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Fábio Augusto de Paula

Avaliação da eficiência do AURITOP® nas otites em cães por


Malassezia spp.

São Paulo/SP

2013
Fábio Augusto de Paula

Avaliação da eficiência do AURITOP® nas otites em cães por


Malassezia spp.

Monografia apresentada como requisito para a


conclusão do Curso de Pós-Graduação,
Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de
Pequenos Animais, do Centro de Estudos
Superiores de Maceió, da Fundação Educacional
Jayme de Altavila, orientada pelo Prof. M.Sc.
Bruno Monteiro da Silva.

São Paulo/SP

2013
Fábio Augusto de Paula

Avaliação da eficiência do AURITOP® nas otites em cães por


Malassezia spp.

Monografia apresentada como requisito para a


conclusão do Curso de Pós-Graduação,
Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de
Pequenos Animais, do Centro de Estudos
Superiores de Maceió, da Fundação Educacional
Jayme de Altavila, orientada pelo Prof. M.Sc.
Bruno Monteiro da Silva.

São Paulo/SP, 01 de Fevereiro de 2013.

São Paulo/SP

2013
Dedicatória

Em memória de meu Pai, João Marcos de Paula, por tudo que me ensinou. Não teve a
oportunidade de presenciar a concretização deste sonho, mas com certeza ajudou.
Agradecimento

Todo o esforço seria em vão, não fossem aqueles que me apoiaram e compreenderam.

Ao Mestre e amigo Bruno Monteiro da Silva, pela orientação, por sua disponibilidade, apoio e
amizade de longo tempo.

À minha amada esposa Jacinara Albuquerque de Paula, por todo apoio e compreensão, e pelo
conhecimento e bom senso durante a etapa de finalização deste trabalho.

Aos meus pais, João Marcos de Paula e Idalina Ofélia de Paula, enormes exemplos de
honestidade e grandes motivos de orgulho, pela formação do meu caráter, pela amizade, amor
e apoio acima de tudo, sempre me estimulando a buscar mais conhecimentos na vida.

À amiga Rafaela D’Arco, por apoiar e ajudar durante todo o meu processo de graduação e,
agora, pós-graduação.

A todos, meus mais sinceros agradecimentos.


A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que
ninguém ainda pensou sobre aquilo que todo mundo vê.

Schopenhauer
Resumo

A otite externa é uma afecção frequentemente observada em cães na clínica de pequenos


animais, sendo a Malassezia spp. o microrganismo isolado com maior frequência. O objetivo
deste estudo foi avaliar a eficiência do tratamento com AURITOP®, formulação comercial a
base de cetoconazol 1%, cloridrato de ciprofloxacina 0,33%, acetonido de fluocinolona 0,02%
e cloridrato de lidocaína 2%, e relacionar a presença de Malassezia spp. em citologias de
secreção auricular com as manifestações clínicas encontradas em cães com otite externa por
Malassezia spp. Para isso, foram analisados nove cães que apresentavam otites externas,
provenientes de atendimentos na rotina da Clínica Veterinária D’Arco, em Osasco/SP, durante
o ano de 2012. Sendo que a cada cão foi atribuída uma ficha, onde foi feita sua identificação,
anotados os sintomas apresentados e possíveis fatores relacionados à doença. De cada cão
foram feitas seis coletas: três do conduto auditivo direito e três do esquerdo, nos dias 1, 14 e
21. As amostras foram coradas pelo método do panótico rápido e analisadas em microscópio
óptico. Foi feita a contagem de células compatíveis com a morfologia de Malassezia spp., e os
resultados foram classificados de acordo com a média do número de células encontradas por
campo de microscopia óptica, da seguinte maneira: escore de (–) quando 0 célula/campo;
escore de (+) quando de 1-5 células/campo; escore de (+ +) quando de 6-10 células/campo;
escore de (+ + +) quando maior que 10 células/campo. Os resultados obtidos demonstraram
que os principais sinais clínicos apresentados pelos cães foram dor (100%), prurido (100%),
excesso de cerume (100%) e eritema (88,9%), não estando estes relacionados à quantidade de
Malassezia spp. encontrada na citologia. Cães com faixa etária de mais de seis anos (55,5%),
com as orelhas pendulares (88,9%) e com pelos dentro dos canais auditivos (55,5%) foram os
tipos mais acometidos; a maioria dos indivíduos (66,7%) apresentou os dois condutos
auditivos afetados e a formulação comercial foi eficiente tanto para cura clínica quanto para
laboratorial.

