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QUAL SEU CONTO DE FADAS FAVORITO?

A Bela e a Fera (11)


Cinderela (10)
Branca de Neve (10)
O Patinho Feio (7)
Chapeuzinho Vermelho (6)
João e Maria (5)
A Bela Adormecida (3)
A Pequena Vendedora de Fósforos (3)
A Pequena Sereia (2)
Barba Azul (2)
Os Cisnes Selvagens (2)
O Gato de Botas (2)
Pele de Asno
As Novas Roupas do Imperador
História de Bichano e Corsa Branca
Aladdin
A Formiga e a Neve
O Fantástico Mistério de Feiurinha
A Dama sem Mãos
Senhora Holle
Salsita
Rapunzel
Bicho de Palha
Soldadinho de Chumbo
A Bela e a Adormecida
QUAL SEU CONTO DE FADAS FAVORITO? AUTOR/COMPILADOR/EDITOR

A Bela e a Fera (11) Gabrielle de Villeneuve + Jeanne-Marie Leprince de Beaumont


Cinderela (10) Charles Perrault
Branca de Neve (10) Jacob e Wilhelm Grimm
O Patinho Feio (7) Hans Christian Andersen
Chapeuzinho Vermelho (6) Charles Perrault + Jacob e Wilhelm Grimm
João e Maria (5) Jacob e Wilhelm Grimm
A Bela Adormecida (3) Charles Perrault
A Pequena Vendedora de Fósforos (3) Hans Christian Andersen
A Pequena Sereia (2) Hans Christian Andersen
Barba Azul (2) Charles Perrault
Os Cisnes Selvagens (2) Hans Christian Andersen
O Gato de Botas (2) Charles Perrault
Pele de Asno Charles Perrault
As Novas Roupas do Imperador Hans Christian Andersen
História de Bichano e Corsa Branca Jacob Penteado
Aladdin Antoine Galland
A Formiga e a Neve Adolfo Coelho (tradição oral)
O Fantástico Mistério de Feiurinha Pedro Bandeira
A Dama sem Mãos Jacob e Wilhelm Grimm
Senhora Holle Jacob e Wilhelm Grimm
Salsita Charlotte-Rose Caumont de La Force
Rapunzel Jacob e Wilhelm Grimm
Bicho de Palha Câmara Cascudo (tradição oral)
Soldadinho de Chumbo Hans Christian Andersen
A Bela e a Adormecida Neil Gaiman
NA SUA OPINIÃO, O QUE NÃO PODE FALTAR EM UM CONTO DE FADAS?

Bruxas | Uma pessoa que enfrenta grandes desafios, acontecimentos mágicos, amor, morte e a luta pela
felicidade | Um bom enredo, aquele que prende o leitor de qualquer idade e encanta | A realeza do
imaginário | Magia, encantamento e um caminho a percorrer pelo personagem | O recurso potencializado
da Imaginação. E em seguida por: curiosidade, aventura, ternura, e pelos indicadores de "bons caminhos" a
serem desbravados, tão logo tenham sido incorporados, delicadamente, à realidade infantil | A magia |
Princesa, príncipe e bruxa, todo encantamento | Final feliz | Não pode faltar o triunfo do bem contra o mal |
Encantamento, superação | Profundidade | Ação e fantasia | O que não pode faltar em um conto de fadas é a
frase “E eles viveram felizes para sempre” | Final feliz | Diversidade | Suspense, drama , imaginação | Magia |
Encanto | Encantamento, um problema é uma superação | Desafios | Intriga | Contos de fadas na atualidade |
O objeto mágico, o inesperado | Uma grande amizade | O vilão | O desafio de enfrentar uma situação difícil e
o desfecho da resolução | Além da magia, amor, muito amor! | Imagens | Arquétipos | Suspense e risos |
Imaginação | A magia e o encantamento | Era uma vez... | A magia | Reviravolta | Final surpreendente | A
magia | Fadas | Era uma vez... | Imaginação e Criatividade | As metáforas | O jogo do sublime vs. o grotesco |
Magia, encantamento e a fé de que terminará bem | Emoção | Um elemento mágico | Fada madrinha | Um
vilão ou uma vilã bem poderosa | Final feliz | A magia | Bruxas | Magia | Mulheres fortes e independentes |
Uma ação que transforma e modifica o cenário mostrando que tudo é possível para quem acredita e foca no
objetivo | Aventura | Metamorfose | A beleza | Amor, paixão | Aventura | Um elemento bastante fantasioso |
Elementos mágicos | O/a mocinho/a | Final feliz | Realidade | Uma bruxa, adoro | O momento da
transformação ou epifania | Fadas madrinhas, animais que falam, personagens fantásticos | Magia | Vilão |
O conflito | Fantasia, imaginação, o despertar dos sentidos e emoções | O encantamento | Um final
imperecível, a incerteza do que acontecerá | Gosto de mistério | Magia | O bem e o mal
BIBLIOTECA HANS CHRISTIAN ANDERSEN
MINICURSO “CONTOS DE FADAS: NARRATIVAS DE VIDA”

