;
Edna Possan, edna.possan@unila.edu.br;
Nicole Hasparyk, nicole@furnas.com.br;

RESUMO
Muitas edificações urbanas devido à altura e robustez têm exigido elementos de concreto com elevadas
dimensões, assim com o uso de concretos com maior resistência mecânica. Entretanto, elementos que
demandam de elevados volumes de lançamento de concreto carecem de atenção quanto às
manifestações patológicas advindas do processo exotérmico de hidratação do cimento, sendo
recomendado que a temperatura não ultrapasse 65 ºC. O cuidado na execução de estruturas com
elevados volumes em concreto já bastante difundido na construção de barragens, e vem ganhando
espaço na construção civil urbana devido à potencialidade de ocorrência de DEF (delayed ettringite
formation), que é a consequência da inibição da reação ou decomposição térmica da etringita primária
por excesso de calor, gerando fissurações no concreto endurecido. Seu controle deve ser conduzido
por medidas mitigadoras, similar ao que ocorre com outras reações expansivas do concreto, como a
RAA (reação álcali-agregado). Neste contexto, este trabalho objetiva apresentar os riscos associados
à durabilidade destas estruturas devido às altas temperaturas que podem ser atingidas pelo concreto
pelo processo de hidratação do cimento. Também são apresentadas estratégias (ou medidas
mitigadoras) na fase inicial do projeto e execução para controlar a elevação de temperatura devido ao
calor de hidratação, evitando fissuras de origem térmica e a ocorrência de DEF. A adoção de medidas
mitigadoras é a forma mais econômica e segura para garantir a maior durabilidade do concreto e o
aumento da vida útil e segurança das estruturas.
Palavras-chave: Calor de Hidratação. Fissuras, Concreto. Reações expansivas. Durabilidade.

ABSTRACT
Many urban buildings, due to their height and robustness, have required concrete elements with high
dimensions, as well as the use of concrete with greater mechanical strength. However, elements that
demand high volumes of concrete pouring need attention regarding the pathological manifestations
arising from the exothermic process of cement hydration, and it is recommended that the temperature
does not exceed 65 ºC. The care in the execution of structures with high volumes of concrete is already
widespread in the construction of dams and has been gaining ground in urban civil construction due to
the potential for the occurrence of DEF (delayed ettringite formation), which is the consequence of the
inhibition of the reaction or thermal decomposition of the primary ettringite by excess heat generating
cracks in the hardened concrete. Its control must be carried out by mitigating measures, like what occurs
with other expansive concrete reactions, such as AAR (alkali-aggregate reaction). In this context, this
work aims to present the risks associated with the durability of these structures due to the high
temperatures that can be reached by concrete by the cement hydration process. Strategies (or mitigating
measures) are also presented in the initial phase of the design and execution to control the temperature
rise due to the heat of hydration, avoiding thermal cracks and occurrence of DEF. The adoption of
mitigating measures is the most economical and safest way to guarantee the greater durability of the
concrete and the increase in the useful life and safety of the structures.
Keywords: Hydration heat. Cracking. Concrete. Expansive reactions. Durability.

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1 INTRODUÇÃO
Um volume de concreto com dimensões grandes o suficiente para exigir que medidas
sejam tomadas para lidar com a geração de calor durante a hidratação do cimento e com
variações volumétricas a fim de minimizar fissuras pode ser definido como concreto massa.
O ACI 207.1-21 (2022) afirma que a única característica que distingue o concreto massa de
outros concretos é o seu comportamento térmico que pode causar perda da sua integridade
estrutural e ação monolítica.
Estruturas com essas características estão mais suscetíveis aos efeitos da hidratação
do cimento Portland, uma reação de natureza exotérmica que pode alcançar temperaturas
superiores a 75ºC caso não tomadas medidas de controle. Segundo Mehta e Monteiro (2014)
o fenômeno da hidratação do cimento Portland decorre de reações químicas entre a água e o
grão de cimento, que envolvem mecanismos de dissolução-precipitação ou reações
topoquímicas (hidratação no estado sólido).
Durante o início da hidratação do cimento, ainda na fase aquosa, a relação
sulfato/aluminato é elevada, fazendo com que a etringita se cristalize, formando a etringita
primária. Com o passar do tempo, as características da solução se alteram, aumentando a
solubilidade dos aluminatos. Após o sulfato da solução ser consumido, quando a
concentração de aluminatos se eleva novamente, a etringita torna-se instável e é
gradativamente convertida em monossulfoaluminato de cálcio. (NEVILLE, 2016).
Quando as temperaturas internas do concreto superarem determinados limites,
podendo variar de 60 a 65ºC, a etringita primária se decompõe e gera uma fonte interna de
íons sulfato podendo levar a formação da etringita tardia ou DEF (Delayed Ettringite
Formation) que é um dos tipos de Ataque Interno por Sulfatos (ISA) que depende da
composição química do cimento, tempo de manutenção do patamar de temperatura e
condições de umidade no ambiente da estrutura durante a sua vida útil (MELO, 2021), e está
propício a ocasionar diversos danos às estruturas de concreto, visto que a mesma se forma
após o endurecimento da pasta de cimento, acarretando no desenvolvimento de
manifestações patológicas devidas à sua expansão volumétrica.
De acordo com ACI 301 (2020), a temperatura máxima no concreto massa não deve
exceder 70ºC e a diferença máxima de temperatura entre o seu núcleo e a sua superfície não
deve superar 35ºC. Em concreto massa as temperaturas devem ser monitoradas desde o
instante do seu lançamento até o instante de equilíbrio entre a temperatura média ambiente
diária e as temperaturas internas do seu núcleo. Já Bauer et al. (2006) apresenta referências
variadas de outras faixas de temperatura limite, dependendo de cada país, conforme
apresentado na Tabela 1. Na Alemanha e África do Sul, por exemplo, 60ºC é o valor registrado
e que não deve ser ultrapassado.

Tabela 1 - Especificações Internacionais de Cura Acelerada.


Máxima Temperatura
País Agência/ Especificação
Temperatura aplica-se a:
Canadá CSA/A23.4-94 70 °C Concreto
Dinamarca DS482 (jan. 1999) 70 °C Concreto
Manual de Documentos Contratuais para
Inglaterra 70 °C Concreto
obras rodoviárias
Alemanha Comitê do Concreto Armado 60 °C Concreto
África do Sul SABS/0100-2:1992 60 °C Vapor
Espanha UNE/83-301-91 70 °C Não especifica
Fonte: Traduzido pela autora (Bauer et al., 2006).
Em função do perfil dos concretos atuais que demandam resistências características
cada vez mais altas e consequente consumos elevados de cimento, somadas as dimensões

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suficientemente grandes, restritas condições de dissipação de calor e com restrições à
movimentação, a geração de calor pode ser preocupante (CARVALHO, 2002).
Na Figura 1 são observadas fissuras ocorridas durante a construção de estrutura de
uma UHE devido à queda abrupta da temperatura (Temperatura máxima registrada no centro
de gravidade da peça menos a temperatura média ambiente) que ultrapassou o limite
admissível de 15ºC (GAMBALE; TRABOULSI, 2015).
Figura 1 3 Fissuras observadas na UHE Santo Antônio.

Fonte: Gambale e Traboulsi (2015).

A especificação de resistências com valores que variam de 50 MPa até 70 MPa pelos
projetistas tem aumentado no Brasil (FUNAHASHI JR. et al., 2022). Muitos blocos de fundação
vêm sendo concretados com cimentos sem adições e, quando elas são empregadas, não é
feita uma análise prévia para o controle da temperatura e definições do melhor teor da adição.
Ou ainda, quando o estudo térmico é feito, muitas vezes, na prática, o concreto é lançado em
condições que não condizem fielmente ao recomendado (FUNAHASHI et al., 2022b).
À medida que as resistências aumentam, ocorre aumento do consumo de cimento nas
dosagens dos concretos, em geral. Segundo Gambale et al. (2019), o aumento do consumo
de cimento em misturas de concreto testadas, aliado a uma baixa relação água/cimento,
tendem a reduzir a permeabilidade, porém, ajudam na elevação da temperatura interna do
concreto devido às reações exotérmicas, podendo causar fissurações de origem térmica,
como pode ser observado na Figura 2.

Figura 2 - Detalhe de fissuração mapeadas em fundação de edificações no Brasil causada pela


excessiva geração de calor a partir das reações de hidratação do cimento.

Fonte: Selmo C. Kuperman (FUNAHASHI JR. et al., 2022).


O dano ocasionado às estruturas ou elementos de concreto devido às reações
químicas do cimento Portland, pode levar a estrutura ao colapso, demandando ações de

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recuperação ou até a substituição do elemento fissurado. Por esse motivo a forma mais
econômica para que isso seja evitado é a adoção de medidas mitigadoras.
Com a preocupação em disseminar o conhecimento quanto aos riscos de elevadas
temperaturas no concreto e com relação aos cuidados recomendados para se garantir a maior
durabilidade e aumento da vida útil e segurança das estruturas, este trabalho foi desenvolvido.

