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ACÓRDÃO TC-188/2021-2 – 1ª CÂMARA

Acórdão 00188/2021-2 - 1ª Câmara

Processos: 04614/2020-7, 04904/2020-1, 04892/2020-2, 04610/2020-9, 08983/2017-3


Classificação: Embargos de Declaração
UG: PMA - Prefeitura Municipal de Anchieta
Relator: Sebastião Carlos Ranna de Macedo
Interessado: Chefe do Poder Executivo Municipal (ES, Anchieta, FABRÍCIO PETRI),
JERONIMO PABLO PAEZ TORRES, MARCELLO PINTO RODRIGUES
Recorrente: MARCUS VINICIUS DOELINGER ASSAD
Procuradores: MARCELO SOUZA NUNES (OAB: 9266-ES), RODRIGO FARDIN (OAB:
18985-ES)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM FACE DO


ACÓRDÃO TC 00915/2020-7 PRIMEIRA CÂMARA –

HERON CARLOS GOMES

01/03/2021 14:33
CONHECER – NEGAR PROVIMENTO - CIÊNCIA –

Assinado por

DE OLIVEIRA
ARQUIVAR.

SEBASTIAO CARLOS

25/02/2021 18:35
RANNA DE MACEDO
O RELATOR EXMO. SR. CONSELHEIRO SEBASTIÃO CARLOS RANNA DE

Assinado por
MACEDO:

1. RELATÓRIO

25/02/2021 17:31
SERGIO ABOUDIB
FERREIRA PINTO

Tratam os autos de Embargos de Declaração interpostos pelo senhor Marcus


Assinado por

Vinicius Doelinger Assad, em face do Acórdão TC 00915/2020-7 Primeira Câmara,


proferido nos autos do processo de Tomada de Contas Especial Instaurada TC
08983/2017-3, tendo a parte dispositiva sido exarada nos seguintes termos:
LUCIRLENE SANTOS

25/02/2021 17:05
Assinado por

ACÓRDÃO TC-915/2020:
RIBAS

VISTOS, relatados e discutidos estes autos, ACORDAM os


Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo,
reunidos na sessão da Primeira Câmara, ante as razões expostas
RODRIGO COELHO DO

pelo relator, em:


25/02/2021 16:39
Assinado por

1.1. MANTER a seguinte irregularidade:


CARMO

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1.1.1. Inadimplência de contribuições previdenciárias


devidas ao instituto de previdência dos servidores de
Anchieta, com consequente obrigação de pagamento de
juros e multas, despesas que importam em dano ao erário.
(Conforme narrado no item 2.1 da Instrução Técnica
Conclusiva 04785/2019-1)

Critérios: art. 123, 123-A, 124 e 130 da Lei 169/2004; Violação


aos Princípios da Economicidade, Legalidade, Moralidade,
Probidade Administrativa e da Boa-fé Objetiva, prescritos no
art. 37, caput, da CF/88, art. 116 da Lei 8.112/90 c/c art. 155,
incisos VI, VII, VIII e XIII da LC Municipal nº 27/2012, art. 75 e
134, VIII, ambas da Lei 003/2014 (Lei Orgânica) e art. 59 da lei
568/2009.

Responsáveis Solidários:
Jerônimo Pablo Paez Torres – Ex-Secretário Municipal de
Fazenda.
Marcus Vinicius Doelinger Assad – Ex-Prefeito Municipal.
Marcello Pinto Rodrigues – Ex- Controlador-Geral do
Município

Ressarcimento: 793.473,34 VRTE

1.2. DEFERIR o pleito de preferência na tramitação do processo,


nos termos do art. 71, parágrafo único, e art. 264, parágrafo único
ambos do RITCEES;

1.3. REJEITAR a preliminar de ilegitimidade passiva aduzida por


Jerônimo Pablo Paez Torres;

1.4. REJEITAR as razões de justificativas e JULGAR


IRREGULARES as contas dos senhores Jerônimo Pablo Paez
Torres, Marcus Vinicius Doelinger Assad e Marcello Pinto
Rodrigues em razão do cometimento da infração que causou dano
injustificado ao erário, disposta no item 1.1.1 acima, com amparo no
art. 84, III, “c”, “d” e “e”, da Lei Complementar Estadual 621/2012,
condenando-os ao ressarcimento solidário do valor de 793.473,34
VRTE;

1.5. APLICAR MULTA aos Srs. Jerônimo Pablo Paez Torres,


Marcus Vinicius Doelinger Assad e Marcello Pinto Rodrigues
proporcional ao dano no valor de 7.000 VRTE com base no art. 134
da LC 621/2012 aplicando-lhes, também, multa de R$ 3.000,00,
com amparo no art. 135, III da LC 621/2012, na forma do art. 389, III
do RITCEES;

1.6. DAR CIENCIA da decisão final aos interessados;

1.7. ARQUIVAR os autos após o trânsito em julgado.

2. Por maioria, nos termos do voto do relator, vencido o conselheiro


Rodrigo Coelho, que votou acompanhando a área técnica.

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3. Data da Sessão: 11/09/2020 – 26ª Sessão Ordinária da 1ª


Câmara.

Foram os autos encaminhados à área técnica para análise em observância ao artigo


411, §5º do RITCEES, ante a possiblidade de a análise acarretar efeitos
modificativos na decisão contestada.

O Núcleo de Recursos e Consultas manifestou-se nos autos por meio da Instrução


Técnica de Recurso 00331/2020-1, opinando pelo conhecimento do recurso e seu
não provimento.

Registra-se que o Embargante apresentou duas peças a esta Corte a título de


Embargos de Declaração, na mesma data de 25/09/2020: a Petição Recurso
00199/2020-2 (doc. 02), subscrita pelo próprio responsável; e a Petição Recurso
00200/2020-1 (doc.05), oposta pelo seu patrono nos autos principais, que foram
analisadas pela área técnica em conjunto.

No mesmo sentido opinou o Ministério Público de Contas, em manifestação da lavra


do Excelentíssimo Procurador Luciano Vieira (Parecer do Ministério Público de
Contas 00131/2021-2).

É o relatório.

2. FUNDAMENTAÇÃO

Compulsando acuradamente os autos, verifico que o feito se encontra


devidamente instruído, portanto, apto a um julgamento, eis que observados todos os
trâmites legais e regimentais.

2.1 Dos Pressupostos Recursais

A Lei Complementar nº 621/2012, em seu artigo 152, inciso III, combinado com artigo 167,
caput e §1º, prevê que os Embargos de Declaração podem ser opostos pela parte dentro
do prazo de 05 (cinco) dias, contados na forma prevista naquela lei, com indicações das
matérias obscuras, omissas ou contraditórias porventura existentes no Acórdão ou
Parecer Prévio.

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Analisando as condições de admissibilidade do recurso observa-se que o embargante é


parte capaz e possui interesse e legitimidade processual, foi o expediente interposto
tempestivamente, é cabível e o recorrente aponta obscuridade, omissão e contradição na
decisão, podendo ser conhecido, conforme analisado na Instrução Técnica de Recursos
00331/2020-1, abaixo transcrita:

“[...]

DOS PRESSUPOSTOS RECURSAIS

Analisando as condições de admissibilidade do recurso, observa-se que o


Embargante é capaz e possui interesse e legitimidade processual.

Quanto ao cabimento, constata-se que o instrumento utilizado é possível


e adequado à hipótese dos autos, tendo em vista o disposto no caput do
artigo 167, da Lei Complementar nº 621/2012, abaixo transcrito:

Art. 167. Cabem embargos de declaração quando houver


obscuridade, omissão ou contradição em acórdão ou parecer
prévio emitido pelo Tribunal de Contas.

No que concerne ao cumprimento do prazo recursal, verifica-se que o


Acórdão TC-00915/2020-7 – Primeira Câmara, contra o qual se insurge
o Embargante, foi disponibilizado no Diário Oficial Eletrônico deste
Tribunal em 21/09/2020, considerando-se publicado no dia 22/09/2020,
nos termos dos artigos 62 e 66, parágrafo único, da Lei Complementar
621/2012 c/c. artigo 5º, do RITCEES, consoante informação prestada pela
SGS (Despacho 35138/2020-8 – evento 04). Tendo em vista o disposto
no artigo 411, parágrafo 2°, do Regimento Interno desta Corte, a
interposição do presente recurso em 25/09/2020 o torna TEMPESTIVO.

2.2 Do Mérito

Quanto a análise meritória adoto a fundamentação exarada na Instrução Técnica de


Recurso 00331/2020-1, abaixo transcrita:

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Instrução Técnica de Recurso 00331/2020-1:

“[...]

