Influências históricas do período entreguerras em “Mensagem”
Os poemas que compõem "Mensagem", de Fernando Pessoa, foram escritos entre 1913 e 1934, duas décadas difíceis para a Europa e o mundo, nas quais a humanidade testemunhou grandes mudanças sociais e políticas: uma guerra mundial que causou milhões de mortes, ressentimentos nacionais que abriram as portas para uma segunda guerra e a expansão de ideologias extremistas como o fascismo e o comunismo. Uma época conhecida pelos historiadores como o período “entreguerras”, e anos que tiveram grande influência no caráter patriótico desta coletânea. Em primeiro lugar, a Primeira Guerra Mundial gerou um espírito nacionalista em toda a Europa. Os intelectuais e políticos das potências europeias, para bem e para mal, estavam buscando em sua própria história façanhas e antigas glórias para reviver e engrandecer suas nações. Mussolini, por exemplo, estava se baseando no esplendor de Roma para legitimar seu regime fascista na Itália. A França, a grande vencedora da guerra, rememorava as vitórias napoleônicas, e os alemães, incluindo Hitler, estavam se inspirando no Primeiro e no Segundo Reichs. Envolto pelo espírito nacionalista da época, Pessoa obteve a influência necessária para buscar na história portuguesa as glórias que lhe permitiriam expressar através de sua lírica o tão desejado ressurgimento do país: os reis e as figuras que edificaram Portugal e a expansão marítima pelo mundo foram os feitos históricos que Pessoa usou como inspiração para "Mensagem. Mas, além disso, esse período foi caracterizado pela “massificação da política”. Mobilizar ao povo comum usando propaganda e mitos populares era o objetivo político de todos os intelectuais e partidos europeus e, consequentemente, Pessoa usou o maior mito nacional com raízes populares da história portuguesa: o Sebastianismo. Pessoa queria que todos os portugueses se identificassem com seus poemas e, para isso, recuperou e renovou o velho mito do retorno de D. Sebastião, "O Desejado", uma figura que para o povo era quase como "Jesus Cristo", e assim os portugueses recuperassem o moral e a esperança. Em resumo, o espírito nacionalista que cobria a Europa na época e os mitos populares, no caso de Portugal, o Sebastianismo, foram duas das influências do período entreguerras no caráter patriótico desta grandiosa obra literaria.