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Introdução
O termo Building Information Modeling (BIM), ou “protótipos”. Em ambos os casos sugerem escolher
Modelagem da Informação da Construção, não é objetivos claros de negócio, ou ênfases de
suficientemente capaz de traduzir o real desenvolvimento. Os autores também recomendam
significado que está por trás da sigla BIM. Para estabelecer metas de avaliação e ter uma
Penttilä (2006) BIM “[...] é uma metodologia para participação ativa nos projetos pilotos. No
gerenciar a essência do projeto e dados da desenvolvimento de projetos piloto, os autores
construção ou empreendimento no formato digital recomendam refazer um projeto existente em um
em todo ciclo de vida do edifício [...]”. Succar curto espaço de tempo, com uma equipe pequena e
(2009) acrescenta que esta metodologia advém de qualificada. A equipe pode envolver apenas
um conjunto inter-relacionado de políticas, membros internos da empresa ou incluir parceiros.
processos e tecnologias. Nesses casos, a meta é desenvolver competências
essenciais para identificar e selecionar prestadores
A abstração do desenho do edifício e a
compatibilização manual de projetos, que outrora de serviço qualificados e montar equipes de
eram baseadas em uma representação cooperação. Ao se iniciar a adoção de BIM no
desenvolvimento de um protótipo, a tarefa de
bidimensional, dentro de um processo de trabalho
projeto é desenvolvê-lo do zero. Eastman et al.
associado ao uso de ferramentas ou sistemas CAD
(2008) aconselham que a equipe seja
(Computer Aided Design), no contexto BIM são
multidisciplinar e de pequeno porte, e que se
realizadas por modelos geométricos
tridimensionais, ricos em informações do edifício. tracem objetivos de negócios específicos. Como
Percebe-se, portanto, que a substituição da objetivos de negócio, ou ênfases de
desenvolvimento, sugerem ainda: custos,
representação gráfica pela representação e
cronograma, complexidade de infraestrutura ou
simulação numéricas estabelece um novo
desempenho. Das diretrizes para adoção de BIM
horizonte para o ensino. Possibilita-se, com isso, a
proposta, observam-se duas orientações: adoção de
aproximação do aluno com os processos de
projeto, processos usados no canteiro de obras, forma gradual e desenvolvimento de competências.
processos de operação e manutenção, o que passa a Esses dois aspectos serão utilizados no estudo aqui
apresentado.
ser um conhecimento fundamental para a
elaboração do modelo do edifício, no BIM. Nesse Succar (2009) afirma que a adoção completa do
contexto, é inegável o salto na compreensão de paradigma BIM na indústria de Arquitetura,
todo o processo, fazendo com que se repense mais Engenharia, Construção e Operação (Aeco) não
intensivamente na integração entre as disciplinas, ocorre de forma imediata. Há vários estágios de
abrindo-se novas possibilidades de atuação adoção de BIM, com a apropriação gradual da
profissional no mercado da Arquitetura, tecnologia e transformação dos processos
Engenharia, Construção e Operação (AECO). correlacionados, levando até a adoção completa do
Bynum, Issa e Olbina (2013) destacam que um dos BIM. As fases de desenvolvimento dos estágios de
motivos do aumento do uso de BIM na indústria de BIM começam lentamente e há diversos fatores
AECO é a possibilidade de gerar uma série de que influenciam na sua ampla adoção. Como há
simulações que podem definir padrões para uma ruptura de paradigma, faz-se necessária uma
desenvolvimento de produto, sendo de grande nova visão sobre os processos realizados até então.
valia no desenvolvimento de soluções sustentáveis. Sua completa apropriação passa por estágios de
Eastman (2008) afirma que vários proprietários adoção que estão relacionados ao número de
disciplinas envolvidas, quais fases do ciclo de vida
estão exigindo práticas baseadas no BIM para o
da edificação são abordadas e os níveis de
desenvolvimento dos novos projetos, com
mudanças que ocorrem em termos de políticas
mudanças nos termos de contrato, de modo a
adotadas, processos e tecnologia utilizados.