2 CAUSAS DE ELEVADAS TEMPERATURAS


2.1 Calor de hidratação do cimento
O processo de fabricação do cimento consiste essencialmente na moagem da matéria-prima
(maiormente calcário e argila), na sua mistura íntima em determinadas proporções e na
queima (a temperaturas de até cerca de 1.450 °C) em fornos rotativos, onde o material é
sinterizado e parcialmente fundido, tomando a forma de esferas conhecidas como clínqueres.
O clínquer é resfriado e recebe a adição de um pequeno teor de sulfato de cálcio, sendo então
moído até se tornar um pó bastante fino, resultando na formação do cimento Portland.
Todos os cimentos comercializados apresentam um teor de adição em sua
composição e, atualmente, a NBR 16697 especifica um aumento do teor máximo de fíler
calcário em 5% para todos os tipos de cimento, exceto para o CPII-F, cujo teor máximo
permitido passou de 10% para 25%, e no teor máximo de escória granulada de alto-forno no
CP III, que passou de 70% para 75%, mantendo-se, contudo, o teor mínimo de clínquer em
25%, como previa a norma anterior. Essa alteração visou um alinhamento com padrões
normativos internacionais e atende aos direcionamentos da Agência Internacional de Energia
(IEA) e da Iniciativa pela Sustentabilidade do Cimento (CSI), que incentivam a adoção de
alternativas ou tecnologias mais avançadas para diminuir emissões específicas de CO2 por
tonelada de cimento.
Quando o cimento entra em contato com a água, reações químicas de hidratação
ocorrem e os grãos anidros do cimento hidratam-se formando compostos específicos. Essas
reações de hidratação são exotérmicas e, dependendo do composto formado, uma
quantidade específica de calor é gerada. Os picos de temperatura que um concreto pode
alcançar, em decorrência dessas reações exotérmicas, também podem variam em função de
vários fatores, em especial, a composição, o cimento e o consumo de cimento empregado
(GAMBALE, 2015; GAMBALE, et al., 2019). O calor de hidratação é um problema potencial
para concreto massa, já que a elevação da temperatura e sua manutenção por períodos
relativamente longos pode levar à fissuração.
Como o calor de hidratação do cimento é bastante influenciado pelo teor de C3A,
algumas especificações prescritivas para obras limitam o teor deste constituinte de 5% a 15%
variando de acordo com o tipo de cimento conforme a ASTM C150. Como alternativa, a
redução do calor de hidratação pode ser conseguida com o uso de cimentos com maiores
teores de adição (VIEIRA, 2020).
O calor de hidratação varia em função das características químicas e físicas do
cimento, recomendando-se a realização de ensaios específicos no material a ser utilizado no
concreto (ABCP, 2012). De acordo com Bentz (2010), os compostos presentes no cimento
que irão determinar a liberação de calor de hidratação e ainda, a velocidade de hidratação
inicial de cada composto é proporcional à área específica do cimento, conforme Figura 3. Os
dados apresentados referem-se aos resultados de calor de hidratação para 3 e 7 dias e a
temperatura máxima monitorada em calorímetro semiadiabático para três pastas de cimentos
distintos.

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Figura 3 3 Resultados de calor de hidratação para 3 e 7 dias e temperatura máxima atingida em
calorímetro semiadiabático para 3 tipos de cimentos.
450 J/g 407 J/g 424 J/g
359 J/g 378 J/g 44 °C

Temperatura Máxima
Calor de Hidratação

400 J/g
331 J/g 42 °C
350 J/g 294 J/g
300 J/g 40 °C
40,7 °C
250 J/g 38 °C
200 J/g 36 °C
150 J/g 36,5 °C
100 J/g 34 °C
50 J/g 32 °C
32,1 °C
0 J/g 30 °C
CP V ARI - Blaine 4980cm²/m CP II F 40 - Blaine 5090cm²/m CP IV - Blaine 5742cm²/m
C3S (%) 61,5 61,5 60,6
C2S (%) 14,0 14,0 11,1
C3A (%) 8,8 8,8 8,0
C4AF (%) 9,1 9,1 9,2

Calor de Hidratação - 3 dias


Calor de Hidratação - 7 dias
Temperatura máxima no calorímetro semiadiabático (°C)
Fonte: Gambale, 2017.

Já na Figura 4 são apresentados os resultados de elevação adiabática de temperatura


para concretos confeccionados com cimentos do tipo CP II F-40, CP IV e CP V-ARI, referentes
às primeiras 24 horas (a) e para o período de 28 dias (b).

Figura 4 3 Resultados de elevação adiabática de temperatura de concretos com o cimento CP II F-40,


CP IV e CP V ARI: a) por 24 horas; b) por 28 dias.

Fonte: Gambale, 2017.

No caso de concreto massa, para minimizar o problema da elevação de temperatura,


deve-se fazer o uso de cimentos com baixo calor de hidratação, como os que contém
pozolanas (cinzas volantes) ou escórias de alto forno em sua substituição. Essa prática é
bastante comum em barragens, nas quais são empregados grandes volumes de concreto em
estruturas massivas.
No Brasil, o cimento Portland de baixo calor de hidratação deve atender aos requisitos
químicos, físicos e mecânicos estabelecidos conforme seu tipo e classe originais. Na Tabela
2 apresentam-se as prescrições normativas sobre calor de hidratação para variadas normas.

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Tabela 2 - Prescrições normativas de calor de hidratação para cimento Portland de baixo calor de
hidratação.
Normas Tempo (h) Calor de hidratação (J/g)
NBR 16697/18 41 f 270
72 f 250
ASTM C150
672 f 290
72 f 250
BS 1370:1979
672 f 290
EN 197:2011 41 f 270
Fonte: Elaborado pela autora.

Uma medida comum para minimizar os efeitos do calor de hidratação do concreto é


evitar uma exagerada elevação da temperatura na estrutura através de intervenções na
composição do material. Assim, com esse objetivo, pode-se, por exemplo, reduzir o consumo
de cimento, por meio de substituições. A substituição de clínquer por adições minerais reduz
a cinética da reação de hidratação, podendo reduzir também a sua amplitude, se a pozolana
for de baixa reatividade (FURNAS, 1997), conforme observado na Figura 5.

Figura 5 - Resultados dos estudos realizados da elevação adiabática da temperatura em concretos


que utilizaram cimentos com diferentes porcentagens de escória de alto-forno.
Cimento Adição
Dosagem a/c
kg/m³ Tipo %

E-3778 323 Ref. -

E-3822 309 55
0,535
Escória

E-3882R 301 80

Fonte: Furnas, 1997.

A variação dos valores no calor de hidratação dos cimentos pode estar relacionada à
grande variabilidade na quantidade de adição mineral para cada tipo de cimento, sendo a
adição de escória de alto forno de 6% até 34% para os cimentos tipo CP II, e adição de 35%
até 70% de adição de material pozolânico para os cimentos tipo CP III, além das
características da solubilidade e reatividade das adições minerais e fases do clínquer e área
específica destes materiais (FUNAHASHI JR., 2018).
A ASTM C150 (2012) descreve cinco tipos de cimentos principais para uso em fábricas
de pré-moldados e a Figura 6 ilustra o aumento da temperatura adiabática de concreto com
os cimentos tipo I, considerado um cimento geral para todos os fins e usado quando as
propriedades especiais dos outros tipos de cimento não são necessárias, e o tipo II,
especificado em cenários em que o produto de concreto deve exibir maior resistência aos
sulfatos, e o efeito das cinzas volantes no aumento da temperatura adiabática de concreto.
Este é o aumento teórico da temperatura se o concreto não for resfriado.

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Figura 6 3 Efeito das cinzas volantes e diferentes tipos de cimento no aumento da temperatura
adiabática de concreto.

Fonte: Traduzido pela autora (GADJA; VANGEEM, 2002).

A temperatura do concreto varia com a espessura da camada e com o tempo. Quanto


mais espessa a camada, maior será a temperatura máxima atingida na reação de hidratação
do cimento, até um certo valor que deverá ser próximo da temperatura de lançamento mais a
adiabática. Para evitar regiões centrais muito afastadas da atmosfera, o que aprisionará o
calor na estrutura por mais tempo, define-se número de camadas e altura delas para que o
calor de cada camada possa ser dissipado em grande parte antes de vir mais concreto em
cima para atrapalhar essa perda de calor interno. Na Figura 7 é observado a influência do
consumo de cimento no fenômeno térmico e influência significativa da altura da camada de
concretagem.

Figura 7 3 Influência do consumo de cimento e altura da camada de concreto no fenômeno


térmico.

Fonte: Gambale e Traboulsi (2015).

Todos os empreendimentos devem contemplar um adequado controle tecnológico do


concreto, e que leve em conta potenciais riscos térmicos e manifestações patológicas.
Quando existem riscos de patologias de cunho térmico, além de cuidados para controlar o

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calor de hidratação do cimento, deve-se levar em conta também a geometria da estrutura, a
fim de evitar fissuras que possam ser potencializadas pelo efeito térmico (GAMBALE, 2017).
A variação de temperatura também muda com a região do concreto analisada, como
pode ser notado na Figura 8. Para o centro da estrutura têm-se as maiores temperaturas
atingidas, enquanto no topo acontece o inverso. Isso resulta num gradiente de temperatura
para o concreto que é o responsável pela fissuração, por isso o isolamento térmico da
superfície no processo de cura é importante.

Figura 8 3 Vista superior (a) e corte (b) da localização dos termopares utilizados para o
monitoramento da temperatura nos blocos e temperaturas máximas e mínimas.

90,0 °C
TEMPERATURA (°C) 80,0 °C
70,0 °C
60,0 °C
50,0 °C
40,0 °C
30,0 °C
20,0 °C
10,0 °C
0,0 °C
TR TR TR TR TR
00 01 02 03 04
T Máx 81,1 ° 78,4 ° 77,5 ° 69,6 ° 42,3 °
T Min 30,8 ° 31,1 ° 30,0 ° 27,5 ° 20,9 °

Fonte: Gambale, 2017.

2.2 Cura térmica


A cura do concreto pode ser entendida como o conjunto de medidas que tem por finalidade
evitar a evaporação prematura da água necessária para a hidratação do cimento, que é
responsável pela pega e endurecimento do concreto. A finalidade da cura é manter o concreto
saturado, ou o mais próximo possível dessa condição até que os espaços inicialmente
ocupados pela água sejam ocupados pelos produtos da hidratação do aglomerante
empregado. A cura adequada é fundamental para que o concreto alcance o seu melhor
desempenho, resultando em uma redução de porosidade e, por conseguinte ganho de
durabilidade das estruturas (BARDELLA et al., 2005).
De acordo com a NBR 9062 (2017), o processo de cura térmica deve ser bem
controlado, pois a grande perda de água em altas temperaturas podem influenciar
negativamente na resistência e causar danos nas peças. Portanto deve-se levar em conta as
fases de tempo de espera entre o fim da concretagem e o início da aplicação do calor,
velocidade máxima da elevação da temperatura, temperatura máxima, tempo de aplicação do
calor e esfriamento. Ao se utilizar a cura a vapor deve-se estabelecer a curva de temperatura
em função do tempo mais conveniente para o processo de produção. Devem ser respeitados
os seguintes parâmetros:
a) incremento máximo na elevação de temperatura: 20°C/h;
b) temperatura máxima no elemento submetido a tratamento de vapor sob pressão
atmosférica: 70°C;
c) decréscimo de temperatura no resfriamento de no máximo 30°C/h.