DO MÉRITO

Aduz o Embargante que houve omissão na decisão confrontada, por


ausência de fundamentação nas razões de decidir deste Colegiado, bem
como na “ausência de análise da matéria de defesa concernente a
necessidade de matriz de responsabilidade”, nos termos a seguir
transcritos:

PETIÇÃO RECURSO 00199/2020-2

DA OMISSÃO DA DECISÃO – AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO


E ANÁLISE DE MATÉRIA DA DEFESA

Para alcançar o fim a que se destina, é necessário que a tutela


jurisdicional seja prestada de forma clara e completa, sem
obscuridade, omissão ou contradição. O dever constitucional de
fundamentar toda e qualquer decisão, interlocutória, terminativa ou
definitiva, encontra-se expresso no art. 93, incisos IX e X, da Carta
Magna.
Registre-se, igualmente, que a Lei Fundamental comina sanção de
nulidade em decorrência da inobservância do referido preceito, o
que inclusive foi acolhido com respeitado no Código de Processo
Civil de 2015, sendo, portanto necessário que haja uma
fundamentação exaustiva nas decisões.
A fundamentação ou motivação constitui a base intelectual de toda e
qualquer decisão, e que, por sua vez, deve traduzir todo o raciocínio
desenvolvido no processo.
Inconteste é a existência do livre convencimento dos julgadores,
sejam estes judiciais ou administrativos, por óbvio, caberá aos
mesmos analisar os autos e, considerando o conjunto probatório
formar o seu convencimento sobre a lide, decidindo de forma
fundamentada e para tanto deverá enfrentar em sua decisão
todos os argumentos deduzidos no processo capaz de infirmar
sua conclusão, ainda que de forma sucinta, nos termos do
parágrafo 1º, do artigo 489 do CPC, não podendo se limitar a fazer
mera remição a parecer do MP de Contas ou área técnica sem
justificar a sua utilização.
Não obstante a indiscutível certeza teórica de que toda decisão,
judicial ou administrativa, DEVE SER MOTIVADA, verifica-se que o
acórdão recorrido revelou uma análise carente de densidade

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argumentativa, ao fazer SIMPLES REMISSÃO À PARECER DO MP


DE CONTAS E A ITC, motivo pelo qual ausente a exposição
expressa das razoes de decidir e consequentemente afronta ao
princípio da motivação.
Segundo o escólio de HELY LOPES MEIRELLES, os atos
administrativos devem ser motivados, sob pena de nulidade:
[...] Hoje, em face da ampliação do princípio do acesso ao
Judiciário (CF, art. 5º, XXXV), conjugado com o da moralidade
administrativa (CF, art. 37, caput), a motivação é, em regra,
obrigatória. [...] Portanto, na atuação vinculada ou na
discricionária, o agente da Administração, ao praticar o ato, fica
na obrigação de justificar a existência do motivo, sem o que o
ato será inválido ou, pelo menos, invalidável, por ausência da
motivação." (in DIREITO ADMINISTRATIVO BRASILEIRO, 33ª.
ed., São Paulo: Malheiros Editores, 2007, p. 154).
No mesmo sentido ensina DIRLEY DA CUNHA JÚNIOR:
[...] Enfim, via de regra, o ato administrativo deve ser sempre
motivado, pouco importando que ele seja discricionário ou
vinculado. A motivação pode ser prévia ou contemporânea à
expedição do ato. (in CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO,
7ª. ed., Salvador: Juspodivm, p. 54).
No caso, o exame dos documentos acostados aos autos revela que
o acórdão impugnado do Tribunal de Contas limitou-se a rejeitar as
alegações de defesa e imputar irregularidade ao recorrente através
de MERA REMISSÃO AO PARECER DO MP E ITC.
É de conhecimento desse recorrente o posicionamento deste
Tribunal de Contas quanto à possibilidade de utilização de
manifestação técnica para fundamentar suas decisões, sendo
perfeitamente admitida no ordenamento ur dico rasileiro e
denominada de “ undamenta o ad relationem”, ou se a, a uela na
qual o julgador não se vale de argumentação própria, oriunda
exclusivamente de seu raciocínio, mas, antes, faz alusão a outras
manifestações lançadas nos autos pelas partes.
Contudo, no presente caso, sequer fora apresentada as razões
pelas quais o relator, vencedor do voto, adotou o posicionamento da
área técnica, tendo limitado-se, EXCLUSIVAMENTE, a reproduzi-la.
Recentemente, a Terceira Seção do tribunal deu provimento a
recurso especial (EREsp 1.384.669/RS, j. 28/08/2019) para anular
acórdão no qual a fundamentação se limitava a fazer referência a
parecer do Ministério Pú lico, entendendo ue “Nos termos da
orientação firmada pela Terceira Seção do Superior Tribunal de
Justiça, não serve como fundamentação exclusivamente a remissão
a manifestações de terceiros, exigindo-se complementações
demonstradoras do efetivo exame dos autos e teses arguidas”.
Assim, a mera transcrição de outra decisão ou de manifestação nos
autos, sem qualquer acréscimo, não basta para suprir a exigência de

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fundamentação prevista na Constituição Federal como já entendeu


recentemente (2019) o STJ, bem como os demais Tribunais de
nosso país:
DIREITO ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO
CÍVEL.AGRAVO RETIDO. NÃO CONHECIMENTO.
PEDIDO DE APRECIAÇÃO NÃO REITERADO NAS
RAZÕES DO APELO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE
NULIDADE DE ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE CONTAS.
DECISÃO ADMINISTRATIVA QUE DESAPROVA
CONTAS.AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DO
ADMINISTRADOR RESPONSÁVEL PELAS CONTAS.
AFRONTA AOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO
CONTRADITÓRIO. SIMPLES REMISSÃO À PARECER
PRÉVIO DO AUDITOR. AUSÊNCIA DE EXPOSIÇÃO
EXPRESSA DAS RAZÕES DE DECIDIR.AFRONTA AO
PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO.PARLAMENTAR:
EXERCENTE DE MANDATO ELETIVO MUNICIPAL.
RETENÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PARA A
PREVIDÊNCIA SOCIAL.DESNECESSIDADE. LEI Nº.
8121/91, ARTIGO 12, INCISO I, ALÍNEA H. DECLARADA
INCONSTITUCIONAL PELO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL E COM APLICAÇÃO SUSPENSA PELO
SENADO FEDERAL. CONTAS REGULARES. Apelação
Cível n.º 884.895-5AGRAVO RETIDO NÃO
CONHECIDO.APELO DESPROVIDO. I. A decisão do
Tribunal de Contas que desaprova as contas prestadas
sem a prévia intimação do administrador responsável pelo
período a que se refere a prestação é nula por ofensa aos
princípios do devido processo legal, da ampla defesa e do
contraditório. II. Os processos que tramitam no Tribunal
de Contas, quando apreciam as contas dos
administradores públicos, devem obedecer ao
princípio da motivação, na forma determinada pela
Constituição Federal. A simples remissão à parecer
prévio apresentado por auditor do Tribunal de Contas
do Estado do Paraná não supre a necessidade de
motivação do ato administrativo. III. A Lei nº 9.506, de
30/10/97 que acrescentou a alínea h ao inciso I do artigo
12 da Lei nº 8.212/91, tornando segurado obrigatório do
regime geral de previdência social o exercente de
mandato eletivo não vinculado a regime próprio de
previdência social foi declarada inconstitucional pelo
Supremo Tribunal Federal (RE 351.717/PR) e teve a sua
aplicabilidade suspensa pelo Senado da República
(Resolução nº 26/2005), não prosperando a decisão que
desaprovou as contas prestadas por inobservância a tal
dispositivo. (TJ-PR 8848955 PR 884895-5 (Acórdão),
Relator: Abraham Lincoln Calixto, Data de Julgamento:
04/09/2012, 4ª Câmara Cível)

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Assim, a simples remissão a parecer prévio não supre a


necessidade de motivação do ato administrativo, como acima já
demonstrado, motivo pelo qual resta caracterizada a omissão
contida no acórdão recorrido e consequentemente a sua nulidade.
A Carta Magna faz menção à obrigatoriedade da exposição das
motivações judiciais:
Art. 93. (...)
IX - todos Os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de
nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados
atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a
estes, em casos nos quais a preservação do direito à
intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse
público à informação; (grifo nosso)
Também é reforçada tal obrigatoriedade no âmbito cível através do
artigo 489 do Código de Processo Civil:
Art. 489. São elementos essenciais da sentença:
(...)
II - Os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de
fato e de direito;
(...)
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão
judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I - Se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato
normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão
decidida;
II - Empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar
o motivo concreto de sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer
outra decisão;
IV - Não enfrentar todos os argumentos deduzidos no
processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão
adotada pelo julgador;
V - Se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula,
sem identificar seus fundamentos determinantes nem
demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos;
VI - Deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou
precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência
de distinção no caso em julgamento ou a superação do
entendimento.
O dispositivo retro mencionado configura-se de tamanho apreço pelo
sistema jurídico que é, no novo Código Processual Civil,

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em asamento para o chamado “Princ pio da Motiva o das


Decisões”, consistindo esse último, segundo Neves (2017)1, na
“E teriori a o das ra ões de seu decidir [do ui ], com a
demonstração concreta do racioc nio tico e ur dico ue
desenvolveu para chegar s conclusões contidas na decis o”.
Ainda, o próprio CPC, QUE É APLICADO A ESTA CORTE DE
CONTAS COMO DISPÕE A PRÓPRIA LEGISLAÇÃO DO TCE,
reforça a importância do presente princípio ao dispor expressamente
que o juiz deve se ater à expressão da fundamentação judicial de
forma clara e precisa.
Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e
mantê-la estável, íntegra e coerente.
§ 1º Os juízes e os tribunais observarão o disposto no art. 10 e
no art. 489, § 1º, quando decidirem com fundamento neste
artigo.
Para sanar o referido vício, a doutrina aduz que cabe embargos
declaratórios em caso de sentença omissa.
Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer
decisão judicial para: (…)
II - incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, §
1º.
Preceitua o art. 411 do Regimento Interno que cabe Embargos de
Declaração quando houver obscuridade, omissão ou contradição em
acórdão ou parecer prévio emitido pelo Tribunal, que serão opostos
por escrito pelo responsável, pelo interessado, pelo sucessor ou pelo
Ministério Público junto ao Tribunal, em petição dirigida ao Relator.
Nas palavras do próprio Ministério Público de contas do TCE-ES1
contida no ED oposto contra decisão 552/2016 proferida nos
autos do processo 376/2016:
Ressalte-se, por imperioso, que a simples concordância com
a argumentação da Equipe Técnica não torna prescindível
a demonstração dos motivos precisos da decisão proferida
por esta Corte de Contas.
Deveras, decisão que se apoia em voto do conselheiro
Relator que, por sua vez, se restringe a reportar-se a
argumentação da Equipe Técnica (fundamentos aliunde) é
inválida, sendo necessária a devolução dos autos para que
seja sanado o grave vício, sob pena de nulidade.
Esclarece-se, contudo, a necessidade de se levar em conta a
posição da Equipe Técnica, mas, em qualquer caso, cabe a
essa Corte expor as razões pelas quais concorda ou não
com o posicionamento dela.
Quanto a tese de defesa também não analisada e concernente a
AUSÊNCIA DA MATRIZ DE RESPONSABILIDADE, mais destaque
ainda obtém na medida em que esta é a ferramenta utilizada para