favorecer essas práticas. Essas mudanças de
postura exigem um novo tipo de profissional no Segundo Barison e Santos (2010, 2011), a partir de
mercado. E, para isso, as universidades têm um 2003, o ensino de BIM começa a ser inserido
papel fundamental, não apenas na formação desses internacionalmente nos cursos da AEC, porém essa
profissionais, mas, também, contribuindo com a prática se intensificou entre 2006 e 2009. Isso
formulação de posturas que valorizem novos ocorreu como uma exigência do mercado de
processos de projeto e de construção do edifício. trabalho, que começou a buscar profissionais
habilitados para desenvolver e gerenciar projetos
Eastman et al. (2008, p. 145-146) propõem
segundo o conceito BIM. Os autores acreditam que
diretrizes para a implementação da Modelagem da
o ensino de BIM deve estar relacionado com
Informação da Construção, indicando ser adequado
iniciar-se por projetos pilotos ou desenvolver estratégias e abordagens ligadas ao nível de
competência que o aluno deve alcançar em relação estágio, estar essencialmente relacionada à
à atividade que será exercida na prática aplicação de ferramentas de autoria BIM em
profissional. projeto, pode decorrer a falsa impressão de que
BIM se trata apenas de tecnologias, dada a
Este artigo, por meio relatos de experiências de
necessidade de se apropriar dessa nova tecnologia
ensino de BIM internacionais e nacionais,
e investir em recursos de renovação de
diagnostica a abrangência desses esforços. O
procedimento utilizado para a realização do infraestrutura e software.
diagnóstico consistiu na escolha de conceitos No segundo estágio de adoção, a ênfase está no
estabelecidos de escala de maturidade na adoção compartilhamento multidisciplinar do modelo
de BIM e níveis de competência fomentados no entre uma ou duas fases do processo de projeto,
ensino de BIM, na definição de uma amostra de envolvendo até duas disciplinas ou dois agentes
estudo e no mapeamento da conceituação nas diferentes, como, por exemplo, arquitetura e
experiências de ensino contidas na amostra de estrutura, ou gerenciamento de custos. Esse estágio
estudo. O cenário encontrado motivou a escolha e é caracterizado pela colaboração baseada em
a descrição de experiências internacionais de modelos. O processo também é interativo e ainda
ensino BIM capazes de inspirar transformações por assíncrono, mas com melhoria na
meio de exemplos de sucesso estabelecidos. interoperabilidade entre os agentes envolvidos. Os
produtos resultantes desse estágio de adoção de
Estágios de adoção de BIM e BIM são modelos com quarta dimensão (tempo
associado ao planejamento da obra) e quinta
níveis de competência dimensão (modelo de previsão de custos),
São múltiplos os autores a apontar que a adoção compatibilização do modelo por meio de clash
completa do paradigma BIM não ocorre de detection (verificação de conflitos) e,
imediato, mas, sim, ao longo de estágios de consequentemente, melhoria das informações
desenvolvimento, até sua completa adoção extraídas do modelo. A adoção do BIM neste
(TOBIN, 2008; JERNIGAN, 2007; SUCCAR, estágio requer a implementação de coordenação
2009). Neste estudo tomar-se-á como referência a nos processos de projeto, associado a uma
definição de estágios de adoção de BIM proposta mudança de cultura da empresa, objetivando a
por Succar (2009). Este autor identifica, para cada adoção de equipes de projeto coordenadas.
estágio, fases do processo de projeto e disciplinas Comparado ao estágio anterior, este requer a
envolvidas, produtos esperados, caracterização do adoção de mudanças médias em políticas e
processo e consequentes níveis de mudanças em processos, e pequenas mudanças em tecnologia.
