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PRIMEIRA IGREJA BATISTA EM BULTRINS

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BOLETIM SEMANAL ANO II NÚMERO 36 05/09/2004

A CASA EM QUE DEUS NÃO QUER MORAR


Pr. Benedito Bezerra

“Senhor Deus, andei pela vida à tua procura. Perguntei pelo teu nome e pelo teu endereço. Quero
saber o lugar onde moras. Quero te encontrar e conversar contigo. Mas me deram tantos nomes e tantos
endereços teus, que fiquei perdido. Meu Deus, onde moras?” Na bonita oração registrada por Carlos
Mesters, está retratada a constante busca humana, desde tempos imemoriais, busca de Deus, busca por
Deus... Onde Deus mora?
“Uns me indicavam os grandes templos e igrejas.” Muitos construíram belos e imponentes templos
e os chamaram de casa de Deus. Desde o antigo Israel, com o seu templo de Jerusalém, em torno do qual
floresceu a ideologia centralizadora dos descendentes de Davi, passando pela era medieval e suas grandes
catedrais, homens tentaram construir casas em cujo interior estaria a presença de Deus.
Me impressiona o fato de que, entre aqueles que se identificam como evangélicos ou que pelo
menos são confundidos com eles, voltamos a falar de catedrais com grande freqüência. Templos se tornam
o valor central, a prioridade máxima para a vida de grupos inteiros. Campanhas de construção se
multiplicam, e apelos carregados de ideologia são direcionados aos crentes. Cada igreja quer construir o
templo mais espetacular.
Uma pergunta óbvia: essas catedrais realmente são construídas para Deus? “Fui lá, mas não te
encontrei.” Nunca pude esquecer a impressão que me causou a chamada Capela Dourada, no centro do
Recife: de um lado, um luxuoso santuário recoberto de ouro, com piso de mármore italiano, espelho de
cristal e coisas do gênero; do outro, uma segunda capela, extremamente sem brilho e sem qualquer atrativo.
No meio, uma grade de ferro serve como divisória. Do lado do ouro, adoravam os senhores do açúcar; do
outro lado, as pessoas mais pobres. E Deus, onde estava? “Meu coração me dizia: Deus não é assim.”
Consulto o texto sagrado e encontro: “Assim diz Javé: O céu é o meu trono e a terra é o apoio para
os meus pés. Que tipo de casa vocês poderiam construir para mim? Tudo que existe fui eu que fiz, tudo que
existe é meu” (Is 66.1-2). Deus não quer morar em casas que são mais importantes do que Ele. Realmente
não podemos construir uma casa para Deus. Diante de pessoas com essa atitude, diz o peregrino da oração
de Mesters: “Só encontrei pedras bonitas e pessoas satisfeitas que diziam saber tudo a teu respeito.”
O mais importante para Deus não é a casa, mas a atitude dos que a constroem e freqüentam. O texto
do profeta deixa claro que Deus não quer morar em casas onde existe falsidade e superficialidade. “Há
quem sacrifica um boi [como oferta a Deus], e depois mata um homem [criado à imagem de Deus]” (Is
66.3). Deus com certeza não quer morar em casas onde haja injustiça social e onde a violência seja
perversamente cultivada. A adoração pode se tornar uma grave ofensa à santidade de Deus, se ao nos
afastarmos do ambiente de culto vivemos e reproduzimos a desigualdade, a desunião e a competição, numa
busca cega por coisas como sucesso, crescimento ou prosperidade.
Uma outra importante lição do profeta é que Deus não quer morar na casa em que a Sua vontade não
está em primeiro lugar: “Seja feita a tua vontade” é uma expressão de grande significado na vida e no
ensino de Jesus. O texto profético fala de pessoas que “escolheram seu próprio caminho e se alegram com
suas abominações” (Is 66.3). Pior que fazer o mal, é fazê-lo sabendo que não devia fazer. Pior ainda é
conseguir sentir prazer naquilo que destrói o nosso irmão e destrói a nós mesmos. Satisfazer os nossos
próprios desejos, desprezando a vontade de Deus, apenas porque a maioria das pessoas faz assim, é uma
realidade triste e lamentável.
“Continuei andando à procura da tua morada, da tua presença. Cansado e suado de tanto andar,
parei na casa de um pobre.” Deus quer morar na casa do pobre. Deus quer morar ali onde mulheres e
homens estão dispostos a se fazerem pequeninos com os pequeninos. É o que o Senhor diz: “Eu olho para o
aflito, o pobre, o humilhado, o abatido, o que treme diante de minha palavra” (Is 66.2). Deus mora na casa
daquele que tem consciência de não saber, não poder nada diante do seu Criador. “Não sei se tu moras na
casa de Severino. Ele me diz que não te conhece. Mas junto dele encontrei a paz e a humildade, a partilha e
o perdão, a solidariedade e a luta pela justiça, encontrei a plena liberdade... Se esta não for a tua morada,
Senhor, eu já não sei mais aonde procurar.”

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