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O aumento da temperatura na cura do concreto conduz ao aumento da taxa de
hidratação do cimento Portland e, por conseguinte, ao aumento da resistência à compressão
nas primeiras idades (DESCHNER et al., 2013). Este método de cura funciona como um
acelerador das reações de hidratação do cimento. Uma temperatura mais alta durante e
depois do contato inicial do cimento com a água, a extensão do período de latência é reduzida
de modo que a estrutura total da pasta de cimento hidratada se define mais cedo (NEVILLE,
2016).
Além disso, com a elevação da temperatura aumenta-se a velocidade de dissolução
dos constituintes anidros do clínquer. Sendo assim, a cura térmica deve ser criteriosamente
avaliada, levando-se em consideração todas as variáveis intervenientes, para que os
resultados esperados sejam alcançados e os efeitos colaterais indesejados evitados, como a
queda de resistência em idades mais avançadas e perda de desempenho, tendo em vista a
ocorrência do desenvolvimento de uma microestrutura mais porosa ou ainda pela formação
tardia de etringita (BINGÖL; TOHUMCU, 2013; BRITO, 2013).
De acordo com Taylor, Famy e Scrivener (2001), ao final da cura térmica, uma grande
quantidade de Al2O3 e SO3 se encontra no C-S-H (silicato de cálcio hidratado), sendo que o
alumínio se apresenta fortemente ligado neste produto, substituindo a sílica e fixando-se nos
espaços entre as suas camadas. O alumínio poderá também estar combinado nas fases
aluminatos hidratados como a hidrogranada (C3AH6). Por sua vez, os sulfatos podem estar
presentes na solução dos poros, no monossulfato ou adsorvido no C-S-H.
Quando o material é armazenado sob condições de temperatura ambiente e alta
umidade, a maior parte do alumínio que se fixou ao C-S-H permanece nesta fase, o que está
presente na hidrogranada se encontra fortemente ligado. A disponibilização do alumínio para
a reação poderá ocorrer a partir da hidratação contínua do clínquer, mas a sua concentração
na solução dos poros é extremamente baixa. Logo, a maior fonte do Al2O3 passa a ser o
monossulfato, o que torna mais provável formação da etringita. Desta maneira, os principais
reagentes para a formação da etringita tardia são C-S-H, solução dos poros e monossulfato
(MELO, 2010).
Na Figura 9 é possível verificar a diferença entre calor de hidratação acumulado para
cimento composto com 6% e 70% de escória de alto forno para diferentes temperaturas de
cura térmica.

Figura 9 - Valores comparativos de calor de hidratação acumulado para cimento composto com 6%
(a) e 70% (b) de escória de alto forno.

CP II E6 (CI) CP II E70 (CI)


CP II E6 (23°C) CP II E6 (44°C) CP II E6 (65°C) CP II E70 (23°C) CP II E70 (44°C) CP II E70 (65°C)

284 301
271
362 334 333
371 362 351 385 224 230 243
298 319 206
174
133

41h 72h 168h 41h 72h 168h


Fonte: FUNAHASHI JR., 2018.

3 RISCOS POTENCIAIS AO CONCRETO


3.1 Riscos de fissuração
Segundo Fairbairn et al. (2003) e Carvalho (2002), grandes estruturas de concreto, tais como
barragens, blocos de fundação e lajes de pontes, podem estar sujeitas a fissurações,
principalmente nas primeiras idades de maturação do cimento Portland devido às tensões

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térmicas e a indução da retração autógena. Por isso é importante assegurar que a evolução
de calor seja controlada, permitindo assim que a mistura desenvolva uma microestrutura
densa, homogênea e livre de fissuras.
As variações de temperatura ambiente e no concreto endurecido originam mudanças
de forma e volume, provocando movimentação de contração e dilatação. Se tais mudanças
são impedidas pela vinculação da estrutura da obra, tensões que podem produzir a fissuração
do concreto são geradas (CASTRO; MARTINS, 2006).
A diferença entre as temperaturas internas e externas do concreto massa, ou seja, o
gradiente de temperatura, faz com que o concreto se deforme ocasionando as fissuras.
Quanto maior o gradiente de temperatura, maior a possibilidade do surgimento de fissuras, e
maior também as aberturas dessas fissuras devido ao aumento das tensões
(COELHO, 2012). De acordo com o ACI 301 (2020), a temperatura máxima atingida no
concreto massa não deve ultrapassar 70°C e a diferença de temperatura máxima entre o
centro e a superfície de colocação não deve ultrapassar 19°C, podendo variar de acordo com
a litologia do agregado. Essas temperaturas devem ser medidas de acordo com plano de
controle térmico para se evitar problemas como fissuras no concreto.
A fluência no concreto massa pode ser decisiva na atuação sobre o problema térmico,
pois é capaz de contribuir para redução da probabilidade de fissuras, quando for possível
reduzi-la nas primeiras idades e aumentá-la em idades mais avançadas, incrementando a
capacidade deformacional da estrutura. Pode ainda potencializar o aparecimento de fissuras
de origem térmica quando à magnitude da fluência for aumentada nas primeiras idades e
reduzida com o passar do tempo, amenizando o acúmulo de tensão de compressão na fase
de aquecimento da estrutura e posteriormente contribuindo para o aumento das tensões de
tração na fase de resfriamento (SANTOS, 2011).
O concreto, quando submetido a elevadas temperaturas, tende a expandir
proporcionalmente ao seu coeficiente de dilatação térmica. Nas idades iniciais o concreto se
apresenta no estado plástico, portanto, não apresenta restrições consideráveis, porém à
medida que as reações de endurecimento vão ocorrendo e o concreto passa para o estado
viscoelástico, as restrições à expansão do concreto aumentam, submetendo-o a tensões de
compressão, as quais são de pequena magnitude devido aos efeitos de fluência nas idades
iniciais (GAMBALE, 2017).
Gambale (2017), realizou uma análise de tensão de protótipos de blocos de fundação
de volume de 3,6 m³, por meio de um método simplificado, em que se analisou a tensão
instalada em comparação à tração na flexão e à tração direta em que foi possível prever a
probabilidade de fissuração do bloco que atingiu temperatura máxima de 100,76°C com
cimento CP V ARI e consumo 500kg/m³ visto que a tensão de tração instalada ultrapassou
ambas as resistências à tração.

3.2 Riscos de reações expansivas


Além do disposto em 3.1 relacionado às elevadas temperaturas, ainda, acima de 60-65ºC
ocorre alteração química interna no concreto, modificando o processo de hidratação normal
do cimento (MELO, 2010; HASPARYK, KUPERMAN, 2021). O produto de hidratação
denominado etringita primária (trissulfoaluminato de cálcio hidratado), responsável em
especial pela pega do cimento, se torna instável ou não se forma nas idades iniciais da forma
como era esperado. Assim, os íons sulfatos ficarão disponíveis tanto na solução dos poros do
concreto, adsorvidos no C-S-H quanto na forma de outros compostos, como por exemplo o
monossulfoaluminato de cálcio hidratado. Após o resfriamento do concreto, o meio volta a
trazer estabilidade a esse composto etringita, ao longo do tempo, e isso se dá com aqueles
íons sulfatos disponíveis, que reagem quimicamente para formá-la. O problema é que isso
ocorre quando o concreto já se encontra endurecido, e nessa etapa os produtos que são

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formados ocupam os espaços a ponto de preenchê-los e gerar pressões internas. Essas
novas formações (muitas vezes chamadas de neoformações de etringita) são capazes de
fissurar o concreto, o deteriorando, segundo Hasparyk e Kuperman (2021), sendo o fenômeno
conhecido por DEF (Delayed Ettringite Formation) ou formação de etringita tardia, que é um
dos tipos de Ataque Interno por Sulfatos (ISA).
Gambale et al. (2019) extraiu amostras a partir de um bloco de concreto com cimento
CP V ARI e consumo de 500kg/m³ que atingiu temperatura máxima de 100,76°C, com
aproximadamente 2 anos e foram observados, produtos característicos da etringita, tanto pela
morfologia como pelo seu quimismo (por microanálise 3 EDS). Essas formações se
encontravam de forma importante tanto dispersas na pasta como depositadas nos poros, além
de estarem presentes também em algumas zonas de transição entre a pasta e o agregado na
forma massiva, sugerindo a DEF, conforme observado na Figura 10.

Figura 10 3 Concreto com CP V (500 kg/m³) 3 a) Grande concentração de cristais de etringita


preenchendo o poro; b) Formações de etringita massiva na interface pasta/agregado.

a) b)
Fonte: Gambale et al., 2019.

A DEF é influenciada por vários fatores, incluindo as características dos cimentos, a


dosagem, a temperatura de lançamento, o patamar de temperatura atingido pelo concreto,
mas também pelo tempo de manutenção nesse patamar, além da condição de exposição ao
meio (umidade, temperatura, intempéries, etc.) durante a vida útil da estrutura (MELO, 2010;
BRONHOLO, 2020).
Ainda não existe normalização nacional que trata desse assunto e o único método
existente no Brasil para avaliar o potencial de desenvolvimento da DEF foi publicado por
FURNAS em 2020, compondo uma instrução técnica com método de ensaio em prismas de
concreto (IT.GSTE004), em que se sugere um limite de 0,04% para concretos com DEF, já
que resultados médios de expansão acima de 0,04% indicaram reduções expressivas nas
propriedades mecânicas dos concretos testados até 1 ano de idade.
O uso de adições minerais pozolânicas em substituição parcial ao cimento pode ter
efeitos positivos na minimização do ataque interno por sulfatos, do tipo DEF. Silva et al. (2021)
monitoraram concretos com diferentes adições por um período de 8 anos e concluíram que
algumas adições minerais, como o fíler calcário e cinza de biomassa, não são eficientes na
inibição de expansão frente ao processo de DEF enquanto a sílica ativa, metacaulim e a cinza
volante podem ser eficientes, nos percentuais de 10%, 15% e 30%, respectivamente.
No estudo de Funahashi et al. (2022) é possível verificar que na presença do
metacaulim em maiores percentuais, os valores de expansão medidos foram menores,
conforme observado na Figura 11. Para as amostras com 12 e 14% de metacaulim, não foram
identificadas expansões e sim retrações, porém, ao longo do tempo, é notado um crescimento

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lento e gradativo das expansões para todas as condições estudadas, principalmente, para as
argamassas contendo 4 e 8% desta pozolana.

Figura 11 - Dados de expansão por DEF ao longo do tempo 3 amostras contendo metacaulim (MTC).

Fonte: Funahashi Jr. et al., 2022.