políticas, processos e tecnologias. Khosrowshahi e No terceiro estágio de adoção de BIM, a ênfase
Arayici (2012) também adotam essa referência está na criação compartilhada e colaborativa do
para diagnosticar níveis de maturidade de BIM da modelo da edificação, em todo o processo do
indústria da construção na Inglaterra. empreendimento, envolvendo as fases de
Segundo Succar (2009), no primeiro estágio de concepção, construção e operação, e as múltiplas
adoção, a ênfase está na modelagem paramétrica. disciplinas da área da AEC. Este estágio é
Esse estágio é caracterizado pela modelagem caracterizado pela integração em rede. O processo
baseada em objetos e está relacionado ao uso de é simultâneo e recursivo, envolvendo análises
uma ferramenta BIM específica, como, por complexas já nos estágios iniciais de concepção do
exemplo, as de autoria, que gera ou analisa projeto. Múltiplas disciplinas utilizam e modificam
modelos de informação (TOBIN, 2008). o mesmo modelo, por meio de um processo
Geralmente envolve uma única disciplina de integrado e compartilhado, fazendo uso de
projeto no desenvolvimento do modelo 3D e fica- repositório e sistemas de banco de dados. Este
se restrito a uma fase específica do processo estágio de adoção do BIM requer mudanças
(projeto, construção ou operação). Apesar de o drásticas nas políticas e processos das empresas e
processo ser interativo, sequencial, a comunicação se apoia em mudanças significativas nas bases
ainda acontece de forma assíncrona. Os produtos tecnológicas utilizadas pela empresa.
resultantes desse estágio de adoção de BIM são Para Succar (2009), o terceiro estágio de adoção de
modelos 3D da geometria e documentação BIM implica a adoção de Entrega Integrada de
(desenhos, imagens, quantitativos de materiais e Projeto ou Integrated Project Delivery (IPD). O
vários tipos de relatórios), extraídos a partir do IPD, segundo o American Institute of Architects
modelo. Nesse estágio de adoção observam-se (2007), é uma abordagem de desenvolvimento de
pequenas mudanças em políticas, médias projeto que agrega pessoas, sistemas, estruturas
mudanças em processos e grandes mudanças em organizacionais e práticas num processo
tecnologia. Em virtude de a ênfase, nesse primeiro intensamente colaborativo. A ênfase está em
Parâmetros de classificação
Estágio Fases do
Parâmetros
Nível de de ciclo de vida Produtos gerados
de Modelo de
competência adoção (projeto, na experiência
classificação informação
de BIM construção, didática
operação)
Modelagem
Habilita Modelagem e paramétrica,
Introdutório Primeiro Uma fase
modelador produtividade quantitativos,
documentação
Simulações
(dimensionamento,
Integração de
ambientais, 4D,
modelos e uso
Habilita 5D...),
Intermediário Segundo aplicado dos Duas fases
analista compatibilização e
modelos de
planejamento
informação
(caminhos críticos,
linha de balanço)
Introdução a IPD.
Desenvolvimento
Colaboração
compartilhado e
Habilita envolvendo
Avançado Terceiro holístico do Três fases
gerente múltiplos agentes.
modelo de
Criação
informação
compartilhada
Quadro 2 - Parâmetros de classificação das experiências didáticas de ensino de BIM
Níveis de
Estágios Fases do
Experiências competência
de adoção ciclo de
de ensino (BARISON; Modelo Produtos gerados
(SUCCAR, vida
avaliadas SANTOS,
2009) abordadas
2011)
Modelagem paramétrica
Nível
Technion estrutural.