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identificar os responsáveis por irregularidades, especificar as


condutas impugnadas, estabelecer as relações de causa e efeito e,
finalmente, aferir a culpabilidade dos agentes, propondo um
encaminhamento compatível com as circunstâncias do caso
examinado, sendo sua existência imprescindível nos processos
como vem entendendo este Tribunal de Contas, o que não foi feito
no caso dos autos.
Apesar de haver recomendação do TCU contida na Portaria Adplan
1/2010 o MP de contas, equipe técnica e até mesmo a decisão
recorrida NÃO APONTAM QUAL A CONDUTA QUE DEVERIA TER
SIDO ADOTADA pelo Recorrente para que sua ação fosse então de
acordo com o direito, sendo HUMANAMENTE IMPOSSÍVEL, que o
prefeito conferisse e acompanhasse pessoalmente toda
documentação e relatório financeiro.
Conforme definido na Portaria Adplan n. 1/2010 (BRASIL, 2010, p.
26), a matriz de responsabilização permite a verificação da
responsabilidade pelo achado e DEVE ser preenchida sempre que
houver achados que se constituam em irregularidades, cuja proposta
de encaminhamento seja pela audiência ou citação de responsáveis,
e somente para esses achados.
Apesar de extensamente volumoso, temos que é precária a
instrução processual verificada no caso em comento com relação ao
recorrente, tendo apontado o Recorrente como responsável pela
irregularidade sem apreciação da sua culpabilidade, ou seja, sem a
matriz de responsabilização e assim sendo, sem a individualização
da sua conduta, limitando-se a área técnica a informar que:
“minimamente conhecimento do descumprimento das
obrigações legais relativas às contribuições previdenciárias,
conforme observou nos ofícios encaminhados pela Diretora
Presidente do IPASA e no memorando encaminhado pelo
Controlador Geral nº 71/2016”, confirmando que o Prefeito tinha
conhecimento e permitiu a irregularidade.
Contudo, como se observa nos autos e nos ofícios citados no
acórdão em reprodução as manifestações técnicas, não há, em
momento algum, comprovação de seu recebimento pelo então
prefeito municipal, muito menos de sua ciência quanto aos
fatos tidos como irregulares, mas tão somente quanto ao
secretário responsável pelos pagamentos a época.
Basta uma simples olhadela para se verificar que a imputação da
responsabilidade ocorreu em virtude do cargo por ele ocupado
(Prefeito), sem a devida caracterização do nexo de causalidade
entre as irregularidades apontadas e a sua conduta, culminando na
responsabilização objetiva, o que não é atualmente admitido
por esta Corte de Contas.
Nesse sentido o TCE/ES entendendo pela ausência de
responsabilidade do AGENTE público que NÃO PARTICIPOU
DIRETAMENTE DA FISCALIZAÇÃO e PELA AUSÊNCIA DA
MATRIZ DE RESPONSABILIZAÇÃO, afastou a responsabilidade do

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prefeito de Cachoeiro de Itapemirim no Acórdão n° 149/2016,


constante nos autos do processo 537/2006, in verbis o voto do
relator:
Nesse contexto, portanto, verifico nas inconsistências supracitadas,
a indicação de terceiros como responsáveis para validar a
consecução das despesas e que serviram para respaldar a conduta
do ex-prefeito, que por derradeiro, autorizou o pagamento do que lhe
foi atestado.
Nessa linha, diante de uma alteração de entendimento no âmbito
deste Plenário, quanto à responsabilização dos agente públicos, que
vêm sendo paulatinamente implementadas em nossos julgados, haja
vista a jurisprudência pátria dos demais Tribunais de Contas e,
notadamente, tendo em vista o posicionamento preponderante do
Tribunal de Contas da União, conforme motivos que
reiteradamente vêm instituindo os meus votos, entendo que
nossa atuação não pode recair unicamente sobre os Chefes de
Poder ou sobre os altos dirigentes dos Órgãos Públicos, como
indevidamente ocorreu neste caso concreto. (grifamos)
Assim, conforme já mencionado nos primeiros embargos vale
ratificar que existe pontual ocorrência de omissão e obscuridade no
acórdão impugnado
Desta feita, as partes precisam ter a segurança de que o julgador
analisou suas alegações, bem como todo o conjunto probatório
antes de manifestar-se, o que só será alcançado com uma decisão
devidamente fundamentada, o que também se aplica a esta Corte de
Contas com base no devido processo administrativo e demais
preceitos constitucionais garantidos as partes também em processos
dessa natureza, o que não ocorreu no presente caso, motivo pelo
qual se justifica a interposição do presente recurso.

PETIÇÃO RECURSO 00200/2020-1

DA NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO – DA
IMPOSSIBILIDADE DE MERA REPRODUÇÃO DO PARECER DA
ÁREA TÉCNICA
Conforme aduzido acima, se faz necessária a oposição dos
presentes embargos declaratórios, eis que o Voto de Vossa
Excelência se limita a transcrever a manifestação da área técnica e
do Ministério Público de Contas, sem, entretanto, se manifestar
sobre os argumentos que o ora embargante trouxe aos autos.
Aqui cumpre destacar que a jurisprudência pátria possui
entendimento no sentido de que é facultado ao julgador reportar-se
ao parecer ministerial, todavia, a bem de se prestigiar a
dialeticidade, expressão do contraditório, é imperioso que
acrescente fundamentação que seja de sua autoria, sob pena de
configurar a nulidade do feito.

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Nesse sentido, vejamos:


[...]. 4. Nulidade absoluta do acórdão reconhecida, diante
da violação do princípio do livre convencimento motivado,
previsto no art. 93, IX, da Constituição Federal.
Precedentes. 5. Writ não conhecido. Ordem de habeas corpus
concedida de ofício, para anular o acórdão proferido pelo
Tribunal a quo, e, por conseguinte, determinar que outro seja
proferido, com a efetiva e concreta apreciação das
alegações trazidas na petição de interposição e nas razões
do recurso de apelação" (HC 216.659/SP, Rel. Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
8/6/2016, DJe 1º/7/2016, grifou-se); e "PENAL E PROCESSO
PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL.VIOLAÇÃO AOS ARTS. 381, III, DO CPP E 489,
CAPUT, II, III, § 1º E IV, DO CPC. FUNDAMENTAÇÃO PER
RELATIONEM. MERA TRANSCRIÇÃO DO PARECER
MINISTERIAL. NULIDADE. DECISÃO RECORRIDA EM
CONFRONTO COM JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DO
STJ. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA
PROVIMENTO. 1. A jurisprudência desta corte sedimentou
o entendimento de que 'a mera transcrição do parecer do
Ministério Público não é apta a suprir a exigência
constitucional de fundamentação das decisões judiciais,
prevista no art. 93, IX, da Constituição Federal' (RHC
80.543/RS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 12/09/2017, DJe 19/09/2017). 2. Agravo regimental
a que se nega provimento". (AgInt no AREsp 1.186.541/RS,
Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA
TURMA, julgado em 16/11/2017, DJe 24/11/2017, grifou-se).
Ante o exposto, não conheço do habeas corpus. Publique-se.
Intimem-se. Brasília, 03 de agosto de 2020. Ministro Ribeiro
Dantas Relator (STJ - HC: 558982 RS 2020/0019162-7,
Relator: Ministro RIBEIRO DANTAS, Data de Publicação: DJ
05/08/2020)
...........................................................................
PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO
QUALIFICADO TENTADO. ACÓRDÃO. (1) PRELIMINAR.
SIMPLES TRANSCRIÇÃO DO PARECER MINISTERIAL. (2)
MÉRITO. MERA REPRODUÇÃO DA DECISÃO IMPUGNADA.
ART. 93, IX, CF. VIOLAÇÃO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL.
OCORRÊNCIA. 1. Trata-se de idéia-força, voltada ao prestígio
do Estado Democrático de Direito: as decisões do Poder
Judiciário devem ser motivadas (art. 93, IX, CF). Neste mister,
é facultado ao tribunal reportar-se ao parecer ministerial ou
aos termos do ato atacado, todavia, a bem de se prestigiar
a dialeticidade, expressão do contraditório, é imperioso
que acrescente fundamentação que seja de sua autoria. 2.
Ordem concedida para reconhecer a nulidade do feito,
devendo-se refazer o julgamento do aresto atacado,