Palavras-chave: cães, Malassezia sp., otite, tratamento.


Listas de Tabelas e Figuras

Lista de Tabelas:

Tab. 1 – Resultados de escore obtidos nas citologias nas respectivas datas de coleta ............. 18

Tab. 2 – Sinais clínicos observados nas respectivas datas de coleta ........................................ 19

Tab. 3 – Sinais clínicos observados nas respectivas datas de coleta ........................................ 19

Lista de Figuras:

Fig. 1 – Esquema da anatomia do ouvido canino (LEITE, 2010) ........................................... 10

Fig. 2 – Exame direto mostrando células compatíveis com Malassezia spp. através da
coloração de panótico rápido. Realizado em amostra colhida do meato acústico externo de um
cão com otite. Aumento 1.000 vezes. Fonte: o autor. .............................................................. 14

Fig. 3 – Coleta de cerume proveniente de otite externa canina através de zaragatoa estéril
umedecida em solução salina. Fonte: o autor. ......................................................................... 16
Sumário

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 8

1. OBJETIVOS ......................................................................................................................... 9

2. REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................................... 10

2. 1. Meato acústico externo ................................................................................................. 10

2. 2. Otite externa ................................................................................................................. 11

2. 3. Malassezia spp. e a otite externa .................................................................................. 13

3. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................... 15

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 17

CONCLUSÃO......................................................................................................................... 21

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 22
8

INTRODUÇÃO

Estudos da prevalência de doenças em pequenos animais demostram que as


enfermidades do meato acústico são comuns na clínica veterinária. As frequências de
apresentação em cães variam de 4,8% a 16,5%, porém a incidência de otite externa detectada
durante o exame clínico desses cães aumenta para de 16% a 25%, estando presente em
animais levados ao clínico com outras enfermidades, o que mostra que o proprietário nem
sempre está preparado para perceber quadros de otites externa (HARVEY et al., 2004).

A otite externa é uma afecção observada frequentemente em cães na clínica de


pequenos animais. A Malassezia spp. é o microrganismo isolado com maior frequência nos
ouvidos destes (BAPTISTA et al., 2010), sendo um dos principais agentes etiológicos
causadores de infecções otológicas. A sua identificação pode ser baseada na citologia do
cerume ou cultura do agente, sendo o último método mais demorado e de maior custo. A
citologia revela-se, desse modo, um método útil no diagnóstico e no monitoramento da
eficácia no tratamento de otites caninas com envolvimento desse patógeno, representando
alternativa diagnóstica em casos onde a realização da cultura é inviável (MELCHERT et al.,
2011).

A instalação do quadro clínico de malasseziose indica uma alteração do equilíbrio


existente entre o microrganismo comensal e seu hospedeiro, sendo o quadro desencadeado
pela excessiva multiplicação da Malassezia spp. em função de alterações no mecanismo de
defesa do hospedeiro. Portanto trata-se de uma enfermidade frequentemente associada a
doenças primárias concomitantes (EICHENBERG, 2000).

Considerando a complexidade do quadro clínico, é fundamental tratar a causa de


base, porém é importante um tratamento eficaz para a malasseziose, para que esta não se torne
um fator perpetuante da otite externa. (MACHADO et al., 2003; MOTA et al., 2000;
NASCENTE et al., 2005).
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1. OBJETIVOS

O objetivo deste estudo foi avaliar a eficiência do AURITOP® no tratamento de


otites externas, onde a Malassezia spp. foi a causa, e relacionar sua presença com as
manifestações clínicas encontradas usando-se a citologia do cerume como método de
diagnóstico e controle.
10

2. REVISÃO DE LITERATURA

2. 1. Meato acústico externo

A orelha canina (Fig. 1) apresenta quatro componentes estruturais básicos: o


pavilhão auricular, ou pina, e os meatos acústicos externo, médio e interno. A superfície do
pavilhão auricular é descrita como côncava, que fica voltada lateralmente, ou convexa,
voltada medialmente. A configuração do pavilhão auricular é característica de cada raça e
sua função é transmitir o som do ambiente externo para a membrana timpânica (FOX;
WOOD, 1987).