Introdutório BIM Projeto Modelagem e
(SACKS; Extração de
(habilita estágio 1 Construção produtividade
BARAK, 2010) documentação e
modelador)
quantitativos automáticos
Modelagem paramétrica
Colorado State Nível (estrutura, instalações, ar
Integração de
University Intermediário BIM Projeto condicionado). Extração
modelos e uso
(CLEVENGER (habilita estágio 2 Construção de quantitativos.
aplicado
et al., 2010) analista) Simulação (métodos
construtivos)
Planejamento da obra:
Integração de
Twente Nível caminhos críticos, linha
modelos e uso
University avançado BIM de balanço,
Construção aplicado
(PETERSON et (habilita estágio 2 simulação 4D e 5D
(edificação
al., 2011) gerente) (visualização de fluxo de
existente)
caixa)
Integração de
Stanford Nível Planejamento da obra:
modelos e uso
University avançado BIM caminhos críticos, linha
Construção aplicado
(PETERSON et (habilita estágio 2 de balanço e simulação
(edificação
al., 2011) gerente) 4D
existente)
Modelagem paramétrica
(arquitetura, estrutura,
Virginia
Integração de instalações, ar
Tech/University
modelos e condicionado).
of Southern Nível
Projeto visão holística Compatibilização (clash
California avançado BIM
Construção do modelo de detection). Simulação
(BECERIK- (habilita estágio 3
Operação informação 4D e extração de
GERBER; KU; gerente)
(edificação quantitativos.
JAZIZADEH,
existente) Planejamento da
2012)
operação (facility
management)
Modelagem paramétrica.
Compatibilização (clash
PolyU
Integração de detection). Simulação
University Nível
Projeto modelos e 4D/5D/nD e extração de
(WONG; avançado BIM
Construção visão holística quantitativos.
WONG; (habilita estágio 3
Operação do modelo de Planejamento da
NADEEM, gerente)
informação operação (facility
2011)
management). Discussão
sobre IPD
Modelagem paramétrica
Southern
Integração de (estrutura, instalações, ar
Illinois Nível
modelos e condicionado). Extração
University avançado BIM Projeto
visão holística de documentação e
Edwardsville (habilita estágio 3 Construção
do modelo de quantitativos. Simulação
(GORDON et gerente)
informação 4D/5D. Discussão sobre
al., 2009)
IPD (contratos)
Quadro 3 - Classificação de experiências internacionais de ensino de BIM quanto ao nível de
competência
Nas universidades Twente e Stanford, as pesquisadores dessa área. Mesmo ainda estando
experiências de ensino foram classificadas como num estágio incipiente de amadurecimento, o que
nível avançado, pois nelas foram desenvolvidos se pode observar é que algumas universidades já
modelos integrados. Esses modelos foram criados vêm realizando experiências de adoção de BIM em
com base em um caso real de construção, que foi cursos de Arquitetura e Engenharia Civil.
acompanhado pelos alunos. Durante os exercícios,
Identificaram-se neste trabalho relatos de
simulações foram realizadas e confrontadas com a experiências de ensino de BIM nas seguintes
realidade. Por meio de simulação em 4D e 5D, instituições: Universidade Federal de Alagoas
análise de caminho crítico, linha de balanço,
(UFAL) (ANDRADE, 2007). Universidade
aliadas à integração com a prática profissional, foi
Federal de São Carlos (UFSCar) (SERRA;
possível estimular a integração dos alunos com o
RUSCHEL; ANDRADE, 2011), Universidade
mercado de trabalho, utilizando para isso o BIM na Presbiteriana Mackensie (UPM) (FLORIO, 2007;
capacitação da formação do gerente. Por esses VINCENT, 2006), Centro Universitário Barão de
motivos essas experiências foram classificadas
Mauá (CBM) (RUSCHEL et al., 2011),
como nível avançado. Apesar dessa classificação,
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
no quesito adoção do BIM essas experiências
(RUSCHEL; GUIMARÃES FILHO, 2008;
foram classificados no estágio 2, pois abordavam
RUSCHEL et al., 2010). As experiências didáticas
apenas a fase da construção da edificação, e não mostram que existe uma diversidade de casos de
representavam uma experiência calcada num ensino que abordam o BIM no Brasil. Estas
modelo compartilhado entre as áreas relacionadas
envolvem cursos distintos (Arquitetura e
à Aeco.