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promovendo-se a fundamentação do decisum, de modo a


enfrentar os argumentos contrapostos no recurso (STJ -
HC: 90684 RS 2007/0217909-6, Relator: Ministro PAULO
GALLOTTI, Data de Julgamento: 16/09/2008, T6 - SEXTA
TURMA, Data de Publicação: 20090413 --> DJe 13/04/2009)
...........................................................................
DIREITO ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO CÍVEL.AGRAVO
RETIDO. NÃO CONHECIMENTO. PEDIDO DE APRECIAÇÃO
NÃO REITERADO NAS RAZÕES DO APELO. AÇÃO
DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ACÓRDÃO DO
TRIBUNAL DE CONTAS. DECISÃO ADMINISTRATIVA QUE
DESAPROVA CONTAS.AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DO
ADMINISTRADOR RESPONSÁVEL PELAS CONTAS.
AFRONTA AOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO
CONTRADITÓRIO. SIMPLES REMISSÃO À PARECER
PRÉVIO DO AUDITOR. AUSÊNCIA DE EXPOSIÇÃO
EXPRESSA DAS RAZÕES DE DECIDIR.AFRONTA AO
PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO.PARLAMENTAR: EXERCENTE
DE MANDATO ELETIVO MUNICIPAL. RETENÇÃO DE
CONTRIBUIÇÃO PARA A PREVIDÊNCIA
SOCIAL.DESNECESSIDADE. LEI Nº. 8121/91, ARTIGO 12,
INCISO I, ALÍNEA H. DECLARADA INCONSTITUCIONAL
PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E COM APLICAÇÃO
SUSPENSA PELO SENADO FEDERAL. CONTAS
REGULARES. Apelação Cível n.º 884.895-5AGRAVO RETIDO
NÃO CONHECIDO.APELO DESPROVIDO. I. A decisão do
Tribunal de Contas que desaprova as contas prestadas sem a
prévia intimação do administrador responsável pelo período a
que se refere a prestação é nula por ofensa aos princípios do
devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório. II.
Os processos que tramitam no Tribunal de Contas, quando
apreciam as contas dos administradores públicos, devem
obedecer ao princípio da motivação, na forma determinada
pela Constituição Federal. A simples remissão à parecer
prévio apresentado por auditor do Tribunal de Contas do
Estado do Paraná não supre a necessidade de motivação
do ato administrativo. III. A Lei nº 9.506, de 30/10/97 que
acrescentou a alínea h ao inciso I do artigo 12 da Lei nº
8.212/91, tornando segurado obrigatório do regime geral de
previdência social o exercente de mandato eletivo não
vinculado a regime próprio de previdência social foi declarada
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (RE
351.717/PR) e teve a sua aplicabilidade suspensa pelo Senado
da República (Resolução nº 26/2005), não prosperando a
decisão que desaprovou as contas prestadas por inobservância
a tal dispositivo.
(TJ-PR 8848955 PR 884895-5 (Acórdão), Relator: Abraham
Lincoln Calixto, Data de Julgamento: 04/09/2012, 4ª Câmara
Cível)

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Sobre o tema, o relator assim se manifestou:


....
5. Da mesma forma ocorre em relação ao reconhecimento da
nulidade da decisão por faltade motivação. Segundo o escólio
de HELY LOPES MEIRELLES, os atos administrativos devem
ser motivados,sob pena de nulidade: "[...] Hoje, em face da
ampliação do princípio do acesso ao Judiciário (CF, art. 5º,
XXXV), conjugado com o da moralidade administrativa (CF, art.
37, caput), a motivação é, em regra, obrigatória. [...] Portanto,
na atuação vinculada ou na discricionária, o agente da
Administração, ao praticar o ato, fica na obrigação de
justificar a existência do motivo, sem o que o ato será
inválido ou, pelo menos, invalidável, por ausência da
motivação." (in DIREITO ADMINISTRATIVO BRASILEIRO,
33ª. ed., São Paulo: Malheiros Editores, 2007, p. 154). No
mesmo sentido ensina DIRLEY DA CUNHA JÚNIOR: "[...]
Enfim, via de regra, o ato administrativo deve ser sempre
motivado, pouco importando que ele seja discricionário ou
vinculado. A motivação pode ser prévia ou contemporânea
à expedição do ato." (in CURSO DE DIREITO
ADMINISTRATIVO, 7ª. ed., Salvador: Juspodivm, p. 54).
No caso, o exame dos documentos acostados aos autos,
sobretudo às fls. 86, revela que o acórdão n.º 1774/05 do
Tribunal de Contas do Estado do Paraná limitou-se a julgar
desaprovadas as contas da Câmara Municipal de Nova
Londrina, remetendo-se ao parecer lavrado por auditor do
próprio tribunal (fls. 82 à 85). Ocorre que a simples remissão
à parecer prévio apresentado por auditor do Tribunal de Contas
do Estado do Paraná não supre a necessidade de motivação
do ato administrativo, na esteira do entendimento já
consolidado por essa c. Corte de Justiça:
"NULIDADE DE ATO ADMINISTRATIVO. PRESIDENTE DA
CÂMARA DE VEREADORES. DESAPROVAÇAO DE CONTAS
PELO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO PARANÁ.
ALEGAÇAO QUE O PROCESSO NAO PROPICIOU A AMPLA
DEFESA E O CONTRADITÓRIO BEM COMO NAO FOI
DEVIDAMENTE MOTIVADA. [...] NAO EXPÔS
EXPRESSAMENTE AS RAZÕES DE DECIDIR, (APENAS
FAZENDO REMISSAO AO PARECER PRÉVIO DO
AUDITOR) NAO OBSERVANDO O PRINCÍPIO DA
MOTIVAÇAO. NULIDADE CONFIGURADA. [...] Os
processos que tramitam no Tribunal de Contas, quando
apreciam as contas dos administradores públicos, devem
obedecer aos princípios do contraditório, ampla defesa e
devido processo legal, bem como suas decisões devem
ser devidamente motivadas (fundamentadas), na forma
determinada pela Constituição Federal. Sentença

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Reformada Parcialmente Em Grau De Reexame Necessário.


Apelação provida parcialmente." (Apelação Cível n.º 320.959-0,
4ª. Câmara Cível, Relator Desembargador MARCOS DE LUCA
FANCHIN, DJ 23/06/06). Assim, a decisão objurgada merece
manutenção, impondo-se negar provimento ao apelo também
nesse ponto.
Nesse diapasão, considerando que no presente caso em tela Vossa
Excelência se limita a transcrever o parecer da área técnica e do
Ministério Público de Contas, deve ser reconhecida a omissão aqui
apontada, e após o enfrentamento do ponto questionado, requer o
conhecimento dos presentes embargos com a nulidade da decisão
atacada por ausência de fundamentação.

DO VÍCIO EXISTENTE – DA AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO


QUANTO À MATRIZ DE RESPONSABILIDADE
Conforme aduzido acima, se faz necessária a oposição dos
presentes embargos declaratórios, eis que o Voto de Vossa
Excelência se limita a transcrever a manifestação da área técnica e
do Ministério Público de Contas, deixando, contudo, de trazer
fundamentação acerca dos argumentos que o ora embargante
trouxe aos autos.
O ora embargante, em sua manifestação acostada ao evento 87
dos presentes autos eletrônicos, denominada de “087 -
Defesa/Justificativa 01158/2019-1”, traz diversos argumentos
que, data máxima vênia, não foram alvo de fundamentação por
Vossa Excelência.
Conforme exaustivamente demonstrado, o presente caso envolve
um tema que deve ser debatido, qual seja, a responsabilidade
subjetiva e individualização da pena, notadamente, porque esse
Egrégio Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo tem se
manifestado segundo critérios pertinentes ao nexo de
causalidade entre a ação/omissão do Ordenador de Despesas e
a irregularidade apontada.
Neste contexto, merece destaque a posição que foi adotada em
diversos votos, nos quais esse Egrégio Tribunal consolidou
entendimento de que a formação da vontade da Administração
depende da atuação de vários agentes, integrantes de um ou
diferentes órgãos estatais. Essa atuação é feita por meio do
processo administrativo, que é um conjunto de atos jurídicos,
inclusive atos particulares, necessários à manifestação da vontade
estatal. Tais atos, via de regra, não são praticados por um único
agente, mas por vários agentes que atuam numa cadeia, numa
relação de interdependência.
Portanto, uma decisão administrativa não depende,
majoritariamente, da vontade única e exclusiva de um agente
público. Pelo contrário, as inúmeras decisões da Administração
Pública, ainda que tenham o ato final expedido por um único agente,

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dependem do trabalho conjunto de inúmeros agentes que atuam por


meio de um processo administrativo.
Nesse sentido, foram acostados diversos julgados provenientes
desse Egrégio Tribunal de Contas.
No presente caso aduz a área técnica que foi o senhor Jerônimo
Pablo Paez Torres que determinou a suspensão do pagamento
das contribuições previdenciárias devidas ao instituto de
Previdência dos Servidores Públicos de Anchieta – IPASA que, por
sua vez, implicou na obrigação de pagamento de juros e multas
sobre os valores inadimplidos.
A área técnica aponta ainda a responsabilidade do senhor Marcelino
Pinto Rodrigues, Controlador Geral do Município, eis que teria se
omitido do dever legal de controlar as contas do órgão, não apontar
as irregularidades e deixar de noticiá-las ao TCEES.
Pois bem, analisando as imputações realizadas, percebe-se que ao
ora embargante somente é imputada a suposta omissão de
fiscalizar, entretanto, esse Egrégio Tribunal de Contas já tem
entendimento jurisprudencial pacificado no sentido de que não se
pode exigir que autoridade de um Órgão examine todos os atos
praticados pelos seus subordinados e antecessores, em
homenagem ao princípio da segregação de funções, sobretudo,
quando existe responsabilidade direta de outros agentes públicos.
Conforme se percebe, no caso em tela, os subordinados ao ora
embargante possuíam responsabilidade direta sobre os fatos, seja o
Secretário de Fazenda, seja o Controlador Geral.
Acerca da competência da Secretaria de Fazenda, cumpre
destacar que a Lei Municipal nº 568/2009 traz de forma
detalhada as suas atribuições, in verbis:
Art. 59 À Secretaria de Fazenda compete:
I - Realizar a gestão tributária municipal nos termos do Código
Tributário Nacional, das Leis Federais aplicáveis e do Código
Tributário do Município de Anchieta;
II - Organizar e manter Cadastro Imobiliário Tributário e o
Cadastro Mobiliário Tributário, promovendo a inscrição, o
registro e a baixa IV - de contribuintes;
III - Realizar as atividades inerentes ao lançamento e à
cobrança dos tributos de competência municipal;
IV - Promover a inscrição de débitos em dívida ativa, adotando
as providência visando sua cobrança;
V - Executar a fiscalização tributária municipal podendo aplicar
o poder de polícia administrativa, quando couber;
VI - Acompanhar e registrar as transferências constitucionais;
VII - Realizar o atendimento, orientação e esclarecimentos aos
contribuintes;