Os jardins mitológicos de Madame d’Aulnoy


e Hans Christian Andersen em diálogo

Paulo César Ribeiro Filho


Doutorando em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa
Área de Literatura Infantil e Juvenil (FFLCH-USP)
Orientadora: Profa. Dra. Maria Zilda da Cunha
MARIE-CATHERINE LE JUMEL DE
BARNEVILLE, MADAME D’AULNOY
(1650/51-1705)

1690: Histoire d’Hippolyte, comte de Duglas


1691: Relation du voyage d’Espagne
1697: Les Contes des Fées
1698: Contes Nouveaux ou Les Fées à la Mode
“Nesse domínio [da decadência do racionalismo clássico],
destacou-se a produção literária das preciosas — mulheres cultas,
que reuniam à sua volta intelectuais e artistas da época, e em cujos
‘salões’ conheciam-se e difundiam-se atitudes e obras que se
transformavam em ‘moda’. Prosseguia o sucesso dos
extravagantes e fantasiosos romances preciosos, derivados da
Antiguidade clássica e elementos novelescos do maravilhoso
medieval, quando surgiu a grande novidade: os contos de fadas
para adultos.” (COELHO, 1991, p. 70)

“Pouco antes das publicações de Perrault, Mme. D’Aulnoy, jovem


baronesa de vida aventurosa e cheia de escândalos, escreve o
romance precioso História de Hipólito (1690), em que existe um
episódio, ‘História de Mira’, cuja personagem central é uma fada,
espécie variante da maga celta, Melusina. O grande sucesso dessa
personagem provocou a ‘moda das fadas’ na corte francesa. Entre
1696 e 1698, Mme. D’Aulnoy publicou oito romances preciosos:
Contos de Fadas, Novos Contos de Fadas, Ilustres Fadas, entre
outros.” (COELHO, 2016, p. 84)
HANS CHRISTIAN ANDERSEN
(1805-1875)

Paradisets Have
"O Jardim do Paraíso" ou "O Jardim do Éden"

19 de Outubro de 1839

Segundo volume de “Contos de fadas contados para crianças”

Conto de desfecho trágico


“A Morte estendeu a longa mão para a florzinha delicada, mas a
mãe manteve as mãos firmes à volta desta, bem de perto,
receosa, contudo, de tocar na mínima pétala. Então a Morte
soprou-lhe nas mãos e ela sentiu que esse sopro era mais frio
do que o frio do vento, e as mãos caíram-lhe desfalecidas.
– Como vês, nada podes contra mim! – disse a Morte.
– Mas Deus pode! – redarguiu a mãe.
– Eu só faço o que Ele quer! – sentenciou a Morte. – Sou o Seu
jardineiro! Pego em todas as Suas flores e árvores e
transplanto-as para o grande Jardim do Paraíso no país
desconhecido, mas como aí crescem e como é aí, não ouso
dizer-te!”

(ANDERSEN, 2019, p. 361)


“A Rússia é um país frio onde os belos dias de um clima temperado raramente são vistos [...] Houve
uma vez em que esses povos foram governados por um jovem príncipe chamado Adolfo.”

PROTAGONISTA E REFERÊNCIA DE LUGAR

“Era uma vez um príncipe que tinha a maior e mais linda coleção de livros do que qualquer outra pessoa
no mundo [...]” (ANDERSEN, 2019, p. 153)

“Venho dos mares polares,” disse o Vento Norte, “Estive na ilha dos Ursos com os caçadores de morsa
da Rússia.”
“De repente, a escassa luz remanescente do dia deu lugar à mais obscura noite; só se enxergava algo
quando relampejava. Os trovões faziam estrondos terríveis; a chuva e a tempestade aumentavam.”