Urbanismo, e Engenharia Civil), experiências
As experiências de ensino relacionadas nas demais variadas, em diferentes momentos (2006 a 2011).
universidades no Quadro 3 apresentam um nível de Como se pode verificar no Quadro 4, a maioria das
competência avançado, por trabalharem com experiências nacionais aborda o ensino de BIM
conceitos como clash detection, 5D, planejamento apenas em disciplinas isoladas. A exceção ocorreu
e cronograma de obra, e até mesmo com a nas iniciativas de integrar disciplinas de projeto
operação, integrados ao modelo digital. Abordam arquitetônico e estrutural (RUSCHEL;
ainda questões contratuais, como o IPD, GUIMARÃES FILHO, 2008; RUSCHEL et al.,
caracterizando o perfil de um gerente em BIM. Em 2010).
relação a seus estágios de adoção, as experiências
O que se pode constatar com o Quadro 4 é que o
de ensino trabalham com modelos paramétricos
processo de implementação de BIM no ensino
integrados e compartilhados. Essas experiências
ainda abrange o nível de competência introdutório
também abordam todas as fases do ciclo de vida do e intermediário, e vem acontecendo de forma
edifício (projeto, construção e operação). No caso gradual. Essas experiências dão ênfase
da universidade PolyU, o estudo da fase de
principalmente à modelagem paramétrica do
operação do edifício é abordado ainda na
projeto arquitetônico (com aumento da
concepção do projeto, o que demonstra um
produtividade na documentação, compatibilização
processo de trabalho simultâneo.
e integração), nas simulações em 4D e na geração
Essa classificação, embora não seja exaustiva, de estimativas de custo. Mesmo assim, observa-se
permitiu identificar alguns dos aspectos que essas iniciativas ainda não são abrangentes. Já
fundamentais que envolvem o ensino de BIM no as experiências mais avançadas são escassas e
cenário internacional e contribuiu para a análise de podem ser classificadas apenas no nível de
experiências de ensino realizadas no Brasil e competência intermediário, levando ao segundo
descritas a seguir. estágio de adoção de BIM.
Em relação à experiência relatada pela
Experiências brasileiras de Universidade Federal de Alagoas (UFAL), esta é
ensino de BIM classificada no nível de competência introdutória,
pois aborda um processo de trabalho
Com a difusão das discussões sobre BIM no fundamentado essencialmente na modelagem
cenário nacional, principalmente nestes últimos paramétrica, extração de documentação do
quatro anos, surge uma crescente preocupação, por edifício, alteração automática de modelos e criação
parte de alguns pesquisadores brasileiros, com a de componentes. O alcance da adoção de BIM
inserção do ensino de BIM nos cursos de nesse relatos pode ser caracterizado como em
Arquitetura e Engenharia Civil. Discussões sobre a primeiro estágio, por abordar apenas uma fase do
melhor maneira de integração dentro da grade ciclo de vida da edificação e por trabalhar apenas a
curricular aparecem frequentemente nas pautas de modelagem paramétrica de uma única disciplina.