Figura 1 – Esquema da anatomia do ouvido canino (LEITE, 2010).


11

A reprodução seletiva de cães resultou em ampla variação no tamanho relativo e na


forma dos componentes do meato acústico externo. A forma e a posição da orelha, o
diâmetro do meato acústico externo, a quantidade de pelos e de tecido mole dentro do
canal variam de uma raça para outra. Apesar dessas variações anatômicas, o
relacionamento indispensável entre os diferentes componentes de meato acústico externo,
médio e interno está preservado (HARVEY et al., 2004).

O meato acústico externo do cão é longo (5 a 10 cm) e estreito (4 a 5 mm). O canal


vertical mais longo corre ventralmente e se liga ao canal horizontal mais curto. A pele do
meato acústico externo é semelhante à pele de outras partes do corpo – é revestido por
epitélio escamoso –, mas apresenta um número menor de folículos pilosos e um número
maior de glândulas sebáceas e apócrinas modificadas, sendo ambos os tipos de glândulas
mais prevalentes na porção vertical do meato acústico externo. O cerume, produto de
secreção de ambos os tipos de glândulas, protege o canal e mantém a membrana timpânica
úmida e maleável (HARVEY et al., 2004).

2. 2. Otite externa

A otite externa pode ser conceituada como uma inflamação (aguda ou crônica) do
meato acústico externo, com o envolvimento de diferentes agentes etiológicos (LEITE et al.,
2003; MOTTA et al., 2000). Muitas vezes, a otite externa é um sintoma de outras doenças e
não um diagnóstico definitivo, podendo estar presente em cerca de até 25% dos cães levados a
uma clínica veterinária por outro motivo. (HARVEY et al., 2004).

As alterações mais comuns vistas na otite externa são: eritema, edema, descamação,
crostas, alopecia e pelos partidos na face interna do pavilhão auditivo, alterações no
posicionamento da cabeça e dor quando a cartilagem auricular ou a bula timpânica são
palpadas (BAPTISTA et al., 2010; HARVEY et al., 2004; MACHADO et al., 2010).
12

A otite externa está associada a diversos agentes etiológicos, fatores primários, fatores
predisponentes e condições perpetuantes (LEITE et al., 2003; LEITE, 2010; MOTTA et al.,
2000).

Os fatores primários podem causar otite externa, com ou sem a presença de fatores
predisponentes ou perpetuantes. Entre as causas primárias estão as bactérias, sendo as mais
isoladas o Staphylococcus intermedius e o Streptococcus spp., do grupo Gram positiva, e
entre as Gram negativas a Pseudomonas aeruginosa e o Proteus sp. Ainda como fatores
primários, estariam os ectoparasitas, como Otodectis cynotis, Sarcoptes scabeii, Demodex cati
e Notoedris cati; as leveduras Malassezia pachydermatis e Candida albicans; corpos
estranhos; neoplasia otológica; pólipos inflamatórios; desordens de queratinização; distúrbios
imunomediados, como erupção medicamentosa; e hipersensibilidades, como atopia, dermatite
de contato e alergia alimentar (MARTINS et al., 2011; NOBRE et al., 1998; ROSYCHK;
LUTTGEN, 2008).

Os fatores predisponentes não causam diretamente a otite, mas aumentam o risco de


seu desenvolvimento e atuam em conjunto com a causa primária no estabelecimento da
doença clínica. Dentre eles, incluem-se os fatores anatômicos e raciais, como pelos em
excesso no meato acústico externo, canais estenóticos e orelhas pendulares; doenças
subjacentes, como as alergias; doenças sistêmicas ou imunossupressoras; umidade e efeitos de
tratamentos anteriores (HARVEY et al., 2004; NASCENTE, 2006; NOBRE et al., 1998).