Os estudos de DEF, quando envolvem avaliação de adições pozolânicas, mostram a


necessidade de análises em idades mais avançadas, como é o caso do método desenvolvido
para concreto (HASPARYK et al., 2020) e nos ensaios em argamassas o mesmo
comportamento tem sido notado (OLIVEIRA et al., 2021).
A DEF pode provocar reflexos negativos expressivos às propriedades dos concretos,
tanto ao módulo de elasticidade quanto às resistências à compressão e tração (SCHOVANZ
et al., 2021). Os estudos mostraram graves consequências da DEF nas propriedades do
concreto com um cimento de alta resistência, com reduções da ordem de 55% tanto para a
resistência à compressão quanto à tração, e de 72% para o módulo de elasticidade

4 CONSIDERAÇÕES E CUIDADOS RECOMENDADOS


Com os avanços tecnológicos para as análises estruturais e melhoria contínua das
modelagens matemáticas por meio de softwares, estão sendo observados projetos estruturais
de edifícios cada vez mais arrojados. Com o aumento das alturas das edificações e exigências
de desempenho de durabilidade, resistências características à compressão (fck) bastante
elevadas (superiores à 50 MPa) têm sido especificadas. Inevitavelmente, isto resulta no
aumento do consumo de cimento das dosagens e, no caso do concreto massa, aumentam os
riscos de fissuração de origem térmica e da DEF já que o aumento da temperatura é iminente.
Quando existem riscos que o concreto atinja elevadas temperaturas é de extrema
importância a realização de estudos térmicos prévios e que cuidados sejam tomados a fim de
mitigar possíveis expansões internas e evitar deterioração precoce do concreto e prejuízos às
suas propriedades, afetando a durabilidade e vida útil das estruturas.
O controle da elevação da temperatura interna do concreto deve ser feito com um
estudo prévio de dosagem do concreto e escolha dos materiais, além de um planejamento de
concretagem preliminar e acompanhamento e monitoramento durante a execução da obra.
Esses processos devem mobilizar todos os presentes durante o processo produtivo, ou seja,
o projetista, a fornecedora de concreto, o tecnologista/laboratório responsável pelo controle
tecnológico do concreto e a construtora.
Alguns procedimentos podem ser adotados para evitar o atingimento de altas
temperaturas, a saber:
" seleção dos materiais contituintes do concreto com base em modelagens
matemáticas, dosagens experimentais e testes em campo;
" uso de cimentos pozolânicos ou a substituição parcial do cimento por material

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pozolânico;
" seleção de cimentos com baixos teores de C3A;
" evitar uso de cimentos com elevada área superficial (finura Blaine ou BET);
" redução do consumo de cimento através do uso de aditivos químicos
superplasticantes que ajudam na redução da demanda de água e aumentam a fluidez
do concreto, contribuindo dessa forma para redução das máximas temperaturas no
interior do concreto;
" utilização de aditivos estabilizadores de hidratação quando o pico da hidratação é
controlado para ocorrer em períodos do dia de menor temperatura ambiente.
" lançamento do concreto a uma temperatura mais baixa por meio de pré-refrigeração
dos materiais e uso de gelo como forma de substituição parcial ou total da água do
traço;
" execução da concretagem em camadas de menores espessuras e com intervalo de
no mínimo 48 horas, sendo que o aumento do intervalo possibilita o decréscimo da
temperatura máxima atingida;
" pós refrigeração por meio de serpentinas, que devem ser previstos antes da
execução.
Isolados ou combinados as estratégias mitigatoras supracitadas visam garantir que a
temperatura do concreto não ultrapasse 65 ºC, evitando manifestações patológicas advindas
do processo exotérmico de hidratação do cimento, especialmente DEF (delayed ettringite
formation). A DEF após ocorrência é de díficil controle e correção sendo primordial a adoção
de medidas mitigadoras para a garantia da durabilidade de estruturas de concreto sugeitas a
sua ocorrência (grandes volumes de concreto, altos consumos de cimento, cimento com
elevada finura, entre outros).
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devem ser apresentados no final do artigo em ordem alfabética.

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ANÁLISE DO CANTEIRO DE OBRAS DURANTE A EXECUÇÃO DE
FUNDAÇÕES DE UM TERMINAL GRANELEIRO EM RIO GRANDE/RS
BASEADO NA NR-18
Matheus Schaun Caetano, Universidade Federal do Rio Grande,
schauncaetano@gmail.com;
LILIANE FERREIRA GOMES, Universidade Federal do Rio Grande, englica@gmail.com;

Alessandra Buss Tessaro, FURG, alessandrabuss@gmail.com;

Flávia Costa Mattos, Universidade Federal do Rio Grande, fcmattos@vetorial.net;

Jorge Luiz Oleinik Nunes, Universidade Federal do Rio Grande, jorgeoleinik@gmail.com;

Jorge Luiz Saes Bandeira, Universidade Federal do Rio Grande, jorge-band@hotmail.com;

Resumo: O Brasil está em terceiro lugar em número de mortes por acidentes de trabalho
segundo o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), sendo
a construção civil o setor com maior número de óbitos anualmente. Grande parte dos ocorridos
é resultado de quedas de altura, projeção de materiais e soterramentos. Sendo assim,
objetiva-se realizar uma análise dos aspectos de saúde e segurança do trabalho na execução
das fundações de um terminal graneleiro na cidade do Rio Grande baseado na Norma
Regulamentadora 18 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção
e comparar os resultados obtidos com a NR 28 – Fiscalização e Penalidades. Para tal,
realizou-se o levantamento do grau de cumprimento da NR 18 no canteiro através das
seguintes etapas: elaboração da lista de verificação, aplicação da lista de verificação,
tabulação e análise dos resultados. Desse modo, dos 270 itens analisados, 188 foram
cumpridos (69,6%), enquanto 59 não (21,9%) e os 23 restantes (8,5%) não se aplicavam na
análise, o que permite concluir que, em uma eventual fiscalização, o empreendimento estaria
suscetível a multa, com valor variando entre R$ 150.377,55 e R$ 171.309,46, relativo aos 59
itens que não foram cumpridos.

Palavras-chave: NR 18; Fundações; Segurança do trabalho

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ANALYSIS OF THE EXECUTION OF THE FOUNDATIONS OF A
GRANEL TERMINAL IN RIO GRANDE/RS BASED ON NR-18

Abstract: The United Nations Development Program (UNDP) report presents Brazil in third
place in terms of deaths from work accidents, with civil construction being the sector with the
highest number of deaths annually. Most of the incidents are the result of falls from heights,
projection of materials and burials. Therefore, the objective is to carry out an analysis of health
and safety aspects of work in the execution of the foundations of a bulk terminal in the city of
Rio Grande based on Regulatory Norm 18 - Working Conditions and Environment in the
Construction Industry and compare the results obtained with NR 28 – Inspection and Penalties.
To this end, the degree of compliance with NR 18 was carried out at the construction site
through the following steps: preparation of the checklist, application of the checklist, tabulation
and analysis of the results. Thus, of the 270 items analyzed, 188 were fulfilled (69.6%), while
59 were not (21.9%) and the remaining 23 (8.5%) were not applied in the analysis, which
allows us to conclude that, in an eventual inspection, the enterprise would be susceptible to a
fine, with an amount varying between R$ 150,377.55 and R$ 171,309.46, related to the 59
items that were not complied with.

Keywords: NR 18; foundations; Workplace safety

1. INTRODUÇÃO
Um estudo realizado pelo Confederação Nacional da Indústria (CNI), juntamente com a
Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), apresenta os dados do setor até junho
de 2019. O documento descreve a situação como “difícil, porém com tendência para melhoras
futuras”. Apesar dos índices de atividade e emprego estarem abaixo do esperado pelo setor,
eles cresceram pelo quinto mês consecutivo. O nível de atividade atingiu a marca de 48,2
pontos. Essa é a maior marca desde novembro de 2013, quando foi a 49,5 pontos. O índice
de evolução do número de empregados acompanha as tendências do índice de atividade
(CNI, 2019).
Na mesma frequência, as expectativas de nível de atividade, de compra de insumos e
matérias-primas e as expectativas do número de empregados também crescem, ou seja, todo

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o sistema depende de novos empreendimentos, pois além de gerar emprego e renda para os
trabalhadores, melhora as perspectivas de setores adjacentes à construção civil, como, por
exemplo, o comércio de materiais de construção.
Com os fatos apresentados anteriormente, nota-se que o setor da construção civil está
evoluindo, logo novos empreendimentos surgirão. No andamento das atividades, diversos
aspectos de engenharia devem ser observados a fim de entregar ao contratante resultados
de qualidade. Um desses aspectos é a segurança do trabalho,fato de grande importância para
diversos membros da indústria da construção civil, tais como o contratante e contratada, o
empregado e sua família, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), entre outros.
Desenvolver uma pesquisa na área de segurança do trabalho dentro do ambiente da
construção civil tem grande relevância para todos, a fim de consolidar a importância da
segurança do trabalho.
Este trabalho tem o objetivo de analisar o canteiro de obras, na etapa das fundações, de
acordo com a NR-18 em um terminal graneleiro na cidade de Rio Grande/RS.

2. METODOLOGIA
Esse trabalho foi desenvolvido baseado em um estudo de caso dentro de um terminal
graneleiro na cidade de Rio Grande/RS na etapa das fundações.
O método de pesquisa utilizado para realizar o levantamento do grau de cumprimento da NR-
18 nos canteiros compreendeu as seguintes etapas: elaboração e aplicação da lista de
verificação, tabulação e análise dos resultados.
Considerando os objetivos da pesquisa e a significativa extensão da norma, excluiu-se da lista
alguns tópicos, como itens de raríssima aplicação ou mesmo não aplicáveis a este subsetor,
tais como os itens 18.19 (Serviços em Flutuantes) e 18.25 (Transporte de Trabalhadores em
Veículos Automotores). Os itens excluídos por não fazerem parte da obra foram:

a. 18.4.2.10 Alojamento;
b. 18.4.2.12 Cozinha;
c. 18.4.2.13 Lavanderia;
d. 18.4.2.14. Área de lazer;
e. 18.5 Demolição;
f. 18.10 Estruturas metálicas;
g. 18.11. Operações de soldagem e corte a quente;

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h. 18.16 Cabos de Aço e Cabos de Fibras Sintética;
i. 18.17. Alvenaria, revestimentos e acabamentos;
j. 18.18 Telhados e Coberturas;
k. 18.19 Serviços em flutuantes;
l. 18.20 Locais confinados;
m. 18.25 Transporte de trabalhadores em veículos automotores;
n. 18.30 Tapumes e galerias;
o. 18.31 Acidente fatal;
p. 18.34 Comitês permanentes sobre condições e meio ambiente
do trabalho na indústria da construção;
q. 18.35 Recomendações Técnicas de Procedimentos – RTP 2.