eventos e nas conversas informais dos
Níveis de
Estágios Fases do
Experiências competência
de adoção ciclo de
de ensino (BARISON; Modelo Produtos gerados
(SUCCA vida
avaliadas SANTOS,
R, 2009) abordadas
2011)
Modelagem
Nível paramétrica
UFAL
introdutório BIM Modelagem e (arquitetura) e
(ANDRADE, Projeto
(habilita Estágio 1 produtividade extração de
2007)*
modelador) documentação
automática
Modelagem
paramétrica
Nível
CBM (arquitetura,
introdutório BIM Modelagem e
(RUSCHEL et Projeto instalações e estrutura)
(habilita Estágio 1 produtividade
al., 2011) e extração de
modelador)
documentação
automática
Modelagem
Nível paramétrica
UPM
introdutório BIM Modelagem e (arquitetura e
(FLORIO, Projeto
(habilita Estágio 1 produtividade estrutura) e extração
2007)
modelador) de documentação
automática
Modelagem
paramétrica, integrada,
Nível Integração de
UPM extração de
intermediário BIM modelos e uso
(VINCENT, Projeto documentação
(habilita Estágio 1 aplicado do
2006) automática,
analista) modelo
quantitativos e
estimativas de custos
UFSCar Modelagem e
Nível Modelagem
(SERRA; produtividade,
intermediário BIM Projeto paramétrica, extração
RUSCHEL; integração de
(habilita Estágio 2 Construção de documentação
ANDRADE, modelos e uso
analista) automática e 4D
2011)* aplicado
Modelagem
paramétrica
UNICAMP Nível Integração de
(arquitetura e
(RUSCHEL; intermediário BIM Projeto modelos e uso
estrutura), extração de
GUIMARÃES (habilita Estágio 2 Construção aplicado do
documentação
FILHO, 2008)* analista) modelo
automática, detecção
de conflitos 4D
Modelagem
paramétrica
Nível Integração de (arquitetura,
UNICAMP
intermediário BIM Projeto modelos e uso instalações e estrutura)
(RUSCHEL et
(habilita Estágio 2 Construção aplicado do e extração de
al., 2010)*
analista) modelo documentação
automática, detecção
de conflitos 4D
Quadro 4 - Classificação de experiências nacionais de ensino de BIM quanto ao nível de competência
Nota: *Experimentos didáticos de BIM desenvolvidos pelos autores ou com a participação deles.
Figura 1 - Classificação geral das experiências de ensino de BIM avaliadas ao nível de competência e
estágio de adoção em comparação a uma visão restritiva da implementação de BIM
Considera-se que algumas das experiências de incursões: introdução geral ao tema e noções do
ensino de BIM brasileiras, relatadas neste artigo, estado da arte; ensino prático instrumental; suporte
conduzem à formação em BIM para além do à comunicação e visualização de projeto; aplicação
primeiro estágio de adoção e fomentam a na estimativa de quantidades, custo e compra de
competência em nível introdutório e intermediário; materiais; gestão de projeto auxiliada pela
portanto, fogem da formação básica em BIM, o compatibilização 3D (clash detections), 4D a nD;
que é um aspecto positivo a ser considerado. simulações de eficiência energética para projeto
Entretanto, ainda é necessário adotar nas sustentável; aplicação na gestão de facilidades; e
universidades o ensino de práticas que fomentem o compreensão de tendências e desenvolvimentos
desenvolvimento de projetos mais colaborativos, futuros.
novos papéis e novas competências – como, por
O processo de introdução do ensino de BIM na
exemplo, a do gestor – nos cursos da AEC no PolyU considera também a opinião dos alunos e do
Brasil, de modo a formar um perfil de profissional corpo docente, por meio de pesquisa de opinião
efetivamente comprometido com uma prática
recorrente, influenciando o ritmo de incorporação
baseada no BIM.
de BIM nas disciplinas existentes. Um exemplo foi
o atendimento à recomendação docente de
Modelos de inspiração introduzir BIM na disciplina de representação
gráfica do primeiro ano mantendo em 20% das
Nesta seção é apresentada uma descrição resumida
aulas o ensino do desenho manual, em 50% das
de como é discutido e implementado o ensino de
aulas o ensino de CAD, e substituindo somente
BIM nos cursos de graduação na Polytechnic
30% das aulas com o ensino de BIM; com a
University (PolyU) e na University of Salford.