Os fatores perpetuantes são aqueles que não permitem a resolução da otite externa e
ocorrem como uma consequência desta. Em casos crônicos, um ou mais fatores vão estar
presentes, e nos casos iniciais o tratamento da causa primária pode ser suficiente para
controlar a doença, mas, após o estabelecimento dos fatores perpetuantes, o tratamento deve
ser dirigido a eles. Tais fatores podem ser a maior causa de insucesso na terapia,
independentemente dos fatores predisponentes ou das causas primárias. Esses fatores incluem
infecções por outros microrganismos, entre eles Malassezia pachydermatis; respostas
patológicas a otite externa, como hiperplasia epidérmica, que tende a causar estenose luminal;
e hiperplasia de glândula ceruminosa, resultando em alteração do cerume (HARVEY et al.,
2004; LEITE, 2010; MACHADO et al., 2003; NASCENTE et al., 2005).
13

Nas otites de cães, eliminar os sinais clínicos sem procurar os fatores


predisponentes e perpetuantes é, sem dúvida, conduzir o tratamento ao fracasso terapêutico ou
à recidiva do quadro clínico. (LEITE, 2010; NASCENTE, 2003; NOBRE et al., 2001).

2. 3. Malassezia spp. e a otite externa.

O significado da Malassezia sp. na etiologia da otite externa foi durante muito tempo
questionado, mas hoje já se demonstrou seu importante papel na patogênese dessa
enfermidade (BAPTISTA et al., 2010; LEITE et al., 2003; LEITE, 2010; MANSFIELD et al.,
1990; NASCENTE, 2004; NOBRE et al., 2001).

Malassezia sp. é uma levedura saprófita não micelial e lipofílica, comumente


encontrada em pele, condutos auditivos, sacos anais, reto e vagina de cães normais (NOBRE
et al., 2001). Entretanto pode atuar como um patógeno oportunista do tegumento e do meato
acústico externo (PAPICH, 1998). Em cães, tem sido associada aos quadros clínicos de otites
externas e dermatites, estando sua proliferação intensa associada a processos de desequilíbrio
local ou sistêmico (MACHADO et al., 2003), como aumento da umidade, da temperatura e do
substrato, que determinam um aumento da proliferação, ocorrendo assim a transição da forma
comensal para o parasitismo, por isso, caracterizado como um agente patológico oportunista
(MANSFIELD et al., 1990).
14

Figura 2 ‒ Exame direto mostrando células compatíveis com Malassezia spp. através da coloração de panótico
rápido. Realizado em amostra colhida do meato acústico externo de um cão com otite. Aumento 1.000 vezes.
Fonte: o autor.

A presença de Malassezia spp. nos quadros de otites em cães pode determinar


variadas manifestações clínicas (HARVEY et al., 2004), fato que deve ser mais bem
explorado associando-se exame direto e observações clínicas a exame laboratorial, para
promover, mais rapidamente, um diagnóstico da presença do microrganismo e,
consequentemente, benefícios da terapêutica empregada, visando ao bem-estar do animal
(LEITE, 2010).
15

3. MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizados nove cães, que apresentavam sinais clínicos de otite externa,
atendidos na rotina da Clínica Veterinária D’Arco, Osasco/SP, durante o ano de 2012.

Para cada cão foi atribuída uma ficha de identificação, onde foram anotadas
características de identificação (sexo, raça e idade), sintomas apresentados (dor, prurido,
edema, eritema, hiperpigmentação, lignificação e excesso de cerume), possíveis fatores
correlacionados com a doença (orelha afetada, tipo de orelha, presença de pelos dentro dos
condutos auditivos e tempo de evolução da doença) e doenças que possivelmente estejam
relacionadas à manifestação da otite externa.

As raças foram divididas em dois grupos: orelhas eretas e orelhas pendulares;


critério adotado por Nascente et al. (2010), de agrupar os animais conforme as características
de seus pavilhões auriculares.