NOITE, CHUVA E ESCURIDÃO

“Um dia, ele estava caminhando sozinho na floresta, o que ele gostava muito de fazer, quando de
repente ficou noite. As nuvens ficaram mais densas, e a chuva começou a cair como se o céu fosse
uma imensa tromba d’água, e à meia noite tudo estava tão escuro como o fundo de um poço, algumas
vezes ele escorregava sobre a relva lisa, e caía sobre pedras que se projetavam sobre o chão rochoso.”
“Prosseguiu em marcha por mais de duas horas, às vezes a pé, outras montado em seu cavalo, até que
finalmente encontrou-se próximo a uma grande caverna, de cuja abertura irradiava a luz que havia
observado.”

A CAVERNA QUE IRRADIA LUZ

“Ele começou a se sentir muito fraco, quando ouviu um barulho muito estranho, e viu diante dele uma
imensa caverna, de onde vinha um clarão de luz.”
“— Esta é a morada de Éolo, o deus dos ventos — ela afirmou. — É aqui que ele se recolhe com todos
os seus filhos; eu sou a mãe deles.”

A MÃE DOS VENTOS

“Você está agora na caverna dos Ventos, e os meus filhos são os quatro Ventos do céu...”
“A bela princesa estava num pomar de laranjas. Meu sopro adentrou sua garganta.”

SOPRO NA GARGANTA

“Soprei dentro de suas pequenas gargantas, e rapidamente eles pararam de gritar.”


“Esse pensamento a persuadiu a crer que ele era a tão famosa e muito rara Fênix...”

FÊNIX

“Solte-o, porque eu quero contar para ele sobre o pássaro fênix. A princesa sempre gosta de ouvir
sobre este pássaro quando eu a visito a cada cem anos.”
“— Trata-se da ilha da Felicidade — respondeu-lhe Zéfiro. — Ninguém, senhor, pode adentrá-la...”

A ILHA

“A rainha das fadas vive lá, na ilha da Felicidade, onde a morte nunca vai, e tudo é muito lindo.”
“— Devo presumir que faz aproximadamente três meses.
— Adolfo — disse-lhe ela, com um ar mais sério. — Já faz trezentos anos.”

PASSAGEM DE TEMPO

“Ele está prestes para voltar, e retornará para cá somente depois de cem anos. O tempo para você não
parecerá maior que cem horas, mesmo assim, é um tempo bastante longo para tentações e
resistências.”
“O Tempo é o senhor de tudo,
e não há felicidade perfeita.”

FINAL TRÁGICO: TEMPO X MORTE

“E lá ele teria de ficar afinal,” disse um homem velho e forte, com enormes asas negras, e uma foice na
mão, e cujo nome era Morte. “Ele será colocado no caixão, mas, não ainda. Deixarei que vagueie pelo
mundo durante algum tempo, para expiar os seus pecados, e para dar-lhe tempo de se melhorar.”
“A Ilha da Felicidade” e “Viagem de Oisín a Tir-
Na-N’Og (mito celta)

- Viagem a uma ilha misteriosa e inacessível


aos homens
- Terra da Juventude Eterna
- Três anos → trezentos anos
- Desejo de conquistar a glória terrena
- Cavalo que guiará o herói em seu retorno
- Proibição de se colocar o pé no chão
- Morte do herói → “O tempo é o senhor de
tudo, e não há felicidade perfeita.”
A revelação da “função autoral”, em Chartier
(2012), que revisita Foucault (2001), se daria
pela análise da expressão da maneira como o
texto aponta para essa figura que lhe é exterior e
anterior, pelo menos aparentemente. Deve-se,
portanto, considerar o autor como uma função
variável e complexa do discurso, e não a partir
da evidência imediata de sua existência individual
ou social (p. 27).

Ilustração de John Gilbert para o conto A Gata Branca (1859)


Em Buescu (1998), temos a proposição de que o
conceito de “autor implicado” sugere, em última
análise, que essa instância autoral produz um texto
que “sabe e mostra que vem de alguém e vai para
alguém e que nesse movimento se jogam relações
complexas” (p. 25), ou seja, a consciência de que
um texto não é “autogerado”. São formas de
reconhecer esse autor implicado: a análise de
paratextos (a consideração da escolha dos títulos,
subtítulos, prefácios, apresentações e notas
autorais presentes na edição), a investigação da
presença de elementos intertextuais [...]