perspectiva de substituir gradualmente CAD por
Essas experiências foram selecionadas, entre as
BIM. Vislumbra-se também a necessidade de
discutidas no Workshop of BIM Education
divulgar o IPD como um método de abordagem
realizado em 2011 no Israel Institute of
entre o projeto, a contratação dos agentes
Technology (Quadro 1), pois representam casos
envolvidos e o processo de construção, integrando
que fomentam um nível avançado de competência
as equipes, com possibilidade de proporcionar
no ensino BIM e alcançam o terceiro estágio de
melhores resultados aos empreendedores e às
adoção. Logo, foram consideradas casos
equipes de trabalho.
inspiradores de experiência de ensino BIM, que
podem servir como referência para novas O ensino de BIM no curso de BSc. em
propostas no cenário nacional. Além desses Construction Project Management da Salford
exemplos, identificou-se também uma disciplina University enfatiza a desenvoltura da habilidade
piloto de trabalho de conclusão no curso da projetual e comunicacional (FAZENDA;
Pennsylvania State University, combinando BIM e KIVINIEMI, 2011). O ensino de BIM é associado
IPD, na busca pela formação de arquitetos mais à mentalidade enxuta. Essa abordagem é
consistentes com o demandado pela indústria da desenvolvida integrando-se conteúdos de
construção. graduação por meio de projetos multidisciplinares.
A fundamentação em BIM é desenvolvida
No Department of Building and Real Estate
discutindo-se conceituação, questões práticas de
(BRE), da PolyU de Hong Kong, o ensino de BIM
implementação, benefícios proporcionados e
está sendo incorporado ao currículo em
realizando-se estudos de casos. O aprendizado
consonância com a política institucional para o
instrumental é desenvolvido pelo aluno extrassala
desenvolvimento curricular da universidade. O
de aula, com suporte de tutoriais on-line. Arayici et
ensino de BIM está sendo implementado nos
al. (2011) discutem os efeitos positivos da adoção
cursos de Bachelor of Science (BSc.) em
de BIM associada a práticas da construção enxuta.
Surveying e BSc. em Building Engineering &
Management. Acrescentou-se ao currículo O curso de BSc. em Construction Project
existente, no primeiro ano dos cursos, uma Management 1 desenvolve-se no período de 3 a 5
disciplina eletiva prática de modelagem da anos, dependendo da forma de vinculação do aluno
informação na construção que enfatiza a com o curso (tempo integral ou parcial) e da
modelagem paramétrica. A partir daí, adotou-se realização ou não de um estágio anual na indústria.
uma introdução gradual de BIM, porém aplicada, A estrutura anual de disciplinas é similar: uma
em várias disciplinas subsequentes de disciplina de tecnologia, três disciplinas de
orçamentação, planejamento, estruturas e sistemas conteúdos aplicados, uma disciplina de projeto e
mecânicos. uma disciplina de projeto multidisciplinar.
No modelo adotado, de incorporação gradual de
1
BIM na graduação, observam-se as seguintes http://www.salford.ac.uk/courses/construction-project-
management.
Segundo Fazenda e Kiviniemi (2011), é na última que o apoio da indústria é essencial para o êxito de
disciplina de projeto multidisciplinar que se busca uma disciplina desse tipo, para qualquer
demonstrar novos modelos de colaboração e o instituição, considerando-se experiências
impacto da utilização de BIM de forma integrada multidisciplinares dessa natureza.
entre as diferentes disciplinas de projeto. Dá-se na
O ponto de destaque desse exemplo é a natureza
disciplina a oportunidade de se aplicarem
do exercício escolhido, sendo a realidade o melhor
habilidades básicas da modelagem BIM exemplo de multidisciplinaridade, que é trazida
anteriormente adquirida. Desenvolvem-se análises para dentro da graduação, como incentivo à
sobre os modelos criados. Estimula-se a
apropriação de BIM próximo ao desejado pela
compreensão dos papéis vivenciados.
prática. Isso requer parcerias renovadas na
Experimenta-se a complexidade no processo de
academia e mudanças em formatos de avaliação e
projeto individual resultante do compartilhamento delimitação de objetivos educacionais.
de informação ou da informação inter-relacionada.