De cada cão foram feitas seis coletas: três do conduto auditivo direito e três do
esquerdo, nos dias 1, 14 e 21.

Todos os cães foram submetidos a otoscopia, para avaliar o conduto auditivo e a


integridade da membrana timpânica, e tiveram os pelos removidos quando presentes, para
melhorar a visualização do local e facilitar a aplicação do medicamento durante o tratamento.

Após avaliação clínica, foi coletado material para citologia introduzindo-se uma
zaragatoa estéril umedecida em solução salina, nos condutos auditivos direito e esquerdo (Fig.
3). O material obtido foi previamente analisado por microscopia óptica, com aumento de 40
vezes, para verificar a presença de ácaros; uma vez descartada essa hipótese, foi realizado o
esfregaço em lâmina de vidro. As lâminas com os esfregaços foram coradas pelo método do
panótico rápido. Assim, foi feita a contagem de células compatíveis com a morfologia de
Malassezia sp., com aumento de 1.000 vezes, em microscópio óptico, no qual as células
foram quantificadas em 10 campos aleatórios, fazendo-se a média aritmética para a obtenção
do número de células por lâmina.
16

Figura 3 – Coleta de cerume proveniente de otite externa canina através de zaragatoa estéril umedecida em
solução salina. Fonte: o autor.

Os resultados foram classificados de acordo com a média do número de células


encontradas por campo de microscopia óptica, da seguinte maneira: escore de (–) quando 0
célula/campo; escore de (+) quando de 1-5 células/campo; escore de (+ +) quando de 6-10
células/campo; escore de (+ + +) quando maior que 10 células/campo, seguindo a
classificação utilizada por Nobre et al., (1998).

Após exame citológico e constatação da presença de Malassezia sp., escore (+),


pelo menos, foi prescrito tratamento com AURITOP®, produto comercial à base de
cetoconazol a 1%, cloridrato de ciprofloxacina a 0,33%, acetonido de fluocinolona a 0,02% e
cloridrato de lidocaína a 2%, do laboratório Ourofino Saúde Animal Ltda., na dosagem
recomendada pelo fabricante: 4 gotas em cada orelha para cães com menos de 15 kg e 8 gotas
para cães com mais de 15 kg, 2 vezes ao dia, por 21 dias, sempre após a limpeza externa das
orelhas com algodão, para remoção do excesso de cerume e resíduos do medicamento.
17

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos nove cães acompanhados neste estudo, cinco (55,5%) eram fêmeas, e quatro
(44,5%) machos. Estando assim os resultados de acordo com a maioria dos autores que
relatam não haver predisposição relacionada ao sexo quanto à manifestação de otites externas
por Malassezia sp. (MACHADO et al., 2003; MOTA et al., 2000).

Quanto à faixa etária, foi observado que três (33,3%) tinham até três anos, um
(11,1%) de três a seis anos, e cinco (55,5%) mais de seis anos. Na literatura há grande
diversidade em relação à faixa etária mais acometida, isso se dá principalmente por causa da
grande diferença de classificação utilizada por autor, tornando difícil a comparação entre os
trabalhos. No presente estudo, a maioria dos cães acometidos (55,5%) apresentavam mais de
seis anos, discordando dos resultados de Nascente et al. (2010), que não observaram diferença
significativa entre as faixas etárias. Essa divergência de resultados ocorreu, provavelmente,
porque neste estudo o grupo de cães utilizado foi pequeno e com características diferentes,
fazendo com que fatores como a conformação anatômica das orelhas e do conduto auditivo,
além de outros predisponentes, que não dependem da idade do animal, interferissem nos
resultados.