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VIII - Executar o planejamento financeiro, promovendo o


gerenciamento da arrecadação e pagamento das
obrigações municipais;
IX - Verificar o cumprimento de obrigações legais;
X - Realizar a contabilidade pública municipal;
XI - Acompanhar e auxiliar na execução das prestações de
contas dos fundos e dos convênios, assim como a conferência
e tomada de contas internas;
XII - Executar as prestações de contas para os órgãos oficiais;
XIII - Executar competências correlatas.
Conforme se percebe, era competência da Secretaria de Fazenda,
entre outras, executar o planejamento financeiro, promovendo o
gerenciamento da arrecadação e pagamento das obrigações
municipais, bem como verificar o cumprimento de obrigações
legais.
Data máxima vênia, percebe-se que competia à Secretaria de
Fazenda e, portanto, ao Secretário de Fazenda o pagamento das
contribuições previdenciárias devidas ao Instituto de Previdência
Próprio, entretanto, segundo consta, o mesmo teria determinado o
não pagamento das aludidas contribuições previdenciárias, gerando
o suposto dano ao erário ora questionado.
Feitas essas ponderações, ao analisar o inteiro teor do Voto
condutor, rogando as máximas vênias, percebe-se que Vossa
Excelência se limita a reproduzir o disposto pela área técnica,
sem, contudo, manifestar-se de forma expressa acerca dos
argumentos de defesa trazidos aos autos, ou seja, não traz
efetiva fundamentação sobre o ponto.
Nesse diapasão, cabe a Vossa Excelência sanar a omissão
existente, analisando os argumentos deduzidos, trazendo tese
explícita sobre tal ponto.
Ante todo o exposto, requer a Vossa Excelência seja sanada a
omissão apontada e, uma vez sanado o vício, sejam dados efeitos
modificativos aos presentes embargos para afastar a
irregularidade inicialmente mantida em relação ao ora
embargante.

DA AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO QUANTO À EXISTÊNCIA


DE DANO AO ERÁRIO
Não obstante o primeiro vício apontado, entendemos existir um
segundo vício a ser sanado por Vossa Excelência, eis que o voto
condutor também se limita a transcrever a manifestação da área
técnica e do Ministério Público de Contas em relação a outro
ponto, sem, entretanto, se manifestar sobre os argumentos que
o ora embargante trouxe aos autos.

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Conforme demonstrado na defesa acostada aos autos, não há que


se falar em dano ao erário, haja vista que os valores pagos em
favor do IPASA a título de juros e multa permaneceram dentro
do próprio patrimônio da administração municipal, apenas
sendo transferidos da Prefeitura Municipal de Anchieta para o
IPASA.
Em outras palavras, os valores referentes aos juros e multas pagos
pela Prefeitura Municipal de Anchieta foram recolhidos em favor
da própria Administração Pública Municipal.
Isso se dá, haja vista que a receita financeira do IPASA integra o
patrimônio público do Município de Anchieta.
Aqui cumpre destacar que tal entendimento já foi adotado por
esse Egrégio Tribunal de Contas, quando do julgamento do
Recurso de Reconsideração Processo TC-1463/2018, referente à
prestação de contas anual do então prefeito de Vargem Alta, onde
se discutiu exatamente a mesma problemática que a aqui tratada,
qual seja, pagamento de juros e multa em razão do inadimplemento
de pagamento das contribuições previdenciárias ao Instituto de
previdência do município.
No caso de Vargem Alta esse Egrégio Tribunal de Contas do Estado
do Espírito Santo, inicialmente determinou a instauração de tomada
de contas especial para apurar os supostos danos ao erário,
conforme consta do Parecer Prévio TC-114/2017:
[...]
“1.2.1. ue proceda a instaura o da Tomada de Contas
Especial, com o devido acompanhamento pelo Controle Interno
do Município, para apuração e quantificação do dano, bem
como identificação dos responsáveis, a fim de apurar a
totalidade dos encargos financeiros incidentes sobre os
recolhimentos em atraso das contribuições previdenciárias, e
devido ressarcimento aos cofres públicos, comunicamos ao
Tribunal de Contas, no prazo de 15 dias, nos termos do art. 5
da IN 32/2014; bem como seja encaminhada a Tomada de
Cotas Especial, no prazo de 90 dias, contando do ato de sua
instauração, nos termos do art. 14 do mesmo ato normativo,
instruída com a documentação constante do art. 13 da referida
norma; ressaltando que o descumprimento dos prazos
previstos na IN32/2014 poderá ensejar em aplicação de multa
prevista no art. 16”.
Entretanto, o Responsável interpôs recurso de reconsideração,
tombado sob o nº 1463/2018, levantando os seguintes argumentos
de defesa: ausência de dano ao erário, vez que os valores de multas
e juros foram revertidos para a própria Administração, pois foram
recolhidos em favor de RPPS local, que integra a Administração do
Município.
Ao apreciar o Recurso de Reconsideração, a área técnica do
TCEES, através da Instrução Técnica de Recursos TC-00236/2018,

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reconheceu a inexistência de dano ao erário, em razão dos


argumentos defensivos. Vejamos o trecho que nos interessa:
[...]
Nesse sentido, assiste razão o Defendente, uma vez que os
valores recolhidos a título de contribuição patronal são
destinados ao Instituto de Previdência do próprio Município de
Vargem Alta, portanto, os valores acrescidos em virtude de
pagamento em atraso de tal contribuição permanecem no
âmbito da esfera municipal, não se configurando como dano ao
Erário.
[...]
Destarte, permanece a irregularidade, contudo, AFASTA-SE A
OCORRÊNCIA DE DANO AO ERÁRIO.
No mesmo sentido se manifestou o Ministério Público de Contas,
conforme Parecer MPC-3879/2018, que anuiu à proposta contida na
Instrução Técnica de Recurso 00236/2018.
Ato contínuo, com base nos argumentos de defesa e, concordando
com o posicionamento da área técnica e do Ministério Público de
Contas, o Eminente Relator daqueles autos, Conselheiro Rodrigo
Flávio Freire Farias Chamon, proferiu voto afastando o dano ao
erário até então alegado, sendo acompanhado à unanimidade
quanto ao item.
Vejamos o trecho que nos interessa:

II.4.3 Não recolhimento das contribuições previdenciárias


do ente (Item 3.3 da ITR 236/2018).
Base Legal: art. 195 da Constituição da República.
Após análise do Balancete da Execução Orçamentária da
Despesa (BALEXO) a área técnica verificou que a
contribuição previdenciária não foi recolhida regularmente,
causando o endividamento do município com o Instituto de
Previdência Municipal.
Inicialmente, importa registrar que o recorrente encaminhou
uma Listagem de Arrecadações de Receitas do Instituto de
Previdência relativa ao exercício de 2015, às fls. 45/48 dos
autos.
Alega o recorrente que conforme os comprovantes, não há
contribuição sem o devido recolhimento e que as medidas
saneadoras foram devidamente tomadas, devendo ser
reconhecida a regularidade do procedimento administrativo,
uma vez que a Administração corrigiu seu ato.
Com relação a determinação constante no item 1.2.1 do
Parecer Prévio 114/2017, para que fosse instaurado tomada
de contas especial, que caracterizaria o ato como ilegal,

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sendo passível de penalidade administrativa e condenação ao


ressarcimento ao Erário Público, arguiu o recorrente que não é
procedente, visto que a quitação dos débitos previdenciários
deveriam ser análise no processo de gestão de recursos e não
nas Contas do Prefeito.
Neste sentido, alega a defesa que as contas de gestão já foram
devidamente analisadas e aprovadas, conforme Acórdão TC
311/2017, constante nos autos 6874/2016.
O recorrente ressalta, porém, que se a conclusão deste
Tribunal seja novamente pela Tomada de Contas Especial,
ratifica-se que não há dano ao erário como vislumbrado
pela área técnica, vez que os recolhimentos dos
parcelamentos foram em favor da própria administração do
Município de Vargem Alta.
Desta forma, reforça o recorrente, que os valores passíveis de
ressarcimento, alusivo a juros de mora e multa, não
caracterizam como dano ao Erário Público, haja vista que
os valores referentes a estas sanções administrativas
foram recolhidos em favor da própria Administração
Pública, no caso, a administração indireta do município.
Diante disso, a defesa entende que a receita financeira do
Instituto de Previdência integra o patrimônio do Município
de Vargem Alta, tanto é assim, que os valores são
anualmente consolidados pela contabilidade, não
caracterizando o pagamento de encargos ao IPREVA como
diminuição do patrimônio público local, uma vez que esta
Autarquia pertence à Administração do Município.
A área técnica, por sua vez, entendeu que apesar de não
haver ocorrência de dano, a irregularidade deve permanecer,
vez que os valores relativos a juros e multas em virtude do
atraso no pagamento da contribuição previdenciária patronal
incorreram em desvio de função, visto que tais valores
deveriam ser destinados à realização de despesas
concernentes às demais funções do ente público, como saúde
e educação.
Pois bem.
Quanto a alegação da defesa de que o presente indicativo de
irregularidade deveria ser objeto de análise das contas de
gestão do município, entendo que não há prejuízo ou
impedimento em analisa-la nestes autos, haja vista que já
foram julgadas as contas de gestão do exercício de 2015 do
Município de Vargem Alta (Acórdão 311/2017).
Apesar do recolhimento previdenciário ter se dado em
atraso, ocasionando juros de mora e multa, assiste razão
ao recorrente e à área técnica que não houve ocorrência de
dano ao erário, uma vez que os valores apenas foram

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transferidos da Prefeitura ao Instituto de Previdência,


permanecendo na própria Administração do Município.
Neste sentido, diante do recolhimento das contribuições
previdenciárias, conforme Listagem de Arrecadações de
Receitas anexada aos autos, e considerando ainda, a não
ocorrência de dano ao erário, entendo pela manutenção da
irregularidade, entretanto, deixo de considerá-la de natureza
grave, tendo em vista que o indicativo de irregularidade por si
só não possui o condão de macular as contas do exercício sob
análise.
[...]