A aplicação destes critérios de seleção resultou em vinte e quatro grandes elementos da


norma a serem abordados na lista, os quais por sua vez foram divididos em diversos itens,
representando as exigências da NR-18 para o elemento da norma analisado.
Para a redação das exigências e a configuração física da lista, as respostas assinaladas com
a opção “sim” representam os aspectos positivos (cumprimento da norma), as respostas
assinaladas com “não”, representam os aspectos negativos, e as respostas “não se aplica”
indicam exigências que não eram necessárias no canteiro devido à tipologia da obra.
A aplicação da lista de verificação teve a duração média de cinco dias. Durante as visitas ao
canteiro também foi documentado através de registro fotográfico, exemplos de boas práticas
em segurança do trabalho. Por uma questão de ética, profissional e acadêmica, os dados
fotográficos e de projeto que foram utilizados para a verificação normativa, referente às
atividades desenvolvidas no ambiente que está sendo estudado, não serão apresentados
nesse documento, visando proteger integralmente a imagem das pessoas físicas e jurídicas
envolvidas no empreendimento. A análise da documentação da comunicação prévia e do
PCMAT, bem como outros documentos que a norma determina, foram verificados juntamente
com o Técnico de Segurança que trabalha no local.
Depois de concluída a aplicação da lista, os resultados foram confrontados com a NR 28 –
Fiscalização e Penalidades.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a elaboração e aplicação da lista de verificação, 69% das exigências são atendidas no
terminal graneleiro, 22% não são atendidas e 9% não se aplicam ao local. Com análise mais
específica pode-se caracterizar melhor o grau de segurança e periculosidade do canteiro de
obras.
No quesito documental, a Comunicação Prévia atendeu todas as exigências feitas pela norma.
O Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT)
deve ser mais bem desenvolvido. Os percentuais atingidos da análise referente ao PCMAT
são de 80%. Nele devem ser inseridos os projetos de instalação, construção e fixação das
escadas, rampas e passarelas, bem como os projetos referentes às medidas de proteção
contra queda de alturas, além do programa educativo de prevenção de acidentes e doenças
do trabalho. Inserindo esses itens mostrados, o PCMAT estaria na sua totalidade de acordo
com as exigências da norma.
A característica do canteiro de obras não torna obrigatória a construção de alojamentos,
lavanderia, cozinha e áreas de lazer. Há na obra somente o local das refeições, instalações
sanitárias, vestiários e ambulatório. De acordo com a NR-18 a instalação sanitária deve ser
constituída de lavatório, vaso sanitário e mictório, na proporção de um conjunto para cada
grupo de vinte trabalhadores ou fração, bem como de chuveiro, na proporção de uma unidade
para cada grupo de dez trabalhadores ou fração. Na análise, 78,9% das exigências
normativas foram cumpridas, enquanto 18,4% não e 2,6% das exigências não se aplicavam
ao campo de estudo.
Deve ser disposto no canteiro de obras outro banheiro, pois a distância percorrida pelo
trabalhador mais distante é superior a 150m. Devem ser oferecidos mais quatro chuveiros. O
layout do gabinete sanitário, mictório e box de chuveiro devem ter suas medidas corrigidas.
Ainda em relação ao box do chuveiro, devem ser dispostos os acessórios auxiliares de banho
Na análise normativa em relação aos vestiários, 80% dos itens exigidos na norma são
atendidos. Considerando que existem mulheres no canteiro de obras, deve existir vestiário
próprio a elas. Elas utilizam no local, as instalações sanitárias para esse fim. O vestiário não
contempla bancos, o que é exigido pela norma. Para a correção desse, o layout do vestiário
deve ser modificado, pois o atual formato não permite a inserção de bancos para todos os
trabalhadores.
Em relação ao local das refeições, 93% dos itens são atendidos. Pela norma devem existir
outros três pontos de fornecimento de água potável. Esse foi o único aspecto não cumprido.

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Há a presença de espaço físico para ambulatório, porém está desativado. A norma exige
ambulatório somente se o empreendimento possuir mais de cinquenta trabalhadores. A norma
deixa esse assunto vago e transmite a falsa impressão de segurança no canteiro de obras.
Em relação às escavações, apesar de estarem sendo seguidas as exigências da NBR
9061/85 – Segurança de escavação a céu aberto na sua grande maioria, alguns itens não
foram cumpridos, 71% dos itens são atendidos, 13% não são atendidos e 16% não se aplicam
ao local analisado. Deve existir uma mureta de 30cm da escavação dos taludes para proteção
contra erosão e, caso apareça fendas ou rachaduras, essas devem ser fechadas com material
impermeável. O acesso de pessoas deve ser controlado. Apesar das condições dos taludes
serem verificadas diariamente, tais medidas devem ser tomadas a fim de precaver acidentes.
No setor de carpintaria, a serra circular de bancada encontra-se sem o empurrador, o que
representa um sério risco de acidente de trabalho. Além disso, não há proteção nas luminárias
do local. Deve ser instalado elemento de proteção das luminárias e também do empurrador
da serra circular da bancada. Do total das exigências, 25% não foram cumpridas, enquanto o
restante se encontra em conformidade com a norma.
A porcentagem de cumprimento das exigências referentes ao setor de ferragens foi de 57%.
No desenvolver da montagem das estruturas as pontas dos vergalhões devem ser protegidas,
além de colocar pranchas de madeira sobre as armações de aço para circulação dos
trabalhadores. Não há proteção nas luminárias no local de armação das estruturas. Essas
exigências não foram cumpridas em relação às armações de aço.
Em relação às estruturas de concreto, todas as exigências foram cumpridas.
As escadas, rampas e passarelas merecem atenção especial, pois representam um risco mais
elevado no tocante aos acidentes do trabalho, do total das especificações, 52% foi cumprido,
26% não foi cumprido e 21% não se aplica. Nas diferenças ligeiramente superiores a 40 cm
o acesso é improvisado, porém deve ser instalada escada ou rampa. A escada de mão deve
ultrapassar o piso superior em, no mínimo, 1,00m e ser fixada nas extremidades ou possuir
dispositivo que impedisse o escorregamento. Tais medidas não foram atendidas, além da
estrutura da escada apresentar farpas, o que não é permitido. Existe degrau entre o piso do
terreno e o piso da passarela, o que apresenta risco de tropeço e, consequentemente, queda
do trabalhador. Pode-se observar que doze dos vinte e três itens analisados foram cumpridos,
o que representa 52,2%, enquanto seis não e os outros cinco não se aplicavam.
O setor mais crítico analisado se apresentou nas medidas de proteção contra queda de
alturas. Nenhuma das exigências feitas pela norma foi atendida. Em diversos setores da obra

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que necessita dessa estrutura de proteção não havia e quando havia não eram seguidas as
exigências em relação às medidas, além de não conter a tela de proteção intermediária. Em
vários locais do piso que também necessitavam de estrutura de fechamento não a tinha.
Os equipamentos destinados à movimentação horizontal de material respeitam as exigências
normativas. O serviço de guindar era realizado por empresas terceirizadas que cumprem as
determinações feitas pela norma. Não há no canteiro de obras equipamento destinado a
movimentação de pessoas. Um único ponto que não foi respeitado no tocante à
movimentação de cargas é que os serviços normalmente, salvo exceções extremas, eram
realizados sob condições climáticas desfavoráveis. A região tem como característica o vento
forte, que dificulta o desenvolver desse tipo de atividade. Seria prudente que em dias adversos
tais atividades não fossem executadas. Nos dados referentes à análise normativa em relação
aos equipamentos de movimentação, 94% foi cumprido.
Os serviços em andaimes também merecem atenção especial. Deve ser contratado
profissional apto ao serviço de montagem de andaimes, com seu devido treinamento. Na
montagem dos andaimes, as ferramentas devem ser amarradas para evitar que caiam, porém,
essa exigência não foi atendida. A estrutura do andaime não apresenta piso com forração
completa, guarda-corpo e rodapé, além das sapatas da base serem, normalmente, adaptadas.
Para melhorar o acesso aos andaimes, deve ser inserida escada incorporada na estrutura. O
profissional usufrui do cinto de segurança, mas este não está ligado a um cabo guia
independente. Da análise realizada, pode-se perceber que 54,2% das exigências foram
cumpridas, 33,3% não e 12,5% não se aplicavam.
Em relação às instalações elétricas, 82% dos parâmetros foram cumpridos. Os condutores
obstruem a circulação de máquinas e pessoas com considerável frequência. Tal situação
pode ser evitada se for executado projeto das instalações elétricas provisórias em
conformidade com o layout do canteiro de obras. Não há sistema de proteção conta descargas
atmosféricas (SPDA), o que também é exigido, salvo se apresentado laudo técnico alegando
que tal exigência não se faz necessária. Considerando que há previsão de instalação desse
sistema, o processo poderia ser invertido, resolvendo o problema em questão e já deixando
esse sistema apto para uso após início das atividades do terminal.
A obra dispõe de maquinário leve e pesado. Em relação aos pesados, a norma exige que
possua dispositivo de bloqueio para impedir o acionamento por terceiros não autorizados, tal
exigência não é cumprida. As ferramentas leves estão em uso mais próximo da maioria dos
trabalhadores, como furadeiras, marteletes, serras, entre outros similares. Para esses, é

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solicitado que, quando não estiverem em uso, sejam deixados em local apropriado, realidade
diferente do encontrado in loco, além que suas pontas, com exceção da serra que possui coifa
anexada no equipamento, não estão protegidas. Para fazer a ligação do equipamento na
energia são utilizadas extensões, com cabo duplamente isolado, porém esses, seguidamente,
sofrem torção, o que também a norma condena, pois pode fazer a quebra do cobre presente
no cabo da extensão. Tais desencontros com a norma são possíveis de resolver orientando
os trabalhadores a atentarem sobre os ocorridos. Do total dos itens analisados, 75% foram
cumpridos.
No item dos EPIs, 50% das especificações são cumpridas, 17% não se aplicam e 33% não
são cumpridas. Os EPIs são fornecidos pela empresa contratante e estão todos em acordo
com legislação vigente. Há um acompanhamento dos EPIs entregues através das fichas, bem
como o prazo de validade de cada um desses. O dispositivo de trava-quedas não é ligado ao
cabo de segurança independente, nem a opção secundária é atendida, que seria a utilização
de duplo talabarte, mosquetão de aço inox e dupla trava. Pelo perfil de obra, realmente não
há possibilidade de instalação de cabo de segurança independente na maioria das situações.
Frente a esse cenário, a opção secundária deveria ser tomada para que seja atendida a
solicitação da norma.
Os ambientes destinados para armazenagem e estocagem de materiais se apresentaram
organizados, porém alguns tópicos importantes não foram atendidos. É de grande risco
possuir um material de periculosidade considerável e não se conhecerem os procedimentos
frente a uma situação de emergência. Investir em treinamento é a solução para essa questão.
A organização dos vergalhões de aço deveria melhorar. Do percentual da análise realizada
na armazenagem e estocagem de materiais, 78% das especificações são cumpridas.
Em relação à proteção contra incêndio,44% das especificações são cumpridas, 44% não são
e 12% não se aplicam. Deve haver sistema de alarme em todos os setores da obra, o que
não acontece. As lâmpadas perto de materiais combustíveis devem ser à prova de explosão,
mas na realidade são encontradas lâmpadas comuns. Há ausência de sinalização de “Risco
de Incêndio” e não há no canteiro de obras trabalhadores treinados para o primeiro combate
ao incêndio. Nesse quesito, investindo em treinamento e aquisição dos itens que a norma faz
exigência, as solicitações à proteção contra incêndio seriam atendidas na sua integralidade.
Há falta de sinalização de segurança que indiquem as saídas, a presença de substâncias
perigosas e cartazes alusivos à prevenção de acidentes e doenças de trabalho. Fazer a
aquisição dessa sinalização e instala-la é a única forma de se adaptar as exigências da norma.