Em relação às raças, os cães sem raça definida (SRD) foram os mais observados:
três (33,3%), seguidos por Poodles: dois (22,2%) e pelas raças Dogue Alemão, Maltês, Shih
Tzu e Teckel: com um (11,1%) cão cada. Para uma melhor análise, essas raças foram
distribuídas em dois grupos: orelhas eretas e orelhas pendulares, segundo os critérios usados
por Nascente et al. (2010), de agrupar os animais conforme as características de seus
pavilhões auriculares, ficando no grupo de orelhas eretas um cão (11,1%), SRD, e no grupo de
orelhas pendulares oito (88,9%), dois SRD, dois Poodles, um Dogue Alemão, um Maltês, um
Shih Tzu e um Teckel. Assim, foram obtidos resultados semelhantes aos encontrados por
Yoshida et al. (2002) e Nascente et al. (2010), que observaram maior frequência de
isolamento de Malassezia sp. em cães com orelhas pendulares. Ainda com relação às
características anatômicas, o presente estudo também avaliou a presença de pelos dentro do
conduto auditivo, e os números encontrados foram: cinco cães (55,5%) apresentando pelos no
18

conduto auditivo (dois Poodles, um Shih Tzu, um SRD e um Maltês) e quatro (44,5%) sem
(dois SRD, um Dogue Alemão e um Teckel).

Yoshida et al. (2002) observaram maior frequência de otite externa em cães que
apresentavam pelos no conduto auditivo, principalmente quando o cão também possuía
orelhas pendulares. Essas duas características alteram o microclima do conduto auditivo,
proporcionando o crescimento de fungos (MANSFIELD et al., 1990).

Referente ao conduto auditivo afetado, seis (66,7%) apresentavam otite externa


por Malassezia sp. nos dois condutos, e três (33,3%) apresentaram em apenas um, revelando
que a Malassezia sp. atinge, em sua maioria, os dois condutos auditivos quando passa de sua
forma comensal para o parasitismo (MELCHERT et al., 2011).

Os resultados encontrados nas citologias (Tabela 1) foram: na primeira coleta (dia


1), escore (−): 0, escore (+): 2 (22,2%), escore (+ +): 1 (11,1%) e escore (+ + +): 6 (66,7%).
Na segunda coleta (dia 14), escore (−): 9 (100%), escore (+): 0, escore (+ +): 0 e escore (+ +
+): 0. Na terceira coleta (dia 21), escore (‒): 8 (88,9%), escore (+): 1 (11,1%), escore (+ +): 0
e escore (+ + +): 0.

Resultados semelhantes foram encontrados por Nascente (2006), que, usando


formulação comercial a base de cetoconazol durante 21 dias, obteve 100% de cura em otites
experimentais por Malassezia pachydermatis e 86,7% de cura em otites por infecção natural.

Tabela 1 – Resultados de escore obtidos nas citologias nas respectivas datas de coleta

Escore − + ++ +++

1ª (1) 0 0 2 22,2% 1 11,1% 6 66,7%


Coleta
2ª (14) 9 100% 0 0 0 0 0 0
(dia)
3ª (21) 8 88,9% 1 11,1% 0 0 0 0

Os sinais clínicos observados (Tabelas 2 e 3) foram: na primeira coleta (dia 1),


dor: 9 (100%), prurido: 9 (100%), excesso de cerume: 9 (100%), eritema: 8 (88,9%), edema: 4
(44,5%), lignificação: 1 (11,1%) e hiperpigmentação: 1 (11,1%). Na segunda coleta (dia 14),
dor: 2 (22,2%), prurido: 6 (66,7%), excesso de cerume: 5 (55,5%), eritema: 1 (11,1%), edema:
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0, lignificação: 1 (11,1%) e hiperpigmentação: 1 (11,1%). Na terceira coleta (dia 21), dor: 0,


prurido: 1 (11,1%), excesso de cerume: 1 (11,1%), eritema: 0, edema: 0, lignificação: 1
(11,1%) e hiperpigmentação: 1 (11,1%). Baptista et al. (2010), Harvey et al. (2004) e
Machado et al. (2010) observaram sinais clínicos similares em cães com otite externa por
Malassezia sp., aos observados neste estudo.