Ora Excelência, o caso de Vargem Alta é idêntico ao presente,


devendo esse Egrégio TCEES adotar o mesmo entendimento
quando do julgamento dos presentes autos, afastando a hipótese
de determinar o ressarcimento ao Erário, vez que não ocorreu
prejuízo ao Patrimônio Público de Anchieta.
Aqui cumpre destacar que no caso de Vargem Alta o tema foi
discutido dentro do processo de prestação de contas anual, ao
contrário do ocorrido no presente caso em que se trata de Tomada
de Contas Especial com o único intuito de analisar o suposto dano
ao erário.
Nesse diapasão, não há que se falar em análise de irregularidades
procedimentais, até mesmo porque isso já foi analisado quando do
julgamento do processo de prestação de contas anual - Processo TC
5100/2017, onde foi proferido o Acórdão 1701/2018.
Sendo assim, uma vez demonstrado que os valores pagos a título de
multa e juros foram, na prática, apenas transferidos da
administração direta (Prefeitura Municipal de Anchieta) para a
administração indireta (IPASA) do município de Anchieta, bem como
o entendimento no sentido de inexistir dano ao erário nesses casos,
conforme assentado por esse Egrégio TCEES no julgamento do
Recurso de Reconsideração TC 1463/2018.
Feitas essas ponderações, ao analisar o inteiro teor do Voto de
Vossa Excelência, percebe-se que se limita a reproduzir o
disposto pela área técnica, sem, contudo, trazer efetiva
fundamentação para manter a determinação de ressarcimento.
Nesse diapasão, cabe a Vossa Excelência sanar a omissão
existente, analisando os argumentos inicialmente não analisados,
trazendo tese explícita sobre o ponto.
Ante todo o exposto, diante da omissão apontada, requer a Vossa
Excelência seja sanado o vício apontado e, via de consequência,
sejam dados efeitos modificativos aos presentes embargos para
afastar a determinação de devolução de recursos ao erário.

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Quanto à ausência de fundamentação do Acórdão TC-00915/2020-7 –


Primeira Câmara, entendemos não assistir razão ao Embargante, pelos
motivos a seguir delineados:

A atuação dos Tribunais de Contas, na qualidade de órgãos autônomos


de fiscalização e controle, por determinação do artigo 71 da CF/88, não
se limita às decisões proferidas pelo seu Colegiado de julgadores. Para o
fiel cumprimento de seu mister constitucional, essas Cortes contam com
um corpo técnico composto por profissionais de diferentes áreas de
atuação, responsável por elaborar as diversas peças nas quais se
desdobra um processo de contas, desde a sua formação até o trânsito em
julgado, e essenciais à apuração dos fatos e à consolidação das supostas
irregularidades.

Sendo assim, integram os processos os Relatórios de Auditoria, as


Instruções Técnicas Iniciais, eventuais Manifestações Técnicas,
Instruções Técnicas Conclusivas, entre outras.

Em todos esses instrumentos, quem se pronuncia é o Tribunal de Contas,


enquanto órgão único. E, portanto, cada um constitui a continuação da
atuação anterior para a obtenção do resultado final, qual seja, o veredicto
do Colegiado. Embora não haja vinculação das razões de decidir do corpo
julgador às considerações lançadas pela área técnica, é inegável que
seus apontamentos e conclusões, nas diferentes fases processuais,
influencia e consubstancia sobremaneira a formação do juízo de valor
inserto na decisão prolatada.

Desse modo, a assunção, na confecção do ato decisório, dos argumentos


colacionados numa instrução técnica conclusiva, que leva em
consideração todos os elementos do processo, inclusive reproduzindo, em
seu bojo, as justificativas trazidas pelos responsáveis, e apontando as
razões pelas quais a irregularidade não merece ser afastada, já realiza, a
nosso ver, o dever de motivar, como no caso em apreço.

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ACÓRDÃ0 TC- 188/2021
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É o que se depreende de decisão proferida por esta Corte, nos termos a


seguir:

ACÓRDÃO TC- 609/2018 – PRIMEIRA CÂMARA


CONTROLE EXTERNO – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO SEM
EFEITO MODIFICATIVO EM FACE DA DECISÃO TC 1204/2017 –
PREFEITURA MUNICIPAL DE MANTENÓPOLIS – INEXISTENCIA
DE OMISSÃO – PREVISÃO DE NORMA ESPECÍFICA
DISCIPLINANDO OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO
ÂMBITO DO TCEES – APLICAÇÃO SUSBSIDIÁRIA DO CÓDIGO
DE PROCESSO CIVIL – POSSIBILIDADE DE INCORPORAÇÃO
DAS RAZÕES DE DECIDIR DISPOSTAS PELA UNIDADE
TÉCNICA NO VOTO DO RELATOR – CONHECIMENTO DOS
EMBARGOS PARA NEGAR PROVIMENTO.
[...]
Com efeito, destaco que as análises que integram o presente
processo e as quais foram acompanhadas pelo Acórdão 1204/2017
apresentaram fundamentação suficiente para decidir de modo
integral as questões suscitadas (controvérsias), sendo possível
aferir, sem qualquer esforço que as mesmas foram devidamente
enfrentadas. A adoção de tal conduta, inclusive, vai ao encontro dos
princípios da economia processual e da celeridade no âmbito da
administração pública.
Assim, verificada a anuência do relator quanto às teses
apresentadas pelo corpo técnico ou ministerial, entendo como
desnecessária a apresentação de nova argumentação que venha a
culminar, necessariamente, em idêntica conclusão.

Partilhando do mesmo entendimento, pronunciou-se o Tribunal de Contas


da União nos diversos julgados abaixo:

Acórdão 8696/2017 (2ª Câmara)


Sumário:
1. Não se configura omissão na decisão quando o relator
incorpora às suas razões de decidir os arrazoados da unidade
técnica ou do Ministério Público junto ao TCU, constantes do
relatório da deliberação.
Voto:
Cuida-se de Embargos de Declaração opostos por [embargante]
contra o Acórdão 3.073/2017-TCU-Segunda Câmara.
2. Em exame preliminar, conheço dos Embargos de Declaração por
considerar presentes os requisitos de admissibilidade descritos no
art. 34 da Lei 8.443/1992 c/c art. 287 do Regimento Interno do TCU
(RITCU), uma vez que foram interpostos tempestivamente por

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pessoa legítima, com interesse em agir e sob a alegação de


omissões na deliberação.
3. O embargante alega que o Acórdão 3.073/2017-TCU-Segunda
Câmara incorreu em omissões. Primeiro, porque não foi valorada a
ocorrência de boa-fé em sua conduta, no momento do exame de
suas alegações de defesa, contrariando, na sua visão, o
estabelecido no art. 12, § 2º, da Lei 8443/1992, bem como no art.
202, § 2º, do Regimento Interno do TCU, julgamento que poderia
redundar na regularidade com ressalvas de suas contas. Segundo,
porque não teria apresentado, de forma objetiva, os critérios que
levaram à fixação da multa no montante em que foi definida.
4. Compuseram a deliberação recorrida, nos termos do art. 69 do
Regimento Interno do TCU, o Relatório, a fundamentação (Voto) e o
dispositivo (Acórdão). Consta do referido Relatório (peça 57),
transcrição da instrução da unidade técnica, onde foi abordada a
boa-fé do responsável, não havendo o que se falar em omissão do
julgado (com grifos acrescidos):
46. Em face da análise promovida nos itens 14/44 propõe-se rejeitar
as alegações de defesa apresentadas pelo Sr. [recorrente - ora
embargante], uma vez que não foram suficientes para sanear as
irregularidades a ele atribuídas.
47.Os argumentos de defesa tampouco lograram afastar o débito
imputado ao responsável. Ademais, inexistem nos autos elementos
que demonstrem sua boa-fé ou a ocorrência de outros excludentes
de culpabilidade. Desse modo, suas contas devem, desde logo, ser
julgadas irregulares, nos termos do art. 202, § 6º, do Regimento
Interno/TCU, procedendo-se à sua condenação em débito.
5. Ademais, incorporei o exame da Unidade Técnica ao Voto que
proferi (peça 56), como se depreende do trecho que transcrevo a
seguir:
8. Adoto como razões de decidir o exame empreendido pela unidade
instrutiva, sem prejuízo das considerações que faço a seguir.
6. Conforme assentado na jurisprudência desta Corte de Contas,
não se configura omissão na decisão quando o relator incorpora às
suas razões de decidir os arrazoados da unidade técnica ou do
MPTCU, constantes do relatório da deliberação. Nesse sentido o
Acórdão 3111/2014-Plenário.
7. Para refutar a omissão relacionada à multa, transcrevo o
elucidativo enunciado do Acórdão 2037/2016-Segunda Câmara, de
Relatoria da Ministra Ana Arraes:
Não configura omissão apta ao provimento de embargos de
declaração a ausência de indicação do critério utilizado para
estipular o montante da multa, uma vez que a dosimetria da sanção
é orientada por juízo discricionário de valor acerca da gravidade das
irregularidades verificadas no caso concreto, tendo como limites

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apenas aqueles fixados legal e regimentalmente (arts. 57 e 58 da Lei


8.443/92 e art. 268, incisos I a VIII, do Regimento Interno do TCU).
8. À luz dessas considerações, verifico que não há omissões no
julgado combatido, devendo ser rejeitados os presentes embargos.
Acórdão:
9.1. conhecer dos Embargos de Declaração, para, no mérito, rejeitá-
los;
...............................................................................