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Nesse item relativo à sinalização de segurança, 56% foram cumpridos, 33% não foram e 11%
não se aplica.
O segundo aspecto crítico encontrado é referente ao treinamento de pessoal, onde 75% não
se aplica ao local e 25% não é cumprido. Não é realizado qualquer tipo de treinamento, o que
compromete a eficiência dos serviços executados, dos procedimentos de segurança, entre
outras ações internas do canteiro de obras. Muito se debate sobre a qualidade do serviço que
a construção civil exerce, mas pouco dessa realidade pode mudar sem o investimento em
treinamento. Os itens “não se aplica” são referentes ao treinamento realizado pela empresa.
Como não há treinamento, eles não se aplicavam à análise.
Em relação aos itens referentes à limpeza e a CIPA, eles se encontram em conformidade com
as exigências normativas. Já em relação às disposições finais, a APR é elaborada por
profissional licenciado, porém não é aprovada por Engenheiro de Segurança do Trabalho,
tampouco com emissão de ART específica.
Através da Tabela 1, pode-se reunir o resultado da análise completa, apresentando as
respectivas porcentagens dos tópicos atingidos, os não atingidos e aqueles que não se
aplicam.

Tabela 1 - Resultado da análise completa


Seção Sim Não N/A
Comunicação prévia 100,0% 0,0% 0,0%
PCMAT 80,0% 20,0% 0,0%
Instalações sanitárias 78,9% 18,4% 2,6%
Vestiários 80,0% 20,0% 0,0%
Locais das refeições 92,9% 7,1% 0,0%
Ambulatório 0,0% 100,0% 0,0%
Escavações, fundações e desmonte 70,8% 12,5% 16,7%
Carpintaria 75,0% 25,0% 0,0%
Armações de aço 57,1% 42,9% 0,0%
Estruturas de concreto 100,0% 0,0% 0,0%
Escadas, rampas e passarelas 52,2% 26,1% 21,7%
Medidas de proteção para quedas de alturas 0,0% 100,0% 0,0%
Movimentação e transporte de materiais e pessoas 94,1% 5,9% 0,0%
Andaimes e plataformas de trabalho 54,2% 33,3% 12,5%

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Instalações elétricas 81,8% 18,2% 0,0%
Máquinas, equipamentos e ferramentas diversas 75,0% 25,0% 0,0%
Equipamentos de proteção individual 50,0% 33,0% 17,0%
Armazenagem e estocagem de materiais 77,8% 22,2% 0,0%
Proteção contra incêndio 44,4% 44,4% 11,2%
Sinalização de segurança 55,6% 33,3% 11,1%
Treinamento 0,0% 25,0% 75,0%
Ordem e limpeza 100,0% 0,0% 0,0%
CIPA 100,0% 0,0% 0,0%
Disposições finais 50,0% 50,0% 0,0%
Fonte: Autoral.

Para os itens que não foram cumpridos, foi feito uma análise financeira de possíveis multas
que seriam aplicadas em uma eventual auditoria ou fiscalização dos órgãos competentes
baseado na NR 28 – Fiscalização e penalidades. Tal análise foi feita para o número médio de
80 trabalhadores no canteiro de obras, número coerente com o encontrado in loco. A análise
pode ser verificada no Apêndice B, anexado no final desse trabalho. O resultado da análise
financeira de possíveis multas pode ser visto na Tabela 2.

Tabela 2 - Resultado da análise financeira


N° de itens Valor mín. Valor máx.
60 R$154.503,06 R$176.010,65
Fonte:Autoral.

Note que o valor da multa é função do número de empregados, tipo de infração (segurança
ou medicina do trabalho) e grau de infração (variando de 1 a 4). A norma não determina um
valor para as multas, determina somente as faixas de mínimo e máximo, ficando isso à
sensibilidade do Auditor Fiscal do Trabalho (AFT) que avaliará cada situação. Como
apresentado anteriormente no Capítulo 2, subitem 2.7, as multas não são aplicadas de forma
instantânea, podendo inclusive a empresa solicitar prorrogação de prazo para resolver os
pontos verificados na fiscalização.
Note também que o valor previsto de multa para os itens que estavam em desacordo com a
norma é alto. Há uma grande chance dos investimentos necessários para que os itens em

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desacordo possam ser corrigidos serem inferiores à multa, afirmativa que só pode ser
confirmada mediante estudo específico. Alto valor de multa é uma medida prática, efetiva e
educativa para expor a importância do cumprimento das exigências das normas
regulamentadoras.
Mais importante que avaliar custo de multas é abordar sobre medidas práticas que podem ser
adotadas e que visam melhorar a situação encontrada no canteiro de obras, ações na
mudança de postura e atitude, ficando a cargo da empresa dar o suporte necessário para tais
mudanças.

4. CONCLUSÕES

Considerando as informações apresentadas no capítulo anterior, resultados e discussões,


pode-se observar que dos 270 itens analisados, 187 foram cumpridos, o que representa
69,3%. Explorando individualmente os grupos analisados, chegou-se a conclusão de o
canteiro de obras possui itens importantes a serem melhorados, o que trará ganho
considerável no tocante à prevenção dos acidentes de trabalho.
Expandindo o estudo para a área financeira, após análise dos itens que não foram cumpridas
as exigências, chegou-se a conclusão de que, em uma possível fiscalização dos órgãos
competentes, o empreendimento poderia receber uma multa que variante entre R$
154.503,06 e R$ 176.010,65, relativo aos 60 itens que não foram cumpridos.

REFERÊNCIAS

ABNT NBR 9061: Segurança de escavação a céu aberto. Rio de Janeiro, 1985.

CNI - Confederação Nacional da Indústria. Sondagem indústria da construção. Ano 10, nº 6,


junho 2019. Disponível em: <http://www.cbicdados.com.br/media/anexos/Sond-Jun19.pdf>.
Acesso em: 29 jul 2019.

MTE - Ministério do Trabalho e Emprego. Guia de análise: acidentes de trabalho. Disponível


em: <http://www.sinaees-sp.org.br/arq/mtegat.pdf>. Acesso em: 10 jun 2019.
MTE - Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora 18: Condições e meio
ambiente de trabalho na indústria da construção. 2018.

MTE - Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora 28: Fiscalização e


penalidades. 2017.

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INFLUÊNCIA DO FATOR DE FORMA NO DIMENSIONAMENTO DE
SAPATAS DE DIVISA

INFLUENCE OF THE FORM FACTOR ON THE SIZING OF STRAP


FOOTING
Alex Novak ; Nicole Hansen
1 2

1
Aluno de graduação, Universidade Tecnológica Federal do Paraná/UTFPR-GP,
alexnovak244@gmail.com
2
Aluna de graduação, Universidade Tecnológica Federal do Paraná/UTFPR-GP,
nikehansen123@gmail.com

RESUMO
Este artigo apresenta um estudo realizado variando o fator de forma de sapatas de divisa com viga
alavanca para valores além dos recomendados, permitindo assim, verificar as modificações ao se fazer
essas variações nas dimensões da sapata e na quantidade de armadura e concreto demandada, bem
como, entender o porquê das recomendações acerca dos valores especificados. O desenvolvimento
da análise se deu por meio de seis dimensionamentos com base nas normas da ABNT NBR 6122:
2019 e NRB 6118: 2014 com fatores de forma diferentes, os quais iniciavam em F = 1, variando a cada
0,5, até atingir 3,5. Os dimensionamentos tiveram valores da largura viga de equilíbrio fixos, para
utilização em pilares de dimensão, sofrendo apenas variações nas três dimensões principais da sapata.
A primeira conclusão obtida foi que, ao se utilizar valores muito acima do recomendado para o fator de
forma, esse acarretará em sapatas muito altas, inviabilizando sua execução, ocorrendo o mesmo para
valores abaixo do recomendado. A segunda e principal conclusão é que ao utilizar o fator de forma
variando entre 2 e 2,5, seu uso acarretou na maior economia com relação a quantidade de armadura
utilizada de todo o conjunto, possuindo o ponto ótimo de economia em 2,5, enquanto que outros valores
próximos apresentaram consumo maior de aço.
Palavras-chave: Sapatas de divisa. Fator de forma. Dimensionamento. Viga de equilíbrio. Viga
alavanca.

ABSTRACT
This article presents a study performed by varying the form factor of combined boundary footings to
values beyond the recommended ones, thus allowing to verify the modifications when making these
variations in the footing dimensions and in the amount of reinforcement and concrete demanded, as
well as to understand the reason for the recommendations about the specified values. The development
of the analysis was done through six designs based on ABNT NBR 6122: 2019 and NRB 6118: 2014
with different form factors, which started at F = 1, varying every 0.5, until reaching 3.5. The designs had
fixed equilibrium beam width values, for use in dimension columns, suffering only variations in the three
main dimensions of the footing. The first conclusion obtained was that, when using values much higher
than recommended for the form factor, this will result in very high footings, making their execution
unfeasible, the same occurring for values below recommended. The second and main conclusion is that
when using a form factor ranging between 2 and 2.5, its use resulted in the greatest economy with
respect to the amount of reinforcement used of the whole set, having the optimum point of economy at
2.5, while other values nearby presented higher steel consumption.
Keywords: Strap footing. Form factor. Sizing. Strap beam. Lever beam.