Ilustração de John Gilbert para o conto A Princesa Bela Estrela e o Príncipe


Querido (1859)
E mais: “[...] sem o autor empírico não nos será
possível entender o funcionamento do sistema
literário”, já que este sistema “existe dentro de
um sistema mais lato, a cultura”, lugar em que
“todos nós, sujeitos empíricos, nos situamos e
nos relacionamos” (BUESCU, 1998, p. 24).

Ilustração de John Gilbert para o conto A Bela dos Cabelos de Ouro (1859).
“Todo texto se constrói como mosaico de
citações, todo texto é absorção e transformação
de um outro texto. [...] a ‘palavra literária’ não é
um ponto (um sentido fixo), mas um
cruzamento de superfícies textuais, um diálogo
de diversas escrituras: do escritor, do
destinatário (ou personagem), do contexto
cultural atual ou anterior.” (KRISTEVA, 1974, p.
62-63)

Ilustração de John Gilbert para o conto O Anão Amarelo (1859)


HANS CHRISTIAN ANDERSEN:
LEITOR DE MADAME D’AULNOY?

O que podemos dizer com alguma segurança é


que Andersen cultivou primorosamente o gênero que foi
fundado por sua predecessora, o conto de fadas literário.
Com uma proposta bastante distinta da de Grimm,
Andersen não almejou apenas a publicação de uma
compilação de contos tradicionais como forma de
preservar a identidade nacional de seu país. Sob a
atmosfera da etnografia romântica, ele trabalhou com
motivos e narrativas muito conhecidas do folclore nórdico,
mas destacou-se sobretudo por sua vasta obra autoral, que
não é composta apenas por contos de fadas, os quais
correspondem a uma pequena parcela de sua opera omnia.
Enquanto as investigações sobre os títulos que figuravam
na biblioteca de Andersen não avançam, pode-se presumir
que as similitudes temáticas e estruturais entre os dois
contos são fortes indícios desse contato via leitura, ou ao
menos de um repertório comum.
A utilização de mecanismos como a
intertextualidade (e mesmo a intratextualidade, muito
presente nos contos de Marie-Catherine) configura o
estatuto de uma instância autoral que podemos
chamar de “autor implicado”, nos termos de Helena
Buescu (1998), que entende que um texto artístico
parte de um ser autoral social, cultural e
historicamente inscrito para um outro ser social que
compartilha do seu (polis)sistema de mundividências
(ou não, mas que inevitavelmente é um ser social
sistematizado). Depreende-se, assim, além da figura
do autor implicado, a de um leitor implicado, aquele
que possui um repertório de leituras, que compôs sua
obra fazendo uso, implícita ou explicitamente, de
referências por ele acessadas enquanto sujeito
empírico.
ANDERSEN, Hans Christian. Contos de Fadas de Andersen. Tradução de Eugênio Amado. Belo Horizonte: Garnier, 2019.
AULNOY, Marie-Catherine Le Jumel de Barneville. A Ilha da Felicidade. Tradução de Paulo César Ribeiro Filho.
BUESCU, Helena Carvalhão. Em busca do autor perdido: histórias, concepções, teorias. Lisboa: Edições Cosmos, 1998.
CHARTIER, Roger. O que é um autor? Revisão de uma genealogia. Tradução de Luzmara Curcino e Carlos Eduardo
Bezerra. São Carlos: Edufscar, 2012.
COELHO, Nelly Novaes. O Conto de Fadas. São Paulo: Editora Ática, 1991.
COELHO, Nelly Novaes. O conto de fadas: Símbolos, mitos, arquétipos. São Paulo: Paulinas, 2016.
FOUCAULT, M. Ditos e escritos vol. III. Estética: literatura e pintura, música e cinema. Organização de Manoel Barros
da Motta. Tradução de Inês Autran Dourado Barbosa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001.
KRISTEVA, Julia. Introdução à semanálise. Trad. de Lucia Helena França Ferraz. São Paulo: Perspectiva, 1974.
Muito obrigado!

Contato:
paulo.cesar.filho@usp.br

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