Acórdão 1118/2017 (2ª Câmara)


Não há omissão apta ao acolhimento de embargos de
declaração quando a matéria é enfrentada na instrução da
unidade técnica que consta do relatório e integra as razões de
decidir da deliberação embargada, bem assim, na hipótese de
haver aspectos divergentes entre o encaminhamento por ela
proposto e o que foi compreendido pelo julgador, quando tais
questões são objeto de considerações específicas.
Voto:
Examino os embargos de declaração opostos por [embargante] ao
Acórdão 6.841/2016-TCU-2ª Câmara, prolatado em recurso de
reconsideração interposto contra o Acórdão 2.816/2015-TCU-2ª
Câmara, que, ao apreciar tomada de contas especial (TCE), julgou
irregulares as contas do recorrente e de Marivaldo Paes da Costa,
condenou-os em débito solidário e aplicou-lhes multa (art. 57 da Lei
8.443, de 16 de julho de 1992).
2. De início, entendo que os presentes embargos devem ser
conhecidos, por preencherem os requisitos de admissibilidade
aplicáveis à espécie, notadamente os insculpidos no art. 34, §1º, da
Lei Orgânica, c/c o art. 287, § 1º, do Regimento Interno do TCU.
3. No que respeita às preliminares de mérito, bem assim ao caráter
pedagógico que deve ser conferido às deliberações deste Tribunal
de Contas, registro que os embargos de declaração são, em regra,
recurso integrativo, objetivando extirpar da decisão embargada, além
da obscuridade e contradição, a omissão. Do mesmo modo, o
entendimento doutrinário e jurisprudencial sobre a matéria é o de
que tais espécies de falhas são aquelas decorrentes do próprio
julgado e que prejudicam a sua perfeita compreensão, e não aquelas
que bem entenda o embargante, muito menos como meio transverso
visando impugnar os fundamentos da decisão atacada. (cf. STJ,
Edcl Resp 351490, DJ 23/9/2002).
[...]
7. Terceiro, e complementando as preliminares de mérito
anteriormente citadas, resta assente neste tribunal que não há
omissão apta ao acolhimento de embargos de declaração
quando a matéria é enfrentada na instrução da unidade técnica

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que consta do relatório e integra as razões de decidir da


deliberação embargada, bem assim, na hipótese de haver
aspectos divergentes entre o encaminhamento por ela proposto e o
que foi compreendido pelo julgador, quando tais questões são objeto
de considerações específicas. Nessa linha, por exemplo, os
Acórdãos 463/2007, 1.861/2009, 3.111/2014, 302/2015, 2.309/2015,
e 294/2016, do Plenário; 1.576/2007, 663/2008, 5.589/2009,
3.339/2013, e 131/2015, estes da 1ª Câmara; e 268/2007, 133/2008
e 8.345/2016, da 2ª Câmara.
Acórdão:
9.1. com fundamento nos arts. 32, inciso II, e 34 da Lei 8.443/1992,
conhecer dos presentes embargos de declaração e, no mérito,
rejeitá-los;
9.2. dar ciência deste acórdão, bem como do relatório e voto que o
integram, ao embargante.
...............................................................................
Acórdão 302/2015 (Plenário)
Não configura omissão a decisão que incorpora às razões de
decidir do relator os arrazoados realizados no âmbito da
unidade técnica ou do Ministério Público/TCU, constantes do
relatório integrante da deliberação, sendo dispensável a sua
repetição no voto fundamentador da decisão.
Voto:
7. Na linha da jurisprudência assente neste Tribunal, não se
configura omissão na decisão que incorpora às razões de decidir do
relator os arrazoados realizados no âmbito da unidade técnica ou do
MP/TCU, constantes do relatório integrante da deliberação, sendo
dispensável a sua repetição no voto fundamentador da decisão.
8. No acórdão embargado o então relator adotou a análise
empreendida pela unidade técnica como razões de decidir (item 8 do
voto).
9. Assim, não há que se falar em omissão no julgado, eis que a
questão atinente ao percentual de subcontratação da obra foi
devidamente tratada pela unidade técnica, que apontou a
inadequação da referida alegação com a questão tratada nos autos.
De fato, o embargante foi chamado ao processo para se defender da
falta de aplicação de sanções à contratada e da formalização de
termo de quitação e pagamento de valores às empresas executoras
da obra, sem as devidas justificativas. A irregularidade da
subcontratação, por se referir ao exercício de 2005, foi tratada em
outro processo (TC 025.974/2010-6).

No que concerne à decisão do Superior Tribunal de Justiça colacionada


pelo Embargante (EResp 1.384.669/RS), lembramos que aquela Corte
tratava de “remissão a manifestações de terceiros”, o ue n o se veri ica

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nos Tribunais de Contas quando o Relator, anuindo com as


considerações lançadas pela área técnica, reproduz o seu conteúdo.

Conforme já explicitado, as instruções/manifestações da área técnica


desta Corte n o s o ela oradas por “terceiros”, e sim, pelo próprio
Tribunal de Contas, no exercício da sua atividade de controle, que não se
limita ao julgamento do processo.

Assim, não vislumbramos omissão na decisão objurgada, por


ausência de fundamentação nas razões de decidir.

Quanto à omissão relacionada à falta de apreciação da tese de defesa


concernente à matriz de responsabilidade, também não coadunamos com
os argumentos expendidos pelo Embargante.

A responsabilidade do Sr. Marcus Vinicius Doelinger Assad foi abordada


em diversos momentos no acórdão ora combatido, senão vejamos:

[...]
2.1 INADIMPLÊNCIA DE CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS
DEVIDAS AO INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DOS SERVIDORES
DE ANCHIETA, COM CONSEQUENTE OBRIGAÇÃO DE
PAGAMENTO DE JUROS E MULTAS, DESPESAS QUE
IMPORTAM EM DANO AO ERÁRIO. (Item 1 da ITI 00330/2019-1)
Critérios: art. 123, 123-A, 124 e 130 da Lei 169/2004; Violação aos
Princípios da Economicidade, Legalidade, Moralidade, Probidade
Administrativa e da Boa-fé Objetiva, prescritos no art. 37, caput, da
CF/88, art. 116 da Lei 8.112/90 c/c art. 155, incisos VI, VII, VIII e XIII
da LC Municipal nº 27/2012, art. 75 e 134, VIII, ambas da Lei
003/2014 (Lei Orgânica) e art. 59 da lei 568/2009.
Responsáveis Solidários:
[...]
Marcus Vinicius Doelinger Assad – Ex-Prefeito Municipal.
Conduta: Ausência de fiscalização dos atos praticados por seu
subordinado – Culpa in eligendo e in vigilando.
Nexo de causalidade: A ausência de fiscalização dos atos
praticados pelo Secretário de Fazenda expôs o Município à
obrigação do pagamento de juros e multas incidentes sobres as
parcelas de Contribuições Previdenciárias não recolhidas
tempestivamente ao IPASA, o que configura dano ao erário.

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[...]
Quanto à responsabilização por omissão, o senhor Marcus apontou
que o entendimento desta Corte não coaduna com o posicionamento
adotado pela área técnica no trato do indicativo de irregularidade,
colacionando trechos dos acórdãos TC 1.177/2014, 2.818/2014 e
307/2015
Tanto no Acórdão 1.177/2014, Processo TC 7.042/2009, quanto no
Acórdão TC 2.818/2014, Processo TC 8.131/2009, foi afastada a
responsabilização do prefeito, frente a algumas irregularidades, pela
inexistência de matriz de responsabilização tendo sido a ele
apontada responsabilidade total e de forma insipiente.
[...]
Nesses casos, pertinentemente, como exarado nas decisões desta
Corte, não se pode exigir que a autoridade máxima examine todos
os atos praticados por seus subordinados, não sendo justo a ele
atribuir a totalidade da responsabilização, haja vista que outros
atores concorreram também, de forma direta, para sua ocorrência e
que não foram apontadas nos autos.
[...]
Mais recentemente essa Corte proferiu o Acórdão 01.101/2019-1 –
Plenário, Processo 08.756/2017-1 (Pedido de Reexame), no qual
fora rejeitada a preliminar de ilegitimidade passiva quanto a
impossibilidade técnica e prática de acompanhamento detalhado dos
atos administrativos. No caso, fora alegada inexistência de provas
acerca do envolvimento efetivo do Prefeito na suposta irregularidade
em que se limitou a seguir orientação dos órgãos técnicos
responsáveis.
O relator destacou que a responsabilização recai sobre quem
comete erro ou ilegalidade na execução de determinado ato,
ausentando-se a autoridade que delegou. Excepcionalmente o
delegante pode ser responsabilizado, nos casos em que for
constatada a ocorrência de culpa in eligendo ou culpa in
vigilando.
Diferente do ocorrido nas decisões em que fora afastada a
irregularidade por ausência de matriz de responsabilização e
chamamento aos autos somente o prefeito municipal, no
indicativo de irregularidade aqui tratado, outros atores foram
apontados, tendo o prefeito municipal minimamente
conhecimento do descumprimento das obrigações legais
relativas às contribuições previdenciárias, conforme se
observou nos ofícios encaminhados pela Diretora Presidente do
IPASA e no memorando encaminhado pelo Controlador Geral nº
71/2016.
[...]