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1 INTRODUÇÃO
O projeto e execução de fundações, requer de um profissional competências nas diversas
áreas da engenharia, como cálculo estrutural, dimensionamento de estruturas em diversos
materiais e ainda um bom conhecimento em geotecnia, que abrange áreas como mecânica
dos solos e geologia, permitindo ao responsável conhecer as características possíveis do solo
de assentamento para então ter capacidade de atuar de maneira correta com esse material,
visto que o mesmo possui propriedades específicas de cada localização.
A fundação é a parte da estrutura que normalmente se coloca sob a superfície do
terreno, possuindo a função de transmitir as cargas para o solo ou rocha subjacente. Cada
edificação possui suas características próprias, com a necessidade de que sejam executadas
soluções construtivas que consigam suprir as necessidades da infraestrutura do
empreendimento realizado (BOWLES, 1996).
As fundações são classificadas em rasas e profundas e essas por sua vez, também
são divididas em técnicas, que servem para cada tipo de necessidade na execução da
infraestrutura, por exemplo, no campo das fundações rasas temos a fundação mais comum
sendo a sapata, essa que também pode ser dividida em subclassificações, possuindo também
a chamada sapata de divisa com viga alavanca ou viga de equilíbrio onde a viga é utilizada
para interligar a sapata de divisa com uma interna, buscando contornar a excentricidade
proveniente do pilar localizado na divisa. Para a execução dessa sapata há recomendações
construtivas que seu fator de forma, sendo ele, largura maior sobre largura menor esteja entre
2 a 2,5 (ALONSO, 2001). Apesar de, ser um valor utilizado por apresentar um tamanho
adequado a sapata, ainda ocorre a necessidade de se entender as vantagens devidas ao uso
dessa recomendação, ou ainda, verificar através de um estudo se este é mesmo o fator de
forma ótimo para se usar no dimensionamento desse tipo e fundação.
Em função da existência dessas soluções de fundação em divisas de terreno,
juntamente com a necessidade da comprovação do fator de forma ótimo para sapatas de
divisa, levando em conta que técnicas construtivas mais eficazes podem ocasionar em menor
gasto de material e tempo de mão de obra, reduzindo custos, fator imprescindível para a
realização obras de construção civil. Dessa forma, este trabalho possui o objetivo de analisar
a influência do fator de forma de uma sapata de divisa em relação ao momento fletor
decorrente da excentricidade do centro de gravidade do pilar e da sapata de divisa, e sua
influência no dimensionamento desta estrutura. verificando a correlação com a quantidade de
material empregada em sua contrução, visando comprovar ou encontrar o fator de forma ótimo
para as sapatas de divisa com viga alavanca.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A fundação é responsável pela transmissão de todas as ações atuantes na estrutura ao solo
no qual está assentado, geralmente, composta de elementos estruturais que se localizam em
sua maioria construídos abaixo do solo, as fundações por sua vez, podem ser divididas em
sua definição mais geral em dois grupos, elementos de fundações profundas e elementos de
fundações superficiais.
Segundo a ABNT NBR 6122:2019, o elemento de fundação profunda, é definido
como sendo um elemento que transmite as cargas ao terreno pela base, pela superfície lateral
ou pela combinação resultante de ambas, possuindo como definição que a ponta ou base
estar assente em uma profundidade que seja superior ao dobro de sua menor dimensão em
planta, e no mínimo 3,0 m, possuindo como exemplos estacas e tubulões. Já os elementos
de fundação superficial ou rasa, são definidos como aqueles que, sua carga é transmitida ao
terreno de assente por tensões que são distribuídas sob a sua base, porém, diferentemente
da fundação profunda, sua profundidade de assentamento é inferior a duas vezes a menor
dimensão da fundação, levando em consideração o terreno adjacente à fundação.

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O tipo mais comum de elementos de fundação superficial é a sapata, que segundo a
ABNT NBR 6122: 2019, é definida como um elemento de fundação rasa, executado de
concreto armado, em que as tensões de tração resultantes devem ser suportadas pela
armadura empregada. Devido a uma grande variabilidade na forma e na disposição dos
elementos sobre as sapatas, elas acabam sendo divididas em diversos tipos, como sapata
isolada, corrida, associada, de divisa, com viga de equilíbrio, etc.
A sapata isolada, geralmente a mais comum, transmite para o solo as ações
provenientes de um único pilar. Há também a sapata corrida diferentemente da isolada, sofre
a ação de uma carga distribuída sobre ela linearmente de pilares alinhados. Tem-se também
a sapata chamada de associada sendo uma larga sapata que suporta dois ou mais pilares
alinhados (KURIAN, 2005), que é utilizada basicamente em situações com pilares muito
próximos, no qual não se consegue projetar sapatas isoladas, dessa forma, sendo projetada
uma única sapata para mais de um pilar; Há a chamada sapata de divisa ou sapata isolada
sob pilar de divisa, em que, se executada não possuindo a ligação da sapata com um pilar
interno, a flexão devido à excentricidade do pilar deve ser combatida pela própria sapata em
conjunto com o solo; E ainda há a sapata com viga alavanca ou de equilíbrio, utilizada
geralmente em sapatas de divisa, onde ocorre uma excentricidade entre o ponto de aplicação
da carga e o centro geométrico da sapata, recebendo a carga proveniente de um ou dois
pilares, sendo dimensionado para que se possa transmiti-las de forma que fiquem centradas
às fundações. Assim, o momento fletor que seria resultante dessa excentricidade existente,
acaba sendo resistido e equilibrado pela viga alavanca, que possui sua outra extremidade
vinculada geralmente a um pilar interno da edificação ou a um elemento que fixe a
extremidade da viga no solo.
A demonstração de um exemplo de sapata de divisa combinada com viga alavanca
pode ser visualizada na Figura 1, na qual a sapata um representa uma sapata de divisa e a
sapata dois uma sapata interna à edificação.

Figura 1 3 Pilar de divisa sobre sapata combinada com viga alavanca

Fonte: BASTOS (2019).

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A Figura 1 divide-se em uma sapata de divisa, representada como sapata um, que
devido a possuir um pilar na extremidade, tem seu centro de gravidade alterado causando
uma excentricidade, que é transmitido pela viga alavanca a qual interliga as sapatas, e a
sapata dois, representa uma sapata isolada de um pilar interno interligada com a sapata um,
auxiliando em um alívio da carga da dessa sapata de divisa.
Os estudos acerca do dimensionamento e utilização de sapatas são diversos, para
todos os formatos e utilizações, bem como, para sapatas de divisa. Rojas (2016), realizou um
trabalho propondo um novo modelo de sapatas combinadas de divisa, com dois lados opostos
restringidos, e levando em conta a pressão real do solo, visando obter os momentos e
esforços advindos do modelo objetivando discorrer acerca do modelo proposto e encontrar a
solução mais econômica. Da mesma forma, Haefliger (2021), realizou um estudo também
para sapatas de divisa, em que, analisou quatro opções para o dimensionamento da
fundação, sendo executado com sapata excêntrica sem travamento, sapata excêntrica com
viga de equilíbrio, sapata centrada com viga de transição e sapata em formato <T= realizados
com o auxílio do software CYPECAD, em que se busca descobrir a solução mais viável a ser
executada do ponto de vista econômico e estrutural. Como observado, há estudos que
buscam obter novos métodos de construção de sapatas de divisa, e também, pesquisas
acerca de aprimoramento e verificação dos métodos já utilizados, sempre objetivando
encontrar soluções mais práticas e econômicas para tai fundações.
Portanto, estudos acerca das fundações rasas, como sapatas, se apresentam de
grande valia, uma vez que propõem, comparam e validam soluções cada vez mais
econômicas e eficientes. Em função do exposto, este trabalho em questão como supracitado,
discorre acerca também do tema das sapatas de divisa, utilizando a chamada viga de
alavanca ou viga de equilíbrio, buscando entender a melhor solução para sua execução em
função do fator de forma para tal sapata, validando recomendações de proporção ou se não,
encontrando o fator de ótimo, para chegar em dimensionamentos mais eficientes com uma
maior economia.

3 METODOLOGIA
3.1 Dimensionamento das sapata de divisa
Nas sapatas de divisa não é possível a execução em que o centro de gravidade da sapata e
o centro de gravidade do pilar coincidam, causando excentricidade e gerando assim um
momento fletor. Para efeito de compensação desse momento fletor, é adotado a realização
de uma viga de equilíbrio, que liga a sapata de divisa à sapata de algum outro pilar interno da
edificação, isto resulta em um alívio da carga que é transferida para a fundação no pilar
interno.
Para realizar a estimativa da força resultante na sapata de divisa, são utilizados
coeficientes de majoração, em que kmaj,1 é correspondente ao acréscimo de carga na fundação
do pilar de divisa em decorrência do peso próprio da sapata e da viga (este valor varia de 5 a
10%). Enquanto kmaj,2 corresponde à excentricidade em relação ao centro de gravidade da
sapata (aproximadamente 15%).
Além do mais, a viga de equilíbrio pode possuir largura constante em todo o seu
comprimento, ou pode possuir largura variável dependendo das dimensões dos pilares das
sapatas em que a viga de equilíbrio faz a ligação. Ou seja, quando a largura dos dois pilares
possuem a mesma grandeza a viga de equilíbrio terá largura constante, caso contrário, a
largura será variável.
Definido a largura da viga de equilíbrio, calcula-se a altura mínima da sapata de
divisa, que é obtida em função da largura da viga de equilíbrio e da largura A1 da respectiva

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sapata. Além do mais, a altura da sapata de divisa deve, preferencialmente, ser menor que a
altura da sapata que é feita a sua interligação, entretanto, em casos onde a distância dos
pilares é muito pequena, pode ser executada a viga alavanca com altura constante.
Para a análise dos balanços da sapata, devem ser tomados em relação à face da
viga alavanca e não em relação às faces do pilar. Temos que, para as armaduras de flexão
da sapata, a armadura principal é paralela à direção de A1 sendo disposta uniformemente
distribuída na dimensão B1, enquanto a armadura de distribuição é paralela à dimensão B1
sendo disposta uniformemente distribuída na dimensão A1. Além do mais, é necessária a
verificação da tensão resistente de compressão diagonal do concreto na superfície crítica C,
conforme a ABNT NBR 6118:2014, sendo a verificação realizada no contorno C do pilar de
divisa. Tais dimensões apresentadas podem ser verificadas na figura 2.