Os pontos de destaque desses dois modelos de Conclusões
inspiração apresentados são, no caso da PolyU, a
adoção de BIM num curso existente, considerando Para melhor compreender as estratégias de
a opinião discente e docente, e a capacidade implementação do ensino de BIM no Brasil, este
docente de incorporar inovação. Ainda, na artigo avaliou como está sendo feita sua introdução
implementação do ensino de BIM na PolyU, tem- em cursos específicos de Arquitetura e Engenharia
se um exemplo de incorporação de BIM de forma Civil no país, e comparou isso com abordagens de
aplicada em conteúdos existentes por disciplinas. ensino no cenário internacional publicadas
Destaca-se na Salford University o ensino de BIM recentemente. As experiências nacionais de ensino
com uma abordagem multidisciplinar de projeto, BIM, ao ser comparadas com experiências
associado a uma abordagem conceitual específica, internacionais, puderam ser balizadas,
isto é, a mentalidade enxuta. Em ambos os casos, a possibilitando identificar o nível de
habilidade instrumental em BIM é proporcionada desenvolvimento do ensino de BIM. A elaboração
não por meio de disciplina obrigatórias, mas ou de um diagnóstico serviu também como um meio
por disciplinas eletivas ou por atividade extraclasse para apontar desafios a ser superados e
apoiada por tutoriais on-line. expectativas para o futuro.
Finalmente, Solnosky, Parfitt e Holland (2013) Com base nas experiências didáticas discutidas,
desenvolveram um estudo piloto para inovar o pode-se concluir que o paradigma BIM vem sendo
trabalho de conclusão 2 no curso de BSc. em implantado de modo muito gradual e de forma
Architectural Engineering da Pennsylvania State pouco efetiva nos cursos de Arquitetura e
University. O estudo piloto combina profundidade Engenharia Civil, a partir dos artigos avaliados.
técnica e colaboração multidisciplinar integrada, Entre os pontos cruciais para a implantação de
motivando o projeto final dos alunos a se BIM estão que os professores das universidades
desenvolver pelo método de IPD com suporte de compreendam seu conceito e que implementem
BIM. Para tal, os projetos finais de graduação são uma revisão na estrutura das grades curriculares,
casos reais desenvolvidos em grupo, com suporte com a criação de eixos verticais e horizontais de
acadêmico e envolvimento da indústria. Às conhecimentos atrelados ao BIM. Conceitos como
entregas tradicionais de trabalhos finais de curso – coordenação, integração e colaboração são
como (a) levantamento e referencial teórico, (b) essenciais para uma prática de projeto baseada no
estudo preliminar, (c) anteprojeto, (d) proposta BIM e, portanto, devem fazer parte das estruturas
detalhada e (e) projeto final (memorial e desses cursos.
apresentação) – foram acrescidas entregas Nota-se que as experiências de ensino
secundárias, como atas de reuniões e controle do internacionais encontram-se em estágio de maior
compartilhamento digital. Os critérios e a dinâmica amadurecimento, envolvendo mais de uma
de avaliação são renovados para considerar o disciplina, em vários momentos da formação do
trabalho desenvolvido individualmente e engenheiro civil e do arquiteto. As disciplinas, em
colaborativamente e suas relações; a apropriação sua maioria, dão ênfase à colaboração durante o
de habilidades técnicas em conjunto com processo de projeto e no gerenciamento da
ferramentas modernas; a perspectiva da indústria construção (BECERIK-GERBER; KU;
sobre a compreensão da prática e a formação JAZIZADEH, 2012; GORDON; AZAMBUJA;
resultante; e a ampliação dos objetivos WERNER, 2009; WONG; WONG; NADEEM,
pedagógicos do exercício. Os autores concluem 2011; BARISON; SANTOS, 2010). Um fato
importante que se pode ressaltar é a relação entre o
2
Capstone course. estágio de desenvolvimento de BIM e seu reflexo