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Reforçando a responsabilidade do chefe do executivo, encontramos


dentre suas competências insculpidas no artigo 71 da Lei Orgânica
Municipal, a autorização referente a despesas e pagamentos.
[...]
Mesmo que, no caso em análise, não possa ser atribuído dolo à
conduta do agente, quer seja direto ou individual, pois o mesmo
tinha conhecimento das consequências da não quitação das
contribuições previdenciárias, o erro grosseiro não deve ser
afastado. O senhor prefeito à época dos fatos detinha
conhecimento dos atrasos de tais obrigações legais e mesmo
assim, erro grosseiro, omitiu-se na fiscalização de subordinado,
no caso o secretário de fazenda, permitindo a ocorrência da
irregularidade e contribuindo diretamente para a geração de
juros e multas em favor do IPASA.
[...]
Diferentemente do trazido pelo Tribunal de Contas da União,
temos que a conduta do prefeito municipal, erro grosseiro
pela omissão na fiscalização de seus subordinados, levou
o munício a arcar com juros e multas, não prosperando suas
alegações e devendo ser mantida a irregularidade a ele
atribuída.
[...]
Destarte, denota-se que o erro grosseiro está intimamente
atrelado a um agir com desleixo, incúria, desmazelo, desprezo
à coisa pública, o que no presente caso, levou a assunção
de despesas que poderiam ter sido evitadas caso as
obrigações legais tivessem sido tempestivamente
suportadas.
[...]
Ter conhecimento dos fatos, bem como dos atos
praticados por seus subordinados e não ter agido
firmemente para resguardar a coisa pública revela o
descaso do gestor frente à administração pública e a falta
de zelo na gestão dos recursos financeiros, evidenciando o
erro grosseiro que a ele pode ser atribuído. (grifamos)

Igualmente não se verifica omissão do decisum quanto à tese de defesa


que sustenta a inexistência de dano ao erário, conforme se extrai dos
trechos a seguir reproduzidos:

[...]
Pois bem, essa é uma questão recorrente e enfrentada em
diversos momentos nesta e nas demais Cortes de contas da
federação, nas quais apontou-se responsabilização e
necessidade de ressarcimento em decorrência de dano

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causado pela incidência de juros e multas provenientes no


atraso de recolhimento de parcelas previdenciárias, quer
seja para o INSS, quer seja para os regimes próprios de
previdência.
Esses dispêndios constituem despesas estranhas à atividade
administrativa, sendo indevidos e os recursos neles
empregados poderiam ser aplicados em despesas
prioritárias às necessidades da coletividade.
Em contraponto ao Parecer Prévio 00119/2018, trazemos à
discussão o Parecer Prévio TC 05/2019 – PLENÁRIO, proferido
no Processo TC 3685/2018-3, referente a recurso de
reconsideração solicitado pelo prefeito do município de João
Neiva.
No tocante à questão da ausência de recolhimento de
contribuição previdenciária, nesse momento, foi acrescentada
determinação para que o gestor instaurasse tomada de contas
especial para apuração e quantificação do dano causado ao
erário:
[...]
Na mesma linha, também, o Conselheiro Relator Paulo Curi
Neto, do Tribunal de Contas de Rondônia, em seu voto
rechaçou a argumentação de ausência de dano ao erário,
pois, se a prefeitura não atrasasse os recolhimentos, não
teria que arcar com as despesas de multa e juros:
De plano, cabe rechaçar o argumento de que não houve
prejuízo ao erário municipal, haja vista que, sem grande
esforço de raciocínio, evidencia-se cristalino o dano
experimentado pelo município, pois se a prefeitura não
atrasasse os recolhimentos das contribuições
previdenciárias junto ao IPMV, não teria que arcar com as
despesas decorrentes de multa e juros de mora, além de
colocar em risco o equilíbrio atuarial daquele instituto de
previdência.
[...]
Inúmeros são os posicionamentos dos Tribunais de
Contas favoráveis à interpretação de ocorrência de dano
em casos similares ao constatado no município de
Anchieta, deliberando no sentido de ressarcimento dos
valores empregados para tais despesas.
Há de se ressaltar que, mesmo os recursos do Instituto de
Previdência integrarem o patrimônio da municipalidade,
como argumenta o defendente, estes pertencem
exclusivamente a seus segurados, não podendo o gestor
municipal utilizá-los para outro fim. (grifamos)

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Importante destacar que a análise que se faz por ocasião deste recurso
limita-se a aferir, no caso, a existência das omissões invocadas pelo
Embargante. A revisitação das razões de decidir deste Tribunal quanto ao
mérito da irregularidade, diante do inconformismo do Recorrente, a fim de
afastar a condenação imposta, não encontra guarida nos Embargos de
Declaração, e deve ser realizada por meio do instrumento recursal
adequado que, na hipótese, seria o Recurso de Reconsideração. É o que
já restou decidido em diversos julgados desta Corte, dentre os quais
transcrevemos:

ACÓRDÃO TC-710/2017 – PLENÁRIO


EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM FACE DO ACÓRDÃO
TC-269/2013 – CONHECER – NEGAR PROVIMENTO –
MANTER ACÓRDÃO.
[...]
A área técnica considerou que o recorrente utilizou da via dos
Embargos de Declaração para rediscutir as questões de
mérito já amplamente discutidas nos autos do Processo
TC 4368/2015, que resultou no Acórdão TC 269/2014, ou seja,
a ausência de especificação adequada do objeto licitatório,
bem como de projeto básico.
Assim, segundo entendimento técnico, não há omissão no
Acórdão recorrido, razão pela qual não se pode utilizar de via
recursal restrita, como a dos embargos de declaração, com a
finalidade de rediscutir as questões de mérito já
devidamente enfrentadas na devida oportunidade.

[...]
Assim, considero que não assiste razão ao recorrente, vez que
não há qualquer constatação de omissão no Acórdão recorrido,
não sendo possível proceder a rediscussão da matéria em
sede de embargos de declaração cujo efeito devolutivo é
restrito, entendimento já sedimentando na jurisprudência pátria,
verbis:

Por fim, quanto à menção a processo relativo ao Município de Vargem


Alta, no qual este Tribunal teria proferido decisão em sentido diverso, o
que tradu iria uma suposta “contradi o” no Acórd o TC-00915/2020-7 –
Primeira Câmara, sub examine, é preciso destacar que, nos termos da
urisprudência desta Corte, “a contradição sanável por Embargos de

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Declaração é aquela configurada na mesma decisão, não em


comparação com outros acórdãos, ainda que se refiram ao mesmo
jurisdicionado” (Acórd o TC-00049/2020-1).

Assim, não vislumbrando omissão no Acórdão TC-00915/2020-7 –


Primeira Câmara, opinamos pelo não provimento destes Embargos
de Declaração..

CONCLUSÃO

Face o exposto, opinamos pelo CONHECIMENTO destes Embargos de


Declaração e, no mérito, pelo seu NÃO PROVIMENTO, para que seja
mantido, em todos os seus termos, o Acórdão TC-00915/2020-7 –
Primeira Câmara, ante a inexistência de omissão.

Vitória, 13 de novembro de 2020.

[...]”

Ante o exposto, obedecidos todos os trâmites processuais e legais, subscrevendo


em o entendimento técnico e do Ministério Público de Contas, VOTO no sentido
de que o Colegiado aprove a seguinte deliberação que submeto à sua consideração.

SEBASTIÃO CARLOS RANNA DE MACEDO


Conselheiro Relator

1. ACÓRDÃO TC-188/2021-2

VISTOS, relatados e discutidos estes autos, ACORDAM os Conselheiros do Tribunal


de Contas do Estado do Espírito Santo, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
ante as razões expostas pelo Relator, em:

1.1. CONHECER dos presentes Embargos de Declaração, interpostos pelo senhor


Marcus Vinicius Doelinger Assad, em face do Acórdão TC 00915/2020-7 Primeira
Câmara, proferido nos autos do processo TC 08983/2017-3;

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1.2. Quanto ao mérito NEGAR PROVIMENTO, mantendo-se incólume os termos do


referido Acórdão, ante a inexistência de obscuridade, contradição ou omissão;

1.3. DAR CIÊNCIA ao embargante;

1.4. ARQUIVAR os presentes autos após o trânsito em julgado.

2. Unânime

3. Data da Sessão: 19/02/2021 – 6ª Sessão Ordinária da 1ª CÂMARA

4. Especificação do quórum:

4.1. Conselheiros: Sérgio Aboudib Ferreira Pinto (presidente), Sebastião Carlos


Ranna de Macedo (relator) e Rodrigo Coelho do Carmo.

CONSELHEIRO SERGIO ABOUDIB FERREIRA PINTO

Presidente

CONSELHEIRO SEBASTIÃO CARLOS RANNA DE MACEDO

Relator

CONSELHEIRO RODRIGO COELHO DO CARMO

Fui presente:

PROCURADOR DE CONTAS HERON CARLOS GOMES DE OLIVEIRA

Em substituição ao procurador-geral

LUCIRLENE SANTOS RIBAS

Subsecretária das Sessões

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