Figura 2 3 Representação da nomenclatura das dimensões em uma sapata com viga alavanca

Fonte: O autor (2022).

3.2 Dimensionamento da viga de equilíbrio


A viga de equilíbrio será responsável por absorver o momento fletor gerado na sapata de
divisa em decorrência da sua excentricidade, transferindo a carga do pilar da sapata de divisa
para o centro da sapata em questão, e reduzindo a carga que o pilar exerce na sapata interna
à edificação. Portanto, a existência da viga de equilíbrio faz com que as cargas nas fundações
sejam diferentes das cargas que os pilares correspondentes descarregam sobre elas.
Para o dimensionamento da viga de equilíbrio, devemos considerar que não há a
existência de seções na viga que são submetidas às forças concentradas R1 e R2 , centradas
em cada sapata, e se possuir valor de folga na forma entre o pilar e a extremidade da divisa,
o mesmo não deve ser considerado, sendo assim, esse deslocamento da carga para a
extremidade do balanço fica a favor da segurança.
Ademais, para o dimensionamento da viga em questão, deve ser analisado dois
trechos da viga, em que o primeiro trecho correspondente está na região em que se localiza
o pilar de divisa, com largura igual ao do pilar correspondente. Enquanto o segundo trecho é
correspondente à região não abrangente no primeiro trecho.

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3.3 Dimensionamento da sapata interna

Como mencionado anteriormente, a viga alavanca resulta em um alívio na fundação referente


ao pilar interno, entretanto, não se deve considerar integralmente o valor do alívio, em favor
da segurança, portanto, no dimensionamento da sapata interna deve-se considerar 50% do
valor do alívio causado.
Ainda existem casos em que o valor do alívio é maior do que a carga que o pilar
interno descarrega na fundação, neste caso, o dimensionamento deve ser realizado de forma
a resistir à essa força de tração resultante e pelo menos 50% da carga de compressão
causada pelo pilar sem considerar o alívio. Ademais, o dimensionamento da sapata interna é
realizado da mesma forma que para uma sapata isolada submetida à carga excêntrica.

3.4 Variação do fator de forma

O fator F se configura como a relação das dimensões da sapata, comprimento e largura,


representado como A/B. Alonso (2001) indica que tal fator, é um dado empírico feito por
testagem, sendo um valor que é recomendado por projetistas e pesquisadores como um valor
que deve se apresentar entre:

2 2,5 Equação 1

Uma representação das dimensões A e B pode ser visualizado na figura 3, em que


A é a maior dimensão da sapata.

Figura 3 3 Sapata com as dimensões discretizadas.

Fonte: O autor (2022).

Conforme foi citado anteriormente, a viga de equilíbrio pode possuir largura variável,
porém, para a diminuição da variabilidade de parâmetros e da análise da influência da
variação do fator de forma, será considerado uma viga de equilíbrio com largura constante.

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3.5 Execução do estudo
Para o estudo da utilização de fatores de forma < = diferente dos usuais nas sapatas de divisa
com viga de equilíbrio, utilizou o dimensionamento conforme as ABNT NBR 6118: 2014 e
ABNT NBR 6122:2019. Os dados utilizados para o dimensionamento das sapatas e da viga
de equilíbrio podem ser visualizados na Tabela 1.

Tabela 1 3 Parâmetros utilizados para o dimensionamento


Considerações Gerais

Concreto C20, Fck 20 MPa

Aço CA-50, fyk 50 kN/cm²

Tensão Admissível do solo 0,2 MPa

Cobrimento Nominal 4,5 cm

Diâmetro das armaduras Longitudinais dos Pilares 12,5 mm

Distância entre o centro de gravidade dos pilares 400 cm

Peso específico do solo 18 kN/m³

Para o Pilar de Divisa

Esforço Normal de Compressão 550 kN

Dimensão dos pilares 20 cm x 30 cm

Folga da divisa 2,5 cm

Cota de apoio 1,5 m

Para o Pilar Interno

Esforço Normal de Compressão 850 kN

Dimensão dos pilares 30 cm x 30 cm

Cota de apoio 1,2 m

Folga da forma 2,5 cm


Fonte: O autor (2022).

Para o dimensionamento foram utilizados seis valores diferentes do fator de forma,


variando entre 1 e 3,5. Além disso, foi mantido constante a largura da viga alavanca, sendo
está no valor de 35 cm, em que todos os outros parâmetros, a princípio, eram variáveis.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Realizando o dimensionamento da sapata com todos os parâmetros variáveis, exceto a
largura da viga alavanca, que como citado anteriormente, foi fixado o valor de 35 cm, temos
que, conforme o fator de forma aumenta, para a sapata de divisa, as dimensões e se
alteram, e além disso a altura e o volume da sapata aumentam. Também pode ser observado
que a altura da viga de equilíbrio aumenta. Enquanto que, as dimensões da sapata sob o pilar
interno permanecem constantes para todos os valores adotados para o fator de forma. Esses
resultados podem ser verificados na Tabela 2.

Tabela 2 3 Variação dos parâmetros em função do fator de forma

F 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5

A (cm) 195 230 260 280 305 330

B (cm) 195 155 135 120 110 100

Área da base da sapata (m²) 3,80 3,57 3,51 3,36 3,36 3,30

Altura da sapata (cm) 55 65 75 85 90 100

Volume da sapata (m³) 2,09 2,32 2,63 2,86 3,02 3,30

Altura da viga de equilíbrio (cm) 55 65 75 85 90 100

Largura da viga de equilíbrio (cm) 35 35 35 35 35 35

Área da sapata interna (cm) 215 215 215 215 215 215

Base da sapata interna (cm) 215 215 215 215 215 215

Altura da sapata interna (cm) 65 65 65 65 65 65

Volume de aço total (cm³) 7797,64 7217,56 6869,25 6623,57 6853,17 6999,24
Fonte: O autor (2022).

Com isso, podemos notar que com o aumento do fator de forma, a área da base da
sapata de divisa tende a diminuir, conforme o Gráfico 1.

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Gráfico 1 3 Variação da área da base da sapata de divisa em função do fator de forma

Fonte: O autor (2022).

Além do mais, podemos notar que com o aumento do fator de forma, a altura da
sapata de divisa tende a aumentar consideravelmente, aumentando a altura de 55 cm
utilizando um fator de forma igual a 1, para uma altura de 100 cm adotando um fator de forma
igual a 3,5. Esses resultados podem ser analisados no Gráfico 2.

Gráfico 2 3 Variação da altura da sapata de divisa em função do fator de forma

Fonte: O autor (2022).

Entretanto, apesar da área da base da sapata de divisa diminuir e a altura da sapata


de divisa aumentar, em decorrência do aumento do fator de forma, a volume desta sapata
tende a aumentar, variando de 2,09 m³ para 3,30 m³ com os valores de fator de forma
adotados. Essa verificação da alteração do volume pode ser observada no Gráfico 3.

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Gráfico 3 3 Variação do volume da sapata de divisa em função do fator de forma

Fonte: O autor (2022).

Porém o resultado esperado para a utilização do fator de forma recomendado é


obtido ao realizar a análise em relação ao volume de aço utilizado para a execução do
conjunto da sapata de divisa, da sapata sob o pilar interno e a viga de equilíbrio. Temos que,
o consumo mínimo de aço será utilizando um fator de forma igual a 2,5, bem como, o fator de
forma igual a 2,0 foi o que apresentou segundo melhor resultado com relação a economia de
aço, como é possível observar no Gráfico 4.

Gráfico 4 3 Variação do volume de aço em função do fator de forma

Fonte: O autor (2022).

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4 CONCLUSÕES
Através dos resultados obtidos, temos que, com o aumento do fator de forma, a área da base
da sapata diminui enquanto a sua altura aumenta, e com isso o volume da sapata aumenta,
o que ocasiona o aumento do consumo de concreto para a sua execução, contudo, a sapata
sob o pilar interno não sofre alterações em suas dimensões. Porém, é observado que o
volume de aço necessário para a execução do conjunto composto pela sapata de divisa, a
sapata sob o pilar interno e a viga de equilíbrio, sofrem alterações na quantidade de armadura
empregada, de acordo com o valor de fator de forma adotado, possuindo menor consumo ao
se adotar um fator de forma igual a 2,5 e segundo menor consumo com fator de forma igual
a 2,0. Sendo esta a análise mais significativa, pois demonstra a variação da quantidade de
armadura necessária, e assim, pelo aço possuir um valor elevado de compra em comparação
com o concreto, demonstra que, dimensionamentos utilizando os fatores de forma
recomendados propiciam mais economia ao diminuir a quantidade de armadura empregada.
Sendo assim, pode-se concluir que a recomendação de se variar o fator de forma
entre 2,0 e 2,5, foi validada, acarretando em uma gama de benefícios com relação ao
dimensionamento, na qual, valores muito fora desse intervalo acaba trazendo alturas de
sapatas muito fora dos padrões, que muitas vezes acabam sendo inviáveis de executar. Como
também, este intervalo de utilização dos fatores de forma, acarretou em um benefício
econômico a estrutura, uma vez que o fator de forma ótimo que utiliza a menor quantidade de
aço tem seu pico em 2,5 (segundo a grandeza de variações estudada) e que valores alheios
a esse acabam consumindo maiores quantidades, encarecendo a estrutura.

REFERÊNCIAS

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Rodriguez. Exercícios de Fundações. São Paulo: Edgard Blucher Ltda, 2001. cap. 1, p. 1-36.

ANDRADE, Stephane L. P. et al. Fundações diretas ou rasas. In: Fundações e Obras de


Contenção. Porto Alegre: SAGAH, 2021. p. 29-54.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122: Projeto e execução de
fundações. Rio de Janeiro, 2019.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de estruturas
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BASTOS, Paulo Sérgio dos Santos. Sapatas de fundação. Notas de Aula do Curso de
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HAEFLIGER, Robson Humberto Rossatto. COMPARAÇÃO DE SOLUÇÕES PARA
FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS DE DIVISA EM UM SOBRADO. 2021. Trabalho de
Conclusão de Curso (Bacharel em Engenharia Civil.) - UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO
SUL, [S. l.], 2021.

KURIAN, Nainan P.; KURIAN, Nainan P. Design of foundation systems: principles and practices.
Alpha Science Int'l Ltd., 2005.
LUÉVANOS ROJAS, A. A new model for the design of rectangular combined boundary
footings with two restricted opposite sides. Revista ALCONPAT, v. 6, n. 2, p. 172 -187,
31 May 2016.

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