Tabela 2 – Sinais clínicos observados nas respectivas datas de coleta

Sinal Dor Prurido Excesso de cerume


clínico

1ª (1) 9 100% 9 100% 9 100%


Coleta
2ª (14) 2 22,2% 6 66,7% 5 55,5%
(dia)
3ª (21) 0 0 1 11,1% 1 11,1%

Tabela 3 – Sinais clínicos observados nas respectivas datas de coleta

Sinal Eritema Edema Lignificação Hiperpigmentação


clínico

1ª (1) 8 88,9% 4 44,5% 1 11,1% 1 11,1%


Coleta
2ª (14) 1 11,1% 0 0 1 11,1% 1 11,1%
(dia)
3ª (21) 0 0 0 0 1 11,1% 1 11,1%

Foi catalogado o tempo de evolução da doença (de quando o proprietário


observou os sinais clínicos até a consulta na clínica), e os resultados foram: animais com até
15 dias de evolução: sete (77,8%) e animais com mais de 30 dias de evolução: dois (22,2%),
demostrando que neste estudo a maioria dos casos foi de otites externas agudas.

Referente às doenças concomitantes aos quadros de otites externa, sete (77,8%)


animais apresentavam doenças dermatológicas além da otite externa, e dois (22,2%) não
apresentavam doenças aparentes além do quadro de otite externa, resultados de acordo com
Eichenberg (2000) e Harvey et al. (2004).
20

Relacionando os resultados das citologias aos sinais clínicos, é possível observar


que 100% dos cães estudados apresentavam como sinais clínicos dor, prurido e excesso de
cerume, independentemente de seu escore. Resultados de acordo com Guberman et al. (2011)
observaram que o prurido não está relacionado à quantidade de M. pachydermatis encontrada
nas citologias, mas sim à presença de cerume. O eritema foi observado em oito cães (88,9%),
só não sendo observado em um (11,1%), que apresentava lignificação e hiperpigmentação,
devido às características de essas alterações dificultarem a observação do eritema. Esse cão,
após 21 dias de tratamento, apresentava citologia escore (−), porém os sinais de lignificação,
hiperpigmentação e excesso de cerume persistiam, provavelmente devido ao caráter crônico
de sua otite, que tinha três meses de evolução.

Em apenas um caso foi observado escore (+) na citologia realizada com 21 dias de
tratamento; uma provável explicação seria a interrupção da terapia durante o período do
tratamento, uma vez que o cão apresentou escore (–) e ausência de sinais clínicos na coleta
realizada com 14 dias. Assim, é possível supor que mesmo com uma citologia negativa o
tratamento deve ser continuado por mais um período para a cura completa. Em um trabalho
que usava formulação comercial a base de cetoconazol, durante 21 dias, Nascente (2006)
obteve 100% de cura em otites experimentais por Malassezia pachydermatis e 86,7% de cura
em otites por infecção natural.
21

CONCLUSÃO

No presente estudo foram obtidos resultados que devem ser ampliados,


aumentando o número de cães analisados e formando grupos mais homogêneos.

O medicamento AURITOP® e a posologia usados para o tratamento se mostraram


eficientes tanto para cura clínica quanto para laboratorial em cães com otite externa por
Malassezia sp.

Os principais sinais clínicos apresentados pelos cães foram dor, prurido, excesso
de cerume e eritema, não estando estes relacionados à quantidade de Malassezia sp.
encontrada na citologia.
22

REFERÊNCIAS

BAPTISTA, T. C. C. et al. Diagnóstico de Malassezia sp. em ouvidos de cães e sua


correlação clínica. Revista Eletrônica Novo Enfoque, Rio de Janeiro, v. 9, n. 9, p. 48-55,
2010. Disponível em:
<http://www.castelobranco.br/sistema/novoenfoque/files/09/artigos/04.pdf>. Acesso em: 17
jul. 2012.

EICHENBERG, M. L. Susceptibilidade antifúngica da Malassezia pachydermatis isolada


de cães com otite externa através do método de microdiluição em caldo. Porto Alegre,
2000. 80 f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) – Curso de Pós Graduação em
Ciências Veterinárias – UFRGS, 2000.

ROSYCHK, R. A. W.; LUTTGEN, P. Doenças dos ouvidos. In: ETTINGER, J. S.;


FELDMAN, C. E. Tratado de Medicina Interna Veterinária: Doenças do cão e do gato. 5.
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